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Organizado por Lucas Liberato
MATERIAL REUNIDO E DISTRIBUIDO INTERNAMENTE, SEM FINS LUCRATIVOS | VENDA PROIBIDA |
LOURENCOLLL@GMAIL.COM
Coletânea de Umbanda e
Espiritualidade
MATERIAL DE REFERÊNCIA E CONSULTA
Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com
Material sem fins lucrativos – Venda proibida
1
ÍNDICE
Sumário
NOTA DO ORGANIZADOR............................................................................................................................................... 3
DATAS COMEMORATIVAS .............................................................................................................................................. 4
EDUCAÇÃO NO TERREIRO............................................................................................................................................... 6
CUMPRIMENTOS ............................................................................................................................................................ 8
RITUAIS NA UMBANDA................................................................................................................................................. 11
A HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA UMBANDA.................................................................................................................. 15
O QUE É QUIMBANDA? ................................................................................................................................................ 20
O QUE É CANDOMBLÉ? ................................................................................................................................................ 21
OS ORIXÁS..................................................................................................................................................................... 23
OXALÁ....................................................................................................................................................................... 25
NANÃ ....................................................................................................................................................................... 27
OMOLÚ.................................................................................................................................................................... 30
OXUMARÊ ............................................................................................................................................................... 34
EXÚ........................................................................................................................................................................... 38
OGUN....................................................................................................................................................................... 40
OXÓSSI .................................................................................................................................................................... 42
YEMANJÁ ................................................................................................................................................................ 45
IANSÃ....................................................................................................................................................................... 48
OXUM ....................................................................................................................................................................... 51
OBÁ .......................................................................................................................................................................... 53
EWÁ ......................................................................................................................................................................... 55
XANGÔ..................................................................................................................................................................... 57
LOGUN EDÉ ............................................................................................................................................................ 60
OSSAIN .................................................................................................................................................................... 62
IRÔKO ...................................................................................................................................................................... 65
IBEJI ......................................................................................................................................................................... 67
A COMIDA DOS ORIXÁS................................................................................................................................................ 69
QUIZILAS....................................................................................................................................................................... 75
ORDEM DE LOUVAÇÃO AOS ORIXÁS NA GIRA ............................................................................................................. 79
APOMETRIA: O QUE É E COMO FUNCIONA.................................................................................................................. 80
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LEIS DA APOMETRIA: ENUNCIADO, TÉCNICAS E COMENTÁRIOS................................................................................. 85
CROMOTERAPIA MENTAL NA APOMETRIA.................................................................................................................. 92
A INFLUÊNCIA DA LUA.................................................................................................................................................. 95
TIPOS DE MEDIUNIDADE E INCORPORAÇÃO NA UMBANDA ....................................................................................... 98
O PERISPÍRITO............................................................................................................................................................. 101
DIFERENTES CONCEITOS DE CORPOS ASTRAIS........................................................................................................... 103
CHAKRAS..................................................................................................................................................................... 107
FONTES ....................................................................................................................................................................... 109
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3
NOTA DO ORGANIZADOR
Este trabalho de pesquisa e reunião de documentos tem o objetivo de fornecer um material de
referência para o corpo mediúnico da Tenda de Umbanda Pai Joaquim de Angola, no Rio de Janeiro.
Não é um material autoral, mas sim uma coletânea modesta de alguns temas que este organizador
considerou úteis aos médiuns. Com isso, esclarecemos que este é um trabalho sem fins lucrativos e de
venda proibida, sendo apenas impresso e entregue aos médiuns da casa. Citamos as fontes, sempre
que disponíveis, no final do material.
Caso seja dono de algum dos materiais contidos aqui e queira que seja retirado, basta entrar em
contato via email.
Esperamos que este material possa ser um rico ponto de referência para todos os interessados
em tornarem-se médiuns melhores à serviço da caridade e compromissados com a excelência no
trabalho de Pai Oxalá.
Um grande abraço e bons estudos.
Lucas Liberato
06 de Julho de 2015.
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DATAS COMEMORATIVAS
DIAS MÊS ORIXÁS/ENTIDADES SINCRETISMO
20 Janeiro Oxóssi São Sebastião
02 Fevereiro Iemanjá Nossa Sra. dos Navegantes
19 Março Xangô Agodô São José
23 Abril Ogum São Jorge
13 Maio Pretos Velhos Abolição da Escravatura
13 Junho Exus Santo Antônio
24 Junho Xangô Menino São João Batista
29 Junho Xangô Aganjú São Pedro
22 Julho Pomba-Giras Maria Madalena
26 Julho Nanã Sant’ana
16 Agosto Omulú São Roque
24 Agosto Tranca Ruas
27 Setembro Crianças/Erês Cosme e Damião
30 Setembro Xangô Caô São Jerônimo
04 Outubro São Fco. de Assis
12 Outubro Boiadeiros Nsa. Sra. De Aparecida
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28 Outubro Xangô Alafim São Judas Tadeu
15 Novembro Dia da Umbanda Oficial
22 Novembro Caboclos
04 Dezembro Iansã Santa Bárbara
08 Dezembro Oxum Nossa Sra. da Conceição
17 Dezembro Obaluaê São Lázaro
25 Dezembro Oxalá Jesus Cristo
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EDUCAÇÃO NO TERREIRO
1. Jamais retrucar as respostas da mãe de santo.
2. Caso tenha algo para falar que não esteja concordando, discretamente peça um minuto da
atenção da mãe de santo e exponha a situação civilizadamente, sem precisar que outras pessoas
presenciem.
3. Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogãs, zeladores), seja em dia de festa ou em
dia corriqueiro, é de bom-tom que os filhos se abaixem para dirigir a palavra à mãe de santo.
Detalhe: Só interromper a conversa caso seja EXTREMAMENTE necessário. Deve-se chegar
junto à ela, ficar abaixado esperando que ela pergunte o que deseja. Quando ela perguntar,
comece sempre sua frase com “AGÔ”.
4. Nunca, seja no seu barracão ou no barracão alheio, deve-se sentar na mesma altura que sua
mãe de santo. Ela já passou por vários sacrifícios para estar sentada confortavelmente ali. Você
ainda está no meio do caminho.
5. Médiuns não bebem nenhum líquido em copo de vidro dentro de seu barracão ou no barracão
alheio. Deve-se esperar o bom e velho copinho de plástico ou então a conhecida DILONGA, BAN
ou CANEQUINHA DE ÁGATA, como você preferir chamar. Copo de vidro só quem tem direito é
quem tem cargo e tempo no santo.
6. Médium não come em prato de vidro ou louça. Apenas em pratinho de plástico ou ágata. Aliás,
devemos lembrar que é de boa educação cada filho trazer seu devido pratinho de ágata e sua
devida canequinha para seu uso pessoal no barracão.
7. Terminou sua refeição? Pegue seu pratinho e sua canequinha, vá para cozinha e lave.
8. Arrume seu terreiro. Mantenha tudo organizado, cada um fazendo sua parte.
9. Resolveu visitar a mãe de santo? Que maravilha! Ela adorará sua visita, ainda mais se você vier
com uma modesta colaboração para o lanche ou a refeição, pois como é do conhecimento de
todos, a mãe de santo não é rica e nem tem obrigação de alimentar todo mundo.
10. Ao chegar ao barracão, o procedimento correto é: a) Tomar seu banho e ir trocar de roupa; b)
Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e pro pai de santo; c) Tomar a benção à
TODOS os seus irmãos.
11. Acabou de fazer todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ
(banquinho) e confortavelmente sentar-se nele.
12. Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida uma refeição, antes os
mais velhos e a assistência devem se servir, pra só depois os médiuns se servirem. Isso é mais
que uma regra, é etiqueta.
13. Trate bem os clientes que vão para jogar ou se consultar, pois é deles que vem boa parte do
dinheiro dali. Sorrir sempre e servir um copinho de café ou de água gelada.
14.Vai ter festa. Mas, e o dinheiro para comprar flores, material para refeição etc.? Todos
da comunidade de Axé devem contribuir.
15.Contribua com o terreiro na compra do Gás, na conta da água e luz. Afinal, todos fazem
uso. Pague em dia sua mensalidade!
16. Ficou cansado depois da festa? Lembre-se da limpeza do terreiro. Organize tudo com seus
irmãos antes de ir embora.
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17. Gira de umbanda, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é lugar de ficar de cochicho e
risinhos irônicos. Respeito!
18. Caso assista fora do seu terreiro a algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar
falando e chamando de marmoteiro. Você não é o dono da verdade e nem ninguém o é. O que
pode parecer errado pra você, pode não ser pro próximo.
19. Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre.
20. Respeito é bom e faz bem. Portanto, deve-se pensar duas vezes antes de envolver a mãe de
santo e irmãos mais velhos em determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e
avacalhações são da porta do barracão pra fora.
21. Roupa escura é terminantemente proibida ao visitar o terreiro. Caso alguma visita ou assistência
esteja usando roupas escuras, oferecer um pano da costa para enrolar no peito.
22. Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou
prato e abaixar-se para servir.
23. Benção foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a benção, você está na realidade
pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não a pessoa. Portanto, todos devem trocar a benção,
mais novos com mais velhos e vice-versa.
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CUMPRIMENTOS
Bater Cabeça
O médium deita-se de barriga pra baixo e toca com a testa no chão em frente ao Gongá, atabaques
e Coluna Energética. Bate-se a cabeça no chão em sinal de respeito e obediência aos Orixás, pois
simboliza que nossa cabeça, que nos comanda e nos rege, está se subordinando ao poder dos Orixás
aos quais estamos reverenciando ao tocá-la no chão, sejam os Orixás do Zelador ou do Gongá.
Em diversas culturas, sejam ocidentais ou orientais, baixar a cabeça perante alguém ou alguma
coisa significa que estamos submissos e obedientes a esta pessoa ou coisa.
No candomblé:
Dobalé = cumprimento feito por filho de santo cujo orixá (principal) dono da cabeça é masculino.
Deita-se de bruços no chão (ao comprido) e toca-se o solo com a parte da frente da cabeça (testa).
Iká = cumprimento feito por filho de santo cujo orixá principal é feminino. Deita-se de bruços no
chão, toca-se o solo com a cabeça e, simultaneamente com o lado direito e depois com o esquerdo do
quadril no chão (na nação Keto, as mulheres não tocam o chão com o ventre).
Paó (3 palmas lentas):
O Paó (pronuncia = paô) é um gesto que serve como sinal de que se é preciso comunicar alguma
coisa, mas não se pode falar. Isso ocorre muito no candomblé quando as iniciandas estão no roncó e
não podem falar, daí batem com as palmas das mãos tentando dizer algo, se comunicar por algum
motivo. É usado também como saudação para orixá, e, é diferente de orixá para orixá.
É uma palavra em yorubá que significa: "pa" = juntar uma coisa com outra; "o" = para
cumprimentar. Essa palavra é uma contração de ìpatewó que significa aplauso.
O paó bate-se 3 vezes assim:
3 + 7 vezes
Intervalo
3 + 7 vezes
Intervalo
3 + 7 vezes
E depois a saudação, por exemplo:
(palmas paó)
“- Laroye Exu!”
Utilizado para pedir permissão para entrar, saudar e pedir licença.
Bater com as pontas dos dedos no chão:
Da mão esquerda, e depois cruzando os dedos com as palmas das mãos voltadas para o
Solo: saudando exus e pombogiras.
Da mão direita, fazendo uma cruz e depois fazendo a cruz no peito; Saudando os Pretos Velhos.
Da mão direita, depois tocando a fronte (Eledá), o lado direito da cabeça (Otum – 2º
Orixá) e a Nuca (os Ancestrais); Saudando os orixás e guias;
Da mão direita, 3 vezes e depois tocando a fronte, o lado direito da cabeça e a nuca,
para saudar Obaluaiê.
Cumprimento Ombro a Ombro:
Quando um Guia cumprimenta um consulente ou um assistente com o bater de ombro, isto é sinal
de igualdade, de fraternidade e grande amizade.
Posturas:
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Se observarmos e analisarmos os rituais das inúmeras religiões existentes, encontraremos neles
um sentido comum; o de invocar as Divindades, as Potências Celestes, ou melhor, as Forças Espirituais.
O objetivo é sempre o mesmo, a preparação de atração destas forças à corrente religiosa que a pratica.
Em qualquer ritual, do mais básico ao mais espiritualizado, é certo que encontraremos atos e
práticas que predispõem a criatura a harmonizar-se com o objetivo invocado, isto é, procurasse colocá-
lo em relação mental com os deuses, divindades, forças, santos, entidades etc. Assim para preparar ou
elevar o psiquismo de um aparelho e obter-se o equilíbrio da sua mente com os corpos Astral e físico,
indispensável se torna que ensinemos à esses ditos aparelhos, determinadas posições necessárias, com
o objetivo de que eles possam harmonizar sua faculdade mediúnica individual, com as vibrações
superiores das Entidades que militam na Lei de Umbanda.
Repouso vibratório ou isolamento:
Nesta posição, o corpo de médiuns ou um médium isoladamente, permanece com as mãos
cruzadas à frente.
Serve para anular (isolar) os fluídos negativos, as vibrações oriundas de elementares e
perturbações mentais que procuram se aderir ao ambiente. Nós a utilizamos durante a defumação, nos
mantendo todos isolados até que todos os médiuns da corrente tenham se defumado.
Vênia
Esta posição consiste em ficar com o joelho direito no chão e a perna esquerda em ângulo reto,
com os antebraços esticados e as palmas das mãos viradas pra cima.
É a posição da humildade, que acende o fervor religioso e também, a veneração ao Chefe Espiritual
dos trabalhos ou Entidade incorporada, para os quais se usa como saudação.
Utilizamos ao saudar Oxalá.
Corrente Vibratória:
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Esta posição é altamente eficaz para precipitar fluídos mediúnicos no Corpo Astral, ao mesmo
tempo em que vitaliza, suprindo as deficiências momentâneas de um e de outro, além de servir de
descarga. Consiste em todos os médiuns darem as mãos (formando um círculo ou semicírculo), sendo
que a mão direita fica espalmada para baixo, sobre a mão esquerda do seu companheiro, espalmada
para cima, isto é: a mão direita dando e a esquerda recebendo.
Esta posição gera uma precipitação de fluídos, que constitua o ambiente propício ao objetivo da
caridade, corrigindo qualquer deficiência, quer mediúnica quer orgânica. É de grande eficiência e
utilidade nas sessões de caridade e nas de desenvolvimento. Convém lembrar que por muitos chamada
de Corrente Vibratória, sempre foi usada pelos séculos afora nas diversas escolas e rituais.
De Joelhos Sim!
Dentro das várias ritualísticas que se desenvolvem nos terreiros de Umbanda, é comum vermos
principalmente no início e término dos trabalhos espirituais o corpo mediúnico com os joelhos no chão.
Alguns veem esta postura como arcaica e sem sentido, porém nunca se deram ao trabalho de
analisarem detidamente tal comportamento.
É de conhecimento geral que as primeiras religiões do globo terrestre já inseriam a genuflexão
em seus rituais, exteriorização de respeito junto ao Criador e também manifestação de humildade que
todos devem ter, seja para com o Divino, seja para com o próximo. Da mesma forma, o ato de postar-
se de joelhos fazia e faz ver aos fiéis que assistiam ou assistem uma manifestação de religiosidade, a
seriedade, o respeito e a simplicidade do sacerdote e dos médiuns, frente ao plano espiritual superior.
A implantação do ajoelhar-se tem como finalidades mostrar a Deus todo o nosso carinho,
obediência, respeito e amor e o quanto somos pequeninos diante do universo criado por Ele; e para
passar a assistência que aquele espaço de caridade tem a exata noção do papel que desempenha como
instrumentos de trabalho dos bons espíritos.
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RITUAIS NA UMBANDA
Amaci
Simbolicamente, o médium deve se considerar uma ferramenta usada pelo Divino em favor do
Outro, da Comunhão e da Paz, um instrumento que deve e merece “reparos periódicos” para que não
se perca a qualidade do trabalho manifestado, para que as engrenagens não enferrujem, para que as
juntas não atrofiem, para que a maleabilidade não resseque e para que o molejo não se enrijeça.
Envolto em toda essa grandiosidade, um dos rituais mais potentes quando pensamos em “reparos
periódicos”, é o que chamamos de AMACI.
AMACI vem da palavra ‘amaciar’, ‘tornar receptivo’, é um ritual, uma espécie de iniciação que
todos os médiuns umbandistas, iniciantes ou não, devem, pelo menos uma vez ao ano, passar.
É um liquido preparado com folhas e águas sagradas escorado por alguns fundamentos específicos
da Umbanda e que tem como objetivo a lavagem da cabeça/coroa do médium.
Nesse contexto, o Amaci ‘despertar’ as faculdades nobres do médium que ainda estão
adormecidas, descarrega e apazigua o chacra coronário (centro de recepção espiritual Superior) e ainda
liga/religa o médium ao Orixá, fazendo com que ele tenha a Sua vibração e energia interiorizada em
seu espírito, mente e coração.
Receber o Amaci é entrar em contato direto com o Poder do Orixá, é um momento de grande
emoção e que deve estar enredado pela reverência, amor, devoção, lealdade e comprometimento para
com o Orixá, a Umbanda e o Plano Espiritual.
É o momento em que o médium se coloca diante do Sagrado como ‘Filho de Orixá’, que abaixa
sua cabeça em respeito e em saber à Superioridade Divina. Ocasião em que o médium deve se ajoelhar
e deixar a voz do coração dizer: (… nome Orixá…), estou aqui! Estou aqui de joelhos me reverenciando
diante de sua Força Sagrada e pedindo que me acolha em seu “colo” Divino. Estou pedindo que me
receba como seu filho (… nome Orixá…) e me ampare como espírito. Sim, me entrego! Me entrego de
corpo e alma, consciente e convicto de que é a Lei de Pemba que me ajuíza e que é a Lei de Umbanda
que me sustenta.
(… nome Orixá…), que seu Poder se manifeste em mim e através de mim. Que suas Forças sejam
as minhas forças. E que seu Amor Divino e Incondicional envolva minha mente, meu coração e minha
alma para que eu O manifeste através de minhas palavras, pensamentos e ações…
E ainda com o coração batendo forte, o médium deita-se sobre a esteira de palha aos pés de seu
Pai Espiritual e recebe o Amaci. Água cheirosa que ao escorrer pelo rosto se mistura com as lágrimas
numa junção de fé, sagrado e pertencimento.
Sim! Agora o médium não está mais sozinho. Agora ele “pertence” ao Orixá, ao Poder Realizador
que em forma de Divindade o acolherá em todos os momentos.
É um ritual fundamental para uma verdadeira e segura caminhada espiritual dentro dos
fundamentos da Umbanda. É um cerimonial único e divino que quando bem orientado e bem realizado,
o médium perceberá as mudanças que acontecerão em sua vida espiritual, consequentemente em toda
sua vida.
Reconheçamos, esse ritual é mais uma benesse para o médium que qualquer outra coisa. É uma
firmeza espiritual que ainda permite o médium, caso deseje ou seja necessário, mudar de terreiro sem
qualquer dano. Portanto, não é e não propicia fechamento de portas, pelo contrário, abre nossa mente,
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nossos sentidos, nosso espirito e nossa alma para que a Aruanda se instale dentro de nós e que construa
um futuro de Paz, Alegria, Bondade, Crença e muito, muito AXÉÉÉÉ.
Por fim, que tal aproveitar o mês de outubro, mês que para muitos É d’Oxum para realizar e
receber o Amaci, afinal, as águas, a amorosidade, a força e a sensibilidade de Oxum são únicas e
especialmente condutora e concededora.
Obi
Obi, obi d’água ou simplesmente obi. Todos estes nomes referem-se à mesma obrigação, voltada
exclusivamente a confortar uma pessoa em um caso de doença, desemprego, distúrbios nervosos, ou
até mesmo para um iniciado dentro dos preceitos do axé orixá, quando por um motivo ou outro, o
mesmo não pode passar por um bori. Esta obrigação tem seu nome em referência a uma fruta africana,
o obi, sem a qual nada podemos realizar para os orixás, no tangente a sacrifícios, uma vez que é com
ela que conversamos com nossos antepassados para sabermos se aquele santo está satisfeito com a
obrigação, etc.
Esta obrigação é a mais simples realizada dentro do axé, no tangente a dar de comer a uma
cabeça. Muito embora algumas pessoas achem que ela não tem maiores fundamentos junto com o
orixá, mas já presenciamos muitos casos que foram resolvidos com esta. Trata-se neste ato, de
confortar o anjo da guarda da pessoa, seja consulente ou filho de santo, ocasião onde alimentamos
Òşàlà, no intuito de pedir a misericórdia para aquele filho que se encontra em tal sofrimento.
Claro que esta obrigação não cria uma obrigatoriedade do cliente com o santo, ela apenas serve
como um modo de resolver de imediato uma questão. Existem aqueles que após o obi, sentem-se tão
felizes que optam por penetrar de forma mais profunda dentro de nossa religião.
Nesta obrigação são utilizados: ebô (canjica de Òşàlà), ebô yá (a mesma canjica, porém preparada
para Yemanjá e de forma diferente), o obi (que é uma fruta de origem africana), frutas variadas, vela
e uma quartinha com água além da comida do santo da pessoa. Em alguns casos é utilizado um pombo
branco.
Antigamente quando uma pessoa desejava entrar para os preceitos de uma casa, ou seja, ser
filho ou filha de santo naquele templo, ou mesmo quando seu orixá exigia feitura, os zeladores tinham
por hábito realizar esta como uma primeira obrigação, para daí então estudar a pessoa, ver se ela
realmente tinha amor e dedicação para com os orixás, e até mesmo para se certificarem de que era
realmente sua casa e sua mão que aquele santo desejava, e não apenas uma empolgação material ou
espiritual. Agiam assim, pois que, nesta época não existia o fato de uma pessoa fazer santo com um e
tomar obrigações com outro, provocando um rodízio ridículo nas roças de santo como as que se vê hoje
em dia.
Para uma pessoa se iniciar, existia todo um processo de identificação dele com a casa e vice-
versa. Era uma época em que a fidelidade de um iniciado era realmente levada a sério, assim como a
do sacerdote com relação a seus iniciados. E o obi, era justamente a obrigação que funcionava como
uma espécie de flerte, vulgarmente comparando, evitando constrangimentos futuros.
Hoje em dia, parece que esta fidelidade simplesmente evaporou-se com a fumaça dos
defumadores, pois que uma pessoa se inicia em uma casa e quando desencarna, traz uma longa
passagem de terreiro em terreiro. Claro que ainda existem aqueles que prezam a fidelidade, mas são
bem poucos nos tempos atuais.
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Ser um iniciado é antes de tudo sermos fiéis a mão que alimenta nosso orixá, nosso anjo da
guarda, assim como ele é fiel a nosso zelador. Pertencermos ao axé orixá é antes de tudo sermos
humildes, desprovidos de arrogância e soberba, é seguirmos nosso destino na certeza de que um ser
tão puro e iluminado se dedica a zelar por nós e nossa vida.
Bori
O ato de Bori pode ser feito a qualquer pessoa, iniciada ou não dentro do Axé. O Bori serve como
uma forma de ajuda a pessoa numa determinada fase de sua vida. É bem verdade que, seria
interessante que fosse feito esse ato uma vez ao ano. Dessa forma daríamos força a nossa cabeça, ou
até mesmo, a mantermos forte para que possamos continuar bem.
As pessoas que por acaso forem avisadas sobre a necessidade de ser dar de comer a cabeça (Orí),
e por algum motivo não quiserem fazê-lo, de nada devem sofrer, nem mesmo de ameaças como fazem
algumas pessoas e não zeladores. Deve-se ser sempre respeitada a vontade da pessoa.
Orí escolhe o zelador de sua confiança. Escolhe o mesmo pelo seu conhecimento, cuidado, zelo e
prestígio por fazer as coisas de forma certa junto aos Orixás.
Gostaria de esclarecer que, indjé (sangue) tem várias cores, e que Orí pode receber de bom grado
qualquer um deles.
As Cores do Sangue
O Sangue Branco, Vermelho e Preto
Há Axé contido numa grande variedade de elementos representativos do reino animal, vegetal e
mineral, quer sejam da água (doce ou salgada), quer venha da terra, da floresta, do “mato”, ou do
espaço urbano. O axé é contido nas substâncias essenciais de cada um dos seres, animados ou não,
simples ou complexos, que compõem o mundo. Os elementos portadores de axé podem ser
compreendidos em três categorias:
Sangue Vermelho Compreende:
O do reino animal: corrimento menstrual, sangue animal;
O do reino vegetal: o epô (azeite de dendê), o Osùn (pó vermelho extraído do Perocarpus
Erinacesses -Abraham, 1958: 490), o mel (sangue das flores);
O do reino mineral: cobre, bronze etc. Veremos mais adiante que o amarelo é uma variedade do
vermelho, assim como o azul e o verde são variedades do preto.
Sangue Branco Compreende:
O do reino animal: o sêmen, a saliva, o hálito, as secreções, o plasmo (particularmente o do ígbín
(caracol)) etc.
O do reino vegetal: a seiva, o sumo, o álcool e as bebidas brancas extraídas das palmeiras e de
alguns vegetais, o Ìyèrosùn (pó esbranquiçado extraído do ìròsùn (Eucleptes Franciscana F) (Abrahan
316)), o Orí (manteiga vegetal (shea-butter)) etc:
O do reino mineral: sais, giz, prata, chumbo etc.
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Sangue Preto Compreende:
O do reino animal: cinzas de animais.
O do reino vegetal: o sumo escuro de certos vegetais; o ìlú (índigo, extraído de diferentes tipos
de árvores (Abraham 187)), e uma preparação à base de ìlú, pó azul escuro chamado wáji.
O reino mineral: carvão, ferro etc.
Por extensão, existem lugares, objetos ou partes do corpo impregnado de axé: o coração, o
fígado, os pulmões, os órgãos genitais, as raízes, as folhas, o leito dos rios, pedras, e outros que
correspondem, de uma maneira bem definida, a alguma das três cores mencionadas: os dentes, os
ossos, o marfim etc.
Sendo o Axé uma força que permite tudo ser como é, e terem elas a existência, podemos concluir
que tudo o que existe, para poder realizar-se, deve receber Axé.
Há três categorias de elementos do branco, vermelho e do preto que, em combinação particulares,
conferem significado funcional ás unidades que compõem o sistema.
Receber Axé significa incorporar os elementos simbólicos que representam os princípios vitais e
essenciais de tudo o que existe, uma particular combinação que individualiza e permite uma significação
determinada. Trata-se de incorporar tudo o que constitui o Aiyé (terra) e o Orun (céu).
Cada ano litúrgico começa no terreiro pelo ciclo das águas de Ósàlá. A lama, a terra como
elemento, é a matéria fecunda e está associada a vários Òrìsà. Princípios progenitores femininos,
particularmente Odúduwá.
Enquanto Òsàlà está associado à água e ao ar, Odúduwá está associada á água e a terra.
Lembremos que a água e o ar pertencem aos elementos - signos do sangue branco do Axé e que a
terra é por excelência, condutora do sangue vermelho e do sangue preto do Axé.
Todos os metais amarelos pertencem a Òsún – o ouro e principalmente o bronze – metais com
que são manufaturados seus braceletes e o abebê.
O axé vermelho genérico é representado pelo sangue humano e animal, pelo epô, o òsú, sangue
vegetal, e pelos metais vermelhos amarelos. È igualmente representado, particularmente, pelo mel,
sangue das flores, doçura e quinta-essência do bom, o Axé Rere só comparável ao leite materno.
As penas de ekódide pertencem ao vermelho, e representam o poder e o axé de Ósun-Olóri-Eléye
(chefe supremo dos possuidores de pássaros). Porém elas não simbolizam o vermelho genérico, mas –
como os cauris para o branco – representam fragmentos do vermelho, seres individualizados, o
elemento procriado.
Igbá Orí (literalmente, cabaça da cabeça, pois os assentamentos eram feitos em cabaças – igbá,
daí o nome ter virado sinônimo de assentamento de Òrìsà) a Cabaça do Orí.
Costuma-se fazer assentamentos com as mais variadas coisas para representar o Orí de uma
pessoa. Esta variedade de coisas deve-se a que o Orí seja o que individualiza o ser humano. Como no
caso das impressões digitais, ninguém tem Orí igual ao de outra pessoa, cada Orí é único e exclusivo
daquela pessoa. Então, faz-se o assentamento numa cabaça ou tigela, o mais comum entre nós, e esse
assentamento é cultuado como Igbá- Orí, ou seja, a representação física do Orí-inú da pessoa.
Ori-Inu Essa parte é também conhecida como O olho espiritual.
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A HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA UMBANDA
Em fins do século XIX existiam, no Rio de Janeiro, várias modalidades de culto que denotavam
nitidamente a origem africana, embora já bem distanciadas da crença trazida pelos escravos. A magia
dos velhos africanos transmitida oralmente através de gerações, desvirtuava-se mesclada com as
feitiçarias provindas de Portugal onde existiram sempre os feitiços, as rezas e as superstições.
As "macumbas", mistura de catolicismo, religiões africanas e crenças nativas - multiplicavam-se;
Tomou vulto a atividade remunerada do feiticeiro;
O "trabalho feito" passou a ordem do dia, dando motivo a outro, para lhe destruir os efeitos
maléficos;
Generalizaram-se os "despachos", visando obter favores para uns e prejudicar terceiros;
Aves e animais eram sacrificados, com as mais diversas finalidades;
Exigiam-se objetos raros para homenagear entidades ou satisfazer elementos da baixo astral.
Sempre obedecendo aos objetivos primordiais: aumentar a renda do feiticeiro ou "derrubar" os
que não se curvassem ante os seus poderes ou pretendessem fazer-lhe concorrência.
Os Mentores do Astral Superior, porém, estavam atentos ao que se passava. Organizava-se um
movimento destinado a combater a magia negativa que se propagava assustadoramente; cumpria
atingir, de início, as classes humildes e mais sujeitas às influências do clima de superstições que
imperava na época.
No plano terreno surge, no ano de 1904, o livro Religiões do Rio, elaborado por "João do Rio",
pseudônimo de Paulo Barreto, membro emérito da Academia Brasileira de Letras.
No livro, o autor faz um estudo sério e inequívoco das religiões e seitas existentes no Rio de
Janeiro, àquela época, capital federal e centro sócio-político-cultural do Brasil. O escritor, no intuito de
levar ao conhecimento da sociedade os vários segmentos de religiosidade que se desenvolviam no
então Distrito Federal, percorreu igrejas, templos, terreiros de bruxaria, macumbas cariocas, sinagogas,
entrevistando pessoas e testemunhando fatos.
Não obstante tal obra ter sido pautada em profunda pesquisa, em nenhuma página desta
respeitosa edição cita-se o vocábulo Umbanda, pois tal terminologia era desconhecida.
Formaram-se então, as falanges de trabalhadores espirituais, que se apresentariam na forma
de Caboclos e Pretos Velhos, para mais facilmente serem compreendidos pelo povo. Nas sessões
espíritas, porém, não foram aceitos: identificados sob essas formas, eram considerados espíritos
atrasados e suas mensagens não mereciam nem mesmo uma análise. Acercaram-se também
dos Candomblés e dos cultos então denominados "baixo espiritismo", as macumbas. É provável que,
nestes, como nos Batuques do Rio Grande do Sul, tenham encontrado acolhida, com a finalidade de
serem aproveitados nos trabalhos de magia, como elementos novos no velho sistema de feitiçaria.
A situação permanecia inalterada, ao iniciar-se o ano de 1900.
No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos de idade, que se
preparava para ingressar na carreira militar na Marinha, começou a sofrer estranhos "ataques". Sua
família, conhecida e tradicional na cidade de Neves (hoje parte do município de São Gonçalo), estado
do Rio de Janeiro, foi pega de surpresa pelos acontecimentos.
Esses "ataques" do rapaz, eram caracterizados por posturas de um velho, falando coisas sem
sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época. Muitas vezes
assumia uma forma que parecia a de um felino lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas
coisas da natureza.
Após examiná-lo durante vários dias, o médico da família recomendou que seria melhor
encaminhá-lo a um padre, pois o médico (que era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz não se
enquadrava em nada que ele havia conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava endemoniado.
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Alguém da família sugeriu que "isso era coisa de espiritismo" e que era melhor levá-lo à
Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza. No dia 15 de novembro de 1908,
o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando um lugar à mesa.
Tomado por uma força estranha e alheia à sua vontade, e contrariando as normas que impediam
o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse: "Aqui está faltando
uma flor". Saiu da sala indo ao jardim e voltando após com uma flor, que colocou no centro da mesa.
Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes. Restabelecidos os trabalhos,
manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios.
O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o "seu
atraso espiritual" e convidando-os a se retirarem.
Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e através dele falou:
_"Porque repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas
mensagens. Será por causa de suas origens sociais e da cor?"
Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o
espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura.
Um médium vidente perguntou: "Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção
aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são
claramente atrasados? Por quê fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um
jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?”
"Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para
mim, não haverá caminhos fechados."
"O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome
era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em
Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o
privilégio de nascer como caboclo brasileiro."
Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:
"Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de
novembro de 1908) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto
em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano
Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade
que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”
O vidente retrucou: "Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?” Perguntou com ironia. E
o espírito já identificado disse:
"Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã
iniciarei".
Para finalizar o caboclo completou:
"Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal,
rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens
preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar
essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não podem nos
visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas
socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?"
No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar
a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem
a veracidade do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos
e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.
Às 20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se
iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e
que, desencarnados, não encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já
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deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria; e os índios nativos de nossa
terra, poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o
credo e a condição social.
A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto,
que teria por base o Evangelho de Jesus.
O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados
os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam
uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso
que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade.
A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade,
porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os
que necessitassem de ajuda ou de conforto.
Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes ali
presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a parte prática dos trabalhos.
O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas
que haviam neste local, praticando suas curas.
Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa,
foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com
timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes
palavras:
"- Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve
arrespeitá."
Após insistência dos presentes fala:
"Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego."
Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião
pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:
"Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca."
Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro
elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma
guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antonio".
No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos etc.
vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação
mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades
excepcionais.
A partir daí o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o
esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como
auxiliar o Caboclo Orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa
magia.
Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete
tendas para a propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita
Nossa Senhora da Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa Bárbara;
Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge; e Tenda Espírita São
Gerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas milhares de tendas a partir das
mencionadas.
Embora não seguindo a carreira militar para a qual se preparava, pois sua missão mediúnica não
o permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão. Trabalhava para o sustento
de sua família e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os templos que o Caboclo das
Sete Encruzilhadas fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos
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espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitar a ajuda monetária de ninguém
era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele.
Ministros, industriais, e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de
parentes enfermos e os vendo recuperados, procuravam retribuir o benefício através de presentes, ou
preenchendo cheques vultosos. "Não os aceite. Devolva-os!", ordenava sempre o Caboclo.
A respeito do uso do termo espírita e de nomes de santos católicos nas tendas fundadas, o mesmo
teve como causa o fato de naquela época não se poder registrar o nome Umbanda, e quanto aos nomes
de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da religião católica que
procuravam os préstimos da Umbanda. O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era
bem simples, com cânticos baixos e harmoniosos, vestimenta branca, proibição de sacrifícios de
animais. Dispensou os atabaques e as palmas. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas
e lamês não seriam aceitos. As guias usadas são apenas as que determinam a entidade que se
manifesta.
Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza, a par do
ensinamento doutrinário, na base do Evangelho, constituiriam os principais elementos de preparação
do médium.
O ritual sempre foi simples. Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques
ou qualquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo
por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora
da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje.
Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade (1º templo de Umbanda),
Zélio entregou a direção dos trabalhos as suas filhas Zélia e Zilméa, continuando, ao lado de sua esposa
Isabel, médium do Caboclo Roxo, a trabalhar na Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato, distrito de
Cachoeiras de Macacu – RJ, dedicando a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores
de enfermidades psíquicas e de todos os que o procuravam.
Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança,
Fraternidade – RJ) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a
humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz. Ei-la:
"A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade
e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a
Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus
expulsou os vendilhões do templo.
O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente
homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram
atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao
pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita
moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa.
Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus
irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de
Oxossi, de Ogum, de Xangô.
Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem,
uma missão. Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para
irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores
que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os
instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos
boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de
Umbanda.
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Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos
18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse
um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa
Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda,
passaram pelas que saíram desta Casa. Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta
Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia
ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser
sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e
felicidade.
Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos,
iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas;
que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em
vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca
para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados;
acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos.
Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa
concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles
sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade,
encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para
sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e
caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".
Zélio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida à Umbanda, tendo retornado ao plano
espiritual em 03 de outubro de 1975, com a certeza de missão cumprida. Seu trabalho e as diretrizes
traçadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas continuam em ação através de suas filhas Zélia e Zilméa
de Moraes, que têm em seus corações um grande amor pela Umbanda, árvore frondosa que está sempre
a dar frutos a quem souber e merecer colhê-los.
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O QUE É QUIMBANDA?
Quimbanda é um conceito religioso de origem afro-brasileira, presente na Umbanda, ainda
controverso quanto a sua real definição na atualidade. Por vezes, é classificada como uma religião
autônoma.
É identificado por alguns como o lado esquerdo (polo negativo) da Umbanda, ou seja, que tem
todo conhecimento do mundo astral, inclusive da magia negra, e que podem ajudar a fazer o bem.
Suas entidades vibram nas matas, cemitérios e encruzilhadas, também conhecidos como "Povo da Rua"
e abrangem os mensageiros ou guardiões Exus e Pombagiras.
A Quimbanda trabalha mais diretamente com os exus e pomba giras, também chamados de povos
de rua, de uma forma que não é trabalhada na Umbanda pura. Estas entidades, de acordo com a
cosmologia umbandista, manipulam forças negativas, o que não significa que sejam malignos.
Geralmente estão presentes em lugares onde possam haver kiumbas, obsessores, também conhecidos
como espíritos atrasados. Os Exus e Pombagiras trabalham basicamente para o desenvolvimento
espiritual das pessoas, com o intuito de evolução espiritual, além de proteção de seu médium. Como
são as entidades mais próximas à faixa vibratória dos encarnados, apresentam muitas semelhanças
com os humanos.
A entrega de oferendas é comum na Quimbanda, assim como na Umbanda, mas variam de acordo
com cada entidade. Podem ser oferecidas bebidas alcoólicas, tais quais, cachaça (marafo), uísque ou
conhaque, entre outras, além de velas e charutos.
Lourenço Braga, discípulo de Zélio de Moraes, escreveu em 1942 o livro Umbanda (magia branca)
e Quimbanda (magia negra), onde ele lista sete linhas da Quimbanda:
Linha das Almas - Exu Omulu
Linha dos Caveiras - Exu Caveira
Linha de Nagô - Exu Gererê
Linha de Malei - Exu Rei
Linha de Mossuribu - Exu Kaminaloá
Linha dos Caboclos Quimbandeiros - Exu Pantera Preta
Linha Mista - Exu dos Rios/Exu das Campinas
O termo "quimbanda" (da mesma forma que o termo "umbanda") tem origem na língua umbundu,
e dentro do Candomblé de Angola designa, desde o período pré-colonial, um rito próprio, cujo sacerdote
que o pratica é chamado de "Táta Kimbanda".
No Brasil, com a fundação da Umbanda, o termo quimbanda passou a ser usado para descrever
trabalhos espirituais que, dentro da cosmologia da Umbanda, não obedeceriam seus preceitos
fundamentais não sendo, no entanto, necessariamente malignos. Frequentemente é confundida com a
Quiumbanda (ou Kiumbanda), que é a prática de trabalhar espiritualmente com quiumbas.
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O QUE É CANDOMBLÉ?
Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou
nkisis, dependendo da nação. Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões de matriz
africana mais praticadas, tendo mais de três milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente
no Brasil. Também é possível encontrar o chamado povo do santo em outros países como Uruguai,
Argentina, Venezuela, Colômbia, Panamá, México, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha.
Cada nação africana tem, como base, o culto a um único orixá. A junção dos cultos é um fenômeno
brasileiro em decorrência da importação de escravos onde, agrupados nas senzalas nomeavam um
zelador de santo também conhecido como babalorixá no caso dos homens e iyalorixá no caso das
mulheres.
A religião tem, por base, a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada de anímica. Os
sacerdotes africanos que vieram para o Brasil como escravos, juntamente com seus
orixás/nkisis/voduns, sua cultura, e seus idiomas, entre 1549 e 1888, é que tentaram de uma forma
ou de outra continuar praticando suas religiões em terras brasileiras, foram os africanos que
implantaram suas religiões no Brasil, juntando várias em uma casa só para a sobrevivência das
mesmas. Portanto, não é invenção de brasileiros.
Diz Clarival do Prado Valladares em seu artigo "A Iconologia Africana no Brasil", na Revista
Brasileira de Cultura (MEC e Conselho Federal de Cultura), ano I, Julho-Setembro 1999, p. 37, que o
"surgimento dos candomblés com posse de terra na periferia das cidades e com agremiação de crentes
e prática de calendário verifica-se incidentalmente em documentos e crônicas a partir do século XVIII".
O autor considera difícil para "qualquer historiador descobrir documentos do período anterior
diretamente relacionados à prática permitida, ou sub-reptícia, de rituais africanos". O documento mais
remoto, segundo ele, seria de autoria de dom Frei Antônio de Guadalupe, bispo visitador de Minas
Gerais em 1726, divulgado nos "Mandamentos ou Capítulos da visita".
Embora confinado originalmente à população de negros escravizados, inicialmente nas senzalas,
quilombos e terreiros, proibido pela igreja católica, e criminalizado mesmo por alguns governos, o
candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura
em 1888. Estabeleceu-se com seguidores de várias classes sociais e dezenas de milhares de templos.
Em levantamentos recentes, aproximadamente 3 milhões de brasileiros (1,5% da população total)
declararam o candomblé como sua religião. Na cidade de Salvador existem 2.230 terreiros registrados
na Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros e catalogados pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da
UFBA, (Universidade Federal da Bahia) Mapeamento dos Terreiros de Candomblé de Salvador.
Entretanto, na cultura brasileira as religiões não são vistas como mutuamente exclusivas, e muitas
pessoas de outras crenças religiosas — até 70 milhões, de acordo com algumas organizações culturais
Afro-Brasileiras — participam em rituais do candomblé, regularmente ou ocasionalmente. Orixás do
candomblé, os rituais, e as festas são agora uma parte integrante da cultura e uma parte do folclore
brasileiro.
O candomblé não deve ser confundido com umbanda, macumba, e/ou omoloko, e outras religiões
afro-brasileiras com similar origem; e com religiões afro-americanas similares em outros países do Novo
Mundo, como o vodou haitiano, a santería cubana, e o obeah, em Trinidade e Tobago, os shangos
(similar ao tchamba africano, xambá e ao xangô do nordeste do Brasil) o ourisha, de origem iorubá, os
quais foram desenvolvidas independentemente do candomblé e são virtualmente desconhecidos no
Brasil.
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O termo "candomblé" é uma junção do termo quimbundo candombe (dança com atabaques) com
o termo iorubá ilé ou ilê (casa): significa, portanto, "casa da dança com atabaques".
Nações
Os negros escravizados no Brasil pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os iorubás, os
ewe, os fon e os bantos. Como a religião se tornou semi-independente em regiões diferentes do país,
entre grupos étnicos diferentes evoluíram diversas "divisões" ou "nações", que se distinguem entre si
principalmente pelo conjunto de divindades veneradas, o atabaque (música) e a língua sagrada usada
nos rituais.
A lista seguinte é uma classificação pouco rigorosa das principais nações e subnações, de suas
regiões de origem, e de suas línguas sagradas:
Nagô ou ioruba
Ketu ou Queto (Bahia) e quase todos os estados - Língua iorubá (Iorubá ou Nagô em português)
Efan na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo
Ijexá principalmente na Bahia
Nagô Egbá ou Xangô do Nordeste no Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo
Mina-nagô ou tambor de mina no Maranhão
Xambá em Alagoas e Pernambuco (quase extinto).
Banta, Angola e Congo (Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, São
Paulo, Goiás, Rio Grande do Sul), mistura de línguas bantas, quicongo e quimbundo.
candomblé de caboclo (entidades nativas indígenas)
Jeje: a palavra "jeje" vem do ioruba adjeje, que significa "estrangeiro, forasteiro". Nunca existiu
nenhuma nação Jeje na África. O que é chamado de nação jeje é o candomblé formado pelos povos
fons vindo da região de Daomé e pelos povos mahis ou mahins. "Jeje" era o nome dado de forma
pejorativa pelos iorubas para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahis eram uma tribo do
lado leste e Saluvá ou povos Savalu do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savé",
que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga
dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savé (tendo neste caso a ver com os
povos fons). O Abomey ficava no oeste, enquanto os axântis eram a tribo do norte. Todas essas tribos
eram de povos jejes, (Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo) - língua ewe e língua fon (jeje)
Jeje Mina: de língua mina, de São Luís (Maranhão)
Babaçuê: Belém (Pará)
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OS ORIXÁS
Os orixás são deuses africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus
arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças. As características de cada Orixá
aproximam-nos dos seres humanos, pois eles manifestam-se através de emoções como nós. Sentem
raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada orixá tem ainda o seu sistema simbólico
particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, espaços físicos e até horários.
Como resultado do sincretismo que se deu durante o período da escravatura, cada orixá foi
também associado a um santo católico, devido à imposição do catolicismo aos negros. Para manterem
os seus deuses vivos, viram-se obrigados a disfarçá-los na roupagem dos santos católicos, aos quais
cultuavam apenas aparentemente.
Estes deuses da Natureza são divididos em 4 elementos – água, terra, fogo e ar. Alguns estudiosos
ainda vão mais longe e afirmam que são 400 o número de Orixás básicos divididos em 100 do Fogo,
100 da Terra, 100 do Ar e 100 da Água, enquanto que, na Astrologia, são 3 do Fogo, 3 da Terra, 3 do
Ar e 3 da Água. Porém os tipos mais conhecidos entre nós formam um grupo de 16 deuses. Eles também
estão associados à corrente energética de alguma força da natureza. Assim, Iansã é a dona dos ventos,
Oxum é a mãe da água doce, Xangô domina raios e trovões, e outras analogias.
No Candomblé cultuam-se muitos outros orixás, desconhecidos por leigos, por serem menos
populares do que Xangô, Iansã, Oxossi e outros, mas com um significado muito forte para os adeptos
dos cultos afro-brasileiros. Alguns são necessariamente cultuados, devido à ligação com trabalhos
específicos que regem, para a saúde, morte, prosperidade e diversos assuntos que afligem o dia-a-dia
das pessoas. Estes deuses africanos são considerados intermediários entre os homens e Deus, e por
possuírem emoções tão próximas dos seres humanos, conseguem reconhecer os nossos caprichos, os
nossos amores, os nossos desejos. É muito frequente dizer-se que as personalidades dos seus filhos
são consequência dos orixás que regem as suas cabeças, desenvolvendo características iguais às destes
deuses africanos.
Seguem descrições dos 16 orixás mais cultuados no Brasil.
Nanã
Omolú
Oxumarê
Oxalá
Exú
Ogun
Oxóssi
Yemanjá
Iansã
Oxun
Obá
Ewá
Xangô
Logun Edé
Ossain
Ibeji
Irôko
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OXALÁ
Dia: Sexta-feira
Cor: Branco leitoso.
Simbolo: Opáxoró
Elementos: Atmosfera e Céu
Domínios: Poder procriador masculino, Criação, Vida e Morte
Saudação: Epa Bàbá
OXALÁ é o detentor do poder procriador masculino. Todas as suas representações incluem o
branco. É um elemento fundamental dos primórdios, massa de ar e massa de água, a protoforma e a
formação de todo o tipo de criaturas no AIYE e no ORUN. Ao incorporar-se, assume duas formas:
OXAGUIÃ jovem guerreiro, e OXALUFÃ, velho apoiado num bastão de prata (APAXORÓ). OXALÁ é alheio
a toda a violência, disputas, brigas, gosta de ordem, da limpeza, da pureza. A sua cor é o branco e o
seu dia é a sexta-feira. Os seus filhos devem vestir branco neste dia. Pertencem a OXALÁ os metais e
outras substâncias brancas.
Em África, todos os Orixás relacionados com a criação são designados pelo nome genérico de
Orixá Fun Fun. O mais importante entre todos eles chama-se Orixalá (Òrìsanlà), ou seja, o grande
Orixá, que nas terras de Igbó e Ifé é cultuado como Obatalá, rei do pano branco. Eram cerca de 154
Orixás Fun Fun, mas no Brasil e na Europa a quantidade reduz-se significativamente, sendo que dois,
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Orixá Olùfón, rei de Ifón (Oxalufã) e Orixá Ógìyán, o comedor de inhame e rei de Egigbó (Oxaguiã), se
tornaram as suas expressões mais conhecidas.
A designação de Orixá Fun Fun deve-se ao facto de a cor branca se configurar como a cor da
criação, guardando a essência de todas as demais. O branco representa todas as possibilidades, a base
de qualquer criação. O nome Orisanlá foi contraído e deu origem à palavra Oxalá, e com esse nome o
grande Deus-pai passou a ser conhecido no Brasil e na Europa. Todos os Orixás Fun Fun foram reunidos
em Oxalá e divididos em várias qualidades das suas duas configurações principais: Òsálufón, Osagiyan,
sendo este último, jovem e guerreiro, filho do primeiro mais velho e paciente.
Todas as histórias que relatam a criação do mundo passam necessariamente por Oxalá, que foi o
primeiro Orixá concebido por Olodumaré e encarregado de criar não só o universo, como todos os seres,
todas as coisas que existiriam no mundo.
A maior interdição de Oxalá é de facto o azeite-de-dendê, que jamais deve macular as suas
roupas, os seus objectos sagrados e muito menos o seu Alá. A única coisa vermelha que Oxalá permite,
é a pena de Ikodidè, prova de sua submissão ao poder genitor feminino.
O Alá representa a própria criação, está intimamente relacionado com a concepção de cada ser;
é a síntese do poder criador masculino. A sua função primeira já remete ao seu significado profundo. A
acção de cobrir não evoca somente protecção, zelo, denota a actividade masculina no acto sexual.
No Xirê, Oxalá é homenageado por último porque é o grande símbolo da síntese de todas as
origens. Ele representa a totalidade, o único Orixá que, como Exú, reside em todos os seres humanos.
Todos são seus filhos, todos são irmãos, já que a humanidade vive sob o mesmo teto, o grande Alá que
nos cobre e protege, o céu.
Características do filho de Oxalufã
O tipo físico de OXALUFÃ é frágil, delicado, friorento, sujeito-a resfriados. Compensa sua
debilidade física com grande força moral, e seu alvo à realizar a condição humana no que tem de mais
nobre. É fiel no amor e na amizade. Oxalufã é o poente.
Características do filho de Oxaguiã
O tipo OXAGUIÃ é um jovem guerreiro combativo. Normalmente tem boa aparência, podem ser
altos, baixos, forte e magros, pois seu arquetipo não o traduz, não é agressivo nem brutal, teimosos,
individualistas e altruístas. Não despreza o sexo e cultiva o amor livre. É alegre, gosta profundamente
da vida, é falador, brincalhão e ao mesmo tempo teem muita seriedade e não perdoam a Injustiça. Ao
mesmo tempo é idealista, defendendo os injustiçados, os fracos e os oprimidos. Orgulhosos, gostam
da boa briga pela boa causa, às vezes, uma espécie de D. Quixote. Os seus pensamentos originais
geralmente antecipam os da sua época. Ele é o nascente e o dono das manhãs.
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NANÃ
Dia: Terça-feira
Cores: Anil, Branco e Roxo
Símbolo: Bastão de hastes de palmeira (Ibiri)
Elemento: Terra, Água, Lodo
Domínios: Vida e Morte, Saúde e Maternidade
Saudação: Salubá!
Nanã, a deusa dos mistérios, é uma divindade de origem simultânea à criação do mundo, pois
quando Odudua separou a água parada, que já existia, e liberou do “saco da criação” a terra, no ponto
de contacto desses dois elementos formou-se a lama dos pântanos, local onde se encontram os maiores
fundamentos de Nana.
Senhora de muitos búzios, Nana sintetiza em si morte, fecundidade e riqueza. O seu nome designa
pessoas idosas e respeitáveis e, para os povos Jeje, da região do antigo Daomé, significa “mãe”. Nessa
região, onde hoje se encontra a República do Benin, Nana é muitas vezes considerada a divindade
suprema e talvez por essa razão seja frequentemente descrita como um orixá masculino.
Sendo a mais antiga das divindades das águas, ela representa a memória ancestral do nosso
povo: é a mãe antiga (Iyá Agbà) por excelência. É mãe dos orixás Iroko, Obaluaiê e Oxumaré, mas por
ser a deusa mais velha do candomblé é respeitada como mãe por todos os outros orixás.
A vida está cercada de mistérios que ao longo da História atormentam o ser humano. Porém,
quando ainda na Pré-História, o homem se viu diante do mistério da morte, em seu âmago irrompeu
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um sentimento ambíguo. Os mitos aliviavam essa dor e a razão apontava para aquilo que era certo no
seu destino.
A morte faz surgir no homem os primeiros sentimentos religiosos, e nesse momento Nana faz-se
compreender, pois nos primórdios da História os mortos eram enterrados em posição fetal, remetendo
a uma ideia de nascimento ou renascimento. O homem primitivo entendeu que a morte e a vida
caminham juntas, entendeu os mistérios de Nana.
Nana é o princípio, o meio e o fim; o nascimento, a vida e a morte.
Ela é a origem e o poder. Entender Nana é entender o destino, a vida e a trajectória do homem
sobre a terra, pois Nana é a História. Nana é água parada, água da vida e da morte.
Nana é o começo porque Nanã é o barro e o barro é a vida. Nana é a dona do axé por ser o orixá
que dá a vida e a sobrevivência, a senhora dos ibás que permite o nascimento dos deuses e dos homens.
Nana pode ser a lembrança angustiante da morte na vida do ser humano, mas apenas para
aqueles que encaram esse final como algo negativo, como um fardo extremamente pesado que todo o
ser carrega desde o seu nascimento. Na verdade, apenas as pessoas que têm o coração repleto de
maldade e dedicam a vida a prejudicar o próximo se preocupam com isso. Aqueles que praticam boas
acções vivem preocupados com o seu próprio bem, com a sua elevação espiritual e desejam ao próximo
o mesmo que para si, só esperam da vida dias cada vez melhores e têm a morte como algo natural e
inevitável. A sua certeza é a imortalidade da sua essência.
Nana, a mãe maior, é a luz que nos guia, o nosso quotidiano. Conhecer a própria vida e o próprio
destino é conhecer Nana, pois os fundamentos dos orixás e do Candomblé estão ligados à vida. A nossa
vida é o nosso orixá.
É na morte, condição para o renascimento e para a fecundidade, que se encontram os mistérios
de Nana. Respeitada e temida, Nana, deusa das chuvas, da lama, da terra, juíza que castiga os homens
faltosos, é a morte na essência da vida.
Características dos filhos de Nana Burukú
Os filhos de Nana são pessoas extremamente calmas, tão lentas no cumprimento das suas tarefas
que chegam a irritar. Agem com benevolência, dignidade e gentileza. As pessoas de Nana parecem ter
a eternidade à sua frente para acabar os seus afazeres; gostam de crianças e educam-nas com excesso
de doçura e mansidão, assim como as avós. São pessoas que no modo de agir e até fisicamente
aparentam mais idade.
Podem apresentar precocemente problemas de idade, como tendência a viver no passado, de
recordações, apresentar infecções reumáticas e problemas nas articulações em geral.
As pessoas de Nana podem ser teimosas e “ranzinzas”, daquelas que guardam por longo tempo
um rancor ou adiam uma decisão. Porém agem com segurança e majestade. As suas reacções bem
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equilibradas e a pertinência das suas decisões mantêm-nas sempre no caminho da sabedoria e da
justiça.
Embora se atribua a Nana um carácter implacável, os seus filhos têm grande capacidade de
perdoar, principalmente as pessoas que amam. São pessoas bondosas, decididas, simpáticas, mas
principalmente respeitáveis, um comportamento digno da Grande Deusa do Daomé.
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OMOLÚ
DIA: Segunda-feira
CORES: Preto, branco e vermelho.
SÍMBOLOS: Xaxará ou Íleo, lança de madeira, lagidibá.
ELEMENTOS: Terra e fogo do interior da Terra.
DOMÍNIOS: Doenças epidémicas, cura de doenças, saúde, vida e morte.
SAUDAÇÃO: Atotoó!!!
Omolú é a Terra! Essa afirmação resume perfeitamente o perfil deste orixá, o mais temido entre
todos os deuses africanos, o mais terrível orixá da varíola e de todas as doenças contagiosas, o poderoso
“Rei Dono da Terra”.
È preciso esclarecer, no em tanto, que Omolú está ligado ao interior da terra (ninù ilé) e isso
denota uma íntima relação com o fogo, já que esse elemento, como comprovam os vulcões em erupção,
domina as camadas mais profundas do planeta.
Toda a reflexão em torno de Omolú ocorreu colocando-o como um orixá ligado à terra, o que é
correcto, mas não deixa de ser um erro desconsiderar a sua relação com o fogo do interior da terra,
com as lavas vulcânicas, como os gases etc. o que pode ser mais devastador que o fogo? Só as
epidemias, as febres, as convulsões lançadas por Omolú!
Orixá cercado de mistérios, Omolú é um deus de origem incerta, pois em muitas regiões da África
eram cultuados deuses com características e domínios muito próximos aos seus. Omolú seria rei dos
Tapas, originário da região de Empé. Em território Mahi, no antigo Daomé, chegou aterrorizando, mas
o povo do local consultou um babalaô que lhes ensinou como acalmar o terrível orixá. Fizeram então
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oferendas de pipocas, que o acalmaram e o contentaram. Omolú construiu um palácio em território
Mahi, onde passou a residir e a reinar como soberano, porém não deixou de ser saudado como Rei de
Nupê em pais Empê (Kábíyèsí Olútápà Lempé).
As pipocas, ou melhor, deburu, são as oferendas predilectas do orixá Omolú; um deus poderoso,
guerreiro, caçador, destruidor e implacável, mas que se torna tranquilo quando recebe sua oferenda
preferida.
Em África são muitos os nomes de Omolú, que variam conforme a região. Entre os Tapas era
conhecido Xapanã (Sànpònná); entre os Fon era chamado de Sapata-Ainon,que significa ‘Dono da
Terra’; já os Iorubás o chamam Obaluaiê e Omolú.
Omolú nasceu com o corpo coberto de chagas e foi abandonado pela sua mãe, Nanã Buruku, na
beira da praia. Nesse contratempo, um caranguejo provocou graves ferimentos na sua pele. Iemanjá
encontrou aquela criança e criou-a com todo amor e carinho; com folhas de bananeira curou as suas
feridas e pústulas e transformou-a num grande guerreiro e hábil caçador, que se cobria com palha-da-
costa (ikó) não porque escondia as marcas de sua doença, como muitos pensam, mas porque se tornou
um ser de brilho tão intenso quanto o próprio sol. Por essa passagem, o caranguejo e a banana-prata
tornaram-se os maiores ewò de Obaluaiê.
O capuz de palha-da-costa-aze (aze) cobre o rosto de Obaluaiê para que os seres humanos não
o olhem de frente (já que olhar directamente para o próprio sol pode prejudicar a visão). A história de
Omolú explica a origem dessa roupa enigmática, que possui um significado profundo relacionado à vida
e à morte.
O aze guarda mistérios terríveis para simples mortais, revela a existência de algo que deve ficar
em segredo, revela a existência de interditos que inspiram cuidado medo, algo que só os iniciados no
mistério podem saber. Desvendar o aze, a temível máscara de Omolú, seria o mesmo que desvendar
os mistérios da morte, pois Omolú venceu a morte. Debaixo da palha-da-costa, Obaluaiê guarda os
segredos da morte e do renascimento, que só podem ser compartilhados entre o iniciados.
A relação de Omolú com a morte dá-se pelo facto de ele ser a terra, que proporciona os
mecanismos indispensáveis para a manutenção da vida. O homem nasce, cresce, desenvolve-se, torna-
se forte diante do mundo, mas continua frágil diante de Omolú, que pode devorá-lo a qualquer
momento, pois Omolú é a terra, que vai consumir o corpo do homem por ocasião da sua morte.
Obaluaiê andou por todos os cantos de África, muito antes, inclusive, de surgirem algumas
civilizações. Do ponto de vista histórico, Omolú é a idade anterior à Idade dos Metais, peregrinou por
todos os lugares do mundo, conheceu todas as dores do mundo, superou todas. Por isso Omolú se
tornou médico, o médico dos pobres, pois, muito antes da ciência, salvava a vida dos necessitados;
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durante a escravidão, só não pôde superar a crueldade dos senhores, mas de doenças livrou muitos
negros e até hoje muitos pobres só podem recorrer a Omolú que nunca lhes falta.
Características dos filhos de Obaluaiê/Omolú
Os filhos de Omolú são pessoas extremamente pessimistas e teimosas que adoram exibir os seus
sofrimentos, daqueles que procuram o caminho mais longo e difícil para atingir algum fim.
Deprimidos e depressivos, são capazes de desanimar o mais optimista dos seres; acham que nada
pode dar certo, que nada está bom. Às vezes, são doces, mas geralmente possuem manias de velho,
como a rabugice.
Gostam da ordem, gostam que as coisas saiam da maneira que planearam. Não são do tipo que
levam desaforo para casa e se se sentirem ofendidos respondem no acto, não importa a quem. Pensam
que só eles sofrem, que ninguém os compreende. Não possuem grandes ambições.
Podem apresentar doenças de pele, marcas no rosto, dores e outros problemas nas pernas. São
pessoas sem muito brilho, sem muita beleza. São perversos e adoram irritar as pessoas; são lentos,
exigentes e reclamam de tudo.
São reprimidos, amargos e vingativos. É difícil relacionar-se com eles. Parece que os filhos de
Omolú são pessoas que possuem muitos defeitos e poucas qualidades, mas eles têm várias, e uma
qualidade pode compensar qualquer defeito: são extremamente prestáveis e trabalhadores. São amigos
de verdade.
O lado positivo da maioria dos filhos de Omolú supera em muito esse lado autodestrutivo que
todos têm uns mais, outros menos, mais tem sim.
São extremamente alegres, perseverantes, pacientes e amorosos, tiram a roupa do corpo para
agradar uma pessoa, tratam o dinheiro pelo lado do prazer, da satisfação.
Extremamente fiéis a uma causa. A justiça para os filhos de Omolú não é a dos homens e sim a
de Deus (Olorun), super limpos e vaidosos, ao contrário de muitos arquétipos, são na maioria muito
bonitos, se não fisicamente, são espiritualmente e ainda tem grande afinidade pela atração que exercem
nas pessoas. Tem uma capacidade mental atualizada ao seu tempo, raramente adoecem e quando
acontece se recuperam mais rápido ainda.
As pessoas de Omolú têm a tendência da mudança propriamente dita, para qualquer coisa que
desejarem, parecem dançar Opanijé o tempo todo, procurando por tudo. Trabalhadores
incansáveis, filhos de Omolú numa roça fazem de um tudo, apenas não os magoem nem os tratem
com indiferença, ciumentos são capazes de exageros, se sentem incompreendidos e, muitas vezes não
sabemos o que lhes causam repentinas depressões.
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Filhos do Sol e da Terra de Orixá vivo, os filhos de Omolú são maravilhosamente despretensiosos.
Um tanto radicais, podem mudar de opinião de uma hora para outra. Também, céticos em sua fé,
intuitivos, andarilhos e aguçados.
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OXUMARÊ
DIA: Terça-feira
CORES: Amarelo e verde (ou preto) e todas as cores do arco-íris
SÍMBOLOS: Ebiri, serpente, círculo, bradjá.
ELEMENTOS: Céu e terra
DOMÍNIOS: Riqueza, vida longa, ciclos, movimentos constantes.
SAUDAÇÃO: A Run Boboi!!!
Oxumaré (Òsùmàrè) é o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. Se um dia Oxumaré
perder suas forças o mundo acabará, porque o universo é dinâmico e a Terra também se encontra em
constante movimento. Imaginem só o planeta Terra sem os movimentos de translação e rotação;
imaginem uma estação do ano permanente, uma noite permanente, um dia permanente. É preciso que
a Terra não deixe de se movimentar, que após o dia venha a noite, que as estações do não se alterem,
que o vapor das águas suba aos céus e caia novamente sobre a Terra em forma de chuva. Oxumaré
não pode ser esquecido, pois o fim dos ciclos é o fim do mundo.
Oxumaré mora no céu e vem à Terra visitar-nos através do arco-íris. Ele é uma grande cobra que
envolve a Terra e o céu e assegura a unidade e a renovação do universo.
Filho de Nanã Buruku, Oxumaré é originário de Mahi, no antigo Daomé, onde é conhecido como Dan.
Na região de Ifé é chamado de Ajé Sàlugá, aquele que proporciona a riqueza aos homens. Teria sido
um dos companheiros de Odudua por ocasião de sua chegada a Ifé.
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Dizem que Oxumaré seria homem e mulher, mas, na verdade, este é mais um ciclo que ele
representa: o ciclo da vida, pois da junção entre masculino e feminino é que a vida se perpetua.
Oxumaré é um Orixá masculino.
Oxumaré é um deus ambíguo, duplo, que pertence à água e à terra, que é macho e fêmea. Ele
exprime a união de opostos, que se atraem e proporcionam a manutenção do universo e da vida.
Sintetiza a duplicidade de todo o ser: mortal (no corpo) e imortal (no espírito). Oxumaré mostra a
necessidade do movimento da transformação.
Omulú é o irmão mais velho de Oxumaré, mas foi abandonado por sua mãe por ter nascido com
o corpo coberto de chagas. Em tempo, não se pode condenar Nanã por esse acto, já que era um
costume, quase uma obrigação ritual da época, que se abandonassem as crianças nascidas com alguma
deformidade. O deus do destino disse a Nanã que ela teria outro filho, belíssimo, tão bonito quanto o
arco-íris, mas que jamais ficaria junto dela. Ele viveria no alto, percorreria o mundo sem parar. Nasceu
Oxumaré.
Oxumaré que fica no céu
Controla a chuva que cai sobre a terra.
Chega à floresta e respira como o vento.
Pai venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida.
Características dos filhos de Oxumaré
São pessoas que tendem à renovação e à mudança. Periodicamente mudam tudo na sua vida (de
maneira radical): mudam de casa, de amigos, de religião, de emprego; vivem rompendo com o passado
e buscando novas alternativas para o futuro, para cumprir seu ciclo de vida: mutável, incerto, de
substituições constantes.
São magras. Como as cobras possuem olhos atentos, salientes, difíceis de encarar, mas ‘não
enxergam’. São pessoas que se prendem a valores materiais e adoram ostentar suas riquezas; São
orgulhosas, exibicionistas, mas também generosas e desprendidas quando se trata de ajudar alguém.
Extremamente activas e ágeis, estão sempre em movimento e acção, não podem parar.
São pessoas pacientes e obstinadas na luta pelos seus objectivos e não medem sacrifícios para
alcançá-los. A dualidade do orixá também se manifesta nos seus filhos, principalmente no que se refere
às guinadas que dão nas suas vidas, que chegam a ser de 180 graus, indo de um extremo a outro sem
a menor dificuldade. Mudam de repente da água para o vinho, assim como Oxumaré, o Grande Deus
do Movimento.
Um lindo Itan sobre esse grande Orixá:
“A grande Divindade do Arco-Íris era um reconhecido Babalawo (Pai do Segredo). Diante de sua
sapiência, prestava serviços somente ao Rei da cidade de Ifé, que de certa maneira o explorava de
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forma contumaz. Para o Rei de Ifé, o fato de Òsùmàrè ser o seu Babalawo pessoal já era o grande
pagamento pelos serviços que ele lhe prestara, afinal ele era o Rei e, muitos queriam estar no lugar de
Òsùmàrè, razão pela qual dava pequenas esmolas ao sábio Babalawo, que em nada ajudavam em seu
sustento.
Assim, mesmo sendo o Babalawo do Rei, Òsùmàrè estava passando por grandes dificuldades e já
não conseguia sustentar a sua família. Dessa forma, resolveu consultar Ifá (o oráculo sagrado) para
outras pessoas e não somente para o Rei, assim ele conseguiria novamente poder oferecer uma vida
melhor à sua esposa e filhos. Contudo, o Rei de Ifé não aprovou o que Òsùmàrè estava fazendo e,
solicitou que fosse ao seu palácio. O Rei disse a Òsùmàrè que ele poderia estar feliz consultando Ifá
para as outras pessoas, mas ele o Rei, estava insatisfeito e, por isso, não iria mais lhe “pagar” e não
queria mais que ele fosse o seu Babalawo. Òsùmàrè ficou desesperado, pois ele sabia que bastava uma
ordem do Rei e ninguém iria procurar pelos seus serviços.
No mesmo dia a Divindade da Riqueza e Prosperidade Olokun Seniade, ordenou que todos os
Babalawos da cidade fossem até o seu reino, para saber o que deveria fazer para ter filhos. Apesar da
grande experiência dos Babalawos que lá estavam, nenhum conseguiu responder à Olokun Seniade
aquilo que tanto lhe tirava o sono. No entanto, alguém lhe disse que Òsùmàrè, o Babalawo pessoal do
Rei de Ifé não estava presente, recomendando-lhe que procurasse a ajuda dele por desencargo de
consciência.
Assim Olokun Seniade o fez, ordenou à um mensageiro que fosse buscar Òsùmàrè no palácio do
Rei de Ifé. Chegando lá, o Rei afirmou que havia dispensado os serviços de Òsùmàrè, pois ele não lhe
servia mais. O mensageiro de Olokun Seniade percorreu às ruas de Ifé, perguntando por Òsùmàrè, até
que finalmente ele o encontrou, o levando até o palácio de Olokun.
Chegando lá, Òsùmàrè consultou Ifá e disse para Olokun que teria filhos bonitos e fortes, mas
que para isso, seria necessário realizar uma determinada oferenda.
Como forma de gratidão e agradecimento, Olokun convidou Òsùmàrè para ser o Babalawo do seu
palácio, que ele seria reconhecido e valorizado pelo seu grande conhecimento. Olokun presenteou
Òsùmàrè com aquilo que tinha de mais precioso, as sementes do dinheiro (Owo Eyo – Búzios) e com
um pano colorido.
Olokun Seniade disse à Òsùmàrè que, sempre que ele usasse aquele pano, as suas cores
refletiriam no céu, nascendo dessa forma, o Arco-Íris.
Essa linda história ilustra algumas importantes lições, seja sobre nossas vidas, seja sobe as
Divindades. Mostra que apesar das dificuldades que parecem insolúveis, sempre existe a possibilidade
de uma reviravolta em nossas vidas. Mostra ainda a razão de o Arco-Íris representar o nosso Pai
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Òsùmàrè, bem como, a razão da utilização dos búzios por ele e seus filhos, um grande presente de
Olokun.”
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EXÚ
DIA: Segunda-feira.
CORES: Preto (ou seja, a fusão das cores primárias) e vermelho.
SÍMBOLOS: Ogó de forma fálica, falo erecto.
ELEMENTOS: Terra e fogo.
DOMÍNIOS Sexo, magia, união, poder e transformação.
SAUDAÇÃO Laroié!
Exu (Èsù) é a figura mais controversa do panteão africano, o mais humano dos orixás, senhor do
princípio e da transformação. Deus da terra e do universo; na verdade, Exu é a ordem, aquele que se
multiplica e se transforma na unidade elementar da existência humana. Exu é o ego de cada ser, o
grande companheiro do homem no seu dia-a-dia.
Muitas são as confusões e equívocos relacionados com Exu, o pior deles associa-o à figura do
diabo cristão; pintam-no como um deus voltado para a maldade, para a perversidade, que se ocuparia
em semear a discórdia entre os seres humanos. Na realidade, Exu contém em si todas as contradições
e conflitos inerentes ao ser humano. Exu não é totalmente bom nem totalmente mau, assim como o
homem: um ser capaz de amar e odiar, unir e separar, promover a paz e a guerra.
O maniqueísmo, próprio das grandes religiões monoteístas, não se aplica ao Candomblé, muito
menos a Exu. A cultura africana desconhece oposições, em especial a oposição entre bem e mal; sabe-
se aqui que o bem de um pode perfeitamente ser o mal de outro, portanto, cada um deve dar o melhor
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de si para obter tudo de bom na sua vida, sempre cultuando, agradando e agradecendo a Exu, para
que ele seja, no seu quotidiano, a manifestação do amor, da sorte, da riqueza e da prosperidade.
Exu é o orixá que entende como ninguém o princípio da reciprocidade, e, se agradado como se
deve, saberá retribuir; quando agradecido pela sua retribuição, torna-se amigo e fiel escudeiro. No
entanto, quando esquecido é o pior dos inimigos e volta-se contra o negligente, tirando-lhe a sorte,
fechando-lhe os caminhos e trazendo catástrofes e dissabores.
Exu é a figura mais importante da cultura iorubá. Sem ele o mundo não faria sentido, pois só
através de Exu é que se chega aos demais orixás e ao Deus Supremo Olodumaré. Exu fala toda as
línguas e permite a comunicação entre o orum e o aiê, entre os orixás e os homens.
Exu é o dono do mercado, o seu guardião, por isso todo o comerciante e aqueles que lidam com
venda devem agradar a Exu. As vendedoras de acarajé, por exemplo, oferecem sempre o primeiro
bolinho a Exu, atirando-o à rua, não só para vender bem, mas também par afastar as perturbações,
evitar assaltos etc., ou seja, para que Exu seja de facto um guardião e proteja o seu negócio.
É importante ressaltar que Exu não tem amigos nem inimigos. Exu protege sempre aqueles que
o agradam e sabem retribuir os seus favores.
Exu foi a primeira forma dotada de existência individual. Não se sabe ao certo a sua região de
origem em África, pois em todos os reinos se presta culto a Exu. Sabe-se, no entanto, que chegou a
ser rei de Kêtu. Exu renasceu várias vezes e a sua história revela que é filho de Orunmilá ou de Oxum,
dependendo do momento em que renasce.
Características dos filhos de Exu
Os filhos de Exu são alegres, sorridentes, estão sempre de bem com a vida, são ambiciosos,
extrovertidos, espertos, inteligentes, atentos. Sabem como ninguém ser sociáveis e diplomáticos, pois
conhecem o valor de uma boa amizade, fazem questão de manter o maior número possível de amigos.
Rapidamente, os filhos de Exu se tornam pessoas populares, amadas por uns, odiadas por outros.
Extremamente dinâmicos, os filhos deste orixá não se desanimam nunca, mantêm sempre a certeza de
que as coisas, mais cedo ou mais tarde, acabam por mudar a seu favor.
Pessoas com impressionante facilidade de comunicação, boa lábia, com charme conseguem tudo
o que querem. Irónicas e perigosas, costumam manter uma vida sexual bastante agitada, sem pudores.
São pessoas extremamente rápidas, que não pensam: fazem.
Os filhos de Exu possuem uma facilidade impressionante para entrar e sair de confusões, são do
tipo que arma a bagunça, sai ileso e ainda se diverte com as consequências. Esquecem facilmente as
ofensas, não guardam rancor, mas não perdem a oportunidade de se vingar. Gostam da rua, das festas
e das conversas intermináveis, comportamento próprio de um orixá que é só alegria.
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40
OGUN
DIA: Terça-Feira
CORES: Verde ou Azul-escuro, Vermelho (algumas qualidades)
SÍMBOLOS: Bigorna, Faca, Pá, Enxada e outras ferramentas
ELEMENTOS: Terra (florestas e estradas) e Fogo
DOMÍNIOS: Guerra, Progresso, Conquista e Metalurgia
SAUDAÇÃO: Ògún ieé!!
Ogum (Ògún) é o temível guerreiro, violento e implacável, deus do ferro, da metalurgia e da
tecnologia; protector do ferreiros, agricultores, caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros,
talhantes, metalúrgicos, marceneiros, maquinistas, mecânicos, motoristas e de todos os profissionais
que de alguma forma lidam com o ferro ou metais afins.
Orixá conquistador, Ogum fez-se respeitar em toda a África negra pelo seu carácter devastador.
Foram muitos os reinos que se curvaram diante do poder militar de Ogum.
Entre os muitos Estados conquistados por Ogun estava a cidade de Iré, da qual se tornou senhor
após libertar a cidade da tirania do rei e substituí-lo pelo seu, próprio filho, regressando glorioso com o
título de Oníìré, ou seja, Rei de Iré.
Não é por acaso, portanto, que nas orações dedicadas a Ogun o medo fica tão evidente e a piedade
é um pedido constante, pois como diz uma das suas cantigas:
Ògún pá lélé pá
Ògún pá ojaré
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41
Ògún pá, lélé pá
Ògún pá ojaré.
Ogum mata/extingui com violência
Ogum mata/extingui com razão
Ogum mata/extingui e destrói completamente.
Ogum é o filho mais velho de Odudua, o herói civilizador que fundou a cidade de Ifé. Quando
Odudua esteve temporariamente cego, Ogum tornou-se seu regente em Ifé.
Ogum é um orixá importantíssimo em África e no Brasil. A sua origem, de acordo com a história,
data de eras remotas. Ogum é o último imolé.
Os Igba Imolé eram os duzentos deuses da direita que foram destruídos por Olodumaré após
terem agido mal. A Ogum, o único Igba Imolé que restou, coube conduzir os Irun Imole, os outros
quatrocentos deuses da esquerda.
Foi Ogum quem ensinou aos homens como forjar o ferro e o aço. Ele tem um molho de sete
instrumentos de ferro: alavanca, machado, pá, enxada, picareta, espada e faca, com as quais ajuda o
homem a vencer a natureza.
Em todos os cantos da África negra Ogum é conhecido, pois soube conquistar cada espaço daquele
continente com a sua bravura. Matou muita gente, mas matou a fome de muita gente, por isso antes
de ser temido Ogum é amado.
Espada! Eis o braço de Ogum.
Características dos filhos de Ogum
Fisicamente, os filhos de Ogum são magros, mas com músculos e formas bem definidas.
Compartilham com Exu o gosto pelas festas e conversas que não acabam e gostam de brigas. Se não
fizerem a sua própria briga, compram a dos seus camaradas.
Sexualmente os filhos de Ogum são muito potentes; trocam constantemente de parceiros, pois
possuem dificuldade de se fixar a uma pessoa ou lugar.
São do tipo que dispensa um confortável colchão de molas para dormir no chão; gostam de pisar
a terra com os pés descalços. São pessoas batalhadoras, que não medem esforços para atingir os seus
objectivos, são pessoas que mesmo contrariando a lógica lutam insistentemente e vencem.
Não se prendem à riqueza, ganham hoje, gastam amanhã. Gostam mesmo é do poder, gostam
de comandar, são líderes natos. Essa necessidade de estar sempre à frente pode torná-los pessoas
egoístas e desagradáveis, mas nem sempre.
Geralmente, os filhos de Ogum são pessoas alegres, que falam e riem alto para que todos se
divirtam com suas histórias e que adoram compartilhar a sua felicidade.
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42
OXÓSSI
DIA: Quinta-feira
COR: Azul-Turquesa
SÍMBOLOS: Ofá (arco), Damatá (flecha), Erukeré
ELEMNTO: Terra (florestas e campos cultiváveis)
DOMÍNIOS: Caça, Agricultura, Alimentação e Fartura
SAUDAÇÃO: Òké Aro!!! Arolé!
Oxóssi (Òsóòsi) é o deus caçador, senhor da floresta e de todos os seres que nela habitam,
orixá da fartura e da riqueza. Actualmente, o culto a Oxóssi está praticamente esquecido em África,
mas é bastante difundido no Brasil, em cuba e em outras partes da América onde a cultura
iorubá prevaleceu. Isso deve-se ao facto de a cidade de Kêtu, da qual era rei, ter sido destruída quase
por completo em meados do século XVIII, e os seus habitantes, muitos consagrados a Oxossi, terem
sido vendidos como escravos no Brasil e nas Antilhas. Esse facto possibilitou o renascimento de Kêtu,
não como estado, mas como importante nação religiosa do Candomblé.
Oxóssi é o rei de Kêtu, segundo dizem, a origem da dinastia. A Oxóssi são conferidos os títulos
de Alakétu, Rei, Senhor de Kêtu, e Oníìlé, o dono da Terra, pois em África cabia ao caçador descobrir o
local ideal para instalar uma aldeia, tornando-se assim o primeiro ocupante do lugar, com autoridade
sobre os futuros habitantes. É chamado de Olúaiyé ou Oni Aráaiyé, senhor da humanidade, que garante
a fartura para os seus descendentes.
Na história da humanidade, Oxóssi cumpre um papel civilizador importante, pois na condição de caçador
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  • 2. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 1 ÍNDICE Sumário NOTA DO ORGANIZADOR............................................................................................................................................... 3 DATAS COMEMORATIVAS .............................................................................................................................................. 4 EDUCAÇÃO NO TERREIRO............................................................................................................................................... 6 CUMPRIMENTOS ............................................................................................................................................................ 8 RITUAIS NA UMBANDA................................................................................................................................................. 11 A HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA UMBANDA.................................................................................................................. 15 O QUE É QUIMBANDA? ................................................................................................................................................ 20 O QUE É CANDOMBLÉ? ................................................................................................................................................ 21 OS ORIXÁS..................................................................................................................................................................... 23 OXALÁ....................................................................................................................................................................... 25 NANÃ ....................................................................................................................................................................... 27 OMOLÚ.................................................................................................................................................................... 30 OXUMARÊ ............................................................................................................................................................... 34 EXÚ........................................................................................................................................................................... 38 OGUN....................................................................................................................................................................... 40 OXÓSSI .................................................................................................................................................................... 42 YEMANJÁ ................................................................................................................................................................ 45 IANSÃ....................................................................................................................................................................... 48 OXUM ....................................................................................................................................................................... 51 OBÁ .......................................................................................................................................................................... 53 EWÁ ......................................................................................................................................................................... 55 XANGÔ..................................................................................................................................................................... 57 LOGUN EDÉ ............................................................................................................................................................ 60 OSSAIN .................................................................................................................................................................... 62 IRÔKO ...................................................................................................................................................................... 65 IBEJI ......................................................................................................................................................................... 67 A COMIDA DOS ORIXÁS................................................................................................................................................ 69 QUIZILAS....................................................................................................................................................................... 75 ORDEM DE LOUVAÇÃO AOS ORIXÁS NA GIRA ............................................................................................................. 79 APOMETRIA: O QUE É E COMO FUNCIONA.................................................................................................................. 80
  • 3. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 2 LEIS DA APOMETRIA: ENUNCIADO, TÉCNICAS E COMENTÁRIOS................................................................................. 85 CROMOTERAPIA MENTAL NA APOMETRIA.................................................................................................................. 92 A INFLUÊNCIA DA LUA.................................................................................................................................................. 95 TIPOS DE MEDIUNIDADE E INCORPORAÇÃO NA UMBANDA ....................................................................................... 98 O PERISPÍRITO............................................................................................................................................................. 101 DIFERENTES CONCEITOS DE CORPOS ASTRAIS........................................................................................................... 103 CHAKRAS..................................................................................................................................................................... 107 FONTES ....................................................................................................................................................................... 109
  • 4. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 3 NOTA DO ORGANIZADOR Este trabalho de pesquisa e reunião de documentos tem o objetivo de fornecer um material de referência para o corpo mediúnico da Tenda de Umbanda Pai Joaquim de Angola, no Rio de Janeiro. Não é um material autoral, mas sim uma coletânea modesta de alguns temas que este organizador considerou úteis aos médiuns. Com isso, esclarecemos que este é um trabalho sem fins lucrativos e de venda proibida, sendo apenas impresso e entregue aos médiuns da casa. Citamos as fontes, sempre que disponíveis, no final do material. Caso seja dono de algum dos materiais contidos aqui e queira que seja retirado, basta entrar em contato via email. Esperamos que este material possa ser um rico ponto de referência para todos os interessados em tornarem-se médiuns melhores à serviço da caridade e compromissados com a excelência no trabalho de Pai Oxalá. Um grande abraço e bons estudos. Lucas Liberato 06 de Julho de 2015.
  • 5. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 4 DATAS COMEMORATIVAS DIAS MÊS ORIXÁS/ENTIDADES SINCRETISMO 20 Janeiro Oxóssi São Sebastião 02 Fevereiro Iemanjá Nossa Sra. dos Navegantes 19 Março Xangô Agodô São José 23 Abril Ogum São Jorge 13 Maio Pretos Velhos Abolição da Escravatura 13 Junho Exus Santo Antônio 24 Junho Xangô Menino São João Batista 29 Junho Xangô Aganjú São Pedro 22 Julho Pomba-Giras Maria Madalena 26 Julho Nanã Sant’ana 16 Agosto Omulú São Roque 24 Agosto Tranca Ruas 27 Setembro Crianças/Erês Cosme e Damião 30 Setembro Xangô Caô São Jerônimo 04 Outubro São Fco. de Assis 12 Outubro Boiadeiros Nsa. Sra. De Aparecida
  • 6. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 5 28 Outubro Xangô Alafim São Judas Tadeu 15 Novembro Dia da Umbanda Oficial 22 Novembro Caboclos 04 Dezembro Iansã Santa Bárbara 08 Dezembro Oxum Nossa Sra. da Conceição 17 Dezembro Obaluaê São Lázaro 25 Dezembro Oxalá Jesus Cristo
  • 7. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 6 EDUCAÇÃO NO TERREIRO 1. Jamais retrucar as respostas da mãe de santo. 2. Caso tenha algo para falar que não esteja concordando, discretamente peça um minuto da atenção da mãe de santo e exponha a situação civilizadamente, sem precisar que outras pessoas presenciem. 3. Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogãs, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é de bom-tom que os filhos se abaixem para dirigir a palavra à mãe de santo. Detalhe: Só interromper a conversa caso seja EXTREMAMENTE necessário. Deve-se chegar junto à ela, ficar abaixado esperando que ela pergunte o que deseja. Quando ela perguntar, comece sempre sua frase com “AGÔ”. 4. Nunca, seja no seu barracão ou no barracão alheio, deve-se sentar na mesma altura que sua mãe de santo. Ela já passou por vários sacrifícios para estar sentada confortavelmente ali. Você ainda está no meio do caminho. 5. Médiuns não bebem nenhum líquido em copo de vidro dentro de seu barracão ou no barracão alheio. Deve-se esperar o bom e velho copinho de plástico ou então a conhecida DILONGA, BAN ou CANEQUINHA DE ÁGATA, como você preferir chamar. Copo de vidro só quem tem direito é quem tem cargo e tempo no santo. 6. Médium não come em prato de vidro ou louça. Apenas em pratinho de plástico ou ágata. Aliás, devemos lembrar que é de boa educação cada filho trazer seu devido pratinho de ágata e sua devida canequinha para seu uso pessoal no barracão. 7. Terminou sua refeição? Pegue seu pratinho e sua canequinha, vá para cozinha e lave. 8. Arrume seu terreiro. Mantenha tudo organizado, cada um fazendo sua parte. 9. Resolveu visitar a mãe de santo? Que maravilha! Ela adorará sua visita, ainda mais se você vier com uma modesta colaboração para o lanche ou a refeição, pois como é do conhecimento de todos, a mãe de santo não é rica e nem tem obrigação de alimentar todo mundo. 10. Ao chegar ao barracão, o procedimento correto é: a) Tomar seu banho e ir trocar de roupa; b) Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e pro pai de santo; c) Tomar a benção à TODOS os seus irmãos. 11. Acabou de fazer todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ (banquinho) e confortavelmente sentar-se nele. 12. Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida uma refeição, antes os mais velhos e a assistência devem se servir, pra só depois os médiuns se servirem. Isso é mais que uma regra, é etiqueta. 13. Trate bem os clientes que vão para jogar ou se consultar, pois é deles que vem boa parte do dinheiro dali. Sorrir sempre e servir um copinho de café ou de água gelada. 14.Vai ter festa. Mas, e o dinheiro para comprar flores, material para refeição etc.? Todos da comunidade de Axé devem contribuir. 15.Contribua com o terreiro na compra do Gás, na conta da água e luz. Afinal, todos fazem uso. Pague em dia sua mensalidade! 16. Ficou cansado depois da festa? Lembre-se da limpeza do terreiro. Organize tudo com seus irmãos antes de ir embora.
  • 8. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 7 17. Gira de umbanda, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é lugar de ficar de cochicho e risinhos irônicos. Respeito! 18. Caso assista fora do seu terreiro a algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar falando e chamando de marmoteiro. Você não é o dono da verdade e nem ninguém o é. O que pode parecer errado pra você, pode não ser pro próximo. 19. Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre. 20. Respeito é bom e faz bem. Portanto, deve-se pensar duas vezes antes de envolver a mãe de santo e irmãos mais velhos em determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e avacalhações são da porta do barracão pra fora. 21. Roupa escura é terminantemente proibida ao visitar o terreiro. Caso alguma visita ou assistência esteja usando roupas escuras, oferecer um pano da costa para enrolar no peito. 22. Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir. 23. Benção foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a benção, você está na realidade pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não a pessoa. Portanto, todos devem trocar a benção, mais novos com mais velhos e vice-versa.
  • 9. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 8 CUMPRIMENTOS Bater Cabeça O médium deita-se de barriga pra baixo e toca com a testa no chão em frente ao Gongá, atabaques e Coluna Energética. Bate-se a cabeça no chão em sinal de respeito e obediência aos Orixás, pois simboliza que nossa cabeça, que nos comanda e nos rege, está se subordinando ao poder dos Orixás aos quais estamos reverenciando ao tocá-la no chão, sejam os Orixás do Zelador ou do Gongá. Em diversas culturas, sejam ocidentais ou orientais, baixar a cabeça perante alguém ou alguma coisa significa que estamos submissos e obedientes a esta pessoa ou coisa. No candomblé: Dobalé = cumprimento feito por filho de santo cujo orixá (principal) dono da cabeça é masculino. Deita-se de bruços no chão (ao comprido) e toca-se o solo com a parte da frente da cabeça (testa). Iká = cumprimento feito por filho de santo cujo orixá principal é feminino. Deita-se de bruços no chão, toca-se o solo com a cabeça e, simultaneamente com o lado direito e depois com o esquerdo do quadril no chão (na nação Keto, as mulheres não tocam o chão com o ventre). Paó (3 palmas lentas): O Paó (pronuncia = paô) é um gesto que serve como sinal de que se é preciso comunicar alguma coisa, mas não se pode falar. Isso ocorre muito no candomblé quando as iniciandas estão no roncó e não podem falar, daí batem com as palmas das mãos tentando dizer algo, se comunicar por algum motivo. É usado também como saudação para orixá, e, é diferente de orixá para orixá. É uma palavra em yorubá que significa: "pa" = juntar uma coisa com outra; "o" = para cumprimentar. Essa palavra é uma contração de ìpatewó que significa aplauso. O paó bate-se 3 vezes assim: 3 + 7 vezes Intervalo 3 + 7 vezes Intervalo 3 + 7 vezes E depois a saudação, por exemplo: (palmas paó) “- Laroye Exu!” Utilizado para pedir permissão para entrar, saudar e pedir licença. Bater com as pontas dos dedos no chão: Da mão esquerda, e depois cruzando os dedos com as palmas das mãos voltadas para o Solo: saudando exus e pombogiras. Da mão direita, fazendo uma cruz e depois fazendo a cruz no peito; Saudando os Pretos Velhos. Da mão direita, depois tocando a fronte (Eledá), o lado direito da cabeça (Otum – 2º Orixá) e a Nuca (os Ancestrais); Saudando os orixás e guias; Da mão direita, 3 vezes e depois tocando a fronte, o lado direito da cabeça e a nuca, para saudar Obaluaiê. Cumprimento Ombro a Ombro: Quando um Guia cumprimenta um consulente ou um assistente com o bater de ombro, isto é sinal de igualdade, de fraternidade e grande amizade. Posturas:
  • 10. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 9 Se observarmos e analisarmos os rituais das inúmeras religiões existentes, encontraremos neles um sentido comum; o de invocar as Divindades, as Potências Celestes, ou melhor, as Forças Espirituais. O objetivo é sempre o mesmo, a preparação de atração destas forças à corrente religiosa que a pratica. Em qualquer ritual, do mais básico ao mais espiritualizado, é certo que encontraremos atos e práticas que predispõem a criatura a harmonizar-se com o objetivo invocado, isto é, procurasse colocá- lo em relação mental com os deuses, divindades, forças, santos, entidades etc. Assim para preparar ou elevar o psiquismo de um aparelho e obter-se o equilíbrio da sua mente com os corpos Astral e físico, indispensável se torna que ensinemos à esses ditos aparelhos, determinadas posições necessárias, com o objetivo de que eles possam harmonizar sua faculdade mediúnica individual, com as vibrações superiores das Entidades que militam na Lei de Umbanda. Repouso vibratório ou isolamento: Nesta posição, o corpo de médiuns ou um médium isoladamente, permanece com as mãos cruzadas à frente. Serve para anular (isolar) os fluídos negativos, as vibrações oriundas de elementares e perturbações mentais que procuram se aderir ao ambiente. Nós a utilizamos durante a defumação, nos mantendo todos isolados até que todos os médiuns da corrente tenham se defumado. Vênia Esta posição consiste em ficar com o joelho direito no chão e a perna esquerda em ângulo reto, com os antebraços esticados e as palmas das mãos viradas pra cima. É a posição da humildade, que acende o fervor religioso e também, a veneração ao Chefe Espiritual dos trabalhos ou Entidade incorporada, para os quais se usa como saudação. Utilizamos ao saudar Oxalá. Corrente Vibratória:
  • 11. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 10 Esta posição é altamente eficaz para precipitar fluídos mediúnicos no Corpo Astral, ao mesmo tempo em que vitaliza, suprindo as deficiências momentâneas de um e de outro, além de servir de descarga. Consiste em todos os médiuns darem as mãos (formando um círculo ou semicírculo), sendo que a mão direita fica espalmada para baixo, sobre a mão esquerda do seu companheiro, espalmada para cima, isto é: a mão direita dando e a esquerda recebendo. Esta posição gera uma precipitação de fluídos, que constitua o ambiente propício ao objetivo da caridade, corrigindo qualquer deficiência, quer mediúnica quer orgânica. É de grande eficiência e utilidade nas sessões de caridade e nas de desenvolvimento. Convém lembrar que por muitos chamada de Corrente Vibratória, sempre foi usada pelos séculos afora nas diversas escolas e rituais. De Joelhos Sim! Dentro das várias ritualísticas que se desenvolvem nos terreiros de Umbanda, é comum vermos principalmente no início e término dos trabalhos espirituais o corpo mediúnico com os joelhos no chão. Alguns veem esta postura como arcaica e sem sentido, porém nunca se deram ao trabalho de analisarem detidamente tal comportamento. É de conhecimento geral que as primeiras religiões do globo terrestre já inseriam a genuflexão em seus rituais, exteriorização de respeito junto ao Criador e também manifestação de humildade que todos devem ter, seja para com o Divino, seja para com o próximo. Da mesma forma, o ato de postar- se de joelhos fazia e faz ver aos fiéis que assistiam ou assistem uma manifestação de religiosidade, a seriedade, o respeito e a simplicidade do sacerdote e dos médiuns, frente ao plano espiritual superior. A implantação do ajoelhar-se tem como finalidades mostrar a Deus todo o nosso carinho, obediência, respeito e amor e o quanto somos pequeninos diante do universo criado por Ele; e para passar a assistência que aquele espaço de caridade tem a exata noção do papel que desempenha como instrumentos de trabalho dos bons espíritos.
  • 12. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 11 RITUAIS NA UMBANDA Amaci Simbolicamente, o médium deve se considerar uma ferramenta usada pelo Divino em favor do Outro, da Comunhão e da Paz, um instrumento que deve e merece “reparos periódicos” para que não se perca a qualidade do trabalho manifestado, para que as engrenagens não enferrujem, para que as juntas não atrofiem, para que a maleabilidade não resseque e para que o molejo não se enrijeça. Envolto em toda essa grandiosidade, um dos rituais mais potentes quando pensamos em “reparos periódicos”, é o que chamamos de AMACI. AMACI vem da palavra ‘amaciar’, ‘tornar receptivo’, é um ritual, uma espécie de iniciação que todos os médiuns umbandistas, iniciantes ou não, devem, pelo menos uma vez ao ano, passar. É um liquido preparado com folhas e águas sagradas escorado por alguns fundamentos específicos da Umbanda e que tem como objetivo a lavagem da cabeça/coroa do médium. Nesse contexto, o Amaci ‘despertar’ as faculdades nobres do médium que ainda estão adormecidas, descarrega e apazigua o chacra coronário (centro de recepção espiritual Superior) e ainda liga/religa o médium ao Orixá, fazendo com que ele tenha a Sua vibração e energia interiorizada em seu espírito, mente e coração. Receber o Amaci é entrar em contato direto com o Poder do Orixá, é um momento de grande emoção e que deve estar enredado pela reverência, amor, devoção, lealdade e comprometimento para com o Orixá, a Umbanda e o Plano Espiritual. É o momento em que o médium se coloca diante do Sagrado como ‘Filho de Orixá’, que abaixa sua cabeça em respeito e em saber à Superioridade Divina. Ocasião em que o médium deve se ajoelhar e deixar a voz do coração dizer: (… nome Orixá…), estou aqui! Estou aqui de joelhos me reverenciando diante de sua Força Sagrada e pedindo que me acolha em seu “colo” Divino. Estou pedindo que me receba como seu filho (… nome Orixá…) e me ampare como espírito. Sim, me entrego! Me entrego de corpo e alma, consciente e convicto de que é a Lei de Pemba que me ajuíza e que é a Lei de Umbanda que me sustenta. (… nome Orixá…), que seu Poder se manifeste em mim e através de mim. Que suas Forças sejam as minhas forças. E que seu Amor Divino e Incondicional envolva minha mente, meu coração e minha alma para que eu O manifeste através de minhas palavras, pensamentos e ações… E ainda com o coração batendo forte, o médium deita-se sobre a esteira de palha aos pés de seu Pai Espiritual e recebe o Amaci. Água cheirosa que ao escorrer pelo rosto se mistura com as lágrimas numa junção de fé, sagrado e pertencimento. Sim! Agora o médium não está mais sozinho. Agora ele “pertence” ao Orixá, ao Poder Realizador que em forma de Divindade o acolherá em todos os momentos. É um ritual fundamental para uma verdadeira e segura caminhada espiritual dentro dos fundamentos da Umbanda. É um cerimonial único e divino que quando bem orientado e bem realizado, o médium perceberá as mudanças que acontecerão em sua vida espiritual, consequentemente em toda sua vida. Reconheçamos, esse ritual é mais uma benesse para o médium que qualquer outra coisa. É uma firmeza espiritual que ainda permite o médium, caso deseje ou seja necessário, mudar de terreiro sem qualquer dano. Portanto, não é e não propicia fechamento de portas, pelo contrário, abre nossa mente,
  • 13. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 12 nossos sentidos, nosso espirito e nossa alma para que a Aruanda se instale dentro de nós e que construa um futuro de Paz, Alegria, Bondade, Crença e muito, muito AXÉÉÉÉ. Por fim, que tal aproveitar o mês de outubro, mês que para muitos É d’Oxum para realizar e receber o Amaci, afinal, as águas, a amorosidade, a força e a sensibilidade de Oxum são únicas e especialmente condutora e concededora. Obi Obi, obi d’água ou simplesmente obi. Todos estes nomes referem-se à mesma obrigação, voltada exclusivamente a confortar uma pessoa em um caso de doença, desemprego, distúrbios nervosos, ou até mesmo para um iniciado dentro dos preceitos do axé orixá, quando por um motivo ou outro, o mesmo não pode passar por um bori. Esta obrigação tem seu nome em referência a uma fruta africana, o obi, sem a qual nada podemos realizar para os orixás, no tangente a sacrifícios, uma vez que é com ela que conversamos com nossos antepassados para sabermos se aquele santo está satisfeito com a obrigação, etc. Esta obrigação é a mais simples realizada dentro do axé, no tangente a dar de comer a uma cabeça. Muito embora algumas pessoas achem que ela não tem maiores fundamentos junto com o orixá, mas já presenciamos muitos casos que foram resolvidos com esta. Trata-se neste ato, de confortar o anjo da guarda da pessoa, seja consulente ou filho de santo, ocasião onde alimentamos Òşàlà, no intuito de pedir a misericórdia para aquele filho que se encontra em tal sofrimento. Claro que esta obrigação não cria uma obrigatoriedade do cliente com o santo, ela apenas serve como um modo de resolver de imediato uma questão. Existem aqueles que após o obi, sentem-se tão felizes que optam por penetrar de forma mais profunda dentro de nossa religião. Nesta obrigação são utilizados: ebô (canjica de Òşàlà), ebô yá (a mesma canjica, porém preparada para Yemanjá e de forma diferente), o obi (que é uma fruta de origem africana), frutas variadas, vela e uma quartinha com água além da comida do santo da pessoa. Em alguns casos é utilizado um pombo branco. Antigamente quando uma pessoa desejava entrar para os preceitos de uma casa, ou seja, ser filho ou filha de santo naquele templo, ou mesmo quando seu orixá exigia feitura, os zeladores tinham por hábito realizar esta como uma primeira obrigação, para daí então estudar a pessoa, ver se ela realmente tinha amor e dedicação para com os orixás, e até mesmo para se certificarem de que era realmente sua casa e sua mão que aquele santo desejava, e não apenas uma empolgação material ou espiritual. Agiam assim, pois que, nesta época não existia o fato de uma pessoa fazer santo com um e tomar obrigações com outro, provocando um rodízio ridículo nas roças de santo como as que se vê hoje em dia. Para uma pessoa se iniciar, existia todo um processo de identificação dele com a casa e vice- versa. Era uma época em que a fidelidade de um iniciado era realmente levada a sério, assim como a do sacerdote com relação a seus iniciados. E o obi, era justamente a obrigação que funcionava como uma espécie de flerte, vulgarmente comparando, evitando constrangimentos futuros. Hoje em dia, parece que esta fidelidade simplesmente evaporou-se com a fumaça dos defumadores, pois que uma pessoa se inicia em uma casa e quando desencarna, traz uma longa passagem de terreiro em terreiro. Claro que ainda existem aqueles que prezam a fidelidade, mas são bem poucos nos tempos atuais.
  • 14. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 13 Ser um iniciado é antes de tudo sermos fiéis a mão que alimenta nosso orixá, nosso anjo da guarda, assim como ele é fiel a nosso zelador. Pertencermos ao axé orixá é antes de tudo sermos humildes, desprovidos de arrogância e soberba, é seguirmos nosso destino na certeza de que um ser tão puro e iluminado se dedica a zelar por nós e nossa vida. Bori O ato de Bori pode ser feito a qualquer pessoa, iniciada ou não dentro do Axé. O Bori serve como uma forma de ajuda a pessoa numa determinada fase de sua vida. É bem verdade que, seria interessante que fosse feito esse ato uma vez ao ano. Dessa forma daríamos força a nossa cabeça, ou até mesmo, a mantermos forte para que possamos continuar bem. As pessoas que por acaso forem avisadas sobre a necessidade de ser dar de comer a cabeça (Orí), e por algum motivo não quiserem fazê-lo, de nada devem sofrer, nem mesmo de ameaças como fazem algumas pessoas e não zeladores. Deve-se ser sempre respeitada a vontade da pessoa. Orí escolhe o zelador de sua confiança. Escolhe o mesmo pelo seu conhecimento, cuidado, zelo e prestígio por fazer as coisas de forma certa junto aos Orixás. Gostaria de esclarecer que, indjé (sangue) tem várias cores, e que Orí pode receber de bom grado qualquer um deles. As Cores do Sangue O Sangue Branco, Vermelho e Preto Há Axé contido numa grande variedade de elementos representativos do reino animal, vegetal e mineral, quer sejam da água (doce ou salgada), quer venha da terra, da floresta, do “mato”, ou do espaço urbano. O axé é contido nas substâncias essenciais de cada um dos seres, animados ou não, simples ou complexos, que compõem o mundo. Os elementos portadores de axé podem ser compreendidos em três categorias: Sangue Vermelho Compreende: O do reino animal: corrimento menstrual, sangue animal; O do reino vegetal: o epô (azeite de dendê), o Osùn (pó vermelho extraído do Perocarpus Erinacesses -Abraham, 1958: 490), o mel (sangue das flores); O do reino mineral: cobre, bronze etc. Veremos mais adiante que o amarelo é uma variedade do vermelho, assim como o azul e o verde são variedades do preto. Sangue Branco Compreende: O do reino animal: o sêmen, a saliva, o hálito, as secreções, o plasmo (particularmente o do ígbín (caracol)) etc. O do reino vegetal: a seiva, o sumo, o álcool e as bebidas brancas extraídas das palmeiras e de alguns vegetais, o Ìyèrosùn (pó esbranquiçado extraído do ìròsùn (Eucleptes Franciscana F) (Abrahan 316)), o Orí (manteiga vegetal (shea-butter)) etc: O do reino mineral: sais, giz, prata, chumbo etc.
  • 15. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 14 Sangue Preto Compreende: O do reino animal: cinzas de animais. O do reino vegetal: o sumo escuro de certos vegetais; o ìlú (índigo, extraído de diferentes tipos de árvores (Abraham 187)), e uma preparação à base de ìlú, pó azul escuro chamado wáji. O reino mineral: carvão, ferro etc. Por extensão, existem lugares, objetos ou partes do corpo impregnado de axé: o coração, o fígado, os pulmões, os órgãos genitais, as raízes, as folhas, o leito dos rios, pedras, e outros que correspondem, de uma maneira bem definida, a alguma das três cores mencionadas: os dentes, os ossos, o marfim etc. Sendo o Axé uma força que permite tudo ser como é, e terem elas a existência, podemos concluir que tudo o que existe, para poder realizar-se, deve receber Axé. Há três categorias de elementos do branco, vermelho e do preto que, em combinação particulares, conferem significado funcional ás unidades que compõem o sistema. Receber Axé significa incorporar os elementos simbólicos que representam os princípios vitais e essenciais de tudo o que existe, uma particular combinação que individualiza e permite uma significação determinada. Trata-se de incorporar tudo o que constitui o Aiyé (terra) e o Orun (céu). Cada ano litúrgico começa no terreiro pelo ciclo das águas de Ósàlá. A lama, a terra como elemento, é a matéria fecunda e está associada a vários Òrìsà. Princípios progenitores femininos, particularmente Odúduwá. Enquanto Òsàlà está associado à água e ao ar, Odúduwá está associada á água e a terra. Lembremos que a água e o ar pertencem aos elementos - signos do sangue branco do Axé e que a terra é por excelência, condutora do sangue vermelho e do sangue preto do Axé. Todos os metais amarelos pertencem a Òsún – o ouro e principalmente o bronze – metais com que são manufaturados seus braceletes e o abebê. O axé vermelho genérico é representado pelo sangue humano e animal, pelo epô, o òsú, sangue vegetal, e pelos metais vermelhos amarelos. È igualmente representado, particularmente, pelo mel, sangue das flores, doçura e quinta-essência do bom, o Axé Rere só comparável ao leite materno. As penas de ekódide pertencem ao vermelho, e representam o poder e o axé de Ósun-Olóri-Eléye (chefe supremo dos possuidores de pássaros). Porém elas não simbolizam o vermelho genérico, mas – como os cauris para o branco – representam fragmentos do vermelho, seres individualizados, o elemento procriado. Igbá Orí (literalmente, cabaça da cabeça, pois os assentamentos eram feitos em cabaças – igbá, daí o nome ter virado sinônimo de assentamento de Òrìsà) a Cabaça do Orí. Costuma-se fazer assentamentos com as mais variadas coisas para representar o Orí de uma pessoa. Esta variedade de coisas deve-se a que o Orí seja o que individualiza o ser humano. Como no caso das impressões digitais, ninguém tem Orí igual ao de outra pessoa, cada Orí é único e exclusivo daquela pessoa. Então, faz-se o assentamento numa cabaça ou tigela, o mais comum entre nós, e esse assentamento é cultuado como Igbá- Orí, ou seja, a representação física do Orí-inú da pessoa. Ori-Inu Essa parte é também conhecida como O olho espiritual.
  • 16. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 15 A HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA UMBANDA Em fins do século XIX existiam, no Rio de Janeiro, várias modalidades de culto que denotavam nitidamente a origem africana, embora já bem distanciadas da crença trazida pelos escravos. A magia dos velhos africanos transmitida oralmente através de gerações, desvirtuava-se mesclada com as feitiçarias provindas de Portugal onde existiram sempre os feitiços, as rezas e as superstições. As "macumbas", mistura de catolicismo, religiões africanas e crenças nativas - multiplicavam-se; Tomou vulto a atividade remunerada do feiticeiro; O "trabalho feito" passou a ordem do dia, dando motivo a outro, para lhe destruir os efeitos maléficos; Generalizaram-se os "despachos", visando obter favores para uns e prejudicar terceiros; Aves e animais eram sacrificados, com as mais diversas finalidades; Exigiam-se objetos raros para homenagear entidades ou satisfazer elementos da baixo astral. Sempre obedecendo aos objetivos primordiais: aumentar a renda do feiticeiro ou "derrubar" os que não se curvassem ante os seus poderes ou pretendessem fazer-lhe concorrência. Os Mentores do Astral Superior, porém, estavam atentos ao que se passava. Organizava-se um movimento destinado a combater a magia negativa que se propagava assustadoramente; cumpria atingir, de início, as classes humildes e mais sujeitas às influências do clima de superstições que imperava na época. No plano terreno surge, no ano de 1904, o livro Religiões do Rio, elaborado por "João do Rio", pseudônimo de Paulo Barreto, membro emérito da Academia Brasileira de Letras. No livro, o autor faz um estudo sério e inequívoco das religiões e seitas existentes no Rio de Janeiro, àquela época, capital federal e centro sócio-político-cultural do Brasil. O escritor, no intuito de levar ao conhecimento da sociedade os vários segmentos de religiosidade que se desenvolviam no então Distrito Federal, percorreu igrejas, templos, terreiros de bruxaria, macumbas cariocas, sinagogas, entrevistando pessoas e testemunhando fatos. Não obstante tal obra ter sido pautada em profunda pesquisa, em nenhuma página desta respeitosa edição cita-se o vocábulo Umbanda, pois tal terminologia era desconhecida. Formaram-se então, as falanges de trabalhadores espirituais, que se apresentariam na forma de Caboclos e Pretos Velhos, para mais facilmente serem compreendidos pelo povo. Nas sessões espíritas, porém, não foram aceitos: identificados sob essas formas, eram considerados espíritos atrasados e suas mensagens não mereciam nem mesmo uma análise. Acercaram-se também dos Candomblés e dos cultos então denominados "baixo espiritismo", as macumbas. É provável que, nestes, como nos Batuques do Rio Grande do Sul, tenham encontrado acolhida, com a finalidade de serem aproveitados nos trabalhos de magia, como elementos novos no velho sistema de feitiçaria. A situação permanecia inalterada, ao iniciar-se o ano de 1900. No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos de idade, que se preparava para ingressar na carreira militar na Marinha, começou a sofrer estranhos "ataques". Sua família, conhecida e tradicional na cidade de Neves (hoje parte do município de São Gonçalo), estado do Rio de Janeiro, foi pega de surpresa pelos acontecimentos. Esses "ataques" do rapaz, eram caracterizados por posturas de um velho, falando coisas sem sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época. Muitas vezes assumia uma forma que parecia a de um felino lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza. Após examiná-lo durante vários dias, o médico da família recomendou que seria melhor encaminhá-lo a um padre, pois o médico (que era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz não se enquadrava em nada que ele havia conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava endemoniado.
  • 17. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 16 Alguém da família sugeriu que "isso era coisa de espiritismo" e que era melhor levá-lo à Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza. No dia 15 de novembro de 1908, o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando um lugar à mesa. Tomado por uma força estranha e alheia à sua vontade, e contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse: "Aqui está faltando uma flor". Saiu da sala indo ao jardim e voltando após com uma flor, que colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes. Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios. O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o "seu atraso espiritual" e convidando-os a se retirarem. Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e através dele falou: _"Porque repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Será por causa de suas origens sociais e da cor?" Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. Um médium vidente perguntou: "Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? Por quê fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?” "Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim, não haverá caminhos fechados." "O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro." Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral: "Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro de 1908) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.” O vidente retrucou: "Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?” Perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse: "Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei". Para finalizar o caboclo completou: "Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?" No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos. Às 20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já
  • 18. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 17 deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria; e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Jesus. O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade. A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto. Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a parte prática dos trabalhos. O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que haviam neste local, praticando suas curas. Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras: "- Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá." Após insistência dos presentes fala: "Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego." Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde: "Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca." Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antonio". No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos etc. vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais. A partir daí o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo Orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia. Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas para a propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge; e Tenda Espírita São Gerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas milhares de tendas a partir das mencionadas. Embora não seguindo a carreira militar para a qual se preparava, pois sua missão mediúnica não o permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão. Trabalhava para o sustento de sua família e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos
  • 19. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 18 espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitar a ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele. Ministros, industriais, e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos e os vendo recuperados, procuravam retribuir o benefício através de presentes, ou preenchendo cheques vultosos. "Não os aceite. Devolva-os!", ordenava sempre o Caboclo. A respeito do uso do termo espírita e de nomes de santos católicos nas tendas fundadas, o mesmo teve como causa o fato de naquela época não se poder registrar o nome Umbanda, e quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da Umbanda. O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples, com cânticos baixos e harmoniosos, vestimenta branca, proibição de sacrifícios de animais. Dispensou os atabaques e as palmas. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês não seriam aceitos. As guias usadas são apenas as que determinam a entidade que se manifesta. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza, a par do ensinamento doutrinário, na base do Evangelho, constituiriam os principais elementos de preparação do médium. O ritual sempre foi simples. Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje. Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade (1º templo de Umbanda), Zélio entregou a direção dos trabalhos as suas filhas Zélia e Zilméa, continuando, ao lado de sua esposa Isabel, médium do Caboclo Roxo, a trabalhar na Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu – RJ, dedicando a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e de todos os que o procuravam. Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade – RJ) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz. Ei-la: "A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda.
  • 20. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 19 Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa. Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade. Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas". Zélio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida à Umbanda, tendo retornado ao plano espiritual em 03 de outubro de 1975, com a certeza de missão cumprida. Seu trabalho e as diretrizes traçadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas continuam em ação através de suas filhas Zélia e Zilméa de Moraes, que têm em seus corações um grande amor pela Umbanda, árvore frondosa que está sempre a dar frutos a quem souber e merecer colhê-los.
  • 21. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 20 O QUE É QUIMBANDA? Quimbanda é um conceito religioso de origem afro-brasileira, presente na Umbanda, ainda controverso quanto a sua real definição na atualidade. Por vezes, é classificada como uma religião autônoma. É identificado por alguns como o lado esquerdo (polo negativo) da Umbanda, ou seja, que tem todo conhecimento do mundo astral, inclusive da magia negra, e que podem ajudar a fazer o bem. Suas entidades vibram nas matas, cemitérios e encruzilhadas, também conhecidos como "Povo da Rua" e abrangem os mensageiros ou guardiões Exus e Pombagiras. A Quimbanda trabalha mais diretamente com os exus e pomba giras, também chamados de povos de rua, de uma forma que não é trabalhada na Umbanda pura. Estas entidades, de acordo com a cosmologia umbandista, manipulam forças negativas, o que não significa que sejam malignos. Geralmente estão presentes em lugares onde possam haver kiumbas, obsessores, também conhecidos como espíritos atrasados. Os Exus e Pombagiras trabalham basicamente para o desenvolvimento espiritual das pessoas, com o intuito de evolução espiritual, além de proteção de seu médium. Como são as entidades mais próximas à faixa vibratória dos encarnados, apresentam muitas semelhanças com os humanos. A entrega de oferendas é comum na Quimbanda, assim como na Umbanda, mas variam de acordo com cada entidade. Podem ser oferecidas bebidas alcoólicas, tais quais, cachaça (marafo), uísque ou conhaque, entre outras, além de velas e charutos. Lourenço Braga, discípulo de Zélio de Moraes, escreveu em 1942 o livro Umbanda (magia branca) e Quimbanda (magia negra), onde ele lista sete linhas da Quimbanda: Linha das Almas - Exu Omulu Linha dos Caveiras - Exu Caveira Linha de Nagô - Exu Gererê Linha de Malei - Exu Rei Linha de Mossuribu - Exu Kaminaloá Linha dos Caboclos Quimbandeiros - Exu Pantera Preta Linha Mista - Exu dos Rios/Exu das Campinas O termo "quimbanda" (da mesma forma que o termo "umbanda") tem origem na língua umbundu, e dentro do Candomblé de Angola designa, desde o período pré-colonial, um rito próprio, cujo sacerdote que o pratica é chamado de "Táta Kimbanda". No Brasil, com a fundação da Umbanda, o termo quimbanda passou a ser usado para descrever trabalhos espirituais que, dentro da cosmologia da Umbanda, não obedeceriam seus preceitos fundamentais não sendo, no entanto, necessariamente malignos. Frequentemente é confundida com a Quiumbanda (ou Kiumbanda), que é a prática de trabalhar espiritualmente com quiumbas.
  • 22. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 21 O QUE É CANDOMBLÉ? Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação. Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões de matriz africana mais praticadas, tendo mais de três milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil. Também é possível encontrar o chamado povo do santo em outros países como Uruguai, Argentina, Venezuela, Colômbia, Panamá, México, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha. Cada nação africana tem, como base, o culto a um único orixá. A junção dos cultos é um fenômeno brasileiro em decorrência da importação de escravos onde, agrupados nas senzalas nomeavam um zelador de santo também conhecido como babalorixá no caso dos homens e iyalorixá no caso das mulheres. A religião tem, por base, a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada de anímica. Os sacerdotes africanos que vieram para o Brasil como escravos, juntamente com seus orixás/nkisis/voduns, sua cultura, e seus idiomas, entre 1549 e 1888, é que tentaram de uma forma ou de outra continuar praticando suas religiões em terras brasileiras, foram os africanos que implantaram suas religiões no Brasil, juntando várias em uma casa só para a sobrevivência das mesmas. Portanto, não é invenção de brasileiros. Diz Clarival do Prado Valladares em seu artigo "A Iconologia Africana no Brasil", na Revista Brasileira de Cultura (MEC e Conselho Federal de Cultura), ano I, Julho-Setembro 1999, p. 37, que o "surgimento dos candomblés com posse de terra na periferia das cidades e com agremiação de crentes e prática de calendário verifica-se incidentalmente em documentos e crônicas a partir do século XVIII". O autor considera difícil para "qualquer historiador descobrir documentos do período anterior diretamente relacionados à prática permitida, ou sub-reptícia, de rituais africanos". O documento mais remoto, segundo ele, seria de autoria de dom Frei Antônio de Guadalupe, bispo visitador de Minas Gerais em 1726, divulgado nos "Mandamentos ou Capítulos da visita". Embora confinado originalmente à população de negros escravizados, inicialmente nas senzalas, quilombos e terreiros, proibido pela igreja católica, e criminalizado mesmo por alguns governos, o candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888. Estabeleceu-se com seguidores de várias classes sociais e dezenas de milhares de templos. Em levantamentos recentes, aproximadamente 3 milhões de brasileiros (1,5% da população total) declararam o candomblé como sua religião. Na cidade de Salvador existem 2.230 terreiros registrados na Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros e catalogados pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, (Universidade Federal da Bahia) Mapeamento dos Terreiros de Candomblé de Salvador. Entretanto, na cultura brasileira as religiões não são vistas como mutuamente exclusivas, e muitas pessoas de outras crenças religiosas — até 70 milhões, de acordo com algumas organizações culturais Afro-Brasileiras — participam em rituais do candomblé, regularmente ou ocasionalmente. Orixás do candomblé, os rituais, e as festas são agora uma parte integrante da cultura e uma parte do folclore brasileiro. O candomblé não deve ser confundido com umbanda, macumba, e/ou omoloko, e outras religiões afro-brasileiras com similar origem; e com religiões afro-americanas similares em outros países do Novo Mundo, como o vodou haitiano, a santería cubana, e o obeah, em Trinidade e Tobago, os shangos (similar ao tchamba africano, xambá e ao xangô do nordeste do Brasil) o ourisha, de origem iorubá, os quais foram desenvolvidas independentemente do candomblé e são virtualmente desconhecidos no Brasil.
  • 23. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 22 O termo "candomblé" é uma junção do termo quimbundo candombe (dança com atabaques) com o termo iorubá ilé ou ilê (casa): significa, portanto, "casa da dança com atabaques". Nações Os negros escravizados no Brasil pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os iorubás, os ewe, os fon e os bantos. Como a religião se tornou semi-independente em regiões diferentes do país, entre grupos étnicos diferentes evoluíram diversas "divisões" ou "nações", que se distinguem entre si principalmente pelo conjunto de divindades veneradas, o atabaque (música) e a língua sagrada usada nos rituais. A lista seguinte é uma classificação pouco rigorosa das principais nações e subnações, de suas regiões de origem, e de suas línguas sagradas: Nagô ou ioruba Ketu ou Queto (Bahia) e quase todos os estados - Língua iorubá (Iorubá ou Nagô em português) Efan na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo Ijexá principalmente na Bahia Nagô Egbá ou Xangô do Nordeste no Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo Mina-nagô ou tambor de mina no Maranhão Xambá em Alagoas e Pernambuco (quase extinto). Banta, Angola e Congo (Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Rio Grande do Sul), mistura de línguas bantas, quicongo e quimbundo. candomblé de caboclo (entidades nativas indígenas) Jeje: a palavra "jeje" vem do ioruba adjeje, que significa "estrangeiro, forasteiro". Nunca existiu nenhuma nação Jeje na África. O que é chamado de nação jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Daomé e pelos povos mahis ou mahins. "Jeje" era o nome dado de forma pejorativa pelos iorubas para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahis eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou povos Savalu do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savé", que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savé (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomey ficava no oeste, enquanto os axântis eram a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos jejes, (Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo) - língua ewe e língua fon (jeje) Jeje Mina: de língua mina, de São Luís (Maranhão) Babaçuê: Belém (Pará)
  • 24. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 23 OS ORIXÁS Os orixás são deuses africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças. As características de cada Orixá aproximam-nos dos seres humanos, pois eles manifestam-se através de emoções como nós. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada orixá tem ainda o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, espaços físicos e até horários. Como resultado do sincretismo que se deu durante o período da escravatura, cada orixá foi também associado a um santo católico, devido à imposição do catolicismo aos negros. Para manterem os seus deuses vivos, viram-se obrigados a disfarçá-los na roupagem dos santos católicos, aos quais cultuavam apenas aparentemente. Estes deuses da Natureza são divididos em 4 elementos – água, terra, fogo e ar. Alguns estudiosos ainda vão mais longe e afirmam que são 400 o número de Orixás básicos divididos em 100 do Fogo, 100 da Terra, 100 do Ar e 100 da Água, enquanto que, na Astrologia, são 3 do Fogo, 3 da Terra, 3 do Ar e 3 da Água. Porém os tipos mais conhecidos entre nós formam um grupo de 16 deuses. Eles também estão associados à corrente energética de alguma força da natureza. Assim, Iansã é a dona dos ventos, Oxum é a mãe da água doce, Xangô domina raios e trovões, e outras analogias. No Candomblé cultuam-se muitos outros orixás, desconhecidos por leigos, por serem menos populares do que Xangô, Iansã, Oxossi e outros, mas com um significado muito forte para os adeptos dos cultos afro-brasileiros. Alguns são necessariamente cultuados, devido à ligação com trabalhos específicos que regem, para a saúde, morte, prosperidade e diversos assuntos que afligem o dia-a-dia das pessoas. Estes deuses africanos são considerados intermediários entre os homens e Deus, e por possuírem emoções tão próximas dos seres humanos, conseguem reconhecer os nossos caprichos, os nossos amores, os nossos desejos. É muito frequente dizer-se que as personalidades dos seus filhos são consequência dos orixás que regem as suas cabeças, desenvolvendo características iguais às destes deuses africanos. Seguem descrições dos 16 orixás mais cultuados no Brasil. Nanã Omolú Oxumarê Oxalá Exú Ogun Oxóssi Yemanjá Iansã Oxun Obá Ewá Xangô Logun Edé Ossain Ibeji Irôko
  • 25. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 24
  • 26. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 25 OXALÁ Dia: Sexta-feira Cor: Branco leitoso. Simbolo: Opáxoró Elementos: Atmosfera e Céu Domínios: Poder procriador masculino, Criação, Vida e Morte Saudação: Epa Bàbá OXALÁ é o detentor do poder procriador masculino. Todas as suas representações incluem o branco. É um elemento fundamental dos primórdios, massa de ar e massa de água, a protoforma e a formação de todo o tipo de criaturas no AIYE e no ORUN. Ao incorporar-se, assume duas formas: OXAGUIÃ jovem guerreiro, e OXALUFÃ, velho apoiado num bastão de prata (APAXORÓ). OXALÁ é alheio a toda a violência, disputas, brigas, gosta de ordem, da limpeza, da pureza. A sua cor é o branco e o seu dia é a sexta-feira. Os seus filhos devem vestir branco neste dia. Pertencem a OXALÁ os metais e outras substâncias brancas. Em África, todos os Orixás relacionados com a criação são designados pelo nome genérico de Orixá Fun Fun. O mais importante entre todos eles chama-se Orixalá (Òrìsanlà), ou seja, o grande Orixá, que nas terras de Igbó e Ifé é cultuado como Obatalá, rei do pano branco. Eram cerca de 154 Orixás Fun Fun, mas no Brasil e na Europa a quantidade reduz-se significativamente, sendo que dois,
  • 27. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 26 Orixá Olùfón, rei de Ifón (Oxalufã) e Orixá Ógìyán, o comedor de inhame e rei de Egigbó (Oxaguiã), se tornaram as suas expressões mais conhecidas. A designação de Orixá Fun Fun deve-se ao facto de a cor branca se configurar como a cor da criação, guardando a essência de todas as demais. O branco representa todas as possibilidades, a base de qualquer criação. O nome Orisanlá foi contraído e deu origem à palavra Oxalá, e com esse nome o grande Deus-pai passou a ser conhecido no Brasil e na Europa. Todos os Orixás Fun Fun foram reunidos em Oxalá e divididos em várias qualidades das suas duas configurações principais: Òsálufón, Osagiyan, sendo este último, jovem e guerreiro, filho do primeiro mais velho e paciente. Todas as histórias que relatam a criação do mundo passam necessariamente por Oxalá, que foi o primeiro Orixá concebido por Olodumaré e encarregado de criar não só o universo, como todos os seres, todas as coisas que existiriam no mundo. A maior interdição de Oxalá é de facto o azeite-de-dendê, que jamais deve macular as suas roupas, os seus objectos sagrados e muito menos o seu Alá. A única coisa vermelha que Oxalá permite, é a pena de Ikodidè, prova de sua submissão ao poder genitor feminino. O Alá representa a própria criação, está intimamente relacionado com a concepção de cada ser; é a síntese do poder criador masculino. A sua função primeira já remete ao seu significado profundo. A acção de cobrir não evoca somente protecção, zelo, denota a actividade masculina no acto sexual. No Xirê, Oxalá é homenageado por último porque é o grande símbolo da síntese de todas as origens. Ele representa a totalidade, o único Orixá que, como Exú, reside em todos os seres humanos. Todos são seus filhos, todos são irmãos, já que a humanidade vive sob o mesmo teto, o grande Alá que nos cobre e protege, o céu. Características do filho de Oxalufã O tipo físico de OXALUFÃ é frágil, delicado, friorento, sujeito-a resfriados. Compensa sua debilidade física com grande força moral, e seu alvo à realizar a condição humana no que tem de mais nobre. É fiel no amor e na amizade. Oxalufã é o poente. Características do filho de Oxaguiã O tipo OXAGUIÃ é um jovem guerreiro combativo. Normalmente tem boa aparência, podem ser altos, baixos, forte e magros, pois seu arquetipo não o traduz, não é agressivo nem brutal, teimosos, individualistas e altruístas. Não despreza o sexo e cultiva o amor livre. É alegre, gosta profundamente da vida, é falador, brincalhão e ao mesmo tempo teem muita seriedade e não perdoam a Injustiça. Ao mesmo tempo é idealista, defendendo os injustiçados, os fracos e os oprimidos. Orgulhosos, gostam da boa briga pela boa causa, às vezes, uma espécie de D. Quixote. Os seus pensamentos originais geralmente antecipam os da sua época. Ele é o nascente e o dono das manhãs.
  • 28. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 27 NANÃ Dia: Terça-feira Cores: Anil, Branco e Roxo Símbolo: Bastão de hastes de palmeira (Ibiri) Elemento: Terra, Água, Lodo Domínios: Vida e Morte, Saúde e Maternidade Saudação: Salubá! Nanã, a deusa dos mistérios, é uma divindade de origem simultânea à criação do mundo, pois quando Odudua separou a água parada, que já existia, e liberou do “saco da criação” a terra, no ponto de contacto desses dois elementos formou-se a lama dos pântanos, local onde se encontram os maiores fundamentos de Nana. Senhora de muitos búzios, Nana sintetiza em si morte, fecundidade e riqueza. O seu nome designa pessoas idosas e respeitáveis e, para os povos Jeje, da região do antigo Daomé, significa “mãe”. Nessa região, onde hoje se encontra a República do Benin, Nana é muitas vezes considerada a divindade suprema e talvez por essa razão seja frequentemente descrita como um orixá masculino. Sendo a mais antiga das divindades das águas, ela representa a memória ancestral do nosso povo: é a mãe antiga (Iyá Agbà) por excelência. É mãe dos orixás Iroko, Obaluaiê e Oxumaré, mas por ser a deusa mais velha do candomblé é respeitada como mãe por todos os outros orixás. A vida está cercada de mistérios que ao longo da História atormentam o ser humano. Porém, quando ainda na Pré-História, o homem se viu diante do mistério da morte, em seu âmago irrompeu
  • 29. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 28 um sentimento ambíguo. Os mitos aliviavam essa dor e a razão apontava para aquilo que era certo no seu destino. A morte faz surgir no homem os primeiros sentimentos religiosos, e nesse momento Nana faz-se compreender, pois nos primórdios da História os mortos eram enterrados em posição fetal, remetendo a uma ideia de nascimento ou renascimento. O homem primitivo entendeu que a morte e a vida caminham juntas, entendeu os mistérios de Nana. Nana é o princípio, o meio e o fim; o nascimento, a vida e a morte. Ela é a origem e o poder. Entender Nana é entender o destino, a vida e a trajectória do homem sobre a terra, pois Nana é a História. Nana é água parada, água da vida e da morte. Nana é o começo porque Nanã é o barro e o barro é a vida. Nana é a dona do axé por ser o orixá que dá a vida e a sobrevivência, a senhora dos ibás que permite o nascimento dos deuses e dos homens. Nana pode ser a lembrança angustiante da morte na vida do ser humano, mas apenas para aqueles que encaram esse final como algo negativo, como um fardo extremamente pesado que todo o ser carrega desde o seu nascimento. Na verdade, apenas as pessoas que têm o coração repleto de maldade e dedicam a vida a prejudicar o próximo se preocupam com isso. Aqueles que praticam boas acções vivem preocupados com o seu próprio bem, com a sua elevação espiritual e desejam ao próximo o mesmo que para si, só esperam da vida dias cada vez melhores e têm a morte como algo natural e inevitável. A sua certeza é a imortalidade da sua essência. Nana, a mãe maior, é a luz que nos guia, o nosso quotidiano. Conhecer a própria vida e o próprio destino é conhecer Nana, pois os fundamentos dos orixás e do Candomblé estão ligados à vida. A nossa vida é o nosso orixá. É na morte, condição para o renascimento e para a fecundidade, que se encontram os mistérios de Nana. Respeitada e temida, Nana, deusa das chuvas, da lama, da terra, juíza que castiga os homens faltosos, é a morte na essência da vida. Características dos filhos de Nana Burukú Os filhos de Nana são pessoas extremamente calmas, tão lentas no cumprimento das suas tarefas que chegam a irritar. Agem com benevolência, dignidade e gentileza. As pessoas de Nana parecem ter a eternidade à sua frente para acabar os seus afazeres; gostam de crianças e educam-nas com excesso de doçura e mansidão, assim como as avós. São pessoas que no modo de agir e até fisicamente aparentam mais idade. Podem apresentar precocemente problemas de idade, como tendência a viver no passado, de recordações, apresentar infecções reumáticas e problemas nas articulações em geral. As pessoas de Nana podem ser teimosas e “ranzinzas”, daquelas que guardam por longo tempo um rancor ou adiam uma decisão. Porém agem com segurança e majestade. As suas reacções bem
  • 30. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 29 equilibradas e a pertinência das suas decisões mantêm-nas sempre no caminho da sabedoria e da justiça. Embora se atribua a Nana um carácter implacável, os seus filhos têm grande capacidade de perdoar, principalmente as pessoas que amam. São pessoas bondosas, decididas, simpáticas, mas principalmente respeitáveis, um comportamento digno da Grande Deusa do Daomé.
  • 31. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 30 OMOLÚ DIA: Segunda-feira CORES: Preto, branco e vermelho. SÍMBOLOS: Xaxará ou Íleo, lança de madeira, lagidibá. ELEMENTOS: Terra e fogo do interior da Terra. DOMÍNIOS: Doenças epidémicas, cura de doenças, saúde, vida e morte. SAUDAÇÃO: Atotoó!!! Omolú é a Terra! Essa afirmação resume perfeitamente o perfil deste orixá, o mais temido entre todos os deuses africanos, o mais terrível orixá da varíola e de todas as doenças contagiosas, o poderoso “Rei Dono da Terra”. È preciso esclarecer, no em tanto, que Omolú está ligado ao interior da terra (ninù ilé) e isso denota uma íntima relação com o fogo, já que esse elemento, como comprovam os vulcões em erupção, domina as camadas mais profundas do planeta. Toda a reflexão em torno de Omolú ocorreu colocando-o como um orixá ligado à terra, o que é correcto, mas não deixa de ser um erro desconsiderar a sua relação com o fogo do interior da terra, com as lavas vulcânicas, como os gases etc. o que pode ser mais devastador que o fogo? Só as epidemias, as febres, as convulsões lançadas por Omolú! Orixá cercado de mistérios, Omolú é um deus de origem incerta, pois em muitas regiões da África eram cultuados deuses com características e domínios muito próximos aos seus. Omolú seria rei dos Tapas, originário da região de Empé. Em território Mahi, no antigo Daomé, chegou aterrorizando, mas o povo do local consultou um babalaô que lhes ensinou como acalmar o terrível orixá. Fizeram então
  • 32. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 31 oferendas de pipocas, que o acalmaram e o contentaram. Omolú construiu um palácio em território Mahi, onde passou a residir e a reinar como soberano, porém não deixou de ser saudado como Rei de Nupê em pais Empê (Kábíyèsí Olútápà Lempé). As pipocas, ou melhor, deburu, são as oferendas predilectas do orixá Omolú; um deus poderoso, guerreiro, caçador, destruidor e implacável, mas que se torna tranquilo quando recebe sua oferenda preferida. Em África são muitos os nomes de Omolú, que variam conforme a região. Entre os Tapas era conhecido Xapanã (Sànpònná); entre os Fon era chamado de Sapata-Ainon,que significa ‘Dono da Terra’; já os Iorubás o chamam Obaluaiê e Omolú. Omolú nasceu com o corpo coberto de chagas e foi abandonado pela sua mãe, Nanã Buruku, na beira da praia. Nesse contratempo, um caranguejo provocou graves ferimentos na sua pele. Iemanjá encontrou aquela criança e criou-a com todo amor e carinho; com folhas de bananeira curou as suas feridas e pústulas e transformou-a num grande guerreiro e hábil caçador, que se cobria com palha-da- costa (ikó) não porque escondia as marcas de sua doença, como muitos pensam, mas porque se tornou um ser de brilho tão intenso quanto o próprio sol. Por essa passagem, o caranguejo e a banana-prata tornaram-se os maiores ewò de Obaluaiê. O capuz de palha-da-costa-aze (aze) cobre o rosto de Obaluaiê para que os seres humanos não o olhem de frente (já que olhar directamente para o próprio sol pode prejudicar a visão). A história de Omolú explica a origem dessa roupa enigmática, que possui um significado profundo relacionado à vida e à morte. O aze guarda mistérios terríveis para simples mortais, revela a existência de algo que deve ficar em segredo, revela a existência de interditos que inspiram cuidado medo, algo que só os iniciados no mistério podem saber. Desvendar o aze, a temível máscara de Omolú, seria o mesmo que desvendar os mistérios da morte, pois Omolú venceu a morte. Debaixo da palha-da-costa, Obaluaiê guarda os segredos da morte e do renascimento, que só podem ser compartilhados entre o iniciados. A relação de Omolú com a morte dá-se pelo facto de ele ser a terra, que proporciona os mecanismos indispensáveis para a manutenção da vida. O homem nasce, cresce, desenvolve-se, torna- se forte diante do mundo, mas continua frágil diante de Omolú, que pode devorá-lo a qualquer momento, pois Omolú é a terra, que vai consumir o corpo do homem por ocasião da sua morte. Obaluaiê andou por todos os cantos de África, muito antes, inclusive, de surgirem algumas civilizações. Do ponto de vista histórico, Omolú é a idade anterior à Idade dos Metais, peregrinou por todos os lugares do mundo, conheceu todas as dores do mundo, superou todas. Por isso Omolú se tornou médico, o médico dos pobres, pois, muito antes da ciência, salvava a vida dos necessitados;
  • 33. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 32 durante a escravidão, só não pôde superar a crueldade dos senhores, mas de doenças livrou muitos negros e até hoje muitos pobres só podem recorrer a Omolú que nunca lhes falta. Características dos filhos de Obaluaiê/Omolú Os filhos de Omolú são pessoas extremamente pessimistas e teimosas que adoram exibir os seus sofrimentos, daqueles que procuram o caminho mais longo e difícil para atingir algum fim. Deprimidos e depressivos, são capazes de desanimar o mais optimista dos seres; acham que nada pode dar certo, que nada está bom. Às vezes, são doces, mas geralmente possuem manias de velho, como a rabugice. Gostam da ordem, gostam que as coisas saiam da maneira que planearam. Não são do tipo que levam desaforo para casa e se se sentirem ofendidos respondem no acto, não importa a quem. Pensam que só eles sofrem, que ninguém os compreende. Não possuem grandes ambições. Podem apresentar doenças de pele, marcas no rosto, dores e outros problemas nas pernas. São pessoas sem muito brilho, sem muita beleza. São perversos e adoram irritar as pessoas; são lentos, exigentes e reclamam de tudo. São reprimidos, amargos e vingativos. É difícil relacionar-se com eles. Parece que os filhos de Omolú são pessoas que possuem muitos defeitos e poucas qualidades, mas eles têm várias, e uma qualidade pode compensar qualquer defeito: são extremamente prestáveis e trabalhadores. São amigos de verdade. O lado positivo da maioria dos filhos de Omolú supera em muito esse lado autodestrutivo que todos têm uns mais, outros menos, mais tem sim. São extremamente alegres, perseverantes, pacientes e amorosos, tiram a roupa do corpo para agradar uma pessoa, tratam o dinheiro pelo lado do prazer, da satisfação. Extremamente fiéis a uma causa. A justiça para os filhos de Omolú não é a dos homens e sim a de Deus (Olorun), super limpos e vaidosos, ao contrário de muitos arquétipos, são na maioria muito bonitos, se não fisicamente, são espiritualmente e ainda tem grande afinidade pela atração que exercem nas pessoas. Tem uma capacidade mental atualizada ao seu tempo, raramente adoecem e quando acontece se recuperam mais rápido ainda. As pessoas de Omolú têm a tendência da mudança propriamente dita, para qualquer coisa que desejarem, parecem dançar Opanijé o tempo todo, procurando por tudo. Trabalhadores incansáveis, filhos de Omolú numa roça fazem de um tudo, apenas não os magoem nem os tratem com indiferença, ciumentos são capazes de exageros, se sentem incompreendidos e, muitas vezes não sabemos o que lhes causam repentinas depressões.
  • 34. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 33 Filhos do Sol e da Terra de Orixá vivo, os filhos de Omolú são maravilhosamente despretensiosos. Um tanto radicais, podem mudar de opinião de uma hora para outra. Também, céticos em sua fé, intuitivos, andarilhos e aguçados.
  • 35. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 34 OXUMARÊ DIA: Terça-feira CORES: Amarelo e verde (ou preto) e todas as cores do arco-íris SÍMBOLOS: Ebiri, serpente, círculo, bradjá. ELEMENTOS: Céu e terra DOMÍNIOS: Riqueza, vida longa, ciclos, movimentos constantes. SAUDAÇÃO: A Run Boboi!!! Oxumaré (Òsùmàrè) é o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. Se um dia Oxumaré perder suas forças o mundo acabará, porque o universo é dinâmico e a Terra também se encontra em constante movimento. Imaginem só o planeta Terra sem os movimentos de translação e rotação; imaginem uma estação do ano permanente, uma noite permanente, um dia permanente. É preciso que a Terra não deixe de se movimentar, que após o dia venha a noite, que as estações do não se alterem, que o vapor das águas suba aos céus e caia novamente sobre a Terra em forma de chuva. Oxumaré não pode ser esquecido, pois o fim dos ciclos é o fim do mundo. Oxumaré mora no céu e vem à Terra visitar-nos através do arco-íris. Ele é uma grande cobra que envolve a Terra e o céu e assegura a unidade e a renovação do universo. Filho de Nanã Buruku, Oxumaré é originário de Mahi, no antigo Daomé, onde é conhecido como Dan. Na região de Ifé é chamado de Ajé Sàlugá, aquele que proporciona a riqueza aos homens. Teria sido um dos companheiros de Odudua por ocasião de sua chegada a Ifé.
  • 36. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 35 Dizem que Oxumaré seria homem e mulher, mas, na verdade, este é mais um ciclo que ele representa: o ciclo da vida, pois da junção entre masculino e feminino é que a vida se perpetua. Oxumaré é um Orixá masculino. Oxumaré é um deus ambíguo, duplo, que pertence à água e à terra, que é macho e fêmea. Ele exprime a união de opostos, que se atraem e proporcionam a manutenção do universo e da vida. Sintetiza a duplicidade de todo o ser: mortal (no corpo) e imortal (no espírito). Oxumaré mostra a necessidade do movimento da transformação. Omulú é o irmão mais velho de Oxumaré, mas foi abandonado por sua mãe por ter nascido com o corpo coberto de chagas. Em tempo, não se pode condenar Nanã por esse acto, já que era um costume, quase uma obrigação ritual da época, que se abandonassem as crianças nascidas com alguma deformidade. O deus do destino disse a Nanã que ela teria outro filho, belíssimo, tão bonito quanto o arco-íris, mas que jamais ficaria junto dela. Ele viveria no alto, percorreria o mundo sem parar. Nasceu Oxumaré. Oxumaré que fica no céu Controla a chuva que cai sobre a terra. Chega à floresta e respira como o vento. Pai venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida. Características dos filhos de Oxumaré São pessoas que tendem à renovação e à mudança. Periodicamente mudam tudo na sua vida (de maneira radical): mudam de casa, de amigos, de religião, de emprego; vivem rompendo com o passado e buscando novas alternativas para o futuro, para cumprir seu ciclo de vida: mutável, incerto, de substituições constantes. São magras. Como as cobras possuem olhos atentos, salientes, difíceis de encarar, mas ‘não enxergam’. São pessoas que se prendem a valores materiais e adoram ostentar suas riquezas; São orgulhosas, exibicionistas, mas também generosas e desprendidas quando se trata de ajudar alguém. Extremamente activas e ágeis, estão sempre em movimento e acção, não podem parar. São pessoas pacientes e obstinadas na luta pelos seus objectivos e não medem sacrifícios para alcançá-los. A dualidade do orixá também se manifesta nos seus filhos, principalmente no que se refere às guinadas que dão nas suas vidas, que chegam a ser de 180 graus, indo de um extremo a outro sem a menor dificuldade. Mudam de repente da água para o vinho, assim como Oxumaré, o Grande Deus do Movimento. Um lindo Itan sobre esse grande Orixá: “A grande Divindade do Arco-Íris era um reconhecido Babalawo (Pai do Segredo). Diante de sua sapiência, prestava serviços somente ao Rei da cidade de Ifé, que de certa maneira o explorava de
  • 37. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 36 forma contumaz. Para o Rei de Ifé, o fato de Òsùmàrè ser o seu Babalawo pessoal já era o grande pagamento pelos serviços que ele lhe prestara, afinal ele era o Rei e, muitos queriam estar no lugar de Òsùmàrè, razão pela qual dava pequenas esmolas ao sábio Babalawo, que em nada ajudavam em seu sustento. Assim, mesmo sendo o Babalawo do Rei, Òsùmàrè estava passando por grandes dificuldades e já não conseguia sustentar a sua família. Dessa forma, resolveu consultar Ifá (o oráculo sagrado) para outras pessoas e não somente para o Rei, assim ele conseguiria novamente poder oferecer uma vida melhor à sua esposa e filhos. Contudo, o Rei de Ifé não aprovou o que Òsùmàrè estava fazendo e, solicitou que fosse ao seu palácio. O Rei disse a Òsùmàrè que ele poderia estar feliz consultando Ifá para as outras pessoas, mas ele o Rei, estava insatisfeito e, por isso, não iria mais lhe “pagar” e não queria mais que ele fosse o seu Babalawo. Òsùmàrè ficou desesperado, pois ele sabia que bastava uma ordem do Rei e ninguém iria procurar pelos seus serviços. No mesmo dia a Divindade da Riqueza e Prosperidade Olokun Seniade, ordenou que todos os Babalawos da cidade fossem até o seu reino, para saber o que deveria fazer para ter filhos. Apesar da grande experiência dos Babalawos que lá estavam, nenhum conseguiu responder à Olokun Seniade aquilo que tanto lhe tirava o sono. No entanto, alguém lhe disse que Òsùmàrè, o Babalawo pessoal do Rei de Ifé não estava presente, recomendando-lhe que procurasse a ajuda dele por desencargo de consciência. Assim Olokun Seniade o fez, ordenou à um mensageiro que fosse buscar Òsùmàrè no palácio do Rei de Ifé. Chegando lá, o Rei afirmou que havia dispensado os serviços de Òsùmàrè, pois ele não lhe servia mais. O mensageiro de Olokun Seniade percorreu às ruas de Ifé, perguntando por Òsùmàrè, até que finalmente ele o encontrou, o levando até o palácio de Olokun. Chegando lá, Òsùmàrè consultou Ifá e disse para Olokun que teria filhos bonitos e fortes, mas que para isso, seria necessário realizar uma determinada oferenda. Como forma de gratidão e agradecimento, Olokun convidou Òsùmàrè para ser o Babalawo do seu palácio, que ele seria reconhecido e valorizado pelo seu grande conhecimento. Olokun presenteou Òsùmàrè com aquilo que tinha de mais precioso, as sementes do dinheiro (Owo Eyo – Búzios) e com um pano colorido. Olokun Seniade disse à Òsùmàrè que, sempre que ele usasse aquele pano, as suas cores refletiriam no céu, nascendo dessa forma, o Arco-Íris. Essa linda história ilustra algumas importantes lições, seja sobre nossas vidas, seja sobe as Divindades. Mostra que apesar das dificuldades que parecem insolúveis, sempre existe a possibilidade de uma reviravolta em nossas vidas. Mostra ainda a razão de o Arco-Íris representar o nosso Pai
  • 38. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 37 Òsùmàrè, bem como, a razão da utilização dos búzios por ele e seus filhos, um grande presente de Olokun.”
  • 39. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 38 EXÚ DIA: Segunda-feira. CORES: Preto (ou seja, a fusão das cores primárias) e vermelho. SÍMBOLOS: Ogó de forma fálica, falo erecto. ELEMENTOS: Terra e fogo. DOMÍNIOS Sexo, magia, união, poder e transformação. SAUDAÇÃO Laroié! Exu (Èsù) é a figura mais controversa do panteão africano, o mais humano dos orixás, senhor do princípio e da transformação. Deus da terra e do universo; na verdade, Exu é a ordem, aquele que se multiplica e se transforma na unidade elementar da existência humana. Exu é o ego de cada ser, o grande companheiro do homem no seu dia-a-dia. Muitas são as confusões e equívocos relacionados com Exu, o pior deles associa-o à figura do diabo cristão; pintam-no como um deus voltado para a maldade, para a perversidade, que se ocuparia em semear a discórdia entre os seres humanos. Na realidade, Exu contém em si todas as contradições e conflitos inerentes ao ser humano. Exu não é totalmente bom nem totalmente mau, assim como o homem: um ser capaz de amar e odiar, unir e separar, promover a paz e a guerra. O maniqueísmo, próprio das grandes religiões monoteístas, não se aplica ao Candomblé, muito menos a Exu. A cultura africana desconhece oposições, em especial a oposição entre bem e mal; sabe- se aqui que o bem de um pode perfeitamente ser o mal de outro, portanto, cada um deve dar o melhor
  • 40. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 39 de si para obter tudo de bom na sua vida, sempre cultuando, agradando e agradecendo a Exu, para que ele seja, no seu quotidiano, a manifestação do amor, da sorte, da riqueza e da prosperidade. Exu é o orixá que entende como ninguém o princípio da reciprocidade, e, se agradado como se deve, saberá retribuir; quando agradecido pela sua retribuição, torna-se amigo e fiel escudeiro. No entanto, quando esquecido é o pior dos inimigos e volta-se contra o negligente, tirando-lhe a sorte, fechando-lhe os caminhos e trazendo catástrofes e dissabores. Exu é a figura mais importante da cultura iorubá. Sem ele o mundo não faria sentido, pois só através de Exu é que se chega aos demais orixás e ao Deus Supremo Olodumaré. Exu fala toda as línguas e permite a comunicação entre o orum e o aiê, entre os orixás e os homens. Exu é o dono do mercado, o seu guardião, por isso todo o comerciante e aqueles que lidam com venda devem agradar a Exu. As vendedoras de acarajé, por exemplo, oferecem sempre o primeiro bolinho a Exu, atirando-o à rua, não só para vender bem, mas também par afastar as perturbações, evitar assaltos etc., ou seja, para que Exu seja de facto um guardião e proteja o seu negócio. É importante ressaltar que Exu não tem amigos nem inimigos. Exu protege sempre aqueles que o agradam e sabem retribuir os seus favores. Exu foi a primeira forma dotada de existência individual. Não se sabe ao certo a sua região de origem em África, pois em todos os reinos se presta culto a Exu. Sabe-se, no entanto, que chegou a ser rei de Kêtu. Exu renasceu várias vezes e a sua história revela que é filho de Orunmilá ou de Oxum, dependendo do momento em que renasce. Características dos filhos de Exu Os filhos de Exu são alegres, sorridentes, estão sempre de bem com a vida, são ambiciosos, extrovertidos, espertos, inteligentes, atentos. Sabem como ninguém ser sociáveis e diplomáticos, pois conhecem o valor de uma boa amizade, fazem questão de manter o maior número possível de amigos. Rapidamente, os filhos de Exu se tornam pessoas populares, amadas por uns, odiadas por outros. Extremamente dinâmicos, os filhos deste orixá não se desanimam nunca, mantêm sempre a certeza de que as coisas, mais cedo ou mais tarde, acabam por mudar a seu favor. Pessoas com impressionante facilidade de comunicação, boa lábia, com charme conseguem tudo o que querem. Irónicas e perigosas, costumam manter uma vida sexual bastante agitada, sem pudores. São pessoas extremamente rápidas, que não pensam: fazem. Os filhos de Exu possuem uma facilidade impressionante para entrar e sair de confusões, são do tipo que arma a bagunça, sai ileso e ainda se diverte com as consequências. Esquecem facilmente as ofensas, não guardam rancor, mas não perdem a oportunidade de se vingar. Gostam da rua, das festas e das conversas intermináveis, comportamento próprio de um orixá que é só alegria.
  • 41. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 40 OGUN DIA: Terça-Feira CORES: Verde ou Azul-escuro, Vermelho (algumas qualidades) SÍMBOLOS: Bigorna, Faca, Pá, Enxada e outras ferramentas ELEMENTOS: Terra (florestas e estradas) e Fogo DOMÍNIOS: Guerra, Progresso, Conquista e Metalurgia SAUDAÇÃO: Ògún ieé!! Ogum (Ògún) é o temível guerreiro, violento e implacável, deus do ferro, da metalurgia e da tecnologia; protector do ferreiros, agricultores, caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros, talhantes, metalúrgicos, marceneiros, maquinistas, mecânicos, motoristas e de todos os profissionais que de alguma forma lidam com o ferro ou metais afins. Orixá conquistador, Ogum fez-se respeitar em toda a África negra pelo seu carácter devastador. Foram muitos os reinos que se curvaram diante do poder militar de Ogum. Entre os muitos Estados conquistados por Ogun estava a cidade de Iré, da qual se tornou senhor após libertar a cidade da tirania do rei e substituí-lo pelo seu, próprio filho, regressando glorioso com o título de Oníìré, ou seja, Rei de Iré. Não é por acaso, portanto, que nas orações dedicadas a Ogun o medo fica tão evidente e a piedade é um pedido constante, pois como diz uma das suas cantigas: Ògún pá lélé pá Ògún pá ojaré
  • 42. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 41 Ògún pá, lélé pá Ògún pá ojaré. Ogum mata/extingui com violência Ogum mata/extingui com razão Ogum mata/extingui e destrói completamente. Ogum é o filho mais velho de Odudua, o herói civilizador que fundou a cidade de Ifé. Quando Odudua esteve temporariamente cego, Ogum tornou-se seu regente em Ifé. Ogum é um orixá importantíssimo em África e no Brasil. A sua origem, de acordo com a história, data de eras remotas. Ogum é o último imolé. Os Igba Imolé eram os duzentos deuses da direita que foram destruídos por Olodumaré após terem agido mal. A Ogum, o único Igba Imolé que restou, coube conduzir os Irun Imole, os outros quatrocentos deuses da esquerda. Foi Ogum quem ensinou aos homens como forjar o ferro e o aço. Ele tem um molho de sete instrumentos de ferro: alavanca, machado, pá, enxada, picareta, espada e faca, com as quais ajuda o homem a vencer a natureza. Em todos os cantos da África negra Ogum é conhecido, pois soube conquistar cada espaço daquele continente com a sua bravura. Matou muita gente, mas matou a fome de muita gente, por isso antes de ser temido Ogum é amado. Espada! Eis o braço de Ogum. Características dos filhos de Ogum Fisicamente, os filhos de Ogum são magros, mas com músculos e formas bem definidas. Compartilham com Exu o gosto pelas festas e conversas que não acabam e gostam de brigas. Se não fizerem a sua própria briga, compram a dos seus camaradas. Sexualmente os filhos de Ogum são muito potentes; trocam constantemente de parceiros, pois possuem dificuldade de se fixar a uma pessoa ou lugar. São do tipo que dispensa um confortável colchão de molas para dormir no chão; gostam de pisar a terra com os pés descalços. São pessoas batalhadoras, que não medem esforços para atingir os seus objectivos, são pessoas que mesmo contrariando a lógica lutam insistentemente e vencem. Não se prendem à riqueza, ganham hoje, gastam amanhã. Gostam mesmo é do poder, gostam de comandar, são líderes natos. Essa necessidade de estar sempre à frente pode torná-los pessoas egoístas e desagradáveis, mas nem sempre. Geralmente, os filhos de Ogum são pessoas alegres, que falam e riem alto para que todos se divirtam com suas histórias e que adoram compartilhar a sua felicidade.
  • 43. Coletânea de Umbanda e Espiritualidade – Organizada por Lucas Liberato – lourencolll@gmail.com Material sem fins lucrativos – Venda proibida 42 OXÓSSI DIA: Quinta-feira COR: Azul-Turquesa SÍMBOLOS: Ofá (arco), Damatá (flecha), Erukeré ELEMNTO: Terra (florestas e campos cultiváveis) DOMÍNIOS: Caça, Agricultura, Alimentação e Fartura SAUDAÇÃO: Òké Aro!!! Arolé! Oxóssi (Òsóòsi) é o deus caçador, senhor da floresta e de todos os seres que nela habitam, orixá da fartura e da riqueza. Actualmente, o culto a Oxóssi está praticamente esquecido em África, mas é bastante difundido no Brasil, em cuba e em outras partes da América onde a cultura iorubá prevaleceu. Isso deve-se ao facto de a cidade de Kêtu, da qual era rei, ter sido destruída quase por completo em meados do século XVIII, e os seus habitantes, muitos consagrados a Oxossi, terem sido vendidos como escravos no Brasil e nas Antilhas. Esse facto possibilitou o renascimento de Kêtu, não como estado, mas como importante nação religiosa do Candomblé. Oxóssi é o rei de Kêtu, segundo dizem, a origem da dinastia. A Oxóssi são conferidos os títulos de Alakétu, Rei, Senhor de Kêtu, e Oníìlé, o dono da Terra, pois em África cabia ao caçador descobrir o local ideal para instalar uma aldeia, tornando-se assim o primeiro ocupante do lugar, com autoridade sobre os futuros habitantes. É chamado de Olúaiyé ou Oni Aráaiyé, senhor da humanidade, que garante a fartura para os seus descendentes. Na história da humanidade, Oxóssi cumpre um papel civilizador importante, pois na condição de caçador