1. Quando estudante na an ga FUnBa, hoje
Urcamp, no início dos anos 80, comecei a
militar no movimento estudan l. Nossas
principais bandeiras de luta à época eram por uma
universidade pública, gratuita e de qualidade, pela eleição
diretaparapresidentedaRepúblicaeparaPrefeito.
Na FUnBa con nuávamos o movimento de
resistência à universidade par cular, brigando pela redução
das mensalidades e por outras
reivindicações. O nosso grupo polí co
decidiu que deveríamos apresentar
candidato à Câmara de Vereadores na
eleição de 1982 e eu fui o escolhido para
representar a nossa luta. Eleito vereador,
denunciei da tribuna as cobranças
irregulares de mensalidades e acabei
sendo expulso da Faculdade de Direito, à
qual voltei em 2003, sob anis a do
professor Morvan Ferrugem, para concluí-
la.
Faço estas considerações iniciais
para recordar de um dos maiores movimentos polí cos já
realizados no Estado. A mobilização que lideramos na
Metade Sul, especialmente na Campanha e na Fronteira
Oeste, resultou na conquista da Universidade Federal do
Pampa, a nossa Unipampa, vitória consolidada no dia 25 de
julho de 2005, quando, na Praça Silveira Mar ns, no centro
de Bagé, o presidente Lula anunciava a criação da
UniversidadedoPampa.
O tempo faz com que, ao amadurecermos, fiquemos
mais compreensivos, menos beligerantes. Foi assim que, ao
chegar à Prefeitura, intensifiquei relações com a Urcamp,
ins tuição com a qual já vinha colaborado durante os seis
anos em que atuei como deputado federal de 1995 a 2000.
Como prefeito, firmei convênios e cooperações,
estabelecemos parcerias, o que foi bom para a comunidade,
para a Prefeitura e para a própria Urcamp. Um deles, foi o
Programa de Ensino Superior Comunitário (Proesc) do qual
tenhomuitoorgulho.
Em 2005 fui procurado pelo reitor Arno Cunha, que
estava acompanhado de um grupo de dirigentes da Urcamp.
Vieram relatar a grave situação da ins tuição e pediam nossa
ajuda. Uma das alterna vas ven ladas era a possibilidade de
se obter um emprés mo junto ao BNDES para o pagamento
das dívidas. Buscamos a parceria do deputado Paulo
Pimenta. Uma semana depois estávamos reunidos,
discu ndo de que forma encaminharíamos o tema ao
governo federal. Poderíamos levar ao então ministro-chefe
da Casa Civil, José Dirceu, ou ao ministro da Educação, Tarso
Genro. Optamos pela segunda alterna va e logo o Pimenta
marcouaudiênciacomoentãoministroehojegovernadorde
nossoEstado.
Apresentamos a situação e ele nos sugeriu iniciar um
movimento que buscasse a federalização da Urcamp. Nossa
missão seria demonstrar ao Governo Federal que aquele não
era apenas um desejo da Urcamp ou do município de Bagé,
mas sim de toda a região. Poderíamos fazer isso mobilizando
apenas as lideranças ou, então, promover um grande
movimento popular. Foi o que fizemos. Formamos uma
coordenação, integrada por mim, pelo Paulo Pimenta e pelo
Arno Cunha, e fomos às ruas de 23 municípios da Campanha
e da Fronteira Oeste. Reunimos em praça pública, nestes
municípios, públicos que variaram de 500 a oito mil pessoas,
comoocorreuemAlegrete.
Tempodi cil
O assunto foi levado ao presidente Lula pelo ministro
da Educação, com a explicação sobre a importância de uma
universidade em nossa região, uma das mais deprimidas
econômica e socialmente. Tarso obteve o sinal verde do
presidente, que também recomendou a realização de estudo
sobre a viabilidade de criar novas universidades no
Recôncavo Baiano e no ABC Paulista. Recebi a informação do
ministro quando
estava a caminho
do Alegrete. Era
p r e c i s o e s t a r
preparado para um
PlanoB.
E r a u m
tempo di cil para o
governo federal,
especialmente para
o presidente Lula e
para o PT. Época
que começaram a
pipocarasdenúnciassobreomensalão.Opresidentenãoiaa
umatopúblicohá35dias.Depoisdemuitasnegociaçõescom
a assessoria presidencial conseguimos convencer o Palácio
doPlanaltoqueBagéearegiãoqueriamapenastestemunhar
o anúncio histórico e levar ao presidente Lula o seu
reconhecimento pelo atendimento de uma an ga
reivindicação,relacionadacomodesenvolvimentodaregião.
Fizemos de tudo para não transformar o ato num
movimento de par dos. Orientamos nossas militâncias a não
levar bandeiras par dárias para a praça. Compramos dez mil
bandeiras plás cas do Brasil. Distribuímos entre os
populares. Mas, no caminho do Aeroporto até a praça, o
povo saiu às ruas para saudar Lula. Nossos militantes
empunhavamsuasbandeirasvermelhas.Seguiamacaravana
em carreata. O coronel Geraldo Magela, que trabalhava há
mais de 20 anos no cerimonial do Palácio do Planalto e que
fez a precursoria em Bagé, confessou que só havia
presenciado momento de tão grande emoção popular na
época de FHC, quando do enterro de Luís Eduardo
Magalhães,naBahia.
Além de confirmar a criação da Universidade no
Pampa, Lula anunciou que Tarso estava saindo do ministério
da Educação para uma “uma outra missão” – presidir o PT no
País naquele momento – devendo ser subs tuído por
FernandoHadad,hojeprefeitodeSãoPaulo.
Quando finalizava o projeto a ser encaminhado ao
Congresso, propondo a criação da universidade, o então
secretário Execu vo do MEC e hoje prefeito de Canoas, Jairo
Jorge, me ligou. Queria sugestão de nomes para a nossa
universidade. Propus Universidade Federal do Pampa –
Unipampa, que surgiu no caminho do Alegrete, quando,
seguindo o rumo “do meu coração”, olhando a beleza e a
vas dãodopampagaúcho,meocorreuestaideia.
Naquele 25 de julho de 2005, em Bagé, diante de um
público de 35 mil pessoas, tomado pela emoção, fiz o
discurso mais importante de toda a minha vida. Lembrei de
nossas bandeiras de 25 anos antes. Eu era o prefeito eleito,
Lula, o presidente e, juntos, anunciamos a criação de uma
universidadepúblicaegratuitaparanossaregião.
Mais um sonho que sonhamos juntos e
transformamosemrealidade.
Sonho que Conquistamos
*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé,
em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.