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SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES                                  preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com
                                                                      os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade
      Disciplina: Filosofia – Prof. Wagno O. de Souza
                                                                      da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito
                                                                      por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas últimas palavras
      Sócrates                                                        dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido tranqüilamente a
                                                                      cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio". É que o deus da
      A Vida                                                          medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte.
        Nasceu Sócrates em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho de       Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade.
Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira. Aprendeu a arte               Método de Sócrates
paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino
filosófico. Desempenhou alguns cargos políticos, formou a sua                É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e
instrução sobretudo através da reflexão pessoal, na moldura da alta   na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas
cultura ateniense da época, em contato com o que de mais ilustre      pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os
houve na cidade de Péricles.                                          sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates
                                                                      restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto
        Entretanto, a liberdade de seus discursos, a sua atitude      da ciência.
crítica, irônica e a conseqüente educação por ele ministrada,
criaram descontentamento geral, inimizades pessoais, apesar de               O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo
sua probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos          que passa; é o inteligível, o conceito que se exprime pela definição.
elementos racionários, aparecia Sócrates como chefe de uma            Este conceito ou idéia geral obtém-se por um processo dialético por
aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo hostil a Sócrates      ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos
concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação movida contra       da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as
ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a mocidade e negar os     qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável,
deuses da pátria introduzindo outros. Sócrates desdenhou              permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a
defender-se diante dos juizes e da justiça humana, humilhando-se e    indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno
desculpando-se mais ou menos. Tinha ele diante dos olhos da alma      processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de
não uma solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno    generalização, que remonta do indivíduo à noção universal.
da razão, para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado                 Praticamente, na exposição polêmica e didática destas
culpado por uma pequena minoria, assentou-se com indômita             idéias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma
fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena          dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou
capital com o voto da maioria.                                        de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente
      Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere -           a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até
pois uma lei vedava as execuções capitais durante a viagem votiva     colher o adversário presunçoso em evidente contradição e
de um navio a Delos - o discípulo Criton preparou e propôs a fuga     constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia
ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer            socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era
absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo         muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as
                                                                      perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos
casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do   de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural
objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da          complemento da ética.
profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa
                                                                             Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e
obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias.      imortalidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento,
      Doutrinas Filosóficas                                           sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identificando a
                                                                      vontade com a inteligência.
      A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E
exprime-se no famoso lema conhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te            Em teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o
consciente de tua ignorância - como sendo o ápice da sabedoria,       argumento teológico, formulando claramente o princípio: tudo o que
que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em          é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência; b) com o
Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se     argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o homem é
personificava na voz interior divina do gênio ou demônio.             inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c)
                                                                      com o argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao
        Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As
                                                                      homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só
notícias que temos de sua vida e de seu pensamento, devemo-las
                                                                      existe, mas é também Providência, governa o mundo com
especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte e Platão , de
feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de Anábase, em   sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações.
seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência o aspecto prático     Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos
                                                                      pontos os preconceitos da mitologia corrente que ele aspira
e moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de estilo simples e
                                                                      reformar.
harmonioso, mas sem profundidade, não obstante a sua devoção
para com o mestre e a exatidão das notícias, não entendeu o                   Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina
pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais um homem de ação        a bem pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade
do que um pensador. Platão, pelo contrário, foi filósofo grande       ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da
demais para nos dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem      virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela se
sempre é fácil discernir o fundo socrático das especulações           identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral
acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória e o           socrática, é conseqüência natural do erro psicológico de não
privilégio de ter sido o grande historiador do pensamento de          distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza moral e
Sócrates, bem como o seu biógrafo genial. Com efeito, pode-se         penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são
dizer que Sócrates é o protagonista de todas as obras platônicas      sinônimos. "Se músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe
embora Platão conhecesse Sócrates já com mais de sessenta anos        edificar, justo será o que sabe a justiça".
de idade.                                                                    Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e
       "Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Sócrates cifra toda    escritas, a existência de uma lei natural - independente do arbítrio
a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem é o             humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo,
objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro para o     expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da
qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe   consciência.


                                                                                                                                             2
Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em        uma doutrina ao discente, mas o mestre deve tirá-la da mente do
prática, sugere quase sempre a utilidade como motivo e estímulo         discípulo, pela razão imanente e constitutiva do espírito humano, a
da virtude. Esta feição utilitarista empana-lhe a beleza moral do       qual é um valor universal. É a famosa maiêutica de Sócrates, que
sistema.                                                                declara auxiliar os partos do espírito, como sua mãe auxiliava os
                                                                        partos do corpo.
      Gnosiologia
                                                                               Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência - que
        O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo
                                                                        não é absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da
humano, espiritual, com finalidades práticas, morais. Como os
                                                                        própria razão - patenteiam-se no famoso dito socrático "conhece-te
sofistas, ele é cético a respeito da cosmologia e, em geral, a
                                                                        a ti mesmo" que, no pensamento de Sócrates, significa
respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo de fato,
                                                                        precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar
não de direito, dada a sua revalidação da ciência. A única ciência
                                                                        racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência de si mesmo
possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores
                                                                        quer dizer, antes de tudo, consciência da própria ignorância inicial
universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem
                                                                        e, portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da ciência.
como o conhecer humano - se baseia em normas objetivas e
                                                                        Esta ignorância não é, por conseguinte, ceticismo sistemático, mas
transcendentes à experiência. O fim da filosofia é a moral; no
                                                                        apenas metódico, um poderoso impulso para o saber, embora o
entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para
                                                                        pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo filosófico por
construir uma ética é necessário uma teoria; no dizer de Sócrates, a
                                                                        falta de uma metafísica, pois, Sócrates achou apenas a forma
gnosiologia deve preceder logicamente a moral. Mas, se o fim da
                                                                        conceptual da ciência, não o seu conteúdo.
filosofia é prático, o prático depende, por sua vez, totalmente, do
teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece:               O procedimento lógico para realizar o conhecimento
virtuoso é o sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é       verdadeiro, científico, conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é,
equilibrado pelo mais radical intelectualismo, racionalismo, que está   remontar do particular ao universal, da opinião à ciência, da
contra todo voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo.       experiência ao conceito. Este conceito é, depois, determinado
                                                                        precisamente mediante a definição, representando o ideal e a
        A filosofia socrática, portanto, limita-se à gnosiologia e à
ética, sem metafísica. A gnosiologia de Sócrates, que se                conclusão do processo gnosiológico socrático, e nos dá a essência
                                                                        da realidade.
concretizava no seu ensinamento dialógico, donde é preciso extraí-
la,    pode-se     esquematicamente       resumir    nestes   pontos          A Moral
fundamentais: ironia, maiêutica, introspecção, ignorância, indução,
                                                                                Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a
definição. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos
                                                                        doutrina do conceito, assim é o fundador, em particular da ciência
conhecimentos errados, dos preconceitos, opiniões; este é o             moral, mediante a doutrina de que eticidade significa racionalidade,
momento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de par com os          ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento,
sofistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a                rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto tem
independência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre    que ser criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até
e da convicção racional. A seguir será possível realizar o              à animalidade - como ensinavam os sofistas. É sabido que
conhecimento verdadeiro, a ciência, mediante a razão. Isto quer         Sócrates levava a importância da razão para a ação moral até
dizer que a instrução não deve consistir na imposição extrínseca de
                                                                                                                                             3
àquele intelectualismo que, identificando conhecimento e virtude -      veneranda antigüidade e estabilidade política; a Itália meridional,
bem como ignorância e vício - tornava impossível o livre arbítrio.      onde teve ocasião de travar relações com os pitagóricos (tal contato
Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma                  será fecundo para o desenvolvimento do seu pensamento); a
especificação lógica, precisa - afora a teoria geral de que a ciência   Sicília, onde conheceu Dionísio o Antigo, tirano de Siracusa e
está nos conceitos - assim a ética socrática carece de um conteúdo      travou amizade profunda com Dion, cunhado daquele. Caído,
racional, pela ausência de uma metafísica. Se o fim do homem for o      porém, na desgraça do tirano pela sua fraqueza, foi vendido como
bem - realizando-se o bem mediante a virtude, e a virtude mediante      escravo. Libertado graças a um amigo, voltou a Atenas.
o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem,                Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundava a sua célebre
esta felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica.          escola, que, dos jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome
Traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão e         famoso de Academia. Adquiriu, perto de Colona, povoado da Ática,
acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos, partindo dos
                                                                        uma herdade, onde levantou um templo às Musas, que se tornou
pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia acabada,         propriedade coletiva da escola e foi por ela conservada durante
uma grande metafísica e, logo, uma moral.                               quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano (529 d.C.).
                                                                              Platão, ao contrário de Sócrates, interessou-se vivamente
      Platão                                                            pela política e pela filosofia política. Foi assim que o filósofo, após a
                                                                        morte de Dionísio o Antigo, voltou duas vezes - em 366 e em 361 -
      A Vida e as Obras                                                 à Dion, esperando poder experimentar o seu ideal político e realizar
        Diversamente de Sócrates , que era filho do povo, Platão        a sua política utopista. Estas duas viagens políticas a Siracusa,
nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e          porém, não tiveram melhor êxito do que a precedente: a primeira
abastados, de antiga e nobre prosápia. Temperamento artístico e         viagem terminou com desterro de Dion; na segunda, Platão foi
dialético - manifestação característica e suma do gênio grego - deu,    preso por Dionísio, e foi libertado por Arquitas e pelos seus amigos,
na mocidade, livre curso ao seu talento poético, que o acompanhou       estando, então, Arquistas no governo do poderoso estado de
durante a vida toda, manifestando-se na expressão estética de           Tarento.
seus escritos; entretanto isto prejudicou sem dúvida a precisão e a            Voltando para Atenas, Platão dedicou-se inteiramente à
ordem do seu pensamento, tanto assim que várias partes de suas          especulação metafísica, ao ensino filosófico e à redação de suas
obras não têm verdadeira importância e valor filosófico.                obras, atividade que não foi interrompida a não ser pela morte. Esta
       Aos vinte anos, Platão travou relação com Sócrates - mais        veio operar aquela libertação definitiva do cárcere do corpo, da qual
velho do que ele quarenta anos - e gozou por oito anos do               a filosofia - como lemos no Fédon - não é senão uma assídua
ensinamento e da amizade do mestre. Quando discípulo de                 preparação e realização no tempo. Morreu o grande Platão em 348
Sócrates e ainda depois, Platão estudou também os maiores pré-          ou 347 a.C., com oitenta anos de idade.
socráticos. Depois da morte do mestre, Platão retirou-se com outros           Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as
socráticos para junto de Euclides, em Mégara.                           obras completas. Dos 35 diálogos, porém, que correm sob o seu
     Daí deu início a suas viagens, e fez um vasto giro pelo            nome, muitos são apócrifos, outros de autenticidade duvidosa.
mundo para se instruir (390-388). Visitou o Egito, de que admirou a
                                                                                                                                               4
A forma dos escritos platônicos é o diálogo, transição            conhecimento intelectual, conceptual, universal e imutável. A
espontânea entre o ensinamento oral e fragmentário de Sócrates e         gnosiologia platônica, porém, tem o caráter científico, filosófico, que
o método estritamente didático de Aristóteles. No fundador da            falta a gnosiologia socrática, ainda que as conclusões sejam, mais
Academia, o mito e a poesia confundem-se muitas vezes com os             ou menos, idênticas. O conhecimento sensível deve ser superado
elementos puramente racionais do sistema. Faltam-lhe ainda o             por um outro conhecimento, o conhecimento conceptual, porquanto
rigor, a precisão, o método, a terminologia científica que tanto         no conhecimento humano, como efetivamente, apresentam-se
caracterizam os escritos do sábio estagirita.                            elementos que não se podem explicar mediante a sensação. O
                                                                         conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, não pode
       A atividade literária de Platão abrange mais de cinqüenta
                                                                         explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua característica
anos da sua vida: desde a morte de Sócrates , até a sua morte. A
                                                                         a universalidade, a imutabilidade, o absoluto (do conceito); e ainda
parte mais importante da atividade literária de Platão é
representada pelos diálogos - em três grupos principais, segundo         menos pode o conhecimento sensível explicar o dever ser, os
                                                                         valores de beleza, verdade e bondade, que estão efetivamente
certa ordem cronológica, lógica e formal, que representa a evolução
                                                                         presentes no espírito humano, e se distinguem diametralmente de
do pensamento platônico, do socratismo ao aristotelismo .
                                                                         seus opostos, fealdade, erro e mal-posição e distinção que o
      O Pensamento: A Gnosiologia                                        sentido não pode operar por si mesmo.
       Como já em Sócrates, assim em Platão a filosofia tem um fim              Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica
prático, moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida.       nitidamente dividido em dois graus: o conhecimento sensível,
Este fim prático realiza-se, no entanto, intelectualmente, através da    particular, mutável e relativo, e o conhecimento intelectual,
especulação, do conhecimento da ciência. Mas - diversamente de           universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento,
Sócrates, que limitava a pesquisa filosófica, conceptual, ao campo       mas que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre o
antropológico e moral - Platão estende tal indagação ao campo            conhecimento sensível, a opinião verdadeira e o conhecimento
metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade.                    intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento sensível,
        Este caráter íntimo, humano, religioso da filosofia, em Platão   embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar
é tornado especialmente vivo, angustioso, pela viva sensibilidade        indiferentemente o conhecimento diverso, cair no erro sem o saber;
do filósofo em face do universal vir-a-ser, nascer e perecer de todas    ao passo que o segundo, além de ser um conhecimento verdadeiro,
as coisas; em face do mal, da desordem que se manifesta em               sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um
especial no homem, onde o corpo é inimigo do espírito, o sentido se      conhecimento diverso, errôneo. Poder-se-ia também dizer que o
opõe ao intelecto, a paixão contrasta com a razão. Assim,                primeiro sabe que as coisas estão assim, sem saber porque o
considera Platão o espírito humano peregrino neste mundo e               estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar
prisioneiro na caverna do corpo. Deve, pois, transpor este mundo e       necessariamente assim como estão, precisamente porque é
libertar-se do corpo para realizar o seu fim, isto é, chegar à           ciência, isto é, conhecimento das coisas pelas causas.
contemplação do inteligível, para o qual é atraído por um amor                  Sócrates estava convencido, como também Platão, de que o
nostálgico, pelo eros platônico.                                         saber intelectual transcende, no seu valor, o saber sensível, mas
      Platão como Sócrates, parte do conhecimento empírico,              julgava, todavia, poder construir indutivamente o conceito da
sensível, da opinião do vulgo e dos sofistas, para chegar ao             sensação, da opinião; Platão, ao contrário, não admite que da
                                                                                                                                              5
sensação - particular, mutável, relativa - se possa de algum modo     conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades
tirar o conceito universal, imutável, absoluto. E, desenvolvendo,     chamam-se Idéias. As idéias não são, pois, no sentido platônico,
exagerando, exasperando a doutrina da maiêutica socrática, diz        representações intelectuais, formas abstratas do pensamento, são
que os conceitos são a priori, inatos no espírito humano, donde têm   realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as
de ser oportunamente tirados, e sustenta que as sensações             coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de
correspondentes aos conceitos não lhes constituem a origem, e sim     homem é o homem abstrato perfeito e universal de que os
a ocasião para fazê-los reviver, relembrar conforme a lei da          indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.
associação.                                                                   Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos
        Aqui devemos lembrar que Platão, diversamente de              inteligíveis, situado na esfera celeste. A certeza da sua existência
Sócrates, dá ao conhecimento racional, conceptual, científico, uma    funda-a Platão na necessidade de salvar o valor objetivo dos
base real, um objeto próprio: as idéias eternas e universais, que     nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do
são os conceitos, ou alguns conceitos da mente, personalizados.       ente de Parmênides , sem, com ele, negar a existência do fieri. Tal
Do mesmo modo, dá ao conhecimento empírico, sensível, à opinião       a célebre teoria das idéias, alma de toda filosofia platônica, centro
verdadeira, uma base e um fundamento reais, um objeto próprio: as     em torno do qual gravita todo o seu sistema.
coisas particulares e mutáveis, como as concebiam Heráclito e os            A Metafísica
sofistas . Deste mundo material e contigente, portanto, não há
ciência, devido à sua natureza inferior, mas apenas é possível, no          As Idéias
máximo, um conhecimento sensível verdadeiro - opinião verdadeira             O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no
- que é precisamente o conhecimento adequado à sua natureza           mundo divino das idéias; e estas contrapõe-se a matéria obscura e
inferior. Pode haver conhecimento apenas do mundo imaterial e         incriada. Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo e as almas,
racional das idéias pela sua natureza superior. Este mundo ideal,     através de que desce das idéias à matéria aquilo de racionalidade
racional - no dizer de Platão - transcende inteiramente o mundo       que nesta matéria aparece.
empírico, material, em que vivemos.
                                                                             O divino platônico é representado pelo mundo das idéias e
      Teoria das Idéias                                               especialmente pela idéia do Bem, que está no vértice. A existência
       Sócrates mostrara no conceito o verdadeiro objeto da           desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer
ciência. Platão aprofunda-lhe a teoria e procura determinar a         uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento
relação entre o conceito e a realidade fazendo deste problema o       conceptual. Esse conhecimento, aliás, se impõe ao lado e acima do
ponto de partida da sua filosofia.                                    conhecimento sensível, para poder explicar verdadeiramente o
                                                                      conhecimento humano na sua efetiva realidade. E, em geral, o
      A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve                mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os valores, o
corresponder a realidade. Ora, de um lado, os nossos conceitos        dever ser, de que este nosso mundo imperfeito participa e a que
são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates), do       aspira.
outro, tudo no mundo é individual, contigente e transitório
(Heráclito). Deve, logo, existir, além do fenomenal, um outro mundo        Visto serem as idéias conceitos personalizados, transferidos
de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos atributos dos         da ordem lógica à ontológica, terão consequentemente as

                                                                                                                                         6
características dos próprios conceitos: transcenderão a experiência,    ser da experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável,
serão universais, imutáveis. Além disso, as idéias terão aquela         irracional, passiva, espacial - depende, ao contrário, tudo que há de
mesma ordem lógica dos conceitos, que se obtém mediante a               negativo na experiência.
divisão e a classificação, isto é, são ordenadas em sistema                   Consoante a astronomia platônica, o mundo, o universo
hierárquico, estando no vértice a idéia do Bem, que é papel da          sensível, são esféricos. A terra está no centro, em forma de esfera
dialética (lógica real, ontológica) esclarecer. Como a multiplicidade   e, ao redor, os astros, as estrelas e os planetas, cravados em
dos indivíduos é unificada nas idéias respectivas, assim a              esferas ou anéis rodantes, transparentes, explicando-se deste
multiplicidade das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia    modo o movimento circular deles.
do Bem, no sistema platônico, é a realidade suprema, donde
dependem todas as demais idéias, e todos os valores (éticos,                  No seu conjunto, o mundo físico percorre uma grande
lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser       evolução, um ciclo de dez mil anos, não no sentido do progresso,
sem o qual não se explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar    mas no da decadência, terminados os quais, chegado o grande ano
o verdadeiro Deus platônico. No entanto, para ser verdadeiramente       do mundo, tudo recomeça de novo. É a clássica concepção grega
tal, falta-lhe a personalidade e a atividade criadora. Desta            do eterno retorno, conexa ao clássico dualismo grego, que domina
personalidade e atividade criadora - ou, melhor, ordenadora - é,        também a grande concepção platônica.
pelo contrário, dotado o Demiurgo o qual, embora superior à
matéria, é inferior às idéias, de cujo modelo se serve para ordenar a
matéria e transformar o caos em cosmos.
                                                                              Aristóteles
      O Mundo                                                                 A Vida e as Obras
       O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de             Este grande filósofo grego, filho de Nicômaco, médico de
dois princípios opostos, as idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o     Amintas, rei da Macedônia, nasceu em Estagira, colônia grega da
caos da matéria no modelo das idéias eternas, introduzindo no caos      Trácia, no litoral setentrional do mar Egeu, em 384 a.C. Aos dezoito
a alma, princípio de movimento e de ordem. O mundo, pois, está          anos, em 367, foi para Atenas e ingressou na academia platônica,
entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado, como   onde ficou por vinte anos, até à morte do Mestre. Nesse período
o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-            estudou também os filósofos pré-platônicos, que lhe foram úteis na
saber, e é a opinião verdadeira. Conforme a cosmologia                  construção do seu grande sistema.
pampsiquista platônica, haveria, antes de tudo, uma alma do                    Em 343 foi convidado pelo Rei Filipe para a corte de
mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a            Macedônia, como preceptor do Príncipe Alexandre, então jovem de
saber, as almas dos astros, dos homens, etc.                            treze anos. Aí ficou três anos, até à famosa expedição asiática,
       O dualismo dos elementos constitutivos do mundo material         conseguindo um êxito na sua missão educativo-política, que Platão
resulta do ser e do não-ser, da ordem e da desordem, do bem e do        não conseguiu, por certo, em Siracusa. De volta a Atenas, em 335,
mal, que aparecem no mundo. Da idéia - ser, verdade, bondade,           treze anos depois da morte de Platão, Aristóteles fundava, perto do
beleza - depende tudo quanto há de positivo, de racional no vir-a-      templo de Apolo Lício, a sua escola. Daí o nome de Liceu dado à

                                                                                                                                           7
sua escola, também chamada peripatética devido ao costume de             escritos que dele ainda nos restam, poder-se-á avaliar a sua
dar lições, em amena palestra, passeando nos umbrosos caminhos           prodigiosa atividade literária". A primeira edição completa das obras
do ginásio de Apolo. Esta escola seria a grande rival e a verdadeira     de Aristóteles é a de Andronico de Rodes pela metade do último
herdeira da velha e gloriosa academia platônica. Morto Alexandre         século a.C. substancialmente autêntica, salvo uns apócrifos e umas
em 323, desfez-se politicamente o seu grande império e                   interpolações. Aqui classificamos as obras doutrinais de Aristóteles
despertaram-se em Atenas os desejos de independência,                    do modo seguinte, tendo presente a edição de Andronico de Rodes.
estourando uma reação nacional, chefiada por Demóstenes.                        I. Escritos lógicos: cujo conjunto foi denominado Órganon
Aristóteles, malvisto pelos atenienses, foi acusado de ateísmo.          mais tarde, não por Aristóteles. O nome, entretanto, corresponde
Preveniu ele a condenação, retirando-se voluntariamente para             muito bem à intenção do autor, que considerava a lógica
Eubéia, Aristóteles faleceu, após enfermidade, no ano seguinte, no       instrumento da ciência.
verão de 322. Tinha pouco mais de 60 anos de idade. A respeito do
caráter de Aristóteles, inteiramente recolhido na elaboração crítica           II. Escritos sobre a física: abrangendo a hodierna
do seu sistema filosófico, sem se deixar distrair por motivos práticos   cosmologia e a antropologia, e pertencentes à filosofia teorética,
ou sentimentais, temos naturalmente muito menos a revelar do que         juntamente com a metafísica.
em torno do caráter de Platão, em que, ao contrário, os motivos                  III. Escritos metafísicos: a Metafísica famosa, em catorze
políticos, éticos, estéticos e místicos tiveram grande influência. Do    livros. É uma compilação feita depois da morte de Aristóteles
diferente caráter dos dois filósofos, dependem também as                 mediante seus apontamentos manuscritos, referentes à metafísica
vicissitudes exteriores das duas vidas, mais uniforme e linear a de      geral e à teologia. O nome de metafísica é devido ao lugar que ela
Aristóteles, variada e romanesca a de Platão. Aristóteles foi            ocupa na coleção de Andrônico, que a colocou depois da física.
essencialmente um homem de cultura, de estudo, de pesquisas, de
pensamento, que se foi isolando da vida prática, social e política,              IV. Escritos morais e políticos: a Ética a Nicômaco, em dez
para se dedicar à investigação científica. A atividade literária de      livros, provavelmente publicada por Nicômaco, seu filho, ao qual é
Aristóteles foi vasta e intensa, como a sua cultura e seu gênio          dedicada; a Ética a Eudemo, inacabada, refazimento da ética de
universal. "Assimilou Aristóteles escreve magistralmente Leonel          Aristóteles, devido a Eudemo; a Grande Ética, compêndio das duas
Franca todos os conhecimentos anteriores e acrescentou-lhes o            precedentes, em especial da segunda; a Política, em oito livros,
trabalho próprio, fruto de muita observação e de profundas               incompleta.
meditações. Escreveu sobre todas as ciências, constituindo                      V. Escritos retóricos e poéticos: a Retórica, em três livros;
algumas desde os primeiros fundamentos, organizando outras em            a Poética, em dois livros, que, no seu estado atual, é apenas uma
corpo coerente de doutrinas e sobre todas espalhando as luzes de         parte da obra de Aristóteles. As obras de Aristóteles as doutrinas
sua admirável inteligência. Não lhe faltou nenhum dos dotes e            que nos restam - manifestam um grande rigor científico, sem
requisitos que constituem o verdadeiro filósofo: profundidade e          enfeites míticos ou poéticos, exposição e expressão breve e aguda,
firmeza de inteligência, agudeza de penetração, vigor de raciocínio,     clara e ordenada, perfeição maravilhosa da terminologia filosófica,
poder admirável de síntese, faculdade de criação e invenção              de que foi ele o criador.
aliados a uma vasta erudição histórica e universalidade de
conhecimentos científicos. O grande estagirita explorou o mundo do
pensamento em todas as suas direções. Pelo elenco dos principais
                                                                                                                                            8
O Pensamento: A Gnosiologia                                          precisamente este processo de derivação ideal, que corresponde a
        Segundo Aristóteles, a filosofia é essencialmente teorética:        uma derivação real. A lógica aristotélica, portanto, bem como a
deve decifrar o enigma do universo, em face do qual a atitude inicial       platônica, é essencialmente dedutiva, demonstrativa, apodíctica. O
                                                                            seu processo característico, clássico, é o silogismo. Os elementos
do espírito é o assombro do mistério. O seu problema fundamental
                                                                            primeiros, os princípios supremos, as verdades evidentes,
é o problema do ser, não o problema da vida. O objeto próprio da
                                                                            consoante Platão, são fruto de uma visão imediata, intuição
filosofia, em que está a solução do seu problema, são as essências
                                                                            intelectual, em relação com a sua doutrina do contato imediato da
imutáveis e a razão última das coisas, isto é, o universal e o
                                                                            alma com as idéias - reminiscência. Segundo Aristóteles,
necessário, as formas e suas relações. Entretanto, as formas são
                                                                            entretanto, de cujo sistema é banida toda forma de inatismo,
imanentes na experiência, nos indivíduos, de que constituem a
                                                                            também os elementos primeiros do conhecimento - conceito e
essência. A filosofia aristotélica é, portanto, conceptual como a de
                                                                            juízos - devem ser, de um modo e de outro, tirados da experiência,
Platão mas parte da experiência; é dedutiva, mas o ponto de
                                                                            da representação sensível, cuja verdade imediata ele defende,
partida da dedução é tirado - mediante o intelecto da experiência. A
filosofia, pois, segundo Aristóteles, dividir-se-ia em teorética, prática   porquanto os sentidos por si nunca nos enganam. O erro começa
e poética, abrangendo, destarte, todo o saber humano, racional. A           de uma falsa elaboração dos dados dos sentidos: a sensação,
teorética, por sua vez, divide-se em física, matemática e filosofia         como o conceito, é sempre verdadeira. Por certo, metafisicamente,
primeira (metafísica e teologia); a filosofia prática divide-se em ética    ontologicamente, o universal, o necessário, o inteligível, é anterior
e política; a poética em estética e técnica. Aristóteles é o criador da     ao particular, ao contigente, ao sensível: mas, gnosiologicamente,
lógica, como ciência especial, sobre a base socrático-platônica; é          psicologicamente existe primeiro o particular, o contigente, o
denominada por ele analítica e representa a metodologia científica.         sensível, que constituem precisamente o objeto próprio do nosso
                                                                            conhecimento sensível, que é o nosso primeiro conhecimento.
Trata Aristóteles os problemas lógicos e gnosiológicos no conjunto
daqueles escritos que tomaram mais tarde o nome de Órganon.                 Assim sendo, compreende-se que Aristóteles, ao lado e em
                                                                            conseqüência da doutrina de dedução, seja constrangido a
Limitar-nos-emos mais especialmente aos problemas gerais da
lógica de Aristóteles, porque aí está a sua gnosiologia. Foi dito que,      elaborar, na lógica, uma doutrina da indução. Por certo, ela não
                                                                            está efetivamente acabada, mas pode-se integrar logicamente
em geral, a ciência, a filosofia - conforme Aristóteles, bem como
                                                                            segundo o espírito profundo da sua filosofia. Quanto aos elementos
segundo Platão - tem como objeto o universal e o necessário; pois
                                                                            primeiros do conhecimento racional, a saber, os conceitos, a coisa
não pode haver ciência em torno do individual e do contingente,
                                                                            parece simples: a indução nada mais é que a abstração do
conhecidos sensivelmente. Sob o ponto de vista metafísico, o
objeto da ciência aristotélica é a forma, como idéia era o objeto da        conceito, do inteligível, da representação sensível, isto é, a
                                                                            "desindividualização" do universal do particular, em que o universal
ciência platônica. A ciência platônica e aristotélica são, portanto,
                                                                            é imanente. A formação do conceito é, a posteriori, tirada da
ambas objetivas, realistas: tudo que se pode aprender precede a
                                                                            experiência. Quanto ao juízo, entretanto, em que unicamente temos
sensação e é independente dela. No sentido estrito, a filosofia
aristotélica é dedução do particular pelo universal, explicação do          ou não temos a verdade, e que é o elemento constitutivo da ciência,
condicionado mediante a condição, porquanto o primeiro elemento             a coisa parece mais complicada. Como é que se formam os
                                                                            princípios da demonstração, os juízos imediatamente evidentes,
depende do segundo. Também aqui se segue a ordem da
                                                                            donde temos a ciência? Aristóteles reconhece que é impossível
realidade, onde o fenômeno particular depende da lei universal e o
                                                                            uma indução completa, isto é, uma resenha de todos os casos os
efeito da causa. Objeto essencial da lógica aristotélica é
                                                                                                                                               9
fenômenos particulares para poder tirar com certeza absoluta leis
universais abrangendo todas as essências. Então só resta possível
uma indução incompleta, mas certíssima, no sentido de que os
elementos do juízo os conceitos são tirados da experiência, a
posteriori, seu nexo, porém, é a priori, analítico, colhido
imediatamente pelo intelecto humano mediante a sua evidência,
necessidade objetiva.
      Filosofia de Aristóteles
       Partindo como Platão do mesmo problema acerca do valor
objetivo dos conceitos, mas abandonando a solução do mestre,
Aristóteles constrói um sistema inteiramente original. Os caracteres
desta grande síntese são:
       1. Observação fiel da natureza - Platão, idealista, rejeitara
a experiência como fonte de conhecimento certo. Aristóteles, mais
positivo, toma sempre o fato como ponto de partida de suas teorias,
buscando na realidade um apoio sólido às suas mais elevadas
especulações metafísicas.
       2. Rigor no método - Depois de estudas as leis do
pensamento, o processo dedutivo e indutivo aplica-os, com rara
habilidade, em todas as suas obras, substituindo à linguagem
imaginosa e figurada de Platão, em estilo lapidar e conciso e
criando uma terminologia filosófica de precisão admirável. Pode
considerar-se como o autor da metodologia e tecnologia científicas.
Geralmente, no estudo de uma questão, Aristóteles procede por
partes: a) começa a definir-lhe o objeto; b) passa a enumerar-lhes
as soluções históricas; c) propõe depois as dúvidas; d) indica, em
seguida, a própria solução; e) refuta, por último, as sentenças
contrárias.
      3. Unidade do conjunto - Sua vasta obra filosófica constitui
um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese. Todas as partes se
compõem, se correspondem, se confirmam.



                                                                       10

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Sócrates, Platão e Aristóteles: os fundadores da filosofia ocidental

  • 1. SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade Disciplina: Filosofia – Prof. Wagno O. de Souza da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas últimas palavras Sócrates dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido tranqüilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio". É que o deus da A Vida medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Nasceu Sócrates em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho de Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade. Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira. Aprendeu a arte Método de Sócrates paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico. Desempenhou alguns cargos políticos, formou a sua É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e instrução sobretudo através da reflexão pessoal, na moldura da alta na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas cultura ateniense da época, em contato com o que de mais ilustre pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os houve na cidade de Péricles. sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto Entretanto, a liberdade de seus discursos, a sua atitude da ciência. crítica, irônica e a conseqüente educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, inimizades pessoais, apesar de O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo sua probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos que passa; é o inteligível, o conceito que se exprime pela definição. elementos racionários, aparecia Sócrates como chefe de uma Este conceito ou idéia geral obtém-se por um processo dialético por aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo hostil a Sócrates ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação movida contra da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a mocidade e negar os qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável, deuses da pátria introduzindo outros. Sócrates desdenhou permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a defender-se diante dos juizes e da justiça humana, humilhando-se e indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno desculpando-se mais ou menos. Tinha ele diante dos olhos da alma processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de não uma solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno generalização, que remonta do indivíduo à noção universal. da razão, para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado Praticamente, na exposição polêmica e didática destas culpado por uma pequena minoria, assentou-se com indômita idéias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou capital com o voto da maioria. de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até pois uma lei vedava as execuções capitais durante a viagem votiva colher o adversário presunçoso em evidente contradição e de um navio a Delos - o discípulo Criton preparou e propôs a fuga constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos
  • 2. casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da complemento da ética. profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias. imortalidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento, Doutrinas Filosóficas sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência. A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso lema conhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te Em teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o consciente de tua ignorância - como sendo o ápice da sabedoria, argumento teológico, formulando claramente o princípio: tudo o que que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência; b) com o Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o homem é personificava na voz interior divina do gênio ou demônio. inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c) com o argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só notícias que temos de sua vida e de seu pensamento, devemo-las existe, mas é também Providência, governa o mundo com especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte e Platão , de feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de Anábase, em sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações. seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência o aspecto prático Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os preconceitos da mitologia corrente que ele aspira e moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de estilo simples e reformar. harmonioso, mas sem profundidade, não obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das notícias, não entendeu o Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais um homem de ação a bem pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade do que um pensador. Platão, pelo contrário, foi filósofo grande ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da demais para nos dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela se sempre é fácil discernir o fundo socrático das especulações identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória e o socrática, é conseqüência natural do erro psicológico de não privilégio de ter sido o grande historiador do pensamento de distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza moral e Sócrates, bem como o seu biógrafo genial. Com efeito, pode-se penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são dizer que Sócrates é o protagonista de todas as obras platônicas sinônimos. "Se músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe embora Platão conhecesse Sócrates já com mais de sessenta anos edificar, justo será o que sabe a justiça". de idade. Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e "Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Sócrates cifra toda escritas, a existência de uma lei natural - independente do arbítrio a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem é o humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo, objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro para o expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe consciência. 2
  • 3. Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em uma doutrina ao discente, mas o mestre deve tirá-la da mente do prática, sugere quase sempre a utilidade como motivo e estímulo discípulo, pela razão imanente e constitutiva do espírito humano, a da virtude. Esta feição utilitarista empana-lhe a beleza moral do qual é um valor universal. É a famosa maiêutica de Sócrates, que sistema. declara auxiliar os partos do espírito, como sua mãe auxiliava os partos do corpo. Gnosiologia Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência - que O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo não é absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da humano, espiritual, com finalidades práticas, morais. Como os própria razão - patenteiam-se no famoso dito socrático "conhece-te sofistas, ele é cético a respeito da cosmologia e, em geral, a a ti mesmo" que, no pensamento de Sócrates, significa respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo de fato, precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar não de direito, dada a sua revalidação da ciência. A única ciência racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência de si mesmo possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores quer dizer, antes de tudo, consciência da própria ignorância inicial universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem e, portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da ciência. como o conhecer humano - se baseia em normas objetivas e Esta ignorância não é, por conseguinte, ceticismo sistemático, mas transcendentes à experiência. O fim da filosofia é a moral; no apenas metódico, um poderoso impulso para o saber, embora o entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo filosófico por construir uma ética é necessário uma teoria; no dizer de Sócrates, a falta de uma metafísica, pois, Sócrates achou apenas a forma gnosiologia deve preceder logicamente a moral. Mas, se o fim da conceptual da ciência, não o seu conteúdo. filosofia é prático, o prático depende, por sua vez, totalmente, do teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece: O procedimento lógico para realizar o conhecimento virtuoso é o sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é verdadeiro, científico, conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é, equilibrado pelo mais radical intelectualismo, racionalismo, que está remontar do particular ao universal, da opinião à ciência, da contra todo voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo. experiência ao conceito. Este conceito é, depois, determinado precisamente mediante a definição, representando o ideal e a A filosofia socrática, portanto, limita-se à gnosiologia e à ética, sem metafísica. A gnosiologia de Sócrates, que se conclusão do processo gnosiológico socrático, e nos dá a essência da realidade. concretizava no seu ensinamento dialógico, donde é preciso extraí- la, pode-se esquematicamente resumir nestes pontos A Moral fundamentais: ironia, maiêutica, introspecção, ignorância, indução, Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a definição. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos doutrina do conceito, assim é o fundador, em particular da ciência conhecimentos errados, dos preconceitos, opiniões; este é o moral, mediante a doutrina de que eticidade significa racionalidade, momento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de par com os ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento, sofistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto tem independência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre que ser criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até e da convicção racional. A seguir será possível realizar o à animalidade - como ensinavam os sofistas. É sabido que conhecimento verdadeiro, a ciência, mediante a razão. Isto quer Sócrates levava a importância da razão para a ação moral até dizer que a instrução não deve consistir na imposição extrínseca de 3
  • 4. àquele intelectualismo que, identificando conhecimento e virtude - veneranda antigüidade e estabilidade política; a Itália meridional, bem como ignorância e vício - tornava impossível o livre arbítrio. onde teve ocasião de travar relações com os pitagóricos (tal contato Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma será fecundo para o desenvolvimento do seu pensamento); a especificação lógica, precisa - afora a teoria geral de que a ciência Sicília, onde conheceu Dionísio o Antigo, tirano de Siracusa e está nos conceitos - assim a ética socrática carece de um conteúdo travou amizade profunda com Dion, cunhado daquele. Caído, racional, pela ausência de uma metafísica. Se o fim do homem for o porém, na desgraça do tirano pela sua fraqueza, foi vendido como bem - realizando-se o bem mediante a virtude, e a virtude mediante escravo. Libertado graças a um amigo, voltou a Atenas. o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem, Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundava a sua célebre esta felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica. escola, que, dos jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome Traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão e famoso de Academia. Adquiriu, perto de Colona, povoado da Ática, acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos, partindo dos uma herdade, onde levantou um templo às Musas, que se tornou pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia acabada, propriedade coletiva da escola e foi por ela conservada durante uma grande metafísica e, logo, uma moral. quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano (529 d.C.). Platão, ao contrário de Sócrates, interessou-se vivamente Platão pela política e pela filosofia política. Foi assim que o filósofo, após a morte de Dionísio o Antigo, voltou duas vezes - em 366 e em 361 - A Vida e as Obras à Dion, esperando poder experimentar o seu ideal político e realizar Diversamente de Sócrates , que era filho do povo, Platão a sua política utopista. Estas duas viagens políticas a Siracusa, nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e porém, não tiveram melhor êxito do que a precedente: a primeira abastados, de antiga e nobre prosápia. Temperamento artístico e viagem terminou com desterro de Dion; na segunda, Platão foi dialético - manifestação característica e suma do gênio grego - deu, preso por Dionísio, e foi libertado por Arquitas e pelos seus amigos, na mocidade, livre curso ao seu talento poético, que o acompanhou estando, então, Arquistas no governo do poderoso estado de durante a vida toda, manifestando-se na expressão estética de Tarento. seus escritos; entretanto isto prejudicou sem dúvida a precisão e a Voltando para Atenas, Platão dedicou-se inteiramente à ordem do seu pensamento, tanto assim que várias partes de suas especulação metafísica, ao ensino filosófico e à redação de suas obras não têm verdadeira importância e valor filosófico. obras, atividade que não foi interrompida a não ser pela morte. Esta Aos vinte anos, Platão travou relação com Sócrates - mais veio operar aquela libertação definitiva do cárcere do corpo, da qual velho do que ele quarenta anos - e gozou por oito anos do a filosofia - como lemos no Fédon - não é senão uma assídua ensinamento e da amizade do mestre. Quando discípulo de preparação e realização no tempo. Morreu o grande Platão em 348 Sócrates e ainda depois, Platão estudou também os maiores pré- ou 347 a.C., com oitenta anos de idade. socráticos. Depois da morte do mestre, Platão retirou-se com outros Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as socráticos para junto de Euclides, em Mégara. obras completas. Dos 35 diálogos, porém, que correm sob o seu Daí deu início a suas viagens, e fez um vasto giro pelo nome, muitos são apócrifos, outros de autenticidade duvidosa. mundo para se instruir (390-388). Visitou o Egito, de que admirou a 4
  • 5. A forma dos escritos platônicos é o diálogo, transição conhecimento intelectual, conceptual, universal e imutável. A espontânea entre o ensinamento oral e fragmentário de Sócrates e gnosiologia platônica, porém, tem o caráter científico, filosófico, que o método estritamente didático de Aristóteles. No fundador da falta a gnosiologia socrática, ainda que as conclusões sejam, mais Academia, o mito e a poesia confundem-se muitas vezes com os ou menos, idênticas. O conhecimento sensível deve ser superado elementos puramente racionais do sistema. Faltam-lhe ainda o por um outro conhecimento, o conhecimento conceptual, porquanto rigor, a precisão, o método, a terminologia científica que tanto no conhecimento humano, como efetivamente, apresentam-se caracterizam os escritos do sábio estagirita. elementos que não se podem explicar mediante a sensação. O conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, não pode A atividade literária de Platão abrange mais de cinqüenta explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua característica anos da sua vida: desde a morte de Sócrates , até a sua morte. A a universalidade, a imutabilidade, o absoluto (do conceito); e ainda parte mais importante da atividade literária de Platão é representada pelos diálogos - em três grupos principais, segundo menos pode o conhecimento sensível explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que estão efetivamente certa ordem cronológica, lógica e formal, que representa a evolução presentes no espírito humano, e se distinguem diametralmente de do pensamento platônico, do socratismo ao aristotelismo . seus opostos, fealdade, erro e mal-posição e distinção que o O Pensamento: A Gnosiologia sentido não pode operar por si mesmo. Como já em Sócrates, assim em Platão a filosofia tem um fim Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica prático, moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida. nitidamente dividido em dois graus: o conhecimento sensível, Este fim prático realiza-se, no entanto, intelectualmente, através da particular, mutável e relativo, e o conhecimento intelectual, especulação, do conhecimento da ciência. Mas - diversamente de universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, Sócrates, que limitava a pesquisa filosófica, conceptual, ao campo mas que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre o antropológico e moral - Platão estende tal indagação ao campo conhecimento sensível, a opinião verdadeira e o conhecimento metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade. intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento sensível, Este caráter íntimo, humano, religioso da filosofia, em Platão embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar é tornado especialmente vivo, angustioso, pela viva sensibilidade indiferentemente o conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; do filósofo em face do universal vir-a-ser, nascer e perecer de todas ao passo que o segundo, além de ser um conhecimento verdadeiro, as coisas; em face do mal, da desordem que se manifesta em sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um especial no homem, onde o corpo é inimigo do espírito, o sentido se conhecimento diverso, errôneo. Poder-se-ia também dizer que o opõe ao intelecto, a paixão contrasta com a razão. Assim, primeiro sabe que as coisas estão assim, sem saber porque o considera Platão o espírito humano peregrino neste mundo e estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar prisioneiro na caverna do corpo. Deve, pois, transpor este mundo e necessariamente assim como estão, precisamente porque é libertar-se do corpo para realizar o seu fim, isto é, chegar à ciência, isto é, conhecimento das coisas pelas causas. contemplação do inteligível, para o qual é atraído por um amor Sócrates estava convencido, como também Platão, de que o nostálgico, pelo eros platônico. saber intelectual transcende, no seu valor, o saber sensível, mas Platão como Sócrates, parte do conhecimento empírico, julgava, todavia, poder construir indutivamente o conceito da sensível, da opinião do vulgo e dos sofistas, para chegar ao sensação, da opinião; Platão, ao contrário, não admite que da 5
  • 6. sensação - particular, mutável, relativa - se possa de algum modo conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades tirar o conceito universal, imutável, absoluto. E, desenvolvendo, chamam-se Idéias. As idéias não são, pois, no sentido platônico, exagerando, exasperando a doutrina da maiêutica socrática, diz representações intelectuais, formas abstratas do pensamento, são que os conceitos são a priori, inatos no espírito humano, donde têm realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as de ser oportunamente tirados, e sustenta que as sensações coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de correspondentes aos conceitos não lhes constituem a origem, e sim homem é o homem abstrato perfeito e universal de que os a ocasião para fazê-los reviver, relembrar conforme a lei da indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas. associação. Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos Aqui devemos lembrar que Platão, diversamente de inteligíveis, situado na esfera celeste. A certeza da sua existência Sócrates, dá ao conhecimento racional, conceptual, científico, uma funda-a Platão na necessidade de salvar o valor objetivo dos base real, um objeto próprio: as idéias eternas e universais, que nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do são os conceitos, ou alguns conceitos da mente, personalizados. ente de Parmênides , sem, com ele, negar a existência do fieri. Tal Do mesmo modo, dá ao conhecimento empírico, sensível, à opinião a célebre teoria das idéias, alma de toda filosofia platônica, centro verdadeira, uma base e um fundamento reais, um objeto próprio: as em torno do qual gravita todo o seu sistema. coisas particulares e mutáveis, como as concebiam Heráclito e os A Metafísica sofistas . Deste mundo material e contigente, portanto, não há ciência, devido à sua natureza inferior, mas apenas é possível, no As Idéias máximo, um conhecimento sensível verdadeiro - opinião verdadeira O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no - que é precisamente o conhecimento adequado à sua natureza mundo divino das idéias; e estas contrapõe-se a matéria obscura e inferior. Pode haver conhecimento apenas do mundo imaterial e incriada. Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo e as almas, racional das idéias pela sua natureza superior. Este mundo ideal, através de que desce das idéias à matéria aquilo de racionalidade racional - no dizer de Platão - transcende inteiramente o mundo que nesta matéria aparece. empírico, material, em que vivemos. O divino platônico é representado pelo mundo das idéias e Teoria das Idéias especialmente pela idéia do Bem, que está no vértice. A existência Sócrates mostrara no conceito o verdadeiro objeto da desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer ciência. Platão aprofunda-lhe a teoria e procura determinar a uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento relação entre o conceito e a realidade fazendo deste problema o conceptual. Esse conhecimento, aliás, se impõe ao lado e acima do ponto de partida da sua filosofia. conhecimento sensível, para poder explicar verdadeiramente o conhecimento humano na sua efetiva realidade. E, em geral, o A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os valores, o corresponder a realidade. Ora, de um lado, os nossos conceitos dever ser, de que este nosso mundo imperfeito participa e a que são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates), do aspira. outro, tudo no mundo é individual, contigente e transitório (Heráclito). Deve, logo, existir, além do fenomenal, um outro mundo Visto serem as idéias conceitos personalizados, transferidos de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos atributos dos da ordem lógica à ontológica, terão consequentemente as 6
  • 7. características dos próprios conceitos: transcenderão a experiência, ser da experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável, serão universais, imutáveis. Além disso, as idéias terão aquela irracional, passiva, espacial - depende, ao contrário, tudo que há de mesma ordem lógica dos conceitos, que se obtém mediante a negativo na experiência. divisão e a classificação, isto é, são ordenadas em sistema Consoante a astronomia platônica, o mundo, o universo hierárquico, estando no vértice a idéia do Bem, que é papel da sensível, são esféricos. A terra está no centro, em forma de esfera dialética (lógica real, ontológica) esclarecer. Como a multiplicidade e, ao redor, os astros, as estrelas e os planetas, cravados em dos indivíduos é unificada nas idéias respectivas, assim a esferas ou anéis rodantes, transparentes, explicando-se deste multiplicidade das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia modo o movimento circular deles. do Bem, no sistema platônico, é a realidade suprema, donde dependem todas as demais idéias, e todos os valores (éticos, No seu conjunto, o mundo físico percorre uma grande lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser evolução, um ciclo de dez mil anos, não no sentido do progresso, sem o qual não se explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar mas no da decadência, terminados os quais, chegado o grande ano o verdadeiro Deus platônico. No entanto, para ser verdadeiramente do mundo, tudo recomeça de novo. É a clássica concepção grega tal, falta-lhe a personalidade e a atividade criadora. Desta do eterno retorno, conexa ao clássico dualismo grego, que domina personalidade e atividade criadora - ou, melhor, ordenadora - é, também a grande concepção platônica. pelo contrário, dotado o Demiurgo o qual, embora superior à matéria, é inferior às idéias, de cujo modelo se serve para ordenar a matéria e transformar o caos em cosmos. Aristóteles O Mundo A Vida e as Obras O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de Este grande filósofo grego, filho de Nicômaco, médico de dois princípios opostos, as idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o Amintas, rei da Macedônia, nasceu em Estagira, colônia grega da caos da matéria no modelo das idéias eternas, introduzindo no caos Trácia, no litoral setentrional do mar Egeu, em 384 a.C. Aos dezoito a alma, princípio de movimento e de ordem. O mundo, pois, está anos, em 367, foi para Atenas e ingressou na academia platônica, entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado, como onde ficou por vinte anos, até à morte do Mestre. Nesse período o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não- estudou também os filósofos pré-platônicos, que lhe foram úteis na saber, e é a opinião verdadeira. Conforme a cosmologia construção do seu grande sistema. pampsiquista platônica, haveria, antes de tudo, uma alma do Em 343 foi convidado pelo Rei Filipe para a corte de mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a Macedônia, como preceptor do Príncipe Alexandre, então jovem de saber, as almas dos astros, dos homens, etc. treze anos. Aí ficou três anos, até à famosa expedição asiática, O dualismo dos elementos constitutivos do mundo material conseguindo um êxito na sua missão educativo-política, que Platão resulta do ser e do não-ser, da ordem e da desordem, do bem e do não conseguiu, por certo, em Siracusa. De volta a Atenas, em 335, mal, que aparecem no mundo. Da idéia - ser, verdade, bondade, treze anos depois da morte de Platão, Aristóteles fundava, perto do beleza - depende tudo quanto há de positivo, de racional no vir-a- templo de Apolo Lício, a sua escola. Daí o nome de Liceu dado à 7
  • 8. sua escola, também chamada peripatética devido ao costume de escritos que dele ainda nos restam, poder-se-á avaliar a sua dar lições, em amena palestra, passeando nos umbrosos caminhos prodigiosa atividade literária". A primeira edição completa das obras do ginásio de Apolo. Esta escola seria a grande rival e a verdadeira de Aristóteles é a de Andronico de Rodes pela metade do último herdeira da velha e gloriosa academia platônica. Morto Alexandre século a.C. substancialmente autêntica, salvo uns apócrifos e umas em 323, desfez-se politicamente o seu grande império e interpolações. Aqui classificamos as obras doutrinais de Aristóteles despertaram-se em Atenas os desejos de independência, do modo seguinte, tendo presente a edição de Andronico de Rodes. estourando uma reação nacional, chefiada por Demóstenes. I. Escritos lógicos: cujo conjunto foi denominado Órganon Aristóteles, malvisto pelos atenienses, foi acusado de ateísmo. mais tarde, não por Aristóteles. O nome, entretanto, corresponde Preveniu ele a condenação, retirando-se voluntariamente para muito bem à intenção do autor, que considerava a lógica Eubéia, Aristóteles faleceu, após enfermidade, no ano seguinte, no instrumento da ciência. verão de 322. Tinha pouco mais de 60 anos de idade. A respeito do caráter de Aristóteles, inteiramente recolhido na elaboração crítica II. Escritos sobre a física: abrangendo a hodierna do seu sistema filosófico, sem se deixar distrair por motivos práticos cosmologia e a antropologia, e pertencentes à filosofia teorética, ou sentimentais, temos naturalmente muito menos a revelar do que juntamente com a metafísica. em torno do caráter de Platão, em que, ao contrário, os motivos III. Escritos metafísicos: a Metafísica famosa, em catorze políticos, éticos, estéticos e místicos tiveram grande influência. Do livros. É uma compilação feita depois da morte de Aristóteles diferente caráter dos dois filósofos, dependem também as mediante seus apontamentos manuscritos, referentes à metafísica vicissitudes exteriores das duas vidas, mais uniforme e linear a de geral e à teologia. O nome de metafísica é devido ao lugar que ela Aristóteles, variada e romanesca a de Platão. Aristóteles foi ocupa na coleção de Andrônico, que a colocou depois da física. essencialmente um homem de cultura, de estudo, de pesquisas, de pensamento, que se foi isolando da vida prática, social e política, IV. Escritos morais e políticos: a Ética a Nicômaco, em dez para se dedicar à investigação científica. A atividade literária de livros, provavelmente publicada por Nicômaco, seu filho, ao qual é Aristóteles foi vasta e intensa, como a sua cultura e seu gênio dedicada; a Ética a Eudemo, inacabada, refazimento da ética de universal. "Assimilou Aristóteles escreve magistralmente Leonel Aristóteles, devido a Eudemo; a Grande Ética, compêndio das duas Franca todos os conhecimentos anteriores e acrescentou-lhes o precedentes, em especial da segunda; a Política, em oito livros, trabalho próprio, fruto de muita observação e de profundas incompleta. meditações. Escreveu sobre todas as ciências, constituindo V. Escritos retóricos e poéticos: a Retórica, em três livros; algumas desde os primeiros fundamentos, organizando outras em a Poética, em dois livros, que, no seu estado atual, é apenas uma corpo coerente de doutrinas e sobre todas espalhando as luzes de parte da obra de Aristóteles. As obras de Aristóteles as doutrinas sua admirável inteligência. Não lhe faltou nenhum dos dotes e que nos restam - manifestam um grande rigor científico, sem requisitos que constituem o verdadeiro filósofo: profundidade e enfeites míticos ou poéticos, exposição e expressão breve e aguda, firmeza de inteligência, agudeza de penetração, vigor de raciocínio, clara e ordenada, perfeição maravilhosa da terminologia filosófica, poder admirável de síntese, faculdade de criação e invenção de que foi ele o criador. aliados a uma vasta erudição histórica e universalidade de conhecimentos científicos. O grande estagirita explorou o mundo do pensamento em todas as suas direções. Pelo elenco dos principais 8
  • 9. O Pensamento: A Gnosiologia precisamente este processo de derivação ideal, que corresponde a Segundo Aristóteles, a filosofia é essencialmente teorética: uma derivação real. A lógica aristotélica, portanto, bem como a deve decifrar o enigma do universo, em face do qual a atitude inicial platônica, é essencialmente dedutiva, demonstrativa, apodíctica. O seu processo característico, clássico, é o silogismo. Os elementos do espírito é o assombro do mistério. O seu problema fundamental primeiros, os princípios supremos, as verdades evidentes, é o problema do ser, não o problema da vida. O objeto próprio da consoante Platão, são fruto de uma visão imediata, intuição filosofia, em que está a solução do seu problema, são as essências intelectual, em relação com a sua doutrina do contato imediato da imutáveis e a razão última das coisas, isto é, o universal e o alma com as idéias - reminiscência. Segundo Aristóteles, necessário, as formas e suas relações. Entretanto, as formas são entretanto, de cujo sistema é banida toda forma de inatismo, imanentes na experiência, nos indivíduos, de que constituem a também os elementos primeiros do conhecimento - conceito e essência. A filosofia aristotélica é, portanto, conceptual como a de juízos - devem ser, de um modo e de outro, tirados da experiência, Platão mas parte da experiência; é dedutiva, mas o ponto de da representação sensível, cuja verdade imediata ele defende, partida da dedução é tirado - mediante o intelecto da experiência. A filosofia, pois, segundo Aristóteles, dividir-se-ia em teorética, prática porquanto os sentidos por si nunca nos enganam. O erro começa e poética, abrangendo, destarte, todo o saber humano, racional. A de uma falsa elaboração dos dados dos sentidos: a sensação, teorética, por sua vez, divide-se em física, matemática e filosofia como o conceito, é sempre verdadeira. Por certo, metafisicamente, primeira (metafísica e teologia); a filosofia prática divide-se em ética ontologicamente, o universal, o necessário, o inteligível, é anterior e política; a poética em estética e técnica. Aristóteles é o criador da ao particular, ao contigente, ao sensível: mas, gnosiologicamente, lógica, como ciência especial, sobre a base socrático-platônica; é psicologicamente existe primeiro o particular, o contigente, o denominada por ele analítica e representa a metodologia científica. sensível, que constituem precisamente o objeto próprio do nosso conhecimento sensível, que é o nosso primeiro conhecimento. Trata Aristóteles os problemas lógicos e gnosiológicos no conjunto daqueles escritos que tomaram mais tarde o nome de Órganon. Assim sendo, compreende-se que Aristóteles, ao lado e em conseqüência da doutrina de dedução, seja constrangido a Limitar-nos-emos mais especialmente aos problemas gerais da lógica de Aristóteles, porque aí está a sua gnosiologia. Foi dito que, elaborar, na lógica, uma doutrina da indução. Por certo, ela não está efetivamente acabada, mas pode-se integrar logicamente em geral, a ciência, a filosofia - conforme Aristóteles, bem como segundo o espírito profundo da sua filosofia. Quanto aos elementos segundo Platão - tem como objeto o universal e o necessário; pois primeiros do conhecimento racional, a saber, os conceitos, a coisa não pode haver ciência em torno do individual e do contingente, parece simples: a indução nada mais é que a abstração do conhecidos sensivelmente. Sob o ponto de vista metafísico, o objeto da ciência aristotélica é a forma, como idéia era o objeto da conceito, do inteligível, da representação sensível, isto é, a "desindividualização" do universal do particular, em que o universal ciência platônica. A ciência platônica e aristotélica são, portanto, é imanente. A formação do conceito é, a posteriori, tirada da ambas objetivas, realistas: tudo que se pode aprender precede a experiência. Quanto ao juízo, entretanto, em que unicamente temos sensação e é independente dela. No sentido estrito, a filosofia aristotélica é dedução do particular pelo universal, explicação do ou não temos a verdade, e que é o elemento constitutivo da ciência, condicionado mediante a condição, porquanto o primeiro elemento a coisa parece mais complicada. Como é que se formam os princípios da demonstração, os juízos imediatamente evidentes, depende do segundo. Também aqui se segue a ordem da donde temos a ciência? Aristóteles reconhece que é impossível realidade, onde o fenômeno particular depende da lei universal e o uma indução completa, isto é, uma resenha de todos os casos os efeito da causa. Objeto essencial da lógica aristotélica é 9
  • 10. fenômenos particulares para poder tirar com certeza absoluta leis universais abrangendo todas as essências. Então só resta possível uma indução incompleta, mas certíssima, no sentido de que os elementos do juízo os conceitos são tirados da experiência, a posteriori, seu nexo, porém, é a priori, analítico, colhido imediatamente pelo intelecto humano mediante a sua evidência, necessidade objetiva. Filosofia de Aristóteles Partindo como Platão do mesmo problema acerca do valor objetivo dos conceitos, mas abandonando a solução do mestre, Aristóteles constrói um sistema inteiramente original. Os caracteres desta grande síntese são: 1. Observação fiel da natureza - Platão, idealista, rejeitara a experiência como fonte de conhecimento certo. Aristóteles, mais positivo, toma sempre o fato como ponto de partida de suas teorias, buscando na realidade um apoio sólido às suas mais elevadas especulações metafísicas. 2. Rigor no método - Depois de estudas as leis do pensamento, o processo dedutivo e indutivo aplica-os, com rara habilidade, em todas as suas obras, substituindo à linguagem imaginosa e figurada de Platão, em estilo lapidar e conciso e criando uma terminologia filosófica de precisão admirável. Pode considerar-se como o autor da metodologia e tecnologia científicas. Geralmente, no estudo de uma questão, Aristóteles procede por partes: a) começa a definir-lhe o objeto; b) passa a enumerar-lhes as soluções históricas; c) propõe depois as dúvidas; d) indica, em seguida, a própria solução; e) refuta, por último, as sentenças contrárias. 3. Unidade do conjunto - Sua vasta obra filosófica constitui um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese. Todas as partes se compõem, se correspondem, se confirmam. 10