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Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
COMO E POR QUE TRABALHAR COM A POESIA
NA SALA DE AULA
Eliseu Ferreira da Silva
Li cen cia tu ra em Letr a s Ver ná cula s
z eul is o@ g ma il . co m
Wellington Gomes de Jesus (coautor)
Li cen cia tu ra em Letr a s co m Esp an ho l
l l ewgo mez @g mai l. co m
Resumo: Sabemos da importância da poesia na vida de todos.
Porém, há muito tempo que, muitas escolas insistem em não tra-
balhá-la na sala de aula, escolhendo trabalhar com ‚coisas mais
sérias e importantes‛, principalmente nas séries iniciais. E ainda
quando se trabalha literatura na escola, a opção é pendida para
os textos prosódicos, o que tem privado o aluno de uma
‚experiência inigualável‛, conforme atenta Zancan Frantz (1998, p.
80). Pretendemos mostrar neste artigo como aprimorar o uso da
poesia na sala de aula através de experiências bem sucedidas,
resgatando, assim, os prazeres da leitura -poética, essa capaz
de mudar o mundo.
Palavras-chave: Poesia, Escola, Literatura, Sala de aula.
Resumen: Sabemos de la importancia de la poesía en la vida de
todos. Pero, hace tiempo que, muchas escuelas insisten en no
trabajarla en las clases, eligiendo trabajar ‚cosas más serias e
importantes‛, principalmente, en la educación infantil. Y aun
cuando se trabaja literatura en la escuela, la opción es pendida
para los textos prosódicos lo que priva los alumnos de una
‚experiencia inigualable‛, conforme atenta Maria Helena Zancan
Frantz (1998, p. 80). Se pretende mostrar en este artículo como
perfeccionar el uso de la poesía en clase a través de experien-
cias bien ocurridas, rescatando así, el placer de la lectura poéti-
ca; capaz de cambiar el mundo.
Palabras-llave: Poesía, Escuela, Literatura, Clase.
ISSN 2236-3335
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Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
INTRODUÇÃO
Este artigo é uma tentativa de resgatar um pouco dessa
magia, desse poder de encantar que a poesia e a literatura têm
– entretanto, sem a pretensão de esgotar a fortuna crítica e te-
órica a respeito do tema –, e que na maioria das vezes é es-
quecida ou substituída tão facilmente pelos novos veículos de
mídia existentes, pelas inovações tecnológicas. Nesse sentido, ao
mesmo tempo em que nos deparamos com a leitura do texto
eletrônico ou com o uso de multimídia, tão comuns à sociedade
contemporânea, não desmerecemos o livro impresso, nem a bi-
blioteca. Resgatemos a leitura da poesia em voz alta, que serve
como motivação aos alunos, mas não desconsideremos a leitura
silenciosa, individual.
METODOLOGIA
Compreendemos a poesia como linguagem na sua carga
máxima de significado e de reflexão, poesia -pensante, mas tam-
bém ritmo, dança, música, sentimento, emoção, revolução, poesia
que tem função social, poesia de caráter humanizador, ético, ca-
paz de mudar o mundo. E para tudo isso é necessário que haja
o contato, senão estaríamos falando às paredes, devido o quase
inexistente contato que o aluno tem na escola com esse tipo de
Gênero Literário. Ana Elvira Gerbara em seu texto, Reflexões
sobre o ensino de poesia1
, diz que chegado o poema à sala de
aula, algumas perguntas também às acompanham:
Como trabalhar com gêneros literários que não parecem
fazer parte do cotidiano? Como torná -los significativos
para os nossos alunos? Como trabalhar com a autoria
em gêneros que exigem domínio da tradição e uma bus-
ca pela inovação - recorte da matéria linguística e temá-
tica de forma singular? 2
O poema muitas vezes entra na sala de aula e é apresen-
tado aos alunos através do professor, quase sempre é o sufici-
ente para que aquele seja aceito e trabalhado em sala de aula.
Porém, os poemas devem ser apresentados de modo que sua
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Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
completude possa esclarecer as tradições descritas pelos poe-
tas que escreveram e pelos que nestes se basearam para es-
crever, ou seja, os seus antecedentes. Por isso, a autora nos
diz que
Dessa forma, ensinar poesia (em todos os seus subgê-
neros) é trabalhar o texto como resposta a uma neces-
sidade, a alguém (o leitor), a um tempo definido. A poesi-
a dentro dessa concepção é um modo de viver o mundo
(ver, sentir, experimentar e projetar) e cada composição
poética reflete quem somos, o que pensamos, sentimos
e buscamos.3
Os poemas revelam representações, conexões, manifesta-
ções das mais variadas formas que encontramos desde tempos
remotos — época das cavernas — até os nossos índios em torno
de fogueiras, mas, ainda assim, relacionadas à cultura popular
em subgêneros poéticos com ritmos e rimas, com o prazer e o
encantamento que a poesia oral nos evoca. E nas produções
poéticas dos alunos, essas representações se apresentam de
forma oral como o cordel ou os poemas em quadras, nos quais
podemos notar dois caminhos a seguir para dar continuidade à
presença do poema em sala de aula, a leitura e escrita. Recorre-
mos mais uma vez a Gerbara:
O primeiro caminho é o da fruição, ou seja, depois de
tanto trabalho com o poema, precisamos recuperar a
gratuidade da presença desses textos em sala simples-
mente porque fazem parte da nossa cultura e são expe-
riências variadas que o aluno precisa ter, para construir,
pela interferência dessa presença, a sua leitura interpre-
tativa, acompanhada de um gosto pessoal. O segundo é
o da percepção que cada professor constrói e pode ser
condensado em três questões: Os alunos são poetas
para vocês? Os alunos são autores para vocês? Vocês
são leitores dos seus alunos? 4
Ao responder essas questões também estaremos iniciando
um novo percurso: o de não cumprir uma atividade ‚porque
sim‛. Assim, uma provável causa de os professores não traba-
lharem a poesia em sala de aula se deve à falta da prática de
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Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
leitura desse gênero nas escolas. Segundo Bamberger (1986, p.
74-75):
Está claro que a personalidade do professor e, particu-
larmente, seus hábitos de leitura são importantíssimos
para desenvolver os interesses e hábitos de leitura nas
crianças, sua própria educação também contribui de for-
ma essencial para a influência que ele exerce.
Na sala de aula, a leitura de poesia precisa tornar -se um
hábito, e se isso não acontece, se o aluno não for estimulado a
ler, o professor rejeita essa leitura. Isso ocorre desde o início
de sua formação enquanto educadores de Língua Materna. Po-
demos dizer que se o professor não tiver o hábito da leitura de
poemas, se ele ‚[...] não se sensibilizar com o poema, dificilmente
ele conseguirá emocionar seus alunos [...]‛ (CUNHA, 1986, p. 95).
LEITURA DE POESIA NA SALA DE AULA: EXERCÍCIO CRÍTICO E
LEITURA
O estimulo à leitura não se resume apenas a fazer com
que os alunos leiam, mas que esse seja um ato e exercício críti-
co. Para isso, um meio é o desenvolvimento de oficinas gratuitas
que proporcionem aos alunos o contato com a literatura. Ofici-
nas estas que orientem os alunos sobre o que ler e façam com
que eles descubram a leitura. É necessário apresentar a literatu-
ra às pessoas, derrubar preconceitos, quebrar barreiras e rom-
per a rejeição das pessoas por literatura de maneira geral e por
poesia especificamente. A conexão literatura infantil -escola faz
parte da origem do gênero, ou seja, tal ligação surgiu porque a
literatura infantil nasceu para cumprir o papel de educar a crian-
ça para a sociedade moderna que se aproximava. De acordo
com Zilberman (2005), desde o começo da literatura infantil bra-
sileira, no início do século XX, a poesia esteve presente, porém
acompanhava a estética parnasiana da época, que, de acordo
com a estudiosa, era ‚pouco afeita ao gosto da crian-
ça‛ (ZILBERMANN, 2005, p.127). É só com o programa modernis-
ta, a partir da década de 20, que aparece a maioria dos livros
dedicados às crianças, agora evidenciando técnicas e princípios
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Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
mais livres e libertários. Assim sendo, muitos poetas modernos
brasileiros escreveram para crianças. Escrever versos para cri-
anças e esperar que essas apreciem a leitura é estabelecer uma
conexão entre brincar e escrever, por isso, o ângulo lúdico é
fundamental em todo o poema dirigido aos pequenos. Foi justa-
mente ‚a valorização do lado lúdico da linguagem que propiciou
a expansão da poesia endereçada à infância, a partir dos anos
80” (ZILBERMAN, 2005, p. 129), quando se descobriu a poesia
para crianças. Devemos levar a poesia para as nossas casas,
para o nosso trabalho, para os nossos momentos de lazer e
diversão, pois os prazeres da leitura são múltiplos e mal cabem
em uma só pessoa, eles tem de ser compartilhados para que
mais e mais pessoas possam sentir -se em um mundo de sonhos
sem fim, como num caminho sem volta onde o passaporte é a
leitura.
LITERATURA, POESIA E A FORMAÇÃO DE CIDADÃOS CRÍTICOS
A poesia está presente no dia a dia de todas as pessoas,
e essa linguagem é cada vez mais necessária à vivência huma-
na por ser uma das mais representativas formas de arte. O pre-
conceito que chega a todas as esferas da vida social, inclusive
à escola, nutre no professor um certo desinteresse, e até mes-
mo um certo mal-estar ou culpa, por ocupar suas aulas com a
leitura de textos poéticos. Essa posição do professor se associa
não apenas ao desconhecimento das possibilidades de uso da
literatura em geral, através da poesia, mas também como da
própria função da arte no desenvolvimento da personalidade hu-
mana, que está diretamente ligada à própria situação da arte na
textura social. Ao optar por eliminar à arte de seus itinerários
programáticos, a escola apenas reflete a atitude da sociedade
em geral. Vejamos isso em Drummond:
A escola enche o menino de matemática, de geografia,
de linguagem, sem, via de regra, fazê -lo através da po-
esia da matemática, da geografia, da linguagem. A escola
não repara em seu ser poético, não o atende em sua
capacidade de viver poeticamente o conhecimento e o
mundo [...]. O que eu pediria à escola, se não me faltas-
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Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
sem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como
primeira visão direta das coisas, e depois como veículo
de informação prática e teórica, preservando em cada
aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se
identifica basicamente com a sensibilidade poética.
(DRUMMOND apud AVERBUCK, 1988, p. 66 -67)
Como já dizia Drummond, é nesse meio que se insere a
escola, como facilitadora do processo que eleva a importância
‚de um ensino voltado para a criatividade como meio formador
da sensibilidade‛ (AVERBUCK, 1988, p. 67). A poesia está para
além da linguagem poética, está na linguagem da vida. A impor-
tância de trabalhar este tema decorre de ser ele pouco difundi-
do entre as séries iniciais, deixando assim um rombo enorme
nas séries subsequentes que continuam sem ver a poesia na
sala de aula, e resumindo a literatura, na maioria das vezes
quando trabalhada, a textos prosódicos, ficando assim a poesia
à margem do que é ensinado nas escolas. O que acontece é
uma supervalorização da prosa literária em relação à poesia.
Mas a poesia, além de ser uma linguagem extremamente atual,
anota-se como necessária para a formação de novos cidadãos
críticos e será utilizada por toda a vida do aluno, não só na vida
escolar, como fora dela também. Deseja -se através da linguagem
poética e do livro escrito instigar os alunos e educadores a criar
e cultivar bons hábitos de leitura e que assim possam se portar
frente aos inúmeros discursos/linguagens que o cercam na so-
ciedade a qual estão inseridos.
LETRAMENTO LITERÁRIO COMO ESTÍMULO A LEITURA DE
POESIA
Rildo Cosson, no livro Letramento literário: teoria e prática,
defende que o processo de letramento literário é diferente da
leitura literária por fruição, aliás, uma depende da outra. Para ele,
a literatura deve ser ensinada na escola:
[...] devemos compreender que o letramento literário é
uma prática social e, como tal, responsabilidade da esco-
la. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve
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Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta
Magda Soares, mas sim como fazer e a escolarização
sem descaracterizá -la, sem transformá -la em um simula-
cro de si mesma que mais nega do que confirma seu
poder de humanização.‛ (COSSON, 2009, p. 23)
O autor completa ainda dizendo que, desta forma, no letra-
mento literário não podemos simplesmente exigir que o aluno leia
a obra e ao final faça uma prova ou ficha, pois a leitura é cons-
truída a partir dos mecanismos que a escola desenvolve para a
proficiência da leitura literária. Em seu texto, Cosson apresenta
um interesse claro pelo ensino de literatura na escola básica,
levantando quatro etapas necessárias à iniciação do letramento
literário, a saber, a motivação, a introdução, a leitura e a inter-
pretação. Contudo, é a interpretação que nos traz uma impor-
tante visão a respeito dos resultados daquela ação – o letra-
mento. Conforme o autor, a interpretação se dá em dois momen-
tos: um interior e outro exterior. O momento interior compreende
a decifração, é chamado de ‚encontro do leitor com a obra‛ e
não pode, de forma alguma, ser substituído por algum tipo de
intermediação como resumo do livro, filmes, minisséries. Já o
momento exterior é a ‚materialização da interpretação como ato
de construção de sentido em uma determinada comunida-
de‛ (COSSON, 2009, p. 65). A escola tem papel singular nesse
momento, visto ser ela talvez a principal responsável pela for-
mação e consolidação de alunos leitores, para que sejam críticos
e cidadãos atuantes de fato.
A LEITURA LITERÁRIA COMO ENCORAJADORA DA LEITURA
POÉTICA
Como dito acima, a prosa literária, com sua supervaloriza-
ção, ocupou espaços que antes eram destinados à poesia, e
isso se deve à forma como ela é trabalhada nas escolas, não
de uma forma que faça com que os alunos se encantem e te-
nham gosto pela leitura, mas sem a história, sem o contexto em
que a poesia foi escrita, sem o devido valor que a poesia mere-
ce. O importante é que o professor estimule os seus alunos a
escutar essa linguagem (poética), despertando assim seus ouvi-
J28
Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
dos para os versos, e que a criança descubra em si mesma es-
ses versos e neles se encontre, refaça -se e se reencontre. En-
fatizemos aqui a necessidade de se criar o hábito da leitura de
poesias, conjuntamente com a sua escrita e análise lingüística,
desde as séries iniciais, por ser mais apropriado para o seu fu-
turo entendimento. Por isso, a importância da promoção do letra-
mento literário no processo de escolarização da literatura. O ob-
jetivo não é transformar os alunos em grandes escritores de
poesias, até por que não se faz poetas, só estimulam -se a ler e
escrever desde cedo, e poetas nascem com esse dom. O obje-
tivo é transformá-los em leitores aptos a interpretar e compre-
ender o que o poeta quis transmitir através dos versos. A ideia
vem referendada pela pesquisa de vários autores que têm estu-
dado as questões de leitura e de trabalhos com poesia em sala
de aula, como Pinheiro (2002); Micheletti (2001); Frantz (1997), Cu-
nha (1986), os quais investigam as dificuldades que os alunos
possuem em interpretar esses textos, não só pela falta de co-
nhecimento prévio, como também pelo pouco contato que eles
têm com a poesia. Conscientes de que a poesia ainda é um
gênero literário distante da sala de aula, é preciso descobrir for-
mas de familiarizá-la e torná-la próxima das crianças, adolescen-
tes e jovens. Muitas pessoas desconhecem a poesia, visto a
prosa ser mais fácil e estar diretamente ligada com o real. A po-
esia possui uma linguagem mais especializada. Se a prosa narra
ações, a poesia quebra núcleos e apresenta metáforas, metoní-
mias, paráfrases, além de poder ser parodiada, como no caso da
‚Canção do Exílio‛, que veremos à frente. Mas ler poesia não é
tão difícil quanto se pensa, basta se acostumar à linguagem. Es-
sa forma de familiarização e aproximação deve ser feita com
moderação, e através de um planejamento a longo prazo, para
evitar afirmações como: poemas são difíceis de entender, com-
preender e interpretar. Pinheiro (2002, p. 23), afirma que ‚[...] a
leitura de textos poéticos tem peculiaridades e carece, portanto,
de mais cuidados que a prosa.‛ Assim, percebemos que a poe-
sia não é de difícil entendimento, apenas necessita de mais cui-
dado e atenção, para que haja um entendimento da mesma. Se-
gundo Suassuna (2006, p. 227), durante muito tempo
J29
Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
[...] em virtude de uma concepção de linguagem como
sistema/código, [...] o ensino de português centralizou -
se nas regras gramaticais que normatizavam a variedade
linguística padrão, apresentada nas gramáticas tradicio-
nais, com base em exemplos da literatura, como modelo
de bom uso da língua
Tomando por base o que foi dito acima, podemos perceber
que a forma de se ensinar a leitura e a escrita no âmbito do
ensino fundamental e médio, principalmente no tocante à Litera-
tura, sempre foi vista como um sistema de obras e autores, his-
tória literária ou conjunto de textos consagrados de grandes au-
tores, mas sem contexto nenhum com a realidade que circun-
dam os alunos. Uma didática de transmissão de informações
fragmentárias acerca da literatura, a exemplo de biografias dos
autores e títulos de obras, das datas e periodização, resumos e
trechos de obras com suas respectivas características, ao invés
do exercício original da leitura da obra e da escrita, assim como
a sua análise linguística, numa concepção fragmentária de ensino
na qual se tinha separadamente língua, literatura e redação.
A aprendizagem da interpretação da poesia compreende o
desenvolvimento em coordenar conhecimentos dos vários senti-
dos que um texto poético proporciona. Uma forma para melhorar
a aprendizagem é a aproximação constante da poesia, como
também a utilização do conhecimento prévio. O conhecimento
prévio engloba o conhecimento linguístico, que abrange desde o
conhecimento sobre pronunciar o português, passando pelo co-
nhecimento de vocabulário e regras da língua, chegando até o
conhecimento sobre o uso da língua. O conhecimento do texto,
que se refere às noções e conceitos sobre o texto, e, por últi-
mo, o conhecimento de mundo, que é adquirido informalmente
através das experiências do convívio numa sociedade, cuja ati-
vação, no momento oportuno, é também essencial à compreen-
são de um poema. Se estes conhecimentos não forem respei-
tados, o entendimento e a compreensão do poema podem real-
mente ficar prejudicados, e, assim como foi dito anteriormente,
de difícil interpretação. Como exemplo do que foi dito acima, ve-
jamos o poema ‚Balada do amor através das idades‛ (ANDRADE,
1973).
J30
Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
Eu te gosto, você me gosta desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana
Troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
Para matar seu irmão.
Matei, brigamos, morremos.
[...]
Mas depois de mil peripécias,
Eu, herói da Paramount,
Te abraço, beijo e casamos.
O entendimento do poema pode ser de difícil compreensão
se o leitor não tiver um dos conhecimentos acima citados. A po-
esia de Andrade exige do aluno um bom conhecimento de mun-
do e da história para que ele compreenda a poesia, pois nela é
citado, de certa forma, a Guerra de Troia, os costumes romanos,
como também exibe o nome de um dos maiores estúdios de Hol-
lywood, fazendo referência aos finais felizes dos filmes. Para
tornar menos árduo os problemas do distanciamento, de inter-
pretação e de compreensão poética, é preciso que o professor
entenda que o ato de interpretar um poema não pode restringir -
se a sua forma de apresentação sobre uma página, ou seja, co-
mo ocorre a disposição das palavras, dos versos, das rimas e
das estrofes, e nem somente aos questionamentos apresentados
nas atividades de interpretação propostas nos livros, pois como
afirma Micheletti (2001, p. 22) ‚Frequentemente a interpretação
textual dadas nos livros e materiais afins tem um caráter
‘impressionista’, ou seja, o autor das questões propostas ou dos
comentários registra as suas intuições, as suas impressões so-
bre o texto.‛ Para José (2003, p. 11), ‚vivemos rodeados de poe-
sia‛, ou seja, poesia é tudo que nos cerca e que nos emociona
quando tocamos, ouvimos ou provamos, poesia é a nossa inspi-
ração para viver a vida. ‚[...] ser poeta é um dom que exige ta-
lento especial. Brincar de poesia é uma possibilidade aberta a
todos [...]‛ (JOSÉ, 2003, p. 101). Todas as fórmulas capazes de
despertar na criança e no adolescente a sensibilidade para a
poesia são válidas. É necessário, para isso, que a poesia seja
frequentemente trabalhada para que ocorra um interesse por
ela. É interessante destacar também que criar um local para afi-
xar vários tipos de poesia é um método eficaz para o incentivo
J31
Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
da leitura e interpretação poética, pois quanto mais se lê, mais
se aprende e se cria o hábito da leitura não só de poesia como
de outros tipos de textos. Pinheiro (2002, p. 26) afirma que:
Improvisar um mural, onde os alunos, durante uma se-
mana, um mês, ou o ano todo colocam os versos de
que mais gostam [...] de qualquer época ou autor são
procedimentos que vão criando um ambiente [...] em que
o prazer de lê-la passa a tomar forma.
Outras formas de trabalhar a poesia na escola e de forma
lúdica é trabalhando com métodos como a interpretação teatral
de poesias, desenho, dança ou outras formas que o professor
considerar importantes e das quais os alunos gostem. Temos um
exemplo disso na ‚Canção do Exílio‛, de Gonçalves Dias, com a
qual o professor pode trabalhar a poesia e as datas comemora-
tivas, como é o caso do dia 07 de Setembro, momento em que
os brasileiros mostram seu patriotismo comemorando a Indepen-
dência do Brasil. O professor poderia fazer primeiramente uma
leitura crítica, levando os alunos a observar a poesia, e traçar
um paralelo da época em que a canção foi feita, observando se
a terra natal (Brasil) hoje é tão perfeita como apresenta Gonçal-
ves Dias em sua poesia. Apesar de bastante criticada, também
é uma forma proveitosa de aprender a gostar e interpretar a
poesia, além de o professor poder fazer pontes com outros gê-
neros literários, como o Modernismo, fase na qual a ‚Canção do
Exílio‛ foi muito parodiada e parafraseada e continua sendo até
hoje.
Esse tipo de poesia só se torna chato, ruim de trabalhar,
pobre, sem criatividade, quando lembrado só nestas datas. No
poema ‚O Bicho‛, de Manuel Bandeira, temos a retratação da
desigualdade social. Extraído da notícia de jornal, o poema incen-
tiva a produção de uma narração, relatando o cotidiano humilde
das pessoas desprestigiadas socialmente, levando o aluno a
descobrir qual o tema apresentado na poesia para depois escre-
ver de acordo com o tema solicitado. A poesia pode e deve ser
trabalhada não só nas aulas de literatura e redação (isso quan-
do trabalham) como nas aulas de História, Geografia, entre ou-
tras, como é o caso de ‚A Rosa de Hiroxima‛, de Vinícius de
J32
Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
Moraes, que retrata e dialoga com o triste acontecimento da Se-
gunda Guerra Mundial, e explosão da Bomba Atômica em Hiroxi-
ma.
A ROSA DE HIROXIMA
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
A poesia supracitada pode ser trabalhada numa aula de
história, em que o professor, através dos versos, possa explicar
todo o conteúdo desse horrível acontecimento, o porquê de o
poema se chamar ‚A Rosa de Hiroxima‛, como também explicar
que os escritores modernistas transferiam o momento vivido pa-
ra as poesias, como é o caso de Vinícius de Moraes.
CONCLUSÃO
Os professores devem trabalhar com a poesia com seus
alunos, porque esta atividade vem sendo indicada como um dos
meios mais eficazes para trabalhar o desenvolvimento das habili-
dades de percepção sensorial da criança e do adolescente, do
senso estético e de suas competências leitoras e simbólicas. A
interação com a poesia é uma das responsáveis pelo desenvol-
vimento pleno da capacidade linguística da criança e do adoles-
J33
Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
cente, através do acesso e da familiaridade com a linguagem
conotativa e refinamento da sensibilidade para a compreensão
de si própria e do mundo, o que faz este tipo de linguagem uma
ponte imprescindível entre o indivíduo e a vida. É muito impor-
tante trabalhar a poesia no contexto escolar com o apoio do
professor, visto a sala de aula ser, antes de tudo, um território
da inventividade e na maioria das vezes também lugar onde se
instiguem as possibilidades de criação e inovação. A poesia en-
canta principalmente os adolescentes, crianças e jovens e é ser
imaginosa, fantasiosa, além de ter o poder de despertar para
algo que já é seu: a alegria de viver, a espontaneidade, a graça,
a inventividade e a sua criatividade. É possivelmente nesse as-
pecto, o da gratuidade da poesia, que estará a resposta para o
como e o porquê de trabalhar com a poesia na sala de aula,
pois não se trata de ‚fazer poetas‛, a escola não tem essa fun-
ção, mas sim de assumir a responsabilidade de despertar, de-
senvolver no aluno (leitor) a habilidade para sentir a poesia, e
cabe ao professor o papel de provocador deste estado de sen-
sibilização, de iluminador de caminhos para a leitura poética. Lo-
go, sensibilizados os dois – professor e aluno -, cumpre-se o
caminho da poesia.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. (10 livros de poesia). 5.
ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.
AVERBUCK, Lígia Marrone. A poesia e a escola. In: ZILBERMAN,
Regina (org). Leitura em crise na escola: as alternativas do pro-
fessor. 9. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. 5. ed.
São Paulo: Ática, 1991
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo:
Contexto, 2009.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura infantil: Teoria e
prática. 5. ed. São Paulo: Ática, 1986.
J34
Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011
DIAS, Gonçalves. Os melhores poemas de Gonçalves Dias. Sele-
ção de José Carlos Garbuglio. 2. ed. São Paulo: Global, 1997.
FRANTZ, Maria Helena Zancan. O ensino da literatura nas séries
iniciais. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 1997.
JOSÉ, Elias. A poesia pede passagem: um guia para levar a poe-
sia às escolas. São Paulo: Paulus, 2003.
MICHELETTI, Guaraciaba (Coord.). Leitura e construção do real : o
lugar da poesia e da ficção. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
MORAES, Vinícius de. Antologia poética. 18. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1980.
PINHEIRO, Helder. Poesia na sala de aula. 2. ed. João Pessoa:
Ideia, 2002.
SUASSUNA, Lívia. Ensino de língua portuguesa : uma abordagem
pragmática. Campinas- SP: Papirus, 1995.
ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil bra-
sileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
NOTAS
1 GERBARA, Ana Elvira. Reflexões sobre o ensino de poesia. Disponí-
vel em: <http://www.escrevendo.cenpec.org.br/ecf >. Acesso em: 01
jun. 2011.
2 Idem.
3 Ibidem.
4 Idem, Ibidem.

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  • 1. J21 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 COMO E POR QUE TRABALHAR COM A POESIA NA SALA DE AULA Eliseu Ferreira da Silva Li cen cia tu ra em Letr a s Ver ná cula s z eul is o@ g ma il . co m Wellington Gomes de Jesus (coautor) Li cen cia tu ra em Letr a s co m Esp an ho l l l ewgo mez @g mai l. co m Resumo: Sabemos da importância da poesia na vida de todos. Porém, há muito tempo que, muitas escolas insistem em não tra- balhá-la na sala de aula, escolhendo trabalhar com ‚coisas mais sérias e importantes‛, principalmente nas séries iniciais. E ainda quando se trabalha literatura na escola, a opção é pendida para os textos prosódicos, o que tem privado o aluno de uma ‚experiência inigualável‛, conforme atenta Zancan Frantz (1998, p. 80). Pretendemos mostrar neste artigo como aprimorar o uso da poesia na sala de aula através de experiências bem sucedidas, resgatando, assim, os prazeres da leitura -poética, essa capaz de mudar o mundo. Palavras-chave: Poesia, Escola, Literatura, Sala de aula. Resumen: Sabemos de la importancia de la poesía en la vida de todos. Pero, hace tiempo que, muchas escuelas insisten en no trabajarla en las clases, eligiendo trabajar ‚cosas más serias e importantes‛, principalmente, en la educación infantil. Y aun cuando se trabaja literatura en la escuela, la opción es pendida para los textos prosódicos lo que priva los alumnos de una ‚experiencia inigualable‛, conforme atenta Maria Helena Zancan Frantz (1998, p. 80). Se pretende mostrar en este artículo como perfeccionar el uso de la poesía en clase a través de experien- cias bien ocurridas, rescatando así, el placer de la lectura poéti- ca; capaz de cambiar el mundo. Palabras-llave: Poesía, Escuela, Literatura, Clase. ISSN 2236-3335
  • 2. J22 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 INTRODUÇÃO Este artigo é uma tentativa de resgatar um pouco dessa magia, desse poder de encantar que a poesia e a literatura têm – entretanto, sem a pretensão de esgotar a fortuna crítica e te- órica a respeito do tema –, e que na maioria das vezes é es- quecida ou substituída tão facilmente pelos novos veículos de mídia existentes, pelas inovações tecnológicas. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que nos deparamos com a leitura do texto eletrônico ou com o uso de multimídia, tão comuns à sociedade contemporânea, não desmerecemos o livro impresso, nem a bi- blioteca. Resgatemos a leitura da poesia em voz alta, que serve como motivação aos alunos, mas não desconsideremos a leitura silenciosa, individual. METODOLOGIA Compreendemos a poesia como linguagem na sua carga máxima de significado e de reflexão, poesia -pensante, mas tam- bém ritmo, dança, música, sentimento, emoção, revolução, poesia que tem função social, poesia de caráter humanizador, ético, ca- paz de mudar o mundo. E para tudo isso é necessário que haja o contato, senão estaríamos falando às paredes, devido o quase inexistente contato que o aluno tem na escola com esse tipo de Gênero Literário. Ana Elvira Gerbara em seu texto, Reflexões sobre o ensino de poesia1 , diz que chegado o poema à sala de aula, algumas perguntas também às acompanham: Como trabalhar com gêneros literários que não parecem fazer parte do cotidiano? Como torná -los significativos para os nossos alunos? Como trabalhar com a autoria em gêneros que exigem domínio da tradição e uma bus- ca pela inovação - recorte da matéria linguística e temá- tica de forma singular? 2 O poema muitas vezes entra na sala de aula e é apresen- tado aos alunos através do professor, quase sempre é o sufici- ente para que aquele seja aceito e trabalhado em sala de aula. Porém, os poemas devem ser apresentados de modo que sua
  • 3. J23 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 completude possa esclarecer as tradições descritas pelos poe- tas que escreveram e pelos que nestes se basearam para es- crever, ou seja, os seus antecedentes. Por isso, a autora nos diz que Dessa forma, ensinar poesia (em todos os seus subgê- neros) é trabalhar o texto como resposta a uma neces- sidade, a alguém (o leitor), a um tempo definido. A poesi- a dentro dessa concepção é um modo de viver o mundo (ver, sentir, experimentar e projetar) e cada composição poética reflete quem somos, o que pensamos, sentimos e buscamos.3 Os poemas revelam representações, conexões, manifesta- ções das mais variadas formas que encontramos desde tempos remotos — época das cavernas — até os nossos índios em torno de fogueiras, mas, ainda assim, relacionadas à cultura popular em subgêneros poéticos com ritmos e rimas, com o prazer e o encantamento que a poesia oral nos evoca. E nas produções poéticas dos alunos, essas representações se apresentam de forma oral como o cordel ou os poemas em quadras, nos quais podemos notar dois caminhos a seguir para dar continuidade à presença do poema em sala de aula, a leitura e escrita. Recorre- mos mais uma vez a Gerbara: O primeiro caminho é o da fruição, ou seja, depois de tanto trabalho com o poema, precisamos recuperar a gratuidade da presença desses textos em sala simples- mente porque fazem parte da nossa cultura e são expe- riências variadas que o aluno precisa ter, para construir, pela interferência dessa presença, a sua leitura interpre- tativa, acompanhada de um gosto pessoal. O segundo é o da percepção que cada professor constrói e pode ser condensado em três questões: Os alunos são poetas para vocês? Os alunos são autores para vocês? Vocês são leitores dos seus alunos? 4 Ao responder essas questões também estaremos iniciando um novo percurso: o de não cumprir uma atividade ‚porque sim‛. Assim, uma provável causa de os professores não traba- lharem a poesia em sala de aula se deve à falta da prática de
  • 4. J24 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 leitura desse gênero nas escolas. Segundo Bamberger (1986, p. 74-75): Está claro que a personalidade do professor e, particu- larmente, seus hábitos de leitura são importantíssimos para desenvolver os interesses e hábitos de leitura nas crianças, sua própria educação também contribui de for- ma essencial para a influência que ele exerce. Na sala de aula, a leitura de poesia precisa tornar -se um hábito, e se isso não acontece, se o aluno não for estimulado a ler, o professor rejeita essa leitura. Isso ocorre desde o início de sua formação enquanto educadores de Língua Materna. Po- demos dizer que se o professor não tiver o hábito da leitura de poemas, se ele ‚[...] não se sensibilizar com o poema, dificilmente ele conseguirá emocionar seus alunos [...]‛ (CUNHA, 1986, p. 95). LEITURA DE POESIA NA SALA DE AULA: EXERCÍCIO CRÍTICO E LEITURA O estimulo à leitura não se resume apenas a fazer com que os alunos leiam, mas que esse seja um ato e exercício críti- co. Para isso, um meio é o desenvolvimento de oficinas gratuitas que proporcionem aos alunos o contato com a literatura. Ofici- nas estas que orientem os alunos sobre o que ler e façam com que eles descubram a leitura. É necessário apresentar a literatu- ra às pessoas, derrubar preconceitos, quebrar barreiras e rom- per a rejeição das pessoas por literatura de maneira geral e por poesia especificamente. A conexão literatura infantil -escola faz parte da origem do gênero, ou seja, tal ligação surgiu porque a literatura infantil nasceu para cumprir o papel de educar a crian- ça para a sociedade moderna que se aproximava. De acordo com Zilberman (2005), desde o começo da literatura infantil bra- sileira, no início do século XX, a poesia esteve presente, porém acompanhava a estética parnasiana da época, que, de acordo com a estudiosa, era ‚pouco afeita ao gosto da crian- ça‛ (ZILBERMANN, 2005, p.127). É só com o programa modernis- ta, a partir da década de 20, que aparece a maioria dos livros dedicados às crianças, agora evidenciando técnicas e princípios
  • 5. J25 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 mais livres e libertários. Assim sendo, muitos poetas modernos brasileiros escreveram para crianças. Escrever versos para cri- anças e esperar que essas apreciem a leitura é estabelecer uma conexão entre brincar e escrever, por isso, o ângulo lúdico é fundamental em todo o poema dirigido aos pequenos. Foi justa- mente ‚a valorização do lado lúdico da linguagem que propiciou a expansão da poesia endereçada à infância, a partir dos anos 80” (ZILBERMAN, 2005, p. 129), quando se descobriu a poesia para crianças. Devemos levar a poesia para as nossas casas, para o nosso trabalho, para os nossos momentos de lazer e diversão, pois os prazeres da leitura são múltiplos e mal cabem em uma só pessoa, eles tem de ser compartilhados para que mais e mais pessoas possam sentir -se em um mundo de sonhos sem fim, como num caminho sem volta onde o passaporte é a leitura. LITERATURA, POESIA E A FORMAÇÃO DE CIDADÃOS CRÍTICOS A poesia está presente no dia a dia de todas as pessoas, e essa linguagem é cada vez mais necessária à vivência huma- na por ser uma das mais representativas formas de arte. O pre- conceito que chega a todas as esferas da vida social, inclusive à escola, nutre no professor um certo desinteresse, e até mes- mo um certo mal-estar ou culpa, por ocupar suas aulas com a leitura de textos poéticos. Essa posição do professor se associa não apenas ao desconhecimento das possibilidades de uso da literatura em geral, através da poesia, mas também como da própria função da arte no desenvolvimento da personalidade hu- mana, que está diretamente ligada à própria situação da arte na textura social. Ao optar por eliminar à arte de seus itinerários programáticos, a escola apenas reflete a atitude da sociedade em geral. Vejamos isso em Drummond: A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem, sem, via de regra, fazê -lo através da po- esia da matemática, da geografia, da linguagem. A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua capacidade de viver poeticamente o conhecimento e o mundo [...]. O que eu pediria à escola, se não me faltas-
  • 6. J26 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 sem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas, e depois como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética. (DRUMMOND apud AVERBUCK, 1988, p. 66 -67) Como já dizia Drummond, é nesse meio que se insere a escola, como facilitadora do processo que eleva a importância ‚de um ensino voltado para a criatividade como meio formador da sensibilidade‛ (AVERBUCK, 1988, p. 67). A poesia está para além da linguagem poética, está na linguagem da vida. A impor- tância de trabalhar este tema decorre de ser ele pouco difundi- do entre as séries iniciais, deixando assim um rombo enorme nas séries subsequentes que continuam sem ver a poesia na sala de aula, e resumindo a literatura, na maioria das vezes quando trabalhada, a textos prosódicos, ficando assim a poesia à margem do que é ensinado nas escolas. O que acontece é uma supervalorização da prosa literária em relação à poesia. Mas a poesia, além de ser uma linguagem extremamente atual, anota-se como necessária para a formação de novos cidadãos críticos e será utilizada por toda a vida do aluno, não só na vida escolar, como fora dela também. Deseja -se através da linguagem poética e do livro escrito instigar os alunos e educadores a criar e cultivar bons hábitos de leitura e que assim possam se portar frente aos inúmeros discursos/linguagens que o cercam na so- ciedade a qual estão inseridos. LETRAMENTO LITERÁRIO COMO ESTÍMULO A LEITURA DE POESIA Rildo Cosson, no livro Letramento literário: teoria e prática, defende que o processo de letramento literário é diferente da leitura literária por fruição, aliás, uma depende da outra. Para ele, a literatura deve ser ensinada na escola: [...] devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da esco- la. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve
  • 7. J27 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer e a escolarização sem descaracterizá -la, sem transformá -la em um simula- cro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização.‛ (COSSON, 2009, p. 23) O autor completa ainda dizendo que, desta forma, no letra- mento literário não podemos simplesmente exigir que o aluno leia a obra e ao final faça uma prova ou ficha, pois a leitura é cons- truída a partir dos mecanismos que a escola desenvolve para a proficiência da leitura literária. Em seu texto, Cosson apresenta um interesse claro pelo ensino de literatura na escola básica, levantando quatro etapas necessárias à iniciação do letramento literário, a saber, a motivação, a introdução, a leitura e a inter- pretação. Contudo, é a interpretação que nos traz uma impor- tante visão a respeito dos resultados daquela ação – o letra- mento. Conforme o autor, a interpretação se dá em dois momen- tos: um interior e outro exterior. O momento interior compreende a decifração, é chamado de ‚encontro do leitor com a obra‛ e não pode, de forma alguma, ser substituído por algum tipo de intermediação como resumo do livro, filmes, minisséries. Já o momento exterior é a ‚materialização da interpretação como ato de construção de sentido em uma determinada comunida- de‛ (COSSON, 2009, p. 65). A escola tem papel singular nesse momento, visto ser ela talvez a principal responsável pela for- mação e consolidação de alunos leitores, para que sejam críticos e cidadãos atuantes de fato. A LEITURA LITERÁRIA COMO ENCORAJADORA DA LEITURA POÉTICA Como dito acima, a prosa literária, com sua supervaloriza- ção, ocupou espaços que antes eram destinados à poesia, e isso se deve à forma como ela é trabalhada nas escolas, não de uma forma que faça com que os alunos se encantem e te- nham gosto pela leitura, mas sem a história, sem o contexto em que a poesia foi escrita, sem o devido valor que a poesia mere- ce. O importante é que o professor estimule os seus alunos a escutar essa linguagem (poética), despertando assim seus ouvi-
  • 8. J28 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 dos para os versos, e que a criança descubra em si mesma es- ses versos e neles se encontre, refaça -se e se reencontre. En- fatizemos aqui a necessidade de se criar o hábito da leitura de poesias, conjuntamente com a sua escrita e análise lingüística, desde as séries iniciais, por ser mais apropriado para o seu fu- turo entendimento. Por isso, a importância da promoção do letra- mento literário no processo de escolarização da literatura. O ob- jetivo não é transformar os alunos em grandes escritores de poesias, até por que não se faz poetas, só estimulam -se a ler e escrever desde cedo, e poetas nascem com esse dom. O obje- tivo é transformá-los em leitores aptos a interpretar e compre- ender o que o poeta quis transmitir através dos versos. A ideia vem referendada pela pesquisa de vários autores que têm estu- dado as questões de leitura e de trabalhos com poesia em sala de aula, como Pinheiro (2002); Micheletti (2001); Frantz (1997), Cu- nha (1986), os quais investigam as dificuldades que os alunos possuem em interpretar esses textos, não só pela falta de co- nhecimento prévio, como também pelo pouco contato que eles têm com a poesia. Conscientes de que a poesia ainda é um gênero literário distante da sala de aula, é preciso descobrir for- mas de familiarizá-la e torná-la próxima das crianças, adolescen- tes e jovens. Muitas pessoas desconhecem a poesia, visto a prosa ser mais fácil e estar diretamente ligada com o real. A po- esia possui uma linguagem mais especializada. Se a prosa narra ações, a poesia quebra núcleos e apresenta metáforas, metoní- mias, paráfrases, além de poder ser parodiada, como no caso da ‚Canção do Exílio‛, que veremos à frente. Mas ler poesia não é tão difícil quanto se pensa, basta se acostumar à linguagem. Es- sa forma de familiarização e aproximação deve ser feita com moderação, e através de um planejamento a longo prazo, para evitar afirmações como: poemas são difíceis de entender, com- preender e interpretar. Pinheiro (2002, p. 23), afirma que ‚[...] a leitura de textos poéticos tem peculiaridades e carece, portanto, de mais cuidados que a prosa.‛ Assim, percebemos que a poe- sia não é de difícil entendimento, apenas necessita de mais cui- dado e atenção, para que haja um entendimento da mesma. Se- gundo Suassuna (2006, p. 227), durante muito tempo
  • 9. J29 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 [...] em virtude de uma concepção de linguagem como sistema/código, [...] o ensino de português centralizou - se nas regras gramaticais que normatizavam a variedade linguística padrão, apresentada nas gramáticas tradicio- nais, com base em exemplos da literatura, como modelo de bom uso da língua Tomando por base o que foi dito acima, podemos perceber que a forma de se ensinar a leitura e a escrita no âmbito do ensino fundamental e médio, principalmente no tocante à Litera- tura, sempre foi vista como um sistema de obras e autores, his- tória literária ou conjunto de textos consagrados de grandes au- tores, mas sem contexto nenhum com a realidade que circun- dam os alunos. Uma didática de transmissão de informações fragmentárias acerca da literatura, a exemplo de biografias dos autores e títulos de obras, das datas e periodização, resumos e trechos de obras com suas respectivas características, ao invés do exercício original da leitura da obra e da escrita, assim como a sua análise linguística, numa concepção fragmentária de ensino na qual se tinha separadamente língua, literatura e redação. A aprendizagem da interpretação da poesia compreende o desenvolvimento em coordenar conhecimentos dos vários senti- dos que um texto poético proporciona. Uma forma para melhorar a aprendizagem é a aproximação constante da poesia, como também a utilização do conhecimento prévio. O conhecimento prévio engloba o conhecimento linguístico, que abrange desde o conhecimento sobre pronunciar o português, passando pelo co- nhecimento de vocabulário e regras da língua, chegando até o conhecimento sobre o uso da língua. O conhecimento do texto, que se refere às noções e conceitos sobre o texto, e, por últi- mo, o conhecimento de mundo, que é adquirido informalmente através das experiências do convívio numa sociedade, cuja ati- vação, no momento oportuno, é também essencial à compreen- são de um poema. Se estes conhecimentos não forem respei- tados, o entendimento e a compreensão do poema podem real- mente ficar prejudicados, e, assim como foi dito anteriormente, de difícil interpretação. Como exemplo do que foi dito acima, ve- jamos o poema ‚Balada do amor através das idades‛ (ANDRADE, 1973).
  • 10. J30 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 Eu te gosto, você me gosta desde tempos imemoriais. Eu era grego, você troiana Troiana mas não Helena. Saí do cavalo de pau Para matar seu irmão. Matei, brigamos, morremos. [...] Mas depois de mil peripécias, Eu, herói da Paramount, Te abraço, beijo e casamos. O entendimento do poema pode ser de difícil compreensão se o leitor não tiver um dos conhecimentos acima citados. A po- esia de Andrade exige do aluno um bom conhecimento de mun- do e da história para que ele compreenda a poesia, pois nela é citado, de certa forma, a Guerra de Troia, os costumes romanos, como também exibe o nome de um dos maiores estúdios de Hol- lywood, fazendo referência aos finais felizes dos filmes. Para tornar menos árduo os problemas do distanciamento, de inter- pretação e de compreensão poética, é preciso que o professor entenda que o ato de interpretar um poema não pode restringir - se a sua forma de apresentação sobre uma página, ou seja, co- mo ocorre a disposição das palavras, dos versos, das rimas e das estrofes, e nem somente aos questionamentos apresentados nas atividades de interpretação propostas nos livros, pois como afirma Micheletti (2001, p. 22) ‚Frequentemente a interpretação textual dadas nos livros e materiais afins tem um caráter ‘impressionista’, ou seja, o autor das questões propostas ou dos comentários registra as suas intuições, as suas impressões so- bre o texto.‛ Para José (2003, p. 11), ‚vivemos rodeados de poe- sia‛, ou seja, poesia é tudo que nos cerca e que nos emociona quando tocamos, ouvimos ou provamos, poesia é a nossa inspi- ração para viver a vida. ‚[...] ser poeta é um dom que exige ta- lento especial. Brincar de poesia é uma possibilidade aberta a todos [...]‛ (JOSÉ, 2003, p. 101). Todas as fórmulas capazes de despertar na criança e no adolescente a sensibilidade para a poesia são válidas. É necessário, para isso, que a poesia seja frequentemente trabalhada para que ocorra um interesse por ela. É interessante destacar também que criar um local para afi- xar vários tipos de poesia é um método eficaz para o incentivo
  • 11. J31 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 da leitura e interpretação poética, pois quanto mais se lê, mais se aprende e se cria o hábito da leitura não só de poesia como de outros tipos de textos. Pinheiro (2002, p. 26) afirma que: Improvisar um mural, onde os alunos, durante uma se- mana, um mês, ou o ano todo colocam os versos de que mais gostam [...] de qualquer época ou autor são procedimentos que vão criando um ambiente [...] em que o prazer de lê-la passa a tomar forma. Outras formas de trabalhar a poesia na escola e de forma lúdica é trabalhando com métodos como a interpretação teatral de poesias, desenho, dança ou outras formas que o professor considerar importantes e das quais os alunos gostem. Temos um exemplo disso na ‚Canção do Exílio‛, de Gonçalves Dias, com a qual o professor pode trabalhar a poesia e as datas comemora- tivas, como é o caso do dia 07 de Setembro, momento em que os brasileiros mostram seu patriotismo comemorando a Indepen- dência do Brasil. O professor poderia fazer primeiramente uma leitura crítica, levando os alunos a observar a poesia, e traçar um paralelo da época em que a canção foi feita, observando se a terra natal (Brasil) hoje é tão perfeita como apresenta Gonçal- ves Dias em sua poesia. Apesar de bastante criticada, também é uma forma proveitosa de aprender a gostar e interpretar a poesia, além de o professor poder fazer pontes com outros gê- neros literários, como o Modernismo, fase na qual a ‚Canção do Exílio‛ foi muito parodiada e parafraseada e continua sendo até hoje. Esse tipo de poesia só se torna chato, ruim de trabalhar, pobre, sem criatividade, quando lembrado só nestas datas. No poema ‚O Bicho‛, de Manuel Bandeira, temos a retratação da desigualdade social. Extraído da notícia de jornal, o poema incen- tiva a produção de uma narração, relatando o cotidiano humilde das pessoas desprestigiadas socialmente, levando o aluno a descobrir qual o tema apresentado na poesia para depois escre- ver de acordo com o tema solicitado. A poesia pode e deve ser trabalhada não só nas aulas de literatura e redação (isso quan- do trabalham) como nas aulas de História, Geografia, entre ou- tras, como é o caso de ‚A Rosa de Hiroxima‛, de Vinícius de
  • 12. J32 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 Moraes, que retrata e dialoga com o triste acontecimento da Se- gunda Guerra Mundial, e explosão da Bomba Atômica em Hiroxi- ma. A ROSA DE HIROXIMA Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A antirrosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada. A poesia supracitada pode ser trabalhada numa aula de história, em que o professor, através dos versos, possa explicar todo o conteúdo desse horrível acontecimento, o porquê de o poema se chamar ‚A Rosa de Hiroxima‛, como também explicar que os escritores modernistas transferiam o momento vivido pa- ra as poesias, como é o caso de Vinícius de Moraes. CONCLUSÃO Os professores devem trabalhar com a poesia com seus alunos, porque esta atividade vem sendo indicada como um dos meios mais eficazes para trabalhar o desenvolvimento das habili- dades de percepção sensorial da criança e do adolescente, do senso estético e de suas competências leitoras e simbólicas. A interação com a poesia é uma das responsáveis pelo desenvol- vimento pleno da capacidade linguística da criança e do adoles-
  • 13. J33 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 cente, através do acesso e da familiaridade com a linguagem conotativa e refinamento da sensibilidade para a compreensão de si própria e do mundo, o que faz este tipo de linguagem uma ponte imprescindível entre o indivíduo e a vida. É muito impor- tante trabalhar a poesia no contexto escolar com o apoio do professor, visto a sala de aula ser, antes de tudo, um território da inventividade e na maioria das vezes também lugar onde se instiguem as possibilidades de criação e inovação. A poesia en- canta principalmente os adolescentes, crianças e jovens e é ser imaginosa, fantasiosa, além de ter o poder de despertar para algo que já é seu: a alegria de viver, a espontaneidade, a graça, a inventividade e a sua criatividade. É possivelmente nesse as- pecto, o da gratuidade da poesia, que estará a resposta para o como e o porquê de trabalhar com a poesia na sala de aula, pois não se trata de ‚fazer poetas‛, a escola não tem essa fun- ção, mas sim de assumir a responsabilidade de despertar, de- senvolver no aluno (leitor) a habilidade para sentir a poesia, e cabe ao professor o papel de provocador deste estado de sen- sibilização, de iluminador de caminhos para a leitura poética. Lo- go, sensibilizados os dois – professor e aluno -, cumpre-se o caminho da poesia. REFERÊNCIAS ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. (10 livros de poesia). 5. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. AVERBUCK, Lígia Marrone. A poesia e a escola. In: ZILBERMAN, Regina (org). Leitura em crise na escola: as alternativas do pro- fessor. 9. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. 5. ed. São Paulo: Ática, 1991 COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009. CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura infantil: Teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Ática, 1986.
  • 14. J34 Revista Graduando nº2 jan./jun. 2011 DIAS, Gonçalves. Os melhores poemas de Gonçalves Dias. Sele- ção de José Carlos Garbuglio. 2. ed. São Paulo: Global, 1997. FRANTZ, Maria Helena Zancan. O ensino da literatura nas séries iniciais. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 1997. JOSÉ, Elias. A poesia pede passagem: um guia para levar a poe- sia às escolas. São Paulo: Paulus, 2003. MICHELETTI, Guaraciaba (Coord.). Leitura e construção do real : o lugar da poesia e da ficção. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. MORAES, Vinícius de. Antologia poética. 18. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. PINHEIRO, Helder. Poesia na sala de aula. 2. ed. João Pessoa: Ideia, 2002. SUASSUNA, Lívia. Ensino de língua portuguesa : uma abordagem pragmática. Campinas- SP: Papirus, 1995. ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil bra- sileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. NOTAS 1 GERBARA, Ana Elvira. Reflexões sobre o ensino de poesia. Disponí- vel em: <http://www.escrevendo.cenpec.org.br/ecf >. Acesso em: 01 jun. 2011. 2 Idem. 3 Ibidem. 4 Idem, Ibidem.