3. ESTATUTO SOCIAL DAS
PERSONAGENS
A família Maia:
“Os Maias eram uma antiga família da Beira, sempre pouco numerosa,
sem linhas colaterais, sem parentelas - e agora reduzida a dois
varões, o senhor da casa, Afonso da Maia, um velho já, quasi um
antepassado, mais idoso que o século, e seu neto Carlos que
estudava medicina em Coimbra. Quando Afonso se retirara
definitivamente para Santa Olavia, o rendimento da casa excedia já
cinquenta mil cruzados: mas desde então tinham-se acumulado as
economias de vinte anos de aldeia; viera também a herança dum
último parente, Sebastião da Maia, que desde 1830 vivia em Nápoles,
só, ocupando-se de numismática; - e o procurador podia certamente
sorrir com segurança quando falava dos Maias e da sua fatia de pão.”
– Capítulo I
4. ESTATUTO MORAL DAS
PERSONAGENS
AFONSO DA MAIA
‘’Afonso era um pouco baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes:
e com a sua face larga de nariz aquilino, a pele corada, quasi
vermelha, o cabelo branco todo cortado à escovinha, e a barba de
neve aguda e longa - lembrava, como dizia Carlos, um varão
esforçado das idades heroicas, um D. Duarte de Menezes ou um
Afonso de Albuquerque. ’’ Capítulo I
‘’Ele mesmo costumava dizer, que era simplesmente um egoísta: -
mas nunca, como agora a velhice, as generosidades do seu coração
tinham sido tão profundas e largas. Parte do seu rendimento ia-se-
lhe por entre os dedos, esparsamente, numa caridade enternecida.
Cada vez amava mais o que é pobre e o que é fraco. Em Santa Olávia,
as crianças corriam para ele, dos portais, sentindo-o acariciador e
paciente. Tudo o que vive lhe merecia amor: - e era dos que não
pisam um formigueiro, e se compadece da sede duma planta.’’
5. ESTATUTO MORAL DAS
PERSONAGENS
CARLOS DA MAIA
’’Alto, bem feito, de ombros largos, com uma testa de mármore sob
os anéis dos cabelos pretos, e os olhos dos Maias, aqueles
irresistíveis olhos do pai, de um negro líquido, ternos como os dele, e
mais graves. Trazia a barba toda, castanha-escura, rente na face,
aguçada no queixo - o que lhe dava, com o bonito bigode arqueado
aos cantos da boca, uma fisionomia de belo cavaleiro da
Renascença".’’
6. ESTATUTO MORAL DAS
PERSONAGENS
MARIA EDUARDA
“uma senhora alta, loira… com a sua carnação ebúrnea… com um passo soberano de
Deusa, maravilhosamente bem feita…’’
‘’com um passo soberano de deusa".
"divinamente bela, quase sempre de escuro, com um curto decote onde resplandecia
o incomparável esplendor do seu colo’’
7. ESTATUTO MORAL DAS
PERSONAGENS
• Pedro da Maia
"melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas
e já velho".
"assemelhavam-no a um belo árabe’’
• Maria Monforte
‘’testa curta e clássica, o colo ebúrneo“
• João da Ega
‘’ Um amigo de Carlos (um certo João da Ega)’’
‘’ Era considerado não só em Celorico, mas também na Academia, que ele espantava
pela audácia e pelos ditos, como o maior ateu, o maior demagogo, que jamais
aparecera nas sociedades humanas’’
8. O INCESTO
Início da relação – pág. 408-409, destino – 417 – cap. XII
‘’ Ela lançou-lhe os braços ao pescoço; e os seus lábios uniram-se num beijo profundo,
infinito, quase imaterial pelo seu êxtase’’
Ega percebe que Carlos está a viver um ‘’ grande amor […], absorvente, eterno, e para
bem e para mal, tornando-se daí por diante, e para sempre, o seu irreparável destino’’
Informações de Guimarães – pág. 614-615-616; 620-622, 623-625 – cap. XVI
Informação dada a Carlos – pág. 642-644 – cap. XVII
Incesto consciente – pág. 652-653, 658 – cap. XVII
Ega apercebe-se do incesto consciente – pág. 661-662 – cap. XVII
Afonso apercebe-se do incesto consciente – pág. 663 – cap. XVII
Maria Eduarda sabe do incesto – pág. 683-684 – cap. XVII
9. O DESAFIO ( HYBRIS)
•Pedro quando casa com Maria Monforte contra a vontade do pai;
• Carlos que desafia os valores morais da sociedade, quando
concretiza a relação amorosa (incestuosa) com Maria Eduarda pois
julgava-a casada;
10. SOFRIMENTO
• Sofrimento de Carlos
‘’ Carlos ergueu-se arrebatadamente, uma revolta de todo o ser: - e tu acreditas que
isso seja possível? Acreditas que suceda a um homem como eu, como tu, numa rua de
Lisboa? Encontro uma mulher, olho para ela, conheço-a, durmo com ela e, entre todas
as mulheres do mundo, essa justamente há-de ser minha irmã! É impossível… Não há
Guimarães, não há documentos que me convençam! E como Ega permanecia mudo, a
um canto do sofá, com os olhos no chão: - Dize alguma coisa, gritou-lhe Carlos.
Duvida também, homem, duvida comigo!... É extraordinário! Todos vocês acreditam,
como se isto fosse a coisa mais natural do mundo, e não houvesse por essa cidade
fora senão irmãos a dormir juntos!’’
‘’Ele tenteava, procurando na brancura da roupa: encontrou um joelho a que percebia a
forma e o calor suave, através da seda leve: e ali esqueceu a mão, aberta e frouxa, como
morta, num entorpecimento onde toda a vontade e toda a consciência se lhe fundiam,
deixando-lhe apenas a sensação daquela pele quente e macia onde a sua palma pousava.
Um suspiro, um pequenino suspiro de criança, fugiu dos lábios de Maria, morreu na
sombra. Carlos sentiu a quentura do desejo que vinha dela, que o entontecia, terrível como
o bafo ardente dum abismo, escancarado na terra a seus pés. Ainda balbuciou: «não,
não…». Mas ela estendeu os braços, envolveu-lhe o pescoço, puxando-o para si, num
murmúrio que era como a continuação do suspiro, e em que o nome de querido sussurrava
e tremia. Sem resistência, como um corpo morto que um sopro impele, ele caiu-lhe sobre o
seio. Os seus lábios secos acharam-se colados num beijo aberto que os humedecia. E de
repente, Carlos enlaçou-a furiosamente, esmagando-a e sugando-a, numa paixão e num
desespero que fez tremer todo o leito.” Cap. XVII
“Era, surgindo do fundo do seu ser, ainda ténue mas já
percetível, uma saciedade, uma repugnância por ela desde que a
sabia do seu sangue!... Uma repugnância material, carnal, à flor
da pele, que passava como um arrepio. (…) E desgraçadamente
agora já não duvidava... Se partisse com ela, seria para bem
cedo se debater no indizível horror de um nojo físico. E que lhe
restaria então, morta a paixão que fora a desculpa do crime,
ligado para sempre a uma mulher que o enojava - e que era... Só
lhe restava matar-se!”
11. SOFRIMENTO
• Sofrimento de Afonso
“Afonso da Maia, que um tremor tomara, agarrou-se um momento
com força à bengala, caiu por fim pesadamente numa poltrona, junto
do reposteiro. E ficou devorando o neto, o Ega com um olhar
esgazeado e mudo.” (Cap. XVII)
Mais tarde:
“E afastou-se, todo dobrado sobre a bengala, vencido enfim por
aquele implacável destino que depois de o ter ferido na idade de
força com a desgraça do filho - o esmagava ao fim de velhice com a
desgraça do neto”. (Cap. XVII)
12. SOFRIMENTO
• Sofrimento de Maria Eduarda
“E Ega pousara apenas sobre o sofá a velha caixa de charutos da
Monforte - quando Maria Eduarda entrou, pálida, toda coberta de
negro, estendendo-lhe as mãos ambas.” Cap. XVII
13. ANAGNORISE
Feito por :
• Guimarães;
• Ega;
• Vilaça;
• Carlos;
• Afonso;
• Maria;
“- Muito agradecido a V. Exa! Eu junto-lhe então um bilhete e V-
Exa entrega-o da minha parte ao Carlos da Maia, ou à irmã.
Ega teve um movimento de espanto:
_ À irmã… A que irmã?
(…) – A que irmã!? A irmã dele, à única que tem, à Maria!” Cap.
XVI
‘’Parecia ter conservado um ânimo viril e firme: apenas os olhos
lhe rebrilhavam, com um fulgor seco, ansiosos e mais largos na
palidez que o cobria”
14. CATÁSTROFE
• Intriga principal:
• A morte física de Afonso da Maia;
• A quebra dos laços de paixão;
• O nojo, a vergonha;
• A separação dos irmãos;
15. PAPEL DO DESTINO
Semelhança dos nomes
Semelhança dos nomes de Carlos Eduardo e de Maria Eduarda
“Maria Eduarda, Carlos Eduardo... Havia uma similitude nos seus nomes. Quem sabe
se não pressagiava a concordância dos seus destinos” Cap. XI. pág. 346
‘’um tal nome parecia-lhe conter todo um destino de amores e façanhas’’ Cap. II
pág. 38
Semelhança dos nomes das três personagens femininas
Maria Eduarda Runa, Maria Monforte e Maria Eduarda.
16. PAPEL DO DESTINO
Destino Implacável
Após descobrir a identidade de Maria Eduarda, Afonso ‘’ afastou-se todo
dobrado sobre a bengala, vencido enfim por aquele implacável destino que,
depois de o ter ferido na idade da força com a desgraça do filho - o esmagava o
fim da velhice com a desgraça do neto.’’ Capítulo XVII, pág. 646
Inevitabilidade do destino
Ega refere-se ao destino quando diz que Carlos e a mulher que há-de ser sua
estão ‘’ ambos insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente marchando um
para o outro’’ (Cap. VI, pág.152)
17. INDÍCIOS DO DESENLACE TRÁGICO
• Alusão por parte de Vilaça à fatalidade dos Maias
‘’ uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do
Ramalhete…’’ Capítulo I
‘’- Há três anos, quando o Sr. Afonso me encomendou aqui as primeiras
obras, lembrei-lhe eu que, segundo uma antiga lenda, eram sempre fatais aos
Maias as paredes do Ramalhete. O Sr. Afonso riu de agouros e lendas… Pois
fatais foram!’’ Capítulo XVII
‘’ Os olhos de Maria perdiam-se outra vez na escuridão – como recebendo
dela o presságio de um futuro onde tudo seria confuso e escuro também’’
Capítulo XIV
18. INDÍCIOS DO DESENLACE TRÁGICO
• A semelhança fisionómica de Carlos com a mãe, reconhecida por
Maria Eduarda
‘’ Pareces-te com a minha mãe! […] – Tens razão – disse ela – que a mamã
era formosa… Pois é verdade, há um não sei quê na testa, no nariz… Mas
sobretudo certos jeitos, uma maneira de sorrir… Outra maneira que tu tens
de ficar assim um pouco vago, esquecido… Tenho pensado nisto muitas
vezes…’’ Capítulo XIV
A semelhança temperamental de Maria Eduarda e Afonso da Maia,
reconhecida por Carlos.
‘’ e nestas piedades Carlos achava-lhe semelhanças com o avô’’
19. INDÍCIOS DO DESENLACE TRÁGICO
• A advertência a Carlos, por parte de Ega, de que a sua volubilidade
sentimental terá consequências trágicas
‘’ hás de vir a acabar[…] numa tragédia infernal’’ Capítulo VI
•O sonho de Carlos, após a primeira visão de Maria Eduarda em frente
ao Hotel central, evocando-a como uma deusa;
• Decoração da Toca e da casa de Maria Eduarda: “os amores de Vénus e
Marte”, “a cabeça degolada”, “uma enorme coruja” presentes na Toca. “os olhos de
Maria Eduarda pendiam-se outra vez na escuridão – como recebendo dela o
presságio de um futuro onde tudo seria confuso e escuro também” Capítulo XI
‘’um vaso do Japão onde murchavam três belos lírios brancos” Capítulo XI, pág. 347