1. Nutrição e Esporte
Uma abordagem bioquímica
QBQ 2003
Departamento de Bioquímica
Instituto de Química
USP
2. Nutrição e Esporte
Uma abordagem bioquímica
Professores
Alexandre Z. Carvalho (ale.zat.carvalho@bol.com.br)
André Amaral G. Bianco (biancob@iq.usp.br)
Daniela Beton (danielab@iq.usp.br)
Erik Cendel Saenz Tejada (esaenz@iq.usp.br)
Fernando H. Lojudice da Silva (lojudice@iq.usp.br)
Karina Fabiana Ribichich (kribi@iq.usp.br)
Leonardo de O. Rodrigues (leonardo@iq.usp.br)
Sayuri Miyamoto (miyamot@iq.usp.br)
Tie Koide (tkoide@iq.usp.br)
Supervisor
Bayardo B. Torres (bayardo@iq.usp.br)
2003
3. Cronograma das Aulas
Nutrição e Esporte – Uma abordagem bioquímica (QBQ 2003)
Instituto de Química da USP – Bloco 6 inferior
Dia Período Tema Abordado
Manhã Apresentação do curso
Contração muscular e fibras
Revisão de vias metabólicas
10/02/2003
Tarde Adaptação
Tomada de O2
VO2
Manhã Lactato
Carboidratos
Lipídeos
Intensidade do exercício físico
11/02/2003
Tarde Proteínas
Manhã Estresse Oxidativo
Defesa Anti-Oxidante
12/02/2003
Tarde Vitaminas
Sais Minerais
Câimbra
Hidratação
13/02/2003 Manhã Doping
Tarde Suplementos
14/03/2003 Manhã Grupos Especiais
Tarde Palestra
4. INDICE
1. Contração Muscular e Fibras....................................................................... 1
2. Revisão – Vias metabólicas....................................................................... 16
3. ?-Oxidação .............................................................................................. 23
4. Síntese de Ácidos Graxos......................................................................... 28
5. Tomada de Oxigênio ................................................................................ 30
6. Déficit de O2 ............................................................................................ 31
7. VO2max - Consumo máximo de oxigênio ................................................... 32
8. Recuperação após o exercício ................................................................... 35
9. Limiar de Lactato..................................................................................... 40
10. Adaptações na utilização de diferentes substratos durante o treinamento... 42
11. Treinamento de longa duração e alta intensidade ..................................... 44
12. Exercícios de intensidade baixa e moderada.............................................. 46
13. Proteínas................................................................................................. 48
14. Carboidratos............................................................................................ 55
15. Lipídios.................................................................................................... 57
16. Estresse Oxidativo, Defesa Antioxidante e Atividade Física ......................... 61
17. Vitaminas e Minerais ................................................................................ 80
18. Adaptações ao exercício em diferentes populações.................................... 91
19. Doping ...................................................................................................103
20. Suplementos..........................................................................................119
21. Suplementação de Aminoácidos...............................................................131
22. Hidratação..............................................................................................135
23. Mitos e verdades acerca dos suplementos alimentares..............................136
24. Apêndice ................................................................................................139
5. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
1. Contração Muscular e Fibras
SISTEMA MUSCULAR
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -1-
6. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
1.1. Introdução
Os músculos são órgãos constituídos principalmente por tecido muscular,
especializado em contrair e realizar movimentos, geralmente em resposta a um
estímulo nervoso. Os músculos podem ser formados por três tipos básicos de tecido
muscular (figura 1):
Tecido Muscular Estriado Esquelético
Apresenta, sob observação microscópica, faixas alternadas transversais,
claras e escuras. Essa estriação resulta do arranjo regular de microfilamentos
formados pelas proteínas actina e miosina, responsáveis pela contração
muscular. A célula muscular estriada chamada fibra muscular, possui
inúmeros núcleos e pode atingir comprimentos que vão de 1mm a 60 cm.
Tecido Muscular Liso
Está presente em diversos órgãos internos (tubo digestivo, bexiga, útero etc)
e também na parede dos vasos sanguíneos. As células musculares lisas são
uninucleadas e os filamentos de actina e miosina se dispõem em hélice em
seu interior, sem formar padrão estriado como o tecido muscular esquelético.
A contração dos músculos lisos é geralmente involuntária, ao contrário da
contração dos músculos esqueléticos.
Tecido Muscular Estriado Cardíaco
Está presente no coração. Ao microscópio, apresenta estriação transversal.
Suas células são uninucleadas e têm contração involuntária.
Figura 1: Os três tipos de tecido muscular
Músculo Esquelético
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -2-
7. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Antes de prosseguirmos devemos nos recordar que os músculos esqueléticos não podem
executar suas funções sem suas estruturas associadas (figura 2). Os músculos esqueléticos geram a
força que deve ser transmitida a um osso através da junção músculo-tendão. As propriedades destes
elementos estruturais podem afetar a força que um músculo pode desenvolver e o papel que ele tem
em mecânicos comuns.
Figura 2: Estruturas associadas ao
músculo.
O movimento depende da conversão de energia química do ATP em energia
mecânica pela ação dos músculos esqueléticos. O corpo humano possui mais de
660 músculos esqueléticos envolvidos em tecido conjuntivo. As fibras são células
musculares longas e cilíndricas, multinucleadas que se posicionam paralelas umas
às outras. O tamanho de uma fibra pode variar de alguns mm como nos músculos
dos olhos a mais de 100mm nos músculos das pernas.
Composição Química
Cerca de 75% do músculo esquelético e composto por água e 20%, proteína. Os
5% restantes consistem em sais inorgânicos, uréia, acida lático, fósforo, lipídeos,
carboidratos, etc. As proteínas mais abundantes dos músculos são: miosina (60%),
actina e tropomiosina. Além disso, a mioglobina também esta incorporada no tecido
muscular (700 mg de proteína para 100g tecido).
Aporte Sanguíneo
Durante o exercício, a demanda por oxigênio é de 4.0L/min e a tomada de
oxigênio pelo músculo aumenta 70 vezes, 11mL/110g/min, ou seja, um total de
3400mL por minuto. Para isso, a rede de vasos sanguíneos fornece enormes
quantidades de sangue para o tecido. Aproximadamente 200 a 500 capilares
fornecem sangue para cada mm2 de tecido ativo.
Com treinamentos de resistência, pode haver um aumento na densidade
capilar dos músculos treinados. Além de fornecer oxigênio, nutrientes e hormônios,
a microcirculação remove calor e produtos metabólicos dos tecidos. Há estudos
utilizando microscopia eletrônica que mostram que em atletas treinados, a
densidade de capilares é cerca de 40% maior do que em pessoas não treinadas.
Essa relação era aproximadamente igual à diferença na tomada máxima de
oxigênio observada entre esses dois grupos.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -3-
8. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Para entender a fisiologia e o mecanismo da contração muscular, devemos
conhecer a estrutura do músculo esquelético.Os músculos esqueléticos são
compostos de fibras musculares que são organizadas em feixes, (fascículos) (figura
3).
Os miofilamentos compreendem as miofibrilas, que por sua vez são
agrupadas juntas para formar as fibras musculares. Cada fibra possui uma
cobertura ou membrana, o sarcolema, e é composta de uma substância semelhante
à gelatina, sarcoplasma. Centenas de miofibrilas contráteis e outras estruturas
importantes, tais como as mitocôndrias e o retículo sarcoplasmático, estão inclusas
no sarcoplasma.
Figura 3: Estrutura muscular
Ultraestrutura
Cada miofibrila contém muitos miofilamentos. Os miofilamentos são fios finos
de duas moléculas de proteínas, actina (filamentos finos) (figura4) e miosina
(filamentos grossos), que forma um filamento bipolar (figura 5). Há outras
proteínas envolvidas na contração muscular: troponina e tropomiosina, que se
localizam ao longo dos filamentos de actina (figura 4), dentre outras.
Figura 4: Os filamentos
de actina são polímeros de
moléculas globulares de
actina que se enrolam
formando uma hélice. A
tropomiosina é um dímero
helicoidal que se une cabeça a
cauda formando um cordão. A
troponina é um trímero que se
liga a um sítio específico em
cada dímero de tropomiosina.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -4-
9. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Figura 5: Filamento grosso de miosina. As moléculas
de miosina se associam cauda a cauda para formar o
filamento
Ao longo da fibra muscular é possível observar bandas claras e escuras, o
que dá ao músculo a aparência estriada (figura 6). A área mais clara é denominada
banda I e a mais escura, A. A linha Z bissecciona a banda I e fornece estabilidade à
estrutura. A unidade entre duas linhas Z é denominada de sarcômero, a unidade
funcional da fibra muscular. A posição da actina e miosina no sarcômero resulta em
filamentos com sobreposição. A região A contém a zona H, onde não há filamentos
de actina. Essa zona é bisseccionada pela linha M que delineia o centro do
sarcômero e contém estruturas protéicas para suportar o arranjo dos filamentos de
miosina.
Figura 6: (A) Micrografia eletrônica de baixa magnificação através de corte
longitudinal de músculo esquelético, mostrando o padrão estriado. (B) Detalhe do
músculo esquelético mostrado em (A), mostrando porções adjacentes de duas
miofibrilas e a definição de sarcômero. (C) Diagrama esquemático de um único
sarcômero, mostrando a origem das bandas claras e escuras vistas nas
micrografias eletrônicas. A linha Z, localizada nas extremidades dos sarcômeros,
estão ligadas a sítios dos filamentos finos (filamentos de actina), a linha M, na
metade do sarcômero, é a localização de proteínas específicas que ligam
filamentos grossos adjacentes (filamentos de miosina). As regiões verdes marcam
a localização dos filamentos grossos e são referidas como banda A. As regiões
vermelhas contêm somente filamentos finos e são chamadas de banda I.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -5-
10. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Etapas da Contração Muscular
1) Um potencial de ação trafega ao longo de um nervo motor até suas
terminações nas fibras musculares;
2) Em cada terminação, o nervo secreta uma pequena quantidade de substância
neurotransmissora: a acetilcolina;
3) Essa acetilcolina atua sobre uma área localizada na membrana da fibra
muscular, abrindo numerosos canais acetilcolina-dependentes dentro de
moléculas protéicas na membrana da fibra muscular;
4) A abertura destes canais permite que uma grande quantidade de íons sódio
flua para dentro da membrana da fibra muscular no ponto terminal neural.
Isso desencadeia potencial de ação na fibra muscular;
5) O potencial de ação cursa ao longo da membrana da fibra muscular da
mesma forma como o potencial de ação cursa pelas membranas neurais;
6) O potencial de ação despolariza a membrana da fibra muscular e também
passa para profundidade da fibra muscular, onde o faz com que o retículo
sarcoplasmático libere para as miofibrilas grande quantidade de íons cálcio,
que estavam armazenados no interior do retículo sarcoplasmático;
7) Os íons cálcio provocam grandes forças atrativas entre os filamentos de
actina e miosina, fazendo com que eles deslizem entre si, o que constitui o
processo contrátil;
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -6-
11. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
8) Após fração de segundo, os íons cálcio são bombeados de volta para o
retículo sarcoplasmático, onde permanecem armazenados até que um novo
potencial de ação chegue; essa remoção dos íons cálcio da vizinhança das
miofibrilas põe fim à contração.
Mecanismos da Contração Muscular
A teoria mais aceita para a contração muscular é denominada sliding
filament theory (figura 7), que propõe que um músculo se movimenta devido ao
deslocamento relativos dos filamentos finos e grossos sem a mudança dos seus
comprimentos. O motor molecular para este processo é a ação das pontes de
miosina que ciclicamente se conectam e desconectam dos filamentos de actina com
a energia fornecida pela hidrólise de ATP. Isto causa uma mudança no tamanho
relativo das diferentes zonas e bandas do sarcômero e produz força nas bandas Z.
Figura 7: Sliding filament
theory como modelo de
contração muscular. Os
filamentos de actina e de
miosina deslizam uns
sobre os outros sem
diminuição no tamanho
do filamento.
A miosina tem um papel enzimático e estrutural na ação muscular. A cabeça
globular tem atividade de ATPase ativada por actina no sitio de ligação a actina e
fornece a energia necessária para a movimentação das fibras
Seqüência de eventos na contração muscular
1)Com o sítio de ligação de ATP livre, a miosina se liga fortemente a actina (figura
8);
2) Quando uma molécula de ATP se liga a miosina, a conformação da miosina e o
sítio de ligação se tornam instáveis liberando a actina;
3) Quando a miosina libera a actina, o ATP é parcialmente hidrolisado
(transformando-se em ADP) e a cabeça da miosina inclina-se para frente;
4) A religação com a actina provoca a liberação do ADP e a cabeça da miosina se
altera novamente voltando à posição de início, pronta para mais um ciclo.
5) Todo este ciclo leva ao deslocamento dos filamentos e o músculo contrai;
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -7-
12. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
6) A ativação continua até que a concentração de cálcio caia e libere os complexos
inibitórios troponina-tropomiosina, relaxando o músculo.
Tipos de Fibras Musculares
Figura 8: O ciclo de mudanças
nas quais a molécula de miosina
“caminha” sobre os filamentos
de actina (Baseado em I.
Rayment et al., Science 261:50-
58, 1993).
Há diferentes e controversos critérios para a classificação do músculo
esquelético humano. Baseados nas características de contração e metabolismo
podemos classificar dois tipos de fibras, as de contração rápida e lenta (figura 9).
Figura 9: (A) Células especializadas em produzir contrações
rápidas são marcadas com anticorpos contra miosina “rápida”. (B)
Células especializadas em produzir contrações lentas e longas são
marcadas com anticorpos contra miosina “lenta”.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -8-
13. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Uma técnica comum para estabelecer o tipo de fibra é baseada na
sensibilidade diferencial a alteração de pH da miosina ATPase. São as
características dessa enzima que determinam a velocidade de contração do
sarcômero. Nas fibras rápidas (fast-twitch), a miosina ATPase é inativada por pH
ácido mas é estável em pH alcalino, essas fibras coram escuro para esta enzima.
Para fibras lentas (slow-twitch) a atividade da miosina ATPase permanece alta em
pH ácido e fica estável em pH alcalino.
As fibras rápidas são conhecidas como células musculares brancas porque
elas contém relativamente pouco de mioglobina, proteína que se torna vermelha
quando na presença de oxigênio. As fibras lentas são chamadas de células
musculares vermelhas, porque elas contêm muito mais desta proteína. As células
podem ajustar-se à característica rápida ou lenta através de mudanças de
expressão gênica de acordo com o padrão de estimulação nervosa que elas
recebem.
Características dos diferentes tipos de fibra muscular
Figura 10: Percentagem do grupo de fibras lentas nos
músculos de atletas de diferentes categorias.
Cada esporte exige uma demanda de energia, esforço e obviamente uma
velocidade de contração muscular diferente. Sendo assim é mais do que lógico
imaginar que existem tipos diferentes de fibras que compõem a musculatura. Como
observado na figura 10, cada atleta possui uma percentagem específica de fibras de
contração rápida e lenta.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -9-
14. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Slow-twitch – tipo I
?? Metabolismo aeróbio
?? Baixa atividade de miosina ATPase
?? Baixa velocidade de captação e liberação de cálcio
?? Capacidade glicolítica menor do que na fast-twitch
?? Número grande de mitocôndrias, tamanho das organelas é maior
?? A concentração de mitocôndria e citocromos combinada com alta
pigmentação por mioglobina são responsáveis pela coloração característica.
?? Alta concentração de enzimas mitocondriais para o metabolismo aeróbio
?? Usadas para treino de resistência
?? SO : slow speed of shortening
?? Adaptadas ao exercício prolongado
Fast-twitch – tipo II
?? Alta capacidade de transmissão eletroquímica dos potenciais de ação
?? Alta atividade de miosina ATPase
?? Alta velocidade de liberação e captação de cálcio (reticulo endoplasmático
desenvolvido)
?? Gera energia rapidamente para ações rápidas e potentes
?? Velocidade de contração é de 3 a 5 vezes maior que na slow-twitch
?? Sistema glicolítico de curta duração bem desenvolvido
?? Metabolismo anaeróbio
Tipo IIA
Intermediaria: contração rápida e capacidade aeróbia moderada (alto nível
SDH) e anaeróbia (PFK) = FOG (fast oxidative glicolytic fiber)
Tipo IIB
Potencial anaeróbio maior – verdadeira fast – twitch FG (fast glicolytic)
Tipo IIC
Rara e não diferenciada; envolvida na inervação motora.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -10-
15. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Tipo de fibra pode ser mudado?
Treinamento: pode induzir mudanças, mas há controvérsias.
Pode ser que só haja um aumento na capacidade aeróbia das fast. Ou vice versa.
Altamente determinado pelo código genético.
Idade não é impedimento
Diferenças entre grupos atléticos
45 a 55% de slow-twitch
slow twitch – atletas de resistência
Hipertrofia x Hiperplasia
Hipertrofia é um aumento no tamanho e volume celular enquanto que
Hiperplasia é um aumento no número de células.
Se você olhar para um fisiculturista e para um maratonista, de cara dá para
notar que a especificidade de um treinamento produz efeitos diferentes em cada
atleta. Um treinamento aeróbico resulta em um aumento de volume/densidade
mitocondrial, enzimas oxidativas e densidade capilar (devido a um aumento no
número de hemácias). Atletas de resistência também possuem as fibras de seus
músculos treinados, menores quando comparadas com as de pessoas sedentárias.
Por outro lado, fisiculturistas e outros levantadores de peso, têm músculos muito
maiores. Sabe-se que o aumento de massa é devido primariamente à hipertrofia
das fibras, mas há situações onde a massa muscular também aumenta em resposta
a um crescimento no número de células.
Apesar de hiperplasia ser uma grande controvérsia entre pesquisadores da
área, em modelos animais já foi demonstrado que sob certas condições podem
ocorrer tanto hipertrofia quanto hiperplasia das fibras musculares, com um
aumento de até 334% para massa muscular e 90% para o número de fibras.
Uma das evidências da existência da Hiperplasia em seres humanos, é que
este processo também pode contribuir para o aumento de massa muscular. Por
exemplo, um estudo feito em nadadores, revelou que estes tinham fibras do tipo I
e IIa do músculo deltóide menores que as de não nadadores, entretanto o tamanho
deste músculo era muito maior nos nadadores. Por outro lado, alguns
pesquisadores mais céticos atribuem o fato de fisiculturistas e outros atletas deste
tipo possuírem fibras de tamanho menor ou igual ao de indivíduos não treinados à
genética: estes atletas simplesmente nasceram com maior número de fibras.
Existem dois mecanismos primários pelos quais novas fibras podem ser
formadas. No primeiro, fibras grandes podem se dividir em duas ou mais fibras
menores. No segundo, células satélite podem ser ativadas. Células satélite são
“stem cells” (células-tronco) miogênicas envolvidas na regeneração do músculo
esquelético. Quando você danifica, estira ou exercita as fibras musculares, células
satélite são ativadas. Células satélite proliferam e dão origem a novos mioblastos.
Estes novos mioblastos podem tanto se fundir com fibras já existentes quanto se
fundir com outros mioblastos para formar novas fibras.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -11-
16. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Câimbras e Fadiga Muscular
Apesar de existirem muitas causas para câimbras musculares ou tetania,
grandes perdas de sódio e líquidos costumam ser fatores essenciais que
predispõem atletas a câimbras musculares. O sódio é um mineral importante na
iniciação dos sinais dos nervos e ações que levam ao movimento nos músculos. Nós
temos uma baixa nas reservas de sódio no organismo ao transpirarmos quando
praticamos alguma atividade física.
Um estudo realizado com um tenista profissional no EUA apresentava que a perda
de sódio em uma partida de várias horas era muito maior do que o consumo diário
desse mineral pelo atleta e o quadro de câimbras musculares era reincidente. Dada
a popularidade de dietas com pouco sódio, um déficit de sódio não está fora de
questão quando um atleta está suando em taxas altas, particularmente nos meses
quentes do ano.
Mas não devemos apenas associar as câimbras musculares o déficit do sódio
no organismo. Existem outras causas potenciais como diabetes, problemas
vasculares (estes pela baixa de oxigênio na fibra muscular, já que o oxigênio é
elemento fundamental na contração muscular) ou doenças neurológicas. Os atletas
atribuem câimbras à falta de potássio ou outros minerais como cálcio ou magnésio.
A opinião médica atual não dá apoio a esta idéia. Os músculos tendem a acumular
potássio, cálcio e magnésio de forma tal que são perdidos em níveis menores na
transpiração, se comparados com sódio e cloreto. A dieta geralmente fornece
quantidades adequadas para prevenir déficits que iriam contribuir para a ocorrência
de câimbras.
A fadiga pode ser entendida como um declínio gradual da capacidade do
músculo de gerar força, resultante de atividade física (figura 11).
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -12-
17. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Figura 11: Representação
esquemática da fadiga de
contrações intermitentes
submáximas. A capacidade
máxima de geração de força
diminui logo a partir do início da
atividade.
A fadiga muscular resulta de muitos fatores, cada um deles relacionados às
exigências específicas do exercício que a produz. Esses fatores podem interagir de
maneira que acabe afetando sua contração ou excitação, ou ambas. As
concentrações de íons de hidrogênio podem aumentar causando acidose. Os
estoques de glicogênio podem diminuir dependendo das condições de contração. Os
níveis de fosfato inorgânico podem aumentar. As concentrações de ADP podem
aumentar. A sensibilidade de Ca2+ da Troponina pode ser reduzida. A concentração
de íons livres de Ca2+ dentro da célula pode estar reduzida. Pode haver mudanças
na freqüência de potenciais de ação dos neurônios. Uma redução significativa no
glicogênio muscular está relacionada à fadiga observada durante o exercício
submáximo prolongado. A fadiga muscular no exercício máximo de curta duração
está associada à falta de oxigênio e um nível sangüíneo e muscular elevado de
ácido lático, com um subseqüente aumento drástico na concentração de H+ dos
músculos que estão sendo exercitados. Essa condição anaeróbica pode causar
alterações intracelulares drásticas dentro dos músculos ativos, que poderiam incluir
uma interferência no mecanismo contrátil, uma depleção nas reservas de fosfato de
alta energia, uma deterioração na transferência de energia através da glicólise, em
virtude de menor atividade das enzimas fundamentais, um distúrbio no sistema
tubular para a transmissão do impulso por toda a célula e desequilíbrio iônicos. É
evidente que uma mudança na distribuição de Ca2+ poderia alterar a atividade dos
miofilamento e afetar o desempenho muscular. A fadiga também pode ser
demonstrada na junção neuromuscular, quando um potencial de ação não consegue
ir do motoneurônio para a fibra muscular. O mecanismo exato da fadiga é
desconhecido.
A contração muscular voluntária envolve uma “cadeia de comando” do
cérebro às pontes cruzadas de actina-miosina (figura 12). A fadiga pode ocorrer
como resultado de rompimento de qualquer local da cadeia de comando. A fadiga
pode ser descrita tanto como central como periférica. A fadiga central está
tipicamente associada com a ausência de motivação, transmissão espinhal
danificada ou recrutamento das unidades motoras danificado. Geralmente, fatiga
periférica se refere ao dano na transmissão nervosa periférica, na transmissão
neuromuscular, dano no processo de ativação das fibras ou interações actina-miosina.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -13-
18. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Figura 12: Figura esquemática
representando a “cadeia de
comando” da contração muscular.
1. Preencha a tabela abaixo, indicando para cada esporte, qual seria o tipo de fibra
predominante (tipo I - lenta, tipo II - rápida), a fonte de energia mais utilizada e se
o exercício é aeróbio ou anaeróbio
Tipo de Esporte Tipo de fibra Fonte de energia Aeróbio/anaeróbio
Corrida 100m
Maratona
Caminhada
Natação
Sedentário
2. Além do ATP, a creatina fosfato também fornece energia e sua reserva é de 3 a 5
vezes maior do que as de ATP. A creatina fosfato é produzida nos períodos de
repouso, por fosforilação à custa de ATP:
Creatina + ATP Creatina Fosfato + ADP + H+
A reação é reversível catalisada pela creatina quinase. Durante a atividade
muscular, processa-se no sentido da regeneração de ATP, o doador imediato de
energia para a contração. A quantidade de ATP e de Creatina Fosfato (CP)
armazenada no músculo é de aproximadamente 5 mmol e 15 mmol por kg de
músculo, respectivamente. A hidrólise de 1 mol de ATP libera aproximadamente 7
kcal/mol e a de Creatina fosfato, 10kcal/mol. Seja uma pessoa de 70kg com 30kg
de massa muscular que mobiliza 20kg dos músculos durante uma atividade física.
Para cada uma das atividades, calcule por quanto tempo seria possível realizar a
atividade, levando em consideração os dados de gasto energético fornecidos na
tabela.
Tipo de Esporte Gasto energético
(kcal/min)
Tempo
Ciclismo (rápido) 12,0
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -14-
19. CONTRAÇÃO MUSCULAR E FIBRAS
Judo 13,8
Karate 13,8
Corrida (rápido) 20,5
Natação (intenso) 12,0
Competição pólo
13,6
aquático
Baseado nos seus cálculos, explique como essas atividades podem ser
mantidas por um período de tempo maior, como ocorre usualmente. Que tipo de
substrato seria utilizado como fonte de energia? Você se lembra das vias de
utilização desses substratos? Para utilizar os substratos que você citou, é
necessário que haja oxigênio?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -15-
20. REVISÃO – VIAS METABÓLICAS
2. Revisão – Vias metabólicas
(retirados do livro de Bioquímica básica do Bayardo)
Geral
Mapa pg 340 (mapa1)
Ex1
Qual é a finalidade biológica dos processos descritos no mapa 1?
Quais os compostos aceptores de hidrogênio?
Qual é a função das coenzimas e do oxigênio na oxidação dos alimentos?
Ex2
Mapa pg 116
Observe o mapa abaixo. Ele mostra de forma simplificada o metabolismo de
degradação de carboidratos, lipídeos e proteínas, com reações reversíveis e
irreversíveis.
Em que composto há convergência dessas vias?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -16-
21. REVISÃO – VIAS METABÓLICAS
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -17-
22. REVISÃO – VIAS METABÓLICAS
Complete o quadro abaixo, indicando se as conversões indicadas são possíveis e
quais etapas seriam percorridas para cada conversão possível
Conversões Possível? Etapas
a. Proteína ? Glicose
b. Proteína ? Ácido
Graxo
c. Glicose ? Ácido
Graxo
d. Glicose ? Proteína
e. Ácido Graxo ?
Glicose
f. Ácido Graxo ?
Proteína
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -18-
23. REVISÃO – VIAS METABÓLICAS
GLICOSE
hexoquinase
GLICOSE 6 P
FRUTOSE 6 P
fosfofrutoquinase 1
FRUTOSE 1,6
BISFOSFATO
DIIDROXIACETONA
FOSFATO
GLICERALDEÍDO 3 P
FOSFOENOLPIRUVATO
piruvato quinase
PIRUVATO
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -19-
24. REVISÃO – VIAS METABÓLICAS
2.1. Glicólise
1. Quais são os substratos iniciais da via?
2. Quais são os seus produtos?
3. O NADH produzido na glicólise pode ser oxidado aerobia ou anaerobiamente?
Que vias ou reações estariam envolvidas? O que ocorre com o piruvato?
4. Fosfofrutoquinase 1: Esta enzima tem como inibidor o ATP e como efetuador
alostérico positivo o AMP. Pense, em um músculo em contração vigorosa, qual é
a conseqüência dessa regulação? Se o aporte de oxigênio for insuficiente para o
músculo, o que deve ocorrer com as coenzimas? Haverá produção de lactato?
2.2. Conversão de piruvato a acetil-coA
A conversão do piruvato a acetil-coA é catalisada por um complexo
multienzimático chamado complexo piruvato desidrogenase que requer cinco
coenzimas: tiamina pirofosfato (TPP), coenzima A (CoA), nicotinamida adenina
dinucleotídeo (NAD+), flavina adenina dinucleotídeo (FAD) e ácido lipóico. As quatro
primeiras coenzimas são derivadas de vitaminas hidrossolúveis: tiamina, ácido
pantotênico, nicotinamida e riboflavina, respectivamente. O ácido lipóico também é
uma vitamina. A equação da reação é a seguinte:
Piruvato + Coenzima A + NAD+ ? Acetil-CoA + NADH + CO2
a) Qual é a importância dessa reação no metabolismo? De onde vem o piruvato?
b) O que a falta de uma das vitaminas causaria?
c) Em que compartimento celular ocorre esta reação?
d) Se um indivíduo possuir um excesso de vitamina, haverá um aumento na
velocidade de reação?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -20-
25. REVISÃO – VIAS METABÓLICAS
2.3. Ciclo de Krebs
ACETIL-CoA
MALATO
CITRATO
ISOCITRATO
NAD+
NADH + H+
CO2
isocitrato
desidrogenase
? -CETOGLUTARATO
OXALOACETATO
H2O
CoA
? -cetoglutarato
desidrogenase
citrato
sintase
succinato
desidrogenase
SUCCINATO SUCCINIL-CoA
NADH + H+
H2O
FUMARATO
Co-A
NAD+
NADH + H+
CO2
GDP + Pi
CoA
GTP
NAD+
FADH2
FAD
1. O ciclo de Krebs se inicia com a condensação de acetil-coA e oxaloacetato.
Observe o mapa 1. De onde vem o acetil-CoA? (Na sua opinião, qual é a
contribuição de cada composto para formação de acetil-CoA?)
2. Quantas coenzimas são reduzidas para uma molécula de acetil-coA?
3. Como o ciclo de Krebs pode contribuir para a formação de grande parte do ATP
produzido na célula se ele gera somente 1 ATP e 1 GTP por molécula de acetil-coA?
Esta via pode funcionar em condições anaeróbias?
4. Em um programa de treinamento, foram medidas a atividade da succinato
desidrogenase e da citrato sintase. Em que vias essas enzimas participam? Qual
seria o motivo para utilizar essas medidas para avaliação em um programa de
treinamento físico?
2.4. Cadeia de transporte de elétrons e Fosforilação oxidativa
1. Qual é a função da cadeia de transporte de elétrons? Esta via poderia funcionar
sem oxigênio?
2. As necessidades celulares de ATP variam bastante de acordo com o estado
fisiológico da célula. Uma fibra muscular pode ter suas necessidades
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -21-
26. REVISÃO – VIAS METABÓLICAS
aumentadas de 100 vezes em poucos segundos quando passa do repouso para
uma atividade física intensa. Para promover o ajuste de produção de ATP e seu
gasto, o transporte de elétrons só ocorre com a síntese de ATP e vice-versa.
Para que essas reações ocorram, os substratos são: coenzimas reduzidas,
oxigênio, ADP e Pi, dentre os quais somente o ADP atinge concentrações
limitantes na célula.
Descreva o que ocorre no ciclo de Krebs, cadeia de transporte de elétrons,
fosforilação oxidativa e glicólise quando
a) a razão ATP/ADP aumenta
b) a razão ATP/ADP diminui
1) a razão NAD+/NADH aumenta
2) a razão NAD+/NADH diminui
2.5. Glicogênio
1. O glicogênio é sintetizado principalmente pelo fígado e músculos quando a
oferta de glicose supera as necessidades energéticas imediatas destes órgãos. O
glicogênio deve ser sintetizado em uma situação fisiologicade razão ATP/ADP
alta ou baixa? Por que? Essa condição deve ocorrer durante o exercício ou
durante o repouso?
2.6. Gliconeogênese
1. A gliconeogênese é uma via que se processa no fígado e minoritariamente nos
rins e tem como objetivo a síntese de glicose a partir de compostos que não são
carboidratos, aminoácidos, lactato e glicerol. Essa via utiliza as reações
reversíveis da glicólise e substitui por outras irreversíveis. Há gasto de energia
para efetuar a síntese de glicose? Qual é a necessidade de sintetizar glicose para
um organismo? Essa via é realmente necessária já que temos reservas de
glicogênio?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -22-
27. (-OXIDAÇÃO
3. ? -Oxidação
A continuação você tem os mapas das vias metabólicas mais importantes tal
e qual elas são conhecidas em mamíferos. Eles estão relativamente simplificados ao
efeito de que você consiga relembrar coisas básicas e não fique perdido no meio da
complexidade que elas possuem. Logo de cada via, se apresentam detalhes dos
pontos importantes por serem pontos de regulação, por envolverem gasto ou
produção de energia ou poder redutor, ou por mostrar moléculas que serão
nomeadas de aqui em diante e cujo destino você conseguirá seguir pelo universo
metabólico. Alguns desses detalhes serão de utilidade não nessa fase de revisão e
sim ao longo do curso.
-Observe a via de degradação de triacilgliceróis e oxidação (?-oxidação) de ácidos
graxos.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -23-
28. (-OXIDAÇÃO
Revisemos alguns pontos dos caminhos indicados no diagrama anterior:
(1) - Utilização do glicerol
(2) - Ativação ao nível da membrana externa da mitocôndria
- Transporte ao nível da membrana interna da mitocôndria
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -24-
29. (-OXIDAÇÃO
(E) A TRANSFERASE cataliza o processo e é regulada por (-) malonil-CoA (Ver na via
da síntese de ácido graxo)
(3) - ? - Oxidação
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -25-
30. (-OXIDAÇÃO
Em determinadas condições fisiológicas, o acetil-CoA gerado na ? - oxidação não
pode ser aproveitado no ciclo de Krebs e se produz a formação de corpos cetônicos
(acetona, acetoacetato, .e ?-hidroxibutirato), como se indica em baixo.
Tente responder:
1- Observando a via geral, de que depende a mobilização dos depósitos de
triacilgliceróis? Considerando que os hormônios catecolaminas (epinefrina ou
adrenalina e norepinefrina ou noradrenalina) são sintetizados em situações de
perigo, hipoglicemia, exercício físico e exposição a baixas temperaturas,
estimulando a produção de glucagon e inibindo a da insulina, em que condições
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -26-
31. (-OXIDAÇÃO
fisiológicas é ativada a lipase dos adipócitos? Nessas condições, quais serão as
principais fontes de energia do tecido muscular?
2- Os subprodutos das vias que estão realçados (diidroxiacetona fosfato, o acetil-
CoA e o Succinil-CoA) funcionam como intermediários de outras vias nas quais eles
são processados. Quais são essas vias.
3- A carnitina é um composto amplamente distribuído pelos diferentes tecidos mas
encontrado em concentrações elevadas no músculo. O que sugere este dado?
4- Em quais das seguintes situações haverá estímulo da formação de corpos
cetônicos:
-dieta rica em hidratos de carbono e normal em lipídeos
-jejum
- dieta rica em lipídeos e normal em hidratos de carbono
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -27-
32. SÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS
4. Síntese de Ácidos Graxos
A primeira etapa da síntese de ácidos graxos é o transporte de Acetil-CoA para o
citossol
Revisemos o ponto da síntese dos caminhos indicados no diagrama anterior:
(1)
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -28-
33. SÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS
4.1. Síntese de triacilgliceróis
Discuta a seguinte afirmação:
1) “Os triacilgliceróis constituem a forma de armazenamento de todo o excesso de
nutrientes”
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -29-
34. TOMADA DE OXIGÊNIO
5. Tomada de Oxigênio
A figura acima mostra a tomada de oxigênio pulmonar durante os minutos
iniciais de uma corrida com velocidade constante por 10 min, ou seja, um exercício
leve. Nos primeiros minutos, há um aumento exponencial da tomada de O2. A
região do gráfico onde nível de tomada de O2 permanece constante é considerado o
estado estacionário.
1. O que significa o estado estacionário em relação ao balanço energético?
2. A produção de ATP ocorre de forma aeróbia ou anaeróbia?
3. Ocorre acúmulo de lactato?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -30-
35. DÉFICIT DE O2
6. Déficit de O2
O déficit de O2 é a diferença entre o oxigênio total consumido durante o exercício e
o total que teria sido consumido se uma taxa estacionária do metabolismo aeróbio
tivesse sido alcançada no início. No gráfico, o déficit está representado pela área
em lilás.
1. Enquanto a tomada de oxigênio é pequena, qual é a fonte de energia
utilizada preferencialmente?
2. Por que há sempre um atraso do aumento na tomada de oxigênio em relação
ao gasto de energia? Responda levando em consideração a produção de
substratos oxidáveis.
3. Por que o déficit de oxigênio é menor nos indivíduos treinados?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -31-
36. VO2MAX - CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO
7. VO2max - Consumo máximo de oxigênio
Em uma conversa entre atletas profissionais, provavelmente você irá ouvir a
frase: "qual é o seu VO2Max?" Um alto nível de consumo máximo de oxigênio é
uma das características principais de atletas de esportes de alta intensidade como
corrida e ciclismo, portanto, deve ser uma característica importante... Mas o que é
e como ele é medido?
7.1. Definição de VO2 Max
VO2Max é o volume máximo de oxigênio consumido pelo corpo por minuto
durante o exercício realizado no nível do mar. Como o consumo de oxigênio está
linearmente relacionado com o gasto de energia, quando medimos o consumo de
oxigênio, estamos medindo indiretamente a capacidade máxima do indivíduo de
realizar um trabalho aeróbico.
7.2. Por que o dele é maior que o meu???
Devemos começar perguntando: "quais são os determinantes do VO2Max?"
Toda célula consome oxigênio para converter a energia dos alimentos em ATP para
o trabalho celular. As células musculares em contração têm alta demanda por ATP,
o que faz com que o consumo de oxigênio aumente durante o exercício. A soma
total de bilhões de células de todo o corpo consumindo oxigênio e gerando CO2
pode ser medida pela respiração, usando equipamentos que medem o volume e a
presença de oxigênio. Portanto, se medimos um consumo maior de oxigênio
durante o exercício, sabemos que mais células musculares estão contraindo e
consumindo oxigênio. Para receber e usar o oxigênio para gerar ATP para a
contração muscular, as fibras musculares são absolutamente dependentes de dois
fatores:
1) um sistema de delivery para levar o oxigênio da atmosfera para as células
musculares
2) mitocôndrias para realizar o processo de transferência de energia aeróbia
De fato, os atletas de resistência são caracterizados por possuir um ótimo
sistema cardiovascular e uma capacidade oxidativa bem desenvolvida nos
músculos esqueléticos. Precisamos de uma bomba eficiente para enviar o sangue
rico em oxigênio para os músculos e também de músculos ricos em mitocôndria
para usar o oxigênio e sustentar altas taxas de exercício físico. Mas, qual seria o
fator limitante na VO2Max, o delivery ou a utilização de oxigênio? Esta questão
criou muito debate entre os fisiologistas, mas agora já temos uma resposta clara.
7.3. Os músculos dizem, se você entrega-ló, nós o usaremos.
Muitos experimentos de diferentes tipos sustentam o conceito de que, em
indivíduos treinados, é o delivery e não a utilização de oxigênio que limita o
VO2Max. Realizando exercícios com uma perna e medindo diretamente o consumo
muscular de oxigênio de uma pequena massa muscular, foi mostrado que a
capacidade do músculo utilizar o oxigênio excede a capacidade do coração de
bombeá-lo. Apesar de um homem adulto possuir de 30 a 35 kg de músculo,
somente uma parte desse músculo pode ser perfundido com sangue a qualquer
momento. O coração não pode enviar um grande volume de sangue para todo o
músculo esquelético e ainda manter uma pressão sangüínea adequada. Como mais
uma evidência para uma limitação no delivery, um treino de resistência longo pode
resultar em um aumento de 300% da capacidade oxidativa do músculo mas
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -32-
37. VO2MAX - CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO
aumenta somente de 15 a 25% o VO2Max. O VO2Max pode também ser
alterado artificialmente mudando a concentração de oxigênio no ar. Além dissso, o
VO2Max costuma aumentar em pessoas não-treinadas antes que ocorra uma
mudança na capacidade aeróbica do músculo. Todas essas observações
demonstram que o VO2Max pode ser dissociado das caracterísiticas do músculo
esquelético.
O volume de sangue que é ejetado do ventrículo esquerdo a cada batimento
cardíaco é chamado de "stroke" e está relacionado linearmente com o VO2max. O
treinamento faz com que haja um aumento do stroke volume e portanto, um
aumento da capacidade caríaca máxima. Isto resulta em uma maior capacidade
para o delivery de oxigênio. Mais músculos são abastecidos de oxigênio
simultaneamente e ao mesmo tempo, a pressão sanguínea é mantida.
É importante também considerar e compreender o papel da capacidade
oxidativa do músculo. À medida que o sangue rico em oxigênio passa pela rede de
capilares de um músculo esquelético em ação, o oxigênio difunde para fora dos
capilares para a mitocôndria, seguindo o gradiente de concentração. Quanto maior
a taxa do consumo de oxigênio pela mitocôndria, maior é a extração do oxigênio e
maior a diferença entre a concentração de O2 entre o sangue arterial e venoso. O
delivery é o fator limitante pois mesmo nos músculos treinados, não se pode usar o
oxigênio que não é fornecido. Mas, se o sangue chega nos múculos que não são
treindados, VO2max será menor apesar de uma maior capacidade de delivery.
7.4. Como o VO2Max é medido?
Para determinar a capacidade aeróbica máxima, devemos seguir condições
de exercício que demandam a capacidade máxima de delivery de sangue pelo
coração. Para isso, devemos considerar as seguintes características:
?? Utilizar pelo menos 50% da massa muscular total. Atividades que
cumprem este requisito: corrida, ciclismo, remo. O método mais comum
no laboratório é a corrida em uma esteira, com inclinações e velocidades
diferentes.
?? Ser independente da força, velocidade, tamanho do corpo e habilidades.
?? Ter duração suficiente para que as respostas cardiovasculares sejam
maximizadas. Geralmente, testes para capacidade máxima usando
exercício contínuos são completados em 6 a 12 minutos.
?? Ser feito por pessoas motivadas pois os testes para medir VO2max são
muito pesados mas terminam rapidamente.
Eis um exemplo do que ocorre durante um teste. Sua freqüência cardíaca
será medida e o teste se inicia por uma caminhada em uma esteira a velocidades
baixas e sem inclinação. Se você estiver em forma, o teste pode ser iniciado com
uma corrida leve. Então, a velocidade e/ou a inclinação da esteira é aumentada em
intervalos regulares (30s a 2 min). Enquanto você corre, estará respirando por um
sistema de 2 válvulas. O ar entra do ambiente mas será expirado por sensores que
medem o volume e a concentração de O2.
Usando estas válvulas, a tomada de O2
pode ser calculada por um
computador em cada estágio do exercício. A cada aumento na velocidade ou
inclinação, uma massa muscular maior será utilizada em maior intensidade. O
consumo de oxigênio ira aumentar linearmente com o aumento de carga. Porém,
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -33-
38. VO2MAX - CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO
em algum ponto, o aumento da intensidade não irá resultar em um aumento do
consumo de oxigênio. Esta é a indicação de que você atingiu o VO2 max.
O valor do VO2 max pode ser dado em duas formas: absoluta, ou seja, em
litros/min e o valor é tipicamente entre 3 e 6 para homes e 2,5 e 4,5 para
mulheres. O valor absoluto não leva em conta as diferenças de tamanho do corpo.
Por isso, outra forma de expressar o VO2max é na forma relativa, em ml por min
por kg.
O consumo máximo de oxigênio entre homens não-treinados com
aproximadamente 30 anos é aproximadamente 10-45 ml/min/kg e diminui com a
idade. O indivíduo que faz exercícios regularmente pode aumentar para 50-55
ml/min/kg. Um corredor de ponta com 50 anos pode ter um valor de VO2max
maior do que 60 ml/min/kg. Já um campeão olímpico de 10.000 metros
provavelmente apresenta um valor próximo de 80ml/min/kg. Claramente, o treino
é importante mas a genética favorável também é um fator crítico. Mais uma
informação: antes de você ficar muito impressionado com o corredor na TV,
lembre-se ue os humanos não são nada em comparação com muitos animais
atletas - o VO2 de um cavalo treinado é de 600 litros/min ou 150ml/min/kg!
Como vimos no texto, um dos fatores que afeta o VO2max é a pressão de
oxigênio. Isso ocorre pois a ligação do oxigênio à hemoglobina é regulada pelo 2,3
bisfosfoglicerato (2,3 BPG). O 2,3 BPG está presente em concentrações
relativamente altas nos eritrócitos e faz com que a afinidade da hemoglobina pelo
oxigênio seja bastante reduzida de acordo com a pressão de oxigênio. A
concentração de BPG no sangue de um indivíduo normal é de aproximadamente 5
mM no nível do mar e de aproximadamente 8 mM em grandes altitudes. O gráfico
abaixo mostra uma curva de saturação de oxigênio para a hemoglobina em função
da pressão de oxigênio para diferentes concentrações de BPG.
a) Explique por que o BPG é importante para a adaptação fisiológica em regiões de
grandes altitudes.
b) A afinidade da hemoglobina fetal por BPG é maior ou menor que nos adultos?
Por que?
c) Os indivíduos treinados possuem maior ou menor concentração de 2,3 BPG. Este
fato é coerente com a diferença de déficit de oxigênio observada no gráfico da
tomada de oxigênio?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -34-
39. RECUPERAÇÃO APÓS O EXERCÍCIO
8. Recuperação após o exercício
8.1. Definição de EPOC / relação de EPOC com intensidade do exercício
Após uma atividade física, os processos fisiológicos do corpo não voltam
imediatamente ao estado de repouso. Independente da intensidade do exercício, a
tomada de oxigênio durante a recuperação (pós-exercício) sempre excede o valor
do repouso. Este excesso é chamado de débito de oxigênio ou recovergy oxygen
uptake ou EPOC (“Excess Post Exercise Oxygen Consumption” - excesso de
oxigênio pós-exercício). Ele é calculado como:
(Oxigênio total consumido na recuperação) - (Oxigênio total que teria sido
consumido no repouso durante o período de recuperação se o exercício não tivesse
sido realizado)
Então, se um total de 5.5L de oxigênio foi consumido durante a recuperação
até atingir o valor de repouso de 0.310L/min e o tempo de recuperação foi de 10
min, o débito de oxigênio seria de 5.5L - (0.310L x 10 min) = 2.4L.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -35-
40. RECUPERAÇÃO APÓS O EXERCÍCIO
Os gráficos acima mostram a tomada de oxigênio durante e depois do
exercício. Indique para cada um dos gráficos a intensidade do exercício:
a) leve
b) aeróbico moderado a pesado
c) máximo (aeróbico + anaeróbico)
Justifique, tentando explicar o por que de uma componente mais rápida e
outra mais lenta nos dois últimos gráficos, relacionando com a intensidade e
duração do exercício. Que elementos indicados no gráfico levaram a essas
conclusões?
2. Qual seria a função desse excesso de oxigênio pós-exercício?
3. Implicações do EPOC na recuperação
O EPOC tem implicações para a recuperação após o exercício que pode ser
feita de forma ativa ou passiva. A forma passiva consiste em repouso, inatividade
completa que reduz o requerimento de energia, liberando o O2 para o processo de
recuperação. A forma ativa ou cooling down é feita com exercício aeróbio sub-maximal,
dessa forma, o movimento aeróbio contínuo evita a fadiga e facilita a
recuperação.
Que tipo de recuperação seria mais adequado para:
a) exercício feito com uptake de O2 abaixo de 50% de VO2 max
b) exercício cuja intensidade ultrapassa 60 a 75% do VO2 max
Justifique, levando em consideração a função do EPOC e a formação de ácido
lático.
Observe o gráfico abaixo e responda:
1. Descreva as diferenças observadas no gráfico entre um indivíduo treinado e não
treinado para as diferentes intensidades de exercício físico.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -36-
41. RECUPERAÇÃO APÓS O EXERCÍCIO
2. No exercício leve, como o ATP necessário é gerado? Há aumento na
concentração do lactato? Por que?
3. Assumindo que ocorre hipóxia nos tecidos, como explicar o acúmulo de lactato
no exercício moderado? Explique, utilizando na sua resposta a via glicolítica e a
produção de NADH.
4. Por que durante o repouso há produção de lactato? O que significa o nível basal
de lactato? O lactato pode ser formado continuamente em repouso e durante o
exercício moderado. Em condições aeróbias, há um balanço entre a produção e a
remoção de lactato por outros tecidos, mantendo a concentração estável. Quando a
taxa de remoção não é equilibrada pela produção, ocorre o acúmulo de lactato. Por
que nos indivíduos treinadas o acúmulo de lactato é menor no exercício moderado?
Por que no exercício intenso o acúmulo de lactato no indivíduo treinado é maior??
5. A enzima lactato desidrogenase (LDH) favorece a conversão de piruvato em
lactato nas fibras musculares de contração rápida. Já nas fibras lentas, a LDH
favorece as reações contrárias, transformando preferencialmente lactato em
piruvato. Como isso é possível? Nos exercícios em que há maior mobilização de
fibras do tipo II, o que seria esperado em relação à concentração de lactato? Este
fato dependeria da oxigenação dos tecidos? Como pode uma mesma enzima
favorecer reações no sentido contrário?
6. A enzima lactato desidrogenase é uma enzima oligomérica formada por
diferentes subunidades. Os vertebrados possuem duas subunidades distintas dessa
enzima: M, que predomina nos músculos e H, que predomina no tecido cardíaco.
Para saber quantas subunidades compõem a enzima, as diferentes proteínas
oligoméricas (formadas somente por subunidades M ou H) foram purificadas,
misturadas, dissociadas de suas subunidades componentes em condições suaves de
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -37-
42. RECUPERAÇÃO APÓS O EXERCÍCIO
desnaturação (mudança de pH, adição de uréia) e foram então incubadas juntas
para se reassociarem (retirando as condições desnaturantes). Foi feita uma
eletroforese onde na primeira canaleta a amostra aplicada foi a isoenzima composta
somente de subunidades M, na segunda, a mistura após desnaturação leve e
renaturação e na terceira, a isoforma H, como mostra a figura.
O que representam as diferentes bandas na canaleta contendo a mistura?
Quantas subunidades compõem a enzima?
Quantas isoformas da LDH existem? Descreva a composição de subunidades das
isoformas.
M mistura H
(+)
Origem
(-)
8.2. INFORMAÇÕES ADICIONAIS
A Lactato Desidrogenase encontra-se na maioria de todos os tecidos. Quando
há dano nas células em tecidos contendo LDH, há liberação de LDH na corrente
sangüínea. Como a LDH é amplamente distribuída, a análise total de LDH não é útil
para o diagnóstico de uma doença específica. Mas, devido a suas diferentes
isoformas, a análise dos níveis de LDH pode auxiliar no diagnóstico de certas
doenças, mas há controvérsias. As diferentes isoformas são: LDH-1, LDH-2, LDH-3,
LDH-4, LDH-5. Em geral, cada isoforma é usada por um tecido específico. LDH-1 é
encontrada preferencialmente no coração, LDH-2 está associada com sistemas de
defesa contra infecção, LDH-3 está encontrada nos pulmões e em outros tecidos,
LDH-4 no rim, placenta e pâncreas e LDH-5 no fígado e músculo esquelético.
Normalmente, os níveis de LDH-2 são maiores do que o das outras isoenzimas.
Certas doenças têm padrões de níveis elevados de isoenzimas LDH. Por
exemplo, um nível maior de LDH-1 em relação a LDH-2 pode ser indicação de
ataque cardíaco, elevações de LDH-2 e LDH-3 podem indicar danos nos pulmões,
elevações em LDH-4 e LDH-5 podem indicar danos no fígado ou músculo. Um
aumento de todas as isoformas da LDH simultaneamente pode ser diagnóstico de
lesões em múltiplos órgãos.
Um dos testes comumente utilizados é o diagnóstico de infarto do miocárdio.
O nível total de LDH aumenta em 24-48h após o ataque do coração, tem um pico
em 2 ou 3 dias e retorna ao normal em aproximadamente 5 ou 10 dias. Este
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -38-
43. RECUPERAÇÃO APÓS O EXERCÍCIO
padrão pode ser útil para um diagnóstico tardio. Já o diagnóstico utilizando a
isoforma LDH-1 é mais sensível e específica do que o LDH total. Normalmente, o
nível de LDH-2 é maior do que o de LDH-1. Um nível de LDH-1 maior do que LDH-
2 pode ser um indicativo de ataque cardíaco. Essa inversão aparece em 12-24h
após o ataque.
Porém, o uso dos níveis de LDH como diagnóstico de infarto do miocárdio
têm sido considerado obsoleto pois após mais de 10 anos tentando fazer com que
os testes utilizando as isoformas de LDH tivessem mais sensibilidade e
especificiade, continua apresentando muitas falhas quando utilizado na prática.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -39-
44. LIMIAR DE LACTATO
9. Limiar de Lactato
Para determinar o limiar de lactato, podemos utilizar dois procedimentos
distintos:
1. O indivíduo em teste faz corridas de 800m e tem o lactato dosado. A primeira
corrida é feita em alta velocidade, a máxima conseguida pelo indivíduo. Após uma
pequena pausa, faz-se um ciclo de corridas em velocidades baixas e crescentes
intercaladas com curtos descansos. Para isso, é necessário ter um controle de
velocidade do atleta e um lactímetro. Para dois indivíduos, obtivemos os seguintes
dados:
Limiar de lactato
14
12
10
8
6
4
2
0
Limiar de
lactato
21 18 7 8 9 10
velocidade (Km/h)
concentração de lactato
(mmol/L)
1
2
O limiar de lactato é a velocidade em que o indivíduo atinge a concentração
mínima de lactato, ou seja, quando a taxa de produção começa a exceder a taxa de
remoção.
2. Pode ser feito um teste em laboratório, utilizando estágios sucessivos de
exercício em bicicleta ergométrica, esteira, etc. Inicialmente, a intensidade do
exercício é de 50 a 60% do VO2max. Cada estágio do exercício tem duração de 5
minutos. Perto do final de cada estágio, a taxa cardíaca e o consumo de oxigênio
são registrados e uma amostra de sangue é coletada para a dosagem de lactato.
Após essas medidas, a carga do exercício é aumentada e as medidas são repetidas.
Após o sexto estágio, obtém-se uma distribuição de intensidades como mostra o
gráfico abaixo. O limiar de lactato é quando a taxa de produção de lactato excede a
taxa de remoção, correspondendo ao consumo de oxigênio de 45ml/min/kg.
Geralmente determina-se o limiar de lactato em % do VO2max. Qual seria o limiar
de lactato do indivíduo abaixo, dado que o VO2max é de 61 mo/min/kg?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -40-
45. LIMIAR DE LACTATO
Consumo de oxigênio (ml/min/kg)
Concentração de lactato (mmol/L)
Freqüência Cardíaca
a) Qual a finalidade de se medir o limiar de lactato?
b) Observando os gráficos do item 1, responda: qual indivíduo é o treinado? Por
que? Quais os fatores que devem influenciar o acúmulo de lactato no organismo?
c) Qual seria uma forma de monitorar o limiar de lactato durante o exercício sem
que seja efetuada a sua dosagem?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -41-
46. ADAPTAÇÕES NA UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES SUBSTRATOS DURANTE O TREINAMENTO
10. Adaptações na utilização de diferentes substratos durante o
treinamento
Sistemas de transferência de energia durante o exercício. Exercício de
duração imediata e de curta duração.
1. A atividade física demanda a maior quantidade de energia, comparada com todas
as outras funções metabólicas complexas que ocorrem no corpo. Durante uma
corrida de velocidade ou uma competição de nado, por exemplos, o gasto de
energia dos músculos ativos pode ser 100 vezes maior que o gasto em repouso.
Durante um exercício menos intenso mais intenso, como uma maratona, o
requerimento de energia aumenta para 20 ou 30 vezes em ralação com o requerido
na ausência de atividade. Dependendo da intensidade e duração do exercício, os
três grandes sistemas de transferência de energia existentes no corpo são
requisitados em forma diferenciada e a sua contribuição relativa para o exercício é
distinta.
-Considere o gráfico abaixo e preencha os espaços em branco com os nomes dos
sistemas de transferência de energia correspondentes com cada curva. Após isso
estabeleça: Que sistemas operam em forma anaeróbia e quais em forma aeróbia?
Que sistemas liberam energia mais rapidamente? Existem atividades que sejam
feitas em foram anaeróbia ou aeróbia exclusivamente?
120
100
80
60
40
20
0
2
min
duração do exercício
contribuição dos sitemas de energia (%)
10
s
30
s
5
min
2. Segundo a gráfica em baixo, o lactato sangüíneo não se acumula a todas as
intensidades de exercício. Porque o lactato aumenta a medida que aumenta a
intensidade do exercício? Observe as diferenças entre treinados e não treinados e
discuta quais seriam as vantagens dessa diferença no caso de um atleta e possíveis
explicações para essa diferença. Que significam os pontos que estão sendo
indicados pelas setas? Com que tipo de atleta (ou seja, praticando que tipo de
esporte) se corresponde a curva dos “treinados”?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -42-
47. ADAPTAÇÕES NA UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES SUBSTRATOS DURANTE O TREINAMENTO
exercício
fraco
exercício
moderado
exercício
extenuante
0 25 50 75 100
VO2 max. (%)
Concentração de lactato sangüíneo
Não treinados Treinados
3) Treino de intervalo: intercalar exercícios de alta intensidade com descanso
permite realizar exercícios de alta intensidade que não seriam possíveis se foram
feitos continuamente. Baseado no metabolismo energético, justifique se há ou não
base para esse treino.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -43-
48. TREINAMENTO DE LONGA DURAÇÃO E ALTA INTENSIDADE
11. Treinamento de longa duração e alta intensidade
Treinamento de longa duração e alta intensidade
1. Os atletas que fazem esportes de alta intensidade, freqüentemente
experimentam uma sensação de fadiga crônica, na qual dias sucessivos de
treinamento extenuante chegam a ser mais difíceis de suportar, progressivamente.
Essa fadiga, pode-se relacionar com uma gradual diminuição das reservas de CHO
corporais. Na Figura 1 mostra-se a mudança na concentração de glicogênio
intramuscular em seis atletas ingerindo uma dieta com as doses recomendadas de
CHO, lipídeos e proteínas, antes e depois de corridas de 16,1 km realizadas em três
dias sucessivos.
Figura 1. Mudanças na concentração de glicogênio intramuscular em seis atletas homens antes
e depois de corridas de 16,1 km realizadas em três dias sucessivos. O glicogênio muscula r também foi
medido 5 dias após a última corrida.
Observe as variações na concentração e na velocidade de degradação e
discuta como está sendo utilizado o glicogênio ao longo dos três dias de
competição. Estão sendo utilizadas outras fontes de energia ao longo dos três dias?
Como varia a utilização dessas outras fontes em relação com a variação nos níveis
de glicogênio? Que pode dizer respeito da recuperação nos níveis de glicogênio (5º
dia pós)?
2. Em uma experiência para avaliar o efeito da dieta sobre as reservas de
glicogênio intramuscular e sobre a duração do exercício, três grupos de pessoas
foram alimentados de forma diferente durante três dias, e após essa dieta
diferenciada, foram submetidos a uma sessão de ciclismo até o limite das suas
forças (tempo de fadiga o de extenuação) (Figura 1). A quantidade de calorias
ingeridas foi a recomendada normalmente nos três casos, mas em uma condição a
maior parte das calorias foi dada como lipídeos, na segunda as porcentagens
diárias recomendadas de CHO, lipídeos, e proteínas foram mantidas, e na terceira,
a dieta foi rica em CHO.
Figura 1. Efeitos da dieta no conteúdo de glicogênio no quadriceps femoris e na duração do
exercício feito sobre uma bicicleta
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -44-
49. TREINAMENTO DE LONGA DURAÇÃO E ALTA INTENSIDADE
Discuta:
-O que pode dizer ao respeito da relação entre a dieta, as reservas de glicogênio no
músculo e a resistência ao exercício?
-Para que tipo de competições você recomendaria uma dieta rica em CHO?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -45-
50. EXERCÍCIOS DE INTENSIDADE BAIXA E MODERADA
12. Exercícios de intensidade baixa e moderada
1. Em condições de treinamento moderado, que tipo de substrato você espera que
seja degradado preferencialmente e porque? Como espera que essa degradação
evolua ao longo do tempo do exercício?
2. Observe os gráficos inseridos em baixo e discuta as seguintes afirmações:
a. O consumo de lipídeos aumenta na medida que o tempo do exercício
aumenta.
b. A contribuição relativa de cada substrato (o fonte de carbono) ao exercício
que está sendo feito depende da intensidade do exercício, da duração do
exercício, e da aptidão física.
c. Como resultado do treinamento as reservas de glicogênio são preservadas.
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
tempo do exercicio (min)
entrada de oxigênio (mM/min)
Fontes não sangüíneas
FFA
glicose
Figura 1. Consumo de oxigênio e nutrientes durante o exercício prolongado em
condições moderadas. As Fontes não sangüíneas são glicogênio, triglicerídeos e
proteínas do músculo.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -46-
51. EXERCÍCIOS DE INTENSIDADE BAIXA E MODERADA
350
300
250
200
150
100
50
0
25 65 85
porcentagem do VO2max
Gasto de energia (kcal/kg/min)
glicogênio do músculo
triglicerídeos dos músculos
FFA do plasma
glicose do plasma
Figura 2. Utilização do substrato em diferentes intensidades de exercício
Observação: 25% do VO2 max equivale a exercício suave
65% do VO2 max equivale a exercício moderado
85% do VO2 max equivale a exercício intenso
250
200
150
100
50
0
sedentário treinado
ácidos graxos
livres no plasma
triglicerídeos
glicogênio
glicose
sangüínea
Figura 3. Contribuição estimada de vários substratos ao metabolismo energético em
músculos dos membros treinados e não treinados, considerando exercícios de
intensidade moderada.
3. A glicose é transportada para dentro das células mediante difusão facilitada.
Uma família de transportadores denominados GLUT1-7 é responsável pelo
transporte. Nos músculos esqueléticos dos humanos adultos há três isoformas
presentes. Dessas, GLUT 1 é responsável pelo transporte basal e GLUT 4 é o maior
transportador de glicose. Na presença de insulina ou por efeito da contração
muscular, GLUT 4 é translocado de depósitos intracelulares para a membrana
plasmática.
Discuta quais seriam as diferenças entre o uso da glicose proveniente da
degradação dos depósitos de glicogênio muscular, hepático ou da ingestão de
sacarose, pelos músculos em atividade.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -47-
52. PROTEÍNAS
13. Proteínas
Proteínas na dieta
Alguns aminoácidos devem ser fornecidos através da dieta porque sua
síntese no organismo é inadequada para satisfazer as necessidades metabólicas.
Eles são chamados aminoácidos essenciais. Esses aminoácidos são: treonina,
triptofano, histidina, lisina, leucina, isoleucina, metionina, valina e fenilalanina. A
ausência ou ingestão inadequada de qualquer desses aminoácidos resulta em
balanço nitrogenado negativo, perda de peso, crescimento menor em crianças e
pré-escolares e sintomas clínicos. As necessidades de aminoácidos essenciais estão
na tabela 1.
Tabela 1: Estimativas das exigências nutricionais (mg/kg/dia) de aminoácidos por grupo de idade
Aminoácido Lactentes, idade
3-4 meses
Crianças, idade
~2 anos
Crianças, idade
10-12 anos
Adultos
Histidina 28 ? ? 8-12
Isoleucina 70 31 28 10
Leucina 161 73 44 14
Lisina 103 64 44 12
Metionina +
58 27 22 13
Cisteína
Fenilalanina +
tirosina
125 69 22 14
Treonina 87 37 28 7
Triptofano 17 12,5 3,3 3,5
Valina 93 38 25 10
Os demais aminoácidos são chamados não essenciais e são igualmente
importantes na estrutura protéica. Se ocorrer deficiência na ingestão desses
aminoácidos, eles podem ser sintetizados em nível celular a partir de aminoácidos
essenciais ou de precursores contendo carbono e nitrogênio.
Aminoácidos conhecidos como condicionalmente essenciais são aqueles que
se tornam indispensáveis sob certas condições clínicas. Acredita-se que a cisteína, e
possivelmente a tirosina, podem ser condicionalmente essenciais em crianças
prematuras. A arginina pode se tornar indispensável em indivíduos mal nutridos,
sépticos ou em recuperação de lesão ou cirurgia.
Fontes de proteína
As proteínas estão amplamente distribuídas na natureza, mas poucos
alimentos contêm proteínas com todos os aminoácidos essenciais, como as
proteínas do ovo e do leite utilizadas como referência.
Alimentos de origem animal, como carnes, aves, peixes, leite, queijo e ovo,
possuem proteínas de boa qualidade, suficiente para serem considerados as
melhores fontes de aminoácidos essenciais.
Os dados sobre consumo de alimentos de 1985 e 1987 do departamento de
Agricultura do Estados Unidos (USDA) revelaram que os alimentos de origem
animal fornecem 65% da proteína consumida. No Brasil esse valor é de
aproximadamente 40% dependendo do poder econômico da população.
As leguminosas (10 a 30% de proteínas) são os alimentos mais ricos em
proteínas, mas são deficientes em metionina. Os cereais (6 a 15% de proteínas)
apresentam um conteúdo protéico menor do que as leguminosas e são deficientes
em lisina, mas contribuem mais para a ingestão protéica da população, pois são
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -48-
53. PROTEÍNAS
consumidos em grandes quantidades. Frutas e hortaliças fornecem pouca proteína
(1 a 2% do seu peso).
Tabela 2: Composição de aminoácidos em alguns alimentos.
Aminoácidos
essenciais
Queijo,
ovo,
leite e
carne
Milho Cereal Legumes Grão
integral
(com
germe)
Nozes,
óleos de
sementes,
soja
Sementes
de
gergelim
e girassol
Amendoim Vegetais,
“folhas
verdes”
Gelatina Levedura
Metionina X _ X _ X _ _ _ X
Isoleucina X
Leucina X
Lisina X _ _ X X X _ _ _
Fenilalanina _
Treonina X _ _ X _ X _ X
Triptofano _ _ X _
Valina X
X = Altas quantidades de aminoácidos presentes no alimento
_ = Baixas quantidades de aminoácidos presentes no alimento
Recomendações nutricionais para proteínas
O aumento da ingestão de proteínas mais que três vezes o nível
recomendado não aumenta o desempenho durante o treinamento intensivo. Para
atletas, a massa muscular não aumenta simplesmente através de uma alimentação
rica em proteína. Por exemplo, o aumento do consumo extra de proteína de 100g
(400 calorias) para 500g diárias não aumenta a massa muscular. Calorias
adicionais na forma de proteínas são depois da desaminação (remoção do
nitrogênio) usadas diretamente como componentes de outras moléculas incluindo
lipídeos que são estocados em depósitos subcutâneos. Assim, se numa dieta com
excesso de proteínas o músculo não tiver condições de utilizar os aminoácidos para
síntese de tecido muscular, as cadeias carbônicas serão usadas na gliconeogênese
e o nitrogênio excedente excretado pela urina. O aumento da excreção de
nitrogênio leva a uma maior necessidade de água, uma vez que ele é incorporado à
uréia e esta à urina. Isto, a longo prazo pode sobrecarregar os rins e causar
desidratação.
A tabela 3 mostra as recomendações nutricionais de proteínas para
adolescente e adultos homens e mulheres. Em média, o consumo diário de proteína
recomendado por kg de massa corpórea é 0,83g (para determinar o requerimento
de homens e mulheres com idade de 18 a 65 multiplicou-se a massa corpórea em
kg por 0,83. Por exemplo, para um homem com 90 kg, a necessidade diária de
proteína é 90 x 83 ou 75 g).
Geralmente, a necessidade e a quantidade de aminoácidos essenciais
diminuem com a idade. A recomendação protéica diária para lactentes e crianças
em crescimento é de 2 a 4g por kg de massa corpórea, enquanto para mulheres
grávidas é 20 g e para mães em fase de amamentação é 10g. Stress e doenças
aumentam a necessidade protéica.
É tema de debate a grande necessidade de proteínas para atletas
adolescentes que estão em crescimento moderado, atletas envolvidos em
programas de desenvolvimento de força e resistência. Em geral, o aumento no
consumo de proteínas desses atletas serve mais para compensar o aumento no
gasto de energia. Homens e mulheres fisiculturistas e halterofilistas e outros atletas
de força costumam ingerir entre 0,5 a 4 vezes o RDA para proteína por dia. Esse
excesso é consumido na forma de líquido, pó ou pílulas de “proteínas” purificadas.
Essas preparações que contém proteínas são “predigeridas” quimicamente em
aminoácidos em laboratórios.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -49-
54. PROTEÍNAS
Tabela 3: Recomendação nutricional (RDA) de proteínas para adolescentes e adultos homens e mulheres.
Quantidade
Adolescente homem Adulto homem Adolescente mulher Adulto mulher
recomendada
Gramas de proteína
por kg de peso
corpóreo
0,9 0,8 0,9 0,8
Gramas de proteína
por dia (baseada na
média de peso *)
59 56 50 44
*A média de peso é baseada numa “referência” para homens e mulheres. Para adolescentes (idade 14-18) a
média de peso é aproximadamente 65,8 kg para homens e 55,7kg para mulheres. Para homem adulto essa
média é 70 kg e mulher é 56,8 kg.
Proteína exercício 1
Revisão metabolismo de aminoácidos
Explique como é originado o pool de aminoácidos e o que ocorre com os
aminoácidos excedentes.
No organismo não existe uma grande reserva de aminoácido livres e
qualquer quantidade acima da necessária para a síntese de proteínas de tecidos e
os vários compostos não protéicos, contendo nitrogênio, é metabolizada. Nas
proteínas celulares existe um “pool” metabólico de aminoácido (figura 1) num
estado de equilíbrio dinâmica que pode ser solicitado em qualquer situação para
satisfazer uma necessidade. O contínuo estado de síntese e degradação de
proteínas, fenômeno denominado “turnover”, é necessário para manter o “pool”
metabólico e a capacidade de satisfazer a demanda de aminoácidos nas várias
células e tecidos do organismo quando esses são estimulados a produzir novas
proteínas. Os tecidos mais ativos responsáveis pelo “turnover” protéico são plasma,
mucosa intestinal, pâncreas, fígado e rins, enquanto tecido muscular, pele e
cérebro são os menos ativos.
Figura 1: pool de aminoácidos originado pela degradação das proteínas endógenas
e pelas da dieta.
Antes da oxidação do esqueleto de carbono da molécula de aminoácido o grupo
amino deve ser removido. Essa remoção é catalizada por enzimas chamadas
aminotransferases ou transaminases. Na maioria dos aminoácidos o grupo ? -amino
é transferido para o átomo de carbono ? do ? -cetoglutarato produzindo o ? -
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -50-
55. PROTEÍNAS
cetoácido e glutamato. Esse processo ocorre principalmente no fígado. Esse grupo
amino é convertido e, NH4
+ e aspartato que são precursores do ciclo da uréia.
Figura 2: Ciclo da uréia
Os esqueletos de carbono são convertidos a algumas das formas intermediárias
(figura 3), formadas durante o catabolismo de glicose e ácidos graxos. Assim,
podem ser transportados para os tecidos periféricos, onde entram no ciclo de Krebs
para produzir adenosina trifosfato (ATP). Esses fragmentos podem ser usados
também nas síntese de glicose ou gorduras.
Figura 3: Destino da cadeia carbônica dos aminoácidos
A maioria dos aminoácidos, particularmente alanina, são potencialmente
glicogênicos. O piruvato, a partir da oxidação da glicose no músculo, é aminado
para formar alanina que é transportada para o fígado, onde sofre desaminação e o
esqueleto de carbono é convertido à glicose. Esse ciclo da alanina (figura 4) é
importante como fonte de glicose durante o período de baixo suprimento exógeno.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -51-
56. PROTEÍNAS
Figura 4: Ciclo alanina-glicose. A alanina transporta a amônia e o esqueleto
carbônico do piruvato do músculo até o fígado. A amônia é excretada e o piruvato é
utilizado na produção de glicose (gliconeogênese)
Existe um balanço de nitrogênio, quando o consumo de nitrogênio (proteína) é
igual à excreção de nitrogênio. O organismo apresenta um balanço de nitrogênio
positivo se o consumo de nitrogênio for maior do que a sua excreção. Assim, a
proteína é retida como um novo tecido que começa a ser sintetizado. Isso é
freqüentemente observado em crianças, durante a gravidez, em recuperação de
doença e durante exercícios de resistência quando a síntese de proteínas ocorre nas
células do músculo.
O balanço de nitrogênio negativo pode ocorrer quando o organismo cataboliza
proteínas devido a falta de outros nutrientes que forneçam energia. Por exemplo,
um indivíduo que consome quantidades adequadas ou excesso de proteína, mas
pequena quantidade de carboidratos ou lipídeos. Conseqüentemente a proteína é
usada como a principal fonte de energia, o resultado é um balanço negativo de
proteína (nitrogênio). Em períodos de jejum também é observado um balanço
negativo de nitrogênio.
Questões
Qual o principal produto de excreção do metabolismo nitrogenado no homem?
Quais são os outros compostos nitrogenados excretados pelo homem?
Qual é a origem dos dois átomos de nitrogênio presentes na molécula de uréia?
Discuta o balanço energético no ciclo da uréia (balanço de ATP)?
Quais são os destinos das cadeias carbônicas dos aminoácidos?
Discuta a importância do ciclo da alanina-glicose.
Onde ocorre a síntese da uréia?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -52-
57. PROTEÍNAS
Exercício 2
Para o estudo da dinâmica de proteínas no exercício é utilizado o método clássico
de determinação da quebra de proteínas através da excreção da uréia. No
experimento da figura 1 a excreção do nitrogênio foi medida a partir do suor.
Discuta, a partir do gráfico, as conseqüências de uma dieta com restrições de
carboidratos.
O balanço de nitrogênio é a medida mais utilizada para avaliar o metabolismo
protéico de um indivíduo. Sabendo que o balanço de nitrogênio é a diferença entre
a quantidade de nitrogênio ingerido e a quantidade de nitrogênio excretado
explique como está o balanço de nitrogênio nas situações abaixo.
Figura 1: Excreção de uréia no suor em situações de repouso, durante o exercício
depois de grande ingestão de carboidratos (alto CHO) e diminuição de carboidrato
(baixo CHO).
Exercício 3
Algumas proteínas do organismo não podem ser utilizadas para a obtenção de
energia. As proteínas do músculo são mais lábeis e com o aumento da demanda
com os exercícios ela pode ser utilizada na obtenção de energia. A figura abaixo
mostra a liberação do aminoácido alanina (e possivelmente glutamina) a partir de
músculos da perna em diferentes situações. Por que ocorre um aumento dos níveis
de alanina nas situações apresentadas? Qual o destino dessa alanina
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -53-
58. PROTEÍNAS
Figura 6: Influência de 40 minutos de exercícios de varias intensidades e liberação
de alanina a partir dos músculos da perna.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -54-
59. CARBOIDRATOS
14. Carboidratos
De onde vem os carboidratos?
Os carboidratos são sintetizados pelos vegetais verdes através da
fotossíntese, processo que utiliza a energia solar para reduzir o dióxido de carbono.
Assim, os carboidratos atuam como reservatório químico principal da energia solar.
Recomendações Nurticionais
Não há uma recomendação de ingestão para carboidratos. A típica dieta
americana inclui de 40 a 50% da calorias totais como carboidratos. Para uma
pessoa sedentária de 70kg é recomendado um consumo diário de cerca de 300g de
carboidratos. Para uma pessoa ativa envolvida em treinamento o consumo sobe
para 60% de calorias diárias (400 a 600g). Esse carboidrato deve ser
predominantemente proveniente de frutas e vegetais. Na dieta americana cerca de
50% do carboidrato consumido como açúcar simples, predominando a sacarose.
Um consumo adequado de carboidratos é fundamental para pessoas ativas.
Quando o suprimento de oxigênio para os músculos ativos é inadequada, o
glicogênio dos músculos e a glicose do sangue são as primeiras fontes de energia.
Ao estocar glicogênio os carboidratos asseguram energia para exercícios aeróbicos
de alta intensidade. Assim, para pessoas ativas é importante uma dieta com 50 a
60% de calorias na forma de carboidratos predominantemente na forma de amido e
fibras. Durante treinamento vigoroso e antes de competição o consumo de
carboidratos pode aumentar para assegurar reservas adequadas de glicogênio. A
recomendação para atletas com treinamento prolongados é de 10g por kg de
massa corpórea. Portanto, o consumo diário para um atleta de 46kg que gasta
cerca de 2.800kcal por dia é de aproximadamente 450g ou 1800kcal. Um atleta
com 68kg deve ingerir cerca de 675g de carboidratos (2.700kcal) como parte de
um requerimento de 4.200kcal. Em ambos os casos os carboidratos representam
cerca de 65% da energia total consumida.
Fontes de carboidratos
A maior parte dos carboidratos da dieta são provenientes de alimentos de
origem vegetal. A única exceção é a lactose, dissacarídeo que ocorre no leite e seus
derivados. A frutose está presente em grandes quantidades em frutas e no mel. Os
três açúcares duplos (dissacarídeos) que são comuns na alimentação: sacarose,
lactose e maltose. A sacarose é o açúcar comum de mesa e o mais disseminado na
natureza sendo encontrado em todos os vegetais que efetuam a fotossíntese e é
obtida industrialmente da cana-de-açúcar da beterraba. Quando o amido é
hidrolisado pela enzima diastase, um produto é a maltose. A maior fonte de
maltose é a de grãos em germinação. O amido em grãos se rompe durante a
germinação formando a maltose. Isso ocorre antes dos grãos serem usados na
fabricação da cerveja. No processo de produção da cerveja ocorre a mudança de
maltose em “malte”, que é mais fácil de ser metabolizado do que o amido original
no grão. São poucas as fontes de maltose em nossa dieta. Assim, a maltose possui
papel significativo como produto intermediário da digestão do amido. O amido
ocorre como grânulos microscópicos nas raízes, nos tubérculos e nas sementes dos
vegetais. As maiores fontes de amido incluem milho, batata, trigo e arroz.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -55-
60. CARBOIDRATOS
Fibra dietética
Fibra dietética em alimentos corresponde à soma dos resíduos de paredes
celulares e de tecidos de sustentação dos vegetais consumidos nas dietas,
correspondendo a um conjunto de compostos que resistem à hidrólise pelas
enzimas endógenas do tubo digestivo.
O baixo consumo de fibra dietética está ligada a prevalências de desordens
intestinas nos Estados Unidos comparado com países com alto consumo de
complexos de carboidratos não refinados. Por exemplo, na África e na Índia as
dietas apresentam de 40 a 150 g de fibras enquanto a típica dieta americana
apresenta um consumo diário de somente 12g.
Os principais grupos de componentes integrantes das paredes celulares de
vegetais são: celulose, hemicelulose, polissacarídeos pécticos, proteoglicanas,
glicoproteínas e compostos polifenólicos inclusive a lignina. A proporção desses
polímeros varia e o seu grau de maturidade
A celulose é resistente à degradação e insolúvel em água. Assim, os
integrantes da fração fibra classificam-se em solúveis e insolúveis em água. As
fibras solúveis como a pectina e a goma de guar presentes em farinha, feijão,
ervilhas, cenouras e frutas podem diminuir o colesterol do sangue. Essas fibras
podem inibir a síntese e a absorção do colesterol no intestino e ao mesmo tempo se
ligam ao colesterol existente facilitando a excreção nas fezes. As fibras insolúveis
como hemicelulose, lignina e celulose encontradas em arroz, cereais e farelo de
trigo não têm efeito na diminuição do colesterol.
Embora, a fração insolúvel seja em geral a mais abundante, ela não é a mais
importante. A fração insolúvel da fibra está relacionada co o aumento do bolo fecal
que garante o peristaltismo intestinal e evita a constipação, evitando o
aparecimento de hemorróidas e diverticulites (inflamação da parede do intestino,
resultado de irritação conseqüente a diverticulose) que provocam enfraquecimento
da parede intestinal causada pela pressão de fezes duras.
A relação entre câncer de cólon e fibra dietética tem sido estudada, mas os
resultados são conflitantes. Enquanto alguns pesquisadores afirmam não ter
encontrado qualquer relação, outros descrevem diminuição ou aumento do
aparecimento do câncer. Esse assunto é muito discutido em vista da variabilidade
das condições experimentais.
Parece que a fibra reduz a absorção de minerais reduzindo a sua
biodisponibilidade. Em 1992, Sandstead aconselhou não consumir altas doses de
fibra, enquanto não tivermos pleno conhecimento sobre o equilíbrio mineral,
particularmente em relação ao cálcio e o zinco. É recomendado a ingestão diária de
20 a 35 g de fibra.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -56-
61. LIPÍDIOS
15. Lipídios
Os lipídios são fundamentais na alimentação para: transportar as vitaminas
lipossolúveis, fornecer a maior quantidade de calorias por grama, fornecer os ácidos
graxos essenciais etc. Os ácidos graxos essenciais são poliinsaturados e não podem
ser sintetizados pelo organismo humano, sendo obtidos a partir da alimentação. Os
ácidos graxos essenciais são o ácido linoléico e o ácido linolênico, mas há duvidas se o
linolênico é essencial. O ácido linolênico participa da formação do ácido araquidônico
que é precursor dos eicosanóides. Os ácidos graxos essenciais fazem parte da
estrutura dos fosfolipídios que são componentes importantes das membranas e da
matriz estrutural de todas as células. O ácido linoléico é comum na maioria dos óleos
vegetais.
Na dieta típica americana os vegetais contribuem com 34% do consumo
diário de lipídios enquanto 66% é de origem animal. Em média as pessoas nos
Estados Unidos consomem 15% das calorias totais como ácidos graxos saturados. A
relação entre ácidos graxos saturados e o risco de doenças coronárias faz com que
médicos e nutricionistas sugiram a substituição na dieta de ao menos uma parcela
dos ácidos graxos saturados por insaturados. No presente é prudente que não mais
que 10% da energia total seja consumida na forma de ácidos graxos saturados. .
Para uma boa saúde se tornou comum o uso de lipídios provenientes de fontes
vegetais na alimentação como o óleo de milho. Porém, o consumo total de lipídios
(ambos ácidos graxos saturados e insaturados) podem constituir riscos para
doenças cardiovasculares e diabetes. Portanto, o consumo total de lipídios deve ser
reduzido. Existe associação de dietas ricas em gorduras com cânceres de ovário,
mama e cólon, bem como a possibilidade de promover o crescimento de outros
cânceres. A redução de lipídios na dieta também pode reduzir problemas de
controle de peso.
15.1. Ácidos graxos Ômega-3
Os ácidos graxos ômega-3, de interesse nutricional, incluem o ácido
linolênico e seus derivados, ácido eicosapentaenóico e ácido docosahexaenóico.
Óleos de peixe, principalmente peixes de águas geladas como atum, arenque,
sardinha e cavala são ricos em ácidos graxos ômega-3. O consumo regular de peixe
e óleos de peixe tem efeitos benéficos, especialmente em relação a doenças
cardiovasculares. Um mecanismo proposto para prevenção de ataque cardíaco é
que o óleo de peixe ajuda na prevenir a formação de coágulos sanguíneos nas
artérias.
15.2. Colesterol
As lipoproteínas de alta densidade (HDL) são produzidas no fígado e no
intestino. Essas lipoproteínas têm grande porcentagem de proteínas e um baixo teor de
colesterol. As lipoproteínas de baixa densidade (LDL) contêm maior colesterol.
O colesterol, juntamente com outros lipídios, é absorvido a partir do intestino
e transportado para o fígado. No fígado o colesterol e os triacilgliceróis excedentes
são usados na síntese das VLDL que são exportadas. Quando os triacilgliceróis
presentes nas VLDL são hidrolisados pela lípase protéica ocorre a formação das
LDL. As LDL transportam (“mau” colesterol) a maior parte do colesterol sérico e
têm grande afinidade pelas células da parede arterial. As HDL (“bom” colesterol)
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -57-
62. LIPÍDIOS
removem o colesterol dos tecidos e o transportam para o fígado onde é incorporado
a bile e excretado.
Enquanto os ácidos graxos saturados tendem a elevar tanto o LDL-colesterol
como o HDL-colesterol os insaturados reduzem o LDL-colesterol e os
poliinsaturados reduzem também o HDL-colesterol.
15.3. Manteiga X Margarina: O risco dos ácidos graxos Trans?
A manteiga é composta por cerca de 62% de ácidos graxos saturados e a
margarina com aproximadamente 20%. Durante a produção da margarina através
da hidrogenação ocorre a formação de ácidos graxos na forma natural cis e na não
natural trans. Na margarina a porcentagem de ácidos graxos trans insaturados é
maior que na manteiga, mas como a margarina é de origem de óleo vegetal não
contém colesterol como a manteiga. Suspeita-se de uma possível relação entre
ácidos graxos trans e arteosclerose.
15.4. Recomendações nutricionais
A dieta de lipídios representa cerca de 38% das calorias totais ingeridas nos
Estados Unidos, ou cerca de 50kg de lipídios consumidos por pessoa a cada ano.
Embora as recomendações para a ingestão diária de lipídios não estão
estabelecidas, o consumo de lipídios não deve exceder 30% da energia total da
dieta. Foi proposto que a maior parte dos lipídios seja consumido na forma de
ácidos graxos insaturados, igualmente distribuído entre poliinsaturados e
monoinsaturados. A principal fonte de colesterol são os alimentos de origem animal
ricos em ácidos graxos saturados.
15.5. Lipídios no exercício
O requerimento de energia para atividade de baixa a moderada é largamente
proveniente de ácidos graxos provenientes dos estoques de triacilgliceróis e
liberados do músculo como ácidos graxos livres (FFA). Durante breves períodos de
exercício moderado a energia é derivada aproximadamente em igual quantidade de
lipídios e carboidratos. Depois de uma hora aumenta a utilização de lipídios e os
carboidratos se tornam depletados.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -58-
63. LIPÍDIOS
Questões carboidratos, lipídios e proteínas
1- O que é o bom e o mau colesterol?
2- Diante de duas dietas com mesma quantidade de açúcar simples (sacarose) e
amido qual é a mais recomendada?
3- Quais são as recomendações nutricionais (RDA) de carboidratos, proteínas e
carboidratos, proteínas e lipídios?
4- Quais são as principais fontes de carboidratos, proteínas e lipídios na
alimentação?
5- Compare as proteínas de origem animal com as de origem vegetal?
6- A mistura de cereais e leguminosas substitui as proteínas de origem animal
numa dieta?
7- Explique a importância de uma dieta de boa qualidade do ponto de vista
protéico para o pool de aminoácidos?
8- Quais as conseqüências de uma dieta deficiente em proteínas?
9- È recomendado uma alta ingestão protéica em atletas?
10- Além do glicogênio qual é a outra maneira do homem armazenar energia?
Qual fornece mais energia? Quem é mais facilmente disponível?
11- Explique o papel dos carboidratos em exercícios prolongados?
12- Quais as conseqüências de uma dieta deficiente em carboidratos?
13- Na tabela abaixo temos a porcentagem de ácidos graxos saturados e
insaturados em gorduras de origem animal, margarinas e óleos vegetais. Com
base na tabela explique que tipo de lipídio é mais recomendado para uma
dieta adequada?
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -59-
64. LIPÍDIOS
Saturados Monoinsaturados Poliinsaturados
Gorduras
Manteiga 66 31 3
Toicinho 43 44 13
Margarinas 26 49 25
Óléos
Amendoim 20 50 30
Algodão 27 22 51
Soja 15 25 60
Milho 13 25 62
Girassol 11 21 68
Oliva 14 77 9
Coco 92 6 2
14- Qual o ácido graxo essencial para o organismo humano?
15- Qual a influência dos ácidos graxos no “mau colesterol” (LDL-colesterol) e no
“bom colesterol” (HDL-colesterol)? Quais as vantagens e as desvantagens no
consumo de margarinas?
16- Quais são os ácidos graxos omega-3? Quais são as suas principais fontes e
funções?
17- A figura abaixo mostra a porcentagem de calorias totais consumidas como
carboidratos, proteínas e lipídios, incluindo kcal total por kg de massa
corpórea, em diferentes tipos de atividade física. Explique a diferença de
calorias consumidas na forma de proteínas, lipídios e carboidratos em
diferentes tipos de exercícios.
Porcentagem de calorias totais consumidas na forma de carboidratos, proteínas e
lipídios, incluindo kcal total por kg de massa corpórea, para 8 grupos de atletas
mulheres e homens e 4 grupos de atletas homens.
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -60-
65. ESTRESSE OXIDATIVO, DEFESA ANTIOXIDANTE E ATIVIDADE FÍSICA
16. Estresse Oxidativo, Defesa Antioxidante e Atividade Física
“Paradoxo do Oxigênio”
"One of the paradoxes of life on this planet is
that the molecule that sustains aerobic life, oxygen,
is not only fundamentally essential for energy
metabolism and respiration, but it has been
implicated in many diseases and degenerative
disorders."
O estudo do papel do estresse oxidativo vem atraindo grande interesse por
sua associação com envelhecimento e uma série de outras condições patológicas. A
relação entre atividade física, radicais livres, antioxidantes, ainda não está bem
estabelecida. Os estudos indicam que em atividades físicas de intensidade média o
organismo tem condições de neutralizar os radicais livres produzidos durante o
exercício. Porém outros estudos mostram que, durante os exercícios intensos e
extenuantes, o sistema antioxidante do organismo não é capaz de neutralizar os
efeitos danosos dos radicais livres ao organismo. Nesta seção introduziremos
conceitos básicos sobre radicais livres, danos oxidativos, defesas antioxidantes e
discutiremos tópicos relacionados à adaptação (indução de enzimas de defesa
antioxidante) lesões e suplementos antioxidantes.
16.1. O que são: Radicais Livres, Espécies Reativas de Oxigênio e
Nitrogênio
Antes de começarmos a discussão sobre o estresse oxidativo no exercício
físico é fundamental que entendamos o significado dos termos radicais livres,
espécies reativas de oxigênio e nitrogênio.
De maneira geral, tem-se que o oxigênio molecular (O2) é necessário para a
sobrevivência de todos organismos aeróbicos. Assim, a obtenção de energia por
estes organismos é feita na mitocôndria através da fosforilação oxidativa, onde o O2
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -61-
66. ESTRESSE OXIDATIVO, DEFESA ANTIOXIDANTE E ATIVIDADE FÍSICA
é reduzido por quatro elétrons a H2O. Quando o oxigênio é parcialmente reduzido,
tanto na fosforilação oxidativa quanto em outras reações, há a formação de radicais
livres, que constituem moléculas com coexistência independente (o que explica o
uso do termo “livre”) e que contém um ou mais elétrons não pareados na camada
de valência. Esta configuração faz dos radicais livres espécies altamente instáveis,
de meia vida relativamente curta e quimicamente muito reativas.
e-
H+
H ? OH 2O2 H2O e- e-
O ?? 2
O2
2H+
e-
H+
Esquema 1. Passos intermediários da redução do oxigênio. A redução por 4 elétrons
do oxigênio até a água ocorre em etapas sucessivas de redução por 1 elétron.
Neste processo são formados os intermediários: ânion radical superóxido, peróxido
de hidrogênio e radical hidroxila, que correspondem à redução por um, dois e três
elétrons, respectivamente.
O termo espécies reativas de oxigênio (EROs ou ROS:“reactive oxygen
species”) incluem, além dos radicais livres derivados do oxigênio (como o radical
superóxido e o radical hidroxila), espécies não radicalares como a água oxigenada
(H2O2, mensageiro secundário na transdução de sinal intra e extra-celular), o ácido
hipocloroso (HOCl, agente oxidante e clorinante produzido por macrófagos), o
oxigênio singlete (uma forma altamente reativa do oxigênio) e o ozônio.
Um dos principais representantes de ROS é o anion radical superóxido (O2
Nutrição e Esporte – Uma abordagem Bioquímica -62-
? -),
o qual é produzido através de uma redução monoeletrônica do oxigênio. Nas células
o O2
? - é rapidamente convertido à peróxido de hidrogênio (H2O2) através de sua
dismutação espontânea ou enzimática (superóxido dismutase). O H2O2 é menos
reativo que o O2
? -, porém na presença de metais como o ferro (Fe2+) ou o cobre
(Cu+), ele pode gerar radicais hidroxila (?OH). O ?OH é provavelmente um dos
radicais mais reativos dentre os ROS.
H2O2 + Fe2+ ? Fe3+ + OH- + ?OH (reação de Fenton)
As espécies reativas de nitrogênio (ERNs ou RNS:”reactive nitrogen
species”), como o próprio nome indica, referem-se às espécies reativas derivadas
do nitrogênio. Um representante muito importante desta classe é o radical óxido
nítrico (?NO), um agente vasodilatador e neurotransmissor sintetizado pelas células
do endotélio vascular. Na tabela 1 estão representados os principais exemplos de
radicais livres, ROS e RNS.
67. ESTRESSE OXIDATIVO, DEFESA ANTIOXIDANTE E ATIVIDADE FÍSICA
Tabela 1: Principais ROS e RNS
Nome Fórmula Comentários
Radical superóxido O2
? - É formado através da redução por 1 elétron do
oxigênio. Produzido por células fagocíticas onde
tem papel importante na inativação de vírus e
bactérias. Também é produzido durante o
metabolismo normal na mitocôndria
Radical Hidroxila ?OH É um dos radicais livres mais potentes. É
produzido pela ação de radiações ionizantes e na
decomposição de H2O2 catalisada por metais
Peróxido de
hidrogênio
H2O2 É formado na dismutação de O2
? - catalisada pela
SOD. Também é produzido por várias oxidases,
entre elas a xantina oxidase
Ácido hipocloroso HOCl É produzido a partir de Cl- e H2
O2 pela
mieloperoxidase em neutrófilos ativados. Possui
importante papel na destruição de bactérias.
Reage com H2O2 produzindo 1O2
Oxigênio singlete 1O2 É uma forma bastante reativa do oxigênio. É
produzido nas reações de fotosensibilização e em
outras reações envolvendo peróxidos
Óxido nítrico ?NO É um radical com importantes papéis fisiológicos.
É formado a partir da L-arginina numa reação
mediada por enzimas do grupo da NO sintase.
?- e NO?. Sua
Peroxinitrito ONOO- Formado na reação entre O2
protonação torna-a altamente oxidante sendo
capaz de lesar uma série de biomoléculas
16.2. Quais são as fontes de radicais livres durante o exercício físico?
Durante o exercício físico as ROS podem ser produzidas por diversas fontes,
que variam de acordo com o órgão, o tempo de exercício e o tipo de exercício,
sendo que muitas das fontes não são exclusivas e podem ser ativadas
simultaneamente.
A figura abaixo ilustra de maneira geral as vias principais de formação de
radicais livres durante o exercício.
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