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Conteúdo
Escolhidos Desde a Eternidade . . . . . . . . . . . . . 1
A Realidade da Ira de Deus . . . . . . . . . . . . . . . 14
Jonathan Edwards . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Submissão à Disciplina de Deus . . . . . . . . . . . . 29
O Que é a Perseverança dos Santos? . . . . . . . . . 35
Escolhidos Desde a
Eternidade
John MacArthur
Introdução
Efésios 1.3-14 é um hino de adoração proveniente do coração
do apóstolo Paulo. Não é um argumento teológico monótono,
e sim o transbordar de sentimentos ardentes do coração
agradecido do apóstolo. No grego, esta passagem constitui
uma grande sentença. O Espírito de Deus inspirou o apóstolo
Paulo a proferir esta profusa adoração ao Deus que o havia
salvado.
a. A passagem
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que
nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas
regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele,
antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepre-
ensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele,
para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o
beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça,
que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos
a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo
a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente
sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos
o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que
propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação
1
Escolhidos Desde a Eternidade 2
da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como
as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança,
predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as
coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos
para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos
em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a
palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo
nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da
promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate
da sua propriedade, em louvor da sua glória.”
b. As pessoas
1. O Pai
Governando estes versículos, encontra-se a idéia de que Deus
realizou a salvação por sua própria vontade, propósito e
desígnio. A salvação não resulta da vontade ou do mérito de
uma pessoa. A salvação não é obtida por meio de sacrifícios
religiosos ou de boas intenções. O crédito da salvação pertence
apenas a Deus, e somente Ele pode ser louvado e glorificado.
2. O Filho
A salvação é a obra de Deus mediada por Cristo. A salvação
tanto se realiza em Cristo como por meio dEle . A salvação
se encontra no Amado, que é Cristo. Foi proposta nEle.
Enquanto a salvação é uma obra exclusiva do Pai, ela se
realiza por intermédio de Cristo.
3. O Espírito
A salvação é selada pelo Espírito Santo (v. 13). Ele é o Espírito
Santo da promessa, que nos foi dado como penhor de nossa
herança — a garantia de nossa completa e futura redenção
como propriedade de Deus mesmo. Deus, o Pai, Deus, o Filho,
e Deus, o Espírito Santo, recebem todo o crédito da salvação.
Escolhidos Desde a Eternidade 3
Ensinos
I. Deus nos escolheu
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que
nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas
regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele,
antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreen-
síveis perante ele.”
a. A afirmação do apóstolo
Paulo inicia esta passagem afirmando que Deus recebe todo o
louvor na salvação. O verbo traduzido “escolheu” (no grego,
eklegomai) foi empregado na forma reflexiva, significando
“selecionar para si mesmo”. Isso significa que a ação do verbo
retorna à pessoa que a pratica. Paulo estava dizendo que Deus
nos escolheu tendo em vista o seu próprio interesse — para
Si mesmo, pessoalmente. A escolha divina foi realizada antes
que o mundo existisse.
b. A confirmação das Escrituras
A Bíblia afirma a verdade da escolha redentora feita por Deus.
1) Mateus 25.34 - Jesus disse: “Vinde, benditos de meu Pai!
Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo”. O Senhor planejou tanto o reino quanto
os habitantes do reino, antes que o mundo começasse a existir.
Você e eu somos salvos e conhecemos o Senhor Jesus por que
Deus nos escolheu.
2) Lucas 12.32 - Jesus disse a seus discípulos: “Não temais, ó
pequenino rebanho, porque vosso Pai se agradou em dar-vos
o seu reino”.
3) João 6.44 - Jesus proclamou para uma grande multidão:
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o
Escolhidos Desde a Eternidade 4
trouxer [compelir]”.
4) João 15.16 - Jesus disse a seus discípulos: “Não fostes vós
que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a
vós outros e vos designei para que vades e deis fruto”. Nós
não escolhemos a Jesus; Ele nos escolheu. Não decidimos por
Cristo no mais verdadeiro sentido — Ele decidiu por nós.
5) Atos 9.15 - O Senhor disse a respeito do apóstolo Paulo:
“Este é para mim um instrumento escolhido”.
A conversão de Paulo aconteceu abruptamente — ele estava
a caminho de Damasco para perseguir os crentes. Mas ele foi
convertido, transformado e chamado para ser um apóstolo,
porque Deus o escolhera antes da fundação do mundo.
6) Atos 13.48 - afirma sobre aquelas pessoas que ouviram a
pregação de Paulo e Barnabé: “Creram todos os que haviam
sido destinados para a vida eterna”. Deus outorga o dom da
fé somente para aqueles que estão predestinados por meio da
escolha dEle mesmo.
7) 2 Tessalonicenses 2.13 - “Devemos sempre dar graças a
Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos
escolheu desde o princípio para a salvação”. Paulo não deu
graças porque os crentes de Tessalônica haviam decidido se
tornar pessoas salvas. Eles não eram muitíssimo inteligentes,
espertos, espirituais, perspicazes e, por isso, escolheram a
Deus; pelo contrário, Deus os escolheu desde o princípio. A
salvação exige que tenhamos fé, mas a fé é o resultado da
escolha de Deus.
8) 2 Timóteo 1.8,9 - “Deus… nos salvou e nos chamou com
santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a
sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo
Jesus, antes dos tempos eternos”.
Escolhidos Desde a Eternidade 5
9) 1 Pedro 1.2 - afirma que os crentes são “eleitos, segundo a
presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”.
10) Apocalipse 13.8; 20.15 - infere que os nomes dos crentes fo-
ram escritos no Livro da Vida do Cordeiro antes da fundação
do mundo.
c. A confirmação da teologia
Somente Deus pode receber o crédito por nossa salvação. A
doutrina da eleição é a mais humilhante de todas as doutrinas
ensinadas nas Escrituras. Deus escolheu um povo para torná-
lo santo, a fim de que estejam com Ele para sempre. A nossa
fé vem de Deus. Um poeta anônimo apresentou esta verdade
nas seguintes palavras do hino Vida Interior: “Eu procurava o
Senhor e descobri que Ele, buscando-me, inclinou minha alma
a procurá-Lo. Não fui eu quem Te encontrou, ó verdadeiro
Salvador; não, eu fui encontrado por Ti”.
II. Deus nos predestinou (v. 5)
“Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos,
por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua
vontade.”
a. A afirmação do apóstolo
Por meio da escolha divina previamente determinada, fomos
predestinados para a adoção como filhos de Deus. Realmente
somos filhos de Deus.
b. A confirmação das Escrituras
1) João 1.12 - “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder
de serem feitos filhos de Deus”.
2) Romanos 8.15 - “Recebestes o espírito de adoção, baseados
no qual clamamos: Aba, Pai”.
Escolhidos Desde a Eternidade 6
3) Gálatas 3.26 - “Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé
em Cristo Jesus”.
4) Gálatas 4.6-7 - “Porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso
coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte
que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também
herdeiro por Deus”.
5) 1 João 3.1 - “Vede que grande amor nos tem concedido o
Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus”.
c. A confirmação da teologia
A escolha predeterminada de Deus não dependeu do que Ele
viu em nós. Ele a fez “segundo o beneplácito de sua vontade”
(v.5). Deus não nos escolheu porque Ele tinha de fazer isso,
e sim porque Ele quis — trouxe-Lhe prazer. Deus mesmo
disse: “O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha
vontade” (Is 46.10).
III. Deus nos concedeu sua graça (v. 6)
“Para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu
gratuitamente no Amado.”
a. A afirmação do apóstolo
A escolha de Deus e a nossa predestinação se tornaram uma
realidade em nossas vidas por intermédio da graça de Deus.
Graça significa favor imerecido, bênção pela qual não traba-
lhamos, bondade não resultante de méritos. Somos salvos pela
graça de Deus.
a. A confirmação das Escrituras
1) Efésios 2.8-9 - “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e
isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que
Escolhidos Desde a Eternidade 7
ninguém se glorie”. A graça de Deus não admite qualquer
mérito da parte do homem.
2) Atos 15.11 - “Cremos que fomos salvos pela graça do Senhor
Jesus”.
3) Atos 18.27 - “Tendo [Apolo] chegado, auxiliou muito aque-
les que, mediante a graça, haviam crido”.
4) Romanos 3.24 - Somos “justificados gratuitamente, por sua
graça”.
c. A confirmação da teologia
A expressão, no versículo 6, pode ser traduzida literalmente
por “mediante a graça temos sido agraciados”. Deus nos
concedeu graça em Cristo, o Amado, trazendo à realidade a
sua escolha e predestinação por nos tornar seus filhos.
IV. Deus nos redimiu (v. 7a)
“No qual temos a redenção, pelo seu sangue.”
a. A afirmação do apóstolo Paulo
1) Do que Deus nos redimiu?
Deus nos resgatou da escravidão ao pecado, à morte, ao
inferno, a Satanás, aos demônios, à carne pecaminosa e ao
mundo. Não tendo qualquer dignidade e esperança, com
nossa mente em trevas e coração inclinado para o mal, éramos
escravos miseráveis; apesar disso, Deus veio ao nosso encon-
tro e nos comprou da escravidão. Fomos comprados porque
fomos predestinados; predestinados, porque fomos escolhi-
dos; escolhidos, porque fomos amados; e amados, porque o
beneplácito de Deus assim o quis.
2) Por meio do quê?
Escolhidos Desde a Eternidade 8
Romanos 6.23 declara: “O salário do pecado é a morte”. Cristo
nos redimiu por meio do derramamento de seu sangue. Esse
não foi um preço fácil de ser pago. Ele teve de assumir a forma
humana, vir ao mundo e morrer na cruz, vertendo seu sangue
em sacrifício por nós. O sangue de Cristo é realmente precioso.
b. A confirmação das Escrituras
1) 1 Pedro 1.18-19 - “Não foi mediante coisas corruptíveis,
como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil
procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso
sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue
de Cristo”.
2) Apocalipse 5.9 - diz a respeito de Cristo: “Digno és de tomar
o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu
sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo,
língua, povo e nação”.
V. Deus nos perdoou (v. 7b, 8a)
“A remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que
Deus derramou abundantemente sobre nós.”
a. A afirmação do apóstolo
Deus não somente nos resgatou, mas também perdoou os
nossos pecados — passados, presentes e futuros.
b. A confirmação das Escrituras
1) Mateus 26.28 - Jesus disse: “Isto é o meu sangue, o sangue da
[nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão
de pecados”. Quando Deus perdoa (no grego, aphiemi, “man-
dar embora para nunca mais retornar”), Ele remove os nossos
pecados para tão distante quanto o Oriente está do Ocidente
(Sl 103.12), lança-os nas profundezas do mar (Mq 7.19) e nunca
mais se lembra deles (Is 43.25).
Escolhidos Desde a Eternidade 9
2) Miquéias 7.18 - “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que
perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante
da tua herança?”
3) Romanos 8.1 - “Agora, pois, já nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus”.
4) Efésios 4.32 - “Sede uns para com os outros benignos,
compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também
Deus, em Cristo, vos perdoou”.
5) Colossenses 2.13 - “E a vós outros, que estáveis mortos
pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne,
vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos
delitos”.
6) 1 João 2.12 - O apóstolo João disse: “Filhinhos, eu vos
escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa
do seu nome”.
c. A confirmação da teologia
O perdão de Deus foi derramado abundantemente sobre nós
por meio das riquezas de sua graça. O perdão exigiu abun-
dância de graça porque tínhamos muitos pecados. A parábola
do credor incompassivo (Mt 18.21-35) afirma que temos uma
dívida impagável e indescritível. Devemos nossa salvação ao
Deus que desejou nos ter como sua propriedade peculiar.
Somos perdoados independentemente de nossa indignidade.
VI. Deus nos iluminou (vv. 8b-10)
“Em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o misté-
rio da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera
em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da pleni-
tude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da
terra.”
Escolhidos Desde a Eternidade 10
a. A afirmação do apóstolo
Quando somos salvos, somos também iluminados. Deus nos
apresenta um retrato de como todas as coisas, do céu e da
terra, serão colocadas em sujeição a Cristo, para o seu louvor.
Ele nos iluminou com sabedoria nas coisas eternas e com
prudência nas coisas terrenas.
b. A confirmação das Escrituras
1) 1 Coríntios 2. 12 - “Não temos recebido o espírito do mundo,
e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que
por Deus nos foi dado gratuitamente”.
2) 1 Coríntios 2.16 - “Quem conheceu a mente do Senhor, que
o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo”.
3) 2 Coríntios 4.3-4 - “Se o nosso evangelho ainda está enco-
berto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o
deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para
que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de
Cristo, o qual é a imagem de Deus”.
4) 1 João 2.27 - “A unção que dele recebestes permanece em
vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine”.
c. A confirmação da teologia
Deus nos iluminou porque Ele mesmo o quis. Se não fosse
por causa de seu beneplácito, permanece-ríamos nas trevas,
incapazes de participar do seu plano.
VII. Deus nos prometeu (vv. 11-12)
“Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predesti-
nados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para
louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em
Cristo.”
Escolhidos Desde a Eternidade 11
a. A afirmação do apóstolo
Deus nos predestinou para sermos seus filhos, e seus filhos
receberão a herança dEle.
**b. A confirmação das Escrituras **
1) Romanos 8.18 - “Os sofrimentos do tempo presente não
podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”.
2) 1 João 3.2 - “Ainda não se manifestou o que haveremos
de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”.
3) 1 Pedro 1.4 - O apóstolo Pedro afirmou que temos “uma
herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada
nos céus”.
4) 2 Coríntios 1.20 - “Porque quantas são as promessas de
Deus, tantas têm nele o sim”.
**c. A confirmação da teologia **
Todas as promessas de Deus — paz, amor, sabedoria, vida
eterna, alegria e vitória — são nossas de acordo com a pro-
messa de Deus. Elas nos foram asseguradas não por direito, e
sim pela graça de Deus. Ele recebe toda a glória.
VIII. Deus nos selou (vv. 13-14)
“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da
verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também
crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o
qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua
propriedade, em louvor da sua glória.”
**a. A afirmação do apóstolo **
Ele declarou que nossa herança está assegurada porque Deus
nos selou.
Escolhidos Desde a Eternidade 12
b. A confirmação da teologia
Selar, nos tempos antigos, era um sinal de possessão, segu-
rança, autenticidade e término de uma transação. A habitação
do Espírito Santo nos crentes significa que eles são possuídos,
seguros, autenticados e completos por Deus. Esperamos pela
redenção completa e somos habitados pelo Espírito como um
selo e garantia da nossa herança (Rm 8.23-24).
Conclusão
Somente Deus merece o crédito por nossa salvação. Ele nos
salva por sua própria e espontânea vontade; todavia, de nosso
ponto de vista, precisamos fazer duas coisas: a) esperar em
Cristo (v. 12); b) crer nEle (v. 13). Isso também acontece para o
louvor e glória de Deus mesmo (v. 12). Ele nos dá o poder para
esperarmos em Cristo. Nossa fé vem de Deus (Ef 2.8-9). Ele
abre nossos ouvidos para atendermos à mensagem da verdade
e nos capacita a crer. Todo o processo de salvação é realizado
pelo Espírito Santo; sem Ele, ninguém poderia esperar ou crer
em Cristo.
Jesus disse que todos os que não crêem no Filho de Deus
estão condenados (Jo 3.18). Deus, em sua graça soberana,
decidiu salvar aqueles que Ele mesmo amou (Rm 9.8-13). Tais
pessoas são resgatadas da correnteza de homens e mulheres
sem esperança que flui em direção ao inferno. Essa é uma
verdade humilhante e deve resultar em imensa gratidão de
nossa parte. Por que Deus nos escolheu e não outras pessoas?
Ele não o fez porque merecíamos a salvação, e sim para
demonstrar “as riquezas da sua glória” (Rm 9.14-23). Portanto,
nossa única reação tem de ser: “Bendito o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte
de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3).
Ponderando os princípios
Escolhidos Desde a Eternidade 13
1) A nossa época proclama altissonantemente a auto-impor-
tância do homem. Os comerciais nos dizem que merecemos
uma folga, um carro melhor, comida melhor, roupas melhores
— merecemos mais da “boa vida”. Os problemas da humani-
dade freqüentemente são diagnosticados como falta de auto-
estima. No entanto, a Bíblia diz que “todos se extraviaram, à
uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem
um sequer” (Rm 3.12). Ao invés de afirmar a boa estimativa
que o homem faz de si mesmo, as Escrituras colocam as
seguintes palavras na boca dos que têm discernimento: “Todos
nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como
trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e
as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam” (Is
64.6). Para que Deus seja corretamente honrado e glorificado,
todo crente tem de compreender que a salvação é uma obra
exclusiva da graça divina.
2) A obra de Deus na salvação tanto reflete a natureza de
Deus quanto a natureza do homem. Quando o apóstolo João
escreveu: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a
ponto de sermos chamados filhos de Deus” (1 Jo 3.1), ele estava
fazendo um comentário sobre o grande amor de Deus e sobre
a corrupção do homem. Thomas Watson escreveu: “Para que
você seja uma pessoa agradecida, Deus o chamou exatamente
quando você O ofendia; Ele o chamou sem precisar de você
e mesmo tendo milhares de santos glorificados e de anjos
a adorá-Lo. Pense naquilo que você era antes de ter sido
chamado por Deus” (A Body of Divinity). A doutrina da
eleição soberana, entendida corretamente, produz gratidão
profunda para com Deus nos corações dos crentes.
De que maneira isso tem afetado a sua vida?
A Realidade da Ira de
Deus
Erroll Hulse
O que, exatamente, devemos entender como a ira de Deus? É
um atributo de Deus? E, se assim for, ela age fundamentada
em quê? Como respostas a estas perguntas não há declaração
mais definitiva do que a do apóstolo Paulo na sua introdução
ao principal tema de sua epístola aos Romanos: “A ira de
Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos
homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rm 1.18).
Resumidos nesta declaração estão os pontos salientes de nosso
artigo. Esta ira é a ira de Deus. Revela-se do céu. Note
o tempo presente “revela-se”. Os julgamentos de Deus na
história testemunham a respeito de sua ira. Além disso, esta
ira é dirigida contra os homens – especificamente, contra os
homens ímpios e perversos; e, ainda mais especificamente,
contra os homens que de- têm a verdade pela injustiça.
Mais adiante no contexto, o apóstolo explica que é possível
escapar da ira de Deus, mediante a fé em Cristo, o único que
tem propiciado essa ira (Rm 3.21-26). Com esta conclusão,
exponho Romanos 1:18 da seguinte maneira.
1. A provocação da ira de Deus – “…co…a toda impiedade
e perversão dos homens…&r…o;
14
A Realidade da Ira de Deus 15
2. A natureza da ira de Deus – “A ira de Deus se revela do
céu”. A ira procede do ser ou da pessoa de Deus; é sua
contínua e imutável reação ao mal.
3. A ira de Deus manifestada – “A ira de Deus se revela”
(continuamente).Apokaluptetai, “se revela”, é um verbo
que está no presente contínuo. As manifestações do
desagrado divino acontecem ao longo da História, e um
estudo destas manifestações nos ajuda a compreender
a realidade da ira de Deus.
4. A propiciação da ira de Deus – “A quem Deus propôs,
no seu sangue, como propiciação, mediante a fé” (Rm
3.25). Somente o sangue expiatório de Cristo propicia
a ira de Deus, e a justiça de Cristo, atribuída a nós,
assegura-nos proteção permanentemente contra essa
ira.
1. A provocação da ira de Deus
“…co…a toda impiedade e perversão dos homens…&r…o;
A impiedade é, na verdade, a ação de ser “antiDeus” e refere-
se à inimizade e à perversidade, as quais abrem caminho
para a injustiça (ilegalidade). A piedade age poderosamente
como incentivo para a justiça de coração e de vida. Sua
ausência deixa um vácuo que é facilmente preenchido pela
injustiça. Onde não há temor a Deus, os desejos sensuais
logo conduzem os homens a entregarem-se livremente a toda
forma de perversão. A impiedade manifesta-se geralmente na
forma de idolatria. No mundo pagão esta idolatria é expressa
no serviço a ídolos e na escravidão a demônios associados a
esses ídolos. Na sociedade ocidental, a idolatria manifesta-se
na forma de mundanismo (servir ao mundo, ao invés de servir
a Deus), ou seja, no satisfazer “a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2.16).
A Realidade da Ira de Deus 16
Visto que a impiedade afeta o próprio ser e caráter de Deus,
ela provoca sua ira. Paulo declara que a ira de Deus se
revela continuamente contra toda impiedade e perversão dos
homens “que detêm a verdade pela injustiça”. Isso implica que
os homens conhecem a verdade. Eles são convencidos pela
verdade mas a abafam, restringindo-a ou empurrando-a para
trás. Isto é verdade em relação a todos aqueles que praticam
a impiedade, mas é verdade especialmente em relação aos
judeus a quem Paulo se refere em Romanos 2 e 3. Os judeus
tinham orgulho do seu conhecimento da verdade (Rm 2.20)
mas desprezaram-na de tal maneira que provocaram nosso
Senhor a proferir palavras de feroz indignação: “Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus
diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar
os que estão entrando!” (Mt 23.13)
Todo pecado tem sua origem na apostasia do homem para
com Deus. O pecado, então, aumenta e se multiplica à medida
que as restrições de Deus sobre os pecadores diminuem.
Finalmente, todo pecado tem sua consumação no fogo da ira
de Deus. Todos os atos de ira e indignação neste mundo são
apenas um prelúdio do estado final de ira que será revelado
no “dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm 2.5).
O que ocorre não é que a ira cai sobre o pecado abstrato. A
maioria das referências na Bíblia mostram explicitamente que
a ira de Deus cai sobre os pecadores. “Aborreces a todos os
que praticam a iniqüidade” (Sl 5.5). Há aproximadamente 26
passagens bíblicas declarando que Deus odeia pecados como
divórcio, roubo, idolatria, etc. Destas, pelo menos 12 referem-
se ao fato de que Deus odeia os próprios pecadores. Devemos
observar também que toda expressão de ira na história deste
mundo tem uma realidade escatológica (move-se em direção
ao julga- mento final). Tudo está se movendo para aquele
A Realidade da Ira de Deus 17
grande dia sobre o qual a Bíblia fala constantemente (Mt
25.31; Rm 2.5, 5.9; Ef 5.6; Hb 9.27; Ap 20.11). Naquele dia,
tudo será revelado, e o lago de fogo se tornará um monumento
permanente à justiça de Deus.
Uma tremenda expressão de ódio para com Deus – ódio que
tem como resultado a ira de Deus – é revelado em Apocalipse
20.8,9. Todos os exércitos e poderes do Anticristo se organizam
contra o acampamento do povo de Deus. Os poderes da
impiedade unidos avançam para atacar a noiva de Cristo.
Ao examinarmos a batalha, vemos que, enquanto gloriosa
santidade caracteriza a Divindade, ódio e feiúra são as marcas
do inimigo. A ira de Deus se manifesta contra a impiedade –
aquilo que guerreia contra Ele.
2. A natureza da ira de Deus
“A ira de Deus se revela do céu.”
O castigo humano difere do castigo divino por sua natureza
variável e inexata. Ao lidarmos com crime e castigo, pensamos
geralmente em termos de reforma dos culpados e de proteção
dos inocentes. A idéia de retribuição não é popular. No jul-
gamento final, a ira divina será expressa somente em termos
de retribuição. O inferno não será uma penitenciária, isto é,
um lugar para correção. Dureza incorrigível caracterizará os
ímpios. O castigo naquele dia será retribuição justa.
Os magistrados são autorizados por Deus a punir (Rm 13.1-
4), mas, em última instância, a retribuição, de acordo com a
Bíblia, é função somente da Divindade. “A mim pertence a
vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19; Hb
10.30). O papel da consciência é importante. Não há arrepen-
dimento no inferno (Ap 16.11); e a ira de Deus, na forma de
castigo sem fim, será apoiada pela consciência humana que
prestará testemunho e a aprovará na sentença condenadora.
A Realidade da Ira de Deus 18
A realidade da ira de Deus levanta a questão de impassibili-
dade: encontramos em nossas declarações de fé a afirmação
de que “Deus não tem partes ou paixões corporais”. Isto esta-
belece uma verdade importante designada a evitar qualquer
idéia de que Deus seja instável ou sujeito às disposições ou
distúrbios que nós mortais conhecemos. No entanto, seria
desastroso concluir, por isso, que Deus é uma máquina sem
sentimentos. Ele é eternamente santo e é perfeito no seu amor
triúno. Vemos seus sentimentos expressos em Cristo, mas não
é possível sabermos, de maneira prática, como Deus sente.
Se a declaração “Deus é amor” tem algum significado, então,
concluímos que Deus sente emoções à sua própria maneira
infinita e imutável. Em nossa própria experiência, sentimos
o amor de Deus de forma tangível, à medida que esse amor
é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que
nos foi outorgado (Rm 5.5). A língua bíblica principal é o
hebraico. A palavra aphdenota raiva, estremecimento, (210
vezes); e chemah significa calor, ira, fúria (115 vezes). Vistas
nos seus contextos, estas palavras demonstram claramente
a mensagem de que Deus tem sentimentos fortíssimos em
relação à maldade. O assunto obviamente precisa de expo-
sição separada, na qual o maior cuidado é necessário para
resguardar nosso ponto de vista da imutabilidade de Deus,
e o nosso entendimento dEle como um Deus (sempre santo
em Si mesmo) que é amor e ira.
Sobre o assunto de ira e amor, Shedd comenta: “Estas duas
emoções são reais e essenciais em Deus: uma é despertada pela
justiça e a outra pelo pecado. A existência de uma necessita
da existência da outra; as- sim, se não houver amor pela
justiça, não haverá ódio pelo pecado; e, reciprocamente, se não
houver ódio pelo pecado, não haverá justiça. A coexistência
necessária destes senti- mentos é continuamente ensinada na
A Realidade da Ira de Deus 19
Bíblia: ‘Vós que amais o Senhor, detestai o mal’ (Sl 97.10)”.
A perfeita compatibilidade entre a ira e o amor é vista na
prova substitutiva de Cristo. Somente Ele poderia cumprir os
requisitos da justiça. As ofertas queimadas de Levítico 1.1-
9 eram completamente consumidas pelo fogo. Produziam um
“aroma agradável ao Senhor”. O “agradável” é uma referência
à total satisfação de justiça e não significa, nem por um
momento, que Deus teve prazer nos sofrimentos de Cristo.
Ele repugnava isto (lembremos a prova de Abraão, ao ser
chamado para sacrificar Isaque) com perfeita repugnância,
mas teve prazer na vindicação da justiça e no cumprimento
da justiça representada na vitória de seu Filho. “A dor do
Cordeiro em corpo e alma era tão imensa, que somente os
poderes de uma pessoa divina poderiam suportá-la.”2 “Como
sua alma fervia debaixo do fogo da ira, e seu sangue vazava
através de todos os poros, por causa do extremo calor da
chama.”
Por causa destes interesses essenciais pela justiça, a ira de
Deus veio sobre o Cordeiro, e podemos apenas concluir que
essa ira é uma terrível realidade.
3. A ira de Deus manifestada
“A ira de Deus se revela (continuamente)…”
Enquanto escrevo sobre essa ira, a mídia está trabalhando
para expor ao mundo atrocidades que ocorrem em várias
partes do mundo. A opinião mundial tem sido despertada
rapidamente, exigindo que tome-se uma posição contra o
grande número de mortes. A Bíblia fala clara- mente sobre
acontecimentos desse tipo e sobre calamidades como guerras,
fomes, enchentes, furacões e vulcões. A Bíblia avisa clara-
mente sobre os fatos do julgamento de Deus na História.
A Realidade da Ira de Deus 20
A queda de Adão e Eva. A primeira manifestação da ira de
Deus é aquilo que veio como inexorável cumprimento de suas
palavras: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás”
(Gn 2.17). Os primeiros pecadores receberam sobre si mesmos
uma maldição; a mulher foi amaldiçoada na principal órbita
de sua vida e, de maneira semelhante, o homem. A terra
também foi amaldiçoada. Todos os descendentes de Adão
e Eva, por causa da Queda, são nascidos “na iniqüidade”
(Sl 51.5). Toda pessoa que nasce neste mundo é culpada do
pecado de Adão, ou seja, falta-lhe aquela justiça na qual
Adão foi criado, e a pessoa é corrupta por natureza (Rm 5.12-
21). Isto significa que toda pessoa nasce neste mundo como
pecador e, conseqüentemente, a culpa clama por ira, devido
aos pecados que ela comete cada vez mais. A demora na
aplicação do castigo, expresso em Gênesis 2.17, é vista de
várias maneiras. Adão não morreu fisicamente de imediato.
O castigo de Caim pelo assassinato de Abel foi adiado, apesar
de ser evidente que ele era um homem perverso. “A civilização
caimita, descrita em Gênesis 4.16-24, foi ricamente abençoada
com os benefícios da graça comum e se excedeu nos avanços
tecnológicos e culturais. Ao mesmo tempo, essa civilização
era protótipo de humanismo e impiedade.”
O dilúvio nos dias de Noé. A decadência da humanidade,
como conseqüência da Queda tem seu próprio comentário na
observação feita por Jeová, ao reclamar que a inclinação do
pensamento do coração do homem era somente maldade em
todo o tempo! O pecado sempre traz consigo a reação da ira. O
Senhor declarou: “Farei desaparecer da face da terra o homem
que criei” (Gn 6.7). Os males da indiferença e do pecado
caracterizaram a geração de Noé. A busca de atividades
legais – comer, beber, construir, casar – se for seguida sem
motivos teocêntricos provoca a ira de Deus. O aumento da
A Realidade da Ira de Deus 21
criminalidade também foi um precursor do dilúvio. A terra
estava cor- rompida à vista de Deus e cheia de violência;
então, Deus disse a Noé: “Resolvi dar cabo de toda carne”
(Gn 6.11-13). Referindo-se ao pecado de mundocentrismo nos
dias de Noé, nosso Senhor declarou claramente que um estado
semelhante de mundanismo precederá sua segunda vinda (Lc
17.26).
Sodoma e Gomorra. De acordo com Calvino, o caso de So-
doma foi trazido à atenção de Abraão, a fim de ensiná-lo
que os sodomitas mereciam, com justiça, a sua destruição.
“Ao dizer que ‘o clamor tem se multiplicado’, Deus indica
quão doloroso são os pecados dos ímpios porque, apesar de
prometerem impunidade para si mesmos, escondendo suas
maldades, os seus pecados soarão nos ouvidos de Deus”.
O horroroso mal que veio a ser chamado de “sodomia” foi
revelado inteiramente na noite anterior ao dia em que Ló
foi removido da cidade, quando “os homens daquela cidade
cercaram a casa… assim os moços como os velhos” e exigiram
abusar dos dois anjos (Gn 19.4). Romanos 1 mostra que este
pecado em particular é um sinal de perversão, um sinal de que
Deus tem entregado os homens à destruição. Paulo diz que é
impossível para um homossexual herdar o reino de Deus, mas
algumas pessoas em Corinto se arrependeram deste pecado e
encontraram a salvação (1 Co 6.9-11).
O caso de Sodoma nos ensina que os pecados que destroem
a instituição da família e que tornam intolerável a vida de
crianças exigem a ira de Deus. O alarmante abuso sexual de
crianças, em nossos dias, certamente provoca a ira de Deus. O
pecado dos amorreus se tornou insuportável, quando chegou
ao seu auge, na época quando essa nação foi destruída por
Israel. A invasão foi um ato de guerra mas também de justiça
A Realidade da Ira de Deus 22
(Gn 15.16; 1 Rs 21.26; 2 Rs 21.11).
A maneira pela qual as cidades da planície foram destruídas
não é insignificante. Seus crimes exigiam um ato de indig-
nação que foi manifestado por fogo do céu, não um fogo de
aniquilação, e sim um fogo de tormento sem fim; este fato é
apoiado por Judas 7: “Sodoma, e Gomorra, e as cidades cir-
cunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição como
aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo
do fogo eterno, sofrendo punição”.
A ira caindo sobre os indivíduos. A ira de Deus é contínua
na sua manifestação e universal na sua aplicação. Deus é um
juiz justo, que manifesta sua ira todo o dia. Esta ira pode ser
percebida na vida de pessoas como Acabe e Jezabel, no Antigo
Testamento; e de Ananias e Safira, no Novo Testamento; e,
mais tarde, na vida do Rei Herodes, que foi morto quando
recebeu adoração que deveria ser prestada somente a Deus;
e, na era moderna, na morte de ditadores como Hitler e os
Ceaucescus.
Nações e impérios. As nações e os impérios mundiais também
são pesados na balança divina. Grandes trechos das mensa-
gens proféticas são dedicados a este tema (Is 13-15; Jr 46-50;
Ez 25-32 e Am 1-2). A obrigação de Naum era mostrar que a
hora da ira de Deus havia chegado para Nínive, porque ela
“vendia os povos com a sua prostituição e as gentes, com as
suas feitiçarias” (Na 3.4). Por essas razões, “a sua cólera se
derrama como fogo” (Na 1.6). Daniel 2 descreve o julgamento
de Deus sobre quatro impérios orgulhosos que se sucederam,
e todos foram totalmente destruídos.
As setes taças da cólera de Deus. As taças de ouro de Apoca-
lipse 16 são taças de ira. Alguns dos horrores dos julgamentos
descritos de maneira simbólica no Apocalipse já estão, até
A Realidade da Ira de Deus 23
certo ponto, presentes conosco. Seca, fome e poluição são
terríveis realidades. Sempre pergunta-se porque Deus permite
os terríveis desastres de guerras civis (no Sudão, durante 25
anos; em Moçambique, durante 16 anos; o conflito recente
entre o Iraque e o Irã, etc.); fomes (como na Etiópia, no Sudão
e na Somália); holocaustos (na Alemanha Nazista, na Rússia
e, mais recentemente, no Camboja). Isaías 24.5-6a nos diz:
“Na verdade, a terra está contaminada por causa dos seus
mora- dores, porquanto transgridem as leis, violam estatutos,
e quebram a aliança eterna. Por isso, a maldição consome a
terra, e os que habitam nela se tornam culpados”.
A ira de Deus revelada contra seu povo eleito. O privilégio
traz consigo a responsabilidade. A aliança de Deus resumida
em Deuteronômio coloca bastante ênfase na importância da
fidelidade. A fidelidade seria recompensada com abundante
prosperidade. Para o povo de Deus, a regra seria “emprestarás
a muitas gentes, porém tu não tomarás emprestado” (Dt
28.12). Por outro lado, a desobediência, especialmente se fosse
no caso de servir a ídolos imprestáveis, provocaria o ciúme do
Senhor e acenderia o fogo da sua ira (Dt 32.21-24).
Talvez a alegoria da infiel Jerusalém, registrada em Ezequiel
16, forneça a mais marcante lição de ira. Esta foi provocada
pela promiscuidade e prostituição de Israel. Tendo sido re-
movida do campo onde havia sido lançada na sua infância,
e onde revolvia-se no sangue sem ter sido cortado o seu
cordão umbilical, Jerusalém foi embelecida pelo seu Salvador
e amante. Mas ela tinha dormido com seus vizinhos lascivos
de todos os lados. Por isso, Ele diz: “Te farei vítima de furor e
de ciúme” (Ez 16.38).
O paralelo no Novo Testamento encontra-se em Hebreus 6
e 10. A justiça de Deus é proporcional à responsabilidade hu-
A Realidade da Ira de Deus 24
mana. Aqueles que fazem profissão de fé, tornam-se membros
da igreja, recebem a luz, o ensino e os benefícios do evangelho
e depois rejeitam esses privilégios serão devidamente punidos:
“De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado
digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou
o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou
o Espírito da graça? Ora nós conhecemos aquele que disse:
A mim pertence a vingança; eu retribuirei’. E outra vez: O
Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do
Deus vivo” (Hb 10.29-31).
4. A propiciação da ira de Deus
“A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação,
mediante a fé” (Rm 3.25).
Nada é tão inescrutável ou tão maravilhosamente eficaz como
o sacrifício vicário de Cristo, realizado de uma vez por todas,
para propiciar a ira de Deus. Tão terrível foi essa ira que
até mesmo Cristo, que conhecia todas as coisas, quando
estava para tomar o cálice da ira, disse: “A minha alma está
profundamente triste até à morte” (Mc 14.34).
Na sua exposição de Isaías 53. 10: “Todavia, ao Senhor agradou
moê-lo, fazendo-o enfermar”, Manton disse: “Então, aprenda:
(a) a total impiedade do pecado, custou a Cristo uma vida
de sofrimento, – uma dolorosa, vergonhosa, amaldiçoada
morte e uma incrível com- preensão da ira de Deus, a fim
de reconciliar pecadores; (b) O temor da ira de Deus fez com
que Cristo morresse; (c) a extensão das nossas obrigações para
com Cristo fez com que Ele condescendesse em suportar a ira
de Deus; (d) devemos estar prontos a sofrer qualquer coisa
por Cristo. Visto que Ele suportou a raiva e a ira de Deus por
nossa causa, não suportaremos a raiva e a ira dos homens por
causa de Cristo?”
A Realidade da Ira de Deus 25
Propiciar (do latim propitiare) significa apaziguar, tornar fa-
vorável ou conciliar. Envolve o elemento pessoal. Uma pessoa
ofendida é conciliada. Deus é propiciado no sentido em que
sua ira é removida.
A dádiva de Cristo como nossa propiciação é a mais completa
expressão do amor de Deus. “Nisto consiste o amor: não em
que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou
e enviou o seu filho como propiciação pelos nossos pecados“
(1Jo 4.10). Aqui está o amor eficaz, um amor determinado a
salvar, um amor que foi tão longe, a ponto de transferir a ira
dos que a mereciam para Aquele que nos amou de tal maneira
que somente Ele estava preparado a suportá-la. Com base
na mesma propiciação, toda a graça comum e benevolente é
manifestada; a ira, contida e o julgamento, adiado. “Todos os
favores que até os ímpios recebem neste mundo”, diz John
Murray, “estão relacionados de alguma forma à expiação, e
pode-se dizer que têm sua origem nela”.7
Conclusão
A realidade da ira de Deus como um atributo, uma parte
essencial e intrínseca do seu Ser, deve agir como defesa contra
o ensino falso e idéias sem fundamento no sentido de que
não há inferno. A ira de Deus vista nos atos históricos de
julgamento deve servir também para nos fortalecer contra as
influências do liberalismo ético. A verdade de que a ira de
Deus permanece sobre os homens deve induzir-nos a com-
partilhar o evangelho com eles. É notável que uma recessão
no fervor missionário pode ser atribuída à mudança de atitude
nos pregadores em afastarem-se da ênfase sobre esse tema que
caracterizava nossos antepassados evangélicos. A propiciação
realizada pela cruz de Cristo é, em si mesma, um testemunho
sobre a realidade da ira divina. Essa ira, e a propiciação que a
A Realidade da Ira de Deus 26
silencia, deve impelir-nos, com todos os recursos disponíveis,
à evangelização do mundo.
Jonathan Edwards
Gilson Santos
Considerado o maior teólogo e filósofo americano, Jonathan
Edwards nasceu no Estado de Connecticut, no mesmo ano em
que nasceu o inglês John Wesley. Seu pai, Timothy Edwards,
foi pastor, e sua mãe, Esther, era filha do Rev. Solomon
Stoddart. Jonathan foi o único filho com dez irmãs. Desde
criança demonstrou impressionante inteligência, e ingressou
no Yale College pouco antes dos treze anos. Depois de sua
educação, ingressou no ministério congregacional em 1726
na Igreja em Northampton, Massachusetts. Poucos anos mais
tarde, em 1734, um despertamento aconteceu em sua congre-
gação. Em 1740, o Grande Despertamento irradiou-se pelas
treze colônias norte- americanas, e estima-se que no mínimo
50.000 pessoas foram despertadas para Cristo e uniram-se às
igrejas. Foi ele, por- tanto, o teólogo do chamado Primeiro
Grande Despertamento. Mais tarde, Edwards serviu como
missionário aos índios em Stockbridge, Massachusetts, entre
1751 e 1757. Edwards e sua esposa, Sarah, tiveram onze filhos.
Sua vida familiar feliz foi um modelo para todos os que o
visitaram. Edwards morreu durante uma epidemia de varíola,
logo depois de haver mudado para Nova Jersey, no mesmo ano
em que tornou-se presidente do College of New Jersey, mais
tarde chamado Universidade de Princeton. Morreu vítima
de uma vacina contra a varíola, por ter se oferecido como
voluntá- rio para o teste da mesma. Ele escreveu cerca de mil
sermões, bem como várias obras importantes sobre a Bíblia e
27
Jonathan Edwards 28
teologia. Foi também um grande metafísico, com importantes
obras de filosofia. Aos treze anos escreveu um tratado sobre
aranhas, e sempre mostrou interesse por questões científicas,
não vendo qualquer conflito entre religião e ciência. Ele lia e
apreciava as obras de Sir Isaac Newton, convicto de que a boa
teologia e a boa ciência poderiam se apoiar e complementar
mutuamente. Foi um dos mais profundos escritores calvinis-
tas que se tem conhecimento.
Submissão à Disciplina
de Deus
A. W. Pink
Por natureza, não somos inclinados à submissão. Nascemos
neste mundo possuídos por um espírito de insubordinação.
Somos descendentes de nossos primeiros pais rebeldes e, por
isso, herdamos a natureza deles. O homem nasce com uma
natureza rebelde, semelhante à de um jumento selvagem (cf.
Jó 11.12). Isto é muito desagradável e humilhante, mas é
verdadeiro. Isaías 53.6 nos diz: “Cada um se desviava pelo
caminho”, que é um caminho de oposição à vontade revelada
de Deus. Mesmo na conversão, a nossa natureza rebelde e vo-
luntariosa não é erradicada. Recebemos uma nova natureza,
mas a velha natureza continua lutando contra a nova; por isso,
necessitamos de disciplina e correção. E o grande propósito
da disciplina e da correção é trazer-nos à sujeição ao Pai
dos Espíritos. Procuraremos atingir dois objetivos: explicar
o significado da expressão “estar em… submissão ao Pai” e
enfatizar este fato com as razões apresentadas no texto bíblico
onde a expressão se encontra (Hb 12.9).
1. A Submissão Idealizada
Estar em “submissão ao Pai” é uma expressão de significado
abrangente; portanto, convém que compreendamos suas vá-
rias conotações.
1. Significa uma aquiescência ao soberano direito de Deus
29
Submissão à Disciplina de Deus 30
em fazer conosco aquilo que Lhe agrada.
(Veja Salmo 39.9: “Emudeço, não abro os meus lábios porque
tu fizeste isso” .) O crente tem o dever de ficar calado quando
estiver sob a vara da disciplina e em silêncio quando estiver
passando pelas mais intensas aflições. Todavia, isto é possível
somente se pudermos ver a mão de Deus em tais aflições. Se a
mão de Deus não for vista na aflição, o coração do crente não
fará nada além de queixar-se e irritar-se. Leia 2 Samuel 16.10-
11: “Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora, deixai-o
amaldiçoar; pois, se o Senhor lhe disse: Amaldiçoa a Davi,
quem diria: Por que assim fizeste? Disse mais Davi a Abisai
e a todos os seus servos: Eis que meu próprio filho procura
tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-
o; que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou”. Que belíssimo
exemplo de completa submissão à soberana vontade do Altís-
simo! Davi reconheceu que Simei não o podia amaldiçoar sem
a permissão de Deus.
“Isto fará o meu coração sossegar: o que meu Deus designar é
o melhor!”
No entanto, com raras exceções, a disciplina é necessária, para
trazer-nos a este nível de espiritualidade e manter-nos ali.
2. Significa renúncia da vontade própria.
Estar em submissão ao Pai pressupõe uma entrega e uma
resignação de nós mesmos a Ele. Uma excelente ilustração
deste fato se encontra em Levítico 10.1-3: “Nadabe e Abiú,
filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puserem
neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho
perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara. Então,
saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram
perante o Senhor. E falou Moisés a Arão: Isto é o que o
Senhor disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se
Submissão à Disciplina de Deus 31
cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo.
Porém Arão se calou”. Eles poderiam crescer ao andar em
constante comunhão com Deus e em obediência à sua Palavra.
Considere as circunstâncias. Os dois filhos de Arão, provavel-
mente embriagados na ocasião, foram repentinamente mortos
pelo julga-mento divino. O pai deles não havia recebido
qualquer conselho que o preparasse para tal aflição. Apesar
disso, “Arão se calou”. Oh! Não contenda com Jeová! Seja o
barro nas mãos do Oleiro. Tome sobre si o jugo de Cristo,
aprendendo dEle, que era “manso e humilde de co-ração” (Mt
11.29).
3. Significa um reconhecimento da justiça e da sabedoria
de Deus em todos os seus lidares conosco.
Temos de justificar a Deus. Foi isto que o salmista fez, ao
dizer: “Bem sei, ó Senhor, que todos os teus juízos são justos e
que com fidelidade me afligiste” (Sl 119.75). Estejamos sempre
certos de que a Sabedoria é justificada por seus filhos. Que a
nossa confissão a respeito da Sabedoria seja: “Justo és, Senhor,
e retos, os teus juízos” (Sl 119.137). Em todas as circunstâncias
que nos sobrevierem, temos de atribuir justiça Àquele que nos
envia todas as coisas. O Juiz de toda a terra não pode cometer
erros.
O cativeiro na Babilônia foi a aflição mais severa que Deus
trouxe sobre seu povo terreno na época do Antigo Testamento.
No entanto, mesmo naquela circunstância, um coração nas-
cido de novo reconheceu a justiça de Deus no cativeiro:
“Agora, pois, ó Deus nosso, ó Deus grande, poderoso e temí-
vel, que guardas a aliança e a misericórdia, não menosprezes
toda a aflição que nos sobreveio, a nós, aos nossos reis, aos
nossos príncipes, aos nossos sacerdotes, aos nossos profetas,
aos nossos pais e a todo o teu povo, desde os dias dos reis
Submissão à Disciplina de Deus 32
da Assíria até ao dia de hoje. Porque tu és justo em tudo
quanto tem vindo sobre nós; pois tu fielmente procedeste,
e nós, perversamente” (Ne 9. 32-33). Os inimigos de Deus
podem falar sobre a sua injustiça; mas os filhos de Deus devem
proclamar a sua justiça. Visto que Deus é bom, Ele não pode
fazer nada que é errado e injusto.
4. Inclui um reconhecimento do cuidado de Deus e um
sentimento do seu amor.
Existe uma submissão amuada e uma submissão estimulante.
Existe uma submissão fatalista que toma a seguinte atitude:
“Esta situação é inevitável; portanto, me renderei a ela”. Existe
uma submissão grata, que recebe com gratidão tudo que Deus
tem o prazer de enviar-nos. “Foi-me bom ter eu passado pela
aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.71). O
salmista viu sua disciplina com os olhos da fé e, ao fazer isso,
percebeu o amor que estava por trás da disciplina. Devemos
lembrar que, quando Deus traz seu povo ao deserto, Ele o
faz para que seu povo aprenda mais sobre a suficiência dEle.
Quando Deus os lança na fornalha, Ele o faz para que seus
filhos desfrutem da presença dEle.
5. Envolve um cumprimento ativo da vontade de Deus.
Submissão ao “Pai espiritual” é mais do que algo passivo. Os
outros significados da ex-pressão, que já consideramos, são
mais ou menos de caráter negativo. Todavia, existe também
um lado positivo e ativo nesta expressão. Estar em “submis-
são” também significa andar nos preceitos de Deus e pros-
seguir no caminho de seus mandamentos. Significa estar em
submissão à Palavra de Deus, tendo os nossos pensamentos
moldados e os nossos caminhos governados por ela. Existe
um fazer e existe um sofrer a vontade de Deus. Ele exige
obediência de seus filhos, uma realização de deveres. Quando
Submissão à Disciplina de Deus 33
oramos: “Seja feita a tua vontade”, estamos querendo dizer
algo mais do que uma anuência piedosa à vontade do Todo-
Poderoso; também estamos querendo dizer: “Seja realizada
por mim a tua vontade”. Por conseguinte, sujeição ao Pai
espiritual é o re-conhecimento prático do senhorio de Deus.
II. Razões para a submissão
1. Deus é o nosso Pai. É correto e conveniente que os filhos
estejam em sujeição ao seu pai. Quão mais correta e
conveniente é esta atitude, quando temos a Deus como
nosso Pai! Não existe tirania nEle. Seus mandamentos
“não são penosos” e têm em vista o nosso bem. Devemos
ser profundamente gratos por que Deus se revela agora
como nosso Pai! Esta é uma das revelações distintivas
do Novo Testamento. Duvido muito que Arão, Elias,
Jó ou Davi conheciam a Deus neste relaciona-mento;
apesar disso, eles se submeteram a Deus! Quão mais
submissos deveríamos ser! Que a graça nos capacite
sempre a dizer, assim como o disse o nosso Salvador:
“Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?”
(Jo 18.11.)
2. Este é o segredo da felicidade. Creio que a força das
duas últimas palavras (“então, viveremos”) de nosso
texto bíblico é “ser feliz”. A palavra “viver” ou “vida”
é empregada neste sentido em Deuteronômio 5.33; ob-
serve que “prolongueis os dias” é um acréscimo. Este é o
seu sentido em Salmo 119.116. Os queixosos, murmura-
dores e rebeldes são miseráveis e infelizes. Fazer a
vontade de Deus, nosso porto, é o verdadeiro lugar
de descanso para nossos corações. Ter nossas vidas
conformadas com a vontade de Deus é o segredo do
contentamento e do regozijo. “Tomai sobre vós o meu
Submissão à Disciplina de Deus 34
jugo… e achareis descanso para a vossa alma” — de-
clarou o Salvador. Em guardar os mandamentos de
Deus existe grande recompensa. “Grande paz têm os
que amam a tua lei” — disse o salmista. Que o Espírito
de Deus opere em nós a verdadeira submissão, ainda
que, para produzi-la, disciplina severa seja necessária.
O Que é a
Perseverança dos
Santos?
Richard P. Belcher
1. A doutrina da perseverança é uma conclusão lógica dos
quatro pontos anteriores do calvinismo.
Se o homem é totalmente depravado e não pode fazer nada
para ajudar a si mesmo no que diz respeito às coisas es-
pirituais; se Deus é absolutamente soberano na questão da
eleição, fundamentada tão-somente em sua própria vontade;
se a morte de Cristo realizou-se em favor dos eleitos, assegu-
rando-lhes a salvação; e se Deus chama os eleitos de maneira
irresistível, conclui-se que Deus assegurará a salvação final
destes eleitos, ou seja, eles perseverarão até o fim.
Se os eleitos não perseverassem, a eleição eterna de Deus
falharia, e isto o calvinista não pode admitir. Se Deus decretou
a salvação dos eleitos, então, ela acontecerá, incluindo a
salvação final dos eleitos.
Se os eleitos não perseverassem, a morte de Cristo seria uma
falha, porque o seu desígnio era garantir a salvação dos eleitos.
Se os eleitos não perseverassem, a graça de Deus seria resis-
tível pelos salvos (eles poderiam rejeitá-la de uma maneira
final, depois de estarem salvos), embora a graça fosse irresis-
tível antes de eles serem salvos.
35
O Que é a Perseverança dos Santos? 36
2. A doutrina da perseverança é definida nos seguintes
termos:
A perseverança dos santos é a doutrina que afirma que os
eleitos continuarão no caminho da salvação (por serem eles
o objeto do eterno decreto da eleição e por serem eles o objeto
da expiação realizada por Cristo), visto que o mesmo poder de
Deus que os salvou os preservará e os santificará até o final.
3. A doutrina da perseverança não descarta o afastar-se de
Deus por parte do crente.
Esta doutrina rejeita a possibilidade de alguém professar ser
crente e viver em um suposto estado de afastamento de Deus
por muitos anos, sem enfrentar a mão disciplinadora de Deus;
mas esta doutrina não descarta o afastar-se de Deus.
O afastamento de Deus pode ocorrer entre os crentes; todavia,
a doutrina da perseverança diz que o verdadeiro crente não
ficará permanentemente nesse estado. Se ele permanecer, tal
crente deve colocar um grande ponto de interrogação ao lado
de sua profissão de fé.
4. A doutrina da perseverança, de acordo com o calvi-
nismo, não inclui a idéia do “crente carnal”.
Um “crente carnal”, conforme muitos o definem, é um crente
que foi verdadeiramente salvo, mas está vivendo como um
perdido. O “crente carnal” fez uma confissão de fé e viveu
por um tempo como verdadeiro crente; agora, porém, ele se
voltou para o mundo, e aqueles que o cercam no mundo e os
membros da igreja não sabem se ele é um verdadeiro crente ou
não. Somente Deus conhece o coração do “crente carnal”. Ele
pode passar todo o resto de sua vida nesta condição; mas, por
causa de sua experiência de salvação, ele estará com Cristo na
eternidade. Ele é carnal, mas é um crente: ou, ele é um crente,
O Que é a Perseverança dos Santos? 37
mas é carnal. O calvinismo diria: não há salvação onde não há
perseverança; e, onde há salvação, ali haverá perseverança.
5. A doutrina da perseverança inclui a segurança do crente;
mas a segurança é somente um aspecto desta doutrina;
a segurança pode deixar em seu rastro uma maneira de
pensar e um viver falsos.
O ensino dos batistas de “uma vez salvo, salvo para sempre” é
apenas um dos lados da moeda e, sendo apenas um dos lados
da moeda, tal doutrina pode ser perigosa.
A doutrina da perseverança dos crentes, de conformidade com
o calvinismo, tem dois lados — segurança e perseverança.
Um não pode existir sem o outro. A doutrina batista da
eterna segurança (uma vez salvo, salvo para sempre) tende a
desprezar e negligenciar a necessidade de perseverança como
prova da verdadeira salvação. Deste modo, se ensinarmos a
segurança de salvação para um crente e não lhe ensinarmos
a realidade da perseverança como prova da salvação, pode-
remos produzir o mesmo resultado da doutrina do “crente
carnal” — pessoas que pensam ser salvas, mas não o são. A
doutrina da segurança eterna sem a outra metade da moeda
torna-se uma permissão de pecar para aqueles que apenas
professam ter fé em Cristo, mas que nunca foram verdadei-
ramente salvos. A doutrina calvinista da perseverança dos
santos tanto oferece conforto ao crente (ele está eternamente
seguro) quanto proporciona realidade à sua confissão de fé
em Cristo (o crente compreende que a perseverança na vida
cristã é uma prova da salvação).

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  • 1.
  • 2. Faça parte da nossa comunidade! A missão do Ministério Fiel é apoiar a Igreja de Deus! Faça parte deste ministério. Siga-nos no Facebook ou cadastre seu e-mail.
  • 3. Conteúdo Escolhidos Desde a Eternidade . . . . . . . . . . . . . 1 A Realidade da Ira de Deus . . . . . . . . . . . . . . . 14 Jonathan Edwards . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Submissão à Disciplina de Deus . . . . . . . . . . . . 29 O Que é a Perseverança dos Santos? . . . . . . . . . 35
  • 4. Escolhidos Desde a Eternidade John MacArthur Introdução Efésios 1.3-14 é um hino de adoração proveniente do coração do apóstolo Paulo. Não é um argumento teológico monótono, e sim o transbordar de sentimentos ardentes do coração agradecido do apóstolo. No grego, esta passagem constitui uma grande sentença. O Espírito de Deus inspirou o apóstolo Paulo a proferir esta profusa adoração ao Deus que o havia salvado. a. A passagem “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepre- ensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação 1
  • 5. Escolhidos Desde a Eternidade 2 da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.” b. As pessoas 1. O Pai Governando estes versículos, encontra-se a idéia de que Deus realizou a salvação por sua própria vontade, propósito e desígnio. A salvação não resulta da vontade ou do mérito de uma pessoa. A salvação não é obtida por meio de sacrifícios religiosos ou de boas intenções. O crédito da salvação pertence apenas a Deus, e somente Ele pode ser louvado e glorificado. 2. O Filho A salvação é a obra de Deus mediada por Cristo. A salvação tanto se realiza em Cristo como por meio dEle . A salvação se encontra no Amado, que é Cristo. Foi proposta nEle. Enquanto a salvação é uma obra exclusiva do Pai, ela se realiza por intermédio de Cristo. 3. O Espírito A salvação é selada pelo Espírito Santo (v. 13). Ele é o Espírito Santo da promessa, que nos foi dado como penhor de nossa herança — a garantia de nossa completa e futura redenção como propriedade de Deus mesmo. Deus, o Pai, Deus, o Filho, e Deus, o Espírito Santo, recebem todo o crédito da salvação.
  • 6. Escolhidos Desde a Eternidade 3 Ensinos I. Deus nos escolheu “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreen- síveis perante ele.” a. A afirmação do apóstolo Paulo inicia esta passagem afirmando que Deus recebe todo o louvor na salvação. O verbo traduzido “escolheu” (no grego, eklegomai) foi empregado na forma reflexiva, significando “selecionar para si mesmo”. Isso significa que a ação do verbo retorna à pessoa que a pratica. Paulo estava dizendo que Deus nos escolheu tendo em vista o seu próprio interesse — para Si mesmo, pessoalmente. A escolha divina foi realizada antes que o mundo existisse. b. A confirmação das Escrituras A Bíblia afirma a verdade da escolha redentora feita por Deus. 1) Mateus 25.34 - Jesus disse: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”. O Senhor planejou tanto o reino quanto os habitantes do reino, antes que o mundo começasse a existir. Você e eu somos salvos e conhecemos o Senhor Jesus por que Deus nos escolheu. 2) Lucas 12.32 - Jesus disse a seus discípulos: “Não temais, ó pequenino rebanho, porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino”. 3) João 6.44 - Jesus proclamou para uma grande multidão: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o
  • 7. Escolhidos Desde a Eternidade 4 trouxer [compelir]”. 4) João 15.16 - Jesus disse a seus discípulos: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto”. Nós não escolhemos a Jesus; Ele nos escolheu. Não decidimos por Cristo no mais verdadeiro sentido — Ele decidiu por nós. 5) Atos 9.15 - O Senhor disse a respeito do apóstolo Paulo: “Este é para mim um instrumento escolhido”. A conversão de Paulo aconteceu abruptamente — ele estava a caminho de Damasco para perseguir os crentes. Mas ele foi convertido, transformado e chamado para ser um apóstolo, porque Deus o escolhera antes da fundação do mundo. 6) Atos 13.48 - afirma sobre aquelas pessoas que ouviram a pregação de Paulo e Barnabé: “Creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”. Deus outorga o dom da fé somente para aqueles que estão predestinados por meio da escolha dEle mesmo. 7) 2 Tessalonicenses 2.13 - “Devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”. Paulo não deu graças porque os crentes de Tessalônica haviam decidido se tornar pessoas salvas. Eles não eram muitíssimo inteligentes, espertos, espirituais, perspicazes e, por isso, escolheram a Deus; pelo contrário, Deus os escolheu desde o princípio. A salvação exige que tenhamos fé, mas a fé é o resultado da escolha de Deus. 8) 2 Timóteo 1.8,9 - “Deus… nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”.
  • 8. Escolhidos Desde a Eternidade 5 9) 1 Pedro 1.2 - afirma que os crentes são “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”. 10) Apocalipse 13.8; 20.15 - infere que os nomes dos crentes fo- ram escritos no Livro da Vida do Cordeiro antes da fundação do mundo. c. A confirmação da teologia Somente Deus pode receber o crédito por nossa salvação. A doutrina da eleição é a mais humilhante de todas as doutrinas ensinadas nas Escrituras. Deus escolheu um povo para torná- lo santo, a fim de que estejam com Ele para sempre. A nossa fé vem de Deus. Um poeta anônimo apresentou esta verdade nas seguintes palavras do hino Vida Interior: “Eu procurava o Senhor e descobri que Ele, buscando-me, inclinou minha alma a procurá-Lo. Não fui eu quem Te encontrou, ó verdadeiro Salvador; não, eu fui encontrado por Ti”. II. Deus nos predestinou (v. 5) “Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.” a. A afirmação do apóstolo Por meio da escolha divina previamente determinada, fomos predestinados para a adoção como filhos de Deus. Realmente somos filhos de Deus. b. A confirmação das Escrituras 1) João 1.12 - “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”. 2) Romanos 8.15 - “Recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”.
  • 9. Escolhidos Desde a Eternidade 6 3) Gálatas 3.26 - “Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus”. 4) Gálatas 4.6-7 - “Porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus”. 5) 1 João 3.1 - “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus”. c. A confirmação da teologia A escolha predeterminada de Deus não dependeu do que Ele viu em nós. Ele a fez “segundo o beneplácito de sua vontade” (v.5). Deus não nos escolheu porque Ele tinha de fazer isso, e sim porque Ele quis — trouxe-Lhe prazer. Deus mesmo disse: “O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10). III. Deus nos concedeu sua graça (v. 6) “Para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado.” a. A afirmação do apóstolo A escolha de Deus e a nossa predestinação se tornaram uma realidade em nossas vidas por intermédio da graça de Deus. Graça significa favor imerecido, bênção pela qual não traba- lhamos, bondade não resultante de méritos. Somos salvos pela graça de Deus. a. A confirmação das Escrituras 1) Efésios 2.8-9 - “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que
  • 10. Escolhidos Desde a Eternidade 7 ninguém se glorie”. A graça de Deus não admite qualquer mérito da parte do homem. 2) Atos 15.11 - “Cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus”. 3) Atos 18.27 - “Tendo [Apolo] chegado, auxiliou muito aque- les que, mediante a graça, haviam crido”. 4) Romanos 3.24 - Somos “justificados gratuitamente, por sua graça”. c. A confirmação da teologia A expressão, no versículo 6, pode ser traduzida literalmente por “mediante a graça temos sido agraciados”. Deus nos concedeu graça em Cristo, o Amado, trazendo à realidade a sua escolha e predestinação por nos tornar seus filhos. IV. Deus nos redimiu (v. 7a) “No qual temos a redenção, pelo seu sangue.” a. A afirmação do apóstolo Paulo 1) Do que Deus nos redimiu? Deus nos resgatou da escravidão ao pecado, à morte, ao inferno, a Satanás, aos demônios, à carne pecaminosa e ao mundo. Não tendo qualquer dignidade e esperança, com nossa mente em trevas e coração inclinado para o mal, éramos escravos miseráveis; apesar disso, Deus veio ao nosso encon- tro e nos comprou da escravidão. Fomos comprados porque fomos predestinados; predestinados, porque fomos escolhi- dos; escolhidos, porque fomos amados; e amados, porque o beneplácito de Deus assim o quis. 2) Por meio do quê?
  • 11. Escolhidos Desde a Eternidade 8 Romanos 6.23 declara: “O salário do pecado é a morte”. Cristo nos redimiu por meio do derramamento de seu sangue. Esse não foi um preço fácil de ser pago. Ele teve de assumir a forma humana, vir ao mundo e morrer na cruz, vertendo seu sangue em sacrifício por nós. O sangue de Cristo é realmente precioso. b. A confirmação das Escrituras 1) 1 Pedro 1.18-19 - “Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”. 2) Apocalipse 5.9 - diz a respeito de Cristo: “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação”. V. Deus nos perdoou (v. 7b, 8a) “A remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós.” a. A afirmação do apóstolo Deus não somente nos resgatou, mas também perdoou os nossos pecados — passados, presentes e futuros. b. A confirmação das Escrituras 1) Mateus 26.28 - Jesus disse: “Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados”. Quando Deus perdoa (no grego, aphiemi, “man- dar embora para nunca mais retornar”), Ele remove os nossos pecados para tão distante quanto o Oriente está do Ocidente (Sl 103.12), lança-os nas profundezas do mar (Mq 7.19) e nunca mais se lembra deles (Is 43.25).
  • 12. Escolhidos Desde a Eternidade 9 2) Miquéias 7.18 - “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança?” 3) Romanos 8.1 - “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. 4) Efésios 4.32 - “Sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou”. 5) Colossenses 2.13 - “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos”. 6) 1 João 2.12 - O apóstolo João disse: “Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome”. c. A confirmação da teologia O perdão de Deus foi derramado abundantemente sobre nós por meio das riquezas de sua graça. O perdão exigiu abun- dância de graça porque tínhamos muitos pecados. A parábola do credor incompassivo (Mt 18.21-35) afirma que temos uma dívida impagável e indescritível. Devemos nossa salvação ao Deus que desejou nos ter como sua propriedade peculiar. Somos perdoados independentemente de nossa indignidade. VI. Deus nos iluminou (vv. 8b-10) “Em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o misté- rio da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da pleni- tude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra.”
  • 13. Escolhidos Desde a Eternidade 10 a. A afirmação do apóstolo Quando somos salvos, somos também iluminados. Deus nos apresenta um retrato de como todas as coisas, do céu e da terra, serão colocadas em sujeição a Cristo, para o seu louvor. Ele nos iluminou com sabedoria nas coisas eternas e com prudência nas coisas terrenas. b. A confirmação das Escrituras 1) 1 Coríntios 2. 12 - “Não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente”. 2) 1 Coríntios 2.16 - “Quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo”. 3) 2 Coríntios 4.3-4 - “Se o nosso evangelho ainda está enco- berto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”. 4) 1 João 2.27 - “A unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine”. c. A confirmação da teologia Deus nos iluminou porque Ele mesmo o quis. Se não fosse por causa de seu beneplácito, permanece-ríamos nas trevas, incapazes de participar do seu plano. VII. Deus nos prometeu (vv. 11-12) “Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predesti- nados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo.”
  • 14. Escolhidos Desde a Eternidade 11 a. A afirmação do apóstolo Deus nos predestinou para sermos seus filhos, e seus filhos receberão a herança dEle. **b. A confirmação das Escrituras ** 1) Romanos 8.18 - “Os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”. 2) 1 João 3.2 - “Ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”. 3) 1 Pedro 1.4 - O apóstolo Pedro afirmou que temos “uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus”. 4) 2 Coríntios 1.20 - “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim”. **c. A confirmação da teologia ** Todas as promessas de Deus — paz, amor, sabedoria, vida eterna, alegria e vitória — são nossas de acordo com a pro- messa de Deus. Elas nos foram asseguradas não por direito, e sim pela graça de Deus. Ele recebe toda a glória. VIII. Deus nos selou (vv. 13-14) “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.” **a. A afirmação do apóstolo ** Ele declarou que nossa herança está assegurada porque Deus nos selou.
  • 15. Escolhidos Desde a Eternidade 12 b. A confirmação da teologia Selar, nos tempos antigos, era um sinal de possessão, segu- rança, autenticidade e término de uma transação. A habitação do Espírito Santo nos crentes significa que eles são possuídos, seguros, autenticados e completos por Deus. Esperamos pela redenção completa e somos habitados pelo Espírito como um selo e garantia da nossa herança (Rm 8.23-24). Conclusão Somente Deus merece o crédito por nossa salvação. Ele nos salva por sua própria e espontânea vontade; todavia, de nosso ponto de vista, precisamos fazer duas coisas: a) esperar em Cristo (v. 12); b) crer nEle (v. 13). Isso também acontece para o louvor e glória de Deus mesmo (v. 12). Ele nos dá o poder para esperarmos em Cristo. Nossa fé vem de Deus (Ef 2.8-9). Ele abre nossos ouvidos para atendermos à mensagem da verdade e nos capacita a crer. Todo o processo de salvação é realizado pelo Espírito Santo; sem Ele, ninguém poderia esperar ou crer em Cristo. Jesus disse que todos os que não crêem no Filho de Deus estão condenados (Jo 3.18). Deus, em sua graça soberana, decidiu salvar aqueles que Ele mesmo amou (Rm 9.8-13). Tais pessoas são resgatadas da correnteza de homens e mulheres sem esperança que flui em direção ao inferno. Essa é uma verdade humilhante e deve resultar em imensa gratidão de nossa parte. Por que Deus nos escolheu e não outras pessoas? Ele não o fez porque merecíamos a salvação, e sim para demonstrar “as riquezas da sua glória” (Rm 9.14-23). Portanto, nossa única reação tem de ser: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3). Ponderando os princípios
  • 16. Escolhidos Desde a Eternidade 13 1) A nossa época proclama altissonantemente a auto-impor- tância do homem. Os comerciais nos dizem que merecemos uma folga, um carro melhor, comida melhor, roupas melhores — merecemos mais da “boa vida”. Os problemas da humani- dade freqüentemente são diagnosticados como falta de auto- estima. No entanto, a Bíblia diz que “todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.12). Ao invés de afirmar a boa estimativa que o homem faz de si mesmo, as Escrituras colocam as seguintes palavras na boca dos que têm discernimento: “Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam” (Is 64.6). Para que Deus seja corretamente honrado e glorificado, todo crente tem de compreender que a salvação é uma obra exclusiva da graça divina. 2) A obra de Deus na salvação tanto reflete a natureza de Deus quanto a natureza do homem. Quando o apóstolo João escreveu: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus” (1 Jo 3.1), ele estava fazendo um comentário sobre o grande amor de Deus e sobre a corrupção do homem. Thomas Watson escreveu: “Para que você seja uma pessoa agradecida, Deus o chamou exatamente quando você O ofendia; Ele o chamou sem precisar de você e mesmo tendo milhares de santos glorificados e de anjos a adorá-Lo. Pense naquilo que você era antes de ter sido chamado por Deus” (A Body of Divinity). A doutrina da eleição soberana, entendida corretamente, produz gratidão profunda para com Deus nos corações dos crentes. De que maneira isso tem afetado a sua vida?
  • 17. A Realidade da Ira de Deus Erroll Hulse O que, exatamente, devemos entender como a ira de Deus? É um atributo de Deus? E, se assim for, ela age fundamentada em quê? Como respostas a estas perguntas não há declaração mais definitiva do que a do apóstolo Paulo na sua introdução ao principal tema de sua epístola aos Romanos: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rm 1.18). Resumidos nesta declaração estão os pontos salientes de nosso artigo. Esta ira é a ira de Deus. Revela-se do céu. Note o tempo presente “revela-se”. Os julgamentos de Deus na história testemunham a respeito de sua ira. Além disso, esta ira é dirigida contra os homens – especificamente, contra os homens ímpios e perversos; e, ainda mais especificamente, contra os homens que de- têm a verdade pela injustiça. Mais adiante no contexto, o apóstolo explica que é possível escapar da ira de Deus, mediante a fé em Cristo, o único que tem propiciado essa ira (Rm 3.21-26). Com esta conclusão, exponho Romanos 1:18 da seguinte maneira. 1. A provocação da ira de Deus – “…co…a toda impiedade e perversão dos homens…&r…o; 14
  • 18. A Realidade da Ira de Deus 15 2. A natureza da ira de Deus – “A ira de Deus se revela do céu”. A ira procede do ser ou da pessoa de Deus; é sua contínua e imutável reação ao mal. 3. A ira de Deus manifestada – “A ira de Deus se revela” (continuamente).Apokaluptetai, “se revela”, é um verbo que está no presente contínuo. As manifestações do desagrado divino acontecem ao longo da História, e um estudo destas manifestações nos ajuda a compreender a realidade da ira de Deus. 4. A propiciação da ira de Deus – “A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé” (Rm 3.25). Somente o sangue expiatório de Cristo propicia a ira de Deus, e a justiça de Cristo, atribuída a nós, assegura-nos proteção permanentemente contra essa ira. 1. A provocação da ira de Deus “…co…a toda impiedade e perversão dos homens…&r…o; A impiedade é, na verdade, a ação de ser “antiDeus” e refere- se à inimizade e à perversidade, as quais abrem caminho para a injustiça (ilegalidade). A piedade age poderosamente como incentivo para a justiça de coração e de vida. Sua ausência deixa um vácuo que é facilmente preenchido pela injustiça. Onde não há temor a Deus, os desejos sensuais logo conduzem os homens a entregarem-se livremente a toda forma de perversão. A impiedade manifesta-se geralmente na forma de idolatria. No mundo pagão esta idolatria é expressa no serviço a ídolos e na escravidão a demônios associados a esses ídolos. Na sociedade ocidental, a idolatria manifesta-se na forma de mundanismo (servir ao mundo, ao invés de servir a Deus), ou seja, no satisfazer “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2.16).
  • 19. A Realidade da Ira de Deus 16 Visto que a impiedade afeta o próprio ser e caráter de Deus, ela provoca sua ira. Paulo declara que a ira de Deus se revela continuamente contra toda impiedade e perversão dos homens “que detêm a verdade pela injustiça”. Isso implica que os homens conhecem a verdade. Eles são convencidos pela verdade mas a abafam, restringindo-a ou empurrando-a para trás. Isto é verdade em relação a todos aqueles que praticam a impiedade, mas é verdade especialmente em relação aos judeus a quem Paulo se refere em Romanos 2 e 3. Os judeus tinham orgulho do seu conhecimento da verdade (Rm 2.20) mas desprezaram-na de tal maneira que provocaram nosso Senhor a proferir palavras de feroz indignação: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando!” (Mt 23.13) Todo pecado tem sua origem na apostasia do homem para com Deus. O pecado, então, aumenta e se multiplica à medida que as restrições de Deus sobre os pecadores diminuem. Finalmente, todo pecado tem sua consumação no fogo da ira de Deus. Todos os atos de ira e indignação neste mundo são apenas um prelúdio do estado final de ira que será revelado no “dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm 2.5). O que ocorre não é que a ira cai sobre o pecado abstrato. A maioria das referências na Bíblia mostram explicitamente que a ira de Deus cai sobre os pecadores. “Aborreces a todos os que praticam a iniqüidade” (Sl 5.5). Há aproximadamente 26 passagens bíblicas declarando que Deus odeia pecados como divórcio, roubo, idolatria, etc. Destas, pelo menos 12 referem- se ao fato de que Deus odeia os próprios pecadores. Devemos observar também que toda expressão de ira na história deste mundo tem uma realidade escatológica (move-se em direção ao julga- mento final). Tudo está se movendo para aquele
  • 20. A Realidade da Ira de Deus 17 grande dia sobre o qual a Bíblia fala constantemente (Mt 25.31; Rm 2.5, 5.9; Ef 5.6; Hb 9.27; Ap 20.11). Naquele dia, tudo será revelado, e o lago de fogo se tornará um monumento permanente à justiça de Deus. Uma tremenda expressão de ódio para com Deus – ódio que tem como resultado a ira de Deus – é revelado em Apocalipse 20.8,9. Todos os exércitos e poderes do Anticristo se organizam contra o acampamento do povo de Deus. Os poderes da impiedade unidos avançam para atacar a noiva de Cristo. Ao examinarmos a batalha, vemos que, enquanto gloriosa santidade caracteriza a Divindade, ódio e feiúra são as marcas do inimigo. A ira de Deus se manifesta contra a impiedade – aquilo que guerreia contra Ele. 2. A natureza da ira de Deus “A ira de Deus se revela do céu.” O castigo humano difere do castigo divino por sua natureza variável e inexata. Ao lidarmos com crime e castigo, pensamos geralmente em termos de reforma dos culpados e de proteção dos inocentes. A idéia de retribuição não é popular. No jul- gamento final, a ira divina será expressa somente em termos de retribuição. O inferno não será uma penitenciária, isto é, um lugar para correção. Dureza incorrigível caracterizará os ímpios. O castigo naquele dia será retribuição justa. Os magistrados são autorizados por Deus a punir (Rm 13.1- 4), mas, em última instância, a retribuição, de acordo com a Bíblia, é função somente da Divindade. “A mim pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19; Hb 10.30). O papel da consciência é importante. Não há arrepen- dimento no inferno (Ap 16.11); e a ira de Deus, na forma de castigo sem fim, será apoiada pela consciência humana que prestará testemunho e a aprovará na sentença condenadora.
  • 21. A Realidade da Ira de Deus 18 A realidade da ira de Deus levanta a questão de impassibili- dade: encontramos em nossas declarações de fé a afirmação de que “Deus não tem partes ou paixões corporais”. Isto esta- belece uma verdade importante designada a evitar qualquer idéia de que Deus seja instável ou sujeito às disposições ou distúrbios que nós mortais conhecemos. No entanto, seria desastroso concluir, por isso, que Deus é uma máquina sem sentimentos. Ele é eternamente santo e é perfeito no seu amor triúno. Vemos seus sentimentos expressos em Cristo, mas não é possível sabermos, de maneira prática, como Deus sente. Se a declaração “Deus é amor” tem algum significado, então, concluímos que Deus sente emoções à sua própria maneira infinita e imutável. Em nossa própria experiência, sentimos o amor de Deus de forma tangível, à medida que esse amor é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado (Rm 5.5). A língua bíblica principal é o hebraico. A palavra aphdenota raiva, estremecimento, (210 vezes); e chemah significa calor, ira, fúria (115 vezes). Vistas nos seus contextos, estas palavras demonstram claramente a mensagem de que Deus tem sentimentos fortíssimos em relação à maldade. O assunto obviamente precisa de expo- sição separada, na qual o maior cuidado é necessário para resguardar nosso ponto de vista da imutabilidade de Deus, e o nosso entendimento dEle como um Deus (sempre santo em Si mesmo) que é amor e ira. Sobre o assunto de ira e amor, Shedd comenta: “Estas duas emoções são reais e essenciais em Deus: uma é despertada pela justiça e a outra pelo pecado. A existência de uma necessita da existência da outra; as- sim, se não houver amor pela justiça, não haverá ódio pelo pecado; e, reciprocamente, se não houver ódio pelo pecado, não haverá justiça. A coexistência necessária destes senti- mentos é continuamente ensinada na
  • 22. A Realidade da Ira de Deus 19 Bíblia: ‘Vós que amais o Senhor, detestai o mal’ (Sl 97.10)”. A perfeita compatibilidade entre a ira e o amor é vista na prova substitutiva de Cristo. Somente Ele poderia cumprir os requisitos da justiça. As ofertas queimadas de Levítico 1.1- 9 eram completamente consumidas pelo fogo. Produziam um “aroma agradável ao Senhor”. O “agradável” é uma referência à total satisfação de justiça e não significa, nem por um momento, que Deus teve prazer nos sofrimentos de Cristo. Ele repugnava isto (lembremos a prova de Abraão, ao ser chamado para sacrificar Isaque) com perfeita repugnância, mas teve prazer na vindicação da justiça e no cumprimento da justiça representada na vitória de seu Filho. “A dor do Cordeiro em corpo e alma era tão imensa, que somente os poderes de uma pessoa divina poderiam suportá-la.”2 “Como sua alma fervia debaixo do fogo da ira, e seu sangue vazava através de todos os poros, por causa do extremo calor da chama.” Por causa destes interesses essenciais pela justiça, a ira de Deus veio sobre o Cordeiro, e podemos apenas concluir que essa ira é uma terrível realidade. 3. A ira de Deus manifestada “A ira de Deus se revela (continuamente)…” Enquanto escrevo sobre essa ira, a mídia está trabalhando para expor ao mundo atrocidades que ocorrem em várias partes do mundo. A opinião mundial tem sido despertada rapidamente, exigindo que tome-se uma posição contra o grande número de mortes. A Bíblia fala clara- mente sobre acontecimentos desse tipo e sobre calamidades como guerras, fomes, enchentes, furacões e vulcões. A Bíblia avisa clara- mente sobre os fatos do julgamento de Deus na História.
  • 23. A Realidade da Ira de Deus 20 A queda de Adão e Eva. A primeira manifestação da ira de Deus é aquilo que veio como inexorável cumprimento de suas palavras: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). Os primeiros pecadores receberam sobre si mesmos uma maldição; a mulher foi amaldiçoada na principal órbita de sua vida e, de maneira semelhante, o homem. A terra também foi amaldiçoada. Todos os descendentes de Adão e Eva, por causa da Queda, são nascidos “na iniqüidade” (Sl 51.5). Toda pessoa que nasce neste mundo é culpada do pecado de Adão, ou seja, falta-lhe aquela justiça na qual Adão foi criado, e a pessoa é corrupta por natureza (Rm 5.12- 21). Isto significa que toda pessoa nasce neste mundo como pecador e, conseqüentemente, a culpa clama por ira, devido aos pecados que ela comete cada vez mais. A demora na aplicação do castigo, expresso em Gênesis 2.17, é vista de várias maneiras. Adão não morreu fisicamente de imediato. O castigo de Caim pelo assassinato de Abel foi adiado, apesar de ser evidente que ele era um homem perverso. “A civilização caimita, descrita em Gênesis 4.16-24, foi ricamente abençoada com os benefícios da graça comum e se excedeu nos avanços tecnológicos e culturais. Ao mesmo tempo, essa civilização era protótipo de humanismo e impiedade.” O dilúvio nos dias de Noé. A decadência da humanidade, como conseqüência da Queda tem seu próprio comentário na observação feita por Jeová, ao reclamar que a inclinação do pensamento do coração do homem era somente maldade em todo o tempo! O pecado sempre traz consigo a reação da ira. O Senhor declarou: “Farei desaparecer da face da terra o homem que criei” (Gn 6.7). Os males da indiferença e do pecado caracterizaram a geração de Noé. A busca de atividades legais – comer, beber, construir, casar – se for seguida sem motivos teocêntricos provoca a ira de Deus. O aumento da
  • 24. A Realidade da Ira de Deus 21 criminalidade também foi um precursor do dilúvio. A terra estava cor- rompida à vista de Deus e cheia de violência; então, Deus disse a Noé: “Resolvi dar cabo de toda carne” (Gn 6.11-13). Referindo-se ao pecado de mundocentrismo nos dias de Noé, nosso Senhor declarou claramente que um estado semelhante de mundanismo precederá sua segunda vinda (Lc 17.26). Sodoma e Gomorra. De acordo com Calvino, o caso de So- doma foi trazido à atenção de Abraão, a fim de ensiná-lo que os sodomitas mereciam, com justiça, a sua destruição. “Ao dizer que ‘o clamor tem se multiplicado’, Deus indica quão doloroso são os pecados dos ímpios porque, apesar de prometerem impunidade para si mesmos, escondendo suas maldades, os seus pecados soarão nos ouvidos de Deus”. O horroroso mal que veio a ser chamado de “sodomia” foi revelado inteiramente na noite anterior ao dia em que Ló foi removido da cidade, quando “os homens daquela cidade cercaram a casa… assim os moços como os velhos” e exigiram abusar dos dois anjos (Gn 19.4). Romanos 1 mostra que este pecado em particular é um sinal de perversão, um sinal de que Deus tem entregado os homens à destruição. Paulo diz que é impossível para um homossexual herdar o reino de Deus, mas algumas pessoas em Corinto se arrependeram deste pecado e encontraram a salvação (1 Co 6.9-11). O caso de Sodoma nos ensina que os pecados que destroem a instituição da família e que tornam intolerável a vida de crianças exigem a ira de Deus. O alarmante abuso sexual de crianças, em nossos dias, certamente provoca a ira de Deus. O pecado dos amorreus se tornou insuportável, quando chegou ao seu auge, na época quando essa nação foi destruída por Israel. A invasão foi um ato de guerra mas também de justiça
  • 25. A Realidade da Ira de Deus 22 (Gn 15.16; 1 Rs 21.26; 2 Rs 21.11). A maneira pela qual as cidades da planície foram destruídas não é insignificante. Seus crimes exigiam um ato de indig- nação que foi manifestado por fogo do céu, não um fogo de aniquilação, e sim um fogo de tormento sem fim; este fato é apoiado por Judas 7: “Sodoma, e Gomorra, e as cidades cir- cunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno, sofrendo punição”. A ira caindo sobre os indivíduos. A ira de Deus é contínua na sua manifestação e universal na sua aplicação. Deus é um juiz justo, que manifesta sua ira todo o dia. Esta ira pode ser percebida na vida de pessoas como Acabe e Jezabel, no Antigo Testamento; e de Ananias e Safira, no Novo Testamento; e, mais tarde, na vida do Rei Herodes, que foi morto quando recebeu adoração que deveria ser prestada somente a Deus; e, na era moderna, na morte de ditadores como Hitler e os Ceaucescus. Nações e impérios. As nações e os impérios mundiais também são pesados na balança divina. Grandes trechos das mensa- gens proféticas são dedicados a este tema (Is 13-15; Jr 46-50; Ez 25-32 e Am 1-2). A obrigação de Naum era mostrar que a hora da ira de Deus havia chegado para Nínive, porque ela “vendia os povos com a sua prostituição e as gentes, com as suas feitiçarias” (Na 3.4). Por essas razões, “a sua cólera se derrama como fogo” (Na 1.6). Daniel 2 descreve o julgamento de Deus sobre quatro impérios orgulhosos que se sucederam, e todos foram totalmente destruídos. As setes taças da cólera de Deus. As taças de ouro de Apoca- lipse 16 são taças de ira. Alguns dos horrores dos julgamentos descritos de maneira simbólica no Apocalipse já estão, até
  • 26. A Realidade da Ira de Deus 23 certo ponto, presentes conosco. Seca, fome e poluição são terríveis realidades. Sempre pergunta-se porque Deus permite os terríveis desastres de guerras civis (no Sudão, durante 25 anos; em Moçambique, durante 16 anos; o conflito recente entre o Iraque e o Irã, etc.); fomes (como na Etiópia, no Sudão e na Somália); holocaustos (na Alemanha Nazista, na Rússia e, mais recentemente, no Camboja). Isaías 24.5-6a nos diz: “Na verdade, a terra está contaminada por causa dos seus mora- dores, porquanto transgridem as leis, violam estatutos, e quebram a aliança eterna. Por isso, a maldição consome a terra, e os que habitam nela se tornam culpados”. A ira de Deus revelada contra seu povo eleito. O privilégio traz consigo a responsabilidade. A aliança de Deus resumida em Deuteronômio coloca bastante ênfase na importância da fidelidade. A fidelidade seria recompensada com abundante prosperidade. Para o povo de Deus, a regra seria “emprestarás a muitas gentes, porém tu não tomarás emprestado” (Dt 28.12). Por outro lado, a desobediência, especialmente se fosse no caso de servir a ídolos imprestáveis, provocaria o ciúme do Senhor e acenderia o fogo da sua ira (Dt 32.21-24). Talvez a alegoria da infiel Jerusalém, registrada em Ezequiel 16, forneça a mais marcante lição de ira. Esta foi provocada pela promiscuidade e prostituição de Israel. Tendo sido re- movida do campo onde havia sido lançada na sua infância, e onde revolvia-se no sangue sem ter sido cortado o seu cordão umbilical, Jerusalém foi embelecida pelo seu Salvador e amante. Mas ela tinha dormido com seus vizinhos lascivos de todos os lados. Por isso, Ele diz: “Te farei vítima de furor e de ciúme” (Ez 16.38). O paralelo no Novo Testamento encontra-se em Hebreus 6 e 10. A justiça de Deus é proporcional à responsabilidade hu-
  • 27. A Realidade da Ira de Deus 24 mana. Aqueles que fazem profissão de fé, tornam-se membros da igreja, recebem a luz, o ensino e os benefícios do evangelho e depois rejeitam esses privilégios serão devidamente punidos: “De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei’. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.29-31). 4. A propiciação da ira de Deus “A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé” (Rm 3.25). Nada é tão inescrutável ou tão maravilhosamente eficaz como o sacrifício vicário de Cristo, realizado de uma vez por todas, para propiciar a ira de Deus. Tão terrível foi essa ira que até mesmo Cristo, que conhecia todas as coisas, quando estava para tomar o cálice da ira, disse: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mc 14.34). Na sua exposição de Isaías 53. 10: “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar”, Manton disse: “Então, aprenda: (a) a total impiedade do pecado, custou a Cristo uma vida de sofrimento, – uma dolorosa, vergonhosa, amaldiçoada morte e uma incrível com- preensão da ira de Deus, a fim de reconciliar pecadores; (b) O temor da ira de Deus fez com que Cristo morresse; (c) a extensão das nossas obrigações para com Cristo fez com que Ele condescendesse em suportar a ira de Deus; (d) devemos estar prontos a sofrer qualquer coisa por Cristo. Visto que Ele suportou a raiva e a ira de Deus por nossa causa, não suportaremos a raiva e a ira dos homens por causa de Cristo?”
  • 28. A Realidade da Ira de Deus 25 Propiciar (do latim propitiare) significa apaziguar, tornar fa- vorável ou conciliar. Envolve o elemento pessoal. Uma pessoa ofendida é conciliada. Deus é propiciado no sentido em que sua ira é removida. A dádiva de Cristo como nossa propiciação é a mais completa expressão do amor de Deus. “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu filho como propiciação pelos nossos pecados“ (1Jo 4.10). Aqui está o amor eficaz, um amor determinado a salvar, um amor que foi tão longe, a ponto de transferir a ira dos que a mereciam para Aquele que nos amou de tal maneira que somente Ele estava preparado a suportá-la. Com base na mesma propiciação, toda a graça comum e benevolente é manifestada; a ira, contida e o julgamento, adiado. “Todos os favores que até os ímpios recebem neste mundo”, diz John Murray, “estão relacionados de alguma forma à expiação, e pode-se dizer que têm sua origem nela”.7 Conclusão A realidade da ira de Deus como um atributo, uma parte essencial e intrínseca do seu Ser, deve agir como defesa contra o ensino falso e idéias sem fundamento no sentido de que não há inferno. A ira de Deus vista nos atos históricos de julgamento deve servir também para nos fortalecer contra as influências do liberalismo ético. A verdade de que a ira de Deus permanece sobre os homens deve induzir-nos a com- partilhar o evangelho com eles. É notável que uma recessão no fervor missionário pode ser atribuída à mudança de atitude nos pregadores em afastarem-se da ênfase sobre esse tema que caracterizava nossos antepassados evangélicos. A propiciação realizada pela cruz de Cristo é, em si mesma, um testemunho sobre a realidade da ira divina. Essa ira, e a propiciação que a
  • 29. A Realidade da Ira de Deus 26 silencia, deve impelir-nos, com todos os recursos disponíveis, à evangelização do mundo.
  • 30. Jonathan Edwards Gilson Santos Considerado o maior teólogo e filósofo americano, Jonathan Edwards nasceu no Estado de Connecticut, no mesmo ano em que nasceu o inglês John Wesley. Seu pai, Timothy Edwards, foi pastor, e sua mãe, Esther, era filha do Rev. Solomon Stoddart. Jonathan foi o único filho com dez irmãs. Desde criança demonstrou impressionante inteligência, e ingressou no Yale College pouco antes dos treze anos. Depois de sua educação, ingressou no ministério congregacional em 1726 na Igreja em Northampton, Massachusetts. Poucos anos mais tarde, em 1734, um despertamento aconteceu em sua congre- gação. Em 1740, o Grande Despertamento irradiou-se pelas treze colônias norte- americanas, e estima-se que no mínimo 50.000 pessoas foram despertadas para Cristo e uniram-se às igrejas. Foi ele, por- tanto, o teólogo do chamado Primeiro Grande Despertamento. Mais tarde, Edwards serviu como missionário aos índios em Stockbridge, Massachusetts, entre 1751 e 1757. Edwards e sua esposa, Sarah, tiveram onze filhos. Sua vida familiar feliz foi um modelo para todos os que o visitaram. Edwards morreu durante uma epidemia de varíola, logo depois de haver mudado para Nova Jersey, no mesmo ano em que tornou-se presidente do College of New Jersey, mais tarde chamado Universidade de Princeton. Morreu vítima de uma vacina contra a varíola, por ter se oferecido como voluntá- rio para o teste da mesma. Ele escreveu cerca de mil sermões, bem como várias obras importantes sobre a Bíblia e 27
  • 31. Jonathan Edwards 28 teologia. Foi também um grande metafísico, com importantes obras de filosofia. Aos treze anos escreveu um tratado sobre aranhas, e sempre mostrou interesse por questões científicas, não vendo qualquer conflito entre religião e ciência. Ele lia e apreciava as obras de Sir Isaac Newton, convicto de que a boa teologia e a boa ciência poderiam se apoiar e complementar mutuamente. Foi um dos mais profundos escritores calvinis- tas que se tem conhecimento.
  • 32. Submissão à Disciplina de Deus A. W. Pink Por natureza, não somos inclinados à submissão. Nascemos neste mundo possuídos por um espírito de insubordinação. Somos descendentes de nossos primeiros pais rebeldes e, por isso, herdamos a natureza deles. O homem nasce com uma natureza rebelde, semelhante à de um jumento selvagem (cf. Jó 11.12). Isto é muito desagradável e humilhante, mas é verdadeiro. Isaías 53.6 nos diz: “Cada um se desviava pelo caminho”, que é um caminho de oposição à vontade revelada de Deus. Mesmo na conversão, a nossa natureza rebelde e vo- luntariosa não é erradicada. Recebemos uma nova natureza, mas a velha natureza continua lutando contra a nova; por isso, necessitamos de disciplina e correção. E o grande propósito da disciplina e da correção é trazer-nos à sujeição ao Pai dos Espíritos. Procuraremos atingir dois objetivos: explicar o significado da expressão “estar em… submissão ao Pai” e enfatizar este fato com as razões apresentadas no texto bíblico onde a expressão se encontra (Hb 12.9). 1. A Submissão Idealizada Estar em “submissão ao Pai” é uma expressão de significado abrangente; portanto, convém que compreendamos suas vá- rias conotações. 1. Significa uma aquiescência ao soberano direito de Deus 29
  • 33. Submissão à Disciplina de Deus 30 em fazer conosco aquilo que Lhe agrada. (Veja Salmo 39.9: “Emudeço, não abro os meus lábios porque tu fizeste isso” .) O crente tem o dever de ficar calado quando estiver sob a vara da disciplina e em silêncio quando estiver passando pelas mais intensas aflições. Todavia, isto é possível somente se pudermos ver a mão de Deus em tais aflições. Se a mão de Deus não for vista na aflição, o coração do crente não fará nada além de queixar-se e irritar-se. Leia 2 Samuel 16.10- 11: “Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora, deixai-o amaldiçoar; pois, se o Senhor lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem diria: Por que assim fizeste? Disse mais Davi a Abisai e a todos os seus servos: Eis que meu próprio filho procura tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai- o; que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou”. Que belíssimo exemplo de completa submissão à soberana vontade do Altís- simo! Davi reconheceu que Simei não o podia amaldiçoar sem a permissão de Deus. “Isto fará o meu coração sossegar: o que meu Deus designar é o melhor!” No entanto, com raras exceções, a disciplina é necessária, para trazer-nos a este nível de espiritualidade e manter-nos ali. 2. Significa renúncia da vontade própria. Estar em submissão ao Pai pressupõe uma entrega e uma resignação de nós mesmos a Ele. Uma excelente ilustração deste fato se encontra em Levítico 10.1-3: “Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puserem neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor. E falou Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se
  • 34. Submissão à Disciplina de Deus 31 cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão se calou”. Eles poderiam crescer ao andar em constante comunhão com Deus e em obediência à sua Palavra. Considere as circunstâncias. Os dois filhos de Arão, provavel- mente embriagados na ocasião, foram repentinamente mortos pelo julga-mento divino. O pai deles não havia recebido qualquer conselho que o preparasse para tal aflição. Apesar disso, “Arão se calou”. Oh! Não contenda com Jeová! Seja o barro nas mãos do Oleiro. Tome sobre si o jugo de Cristo, aprendendo dEle, que era “manso e humilde de co-ração” (Mt 11.29). 3. Significa um reconhecimento da justiça e da sabedoria de Deus em todos os seus lidares conosco. Temos de justificar a Deus. Foi isto que o salmista fez, ao dizer: “Bem sei, ó Senhor, que todos os teus juízos são justos e que com fidelidade me afligiste” (Sl 119.75). Estejamos sempre certos de que a Sabedoria é justificada por seus filhos. Que a nossa confissão a respeito da Sabedoria seja: “Justo és, Senhor, e retos, os teus juízos” (Sl 119.137). Em todas as circunstâncias que nos sobrevierem, temos de atribuir justiça Àquele que nos envia todas as coisas. O Juiz de toda a terra não pode cometer erros. O cativeiro na Babilônia foi a aflição mais severa que Deus trouxe sobre seu povo terreno na época do Antigo Testamento. No entanto, mesmo naquela circunstância, um coração nas- cido de novo reconheceu a justiça de Deus no cativeiro: “Agora, pois, ó Deus nosso, ó Deus grande, poderoso e temí- vel, que guardas a aliança e a misericórdia, não menosprezes toda a aflição que nos sobreveio, a nós, aos nossos reis, aos nossos príncipes, aos nossos sacerdotes, aos nossos profetas, aos nossos pais e a todo o teu povo, desde os dias dos reis
  • 35. Submissão à Disciplina de Deus 32 da Assíria até ao dia de hoje. Porque tu és justo em tudo quanto tem vindo sobre nós; pois tu fielmente procedeste, e nós, perversamente” (Ne 9. 32-33). Os inimigos de Deus podem falar sobre a sua injustiça; mas os filhos de Deus devem proclamar a sua justiça. Visto que Deus é bom, Ele não pode fazer nada que é errado e injusto. 4. Inclui um reconhecimento do cuidado de Deus e um sentimento do seu amor. Existe uma submissão amuada e uma submissão estimulante. Existe uma submissão fatalista que toma a seguinte atitude: “Esta situação é inevitável; portanto, me renderei a ela”. Existe uma submissão grata, que recebe com gratidão tudo que Deus tem o prazer de enviar-nos. “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.71). O salmista viu sua disciplina com os olhos da fé e, ao fazer isso, percebeu o amor que estava por trás da disciplina. Devemos lembrar que, quando Deus traz seu povo ao deserto, Ele o faz para que seu povo aprenda mais sobre a suficiência dEle. Quando Deus os lança na fornalha, Ele o faz para que seus filhos desfrutem da presença dEle. 5. Envolve um cumprimento ativo da vontade de Deus. Submissão ao “Pai espiritual” é mais do que algo passivo. Os outros significados da ex-pressão, que já consideramos, são mais ou menos de caráter negativo. Todavia, existe também um lado positivo e ativo nesta expressão. Estar em “submis- são” também significa andar nos preceitos de Deus e pros- seguir no caminho de seus mandamentos. Significa estar em submissão à Palavra de Deus, tendo os nossos pensamentos moldados e os nossos caminhos governados por ela. Existe um fazer e existe um sofrer a vontade de Deus. Ele exige obediência de seus filhos, uma realização de deveres. Quando
  • 36. Submissão à Disciplina de Deus 33 oramos: “Seja feita a tua vontade”, estamos querendo dizer algo mais do que uma anuência piedosa à vontade do Todo- Poderoso; também estamos querendo dizer: “Seja realizada por mim a tua vontade”. Por conseguinte, sujeição ao Pai espiritual é o re-conhecimento prático do senhorio de Deus. II. Razões para a submissão 1. Deus é o nosso Pai. É correto e conveniente que os filhos estejam em sujeição ao seu pai. Quão mais correta e conveniente é esta atitude, quando temos a Deus como nosso Pai! Não existe tirania nEle. Seus mandamentos “não são penosos” e têm em vista o nosso bem. Devemos ser profundamente gratos por que Deus se revela agora como nosso Pai! Esta é uma das revelações distintivas do Novo Testamento. Duvido muito que Arão, Elias, Jó ou Davi conheciam a Deus neste relaciona-mento; apesar disso, eles se submeteram a Deus! Quão mais submissos deveríamos ser! Que a graça nos capacite sempre a dizer, assim como o disse o nosso Salvador: “Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18.11.) 2. Este é o segredo da felicidade. Creio que a força das duas últimas palavras (“então, viveremos”) de nosso texto bíblico é “ser feliz”. A palavra “viver” ou “vida” é empregada neste sentido em Deuteronômio 5.33; ob- serve que “prolongueis os dias” é um acréscimo. Este é o seu sentido em Salmo 119.116. Os queixosos, murmura- dores e rebeldes são miseráveis e infelizes. Fazer a vontade de Deus, nosso porto, é o verdadeiro lugar de descanso para nossos corações. Ter nossas vidas conformadas com a vontade de Deus é o segredo do contentamento e do regozijo. “Tomai sobre vós o meu
  • 37. Submissão à Disciplina de Deus 34 jugo… e achareis descanso para a vossa alma” — de- clarou o Salvador. Em guardar os mandamentos de Deus existe grande recompensa. “Grande paz têm os que amam a tua lei” — disse o salmista. Que o Espírito de Deus opere em nós a verdadeira submissão, ainda que, para produzi-la, disciplina severa seja necessária.
  • 38. O Que é a Perseverança dos Santos? Richard P. Belcher 1. A doutrina da perseverança é uma conclusão lógica dos quatro pontos anteriores do calvinismo. Se o homem é totalmente depravado e não pode fazer nada para ajudar a si mesmo no que diz respeito às coisas es- pirituais; se Deus é absolutamente soberano na questão da eleição, fundamentada tão-somente em sua própria vontade; se a morte de Cristo realizou-se em favor dos eleitos, assegu- rando-lhes a salvação; e se Deus chama os eleitos de maneira irresistível, conclui-se que Deus assegurará a salvação final destes eleitos, ou seja, eles perseverarão até o fim. Se os eleitos não perseverassem, a eleição eterna de Deus falharia, e isto o calvinista não pode admitir. Se Deus decretou a salvação dos eleitos, então, ela acontecerá, incluindo a salvação final dos eleitos. Se os eleitos não perseverassem, a morte de Cristo seria uma falha, porque o seu desígnio era garantir a salvação dos eleitos. Se os eleitos não perseverassem, a graça de Deus seria resis- tível pelos salvos (eles poderiam rejeitá-la de uma maneira final, depois de estarem salvos), embora a graça fosse irresis- tível antes de eles serem salvos. 35
  • 39. O Que é a Perseverança dos Santos? 36 2. A doutrina da perseverança é definida nos seguintes termos: A perseverança dos santos é a doutrina que afirma que os eleitos continuarão no caminho da salvação (por serem eles o objeto do eterno decreto da eleição e por serem eles o objeto da expiação realizada por Cristo), visto que o mesmo poder de Deus que os salvou os preservará e os santificará até o final. 3. A doutrina da perseverança não descarta o afastar-se de Deus por parte do crente. Esta doutrina rejeita a possibilidade de alguém professar ser crente e viver em um suposto estado de afastamento de Deus por muitos anos, sem enfrentar a mão disciplinadora de Deus; mas esta doutrina não descarta o afastar-se de Deus. O afastamento de Deus pode ocorrer entre os crentes; todavia, a doutrina da perseverança diz que o verdadeiro crente não ficará permanentemente nesse estado. Se ele permanecer, tal crente deve colocar um grande ponto de interrogação ao lado de sua profissão de fé. 4. A doutrina da perseverança, de acordo com o calvi- nismo, não inclui a idéia do “crente carnal”. Um “crente carnal”, conforme muitos o definem, é um crente que foi verdadeiramente salvo, mas está vivendo como um perdido. O “crente carnal” fez uma confissão de fé e viveu por um tempo como verdadeiro crente; agora, porém, ele se voltou para o mundo, e aqueles que o cercam no mundo e os membros da igreja não sabem se ele é um verdadeiro crente ou não. Somente Deus conhece o coração do “crente carnal”. Ele pode passar todo o resto de sua vida nesta condição; mas, por causa de sua experiência de salvação, ele estará com Cristo na eternidade. Ele é carnal, mas é um crente: ou, ele é um crente,
  • 40. O Que é a Perseverança dos Santos? 37 mas é carnal. O calvinismo diria: não há salvação onde não há perseverança; e, onde há salvação, ali haverá perseverança. 5. A doutrina da perseverança inclui a segurança do crente; mas a segurança é somente um aspecto desta doutrina; a segurança pode deixar em seu rastro uma maneira de pensar e um viver falsos. O ensino dos batistas de “uma vez salvo, salvo para sempre” é apenas um dos lados da moeda e, sendo apenas um dos lados da moeda, tal doutrina pode ser perigosa. A doutrina da perseverança dos crentes, de conformidade com o calvinismo, tem dois lados — segurança e perseverança. Um não pode existir sem o outro. A doutrina batista da eterna segurança (uma vez salvo, salvo para sempre) tende a desprezar e negligenciar a necessidade de perseverança como prova da verdadeira salvação. Deste modo, se ensinarmos a segurança de salvação para um crente e não lhe ensinarmos a realidade da perseverança como prova da salvação, pode- remos produzir o mesmo resultado da doutrina do “crente carnal” — pessoas que pensam ser salvas, mas não o são. A doutrina da segurança eterna sem a outra metade da moeda torna-se uma permissão de pecar para aqueles que apenas professam ter fé em Cristo, mas que nunca foram verdadei- ramente salvos. A doutrina calvinista da perseverança dos santos tanto oferece conforto ao crente (ele está eternamente seguro) quanto proporciona realidade à sua confissão de fé em Cristo (o crente compreende que a perseverança na vida cristã é uma prova da salvação).