SlideShare a Scribd company logo
1 of 11
Balada da Neve   por  Augusto GiL Recordando  uma das mais belas poesias da  Literatura Portuguesa
Batem leve, levemente,  Como quem chama por mim.  Será chuva? Será gente?  Gente não é, certamente  E a chuva não bate assim. 
 
Quem bate, assim, levemente,  Com tão estranha leveza,  Que mal  se ouve, mal se sente?  Não é chuva, nem é gente,  Nem é vento com certeza. 
Fui ver. A neve caía  Do azul cinzento do céu,  Branca e leve, branca e fria...  -Há quanto tempo a não via!  E que saudades, Deus meu! 
Olho-a através da vidraça.  Pôs tudo da cor do linho,  Passa gente e, quando passa,  Os passos imprime e traça  Na brancura do caminho... 
Fico olhando  esses  sinais  Da pobre gente que avança,  E noto, por entre os mais,  Os traços miniaturais  Duns pezitos de criança... 
E descalcinhos, doridos...  A neve deixa inda vê-los,  Primeiro, bem definidos,  Depois, em sulcos compridos,  Porque não podia erguê-los!... 
Que quem já é pecador  Sofra tormentos, enfim!  Mas as crianças, Senhor,  Porque lhes dais tanta dor?!...  Porque padecem assim?!... 
E uma infinita tristeza,  Uma funda turbação  Entra em mim, fica em mim presa.  Cai neve na Natureza  - e cai no meu coração. 
Música:  Inverno - Antonio Vivaldi

More Related Content

What's hot (14)

Vesperal
VesperalVesperal
Vesperal
 
Poema vesperal
Poema vesperalPoema vesperal
Poema vesperal
 
Poema vesperal
Poema vesperalPoema vesperal
Poema vesperal
 
Vinicius de Moraes
Vinicius de MoraesVinicius de Moraes
Vinicius de Moraes
 
Poema vesperal
Poema vesperalPoema vesperal
Poema vesperal
 
Espalhando Amor
Espalhando AmorEspalhando Amor
Espalhando Amor
 
Saudade tempo e destino
Saudade tempo e destinoSaudade tempo e destino
Saudade tempo e destino
 
Destino - Cecília Meireles
Destino - Cecília MeirelesDestino - Cecília Meireles
Destino - Cecília Meireles
 
Espalhando Amor
Espalhando AmorEspalhando Amor
Espalhando Amor
 
Homenagem ao poeta Nivaldo Ferreira
Homenagem ao poeta Nivaldo FerreiraHomenagem ao poeta Nivaldo Ferreira
Homenagem ao poeta Nivaldo Ferreira
 
Van Gogh
Van GoghVan Gogh
Van Gogh
 
Van Gogh
Van GoghVan Gogh
Van Gogh
 
Van Gogh
Van GoghVan Gogh
Van Gogh
 
U M A H I S TÓ R I A
U M A  H I S TÓ R I AU M A  H I S TÓ R I A
U M A H I S TÓ R I A
 

Viewers also liked

Viewers also liked (7)

Outono imagens.e.pensamentos
Outono imagens.e.pensamentosOutono imagens.e.pensamentos
Outono imagens.e.pensamentos
 
A matemática no pré escolar
A matemática no pré escolarA matemática no pré escolar
A matemática no pré escolar
 
P de PAI
P de PAIP de PAI
P de PAI
 
Dia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentesDia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentes
 
História do dia do pai
História do dia do paiHistória do dia do pai
História do dia do pai
 
Quem é o meu pai?
Quem é o meu pai?Quem é o meu pai?
Quem é o meu pai?
 
Papá, diz me porquê...
Papá, diz me porquê...Papá, diz me porquê...
Papá, diz me porquê...
 

More from paulacrisfernandes (20)

Balada da Neve
Balada da NeveBalada da Neve
Balada da Neve
 
Inverno boneco.de.neve
Inverno boneco.de.neveInverno boneco.de.neve
Inverno boneco.de.neve
 
Os animais e as crianças
Os animais e as criançasOs animais e as crianças
Os animais e as crianças
 
Sequência..
Sequência..Sequência..
Sequência..
 
O desejo da bruxa
O desejo da bruxaO desejo da bruxa
O desejo da bruxa
 
O meu calendário saudável do pequeno
O meu calendário saudável do pequenoO meu calendário saudável do pequeno
O meu calendário saudável do pequeno
 
A sopa verde
A sopa verdeA sopa verde
A sopa verde
 
Folheto alimentação
Folheto alimentaçãoFolheto alimentação
Folheto alimentação
 
Folheto alimentação
Folheto alimentaçãoFolheto alimentação
Folheto alimentação
 
X a lagartinha comilona
X a lagartinha comilonaX a lagartinha comilona
X a lagartinha comilona
 
O meu-pai
O meu-paiO meu-pai
O meu-pai
 
Eu e o meu Papá
Eu e o meu PapáEu e o meu Papá
Eu e o meu Papá
 
Poema gosto de ti
Poema gosto de tiPoema gosto de ti
Poema gosto de ti
 
Poema gosto de ti
Poema gosto de tiPoema gosto de ti
Poema gosto de ti
 
Poema gosto de ti
Poema gosto de tiPoema gosto de ti
Poema gosto de ti
 
Gosto de Ti
Gosto de TiGosto de Ti
Gosto de Ti
 
Poema Gosto de Ti
Poema Gosto de TiPoema Gosto de Ti
Poema Gosto de Ti
 
Gosto de Ti
Gosto de TiGosto de Ti
Gosto de Ti
 
Dia dos Namorados
Dia dos Namorados Dia dos Namorados
Dia dos Namorados
 
Certa noite num estábulo
 Certa noite num estábulo Certa noite num estábulo
Certa noite num estábulo
 

Balada da neve

  • 1. Balada da Neve   por Augusto GiL Recordando uma das mais belas poesias da Literatura Portuguesa
  • 2. Batem leve, levemente,  Como quem chama por mim.  Será chuva? Será gente?  Gente não é, certamente  E a chuva não bate assim. 
  • 3.  
  • 4. Quem bate, assim, levemente,  Com tão estranha leveza,  Que mal se ouve, mal se sente?  Não é chuva, nem é gente,  Nem é vento com certeza. 
  • 5. Fui ver. A neve caía  Do azul cinzento do céu,  Branca e leve, branca e fria...  -Há quanto tempo a não via!  E que saudades, Deus meu! 
  • 6. Olho-a através da vidraça.  Pôs tudo da cor do linho,  Passa gente e, quando passa,  Os passos imprime e traça  Na brancura do caminho... 
  • 7. Fico olhando esses sinais  Da pobre gente que avança,  E noto, por entre os mais,  Os traços miniaturais  Duns pezitos de criança... 
  • 8. E descalcinhos, doridos...  A neve deixa inda vê-los,  Primeiro, bem definidos,  Depois, em sulcos compridos,  Porque não podia erguê-los!... 
  • 9. Que quem já é pecador  Sofra tormentos, enfim!  Mas as crianças, Senhor,  Porque lhes dais tanta dor?!...  Porque padecem assim?!... 
  • 10. E uma infinita tristeza,  Uma funda turbação  Entra em mim, fica em mim presa.  Cai neve na Natureza  - e cai no meu coração. 
  • 11. Música: Inverno - Antonio Vivaldi