Hábitos viciosos e a ortopedia funcional dos maxilares
1. HÁBITOS VICIOSOS E A ORTOPEDIA FUNCIONAL DOS MAXILARES,
VISTA ATRAVÉS DA REABILITAÇÃO NEURO-OCLUSAL.
Nesta época do ano, em que o ar se torna mais seco, poluído e frio, os consultórios
médicos começam a receber um maior número de pacientes, em sua grande maioria crianças,
com problemas de ordem respiratória.
A respiração ideal, fisiológica, ocorre pelo nariz, e proporciona uma filtragem,
aquecimento e umidificação do ar. Quando a criança não consegue respirar pelo nariz, é
obrigada a usar a boca; e o ar que penetra pela boca chega aos pulmões poluído com umidade
e temperatura inadequada favorecendo o aparecimento de rinites alérgicas, sinusites,
adenóides, amidalites, etc, e com isso definindo o quadro de respiração bucal. A manutenção
dessa situação no tempo irá induzir à ocorrência de diversos transtornos3,4.
A essa condição respiratória inadequada juntamente com a associação de hábitos
nocivos como o uso prolongado de mamadeira, sucção de chupeta e/ou dedo, os quais
solicitam da musculatura respiratória e mastigatória um trabalho diferente do normal, o
paciente passa a desenvolver adaptações funcionais e alterações estruturais, prejudicando o
crescimento e desenvolvimento das arcadas dentárias e o posicionamento satisfatório dos
dentes; além de transtornos gerais do organismo.
O desenvolvimento do complexo crânio-facial está relacionado com a dissipação de
forças resultantes de origem mastigatória, geradas pelos impactos nas superfícies dos dentes,
pelo que a situação oclusal seria importante no controle da função mastigatória, regida pelo
sistema neuromuscular1,12.
A Ortopedia Funcional dos Maxilares, vista através da Reabilitação Neuro-Oclusal (OFM-RNO)
é uma proposta de trabalho reconhecida mundialmente, que procura direcionar o
crescimento e desenvolvimento das bases ósseas maxilares7,8,9, proporcionando uma
harmonia facial e equilíbrio das funções que a boca exerce, como: respiração, deglutição,
mastigação, fonoarticulação (fala), relacionadas à postura crânio cervical4,5.
A OFM-RNO está fundamentada nas ciências básicas como: Fisiologia, Neurociência,
Anatomia, Histologia, e outras; e busca através destas um diagnóstico diferencial, utilizando
para isso diversas técnicas e recursos cientificamente comprovados6,7,8,9,10,11.
Tem como objetivo identificar, prevenir e intervir sobre os distúrbios da oclusão dental,
desde o início da maturação dos elementos constituintes. Desta maneira se faz necessário a
compreensão dos fatores genéticos, epigenéticos e ambientais, pois os mesmos atuam como
fatores determinantes da morfogênese crânio-facial. Assim, a harmonia do crescimento e
desenvolvimento crânio-oro-cervical depende diretamente do equilíbrio das funções exercidas
pelo sistema estomatognático3,4,5,6,8,9,10,11.
Os estímulos empregados por aparelhos ortopédicos funcionais e/ou por ajustes oclusais
fornecem uma nova informação ao sistema nervoso, o qual passa a regular-se e responder
através da musculatura envolvida, modificando assim a informação de desequilíbrio e
permitindo a retomada do desenvolvimento e função dentro da faixa de normalidade pré-estabelecida
pelo organismo3,5,6, 8,9,10,11.
2. Portanto, atresias dos maxilares, falta de espaço para os dentes, mordidas abertas e/ou
cruzadas, protrusões dentais e outros tipos de más oclusões esqueléticas e dentárias podem
ser resultantes do desequilíbrio funcional das estruturas correspondentes2,5,10. Em
associação a esse desequilíbrio é comum encontrar-se alterações de postura corporal do
paciente, que não identificada e orientada para tratamento poderá futuramente causar
desvios permanentes em sua coluna vertebral.
A seguir serão mostrados casos de pacientes com hábitos de respiração bucal, sucção de
dedo, chupeta e/ou mamadeira com más oclusões instaladas, que foram tratados com a OFM-RNO
com a intenção de devolver forma e função adequadas, dando condições para a natureza
retomar o desenvolvimento adequado.
Ex. 1: paciente classe I de Angle, com mordida aberta anterior e cruzada unilateral direita
por hábito vicioso de chupeta e respiração bucal.
Antes Depois
Ex. 2: paciente classe II de Angle, com mordida cruzada unilateral esquerda, respiração
mista, com atresia maxilar e apinhamento dental superior.
Antes Depois
3. Ex. 3: paciente classe II de Angle, com atresia maxilo-mandibular, apinhamento dental
anterior e respiração bucal.
Antes Depois
A prevenção destes problemas de ordem funcional deve ser iniciada desde o nascimento
da criança e durante o crescimento ativo com resultados mais efetivos e estáveis, através da
informação, orientação dos pais ou responsáveis12,13. Já nos casos onde o problema já se
encontra instalado, deve haver a intervenção multidisciplinar das áreas da saúde como
Otorrinolaringologia, Odontologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, e Outras.
A OFM-RNO pode ser empregada também no adulto e na terceira idade10, porém com
resultados mais modulados.
Há casos que são tratados totalmente com a OFM-RNO, outros são indicados posteriormente
para a Ortodontia para dar continuidade ao caso, independente da técnica utilizada. O
importante é que tanto uma terapêutica como outra procure estabelecer o equilíbrio
funcional do paciente, prioridade maior da saúde do indivíduo com um todo3,12.
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13. SIMÕES, WILMA A.: Prevenção de oclusopatias. Ortodontia. 11 :117-125,1978.
Denise Fernandes Barbosa
Liege M. B. Ferreira
Mestres em Patofisiologia de Órgãos e Sistemas.
Especialistas em Ortopedia funcional dos Maxilares segundo a Reabilitação Neuro-Oclusal.