1. DE DIEGO PEREIRA DA SILVA
DE DIEGO PEREIRA DA
DE DIEGO PEREIRA
DE DIEGO
DE
.
2.
3.
4. concreto adj.s.m. (1692) 1 que ou o que é real, existente, verdadeiro um perigo
c. sua tese oscila entre o c. e o abstrato 2 FIL diz-se de ou natureza apresen-
tada por qualquer objeto de conhecimento singular, individual, passível de ser
captado pelos sentidos 3 FIL no pensamento hegeliano, que ou aquilo que é
efetivamente real em decorrência de sua universalidade, em oposição ao que é
parcial, singular ou individual 4 LIT MÚS PINT m.q. concretista adj. 5 ligado à
realidade, ao que é palpável, ao que pode ser captado pelos sentidos 6 sólido,
maciço, não fluido 7 GRAM LING diz-se de substantivo que nomeia tudo que é
perceptível aos sentidos, os seres e objetos do mundo físico s.m. 8 CONSTR B
mistura de cimento, água e matérias granulosas inertes (ger. areia e brita), em
determinadas dosagens, formando uma massa plástica que se verte em fôrmas
para que endureça e adquira resistência 9 PRFM pomada impregnada de essên-
cia c. aparente ARQ CONSTR concreto sem qualquer revestimento ou pintura c.
armado ARQ CONSTR ENG concreto que contém em seu interior armaduras de ferro
ou aço, o que lhe dá mais resistência; cimento armado, ferroconcreto de c.
resolvido, decidido, firme não há nada de c. sobre esse assunto não c. GRAM
LING diz-se do substantivo que nomeia tudo o que não é perceptível aos senti-
dos; abstrato ETIM lat. concr tus,a,um, part.pas. de concresc re 'formar-se por
agregação' SIN/VAR material, objetivo, palpável, real, sólido, verdadeiro ANT
abstrato, hipotético, imaginário HOM concreto(fl.concretar)
FRANCO, Francisco Manoel de Mello; HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles
(Dir.). Concreto. In: ______. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2009. p. 514.
8. (contra) classe
no princípio era
a ação,
o fenômeno da natureza,
o estado.
depois,
Impuseram-lhe
o “verbo”.
hoje,
outros:
(os) tempos,
(os) modos,
(as) vozes
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10. Intempérie
Os olhos do homem
sentem a tristeza do canário,
daquela ave de voos “frios”.
O coração do canário
enxerga a amargura do homem,
daquele ser de passos “vazios”.
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14. Batalha perdida
Tomou como natural os arranhões provocados em
seu relógio pela cal da sala. Era típico este seu com-
portamento de passar não muito distante das pare-
des de qualquer construção. Embora dissesse aos
outros não entender o porquê do referido hábito,
sabia que o concreto lhe dava a consistência necessá-
ria para suportar o mundo. Antes amparado, que caí-
do. Logo, dirigiu-se ao seu quarto, dedicando-se à
leitura do “somos todos culpados”. Pra quê tentar
vencer a mãe?
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15. Cântico primaveril
Domingo pra mim
tem que ser do Espírito
Santo e
“de Jesus”,
tem que ser Dominga
ou Domingas
(com a sua graça
religiosa).
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17. Estância
Depois de capinar o possível
no terreno que recebera do pai, pedregoso;
João da Roça
(tirando o chapéu com vistas à sombra,
às vacas, aos bois e às novilhas
ainda não comprados)
para
- sente suas linhas completas.
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19. força do Hábito
acordo / o Aquele
levanto-me / o Árido
ando / o Não
insisto / o Mas
entrego-me / o Que
morro / o É
(eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee)
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20. Irmandade
Sob a sina daqueles muitos, despejados num nordes-
te com sol, uniram-se para que o leite – mesmo em
potes a deslizarem léguas de chão árido – chegasse
às bocas dos seus (naquela década, sete); para que a
chita, importada da grande cidade pequena, colorisse
as veredas de sua família esperançosa quanto ao bro-
to da caatinga. Um tinha doze, bem verdade. O outro,
treze. Mas, nas mãos de ambos, via-se algo oposto à
denúncia de uma infância perdida: os calos que lhes
amaciavam a alma.
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21. Do preceito (poético)
À irmã, dolce.
O homem de palavra (s),
contrário à “concordância”,
destoa do padrão.
Logo, a alcateia o esquece.
Se chutasse a pedra,
se virasse as costas pro José,
talvez a história fosse outra.
Mas, e a graça de ser lobo bobo?
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22. Marcha
Sigo e persigo o Pombo
(selvagem)
- pra me perder,
pra me encontrar.
Quão próximas, de mim,
suas asas...
Quão distantes!
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23. Tromba d’água
“Pai, me ensina a nadar no rio?”
O Herói não escuta.
“Pai, me ensina a nadar no rio?!”
O Senhor se esquiva.
“Pai, me ensina a nadar no rio!”
O Genitor vai embora.
(...)
Afogaram-se desde o verão passado,
os personagens.
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25. Família
João-Pai dirigia Teresa-Mãe
que dirigia Raimundo-Filho
que dirigia Maria-Irmã
que não dirigia ninguém
(a casa era pequena).
João-Pai foi para o boteco,
Teresa-Mãe, para a máquina “de costura”,
Raimundo-Filho perdeu o que procurava,
e Maria-Irmã afastou-se por causa do
| pós-doutorado
(a tradição, às vezes, peca).
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31. Cinzas, ao inimigo-protetor
Se tem me fumado por vinte e dois anos
numa busca que
(declarada terapêutica)
vira gozo,
autoafirmação;
vá colher matéria-prima noutros corpos,
naqueles brancos e ingênuos corpos.
Sou filtro de coisa qualquer,
filtro de coisa acabada.
Venci.
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33. Vulgaridades
“Querido” é a distância
esperada entre suas mãos
e as do outro,
no final da manhã em que
a pessoa de outrora – inominável –
lhe avista na rua e
o chama, aos gritos.
De igual modo:
“amado”,
“meu filho”,
“amado”,
“meu filho”,
“amado”,
“meu filho”
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34. - a repetição idiota
dos (re) encontros.
Ah! Que não me ponham
a qualidade de frente,
esta puta!
38. Gosto apurado
Minhas expectativas batem
à janela, na esperança
de que a pule.
Paciente, no quarto,
tomo mais um café e saboreio
a amargura
de quem (sobre)
vive.
Falta açúcar.
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39. Nosso infinito particular
Chovendo, o teu choro
me é indiferente
- porque trajo uma capa azul
que repele o índigo da tua.
Enxugue estas lágrimas.
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40. 04 de novembro de 2009
É solta a casca
da caatinga que fere,
que marca;
que saúda mais Um
e mais Outro, perfazendo-os
galho.
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42. Pequena lição de arbitrariedade
Oecumenìcus,
(se aberto para o mundo inteiro,
se do mundo inteiro)
existe independentemente
(do mundo).
Agora, repitam comigo:
In nominu Pátris,
et Fílli et Spíritus Sancti.
Amen.
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43. 10k
Embrulhei-me com o ouro
do anel que carrego,
pra amanhecer hoje e
depois;
pra não prosseguir nu.
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44. Ponteiro
Desponta às doze
(do dia)
a
temperatura
abafada
das
quatro
estações:
uma mãe
que é pai,
um pai
que é irmão,
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45. um irmão
que é mãe
e uma irmã que é irmã
no momento subsequente,
pro equilíbrio
das coisas.
46. Aprendizado
Ivo viu a uva –
sf. fruto da videira;
e, todas as possibilidades
guardadas na respectiva rama –
sf. trepadeira cujos frutos, as uvas,
dão, fermentados, o vinho.
Jamais se embriagou.
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47. 15 de outubro
Era pra ser uma composição rubra
se eu tivesse ganhado a rosa
e sentido a sua essência:
aperto de mão,
abraço,
“feliz dia do”.
Virou só plano.
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48. Pratos da casa
Não sei se de olho no hábito,
se de olho nele próprio;
o domingo grita
- enquanto o relógio marca doze,
a mesa (posta) espera o que desconheço
(o que desconhecemos),
e as mãos se fecham em punhos
(os nossos punhos).
A Tarde exige pouco,
o pouco de cada dia:
“desprezo ao arroz,
ao feijão,
ao frango,
desprezo e desprezo”.
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49. O Horóscopo sussurra delongas:
“Vênus e seu regente, Júpiter,
(em contato forte)
sinalizam um domingo bom,
bom pra observar até onde se pode conviver
|com pessoas
que querem coisas diferentes da vida.
Além disso, a Lua encontra Marte na hora do
| almoço,
botando sua capacidade de amor à prova.
Grande desafio!”
Sabiamente, calo.
53. O menino que (não) tinha razão
Disseram-lhe que uma escolha se fazia necessária,
para aquele instante. O futebol ou o dever de casa,
por exemplo. Mas, quando optou pelo primeiro, viu-
se soterrado pelas expressões “o segundo é mais ga-
rantido”, “o segundo é mais garantido”. Foi quando
quis perguntar de que garantia tratavam. Desistiu.
Eles, de fato, não entenderiam uma alma dada a isto
e aquilo, ao “enloucrescimento” e à felicidade. Ou
será que?... Bem, deixe para lá!
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54. As vísceras do mundo
O amor desce às ruas
de cimento
de areia
de pedra
- infinitamente;
porque tem corpo e
cansa,
porque é preciso
questionar
a imensidão.
Por isto,
a carne, a volúpia;
por isto,
a poesia.
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60. Minutos precoces
Penetro, surdamente,
no íntimo da palavra,
nos seus lubrificados termos
e expressões
- excitando a nervosidade
dos meus movimentos,
dos meus sentidos,
o rubor da alma (quase desprendida,
de mim)
a combustão da ardência que,
neste escrever,
me traduz...
Mas, gozo logo!
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64. Compasso
Gravem estas notas que
produzo na complexidade de tantas
outras
composições, e
não se agravem...
...Às vezes, desafino,
desatino,
desafio
(a Harmonia).
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66. Versos improvisados
De repente, os sulcos
são sulcos na madeira e cortam
- à espera do vermelho
que os entranhe,
neste escrever infértil
(arenoso).
De repente, chove.
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68. Descoberta da poesia
Fragilizado, vejo o sono
diante do papel e me nego as palavras
de efeito;
ainda que a Morte continue
a perceber este escritor de Nadas.
Dormir é a chave.
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69. E agora pisa na areia. Sabe que
está brilhando de água, e sal e
sol. Mesmo que o esqueça
daqui a uns minutos, nunca
poderá perder tudo isso. E sabe
de algum modo obscuro que
seus cabelos escorridos são de
um náufrago. Porque sabe -
sabe que fez um perigo. Um
perigo tão antigo quanto o ser
humano.
LISPECTOR, Clarice. As águas do
mundo. In: ______. Felicidade
clandestina: contos. Rio de Janeiro:
Rocco, 1998. p. 146.
70. SUMÁRIO
do CIMENTO
Meio-termo 9
QUESTÃO I - ponto (s) de vista 11
(contra) classe 13
Intempérie 15
Avesso 17
homem diante do espelho 19
Saudades de Amor 21
Batalha perdida 23
Cântico primaveril 25
Pré-escolar 27
Estância 29
Inspiração 31
força do Hábito 33
Irmandade 35
Do preceito (poético) 37
71. Marcha 39
Tromba d’água 41
Voos 43
Família 45
das MATÉRIAS GRANULOSAS INERTES
Abaixo! 49
Cinzas, ao inimigo protetor 53
Santíssima Trindade 55
Vulgaridades 57
Dias fúnebres 59
(i)nonsense 61
veja 63
Gosto apurado 65
Nosso infinito particular 67
04 de novembro de 2009 69
krisis 71
Pequena lição de arbitrariedade 75
72. 10 k 75
Ponteiro 77
Aprendizado 79
15 de outubro 81
Pratos da casa 83
Hora da aula 85
Correspondência 87
da ÁGUA
O menino que (não) tinha razão 91
As vísceras do mundo 93
Ih! Congruências... 95
Minutos precoces 101
poeta nas entrelinhas 103
Abscesso reincidente 105
Isto é literatura 107
Compasso 109
ecologicamente correto 111