SlideShare a Scribd company logo
1 of 14
Download to read offline
Folha de S. Paulo, domingo, 02 de abril de 2000


Sete historiadores sugerem e comentam livros essenciais para conhecer o passado do país
Guia de leitura da história brasileira

ANGELA DE CASTRO GOMES                                                  JOÃO JOSÉ REIS
É professora titular de história do Brasil da Universidade              É professor do departamento de história da Universidade
Federal Fluminense, pesquisadora da Fundação Getúlio                    Federal da Bahia e autor de quot;A Morte É uma Festa
Vargas e autora de quot;A Invenção do Trabalhismoquot;, entre                   (Companhia das Letras), entre outros.
outros.
                                                                        LAURA DE MELLO E SOUZA
BORIS FAUSTO                                                            É professora de história da USP, autora de quot;O Diabo e a
É professor da Universidade de São Paulo e autor de quot;A                  Terra de Santa Cruzquot; (Companhia) e quot;Desclassificados do
Revolução de 30quot; (Cia. das Letras) e quot;História do Brasilquot;               Ouroquot; (Graal).
(Edusp), entre outros. É colunista da Folha.
                                                                        MANOLO FLORENTINO
EVALDO CABRAL DE MELLO                                                  É professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
É historiador e diplomata aposentado, autor de quot;Rubro Veioquot;             autor de quot;Em Costas Negrasquot; (Cia. das Letras), entre outros.
e quot;Olinda Restauradaquot; (Topbooks), entre outros. Ele escreve
mensalmente no Mais!, na seção quot;Brasil 500 d.C.quot;.                       RONALDO VAINFAS
                                                                        É professor de história moderna da Universidade Federal
                                                                        Fluminense e autor, entre outros, de quot;Confissões da Bahiaquot;
                                                                        (Companhia das Letras).

________________________________________________________________________________

Colônia - 5 datas
1500 - Em 22 de abril, Pedro Álvares Cabral aporta no Brasil, na região de Porto Seguro (Bahia).

1624 - Primeira tentativa -fracassada- de invasão dos holandeses, em Salvador. Os holandeses se estabelecem em Pernambuco, em
1630, e de lá são expulsos em 1654.

1650 - Começa o declínio do ciclo da cana-de-açúcar, principal atividade econômica da colônia, sustentada pelo trabalho escravo de
negros e índios.

1789 - A Inconfidência Mineira, tentativa frustrada de independência de Portugal, termina com o enforcamento de Tiradentes, um
dos líderes rebeldes.

1808 - Chegada de d. João 6º ao Brasil. O rei, fugindo das invasões napoleônicas, se estabelece no Rio de Janeiro com a corte,
decreta a abertura dos portos e cria, entre outros, o Banco do Brasil e o primeiro jornal do país, a quot;Gazeta do Rio de Janeiroquot;.



BORIS FAUSTO                                                            O Diabo e a Terra de Santa Cruz , de Laura de Mello
                                                                        e Souza (Ed. Cia das Letras) - Aproxima-se e ao
Raízes do Brasil , de Sérgio Buarque de Holanda (Ed.                    mesmo distancia-se do livro de Sérgio Buarque de
Brasiliense) - Livro que não se refere apenas à Colônia,                Holanda, quot;Visão do Paraísoquot;. Fundamental para o
mas nela localiza o essencial das quot;raízes do Brasilquot;. A                 conhecimento da religiosidade popular e das chamadas
distinção entre colonização espanhola e portuguesa fez                  práticas de feitiçaria no Brasil colonial.
escola.
                                                                        Olinda Restaurada , de Evaldo Cabral de Mello (Ed.
Visão do Paraíso , de Sérgio Buarque de Holanda (Ed.                    Topbooks) - Trata-se de um estudo sobre o período
Brasiliense) - Ensaio sobre o imaginário do                             holandês no Brasil. Focaliza os anos 1630-1654,
colonizador, como indica seu subtítulo: os motivos                      ampliando a compreensão dos interesses envolvidos,
edênicos no descobrimento e na colonização do Brasil.                   ligados ao açúcar, e a natureza da guerra de expulsão.

Formação do Brasil Contemporâneo (Colônia) , de                         Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema
Caio Prado Jr. (Ed. Brasiliense) - Um clássico sobre as                 Colonial (1777-1808) , de Fernando A. Novais (Ed.
linhas gerais da implantação da Colônia, de inspiração                  Hucitec) - Monografia clássica, de inspiração marxista,
marxista, sendo referência importante para estudos                      versando sobre relações entre a colônia e a metrópole,
posteriores.                                                            em uma conjuntura decisiva para os rumos da
                                                                        Independência brasileira.
Segredos Internos , de Stuart B. Schwartz (Ed.               Visão do Paraíso , de Sérgio Buarque de Holanda (Ed.
Companhia das Letras) - Monografia que reconstitui a         Brasiliense) - quot;Caminhos e Fronteirasquot; e quot;Visão do
economia e a sociedade açucareira da Bahia, a partir de      Paraísoquot; constituem duas obras-primas da nossa
fontes primárias. Critica concepções tradicionais sobre      historiografia colonial e, como tal, insuperadas por
a continuidade no tempo e a riqueza dos senhores de          nenhum outro livro dedicado ao período. Honram a
engenho.                                                     historiografia de qualquer país. Literariamente, também
                                                             têm lugar aparte graças ao estilo espaçoso do autor.
A Devassa da Devassa , de Kenneth Maxwell (Ed. Paz
e Terra) - Estudo das relações entre Brasil e Portugal,      Tempo de Flamengos , de J.A. Gonsalves de Mello -
nos anos 1750-1808, tendo como foco a análise da             Na trilha de Gilberto Freyre, que o estimulou aos
Inconfidência mineira.                                       estudos de história social, o autor oferece um quadro
                                                             abrangente da presença holandesa no cotidiano urbano
A Nação Mercantilista , de Jorge Caldeira (Ed. 34) -         e rural do Nordeste e das relações do invasor com luso-
Recentemente publicado, o livro é um ensaio sobre o          brasileiros, judeus, índios e negros.
Brasil colonial e do século 19, tratando de relativizar os
elementos estruturais e enfatizar uma deliberada opção       Formação do Brasil Contemporâneo , de Caio Prado
dos agentes internos, na explicação do quot;atraso               Júnior (Ed. Brasiliense) - Sessenta anos decorridos da
brasileiroquot;.                                                 sua redação, continua a ser uma síntese magistral da
                                                             existência material da Colônia. Quem o consulta,
D. João 6º no Brasil , de Oliveira Lima (Ed.                 constata invariavelmente a precisão e a seriedade com
Topbooks) - Um clássico sobre o período joanino,             que seu autor se desincumbiu da tarefa, inclusive da
publicado pela primeira vez em 1908. Reavalia o papel        cozinha do ofício. Obra escrita por um marxista, ela
do rei português e reconstitui a vida na corte, com uma      poderia ser perfeitamente assinada por um historiador
qualidade que prenuncia a obra de Gilberto Freyre.           que o não fosse.

EVALDO CABRAL DE MELLO                                       Salvador Correia de Sá e a Luta pelo Brasil e
                                                             Angola , de Charles R. Boxer - Trata-se da mais
História do Brasil , de Robert Southey - O profundo          importante das obras dedicadas ao Brasil por este
conhecimento da história de uma distante colônia             eminente historiador do mundo luso-brasileiro em
portuguesa por parte deste quot;poeta laureadoquot; da Grã-          língua inglesa. Seu conhecimento das fontes do século
Bretanha foi motivo de mofa para seus contemporâneos         17 é algo de notável, servindo para demonstrar que a
ingleses; mas se ainda hoje ele é lido não o deve a sua      erudição ainda é o melhor antídoto contra o
poesia.                                                      envelhecimento dos livros de história.

História do Brasil , de H. Handelmann - Publicada dez        Segredos Internos , de Stuart B. Schwarz (Ed.
anos decorridos da primeira edição da quot;História do           Companhia        das      Letras)     -Verdadeiramente
Brasilquot;, de Varnhagen (1854), a obra do historiador          insubstituível para o estudo da mais antiga das nossas
alemão só em 1931 mereceu tradução brasileira,               sociedades coloniais, a canavieira do Nordeste.
tratando-se ainda hoje de livro escassamente lido,
embora possa ser considerado o iniciador do estudo da
história brasileira sob critério regional.                   LAURA DE MELLO E SOUZA

Capítulos de História Colonial , de J. Capistrano de         Histoire d'un Voyage Fait en la Terre du Brésil
Abreu (Ed. Itatiaia/ Edusp) - A despeito de redigido há      (História de uma Viagem Feita à Terra do Brasil,
quase um século, permanece obra indispensável,               1578), de Jean de Léry - Com o extraordinário livro de
devido à garra sintetizadora do autor. Não é o produto       Léry -que Lévi-Strauss chamou de quot;breviário do
de intuições deixadas no ar, mas elaboradas ao longo         etnólogoquot;-, o Brasil e os tupinambá entram na Europa e
de muitos anos de convívio diário com as fontes da           lançam-se as bases do relativismo cultural. A grande
história colonial.                                           edição é a de Frank Lestringant (1994, para quot;Livres de
                                                             Pochequot;), que tomou por base a edição de 1580. A
Casa-Grande & Senzala , de Gilberto Freyre (Ed.              tradução brasileira, de Sérgio Milliet, parece-me
Record) - Obra de intuições certeiras e de outras não        basear-se na de 1578 e é bastante incompleta, deixando
tão certeiras assim, proporciona uma visão poderosa do       de fora passagens fundamentais.
nosso passado colonial. Submetido a análises pontuais,
mostra deficiências compreensíveis num livro escrito         História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador
nos anos 30 do século 20, quando o autor não dispunha        (Ed. Itatiaia) - Frei Vicente escreveu a primeira história
de uma infra-estrutura monográfica capaz de embasar          do Brasil, antes mesmo de existir um Brasil. De certa
estudo de escopo tão ambicioso.                              forma, ele nos quot;inventouquot;. É importantíssimo para os
                                                             fatos ocorridos nos primeiros tempos da colonização e
Caminhos e Fronteiras , de Sérgio Buarque de                 arguto ao perceber as contradições entre o lá (Portugal)
Holanda (Ed. Companhia das Letras).                          e o cá (o Brasil).
complexo sul-atlântico do império português,
Capítulos de História Colonial (1907), de J.                 destrinchando a constituição e consolidação dos nexos
Capistrano de Abreu (Ed. Itatiaia/Edusp) - Capistrano é      estabelecidos entre a América portuguesa, a África e a
o antepassado direto das interpretações do Brasil que        Europa no século 17. Por fim, realiza ao mesmo tempo
voltam ao período colonial para entender o processo          a biografia da sua personagem, Salvador Correia, e a
formativo do país. A melhor coisa do livro é a ênfase        história do Atlântico Sul, mostrando como, às vezes,
na interiorização do processo colonizador.                   certos agentes históricos encarnam a História.

Vida e Morte do Bandeirante (1929), de José                  A Fronda dos Mazombos (1995), de Evaldo Cabral de
Alcântara Machado (Ed. Itatiaia) - É, a meu ver, a           Mello (Ed. Topbooks) - É um marco na historiografia
primeira monografia da moderna historiografia                social do Brasil. Sendo uma narrativa assentada na
brasileira. Recorta um objeto -São Paulo nos séculos 16      minúcia e na atenção à especificidade -Pernambuco
e 17-, destaca um problema -a pobreza econômica- e           entre 1660 e 1715-, cria, contudo, o melhor quot;modeloquot;
quot;inventaquot; uma fonte documental: os inventários e             de análise das sublevações coloniais.
testamentos, só muito depois utilizados pela
historiografia do hemisfério Norte.                          MANOLO FLORENTINO

Casa-Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre -           O Império Marítimo Português - 1415-1825 , de
É um dos mais importantes trabalhos das ciências             Charles R. Boxer (Edições 70, Lisboa) - Imprescindível
sociais neste século. Polêmico e discutível, tem             demonstração da natureza arcaica e parasitária do
aspectos geniais. Influenciou a historiografia norte-        Antigo Regime lusitano e do lugar da Colônia
americana sobre escravidão e inaugurou temas só              brasileira nos quadros do império português.
tratados pela escola dos Annales décadas depois. No
que diz respeito à colônia, traz para a sua análise uma      Transformation in Slavery - A History of Slavery in
renovação de enfoque e temas sem precedentes.                Africa , de Paul E. London Lovejoy (Cambridge
                                                             University Press) - Explica a inserção estrutural da
Formação do Brasil Contemporâneo (1942), de Caio             África no sistema Atlântico (via tráfico negreiro) a
Prado Jr. (Ed. Brasiliense) - Este livro deu, como logo      partir de motivações intrínsecas à própria história
no início nos alerta o autor, sentido à colonização          africana. Fundamental para pôr fim ao mito do quot;bom
brasileira e forneceu instrumentos para importantes          selvagemquot;.
análises estruturais subsequentes. Envelhecido e
discutível nas partes sobre sociedade e administração, é     A Sociedade contra o Estado , de Pierre Clastres (Ed.
argutíssimo ao apontar os canais para a dinamização          Francisco Alves) - Para entender politicamente as
interna da economia -os circuitos de muares, a               sociedades pré-cabralinas. Originalíssima contribuição
pecuária, a economia de subsistência.                        etno-histórica deste anarquista, discípulo de Lizot,
                                                             precocemente desaparecido.
Caminhos e Fronteiras (1956), de Sérgio Buarque de
Holanda (Ed. Companhia das Letras) - Compreende              Visão do Paraíso , de Sérgio Buarque de Holanda (Ed.
uma série de exercícios de história cultural que, apesar     Brasiliense) -Para além da riqueza e do poder,
de breves, têm um fôlego surpreendente. Abre                 conquista e colonização do Brasil obedeceram a
perspectivas de análise ainda irrealizadas, e é intrigante   profundas motivações edênicas. Um verdadeiro show
que seja um livro tão pouco lido e citado.                   de elegância e erudição.

Visão do Paraíso (1959), de Sérgio Buarque de                Casa-Grande & Senzala (Formação da Família
Holanda (Ed. Brasiliense) -É a obra mais notável de          Brasileira sob o Regime de Economia Patriarcal) ,
toda a historiografia brasileira. Tem erudição, reflexão     de Gilberto Freyre (Record) - Genial. Antecipou
e originalidade ímpares. Por ser tão superlativa, talvez     algumas     das   mais    importantes     conquistas
iniba um pouco o leitor. É mais uma obra-prima de            metodológicas da historiografia ocidental. É difícil
Sérgio que não conheceu a repercussão merecida e só          encontrar hoje em dia quem escreva com tanta
começou a ter impacto na historiografia brasileira por       coragem.
volta do meado dos anos 80.
                                                             Segredos Internos , de Stuart B. Schwartz (Ed.
Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema                 Companhia das Letras) - A mais qualificada síntese
Colonial (1979), de Fernando A . Novais (Ed. Hucitec)        moderna da história baiana. Incorpora o que há de
- Esta obra retoma a idéia do sentido da colonização de      melhor entre as pesquisas sobre a região, esmerando-se
Caio Prado e analisa de forma notável o quot;sistema             no trânsito entre diversos tipos de fontes.
colonialquot;, mostrando suas contradições e a necessidade
de se entender metrópole e colônia, Europa e Brasil em       A Escravidão Africana no Brasil (Das Origens à
suas relações dinâmicas.                                     Extinção do Tráfico) , de Maurício Goulart (Ed.
                                                             AlfaÔmega) - Até o momento, a mais sólida estimativa
Salvador Correia de Sá e a Luta pelo Brasil e                das importações brasileiras de escravos africanos. Uma
Angola (1952), de Charles R. Boxer - Este é, até hoje,       verdadeira aula sobre como abordar consistentemente
o único estudo de fôlego sobre a formação do                 grandes questões a partir de poucos dados.
História Geral do Brasil , de Francisco Adolpho de             A Organização Social dos Tupinambás (1946), de
Varnhagen (Ed. Melhoramentos) - O grande tratado               Florestan Fernandes - O melhor livro de Florestan, que
onomástico da história brasileira, como recentemente           fez história sem ser historiador. Acho que os
definiu-o um arguto crítico. Devem ser consultadas as          antropólogos não gostam, mas o livro dá lição de como
anotações de Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia.             explorar etnograficamente as fontes européias para
                                                               desvendar a cultura tupinambá.
A Devassa da Devassa (A Inconfidência Mineira:
Brasil-Portugal, 1750-1808) , de Kenneth Maxwell               Visão do Paraíso (1959), de Sérgio Buarque de
(Ed. Paz e Terra) - Para entender a Inconfidência              Holanda (Ed. Brasiliense) - É o melhor livro do maior
Mineira a partir de uma perspectiva verdadeiramente            historiador brasileiro, pois inaugura o estudo do
atlântica.                                                     imaginário do Descobrimento e avança na comparação
                                                               entre a colonização portuguesa e a espanhola da
O Espelho de Próspero (Cultura e Idéias nas                    América, por ele mesmo esboçada em quot;Raízes do
Américas) , de Richard M. Morse (Ed. Companhia das             Brasilquot; (1936).
Letras) - Se nada nos une, o que de fato nos separa?
Explica, dentre outros tópicos, as marcantes diferenças        Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema
culturais entre a colonização ibérica e a anglo-saxã,          Colonial (1979), de Fernando Novais (Ed. Hucitec) -
partindo da própria Idade Média européia. Erudição             Avançou na tese da colonização moderna como
borgiana.                                                      sistema, o que causou muita polêmica. Mas o melhor
                                                               do livro é a maneira de articular as transformações
RONALDO VAINFAS                                                econômicas européias e a política portuguesa no fim do
                                                               século 18.
História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador
(Ed. Itatiaia) - O primeiro que escreveu um livro com          Relações Raciais no Império Colonial Português
este título. Rigoroso nos fatos e muito crítico.               (1967), de Charles Boxer (Ed. Afrontamento, Lisboa) -
Franciscano, foi nosso primeiro historiador.                   Nosso maior brasilianista, autor de copiosa obra.
                                                               Escolhi esse livro de Boxer como emblema de suas
Capítulos de História Colonial (1907), de Capistrano           teses. Pela inserção do Brasil nos quadros do império
de Abreu (Ed. Itatiaia/Edusp) - Deu uma guinada na             português e pela crítica ao mito da quot;democracia racialquot;.
historiografia brasileira, pois questionou a quot;História
Geralquot; de Varnhagen, bem documentada, mas história             Rubro Veio (1985), de Evaldo Cabral de Mello (Ed.
quot;oficialquot;. Deslocou o foco da colonização portuguesa           Companhia das Letras) - Diplomata, é um dos nossos
para a Colônia na sua diversidade.                             melhores historiadores, autor de vasta obra sobre
                                                               Pernambuco colonial. Neste livro, Evaldo põe abaixo
Casa-Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre               mitos importantes da guerra contra os holandeses como
(Ed. Record) - Livro genial, apesar de inúmeras críticas       patamar da brasilidade.
que com razão lhe moveram. Concebeu como ninguém
a mestiçagem cultural inerente à nossa história e              O Diabo e a Terra de Santa Cruz (1986), de Laura de
introduziu a antropologia na historiografia brasileira.        Mello e Souza (Ed. Companhia das Letras) - O melhor
                                                               livro    de     Laura,     embora      muitos     prefiram
Formação do Brasil Contemporâneo (1942), de Caio               quot;Desclassificados do Ouroquot;. Mas é que o Diabo
Prado Jr. (Ed. Brasiliense) - Foi o primeiro a conceber        inaugurou a moderna história das mentalidades no
a colonização como sistema e como estrutura, apesar            Brasil, mostrou as potencialidades das fontes
dos vários deslizes na avaliação da questão racial. Ao         inquisitoriais para a história cultural e entrou fundo no
contrário do que muitos dizem, percebeu muito bem as           problema da religiosidade, traço essencial da história e
articulações econômicas no interior da Colônia.                da vida no Brasil.




As religiosidades e africanidades
Ronaldo Vainfas
especial para a Folha

Prefiro falar de uma lacuna temática sobre o período colonial, que conheço um pouco melhor. E me espanta constatar
como nossos historiadores quase não se dedicaram às religiosidades. Isto vale para a Colônia e para toda a história
brasileira. Dentre os 30 livros que incluí nessa edição, somente um, quot;O Diabo e a Terra de Santa Cruzquot;, de Laura de
Mello e Souza, é dedicado exclusivamente ao assunto.
Não deixa de ser muito intrigante essa lacuna, sendo o Brasil até hoje embebido de religião, país católico onde se
multiplicam seitas protestantes e onde o sincretismo religioso está em toda parte, como na umbanda carioca. Isso sem
falar nas africanidades, como o candomblé baiano, e noutros ritos de morfologia complexa, como os catimbós
tradicionais ou o quot;modernoquot; Santo Daime. É evidente o contraste entre a força de nossas religiosidades e a desatenção
de nossa historiografia.
É verdade que alguns historiadores se dedicaram a esse campo na época colonial, além de Laura. Luiz Mott fez uma
bela biografia de uma visionária negra no Brasil setecentista. Anita Novinsky estudou os cristãos novos na Bahia. Eu
mesmo estudei a quot;santidade indígenaquot; no 16. Vários estudaram com brilho a catequese. Poderia dar mais exemplos, mas
são relativamente poucos os estudos sobre religiosidades, e a maioria prioriza os aspectos institucionais, quando não as
reduzem às determinações econômicas ou de outro tipo.
Entre os clássicos, somente Freyre deu atenção ao assunto, graças à sua genialidade e, sem dúvida, à sua formação
antropológica culturalista. E as religiosidades não estão ausentes de quot;Visão do Paraísoquot;, embora o livro seja antes uma
história das idéias do que de experiências religiosas, como o próprio Sérgio Buarque afirmou em certo prefácio.
O relativo desdém dos historiadores diante das religiosidades contrasta, aliás, com a sensibilidade de sociólogos, como
Bastide, de etnólogos, como Métraux, e sobretudo dos antropólogos, que sempre perceberam a importância do
sobrenatural e do misticismo na sociedade brasileira.
Creio que isso se deve a que os historiadores talvez sejam herdeiros mais fiéis da tradição iluminista, cultora da Razão,
sem falar no prestígio do marxismo estruturalista, não raro economicista, que grassou entre nós até os anos 1980. De
todo modo, é lacuna que prejudica a compreensão histórica de nossa sociedade.


Os documentos coloniais
Laura de Mello e Souza
especial para a Folha

O período colonial foi e tem sido objeto de algumas das análises mais brilhantes da historiografia brasileira. Mesmo
quot;Casa-Grande & Senzalaquot;, de Gilberto Freyre, que é um ensaio quase atemporal (os tempos históricos se confundem e
se misturam no livro), elege problemas referentes à colonização como pontos de referência. quot;Formação do Brasil
Contemporâneoquot;, de Caio Prado Jr., obra que originalmente deveria avançar pelo século 19, ateve-se à Colônia, criando
para ela uma explicação poderosa.
Nos últimos 20 anos, o estudo de nossos três primeiros séculos tem passado por uma renovação considerável, dentro e
fora da academia. Este é o caso da obra do embaixador Evaldo Cabral de Mello, uma das mais impressionantes da
historiografia brasileira atual.
Mas há ainda muitos problemas a resolver, como o da publicação de documentos em maior escala. Depois de
Capistrano e Rodolfo Garcia, notáveis estudiosos que prepararam edições críticas de porte e descobriram a identidade
de autores até então desconhecidos, pouca coisa foi feita.
Documentos dos tempos coloniais são manuscritos difíceis de ler, requerendo treino específico em paleografia. Muitos
dos mais importantes ainda estão nos arquivos. O Códice Costa Matoso, imprescindível para a compreensão dos
primeiros tempos das Minas, acha-se agora prestes a sair de um deles e ganhar o público por meio de uma edição
patrocinada pela Fundação João Pinheiro e realizada por uma equipe grande e competente.
Parte dos livros que indiquei nesta edição do Mais! são explicações do Brasil: querem captar nosso quot;sentidoquot;, as linhas
mestras de nossa história, desvendar nossa identidade nacional. Outros, como o trabalho pioneiro de Alcântara
Machado, debruçam-se sobre um determinado objeto e privilegiam análises mais particularizadas.
Uma lista de dez é pequena e, contemplando as preferências de quem a faz, comete eventuais injustiças. Como
Alcântara Machado, o pernambucano José Antonio Gonsalves de Mello também escreveu uma linda monografia, ainda
hoje atual: quot;Tempo dos Flamengosquot; (1947). A obra historiográfica deste autor, pouco conhecida no Sul, é das mais
completas que temos, indo dos estudos recortados à edição criteriosa de documentos.
O mais importante historiador brasileiro de todos os tempos foi também o maior historiador da Colônia, tendo escrito
trabalhos marcantes sobre outros períodos e que não menciono por fugir aos objetivos aqui propostos. Falo de Sérgio
Buarque de Holanda. Se publicado na Alemanha ou na Itália, talvez quot;Visão do Paraísoquot; fosse apenas um grande livro de
história. No Brasil, é o maior de todos: nosso atestado de maioridade intelectual, a prova de que também podemos
inovar sendo clássicos e evitando o perigosíssimo ranço do exotismo, que sempre nos garante a popularidade fácil no
exterior.


________________________________________________________________________________

Império - 5 datas
1822 - D. Pedro 1º, filho de d. João 6º, proclama a Independência do Brasil, em 7 de setembro.

1831 - O imperador Pedro 1º abdica em favor do filho Pedro, de 5 anos de idade, e volta a Portugal, onde assume o trono como d.
Pedro 4º. Estabelece-se um período de Regência até 1840.
1850 - Termina oficialmente o tráfico negreiro com a Lei Eusébio de Queirós.

1865-1870 - Em 1º de maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai formam a Tríplice Aliança e entram em guerra contra o Paraguai. A
guerra termina em 1º de março de 1870, com a morte de Solano López e o extermínio de metade da população paraguaia.

1888 - Após duas décadas de intensa campanha abolicionista, a Lei Áurea decreta, em 13 de maio, o fim da escravidão no país.




BORIS FAUSTO                                                          favorecimento da corte e das províncias do centro-sul,
                                                                      pelo império.
A Construção da Ordem e Teatro de Sombras , de
José Murilo de Carvalho (Ed. Relume Dumará) - Livro                   A Espada de Dâmocles , de Wilma Peres Costa -
indispensável para o conhecimento do Império                          Estudo versando sobre o Exército, a Guerra do
brasileiro, concentrando-se, na primeira parte, na                    Paraguai e os anos de crise do Império, explorando,
formação da elite e, na segunda, na política imperial.                entre outros aspectos, as várias vertentes do
                                                                      republicanismo.
Tempo Saquarema - A Formação do Estado
Imperial , de Ilmar Rohloff de Mattos (Ed. Access) -                  EVALDO CABRAL DE MELLO
Faz uma dupla com o livro de José Murilo de Carvalho,
iluminando as características do conservadorismo e do                 D. João 6º no Brasil , de Oliveira Lima (Ed.
jogo partidário.                                                      Topbooks).

Um Estadista do Império , de Joaquim Nabuco (Ed.                      O Movimento da Independência , de Oliveira Lima
Topbooks) - Pela via de uma excelente biografia de seu                (Ed. Topbooks) - Capistrano reputava o quot;D. João 6º no
pai, Nabuco de Araujo, Joaquim Nabuco faz desfilar                    Brasilquot; um livro desorganizado, mas não se pode negar
personagens centrais e analisa problemas da vida                      que ele oferece um panorama vigoroso do período
política imperial.                                                    juanino, que ainda não foi superado na nossa
                                                                      historiografia. quot;O Movimento da Independênciaquot; lhe é
Homens Livres na Ordem Escravocrata , de Maria                        inferior, mas Octavio Tarquínio o considerava a obra
Sylvia de Carvalho Franco (Ed. Unesp) - Monografia                    mais satisfatória sobre o processo emancipacionista, e
clássica, concentrada na região do Vale do Paraíba                    pode-se afirmar que continua a sê-lo.
(SP), explorando temas importantes como a violência
no meio rural e as relações de compadrio.                             Um Estadista do Império , de Joaquim Nabuco (Ed.
                                                                      Topbooks) - Dispensável reiterar o óbvio, isto é, a
Em Costas Negras , de Manolo Florentino (Ed.                          importância desta obra para a história do Segundo
Companhia das Letras) - Lança uma nova interpretação                  Reinado.
da sociedade colonial, enfatizando a acumulação
gerada pelo tráfico de escravos, a partir do Rio de                   Sobrados e Mucambos , de Gilberto Freyre (Ed.
Janeiro, e a formação de um poderoso setor social                     Record) - É o livro em que melhor se manifestou o ovo
representado pelos traficantes.                                       de Colombo gilbertiano, vale dizer, a aplicação dos
                                                                      métodos sincrônicos da antropologia cultural,
Rebelião Escrava no Brasil , de João José Reis (Ed.                   originalmente formulados para a compreensão das
Companhia das Letras) - Monografia por um                             sociedades primitivas, a uma sociedade de tipo
especialista na história social dos escravos, versando                histórico e, portanto, até então convencionalmente
sobre o levante dos malês, movimento de escravos                      estudada através dos métodos diacrônicos próprios da
islâmicos, que ocorreu em Salvador, em 1835.                          historiografia.

As Barbas do Imperador , de Lilia Moritz Schwarcz                     Do Império à República , de Sérgio Buarque de
(Ed. Companhia das Letras) - Biografia recente de                     Holanda (Ed. Bertrand Brasil) - Juntamente com quot;Um
Pedro 2º, destacando-se pela reconstrução da figura do                Estadista do Impérioquot;, a que nada fica a dever, constitui
imperador e da vida sociopolítica da corte.                           a leitura realmente indispensável para entender o
                                                                      declínio do Segundo Reinado. O fato de ser parte da
Da Senzala à Colônia , de Emilia Viotti da Costa (Ed.                 obra coletiva permitiu ao autor optar por uma análise
Unesp) -Um clássico sobre a escravidão nas áreas                      exclusivamente política, que descreve de dentro o
cafeeiras, abrangendo aspectos econômicos, sociais e                  funcionamento das instituições imperiais, em vez de
ideológicos.                                                          examinar a crise das instituições monárquicas mediante
                                                                      o estudo exógeno do sistema escravocrata ou dos seus
O Norte Agrário e o Império , de Evaldo Cabral de                     valores ideológicos.
Mello (Ed. Topbooks) - Estudo sobre um tema pouco
explorado -o da distribuição de recursos pelo poder                   História dos Fundadores do Império do Brasil , de
central monárquico-, sustentando a tese do                            Octavio Tarquínio de Souza (Ed. Itatiaia) - A
bibliografia recente sobre o processo da Independência
e o período regencial é singularmente pobre. As           Rebelião Escrava no Brasil (1986), de João José Reis
biografias de Octavio Tarquínio ainda oferecem a          (Companhia das Letras) -Notável espelho de quão
melhor visão de conjunto, a despeito das limitações do    complexas eram as relações entre os escravos, no
gênero biográfico e das restrições ideológicas            cativeiro e em meio às tentativas de superá-lo.
decorrentes da interpretação saquarema da história da     Importante resgate da força que o Islã negro teve entre
fundação do Império, de que o autor não se                nós.
desprendeu. Um dos raros, coisa estranha, historiadores
brasileiros a dominar a técnica narrativa.                Formação da Literatura Brasileira (1959), de
                                                          Antonio Candido (Ed. Itatiaia) - Para contextualizar as
Os Donos do Poder , de Raymundo Faoro (Ed. Globo)         escolas literárias e o mundo dos letrados.
- Sua análise é particularmente feliz no tocante ao
período monárquico, razão pela qual não poderia deixar    A Abolição do Tráfico de Escravos no Brasil (1976),
de ser incluído nesta lista, embora a utilização do       de Leslie Bethell (Ed. Expressão e Cultura/Edusp) - O
conceito de estamento patrimonial paire muitas vezes      que torna esse livro imprescindível é o diálogo que ele
numa região nebulosa.                                     estabelece entre as fontes britânicas e as brasileiras.
                                                          Afinal, a escravidão esteve tão arraigada entre nós que
A Construção da Ordem , de José Murilo de                 somente uma forte determinação exterior poderia dar
Carvalho (Ed. Relume Dumará) - É uma análise              fim ao tráfico que a alimentava.
detalhada e profunda da composição dos grupos
dirigentes, em particular a magistratura, que criaram o   Os Donos do Poder (1958), de Raymundo Faoro (Ed.
Estado nacional e o consolidaram ao longo do Primeiro     Gobo) - Original aplicação de alguns dos mais
Reinado, da Regência e dos primeiros anos do Segundo      importantes conceitos bolados por Max Weber. Parte
Reinado.                                                  da política para, no limite, questionar a própria
                                                          existência de uma quot;cultura brasileiraquot;.
Bahia, Século 19 , de Katia de Queiroz Mattoso (Ed.
Nova Fronteira) - É um estudo modelar de uma              Na Senzala, uma Flor (1999), de Robert W. Slenes
sociedade provincial do período monárquico, com base      (Ed. Nova Fronteira) - Obra de alta carpintaria na qual
numa exploração hábil e exaustiva das fontes baianas.     demografia, antropologia, linguística, iconografia e
É de lamentar que o modelo que a obra propõe ainda        números delicadamente dão voz aos cativos. De
não tenha sido seguido por outros historiadores           quebra, mostra que a distância entre nós e a África era
especializados em história provincial.                    bem menor do que o Atlântico.

A Abolição do Tráfico de Escravos Brasileiro , de         Machado de Assis - A Pirâmide e o Trapézio (1976),
Leslie Bethell (Ed. Expressão e Cultura/Edusp) - É o      de Raymundo Faoro (Ed. Globo) - Destaca-se pela
que há de melhor sobre o processo de tomada de            maneira absolutamente refinada com que se utiliza da
decisões políticas no tempo do Império, inclusive no      produção machadiana como fonte histórica. Um
tocante aos seus condicionamentos internacionais.         espelho primoroso e sutil da Corte imperial, de seus
                                                          tipos humanos e instituições.
MANOLO FLORENTINO
                                                          Os Últimos Anos da Escravatura no Brasil (1850-
Formação Econômica do Brasil (1959), de Celso             1888) (1978), de Robert Conrad (Ed. Civilização
Furtado (Companhia Editora Nacional) - Um de seus         Brasileira) - O melhor painel sobre o abolicionismo e a
grandes méritos é o de haver montado um modelo            destruição do escravismo em cada uma das regiões do
econômico que qualquer leitor culto pode ver              país. Alia a sistematicidade anglo-saxã a uma
funcionando em todas as conjunturas do mercado            extraordinária coleção de fontes.
internacional. Seco e movido por uma lógica
implacável.                                               JOÃO JOSÉ REIS

Homens de Grossa Aventura - Acumulação e                  O Brasil Monárquico - Tomo 2 da quot;História Geral
Hierarquia na Praça Mercantil do Rio de Janeiro, 1790-    da Civilização Brasileiraquot;, org. de Sérgio Buarque de
1830 (1998), de João Fragoso (Ed. Civilização             Holanda (Difusão Européia do Livro, 1970-1972) -
Brasileira) - Produto arrojado da recente                 Obra coletiva, permanece o melhor panorama do Brasil
profissionalização do ofício de historiador. Não faz      monárquico, com capítulos de história política (maior
concessões.                                               ênfase), econômica, diplomática, militar, religiosa,
                                                          escravidão, influência britânica, emancipação política e
A Construção da Ordem (1980), de José Murilo de           revoltas regionais, entre outros temas. Reflete bem o
Carvalho (Ed. UFRJ/Relume-Dumará) - Identifica os         estado da pesquisa histórica, sobretudo paulista, no
meios pelos quais o Estado imperial herdou e redefiniu    início dos anos 70 do Novecentos.
a tradição absolutista e patrimonial portuguesa,
gerando unidade, centralização e ordem. Exemplo do        Império - A Corte e a Modernidade Imperial - Vol.
que a historiografia pode lograr mediante o diálogo       2 da quot;História da Vida Privadaquot;, org. de Luiz Felipe de
interdisciplinar profundo.                                Alencastro, direção de Fernando A. Novais (Ed.
Companhia das Letras) - Obra coletiva, com exemplos
de abordagens emergentes. Mas não é só quot;história           Pátria Coroada , de Iara Lis Carvalho Souza (Ed.
novaquot;, e é algo mais que quot;história da vida privadaquot;. O     Unesp).
Império visto através do escravo e do senhor, do
imigrante e nativo, dos comportamentos e                   Da Senzala à Colônia , de Emilia Viotti da Costa (Ed.
representações diante da vida e da morte, temas            Unesp) - Escrita há mais de 30 anos, continua a melhor
amarrados e acrescidos de outros, em penetrante            obra de síntese sobre a ascensão e queda da escravidão
capítulo introdutório.                                     no império do café.

Um Estadista do Império , de Joaquim Nabuco (Ed.           Obra Completa , de Machado de Assis (Ed. Nova
Topbooks) - Fosse apenas uma biografia do pai              Aguilar) - O mestiço Machado pode ter sido quem mais
Nabuco de Araújo, este livro do filho seria suspeito.      bem entendeu o branco da corte. Visão penetrante e
Tornou-se um clássico indispensável porque é uma           impiedosa, embora sutil, da classe senhorial e da
história envolvente, testemunho honesto e bem              resistência astuciosa dos subalternos apanhados nas
documentado do Império.                                    rédeas da dominação paternalista.

Sobrados e Mucambos , de Gilberto Freyre (Ed.              Primeiras Trovas Burlescas , de Luiz (Getulino)
Record) - A ordem senhorial urbana, num livro mais         Gama - Poemas do militante abolicionista negro, de
bem contextualizado que quot;Casa-Grande & Senzalaquot;.           1904, talvez a primeira expressão literária de orgulho
Trata com originalidade e sem cerimônia assuntos que       racial afro-brasileiro. É também poesia de crítica
vão dos mais surpreendentes, como estilos de barba e       divertida e contundente ao racismo em seu tempo.
bigode, aos convencionais, como escravidão e
miscigenação. Nem tudo faz sentido, mas quase tudo         RONALDO VAINFAS
faz pensar.
                                                           O Abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco (Ed.
Tempo Saquarema , de Ilmar Rolf Mattos (Ed.                Nova Fronteira) - Livro engajado na causa
Access) - Vai ao âmago da calmaria do Segundo              abolicionista de forma moderada, um clássico do
Reinado. A construção do Estado nacional é a história      pensamento liberal à moda brasileira. O melhor do
da afirmação da classe senhorial brasileira, em torno do   livro é o fato de Nabuco ter percebido a especificidade
pacto conservador contra a desordem nas ruas e             da escravidão brasileira em relação à norte-americana,
senzalas.                                                  salientando que, entre nós, ela não correspondia
                                                           exatamente às hierarquias raciais.
A Construção da Ordem e Teatro de Sombras , de
José Murilo de Carvalho (Ed. Relume-Dumará) -              Sobrados e Mucambos (1936), de Gilberto Freyre
Introduz modo novo de fazer história política. Traça       (Ed. Record) - O segundo grande livro de tantos quanto
perfil da elite política imperial, suas origens sociais,   escreveu Freyre, neste caso desvendando o cotidiano da
regionais, ocupacionais. É sobre essa gente em batalhas    escravidão no cenário urbano do Rio de Janeiro no
cruciais, como a abolição e a lei de terras, em relação    século 19. Complementa seu livro maior, quot;Casa-
às quais os senhores rurais, bem representados no          Grande & Senzalaquot;, de 1933.
poder, nem sempre foram servidos pelo senhor do
trono.                                                     Formação da Literatura Brasileira (1957), de
                                                           Antonio Candido (Ed. Itatiaia) - Clássico do maior
As Barbas do Imperador , de Lilia Moritz Schwarcz          crítico literário brasileiro e historiador de nossa
(Ed. Companhia das Letras) - Abordagem original de         literatura. Com máxima acuidade e erudição, desvenda
Pedro 2º, trata sobretudo da construção da imagem          a constituição de um sistema literário no Brasil desde
pública do monarca, a partir de vastíssima                 1750 até 1880. Combina análise estética com
documentação iconográfica. Se às vezes passa muito         interpretação histórica, atento à formação da
rápido sobre tais fontes, deixa sempre pistas              nacionalidade e suas representações.
inteligentes.
                                                           Da Senzala à Colônia (1966), de Emília Viotti da
Visões da Liberdade , de Sidney Chalhoub (Ed.              Costa (Ed. Unesp) - O título não é bom, mas o livro é
Companhia das Letras) - É a corte da perspectiva do        clássico sobre o complexo jogo de interesses envolvido
escravo. Mostra como ele construiu a derrocada da          na abolição do tráfico e da escravidão no Brasil.
escravidão no dia-a-dia, avançando suas próprias
visões de liberdade, finamente elucidadas pelo             Homens Livres na Ordem Escravocrata (1969), de
historiador. Análise de classe com classe.                 Maria Sylvia de Carvalho Franco (Ed. Unesp) - O
                                                           primeiro livro que, estudando a sociedade escravista,
Bahia, Século 19 , de Kátia M. de Queirós Mattoso          pôs em cena os brasileiros que não eram senhores nem
(Ed. Nova Fronteira) - É o Império visto da periferia,     escravos, utilizando-se pioneiramente de processos-
nesta radiografia bem documentada da província             crime como fonte histórica.
baiana. Geografia, demografia, economia, família,
escravidão, riqueza, pobreza, governo, religião -esforço   Nordeste 1817 (1972), de Carlos Guilherme Mota -
exemplar em direção à inalcançável história totalizante.   Um grande livro sobre o conflito de classes e suas
representações na Revolução de 1817, umas das várias
insurgências da história pernambucana. Incluo o livro           Bahia, Século 19 - Uma Província no Império (1992),
no período imperial porque trata do contexto joanino,           de Kátia Mattoso (Ed. Nova Fronteira) - Reúne
pré-emancipatório.                                              resultados de pesquisas realizadas desde os anos 60.
                                                                Historiadora quot;greco-baianaquot; de forte formação
Rebelião Escrava no Brasil (1985), de João José Reis            braudeliana, foi uma das primeiras a valorizar as
(Ed. Companhia das Letras) - O melhor livro de um               relações entre geografia e história, as fontes seriais e a
dos melhores historiadores brasileiros atuais, na minha         demografia histórica. Utilizou números sem prejuízo da
opinião o melhor. É livro sobre a Revolta dos Malês,            narrativa e a favor de uma história social global.
na Bahia, em 1835: uma lição de como estudar o
conflito social em conexão com o poder, a cultura e as          Na Senzala, uma Flor (1999), de Robert Slenes (Ed.
religiosidades, além de ligar a história brasileira à           Nova Fronteira) - Apesar de publicado somente em
africana.                                                       1999, reúne pesquisas e textos que o autor realiza há
                                                                décadas. É o principal historiador da cultura banto na
Tempo Saquarema (1986), de Ilmar Mattos (Ed.                    diáspora da escravidão brasileira. Explica a recriação
Access) - A melhor interpretação sobre a formação do            de identidades culturais africanas, apesar e através da
Estado imperial numa perspectiva de luta de classes,            escravidão.
explicando a hegemonia alcançada pelo Rio de Janeiro
escravocrata no século 19.



A Independência e a Regência
Evaldo Cabral de Mello
especial para a Folha

A historiografia pode conter buracos negros de várias espécies. A primeira decorre da carência de documentação no
tocante aos períodos mais recuados. É assim que os historiadores da alta Idade Média alemã tornaram-se mestres
exímios em tirar partido de simples listas de nomes. A segunda variedade tem a ver com o fato de que a documentação
existe, mas, devido a limitações de natureza material ou ideológica, não foi aproveitada no todo ou em parte. O livro de
Kátia de Queirós Mattoso sobre a Bahia no século 19 é um bom exemplo. Os acervos estavam em Salvador, mas não
haviam sido devidamente explorados.
Enfim, o terceiro gênero de buraco negro na historiografia é o que cava a própria passagem do tempo. Como toda
história, Croce quot;dixitquot;, é história contemporânea, periodicamente os historiadores voltam aos velhos temas, munidos
com outras lentes ou inspirados por novos interesses.
A esse respeito, ocorre-me o período da Independência. Os livros de síntese (Varnhagen, Oliveira Lima, Tobias
Monteiro) estão todos envelhecidos, e a última tentativa feita neste sentido, a de José Honório Rodrigues, resultou em
algo descosido, mal concebido e mais mal escrito.
Daí que as biografias de Octavio Tarquínio de Souza ainda sirvam de excelente leitura mesmo para o iniciado. E,
contudo, as universidades brasileiras têm produzido nos últimos decênios uma boa quantidade de monografias sobre os
aspectos os mais diversos dos anos 1808-1825, as quais poderiam servir de base a uma nova tentativa de síntese do
nosso processo emancipacionista.
Caso ainda mais gritante de buraco negro é o da Regência. É simplesmente escandaloso que não se disponha de obra,
antiga ou recente, dedicada ao período regencial, a despeito de ele haver sido uma das fases mais vigorosas e vibrantes
do nosso passado. A esse respeito, como no tocante à Independência, a historiografia brasileira continua sob a férrea
tutela da historiografia saquarema, isto é, a historiografia da Corte fluminense e dos seus epígonos na República, para
quem a história da emancipação reduz-se à da construção de um Estado unitário, concebido e realizado por alguns
indivíduos dotados de grande descortino político, que tiveram a felicidade de nascer no triângulo Rio-São Paulo-Minas.
Sobre a Regência, continua a pesar o anátema de período anárquico e irresponsável, dominado por interesses
provinciais, como se estes fossem por definição ilegítimos, e caracterizado pelo gosto, digamos, ibero-americano, pela
turbulência e pela agitação estéril, período que poderia ter comprometido a sacrossanta unidade nacional, não fosse a
sabedoria política de Eusébio, Paulino e Rodrigues Torres.


A unidade nacional
João José Reis
especial para a Folha

Permanece um enigma a transformação da América portuguesa em um só país chamado Brasil, enquanto a América
espanhola se dividiu em numerosas nações. A luso-monarquia parlamentar e a afro-escravidão generalizada não bastam
para explicar a unidade, embora não sejam elementos desprezíveis.
Ao longo das duas décadas que se seguiram à Independência, tanto a monarquia como a escravidão foram contestadas
em rebeliões que poderiam redundar no esfacelamento da recém-criada nação. Por que, como, quando, onde exatamente
foram vencidos esses movimentos?
Quem vivia no Brasil do período regencial, por exemplo, não dormia com a certeza de que o país acordaria unificado e,
em alguns lugares, sob controle dos brancos. Existem estudos sobre movimentos separatistas e/ou republicanos
específicos e sobre a política imperial desde Pedro 1º, mas não uma obra ao mesmo tempo abrangente e profunda, com
pesquisas feitas, articuladamente, no centro e nas diversas periferias do Império.
Pesquisa desse porte provavelmente demanda trabalho em equipe. Mas por que não? O importante é concordar sobre
uma estratégia sistemática de levantamento de fontes comparáveis, a partir de um elenco de problemas a serem
investigados e hipóteses a serem testadas, em torno da questão dispersão/unidade. Seria um bom projeto sobre como e
quando o Brasil realmente nasceu.


________________________________________________________________________________

República - 5 datas
1889 - Em 15 de novembro é proclamada a República. O marechal Deodoro da Fonseca torna-se o primeiro presidente do país.

1930 - Getúlio Vargas chega ao poder após a Revolução de 30, liderada pelas classes médias urbanas e jovens oficias (tenentismo).

1937 - No final do ano, a pretexto de uma fictícia conspiração comunista (Plano Cohen), Vargas dissolve o Congresso e implanta a
ditadura (Estado Novo), que se estende até 1945. Vargas se reelege em 51 e, pressionado por ultraliberais, se mata em 54.

1964 - Descontentes com o governo democrático de João Goulart, conservadores e Forças Armadas instalam o regime militar no
país, que recrudesce em 68 com o AI-5.

1985 - Depois de intensa campanha, em 1984, por eleições diretas, o país restabelece a democracia com a eleição indireta de
Tancredo Neves, que morre antes de assumir a Presidência.


BORIS FAUSTO                                                          (Ed. Nova Fronteira) - Clássico sobre o tema, no qual o
                                                                      autor utiliza proveitosamente sua formação jurídica.
A Formação das Almas , de José Murilo de Carvalho                     Relativizou a importância do município na constituição
(Ed. Companhia das Letras) - Ensaio sobre a                           do coronelismo, enfatizando o papel das unidades
construção do imaginário republicano, com fecunda                     estaduais. Coffee, Contention and Change in the
utilização de fontes iconográficas e de monumentos.                   Making of Modern Brazil , de Mauricio Font
                                                                      (Cambridge University Press) - Monografia que critica
Borracha na Amazônia , de Barbara Weinstein (Ed.                      teses tradicionais, como a da associação entre o PRP e
Hucitec) - Estudo sobre um tema pouco explorado -a                    os interesses cafeeiros, chamando a atenção para a
expansão e a crise da borracha na Amazônia e suas                     diversificação das atividades econômicas em São Paulo
consequências socioeconômicas assim como políticas.                   durante a Primeira República.

Os Sertões , de Euclides da Cunha (Ed. Francisco                      Estudo sobre as Origens do Empresariado Paulista ,
Alves) - Não é um livro de história, mas uma                          de Warren Dean - Enfatiza o papel dos grandes
verdadeira introdução a um quot;outro Brasilquot;, via episódio               fazendeiros e do comércio exportador no início da
de Canudos. A própria ambiguidade de Euclides, entre                  industrialização. Bases do Autoritarismo Brasileiro , de
a quot;civilizaçãoquot; e a quot;barbáriequot;, tornou-se um importante               Simon Schwartzman (Ed. Campus) - Estudo
caminho para a reflexão sobre o quot;dualismoquot; brasileiro.                sociológico que busca desvendar as raízes históricas do
                                                                      autoritarismo, criticando a tese da dominação política
O Regionalismo Gaúcho , de Joseph. L. Love (Ed.                       de São Paulo na Primeira República.
Perspectiva) - Reconstrução da sociedade e sobretudo
da política do Rio Grande do Sul, entre 1882-1930.                    Seminário Internacional sobre a Revolução de 30 ,
Abriu caminho para se rever o papel daquele Estado no                 promovido pelo CPDOC (Centro de Pesquisa e
âmbito da política do quot;café-com-leitequot;.                               Documentação de História Contemporânea do Brasil) -
                                                                      Publicação de vários textos sobre os anos 30 no Brasil,
Política e Parentela na Paraíba , de Linda Lewin (Ed.                 destacando-se, entre outros, os de Angela de Castro
Record) - Monografia inovadora, concentrada no                        Gomes (classes populares), Gerson Moura (relações
período da Primeira República, lançando luz sobre uma                 internacionais) e José Murilo de Carvalho (Forças
oligarquia de base familiar.                                          Armadas).

Coronelismo, Enxada e Voto , de Victor Nunes Leal                     Nota: Deixei de mencionar alguns livros importantes,
por não se enquadrarem na cronologia escolhida.           Evaristo Moraes Filho (Ed. Alfa-Ômega) - Outro texto
Dentre eles, cito Gilberto Freyre, quot;Casa-Grande &         clássico que aborda tema emblemático de estudos sobre
Senzalaquot;; Celso Furtado, quot;Formação Econômica do           o período republicano: a montagem do sistema sindical
Brasilquot;; Raymundo Faoro, quot;Os Donos do Poderquot;;             do pós-30 e a questão do corporativismo. Publicado
Florestan Fernandes, quot;A Integração do Negro na            pela primeira vez em 1952, o livro, de um dos
Sociedade de Classesquot;.                                    primeiros professores de direito do trabalho no Brasil,
                                                          inaugura uma longa lista de seguidores, que reúne
ANGELA DE CASTRO GOMES                                    sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e
                                                          historiadores, desde então.
À Margem da História da República (1981), de
Vicente Licínio Cardoso (org.) (Ed. UnB) - Livro          A Revolução Brasileira (1966), de Caio Prado Jr. (Ed.
histórico, organizado por um engenheiro positivista,      Brasiliense) - Logo após o movimento militar de 1964,
reunindo ensaios produzidos pelos mais representativos    o livro deste prestigioso historiador desencadeou
intelectuais atuantes nas primeiras décadas da            muitos debates, especialmente pelas críticas
República: Alceu Amoroso Lima, Oliveira Viana,            desenvolvidas às interpretações compartilhadas sobre a
Ronald de Carvalho, Pontes de Miranda etc. É um           formação histórica brasileira, que, até então,
precioso balanço crítico, realizado por ocasião das       orientavam particularmente as atividades da esquerda
comemorações do centenário da Independência, cuja         brasileira. Neste sentido, torna-se um texto-referência,
primeira edição é de 1924.                                quer para os trabalhos que se voltaram para a análise do
                                                          período do pré 1964, quer para os que investiram no
Coronelismo, Enxada e Voto (1975), de Victor Nunes        estudo do regime militar.
Leal (Ed. Nova Fronteira) - Um clássico da literatura
sobre a Primeira República que muito extrapola este       Cidadania e Justiça (1979), de Wanderley Guilherme
período, colocando sob enfoque questões fundamentais      dos Santos (Ed. Campus) - Um livro que marcou os
para o exercício da dominação política em nosso país.     debates de fins dos anos 70 e da década seguinte,
Um grande número de trabalhos foram produzidos            incorporando-se definitivamente à bibliografia de todos
desde que o autor, em 1949, defendeu sua                  os que desejam pesquisas e temas vinculados à política
interpretação. Todos lhe são tributários, reconhecendo    social e à organização do trabalho no Brasil. Uma
seu pioneirismo e agudeza de análise.                     contribuição decisiva à reflexão sobre os caminhos e os
                                                          obstáculos do processo de construção da cidadania na
A Revolução de 30 (1970), de Boris Fausto (Ed.            República.
Companhia das Letras) - Análise historiográfica que
retoma e aprofunda as críticas à concepção, vigente à     A Ordem do Progresso (1989), de Marcelo Paiva
época, de que os conflitos da Primeira República e a      Abreu (org.) (Ed. Campus) - Coletânea produzida por
própria Revolução de 30 adviriam do enfrentamento         ocasião das comemorações do centenário da República,
entre setor agroexportador e setor urbano-industrial.     reúne textos que procuram fazer uma análise da
Com sólida pesquisa histórica, o autor impõe uma nova     economia brasileira, em perspectiva histórica, cobrindo
interpretação, centrada nos conflitos intra-oligáquicos   o período que vai da proclamação até o governo
fortalecidos por movimentos militares, que não mais       Sarney.
abandonaria a produção de textos sobre o período
republicano.                                              História da Vida Privada no Brasil (1998-99), de
                                                          Fernando Novais (org.), volumes 3 e 4 (Ed. Companhia
O Brasil Republicano (1975-86), de Boris Fausto           das Letras) - Volumes organizados, respectivamente,
(org.), (volumes 8, 9, 10 e 11 da quot;História Geral da      por Nicolau Sevcenko e Lilia M. Schwarcz, trata-se de
Civilização Brasileira) (Ed. Bertrand) - Grande obra,     obra conjunta, em que vários colaboradores examinam
reunindo numerosos colaboradores de formações             diferenciados temas, todos confluindo para a questão
acadêmicas diferenciadas, que procura abordar temas e     das relações entre o público e o privado no Brasil. Um
questões da história política, econômica, social e        rico, recente e estimulante panorama da história
cultural da República no Brasil. Referência obrigatória   sociocultural do período republicano.
para os que desejam conhecer o período, tanto em
termos históricos quanto historiográficos.                EVALDO C. DE MELLO

A Formação das Almas (1990), de José Murilo de            Os Sertões , de Euclides da Cunha (Ed. Francisco
Carvalho (Ed. Companhia das Letras) - Autor com           Alves) - A importância da obra cifra-se hoje não na sua
ampla produção sobre o período imperial inova a           inspiração teórica ou doutrinária, mas no vigor da
literatura que analisa a República, colocando como seu    narrativa, que sobreviveu bem melhor à prova do
objeto a produção de símbolos e o estudo do               tempo do que a parte ambiciosamente interpretativa do
imaginário político. É excelente exemplo da renovação     livro, que já nasceu inatual.
da história política no Brasil, do trabalho
interdisciplinar e do uso de fontes ainda hoje pouco      Ordem e Progresso , de Gilberto Freyre (Ed. Record)
frequentadas, como telas, caricaturas e charges.          - Sob a aparência desorganizada e boêmia da obra,
                                                          característica mais presente nela do que em outros
O Problema do Sindicato Único no Brasil (1978), de        livros do autor e da qual ele fazia garbo, encontram-se
várias idéias originais sobre a República Velha, a que     uma enorme capacidade         de   síntese   a   grande
não se tem dado a devida atenção. As duas primeiras        profundidade tópica.
páginas do primeiro capítulo constituem ponto
altíssimo da prosa em língua portuguesa.                   A Formação das Almas (1990), de José Murilo de
                                                           Carvalho (Ed. Companhia das Letras) - Ensina que a
Um Estadista da República , de A.A. de Melo Franco         idéia de República também tem suportes e história.
- Trata-se de um livro que, graças à pesquisa sólida e
ao estilo sóbrio, oferece o que até agora se escreveu de   Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha (Ed.
melhor em matéria de história política da República        Francisco Alves) - É obra seminal para a compreensão
Velha.                                                     de um certo tipo de expressão cultural bem
                                                           característico do Brasil.
O Brasil Republicano , de Boris Fausto (org.) (Ed.
Bertrand) -Obra coletiva, tem as virtudes e os defeitos    População e Desenvolvimento Econômico no Brasil
dos projetos desta natureza no Brasil, de vez que não é    (1981), de Thomas W. Merrick & Douglas H. Graham
possível preservar um alto nível de qualidade para         (Ed. Jorge Zahar) - Dos poucos tratados sobre a
todas as contribuições individuais. O mesmo ocorrera       história da população brasileira. Fundamental para o
com as séries anteriores relativas ao Brasil colonial e    entendimento de nosso evolver demográfico, sobretudo
ao Brasil monárquico.                                      a partir de fins do século 19.

História da República , de José Maria Belo - Trata-se      Preto no Branco - Raça e Nacionalidade no
de uma síntese da história política da República Velha     Pensamento Brasileiro (1976), de Thomas E.
que nada tem de extraordinária, mas que, dada a            Skidmore (Ed. Paz e Terra) - Queira-se ou não, este
pobreza da historiografia sobre o assunto, ainda pode      livro ainda é uma incontornável referência quando o
ser lida com interesse.                                    assunto é pensamento racial brasileiro.

De Getúlio a Castelo , de Thomas Skidmore (Ed. Paz         Coronelismo, Enxada e Voto (1948), de Victor Nunes
e Terra) -É uma obra de síntese cuja leitura pode servir   Leal (Ed. Nova Fronteira) - Desvenda os processos de
de continuação ao livro de José Maria Belo.                reprodução do poder local antes da industrialização
                                                           acelerada.
Lanterna na Popa , de Roberto Campos (Topbooks) -
quot;Lanterna na Popaquot; é, na realidade, dois livros em um:     A Invenção do Trabalhismo (1994), de Angela de
uma análise crítica da política econômica do Brasil        Castro Gomes (Ed. Relume-Dumará) - Para
desde os meados do século 20; e as recomendações           compreender como Getúlio e o trabalhismo se
pessoais acerca de episódios em que esteve envolvido o     entranharam tanto e por tanto tempo nos mais
autor e dos homens públicos que conheceu. Do ponto         recônditos cantos de nossa consciência; para entender
de vista do leitor, teria sido preferível que tivessem     como se pode ouvir e atender aos reclamos de muitos -
sido separados.                                            para mantê-los em seu devido lugar.

A Vida do Barão do Rio Branco , de Luiz Viana              1964 - A Conquista do Estado, Ação Política, Poder
Filho (Ed. José Olympio) - É a obra-prima de um            e Golpe de Classe (1981), de Rene A. Dreifuss (Ed.
mestre da arte da biografia, que, como Octavio             Vozes) - Uma radiografia gramsciana sobre o
Tarquínio, tinha o dom narrativo que no Brasil parece      envolvimento político de parcela expressiva do
ser monopólio dos biógrafos.                               empresariado na crise que desembocou no golpe de
                                                           1964.
Memórias , de Gilberto Amado - Qualquer um dos
volumes de memórias de Gilberto Amado pode ser lido        Os Militares na Política - As Mudanças de Padrões
com interesse, mas quot;História da Minha Infânciaquot; e          na Vida Brasileira (1975), de Alfred Stepan (Ed. Paz
quot;Minha Formação no Recifequot; são especialmente               e Terra) - Uma boa radiografia da presença dos
valiosos para captar o tom da existência provinciana na    militares na vida política nacional. Uma pesquisa que
República Velha.                                           mereceria sequência.

Baú de Ossos , de Pedro Nava (Ateliê Editorial) - O        Processos e Escolhas - Estudos de Sociologia Política
livro é o ponto alto da memorialística brasileira. O       (1998), de Elisa Pereira Reis (Ed. Contracapa) -Mais
historiador da vida social da República Velha não o        um vigoroso exemplo da interdisciplinaridade nas
pode dispensar. É uma pena que os volumes seguintes        ciências humanas. Destaca-se sobretudo pela análise da
não tenham a mesma densidade. Afinal de contas, não        iníqua desigualdade social, este traço tão recorrente de
se é Proust facilmente.                                    nossa história.

MANOLO FLORENTINO                                          RONALDO VAINFAS

Da Monarquia à República - Momentos Decisivos              Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha (Ed.
(1977), de Emília Viotti da Costa (Ed. Unesp) - Para       Francisco Alves) - Não era historiador, mas com razão
entender a transição em seus aspectos mais gerais. Alia    é considerado um dos primeiros sociólogos brasileiros.
Pôs em cena o sertão nordestino e foi cronista da                reflexão teórica. É definitiva sua análise sobre a
guerra de Canudos, iluminando face até hoje encoberta            superação     do     quot;liberalismo    fordistaquot; pelo
do Brasil.                                                       corporativismo getulista, baseado em Gramsci.

Coronelismo, Enxada e Voto (1949), de Victor Nunes               O Cativeiro da Terra (1979), de José de Souza
Leal (Ed. Nova Fronteira) - Um clássico sobre as                 Martins (Ed. Hucitec) -Um livro cirúrgico sobre as
relações entre poder local e poder central no Brasil.            relações de trabalho presentes no colonato, emblema de
Mostra como o primeiro sempre foi chave, apesar da               como se fez a transição para o assalariamento rural no
centralização política brasileira vigente desde o                Brasil. Teoricamente denso, é livro que ensina muito
Império.                                                         sobre a burguesia não-capitalista do país.

Os Donos do Poder (1959), 2 volumes, de Raymundo                 1930 - O Silêncio dos Vencidos (1981), de Edgard De
Faoro (Ed. Globo) -A melhor síntese sobre a história             Decca (Brasiliense) - Um exemplo da historiografia
político-institucional brasileira desde a Colônia até a          paulista exageradamente antivarguista. No entanto,
década de 50. A segunda edição de 1975 avança e                  descortinou as alternativas revolucionárias nos anos 20
ajuda a compreender a instauração do regime militar              e 30 e mostrou como as desastradas atitudes do Partido
em 1964.                                                         Comunista puseram a perder o movimento operário no
                                                                 Brasil.
O Colapso do Populismo no Brasil (1967), de
Octávio Ianni (Ed. Civilização Brasileira) - Livro               Os Bestializados (1987), de José Murilo de Carvalho
admirável, entre tantos de Ianni, porque defende como            (Ed. Companhia das Letras) - Outro clássico de nossa
ninguém a interpretação do populismo como quot;pactoquot;                historiografia, pois mostra como o quot;povo brasileiroquot; era
entre a burguesia e o proletariado. É antivarguista,             mais esperto do que pensavam os adversos. Não ligou
claro, mas ilumina uma aliança fundamental para os               para a proclamação da República nem para a política
trabalhadores brasileiros.                                       institucional, percebendo-as como vis, e foi tratar de
                                                                 outras coisas, resistindo à sua maneira.
A Revolução de 1930 (1970), de Boris Fausto (Ed.
Companhia das Letras) -Ensaio clássico sobre o jogo              A Invenção do Trabalhismo , (1988) de Angela de
de forças políticas que levou à ascensão de Getúlio              Castro Gomes (Ed. Relume-Dumará) - É a grande
Vargas, com destaque para a análise da quot;crise dos anos           referência para estudar o regime instaurado entre 1930
20quot;.                                                             e 37 no Brasil em contraponto à historiografia paulista,
                                                                 na verdade muito opositora de Vargas. Ângela leva o
Liberalismo e Sindicato no Brasil (1976), de Luís                trabalhismo a sério e, sem endossar o quot;getulismoquot;,
Werneck Vianna - (Ed. Paz e Terra) - Creio ser o                 consegue explicar a longevidade do regime no campo
melhor estudo sobre a história do sindicalismo no                do imaginário político.
Brasil, porque combina informação institucional com




A velha elite paulista
Boris Fausto
Colunista da Folha

Parto do princípio de que, na pesquisa sobre a história do Brasil ou de qualquer outro país não faz muito sentido falar
em lacunas a serem preenchidas. Melhor será falar de campos novos, suscetíveis de exploração, ou de reelaboração da
interpretação de processos, personagens, fatos históricos etc. Preencher lacunas significaria dar idéia de um álbum a ser
completado, que, afinal, permaneceria estático para sempre.
A partir daí, faço algumas sugestões exemplificativas sobre temas com pressupostos metodológicos diversos. Do ponto
de vista dos grandes conjuntos sociais, seria importante um estudo que aprofundasse o conhecimento da ascensão e
queda da velha elite e da classe média paulista, a partir dos últimos decênios do século 19 até os anos 30 deste
século,tendo como um de seus eixos a crise aberta em 1929 -fator aparentemente muito importante para a explicação da
mobilidade social ascendente e descendente.
Passando ao terreno da microhistória, o que não diminui sua relevância, sugeriria um estudo sobre a gripe espanhola,
epidemia mundial que, em 1918, assolou também os centros urbanos brasileiros. De um lado, esse estudo pode iluminar
temas significativos diversos, como o da desigualdade do tratamento social diante da doença, o do sentimento
generalizado de ansiedade e medo, o das concepções e da prática médica.
O pós-Segunda Guerra
Angela de Castro Gomes
especial para a Folha

De uma forma geral, sobretudo se comparados aos estudos sobre o Brasil colonial e imperial, são recentes os textos que
contemplam o período republicano. Isto se deve a uma antiga e atualmente não tão forte desconfiança dos historiadores
de ofício em relação ao quot;tempo presentequot;. Por essa razão, também de uma forma geral, há muito o que pesquisar,
sobretudo quando se ultrapassam os anos do pós-Segunda Guerra, quando os acontecimentos ganham enorme
velocidade e densidade, relacionando-se cada vez mais com as questões que nos são contemporâneas. Uma sugestão,
contudo, tem importância particular. Ela diz respeito à realização de estudos que tenham como objeto a própria
produção do conhecimento histórico no Brasil: as instituições, os autores e as obras que construíram nossa memória e
história. Aí o período republicano ganha espaço especial e convida a todos a se debruçar, diligentemente, sobre ele.
Critérios da lista
A seleção de livros que realizei para esta edição do Mais! seguiu alguns critérios. Aqui estão livros de autores
brasileiros, que analisam a experiência de nossas várias repúblicas, desde a Proclamação até o período posterior ao
regime militar. Evitou-se, assim, os títulos que contemplam a história do Brasil de maneira geral.
Por outro lado, privilegiou-se tanto textos considerados, hoje, clássicos para a historiografia do período, por seu
pioneirismo e pelo debate que produzem, quanto textos recentes que reúnem a contribuição de vários autores. Também
houve a preocupação em contemplar a história política, econômica, social e cultural, assumindo uma perspectiva
multidisciplinar para pensar a produção do conhecimento histórico.



A herança africana
Manolo Florentino
especial para a Folha

Para mim a grande lacuna da história brasileira é representada, paradoxalmente, pelo que de africano temos. Explico-
me: durante mais de 300 anos dependemos dos africanos para reproduzir nossa economia e nossa sociedade. Isso
significa que parcela expressiva da população colonial era formada por homens e mulheres que não apenas haviam
nascido na África, mas que também vieram ao mundo livres. Logo, o cativeiro não era de modo algum uma espécie de
destino manifesto.
Do ponto de vista analítico, creio perder-se muito quando se ignora ter sido o quot;africanoquot; (assim mesmo, entre aspas)
uma cruel invenção do cativeiro, já que aqueles que por séculos a fio desembarcaram nos portos coloniais eram, antes
que nada, minas, cabindas, quiloas, rebolos, cassanjes, moçambiques e demais -experiências que nada indicam haver
fenecido sob a rubrica jurídica de quot;escravoquot;.
Por isso, a grande lacuna da historiografia brasileira deriva de tomar o escravo africano unicamente a partir de seu
desembarque nos portos brasileiros, procedimento que tem ensejado a apresentação de soluções algo artificiais a
intrincados problemas de nossa história -especialmente os relativos a nossa identidade.

More Related Content

What's hot

1%20 o%20primo%20bas%e dlio
1%20 o%20primo%20bas%e dlio1%20 o%20primo%20bas%e dlio
1%20 o%20primo%20bas%e dlio
Tatiany Beleza
 
Cidades Mortas - 3ª A - 2011
Cidades Mortas - 3ª A - 2011Cidades Mortas - 3ª A - 2011
Cidades Mortas - 3ª A - 2011
Daniel Leitão
 
Euclides da cunha
Euclides da cunhaEuclides da cunha
Euclides da cunha
llegiordano
 

What's hot (20)

Lima barreto
Lima barretoLima barreto
Lima barreto
 
Cidades Mortas - 2015
Cidades Mortas - 2015Cidades Mortas - 2015
Cidades Mortas - 2015
 
Pr modernismo-Profª Lisandra
Pr modernismo-Profª LisandraPr modernismo-Profª Lisandra
Pr modernismo-Profª Lisandra
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Literatura e Fome
Literatura e FomeLiteratura e Fome
Literatura e Fome
 
1%20 o%20primo%20bas%e dlio
1%20 o%20primo%20bas%e dlio1%20 o%20primo%20bas%e dlio
1%20 o%20primo%20bas%e dlio
 
Cidades Mortas - 3ª A - 2011
Cidades Mortas - 3ª A - 2011Cidades Mortas - 3ª A - 2011
Cidades Mortas - 3ª A - 2011
 
10 livros da literatura brasileira
10 livros da literatura brasileira10 livros da literatura brasileira
10 livros da literatura brasileira
 
Euclides da cunha, monteiro lobato, augusto dos anjos e lima barreto
Euclides da cunha, monteiro lobato, augusto dos anjos e lima barretoEuclides da cunha, monteiro lobato, augusto dos anjos e lima barreto
Euclides da cunha, monteiro lobato, augusto dos anjos e lima barreto
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
EUCLIDES DA CUNHA ( SUA HISTÓRIA )
EUCLIDES DA CUNHA ( SUA HISTÓRIA )EUCLIDES DA CUNHA ( SUA HISTÓRIA )
EUCLIDES DA CUNHA ( SUA HISTÓRIA )
 
Pre modernismo
Pre modernismoPre modernismo
Pre modernismo
 
Elisabeth batista
Elisabeth batistaElisabeth batista
Elisabeth batista
 
Lição 2 - 3EM
Lição 2 - 3EMLição 2 - 3EM
Lição 2 - 3EM
 
Apresentação dos Maias - Capítulo 5
Apresentação dos Maias - Capítulo 5Apresentação dos Maias - Capítulo 5
Apresentação dos Maias - Capítulo 5
 
Euclides da cunha
Euclides da cunhaEuclides da cunha
Euclides da cunha
 
Maias Modelos Educativos
Maias Modelos EducativosMaias Modelos Educativos
Maias Modelos Educativos
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Lima Barreto
Lima BarretoLima Barreto
Lima Barreto
 

Viewers also liked

9o. ano biografia de dom pedro ii
9o. ano  biografia de dom pedro ii9o. ano  biografia de dom pedro ii
9o. ano biografia de dom pedro ii
ArtesElisa
 
Republica velha resumão
Republica velha resumãoRepublica velha resumão
Republica velha resumão
Fabio Santos
 
BRASIL REPÚBLICA: O INÍCIO
BRASIL REPÚBLICA: O INÍCIO BRASIL REPÚBLICA: O INÍCIO
BRASIL REPÚBLICA: O INÍCIO
carlosbidu
 

Viewers also liked (13)

9o. ano biografia de dom pedro ii
9o. ano  biografia de dom pedro ii9o. ano  biografia de dom pedro ii
9o. ano biografia de dom pedro ii
 
Vestígios no tempo: escravidão e liberdade em Conceição do Coité-BA (1869-188...
Vestígios no tempo: escravidão e liberdade em Conceição do Coité-BA (1869-188...Vestígios no tempo: escravidão e liberdade em Conceição do Coité-BA (1869-188...
Vestígios no tempo: escravidão e liberdade em Conceição do Coité-BA (1869-188...
 
Dom Pedro II
Dom Pedro IIDom Pedro II
Dom Pedro II
 
O reinado de dom pedro II
O reinado de dom pedro IIO reinado de dom pedro II
O reinado de dom pedro II
 
O atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroy
O atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroyO atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroy
O atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroy
 
História em movimento vol 03. Digital
História em movimento vol 03. DigitalHistória em movimento vol 03. Digital
História em movimento vol 03. Digital
 
Brasil primeira republica
Brasil primeira republicaBrasil primeira republica
Brasil primeira republica
 
O brasil na primeira republica
O brasil na primeira republicaO brasil na primeira republica
O brasil na primeira republica
 
Primeira república
Primeira repúblicaPrimeira república
Primeira república
 
Republica velha resumão
Republica velha resumãoRepublica velha resumão
Republica velha resumão
 
República Velha (1889-1930) - Primeira Parte
República Velha (1889-1930) - Primeira ParteRepública Velha (1889-1930) - Primeira Parte
República Velha (1889-1930) - Primeira Parte
 
BRASIL REPÚBLICA: O INÍCIO
BRASIL REPÚBLICA: O INÍCIO BRASIL REPÚBLICA: O INÍCIO
BRASIL REPÚBLICA: O INÍCIO
 
Brasil - Primeira república
Brasil - Primeira repúblicaBrasil - Primeira república
Brasil - Primeira república
 

Similar to Guia Historia

Pré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karinPré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karin
professorakarin2013
 
3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil
3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil
3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil
William Marques
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
terceirob
 
Rosangela mantolvani
Rosangela mantolvaniRosangela mantolvani
Rosangela mantolvani
literafro
 
História da literatura sílvio romero
História da literatura   sílvio romeroHistória da literatura   sílvio romero
História da literatura sílvio romero
prof.aldemir2010
 

Similar to Guia Historia (20)

Aula 19 pré - modernismo - brasil
Aula 19   pré - modernismo - brasilAula 19   pré - modernismo - brasil
Aula 19 pré - modernismo - brasil
 
Resumo de literatura
Resumo de literaturaResumo de literatura
Resumo de literatura
 
Históriaa da literartua
Históriaa da literartuaHistóriaa da literartua
Históriaa da literartua
 
Pré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karinPré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karin
 
Literatura do pré modernismo
Literatura do pré modernismoLiteratura do pré modernismo
Literatura do pré modernismo
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil
3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil
3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil
 
Seminario História do Ensino de História no Brasil. Analise do texto: A histó...
Seminario História do Ensino de História no Brasil. Analise do texto: A histó...Seminario História do Ensino de História no Brasil. Analise do texto: A histó...
Seminario História do Ensino de História no Brasil. Analise do texto: A histó...
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Pré-modernismo
Pré-modernismoPré-modernismo
Pré-modernismo
 
Pré-Modernismo
Pré-ModernismoPré-Modernismo
Pré-Modernismo
 
Rosangela mantolvani
Rosangela mantolvaniRosangela mantolvani
Rosangela mantolvani
 
Literatura catarinense
Literatura catarinenseLiteratura catarinense
Literatura catarinense
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Literatura informativa Província de Santa Cruz
Literatura informativa Província de Santa CruzLiteratura informativa Província de Santa Cruz
Literatura informativa Província de Santa Cruz
 
Modernismo Segunda Fase Brasil
Modernismo Segunda Fase BrasilModernismo Segunda Fase Brasil
Modernismo Segunda Fase Brasil
 
O pré modernismo
O pré modernismoO pré modernismo
O pré modernismo
 
001143485_O_principe.pdf
001143485_O_principe.pdf001143485_O_principe.pdf
001143485_O_principe.pdf
 
História da literatura sílvio romero
História da literatura   sílvio romeroHistória da literatura   sílvio romero
História da literatura sílvio romero
 
Artigo tcc final
Artigo tcc finalArtigo tcc final
Artigo tcc final
 

More from Fabio Santos

1º e 2º Estado Francês: Aspectos Sociais e Culturais
1º e 2º Estado Francês: Aspectos Sociais e Culturais1º e 2º Estado Francês: Aspectos Sociais e Culturais
1º e 2º Estado Francês: Aspectos Sociais e Culturais
Fabio Santos
 
Como pesquisar na internet
Como pesquisar na internetComo pesquisar na internet
Como pesquisar na internet
Fabio Santos
 
Perspectivas atuais da educação
Perspectivas atuais da educaçãoPerspectivas atuais da educação
Perspectivas atuais da educação
Fabio Santos
 
Preparação para o enem História 2011
Preparação para o enem História  2011Preparação para o enem História  2011
Preparação para o enem História 2011
Fabio Santos
 
Sociodiversidade, inclusão, exclusao e minorias
Sociodiversidade, inclusão, exclusao e minoriasSociodiversidade, inclusão, exclusao e minorias
Sociodiversidade, inclusão, exclusao e minorias
Fabio Santos
 
Educacao comparada 2
Educacao comparada 2Educacao comparada 2
Educacao comparada 2
Fabio Santos
 
Educacao comparada
Educacao comparadaEducacao comparada
Educacao comparada
Fabio Santos
 
Educacao comparada
Educacao comparadaEducacao comparada
Educacao comparada
Fabio Santos
 
Texto complementar o que e cientifico
Texto complementar   o que e cientificoTexto complementar   o que e cientifico
Texto complementar o que e cientifico
Fabio Santos
 
Apostila Metodologia Cientifica
Apostila Metodologia CientificaApostila Metodologia Cientifica
Apostila Metodologia Cientifica
Fabio Santos
 
Para passar no vestibular
Para passar no vestibularPara passar no vestibular
Para passar no vestibular
Fabio Santos
 
Planilha de estudo Prof fabio
Planilha de estudo  Prof fabioPlanilha de estudo  Prof fabio
Planilha de estudo Prof fabio
Fabio Santos
 
Estudando para o vestibular
Estudando para o vestibular Estudando para o vestibular
Estudando para o vestibular
Fabio Santos
 
Curso novas ferramentas tecnológicas para o professor do século
Curso   novas ferramentas tecnológicas para o professor do séculoCurso   novas ferramentas tecnológicas para o professor do século
Curso novas ferramentas tecnológicas para o professor do século
Fabio Santos
 
Filosofia apostila terceiro ano
Filosofia apostila terceiro anoFilosofia apostila terceiro ano
Filosofia apostila terceiro ano
Fabio Santos
 
Filosofia apostila segundo ano
Filosofia apostila segundo anoFilosofia apostila segundo ano
Filosofia apostila segundo ano
Fabio Santos
 
As festas da antiguidade
As festas da antiguidadeAs festas da antiguidade
As festas da antiguidade
Fabio Santos
 
A festa pela historiografia
A festa pela historiografiaA festa pela historiografia
A festa pela historiografia
Fabio Santos
 
Religião e morte para entender os egipcios
Religião e morte para entender os egipciosReligião e morte para entender os egipcios
Religião e morte para entender os egipcios
Fabio Santos
 

More from Fabio Santos (20)

1º e 2º Estado Francês: Aspectos Sociais e Culturais
1º e 2º Estado Francês: Aspectos Sociais e Culturais1º e 2º Estado Francês: Aspectos Sociais e Culturais
1º e 2º Estado Francês: Aspectos Sociais e Culturais
 
Como pesquisar na internet
Como pesquisar na internetComo pesquisar na internet
Como pesquisar na internet
 
Perspectivas atuais da educação
Perspectivas atuais da educaçãoPerspectivas atuais da educação
Perspectivas atuais da educação
 
Preparação para o enem História 2011
Preparação para o enem História  2011Preparação para o enem História  2011
Preparação para o enem História 2011
 
Republica velha
Republica velhaRepublica velha
Republica velha
 
Sociodiversidade, inclusão, exclusao e minorias
Sociodiversidade, inclusão, exclusao e minoriasSociodiversidade, inclusão, exclusao e minorias
Sociodiversidade, inclusão, exclusao e minorias
 
Educacao comparada 2
Educacao comparada 2Educacao comparada 2
Educacao comparada 2
 
Educacao comparada
Educacao comparadaEducacao comparada
Educacao comparada
 
Educacao comparada
Educacao comparadaEducacao comparada
Educacao comparada
 
Texto complementar o que e cientifico
Texto complementar   o que e cientificoTexto complementar   o que e cientifico
Texto complementar o que e cientifico
 
Apostila Metodologia Cientifica
Apostila Metodologia CientificaApostila Metodologia Cientifica
Apostila Metodologia Cientifica
 
Para passar no vestibular
Para passar no vestibularPara passar no vestibular
Para passar no vestibular
 
Planilha de estudo Prof fabio
Planilha de estudo  Prof fabioPlanilha de estudo  Prof fabio
Planilha de estudo Prof fabio
 
Estudando para o vestibular
Estudando para o vestibular Estudando para o vestibular
Estudando para o vestibular
 
Curso novas ferramentas tecnológicas para o professor do século
Curso   novas ferramentas tecnológicas para o professor do séculoCurso   novas ferramentas tecnológicas para o professor do século
Curso novas ferramentas tecnológicas para o professor do século
 
Filosofia apostila terceiro ano
Filosofia apostila terceiro anoFilosofia apostila terceiro ano
Filosofia apostila terceiro ano
 
Filosofia apostila segundo ano
Filosofia apostila segundo anoFilosofia apostila segundo ano
Filosofia apostila segundo ano
 
As festas da antiguidade
As festas da antiguidadeAs festas da antiguidade
As festas da antiguidade
 
A festa pela historiografia
A festa pela historiografiaA festa pela historiografia
A festa pela historiografia
 
Religião e morte para entender os egipcios
Religião e morte para entender os egipciosReligião e morte para entender os egipcios
Religião e morte para entender os egipcios
 

Recently uploaded

19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
marlene54545
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
PatriciaCaetano18
 

Recently uploaded (20)

O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVAEDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
 
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretaçãoLENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do séculoSistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
 

Guia Historia

  • 1. Folha de S. Paulo, domingo, 02 de abril de 2000 Sete historiadores sugerem e comentam livros essenciais para conhecer o passado do país Guia de leitura da história brasileira ANGELA DE CASTRO GOMES JOÃO JOSÉ REIS É professora titular de história do Brasil da Universidade É professor do departamento de história da Universidade Federal Fluminense, pesquisadora da Fundação Getúlio Federal da Bahia e autor de quot;A Morte É uma Festa Vargas e autora de quot;A Invenção do Trabalhismoquot;, entre (Companhia das Letras), entre outros. outros. LAURA DE MELLO E SOUZA BORIS FAUSTO É professora de história da USP, autora de quot;O Diabo e a É professor da Universidade de São Paulo e autor de quot;A Terra de Santa Cruzquot; (Companhia) e quot;Desclassificados do Revolução de 30quot; (Cia. das Letras) e quot;História do Brasilquot; Ouroquot; (Graal). (Edusp), entre outros. É colunista da Folha. MANOLO FLORENTINO EVALDO CABRAL DE MELLO É professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e É historiador e diplomata aposentado, autor de quot;Rubro Veioquot; autor de quot;Em Costas Negrasquot; (Cia. das Letras), entre outros. e quot;Olinda Restauradaquot; (Topbooks), entre outros. Ele escreve mensalmente no Mais!, na seção quot;Brasil 500 d.C.quot;. RONALDO VAINFAS É professor de história moderna da Universidade Federal Fluminense e autor, entre outros, de quot;Confissões da Bahiaquot; (Companhia das Letras). ________________________________________________________________________________ Colônia - 5 datas 1500 - Em 22 de abril, Pedro Álvares Cabral aporta no Brasil, na região de Porto Seguro (Bahia). 1624 - Primeira tentativa -fracassada- de invasão dos holandeses, em Salvador. Os holandeses se estabelecem em Pernambuco, em 1630, e de lá são expulsos em 1654. 1650 - Começa o declínio do ciclo da cana-de-açúcar, principal atividade econômica da colônia, sustentada pelo trabalho escravo de negros e índios. 1789 - A Inconfidência Mineira, tentativa frustrada de independência de Portugal, termina com o enforcamento de Tiradentes, um dos líderes rebeldes. 1808 - Chegada de d. João 6º ao Brasil. O rei, fugindo das invasões napoleônicas, se estabelece no Rio de Janeiro com a corte, decreta a abertura dos portos e cria, entre outros, o Banco do Brasil e o primeiro jornal do país, a quot;Gazeta do Rio de Janeiroquot;. BORIS FAUSTO O Diabo e a Terra de Santa Cruz , de Laura de Mello e Souza (Ed. Cia das Letras) - Aproxima-se e ao Raízes do Brasil , de Sérgio Buarque de Holanda (Ed. mesmo distancia-se do livro de Sérgio Buarque de Brasiliense) - Livro que não se refere apenas à Colônia, Holanda, quot;Visão do Paraísoquot;. Fundamental para o mas nela localiza o essencial das quot;raízes do Brasilquot;. A conhecimento da religiosidade popular e das chamadas distinção entre colonização espanhola e portuguesa fez práticas de feitiçaria no Brasil colonial. escola. Olinda Restaurada , de Evaldo Cabral de Mello (Ed. Visão do Paraíso , de Sérgio Buarque de Holanda (Ed. Topbooks) - Trata-se de um estudo sobre o período Brasiliense) - Ensaio sobre o imaginário do holandês no Brasil. Focaliza os anos 1630-1654, colonizador, como indica seu subtítulo: os motivos ampliando a compreensão dos interesses envolvidos, edênicos no descobrimento e na colonização do Brasil. ligados ao açúcar, e a natureza da guerra de expulsão. Formação do Brasil Contemporâneo (Colônia) , de Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Caio Prado Jr. (Ed. Brasiliense) - Um clássico sobre as Colonial (1777-1808) , de Fernando A. Novais (Ed. linhas gerais da implantação da Colônia, de inspiração Hucitec) - Monografia clássica, de inspiração marxista, marxista, sendo referência importante para estudos versando sobre relações entre a colônia e a metrópole, posteriores. em uma conjuntura decisiva para os rumos da Independência brasileira.
  • 2. Segredos Internos , de Stuart B. Schwartz (Ed. Visão do Paraíso , de Sérgio Buarque de Holanda (Ed. Companhia das Letras) - Monografia que reconstitui a Brasiliense) - quot;Caminhos e Fronteirasquot; e quot;Visão do economia e a sociedade açucareira da Bahia, a partir de Paraísoquot; constituem duas obras-primas da nossa fontes primárias. Critica concepções tradicionais sobre historiografia colonial e, como tal, insuperadas por a continuidade no tempo e a riqueza dos senhores de nenhum outro livro dedicado ao período. Honram a engenho. historiografia de qualquer país. Literariamente, também têm lugar aparte graças ao estilo espaçoso do autor. A Devassa da Devassa , de Kenneth Maxwell (Ed. Paz e Terra) - Estudo das relações entre Brasil e Portugal, Tempo de Flamengos , de J.A. Gonsalves de Mello - nos anos 1750-1808, tendo como foco a análise da Na trilha de Gilberto Freyre, que o estimulou aos Inconfidência mineira. estudos de história social, o autor oferece um quadro abrangente da presença holandesa no cotidiano urbano A Nação Mercantilista , de Jorge Caldeira (Ed. 34) - e rural do Nordeste e das relações do invasor com luso- Recentemente publicado, o livro é um ensaio sobre o brasileiros, judeus, índios e negros. Brasil colonial e do século 19, tratando de relativizar os elementos estruturais e enfatizar uma deliberada opção Formação do Brasil Contemporâneo , de Caio Prado dos agentes internos, na explicação do quot;atraso Júnior (Ed. Brasiliense) - Sessenta anos decorridos da brasileiroquot;. sua redação, continua a ser uma síntese magistral da existência material da Colônia. Quem o consulta, D. João 6º no Brasil , de Oliveira Lima (Ed. constata invariavelmente a precisão e a seriedade com Topbooks) - Um clássico sobre o período joanino, que seu autor se desincumbiu da tarefa, inclusive da publicado pela primeira vez em 1908. Reavalia o papel cozinha do ofício. Obra escrita por um marxista, ela do rei português e reconstitui a vida na corte, com uma poderia ser perfeitamente assinada por um historiador qualidade que prenuncia a obra de Gilberto Freyre. que o não fosse. EVALDO CABRAL DE MELLO Salvador Correia de Sá e a Luta pelo Brasil e Angola , de Charles R. Boxer - Trata-se da mais História do Brasil , de Robert Southey - O profundo importante das obras dedicadas ao Brasil por este conhecimento da história de uma distante colônia eminente historiador do mundo luso-brasileiro em portuguesa por parte deste quot;poeta laureadoquot; da Grã- língua inglesa. Seu conhecimento das fontes do século Bretanha foi motivo de mofa para seus contemporâneos 17 é algo de notável, servindo para demonstrar que a ingleses; mas se ainda hoje ele é lido não o deve a sua erudição ainda é o melhor antídoto contra o poesia. envelhecimento dos livros de história. História do Brasil , de H. Handelmann - Publicada dez Segredos Internos , de Stuart B. Schwarz (Ed. anos decorridos da primeira edição da quot;História do Companhia das Letras) -Verdadeiramente Brasilquot;, de Varnhagen (1854), a obra do historiador insubstituível para o estudo da mais antiga das nossas alemão só em 1931 mereceu tradução brasileira, sociedades coloniais, a canavieira do Nordeste. tratando-se ainda hoje de livro escassamente lido, embora possa ser considerado o iniciador do estudo da história brasileira sob critério regional. LAURA DE MELLO E SOUZA Capítulos de História Colonial , de J. Capistrano de Histoire d'un Voyage Fait en la Terre du Brésil Abreu (Ed. Itatiaia/ Edusp) - A despeito de redigido há (História de uma Viagem Feita à Terra do Brasil, quase um século, permanece obra indispensável, 1578), de Jean de Léry - Com o extraordinário livro de devido à garra sintetizadora do autor. Não é o produto Léry -que Lévi-Strauss chamou de quot;breviário do de intuições deixadas no ar, mas elaboradas ao longo etnólogoquot;-, o Brasil e os tupinambá entram na Europa e de muitos anos de convívio diário com as fontes da lançam-se as bases do relativismo cultural. A grande história colonial. edição é a de Frank Lestringant (1994, para quot;Livres de Pochequot;), que tomou por base a edição de 1580. A Casa-Grande & Senzala , de Gilberto Freyre (Ed. tradução brasileira, de Sérgio Milliet, parece-me Record) - Obra de intuições certeiras e de outras não basear-se na de 1578 e é bastante incompleta, deixando tão certeiras assim, proporciona uma visão poderosa do de fora passagens fundamentais. nosso passado colonial. Submetido a análises pontuais, mostra deficiências compreensíveis num livro escrito História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador nos anos 30 do século 20, quando o autor não dispunha (Ed. Itatiaia) - Frei Vicente escreveu a primeira história de uma infra-estrutura monográfica capaz de embasar do Brasil, antes mesmo de existir um Brasil. De certa estudo de escopo tão ambicioso. forma, ele nos quot;inventouquot;. É importantíssimo para os fatos ocorridos nos primeiros tempos da colonização e Caminhos e Fronteiras , de Sérgio Buarque de arguto ao perceber as contradições entre o lá (Portugal) Holanda (Ed. Companhia das Letras). e o cá (o Brasil).
  • 3. complexo sul-atlântico do império português, Capítulos de História Colonial (1907), de J. destrinchando a constituição e consolidação dos nexos Capistrano de Abreu (Ed. Itatiaia/Edusp) - Capistrano é estabelecidos entre a América portuguesa, a África e a o antepassado direto das interpretações do Brasil que Europa no século 17. Por fim, realiza ao mesmo tempo voltam ao período colonial para entender o processo a biografia da sua personagem, Salvador Correia, e a formativo do país. A melhor coisa do livro é a ênfase história do Atlântico Sul, mostrando como, às vezes, na interiorização do processo colonizador. certos agentes históricos encarnam a História. Vida e Morte do Bandeirante (1929), de José A Fronda dos Mazombos (1995), de Evaldo Cabral de Alcântara Machado (Ed. Itatiaia) - É, a meu ver, a Mello (Ed. Topbooks) - É um marco na historiografia primeira monografia da moderna historiografia social do Brasil. Sendo uma narrativa assentada na brasileira. Recorta um objeto -São Paulo nos séculos 16 minúcia e na atenção à especificidade -Pernambuco e 17-, destaca um problema -a pobreza econômica- e entre 1660 e 1715-, cria, contudo, o melhor quot;modeloquot; quot;inventaquot; uma fonte documental: os inventários e de análise das sublevações coloniais. testamentos, só muito depois utilizados pela historiografia do hemisfério Norte. MANOLO FLORENTINO Casa-Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre - O Império Marítimo Português - 1415-1825 , de É um dos mais importantes trabalhos das ciências Charles R. Boxer (Edições 70, Lisboa) - Imprescindível sociais neste século. Polêmico e discutível, tem demonstração da natureza arcaica e parasitária do aspectos geniais. Influenciou a historiografia norte- Antigo Regime lusitano e do lugar da Colônia americana sobre escravidão e inaugurou temas só brasileira nos quadros do império português. tratados pela escola dos Annales décadas depois. No que diz respeito à colônia, traz para a sua análise uma Transformation in Slavery - A History of Slavery in renovação de enfoque e temas sem precedentes. Africa , de Paul E. London Lovejoy (Cambridge University Press) - Explica a inserção estrutural da Formação do Brasil Contemporâneo (1942), de Caio África no sistema Atlântico (via tráfico negreiro) a Prado Jr. (Ed. Brasiliense) - Este livro deu, como logo partir de motivações intrínsecas à própria história no início nos alerta o autor, sentido à colonização africana. Fundamental para pôr fim ao mito do quot;bom brasileira e forneceu instrumentos para importantes selvagemquot;. análises estruturais subsequentes. Envelhecido e discutível nas partes sobre sociedade e administração, é A Sociedade contra o Estado , de Pierre Clastres (Ed. argutíssimo ao apontar os canais para a dinamização Francisco Alves) - Para entender politicamente as interna da economia -os circuitos de muares, a sociedades pré-cabralinas. Originalíssima contribuição pecuária, a economia de subsistência. etno-histórica deste anarquista, discípulo de Lizot, precocemente desaparecido. Caminhos e Fronteiras (1956), de Sérgio Buarque de Holanda (Ed. Companhia das Letras) - Compreende Visão do Paraíso , de Sérgio Buarque de Holanda (Ed. uma série de exercícios de história cultural que, apesar Brasiliense) -Para além da riqueza e do poder, de breves, têm um fôlego surpreendente. Abre conquista e colonização do Brasil obedeceram a perspectivas de análise ainda irrealizadas, e é intrigante profundas motivações edênicas. Um verdadeiro show que seja um livro tão pouco lido e citado. de elegância e erudição. Visão do Paraíso (1959), de Sérgio Buarque de Casa-Grande & Senzala (Formação da Família Holanda (Ed. Brasiliense) -É a obra mais notável de Brasileira sob o Regime de Economia Patriarcal) , toda a historiografia brasileira. Tem erudição, reflexão de Gilberto Freyre (Record) - Genial. Antecipou e originalidade ímpares. Por ser tão superlativa, talvez algumas das mais importantes conquistas iniba um pouco o leitor. É mais uma obra-prima de metodológicas da historiografia ocidental. É difícil Sérgio que não conheceu a repercussão merecida e só encontrar hoje em dia quem escreva com tanta começou a ter impacto na historiografia brasileira por coragem. volta do meado dos anos 80. Segredos Internos , de Stuart B. Schwartz (Ed. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Companhia das Letras) - A mais qualificada síntese Colonial (1979), de Fernando A . Novais (Ed. Hucitec) moderna da história baiana. Incorpora o que há de - Esta obra retoma a idéia do sentido da colonização de melhor entre as pesquisas sobre a região, esmerando-se Caio Prado e analisa de forma notável o quot;sistema no trânsito entre diversos tipos de fontes. colonialquot;, mostrando suas contradições e a necessidade de se entender metrópole e colônia, Europa e Brasil em A Escravidão Africana no Brasil (Das Origens à suas relações dinâmicas. Extinção do Tráfico) , de Maurício Goulart (Ed. AlfaÔmega) - Até o momento, a mais sólida estimativa Salvador Correia de Sá e a Luta pelo Brasil e das importações brasileiras de escravos africanos. Uma Angola (1952), de Charles R. Boxer - Este é, até hoje, verdadeira aula sobre como abordar consistentemente o único estudo de fôlego sobre a formação do grandes questões a partir de poucos dados.
  • 4. História Geral do Brasil , de Francisco Adolpho de A Organização Social dos Tupinambás (1946), de Varnhagen (Ed. Melhoramentos) - O grande tratado Florestan Fernandes - O melhor livro de Florestan, que onomástico da história brasileira, como recentemente fez história sem ser historiador. Acho que os definiu-o um arguto crítico. Devem ser consultadas as antropólogos não gostam, mas o livro dá lição de como anotações de Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia. explorar etnograficamente as fontes européias para desvendar a cultura tupinambá. A Devassa da Devassa (A Inconfidência Mineira: Brasil-Portugal, 1750-1808) , de Kenneth Maxwell Visão do Paraíso (1959), de Sérgio Buarque de (Ed. Paz e Terra) - Para entender a Inconfidência Holanda (Ed. Brasiliense) - É o melhor livro do maior Mineira a partir de uma perspectiva verdadeiramente historiador brasileiro, pois inaugura o estudo do atlântica. imaginário do Descobrimento e avança na comparação entre a colonização portuguesa e a espanhola da O Espelho de Próspero (Cultura e Idéias nas América, por ele mesmo esboçada em quot;Raízes do Américas) , de Richard M. Morse (Ed. Companhia das Brasilquot; (1936). Letras) - Se nada nos une, o que de fato nos separa? Explica, dentre outros tópicos, as marcantes diferenças Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema culturais entre a colonização ibérica e a anglo-saxã, Colonial (1979), de Fernando Novais (Ed. Hucitec) - partindo da própria Idade Média européia. Erudição Avançou na tese da colonização moderna como borgiana. sistema, o que causou muita polêmica. Mas o melhor do livro é a maneira de articular as transformações RONALDO VAINFAS econômicas européias e a política portuguesa no fim do século 18. História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador (Ed. Itatiaia) - O primeiro que escreveu um livro com Relações Raciais no Império Colonial Português este título. Rigoroso nos fatos e muito crítico. (1967), de Charles Boxer (Ed. Afrontamento, Lisboa) - Franciscano, foi nosso primeiro historiador. Nosso maior brasilianista, autor de copiosa obra. Escolhi esse livro de Boxer como emblema de suas Capítulos de História Colonial (1907), de Capistrano teses. Pela inserção do Brasil nos quadros do império de Abreu (Ed. Itatiaia/Edusp) - Deu uma guinada na português e pela crítica ao mito da quot;democracia racialquot;. historiografia brasileira, pois questionou a quot;História Geralquot; de Varnhagen, bem documentada, mas história Rubro Veio (1985), de Evaldo Cabral de Mello (Ed. quot;oficialquot;. Deslocou o foco da colonização portuguesa Companhia das Letras) - Diplomata, é um dos nossos para a Colônia na sua diversidade. melhores historiadores, autor de vasta obra sobre Pernambuco colonial. Neste livro, Evaldo põe abaixo Casa-Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre mitos importantes da guerra contra os holandeses como (Ed. Record) - Livro genial, apesar de inúmeras críticas patamar da brasilidade. que com razão lhe moveram. Concebeu como ninguém a mestiçagem cultural inerente à nossa história e O Diabo e a Terra de Santa Cruz (1986), de Laura de introduziu a antropologia na historiografia brasileira. Mello e Souza (Ed. Companhia das Letras) - O melhor livro de Laura, embora muitos prefiram Formação do Brasil Contemporâneo (1942), de Caio quot;Desclassificados do Ouroquot;. Mas é que o Diabo Prado Jr. (Ed. Brasiliense) - Foi o primeiro a conceber inaugurou a moderna história das mentalidades no a colonização como sistema e como estrutura, apesar Brasil, mostrou as potencialidades das fontes dos vários deslizes na avaliação da questão racial. Ao inquisitoriais para a história cultural e entrou fundo no contrário do que muitos dizem, percebeu muito bem as problema da religiosidade, traço essencial da história e articulações econômicas no interior da Colônia. da vida no Brasil. As religiosidades e africanidades Ronaldo Vainfas especial para a Folha Prefiro falar de uma lacuna temática sobre o período colonial, que conheço um pouco melhor. E me espanta constatar como nossos historiadores quase não se dedicaram às religiosidades. Isto vale para a Colônia e para toda a história brasileira. Dentre os 30 livros que incluí nessa edição, somente um, quot;O Diabo e a Terra de Santa Cruzquot;, de Laura de Mello e Souza, é dedicado exclusivamente ao assunto. Não deixa de ser muito intrigante essa lacuna, sendo o Brasil até hoje embebido de religião, país católico onde se multiplicam seitas protestantes e onde o sincretismo religioso está em toda parte, como na umbanda carioca. Isso sem
  • 5. falar nas africanidades, como o candomblé baiano, e noutros ritos de morfologia complexa, como os catimbós tradicionais ou o quot;modernoquot; Santo Daime. É evidente o contraste entre a força de nossas religiosidades e a desatenção de nossa historiografia. É verdade que alguns historiadores se dedicaram a esse campo na época colonial, além de Laura. Luiz Mott fez uma bela biografia de uma visionária negra no Brasil setecentista. Anita Novinsky estudou os cristãos novos na Bahia. Eu mesmo estudei a quot;santidade indígenaquot; no 16. Vários estudaram com brilho a catequese. Poderia dar mais exemplos, mas são relativamente poucos os estudos sobre religiosidades, e a maioria prioriza os aspectos institucionais, quando não as reduzem às determinações econômicas ou de outro tipo. Entre os clássicos, somente Freyre deu atenção ao assunto, graças à sua genialidade e, sem dúvida, à sua formação antropológica culturalista. E as religiosidades não estão ausentes de quot;Visão do Paraísoquot;, embora o livro seja antes uma história das idéias do que de experiências religiosas, como o próprio Sérgio Buarque afirmou em certo prefácio. O relativo desdém dos historiadores diante das religiosidades contrasta, aliás, com a sensibilidade de sociólogos, como Bastide, de etnólogos, como Métraux, e sobretudo dos antropólogos, que sempre perceberam a importância do sobrenatural e do misticismo na sociedade brasileira. Creio que isso se deve a que os historiadores talvez sejam herdeiros mais fiéis da tradição iluminista, cultora da Razão, sem falar no prestígio do marxismo estruturalista, não raro economicista, que grassou entre nós até os anos 1980. De todo modo, é lacuna que prejudica a compreensão histórica de nossa sociedade. Os documentos coloniais Laura de Mello e Souza especial para a Folha O período colonial foi e tem sido objeto de algumas das análises mais brilhantes da historiografia brasileira. Mesmo quot;Casa-Grande & Senzalaquot;, de Gilberto Freyre, que é um ensaio quase atemporal (os tempos históricos se confundem e se misturam no livro), elege problemas referentes à colonização como pontos de referência. quot;Formação do Brasil Contemporâneoquot;, de Caio Prado Jr., obra que originalmente deveria avançar pelo século 19, ateve-se à Colônia, criando para ela uma explicação poderosa. Nos últimos 20 anos, o estudo de nossos três primeiros séculos tem passado por uma renovação considerável, dentro e fora da academia. Este é o caso da obra do embaixador Evaldo Cabral de Mello, uma das mais impressionantes da historiografia brasileira atual. Mas há ainda muitos problemas a resolver, como o da publicação de documentos em maior escala. Depois de Capistrano e Rodolfo Garcia, notáveis estudiosos que prepararam edições críticas de porte e descobriram a identidade de autores até então desconhecidos, pouca coisa foi feita. Documentos dos tempos coloniais são manuscritos difíceis de ler, requerendo treino específico em paleografia. Muitos dos mais importantes ainda estão nos arquivos. O Códice Costa Matoso, imprescindível para a compreensão dos primeiros tempos das Minas, acha-se agora prestes a sair de um deles e ganhar o público por meio de uma edição patrocinada pela Fundação João Pinheiro e realizada por uma equipe grande e competente. Parte dos livros que indiquei nesta edição do Mais! são explicações do Brasil: querem captar nosso quot;sentidoquot;, as linhas mestras de nossa história, desvendar nossa identidade nacional. Outros, como o trabalho pioneiro de Alcântara Machado, debruçam-se sobre um determinado objeto e privilegiam análises mais particularizadas. Uma lista de dez é pequena e, contemplando as preferências de quem a faz, comete eventuais injustiças. Como Alcântara Machado, o pernambucano José Antonio Gonsalves de Mello também escreveu uma linda monografia, ainda hoje atual: quot;Tempo dos Flamengosquot; (1947). A obra historiográfica deste autor, pouco conhecida no Sul, é das mais completas que temos, indo dos estudos recortados à edição criteriosa de documentos. O mais importante historiador brasileiro de todos os tempos foi também o maior historiador da Colônia, tendo escrito trabalhos marcantes sobre outros períodos e que não menciono por fugir aos objetivos aqui propostos. Falo de Sérgio Buarque de Holanda. Se publicado na Alemanha ou na Itália, talvez quot;Visão do Paraísoquot; fosse apenas um grande livro de história. No Brasil, é o maior de todos: nosso atestado de maioridade intelectual, a prova de que também podemos inovar sendo clássicos e evitando o perigosíssimo ranço do exotismo, que sempre nos garante a popularidade fácil no exterior. ________________________________________________________________________________ Império - 5 datas 1822 - D. Pedro 1º, filho de d. João 6º, proclama a Independência do Brasil, em 7 de setembro. 1831 - O imperador Pedro 1º abdica em favor do filho Pedro, de 5 anos de idade, e volta a Portugal, onde assume o trono como d. Pedro 4º. Estabelece-se um período de Regência até 1840.
  • 6. 1850 - Termina oficialmente o tráfico negreiro com a Lei Eusébio de Queirós. 1865-1870 - Em 1º de maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai formam a Tríplice Aliança e entram em guerra contra o Paraguai. A guerra termina em 1º de março de 1870, com a morte de Solano López e o extermínio de metade da população paraguaia. 1888 - Após duas décadas de intensa campanha abolicionista, a Lei Áurea decreta, em 13 de maio, o fim da escravidão no país. BORIS FAUSTO favorecimento da corte e das províncias do centro-sul, pelo império. A Construção da Ordem e Teatro de Sombras , de José Murilo de Carvalho (Ed. Relume Dumará) - Livro A Espada de Dâmocles , de Wilma Peres Costa - indispensável para o conhecimento do Império Estudo versando sobre o Exército, a Guerra do brasileiro, concentrando-se, na primeira parte, na Paraguai e os anos de crise do Império, explorando, formação da elite e, na segunda, na política imperial. entre outros aspectos, as várias vertentes do republicanismo. Tempo Saquarema - A Formação do Estado Imperial , de Ilmar Rohloff de Mattos (Ed. Access) - EVALDO CABRAL DE MELLO Faz uma dupla com o livro de José Murilo de Carvalho, iluminando as características do conservadorismo e do D. João 6º no Brasil , de Oliveira Lima (Ed. jogo partidário. Topbooks). Um Estadista do Império , de Joaquim Nabuco (Ed. O Movimento da Independência , de Oliveira Lima Topbooks) - Pela via de uma excelente biografia de seu (Ed. Topbooks) - Capistrano reputava o quot;D. João 6º no pai, Nabuco de Araujo, Joaquim Nabuco faz desfilar Brasilquot; um livro desorganizado, mas não se pode negar personagens centrais e analisa problemas da vida que ele oferece um panorama vigoroso do período política imperial. juanino, que ainda não foi superado na nossa historiografia. quot;O Movimento da Independênciaquot; lhe é Homens Livres na Ordem Escravocrata , de Maria inferior, mas Octavio Tarquínio o considerava a obra Sylvia de Carvalho Franco (Ed. Unesp) - Monografia mais satisfatória sobre o processo emancipacionista, e clássica, concentrada na região do Vale do Paraíba pode-se afirmar que continua a sê-lo. (SP), explorando temas importantes como a violência no meio rural e as relações de compadrio. Um Estadista do Império , de Joaquim Nabuco (Ed. Topbooks) - Dispensável reiterar o óbvio, isto é, a Em Costas Negras , de Manolo Florentino (Ed. importância desta obra para a história do Segundo Companhia das Letras) - Lança uma nova interpretação Reinado. da sociedade colonial, enfatizando a acumulação gerada pelo tráfico de escravos, a partir do Rio de Sobrados e Mucambos , de Gilberto Freyre (Ed. Janeiro, e a formação de um poderoso setor social Record) - É o livro em que melhor se manifestou o ovo representado pelos traficantes. de Colombo gilbertiano, vale dizer, a aplicação dos métodos sincrônicos da antropologia cultural, Rebelião Escrava no Brasil , de João José Reis (Ed. originalmente formulados para a compreensão das Companhia das Letras) - Monografia por um sociedades primitivas, a uma sociedade de tipo especialista na história social dos escravos, versando histórico e, portanto, até então convencionalmente sobre o levante dos malês, movimento de escravos estudada através dos métodos diacrônicos próprios da islâmicos, que ocorreu em Salvador, em 1835. historiografia. As Barbas do Imperador , de Lilia Moritz Schwarcz Do Império à República , de Sérgio Buarque de (Ed. Companhia das Letras) - Biografia recente de Holanda (Ed. Bertrand Brasil) - Juntamente com quot;Um Pedro 2º, destacando-se pela reconstrução da figura do Estadista do Impérioquot;, a que nada fica a dever, constitui imperador e da vida sociopolítica da corte. a leitura realmente indispensável para entender o declínio do Segundo Reinado. O fato de ser parte da Da Senzala à Colônia , de Emilia Viotti da Costa (Ed. obra coletiva permitiu ao autor optar por uma análise Unesp) -Um clássico sobre a escravidão nas áreas exclusivamente política, que descreve de dentro o cafeeiras, abrangendo aspectos econômicos, sociais e funcionamento das instituições imperiais, em vez de ideológicos. examinar a crise das instituições monárquicas mediante o estudo exógeno do sistema escravocrata ou dos seus O Norte Agrário e o Império , de Evaldo Cabral de valores ideológicos. Mello (Ed. Topbooks) - Estudo sobre um tema pouco explorado -o da distribuição de recursos pelo poder História dos Fundadores do Império do Brasil , de central monárquico-, sustentando a tese do Octavio Tarquínio de Souza (Ed. Itatiaia) - A
  • 7. bibliografia recente sobre o processo da Independência e o período regencial é singularmente pobre. As Rebelião Escrava no Brasil (1986), de João José Reis biografias de Octavio Tarquínio ainda oferecem a (Companhia das Letras) -Notável espelho de quão melhor visão de conjunto, a despeito das limitações do complexas eram as relações entre os escravos, no gênero biográfico e das restrições ideológicas cativeiro e em meio às tentativas de superá-lo. decorrentes da interpretação saquarema da história da Importante resgate da força que o Islã negro teve entre fundação do Império, de que o autor não se nós. desprendeu. Um dos raros, coisa estranha, historiadores brasileiros a dominar a técnica narrativa. Formação da Literatura Brasileira (1959), de Antonio Candido (Ed. Itatiaia) - Para contextualizar as Os Donos do Poder , de Raymundo Faoro (Ed. Globo) escolas literárias e o mundo dos letrados. - Sua análise é particularmente feliz no tocante ao período monárquico, razão pela qual não poderia deixar A Abolição do Tráfico de Escravos no Brasil (1976), de ser incluído nesta lista, embora a utilização do de Leslie Bethell (Ed. Expressão e Cultura/Edusp) - O conceito de estamento patrimonial paire muitas vezes que torna esse livro imprescindível é o diálogo que ele numa região nebulosa. estabelece entre as fontes britânicas e as brasileiras. Afinal, a escravidão esteve tão arraigada entre nós que A Construção da Ordem , de José Murilo de somente uma forte determinação exterior poderia dar Carvalho (Ed. Relume Dumará) - É uma análise fim ao tráfico que a alimentava. detalhada e profunda da composição dos grupos dirigentes, em particular a magistratura, que criaram o Os Donos do Poder (1958), de Raymundo Faoro (Ed. Estado nacional e o consolidaram ao longo do Primeiro Gobo) - Original aplicação de alguns dos mais Reinado, da Regência e dos primeiros anos do Segundo importantes conceitos bolados por Max Weber. Parte Reinado. da política para, no limite, questionar a própria existência de uma quot;cultura brasileiraquot;. Bahia, Século 19 , de Katia de Queiroz Mattoso (Ed. Nova Fronteira) - É um estudo modelar de uma Na Senzala, uma Flor (1999), de Robert W. Slenes sociedade provincial do período monárquico, com base (Ed. Nova Fronteira) - Obra de alta carpintaria na qual numa exploração hábil e exaustiva das fontes baianas. demografia, antropologia, linguística, iconografia e É de lamentar que o modelo que a obra propõe ainda números delicadamente dão voz aos cativos. De não tenha sido seguido por outros historiadores quebra, mostra que a distância entre nós e a África era especializados em história provincial. bem menor do que o Atlântico. A Abolição do Tráfico de Escravos Brasileiro , de Machado de Assis - A Pirâmide e o Trapézio (1976), Leslie Bethell (Ed. Expressão e Cultura/Edusp) - É o de Raymundo Faoro (Ed. Globo) - Destaca-se pela que há de melhor sobre o processo de tomada de maneira absolutamente refinada com que se utiliza da decisões políticas no tempo do Império, inclusive no produção machadiana como fonte histórica. Um tocante aos seus condicionamentos internacionais. espelho primoroso e sutil da Corte imperial, de seus tipos humanos e instituições. MANOLO FLORENTINO Os Últimos Anos da Escravatura no Brasil (1850- Formação Econômica do Brasil (1959), de Celso 1888) (1978), de Robert Conrad (Ed. Civilização Furtado (Companhia Editora Nacional) - Um de seus Brasileira) - O melhor painel sobre o abolicionismo e a grandes méritos é o de haver montado um modelo destruição do escravismo em cada uma das regiões do econômico que qualquer leitor culto pode ver país. Alia a sistematicidade anglo-saxã a uma funcionando em todas as conjunturas do mercado extraordinária coleção de fontes. internacional. Seco e movido por uma lógica implacável. JOÃO JOSÉ REIS Homens de Grossa Aventura - Acumulação e O Brasil Monárquico - Tomo 2 da quot;História Geral Hierarquia na Praça Mercantil do Rio de Janeiro, 1790- da Civilização Brasileiraquot;, org. de Sérgio Buarque de 1830 (1998), de João Fragoso (Ed. Civilização Holanda (Difusão Européia do Livro, 1970-1972) - Brasileira) - Produto arrojado da recente Obra coletiva, permanece o melhor panorama do Brasil profissionalização do ofício de historiador. Não faz monárquico, com capítulos de história política (maior concessões. ênfase), econômica, diplomática, militar, religiosa, escravidão, influência britânica, emancipação política e A Construção da Ordem (1980), de José Murilo de revoltas regionais, entre outros temas. Reflete bem o Carvalho (Ed. UFRJ/Relume-Dumará) - Identifica os estado da pesquisa histórica, sobretudo paulista, no meios pelos quais o Estado imperial herdou e redefiniu início dos anos 70 do Novecentos. a tradição absolutista e patrimonial portuguesa, gerando unidade, centralização e ordem. Exemplo do Império - A Corte e a Modernidade Imperial - Vol. que a historiografia pode lograr mediante o diálogo 2 da quot;História da Vida Privadaquot;, org. de Luiz Felipe de interdisciplinar profundo. Alencastro, direção de Fernando A. Novais (Ed.
  • 8. Companhia das Letras) - Obra coletiva, com exemplos de abordagens emergentes. Mas não é só quot;história Pátria Coroada , de Iara Lis Carvalho Souza (Ed. novaquot;, e é algo mais que quot;história da vida privadaquot;. O Unesp). Império visto através do escravo e do senhor, do imigrante e nativo, dos comportamentos e Da Senzala à Colônia , de Emilia Viotti da Costa (Ed. representações diante da vida e da morte, temas Unesp) - Escrita há mais de 30 anos, continua a melhor amarrados e acrescidos de outros, em penetrante obra de síntese sobre a ascensão e queda da escravidão capítulo introdutório. no império do café. Um Estadista do Império , de Joaquim Nabuco (Ed. Obra Completa , de Machado de Assis (Ed. Nova Topbooks) - Fosse apenas uma biografia do pai Aguilar) - O mestiço Machado pode ter sido quem mais Nabuco de Araújo, este livro do filho seria suspeito. bem entendeu o branco da corte. Visão penetrante e Tornou-se um clássico indispensável porque é uma impiedosa, embora sutil, da classe senhorial e da história envolvente, testemunho honesto e bem resistência astuciosa dos subalternos apanhados nas documentado do Império. rédeas da dominação paternalista. Sobrados e Mucambos , de Gilberto Freyre (Ed. Primeiras Trovas Burlescas , de Luiz (Getulino) Record) - A ordem senhorial urbana, num livro mais Gama - Poemas do militante abolicionista negro, de bem contextualizado que quot;Casa-Grande & Senzalaquot;. 1904, talvez a primeira expressão literária de orgulho Trata com originalidade e sem cerimônia assuntos que racial afro-brasileiro. É também poesia de crítica vão dos mais surpreendentes, como estilos de barba e divertida e contundente ao racismo em seu tempo. bigode, aos convencionais, como escravidão e miscigenação. Nem tudo faz sentido, mas quase tudo RONALDO VAINFAS faz pensar. O Abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco (Ed. Tempo Saquarema , de Ilmar Rolf Mattos (Ed. Nova Fronteira) - Livro engajado na causa Access) - Vai ao âmago da calmaria do Segundo abolicionista de forma moderada, um clássico do Reinado. A construção do Estado nacional é a história pensamento liberal à moda brasileira. O melhor do da afirmação da classe senhorial brasileira, em torno do livro é o fato de Nabuco ter percebido a especificidade pacto conservador contra a desordem nas ruas e da escravidão brasileira em relação à norte-americana, senzalas. salientando que, entre nós, ela não correspondia exatamente às hierarquias raciais. A Construção da Ordem e Teatro de Sombras , de José Murilo de Carvalho (Ed. Relume-Dumará) - Sobrados e Mucambos (1936), de Gilberto Freyre Introduz modo novo de fazer história política. Traça (Ed. Record) - O segundo grande livro de tantos quanto perfil da elite política imperial, suas origens sociais, escreveu Freyre, neste caso desvendando o cotidiano da regionais, ocupacionais. É sobre essa gente em batalhas escravidão no cenário urbano do Rio de Janeiro no cruciais, como a abolição e a lei de terras, em relação século 19. Complementa seu livro maior, quot;Casa- às quais os senhores rurais, bem representados no Grande & Senzalaquot;, de 1933. poder, nem sempre foram servidos pelo senhor do trono. Formação da Literatura Brasileira (1957), de Antonio Candido (Ed. Itatiaia) - Clássico do maior As Barbas do Imperador , de Lilia Moritz Schwarcz crítico literário brasileiro e historiador de nossa (Ed. Companhia das Letras) - Abordagem original de literatura. Com máxima acuidade e erudição, desvenda Pedro 2º, trata sobretudo da construção da imagem a constituição de um sistema literário no Brasil desde pública do monarca, a partir de vastíssima 1750 até 1880. Combina análise estética com documentação iconográfica. Se às vezes passa muito interpretação histórica, atento à formação da rápido sobre tais fontes, deixa sempre pistas nacionalidade e suas representações. inteligentes. Da Senzala à Colônia (1966), de Emília Viotti da Visões da Liberdade , de Sidney Chalhoub (Ed. Costa (Ed. Unesp) - O título não é bom, mas o livro é Companhia das Letras) - É a corte da perspectiva do clássico sobre o complexo jogo de interesses envolvido escravo. Mostra como ele construiu a derrocada da na abolição do tráfico e da escravidão no Brasil. escravidão no dia-a-dia, avançando suas próprias visões de liberdade, finamente elucidadas pelo Homens Livres na Ordem Escravocrata (1969), de historiador. Análise de classe com classe. Maria Sylvia de Carvalho Franco (Ed. Unesp) - O primeiro livro que, estudando a sociedade escravista, Bahia, Século 19 , de Kátia M. de Queirós Mattoso pôs em cena os brasileiros que não eram senhores nem (Ed. Nova Fronteira) - É o Império visto da periferia, escravos, utilizando-se pioneiramente de processos- nesta radiografia bem documentada da província crime como fonte histórica. baiana. Geografia, demografia, economia, família, escravidão, riqueza, pobreza, governo, religião -esforço Nordeste 1817 (1972), de Carlos Guilherme Mota - exemplar em direção à inalcançável história totalizante. Um grande livro sobre o conflito de classes e suas
  • 9. representações na Revolução de 1817, umas das várias insurgências da história pernambucana. Incluo o livro Bahia, Século 19 - Uma Província no Império (1992), no período imperial porque trata do contexto joanino, de Kátia Mattoso (Ed. Nova Fronteira) - Reúne pré-emancipatório. resultados de pesquisas realizadas desde os anos 60. Historiadora quot;greco-baianaquot; de forte formação Rebelião Escrava no Brasil (1985), de João José Reis braudeliana, foi uma das primeiras a valorizar as (Ed. Companhia das Letras) - O melhor livro de um relações entre geografia e história, as fontes seriais e a dos melhores historiadores brasileiros atuais, na minha demografia histórica. Utilizou números sem prejuízo da opinião o melhor. É livro sobre a Revolta dos Malês, narrativa e a favor de uma história social global. na Bahia, em 1835: uma lição de como estudar o conflito social em conexão com o poder, a cultura e as Na Senzala, uma Flor (1999), de Robert Slenes (Ed. religiosidades, além de ligar a história brasileira à Nova Fronteira) - Apesar de publicado somente em africana. 1999, reúne pesquisas e textos que o autor realiza há décadas. É o principal historiador da cultura banto na Tempo Saquarema (1986), de Ilmar Mattos (Ed. diáspora da escravidão brasileira. Explica a recriação Access) - A melhor interpretação sobre a formação do de identidades culturais africanas, apesar e através da Estado imperial numa perspectiva de luta de classes, escravidão. explicando a hegemonia alcançada pelo Rio de Janeiro escravocrata no século 19. A Independência e a Regência Evaldo Cabral de Mello especial para a Folha A historiografia pode conter buracos negros de várias espécies. A primeira decorre da carência de documentação no tocante aos períodos mais recuados. É assim que os historiadores da alta Idade Média alemã tornaram-se mestres exímios em tirar partido de simples listas de nomes. A segunda variedade tem a ver com o fato de que a documentação existe, mas, devido a limitações de natureza material ou ideológica, não foi aproveitada no todo ou em parte. O livro de Kátia de Queirós Mattoso sobre a Bahia no século 19 é um bom exemplo. Os acervos estavam em Salvador, mas não haviam sido devidamente explorados. Enfim, o terceiro gênero de buraco negro na historiografia é o que cava a própria passagem do tempo. Como toda história, Croce quot;dixitquot;, é história contemporânea, periodicamente os historiadores voltam aos velhos temas, munidos com outras lentes ou inspirados por novos interesses. A esse respeito, ocorre-me o período da Independência. Os livros de síntese (Varnhagen, Oliveira Lima, Tobias Monteiro) estão todos envelhecidos, e a última tentativa feita neste sentido, a de José Honório Rodrigues, resultou em algo descosido, mal concebido e mais mal escrito. Daí que as biografias de Octavio Tarquínio de Souza ainda sirvam de excelente leitura mesmo para o iniciado. E, contudo, as universidades brasileiras têm produzido nos últimos decênios uma boa quantidade de monografias sobre os aspectos os mais diversos dos anos 1808-1825, as quais poderiam servir de base a uma nova tentativa de síntese do nosso processo emancipacionista. Caso ainda mais gritante de buraco negro é o da Regência. É simplesmente escandaloso que não se disponha de obra, antiga ou recente, dedicada ao período regencial, a despeito de ele haver sido uma das fases mais vigorosas e vibrantes do nosso passado. A esse respeito, como no tocante à Independência, a historiografia brasileira continua sob a férrea tutela da historiografia saquarema, isto é, a historiografia da Corte fluminense e dos seus epígonos na República, para quem a história da emancipação reduz-se à da construção de um Estado unitário, concebido e realizado por alguns indivíduos dotados de grande descortino político, que tiveram a felicidade de nascer no triângulo Rio-São Paulo-Minas. Sobre a Regência, continua a pesar o anátema de período anárquico e irresponsável, dominado por interesses provinciais, como se estes fossem por definição ilegítimos, e caracterizado pelo gosto, digamos, ibero-americano, pela turbulência e pela agitação estéril, período que poderia ter comprometido a sacrossanta unidade nacional, não fosse a sabedoria política de Eusébio, Paulino e Rodrigues Torres. A unidade nacional João José Reis especial para a Folha Permanece um enigma a transformação da América portuguesa em um só país chamado Brasil, enquanto a América espanhola se dividiu em numerosas nações. A luso-monarquia parlamentar e a afro-escravidão generalizada não bastam
  • 10. para explicar a unidade, embora não sejam elementos desprezíveis. Ao longo das duas décadas que se seguiram à Independência, tanto a monarquia como a escravidão foram contestadas em rebeliões que poderiam redundar no esfacelamento da recém-criada nação. Por que, como, quando, onde exatamente foram vencidos esses movimentos? Quem vivia no Brasil do período regencial, por exemplo, não dormia com a certeza de que o país acordaria unificado e, em alguns lugares, sob controle dos brancos. Existem estudos sobre movimentos separatistas e/ou republicanos específicos e sobre a política imperial desde Pedro 1º, mas não uma obra ao mesmo tempo abrangente e profunda, com pesquisas feitas, articuladamente, no centro e nas diversas periferias do Império. Pesquisa desse porte provavelmente demanda trabalho em equipe. Mas por que não? O importante é concordar sobre uma estratégia sistemática de levantamento de fontes comparáveis, a partir de um elenco de problemas a serem investigados e hipóteses a serem testadas, em torno da questão dispersão/unidade. Seria um bom projeto sobre como e quando o Brasil realmente nasceu. ________________________________________________________________________________ República - 5 datas 1889 - Em 15 de novembro é proclamada a República. O marechal Deodoro da Fonseca torna-se o primeiro presidente do país. 1930 - Getúlio Vargas chega ao poder após a Revolução de 30, liderada pelas classes médias urbanas e jovens oficias (tenentismo). 1937 - No final do ano, a pretexto de uma fictícia conspiração comunista (Plano Cohen), Vargas dissolve o Congresso e implanta a ditadura (Estado Novo), que se estende até 1945. Vargas se reelege em 51 e, pressionado por ultraliberais, se mata em 54. 1964 - Descontentes com o governo democrático de João Goulart, conservadores e Forças Armadas instalam o regime militar no país, que recrudesce em 68 com o AI-5. 1985 - Depois de intensa campanha, em 1984, por eleições diretas, o país restabelece a democracia com a eleição indireta de Tancredo Neves, que morre antes de assumir a Presidência. BORIS FAUSTO (Ed. Nova Fronteira) - Clássico sobre o tema, no qual o autor utiliza proveitosamente sua formação jurídica. A Formação das Almas , de José Murilo de Carvalho Relativizou a importância do município na constituição (Ed. Companhia das Letras) - Ensaio sobre a do coronelismo, enfatizando o papel das unidades construção do imaginário republicano, com fecunda estaduais. Coffee, Contention and Change in the utilização de fontes iconográficas e de monumentos. Making of Modern Brazil , de Mauricio Font (Cambridge University Press) - Monografia que critica Borracha na Amazônia , de Barbara Weinstein (Ed. teses tradicionais, como a da associação entre o PRP e Hucitec) - Estudo sobre um tema pouco explorado -a os interesses cafeeiros, chamando a atenção para a expansão e a crise da borracha na Amazônia e suas diversificação das atividades econômicas em São Paulo consequências socioeconômicas assim como políticas. durante a Primeira República. Os Sertões , de Euclides da Cunha (Ed. Francisco Estudo sobre as Origens do Empresariado Paulista , Alves) - Não é um livro de história, mas uma de Warren Dean - Enfatiza o papel dos grandes verdadeira introdução a um quot;outro Brasilquot;, via episódio fazendeiros e do comércio exportador no início da de Canudos. A própria ambiguidade de Euclides, entre industrialização. Bases do Autoritarismo Brasileiro , de a quot;civilizaçãoquot; e a quot;barbáriequot;, tornou-se um importante Simon Schwartzman (Ed. Campus) - Estudo caminho para a reflexão sobre o quot;dualismoquot; brasileiro. sociológico que busca desvendar as raízes históricas do autoritarismo, criticando a tese da dominação política O Regionalismo Gaúcho , de Joseph. L. Love (Ed. de São Paulo na Primeira República. Perspectiva) - Reconstrução da sociedade e sobretudo da política do Rio Grande do Sul, entre 1882-1930. Seminário Internacional sobre a Revolução de 30 , Abriu caminho para se rever o papel daquele Estado no promovido pelo CPDOC (Centro de Pesquisa e âmbito da política do quot;café-com-leitequot;. Documentação de História Contemporânea do Brasil) - Publicação de vários textos sobre os anos 30 no Brasil, Política e Parentela na Paraíba , de Linda Lewin (Ed. destacando-se, entre outros, os de Angela de Castro Record) - Monografia inovadora, concentrada no Gomes (classes populares), Gerson Moura (relações período da Primeira República, lançando luz sobre uma internacionais) e José Murilo de Carvalho (Forças oligarquia de base familiar. Armadas). Coronelismo, Enxada e Voto , de Victor Nunes Leal Nota: Deixei de mencionar alguns livros importantes,
  • 11. por não se enquadrarem na cronologia escolhida. Evaristo Moraes Filho (Ed. Alfa-Ômega) - Outro texto Dentre eles, cito Gilberto Freyre, quot;Casa-Grande & clássico que aborda tema emblemático de estudos sobre Senzalaquot;; Celso Furtado, quot;Formação Econômica do o período republicano: a montagem do sistema sindical Brasilquot;; Raymundo Faoro, quot;Os Donos do Poderquot;; do pós-30 e a questão do corporativismo. Publicado Florestan Fernandes, quot;A Integração do Negro na pela primeira vez em 1952, o livro, de um dos Sociedade de Classesquot;. primeiros professores de direito do trabalho no Brasil, inaugura uma longa lista de seguidores, que reúne ANGELA DE CASTRO GOMES sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e historiadores, desde então. À Margem da História da República (1981), de Vicente Licínio Cardoso (org.) (Ed. UnB) - Livro A Revolução Brasileira (1966), de Caio Prado Jr. (Ed. histórico, organizado por um engenheiro positivista, Brasiliense) - Logo após o movimento militar de 1964, reunindo ensaios produzidos pelos mais representativos o livro deste prestigioso historiador desencadeou intelectuais atuantes nas primeiras décadas da muitos debates, especialmente pelas críticas República: Alceu Amoroso Lima, Oliveira Viana, desenvolvidas às interpretações compartilhadas sobre a Ronald de Carvalho, Pontes de Miranda etc. É um formação histórica brasileira, que, até então, precioso balanço crítico, realizado por ocasião das orientavam particularmente as atividades da esquerda comemorações do centenário da Independência, cuja brasileira. Neste sentido, torna-se um texto-referência, primeira edição é de 1924. quer para os trabalhos que se voltaram para a análise do período do pré 1964, quer para os que investiram no Coronelismo, Enxada e Voto (1975), de Victor Nunes estudo do regime militar. Leal (Ed. Nova Fronteira) - Um clássico da literatura sobre a Primeira República que muito extrapola este Cidadania e Justiça (1979), de Wanderley Guilherme período, colocando sob enfoque questões fundamentais dos Santos (Ed. Campus) - Um livro que marcou os para o exercício da dominação política em nosso país. debates de fins dos anos 70 e da década seguinte, Um grande número de trabalhos foram produzidos incorporando-se definitivamente à bibliografia de todos desde que o autor, em 1949, defendeu sua os que desejam pesquisas e temas vinculados à política interpretação. Todos lhe são tributários, reconhecendo social e à organização do trabalho no Brasil. Uma seu pioneirismo e agudeza de análise. contribuição decisiva à reflexão sobre os caminhos e os obstáculos do processo de construção da cidadania na A Revolução de 30 (1970), de Boris Fausto (Ed. República. Companhia das Letras) - Análise historiográfica que retoma e aprofunda as críticas à concepção, vigente à A Ordem do Progresso (1989), de Marcelo Paiva época, de que os conflitos da Primeira República e a Abreu (org.) (Ed. Campus) - Coletânea produzida por própria Revolução de 30 adviriam do enfrentamento ocasião das comemorações do centenário da República, entre setor agroexportador e setor urbano-industrial. reúne textos que procuram fazer uma análise da Com sólida pesquisa histórica, o autor impõe uma nova economia brasileira, em perspectiva histórica, cobrindo interpretação, centrada nos conflitos intra-oligáquicos o período que vai da proclamação até o governo fortalecidos por movimentos militares, que não mais Sarney. abandonaria a produção de textos sobre o período republicano. História da Vida Privada no Brasil (1998-99), de Fernando Novais (org.), volumes 3 e 4 (Ed. Companhia O Brasil Republicano (1975-86), de Boris Fausto das Letras) - Volumes organizados, respectivamente, (org.), (volumes 8, 9, 10 e 11 da quot;História Geral da por Nicolau Sevcenko e Lilia M. Schwarcz, trata-se de Civilização Brasileira) (Ed. Bertrand) - Grande obra, obra conjunta, em que vários colaboradores examinam reunindo numerosos colaboradores de formações diferenciados temas, todos confluindo para a questão acadêmicas diferenciadas, que procura abordar temas e das relações entre o público e o privado no Brasil. Um questões da história política, econômica, social e rico, recente e estimulante panorama da história cultural da República no Brasil. Referência obrigatória sociocultural do período republicano. para os que desejam conhecer o período, tanto em termos históricos quanto historiográficos. EVALDO C. DE MELLO A Formação das Almas (1990), de José Murilo de Os Sertões , de Euclides da Cunha (Ed. Francisco Carvalho (Ed. Companhia das Letras) - Autor com Alves) - A importância da obra cifra-se hoje não na sua ampla produção sobre o período imperial inova a inspiração teórica ou doutrinária, mas no vigor da literatura que analisa a República, colocando como seu narrativa, que sobreviveu bem melhor à prova do objeto a produção de símbolos e o estudo do tempo do que a parte ambiciosamente interpretativa do imaginário político. É excelente exemplo da renovação livro, que já nasceu inatual. da história política no Brasil, do trabalho interdisciplinar e do uso de fontes ainda hoje pouco Ordem e Progresso , de Gilberto Freyre (Ed. Record) frequentadas, como telas, caricaturas e charges. - Sob a aparência desorganizada e boêmia da obra, característica mais presente nela do que em outros O Problema do Sindicato Único no Brasil (1978), de livros do autor e da qual ele fazia garbo, encontram-se
  • 12. várias idéias originais sobre a República Velha, a que uma enorme capacidade de síntese a grande não se tem dado a devida atenção. As duas primeiras profundidade tópica. páginas do primeiro capítulo constituem ponto altíssimo da prosa em língua portuguesa. A Formação das Almas (1990), de José Murilo de Carvalho (Ed. Companhia das Letras) - Ensina que a Um Estadista da República , de A.A. de Melo Franco idéia de República também tem suportes e história. - Trata-se de um livro que, graças à pesquisa sólida e ao estilo sóbrio, oferece o que até agora se escreveu de Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha (Ed. melhor em matéria de história política da República Francisco Alves) - É obra seminal para a compreensão Velha. de um certo tipo de expressão cultural bem característico do Brasil. O Brasil Republicano , de Boris Fausto (org.) (Ed. Bertrand) -Obra coletiva, tem as virtudes e os defeitos População e Desenvolvimento Econômico no Brasil dos projetos desta natureza no Brasil, de vez que não é (1981), de Thomas W. Merrick & Douglas H. Graham possível preservar um alto nível de qualidade para (Ed. Jorge Zahar) - Dos poucos tratados sobre a todas as contribuições individuais. O mesmo ocorrera história da população brasileira. Fundamental para o com as séries anteriores relativas ao Brasil colonial e entendimento de nosso evolver demográfico, sobretudo ao Brasil monárquico. a partir de fins do século 19. História da República , de José Maria Belo - Trata-se Preto no Branco - Raça e Nacionalidade no de uma síntese da história política da República Velha Pensamento Brasileiro (1976), de Thomas E. que nada tem de extraordinária, mas que, dada a Skidmore (Ed. Paz e Terra) - Queira-se ou não, este pobreza da historiografia sobre o assunto, ainda pode livro ainda é uma incontornável referência quando o ser lida com interesse. assunto é pensamento racial brasileiro. De Getúlio a Castelo , de Thomas Skidmore (Ed. Paz Coronelismo, Enxada e Voto (1948), de Victor Nunes e Terra) -É uma obra de síntese cuja leitura pode servir Leal (Ed. Nova Fronteira) - Desvenda os processos de de continuação ao livro de José Maria Belo. reprodução do poder local antes da industrialização acelerada. Lanterna na Popa , de Roberto Campos (Topbooks) - quot;Lanterna na Popaquot; é, na realidade, dois livros em um: A Invenção do Trabalhismo (1994), de Angela de uma análise crítica da política econômica do Brasil Castro Gomes (Ed. Relume-Dumará) - Para desde os meados do século 20; e as recomendações compreender como Getúlio e o trabalhismo se pessoais acerca de episódios em que esteve envolvido o entranharam tanto e por tanto tempo nos mais autor e dos homens públicos que conheceu. Do ponto recônditos cantos de nossa consciência; para entender de vista do leitor, teria sido preferível que tivessem como se pode ouvir e atender aos reclamos de muitos - sido separados. para mantê-los em seu devido lugar. A Vida do Barão do Rio Branco , de Luiz Viana 1964 - A Conquista do Estado, Ação Política, Poder Filho (Ed. José Olympio) - É a obra-prima de um e Golpe de Classe (1981), de Rene A. Dreifuss (Ed. mestre da arte da biografia, que, como Octavio Vozes) - Uma radiografia gramsciana sobre o Tarquínio, tinha o dom narrativo que no Brasil parece envolvimento político de parcela expressiva do ser monopólio dos biógrafos. empresariado na crise que desembocou no golpe de 1964. Memórias , de Gilberto Amado - Qualquer um dos volumes de memórias de Gilberto Amado pode ser lido Os Militares na Política - As Mudanças de Padrões com interesse, mas quot;História da Minha Infânciaquot; e na Vida Brasileira (1975), de Alfred Stepan (Ed. Paz quot;Minha Formação no Recifequot; são especialmente e Terra) - Uma boa radiografia da presença dos valiosos para captar o tom da existência provinciana na militares na vida política nacional. Uma pesquisa que República Velha. mereceria sequência. Baú de Ossos , de Pedro Nava (Ateliê Editorial) - O Processos e Escolhas - Estudos de Sociologia Política livro é o ponto alto da memorialística brasileira. O (1998), de Elisa Pereira Reis (Ed. Contracapa) -Mais historiador da vida social da República Velha não o um vigoroso exemplo da interdisciplinaridade nas pode dispensar. É uma pena que os volumes seguintes ciências humanas. Destaca-se sobretudo pela análise da não tenham a mesma densidade. Afinal de contas, não iníqua desigualdade social, este traço tão recorrente de se é Proust facilmente. nossa história. MANOLO FLORENTINO RONALDO VAINFAS Da Monarquia à República - Momentos Decisivos Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha (Ed. (1977), de Emília Viotti da Costa (Ed. Unesp) - Para Francisco Alves) - Não era historiador, mas com razão entender a transição em seus aspectos mais gerais. Alia é considerado um dos primeiros sociólogos brasileiros.
  • 13. Pôs em cena o sertão nordestino e foi cronista da reflexão teórica. É definitiva sua análise sobre a guerra de Canudos, iluminando face até hoje encoberta superação do quot;liberalismo fordistaquot; pelo do Brasil. corporativismo getulista, baseado em Gramsci. Coronelismo, Enxada e Voto (1949), de Victor Nunes O Cativeiro da Terra (1979), de José de Souza Leal (Ed. Nova Fronteira) - Um clássico sobre as Martins (Ed. Hucitec) -Um livro cirúrgico sobre as relações entre poder local e poder central no Brasil. relações de trabalho presentes no colonato, emblema de Mostra como o primeiro sempre foi chave, apesar da como se fez a transição para o assalariamento rural no centralização política brasileira vigente desde o Brasil. Teoricamente denso, é livro que ensina muito Império. sobre a burguesia não-capitalista do país. Os Donos do Poder (1959), 2 volumes, de Raymundo 1930 - O Silêncio dos Vencidos (1981), de Edgard De Faoro (Ed. Globo) -A melhor síntese sobre a história Decca (Brasiliense) - Um exemplo da historiografia político-institucional brasileira desde a Colônia até a paulista exageradamente antivarguista. No entanto, década de 50. A segunda edição de 1975 avança e descortinou as alternativas revolucionárias nos anos 20 ajuda a compreender a instauração do regime militar e 30 e mostrou como as desastradas atitudes do Partido em 1964. Comunista puseram a perder o movimento operário no Brasil. O Colapso do Populismo no Brasil (1967), de Octávio Ianni (Ed. Civilização Brasileira) - Livro Os Bestializados (1987), de José Murilo de Carvalho admirável, entre tantos de Ianni, porque defende como (Ed. Companhia das Letras) - Outro clássico de nossa ninguém a interpretação do populismo como quot;pactoquot; historiografia, pois mostra como o quot;povo brasileiroquot; era entre a burguesia e o proletariado. É antivarguista, mais esperto do que pensavam os adversos. Não ligou claro, mas ilumina uma aliança fundamental para os para a proclamação da República nem para a política trabalhadores brasileiros. institucional, percebendo-as como vis, e foi tratar de outras coisas, resistindo à sua maneira. A Revolução de 1930 (1970), de Boris Fausto (Ed. Companhia das Letras) -Ensaio clássico sobre o jogo A Invenção do Trabalhismo , (1988) de Angela de de forças políticas que levou à ascensão de Getúlio Castro Gomes (Ed. Relume-Dumará) - É a grande Vargas, com destaque para a análise da quot;crise dos anos referência para estudar o regime instaurado entre 1930 20quot;. e 37 no Brasil em contraponto à historiografia paulista, na verdade muito opositora de Vargas. Ângela leva o Liberalismo e Sindicato no Brasil (1976), de Luís trabalhismo a sério e, sem endossar o quot;getulismoquot;, Werneck Vianna - (Ed. Paz e Terra) - Creio ser o consegue explicar a longevidade do regime no campo melhor estudo sobre a história do sindicalismo no do imaginário político. Brasil, porque combina informação institucional com A velha elite paulista Boris Fausto Colunista da Folha Parto do princípio de que, na pesquisa sobre a história do Brasil ou de qualquer outro país não faz muito sentido falar em lacunas a serem preenchidas. Melhor será falar de campos novos, suscetíveis de exploração, ou de reelaboração da interpretação de processos, personagens, fatos históricos etc. Preencher lacunas significaria dar idéia de um álbum a ser completado, que, afinal, permaneceria estático para sempre. A partir daí, faço algumas sugestões exemplificativas sobre temas com pressupostos metodológicos diversos. Do ponto de vista dos grandes conjuntos sociais, seria importante um estudo que aprofundasse o conhecimento da ascensão e queda da velha elite e da classe média paulista, a partir dos últimos decênios do século 19 até os anos 30 deste século,tendo como um de seus eixos a crise aberta em 1929 -fator aparentemente muito importante para a explicação da mobilidade social ascendente e descendente. Passando ao terreno da microhistória, o que não diminui sua relevância, sugeriria um estudo sobre a gripe espanhola, epidemia mundial que, em 1918, assolou também os centros urbanos brasileiros. De um lado, esse estudo pode iluminar temas significativos diversos, como o da desigualdade do tratamento social diante da doença, o do sentimento generalizado de ansiedade e medo, o das concepções e da prática médica.
  • 14. O pós-Segunda Guerra Angela de Castro Gomes especial para a Folha De uma forma geral, sobretudo se comparados aos estudos sobre o Brasil colonial e imperial, são recentes os textos que contemplam o período republicano. Isto se deve a uma antiga e atualmente não tão forte desconfiança dos historiadores de ofício em relação ao quot;tempo presentequot;. Por essa razão, também de uma forma geral, há muito o que pesquisar, sobretudo quando se ultrapassam os anos do pós-Segunda Guerra, quando os acontecimentos ganham enorme velocidade e densidade, relacionando-se cada vez mais com as questões que nos são contemporâneas. Uma sugestão, contudo, tem importância particular. Ela diz respeito à realização de estudos que tenham como objeto a própria produção do conhecimento histórico no Brasil: as instituições, os autores e as obras que construíram nossa memória e história. Aí o período republicano ganha espaço especial e convida a todos a se debruçar, diligentemente, sobre ele. Critérios da lista A seleção de livros que realizei para esta edição do Mais! seguiu alguns critérios. Aqui estão livros de autores brasileiros, que analisam a experiência de nossas várias repúblicas, desde a Proclamação até o período posterior ao regime militar. Evitou-se, assim, os títulos que contemplam a história do Brasil de maneira geral. Por outro lado, privilegiou-se tanto textos considerados, hoje, clássicos para a historiografia do período, por seu pioneirismo e pelo debate que produzem, quanto textos recentes que reúnem a contribuição de vários autores. Também houve a preocupação em contemplar a história política, econômica, social e cultural, assumindo uma perspectiva multidisciplinar para pensar a produção do conhecimento histórico. A herança africana Manolo Florentino especial para a Folha Para mim a grande lacuna da história brasileira é representada, paradoxalmente, pelo que de africano temos. Explico- me: durante mais de 300 anos dependemos dos africanos para reproduzir nossa economia e nossa sociedade. Isso significa que parcela expressiva da população colonial era formada por homens e mulheres que não apenas haviam nascido na África, mas que também vieram ao mundo livres. Logo, o cativeiro não era de modo algum uma espécie de destino manifesto. Do ponto de vista analítico, creio perder-se muito quando se ignora ter sido o quot;africanoquot; (assim mesmo, entre aspas) uma cruel invenção do cativeiro, já que aqueles que por séculos a fio desembarcaram nos portos coloniais eram, antes que nada, minas, cabindas, quiloas, rebolos, cassanjes, moçambiques e demais -experiências que nada indicam haver fenecido sob a rubrica jurídica de quot;escravoquot;. Por isso, a grande lacuna da historiografia brasileira deriva de tomar o escravo africano unicamente a partir de seu desembarque nos portos brasileiros, procedimento que tem ensejado a apresentação de soluções algo artificiais a intrincados problemas de nossa história -especialmente os relativos a nossa identidade.