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As mentiras virtuais
09/06/2015 – Nº 374 – Ano 09
Com a ampliação dos mecanismos de comunicação se expandiram os meios (e a
criatividade) para que as mentiras se proliferem em maior número e de modo mais rápido que antes.
Tudo ficou mais fácil porque flui mais intensamente. Tanto as coisas boas como as de intenção
nefasta. Percebe-se que está cheio de gente de boa intenção sendo usada exatamente para socializar
bobagem e conversa fiada. Além do e-mail que já está em desuso, o Facebook, Twitter e o
Whatsapp, têm sido utilizados em profusão para difundir inverdade e asneiras, com ou sem
interesse. Como pouca gente se dá ao luxo de buscar aprofundamento, ler na íntegra as notícias e os
textos (a moda agora é leitura superficial, conhecimento amplo, genérico e raso) o ambiente para a
falcatrua informacional está criado.
A começar pelos textos cujas autorias são atribuídas a grandes articulistas, intelectuais ou
demais pessoas de prestígio. Esse é o exemplo mais comum que se vê.
Como disse o Jô Soares numa ocasião: não sei por que colocam o nome de outros. São textos às
vezes muito bem escritos e que tem conteúdo importante, e colocam o meu nome. Mas infelizmente
não fui eu que escrevi. Ninguém mais está a salvo. Qualquer um pode cair no conto do vigário e
engolir uma mentira, pagando mico. É só se descuidar e já se foi. Um boato é tantas vezes repetido
(agora exponencialmente) que se torna rapidamente uma verdade virtual.
Outro dia, por exemplo, até a respeitada BBC World contribuiu para isso e anunciou
erroneamente a morte da rainha Elizabeth II. Imediatamente caíram na gafe a CNN Internacional e
o respeitado jornal alemão Bild. Como rastilho de pólvora, se espalhou pelo mundo. O negócio é
muito sério. Uma dentre muitas, que rodou o país nas mídias sociais, por exemplo, foi a tal “cartilha
de educação sexual do MEC” que sugeria que o Ministério da Educação estaria distribuindo uma
cartilha para as crianças, cujo conteúdo sobre educação sexual não parecia nada adequado, quando
na verdade é produto vendido por uma editora independente. Os incautos, por sua vez, fizeram o
seu papel, compartilhando a todo o vapor e tecendo os mais eloquentes comentários.
Ocorre que as pessoas não checam mais o que leem. Tomam como verdade tudo ou quase
tudo o que lhes chega. Como o endereçamento é pessoal (o face é seu, o whats também e o twitter,
idem) tem-se a falsa ideia de que aquilo é para você e assim deve ser verdade. Subliminarmente
imputamos credibilidade às informações que nos chegam. Esquecendo que na prática estamos a céu
aberto, no público. Ou alguém acreditaria se um sujeito estivesse gritando em pleno calçadão de
Copacabana a todos os pulmões de que “para evitar novas fugas, médicos cubanos terão que utilizar
tornozeleiras de monitoramento no Brasil”. Dito assim a idiotice fica evidente, mas foi
compartilhado milhões de vezes no ano passado, numa rede social, como algo verdadeiro.
Campanhas publicitárias informais são orquestradas, muitas vezes com o nítido objetivo de
deturpar a informação correta ou pelo menos fazer a sociedade pensar a favor de algo ou alguém,
sem analisar a situação com mais profundidade. Isso vale para todas as áreas, inclusive a política,
onde o caos está instalado. A moda do momento é o Whatsapp. Antes era o e-mail. São comuns
mensagens com informações assinadas por médicos reconhecidos, de ampla reputação científica,
diretores de órgãos federais, delegados e promotores, sobre toda sorte de problemas ou soluções
miraculosas.
Deve-se ter em mente de que a ampla maioria daquilo que nos chega por esses meios
‘abertos’ são opinativos ou com interesse embutido. Por isso, não é recomendável ser um idiota útil
e reenviar toda mensagem que chega ou postagem que aparece no seu feed.
Assim como é fácil receber e enviar, também é simples checar a veracidade ou a propriedade de
tudo. Precisamos auxiliar a tornar os veículos mais úteis e críveis de confiança, caso contrário perde
a importância. Caso não tenha certeza se é verdade ou possa ser útil a alguém, apague ou
oculte. Vamos reduzir o lixo virtual e contra-atacar com coisas boas. Socialize artigos e notícias de
referência confirmada.
Boa semana e até a próxima.
(*) Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É professor, workshopper e palestrante – –
contato@elerihamer.com.br
Publicado com autorização do autor em 09/06/2015
Disponível em: http://www.atribunamt.com.br/2015/06/as-mentiras-virtuais/

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  • 2. tornozeleiras de monitoramento no Brasil”. Dito assim a idiotice fica evidente, mas foi compartilhado milhões de vezes no ano passado, numa rede social, como algo verdadeiro. Campanhas publicitárias informais são orquestradas, muitas vezes com o nítido objetivo de deturpar a informação correta ou pelo menos fazer a sociedade pensar a favor de algo ou alguém, sem analisar a situação com mais profundidade. Isso vale para todas as áreas, inclusive a política, onde o caos está instalado. A moda do momento é o Whatsapp. Antes era o e-mail. São comuns mensagens com informações assinadas por médicos reconhecidos, de ampla reputação científica, diretores de órgãos federais, delegados e promotores, sobre toda sorte de problemas ou soluções miraculosas. Deve-se ter em mente de que a ampla maioria daquilo que nos chega por esses meios ‘abertos’ são opinativos ou com interesse embutido. Por isso, não é recomendável ser um idiota útil e reenviar toda mensagem que chega ou postagem que aparece no seu feed. Assim como é fácil receber e enviar, também é simples checar a veracidade ou a propriedade de tudo. Precisamos auxiliar a tornar os veículos mais úteis e críveis de confiança, caso contrário perde a importância. Caso não tenha certeza se é verdade ou possa ser útil a alguém, apague ou oculte. Vamos reduzir o lixo virtual e contra-atacar com coisas boas. Socialize artigos e notícias de referência confirmada. Boa semana e até a próxima. (*) Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É professor, workshopper e palestrante – – contato@elerihamer.com.br Publicado com autorização do autor em 09/06/2015 Disponível em: http://www.atribunamt.com.br/2015/06/as-mentiras-virtuais/