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1
RENATA BARBOSA LIMA DE LIMA
PERFIL DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS DA BANDA IRON MAIDEN
NA CIDADE DE FORTALEZA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao curso de Publicidade e Propaganda da
Universidade de Fortaleza como requisito
parcial para obtenção do grau de bacharel, sob
a orientação da Professora Drª Carmem Luisa
C. Cavalcante.
FORTALEZA
2011
2
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
ENSINANDO E APRENDENDO
TERMO DE APROVAÇÃO
PERFIL DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS DA BANDA IRON MAIDEN
NA CIDADE DE FORTALEZA
Por
RENATA BARNOSA LIMA DE LIMA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em _____ de _____________ de
20_____, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em
PUBLICIDADE E PROPAGANDA da Universidade de Fortaleza, tendo sido aprovada
pela Banca Examinadora composta pelos professores:
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Profa. Dra. Carmen Luisa C. Cavalcante
Orientadora
______________________________________________________
Profa. Ms Marília Romero Campos
Examinador
______________________________________________________
Profa. Dra. Maria Auxiliadora Gadelha da Cruz
Examinador
FORTALEZA
2011
3
Em memória de Ronnie James Dio
1942 - 2010
I am everybody
And everyone that I know is me
Everyone that I know won't see
I could have been a dreamer
I could have been a shooting star
I could have been a dreamer.
-I could have been a dreamer-
Eu sou todos
E todos que eu conheço, sou eu
Todo mundo que eu conheço, não verá que
Eu poderia ter sido um sonhador
Eu poderia ter sido uma estrela cadente
Eu poderia ter sido um sonhador
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais, José Alves e Idenilza Lima, por
nunca duvidarem do meu potencial e por me ajudarem em todas as dificuldades que
tive a minha frente. Por terem me dado o bem mais precioso da vida que é a dádiva da
educação.
Ao meu irmão, José Alves Jr., por ser quem ele é e por correr atrás dos sonhos e por
ter me dado uma sobrinha, Ana Cecília, que me faz apreciar muito mais a dádiva da
vida e que sempre me passa força e alegria nos momentos de necessidade.
A minha orientadora, Carmen Luisa, carinhosamente conhecida como Kalu. Obrigada
por acreditar no meu projeto e, logo após, no meu trabalho, por ter acreditado na
minha capacidade, e mais que tudo, por ter sido um modelo de pessoa e profissional
desde o momento que lhe conheci na sala de Semiótica em 2008.
Aos meus amigos que sempre estiveram ao meu lado não importando a situação. Ao
Thiago Souza, por ter ficado ao meu lado e acreditando sempre em minha pessoa. A
Natália Évila, por ser uma das pessoas mais dignas que tenho ao meu lado. A Luana
Araujo, que apesar da distância, sempre me recebe de braços abertos e com um
sorriso no rosto. A Priscila Ponte, por ter se tornado uma grande pessoa na minha vida.
E a Wânyffer Araujo, por ter embarcado na vida acadêmica e na minha vida há cinco
anos e por ser uma ótima amiga.
A todos os fãs do Iron Maiden por me fazerem sentir acolhida não importando a
geografia do mundo. Sempre compartilhando o mesmo amor pela banda e pelo Heavy
Metal. Em especial a todos do blog/site IronMaidenBrasilNoticias.com.br.
Ao Iron Maiden por toda a força que transmite nas músicas e shows e por ser o motivo
desse trabalho. E por ser uma parte tão ativa na minha vida.
E por fim, ao Carlos Drummond de Andrade e tantos outros poetas que sempre me
confortaram e ajudaram através dos tempos em minha vida acadêmica. Também a
Christina Aguilera por sua voz que sempre me confortou.
5
RESUMO
Título: Perfil dos consumidores de produtos da Banda Iron Maiden na cidade de
Fortaleza
Autora: Renata Barbosa Lima de Lima
Orient: Profª Drª Carmen Luisa C. Cavalcante
RESUMO
O trabalho ora apresentado tem o objetivo de explorar os hábitos de consumo
dos fãs da banda Iron Maiden que residem na cidade de Fortaleza. Com essa proposta
foi realizada uma pesquisa tanto bibliográfica quanto de campo, quantitativa e
qualitativa. Da pesquisa bibliográfica destacamos aspectos relevantes da história sobre
a sociedade de consumo e sobre o rock e o heavy metal. Através de uma pesquisa de
campo, de caráter quantitativo, aplicamos questionários em quatro caravanas que
saíram da cidade de Fortaleza, no dia 02 de abril de 2011, para a cidade de Recife,
onde aconteceria o show da banda, no dia seguinte. Quanto à pesquisa de campo de
caráter qualitativo, realizamos um grupo focal onde se encontravam pessoas de ambos
os sexos, entre 14 e 30 anos, cujo critério de inclusão é possuir produtos da banda e
ter assistido a pelo menos um show do Iron Maiden. Nessa perspectiva, tentamos
traçar um perfil desse fã, procurando aprofundar as questões que traçassem um perfil
do fã do Iron Maiden, bem como tentar explicar as motivações que o levam a consumir
os produtos da banda e sua convivência quanto nicho nesse universo tão vasto que é o
heavy metal. Concluímos que o orçamento influencia na quantidade e na qualidade do
produto consumido, que ocorre maximização na satisfação do fã no consumo do
produto, independente der ser original ou não e que só uma minoria dos fãs
pesquisados têm uma tatuagem da banda, uma vez acreditando-se que este perfil de
fã seria em sua maioria, tendo em vista os estereótipos que são passados pelas peças
publicitárias. Tal perfil configurado, portanto, amplia questionamentos sobre
estereótipos, por exemplo, e contribui para novas pesquisas sobre a juventude de
Fortaleza, consumidora de produtos de bandas de rock e heavy metal.
Palavras–chave: Sociedade do Consumo, hábitos de consumo, rock, heavy metal, Iron
Maiden.
6
ABSTRACT
This paper aims at exploring the consumer habits of Iron Maiden fans living in
the city of Fortaleza. For this purpose, a literary research was conducted, as well as a
qualitative and quantitative field study. We will highlight the relevant historical aspects
concerning consumer society, rock and heavy metal resulting from the literary
research. The quantitative field study consisted of applying questionnaires to the
members of four groups, which left Fortaleza by car on April 2, 2011 to drive to Recife
where the show of the band in question took place the following day. For the
qualitative field study a focal group was formed out of persons of both genders, of
between 14 and 30 years of age; the inclusion criteria was owning band products and
having attended at least one Iron Maiden show. In this perspective, we tried to outline
the profile of this fan by deepening the questions, which could provide us with
information regarding the Iron Maiden fan profile, explain the motivations behind
consuming Iron Maiden products and describe the niche existence in the vast heavy
metal universe. We conclude by stating that budget influences quantity and quality of
the consumed product, that fans experience satisfaction maximization by consuming
the product, no matter if it’s original or not, and that only a minority of the questioned
fans have a band tattoo, although stereotypes transmitted by publicity make believe
that that fan profile would be the majority. The established fan profile, therefore,
provokes questionings about, for instance, stereotypes, and contributes so new studies
on young people in Fortaleza who consume rock and heavy metal band products.
Key words: Consumer society, consumer habits, rock, heavy metal, Iron Maiden.
7
SUMÁRIO
Introdução........................................................................................................................08
Capítulo 1 – EL DOURADO............................................................................................12
1.1 A sociedade de consumo e os consumidores..................................................12
1.2 As teorias de Galbraith....................................................................................14
1.2.1 Instintivismo.................................................................................................14
1.2.2 Manipulismo.................................................................................................15
1.2.3 A perspectiva veblenesca..............................................................................16
1.3 Os consumidores e o gosto: o ser hedonista....................................................17
1.3.1 Status, marcas e signos simbólicos...............................................................19
1.4 O colecionismo e seu hiato..............................................................................20
1.4.1 O colecionismo.............................................................................................21
1.4.2 Objetos semióticos e coleções......................................................................24
1.5 O rock como meio de consumo.......................................................................26
1.5.1 O rock e o consumo......................................................................................27
1.5.2 O Heavy Metal e o consumo........................................................................30
Capítulo 2 – FROM HERE TO ETERNITY......................................................................34
2.1 O mundo em torno do Rock e do Heavy Metal...............................................34
2.1.1 Os primeiros passos......................................................................................34
2.1.2 A consolidação do Heavy Metal...................................................................38
2.3 Iron Maiden, um pouco da história..................................................................40
2.3.1 Heavy Metal no Brasil..................................................................................43
2.3.2 Heavy Metal em Foraleza.............................................................................44
Capítulo 3 - CHILDREM OF THE BEST ......................................................................48
3. 1 Pesquisa com os fãs.......................................................................................48
3.1. 2 Pesquisa quantitativa...................................................................................57
3.1.3 Pesquisa qualitativa......................................................................................51
Conclusões.......................................................................................................................66
Apêndice..........................................................................................................................68
Anexo..............................................................................................................................73
Referências Bibliográficas...............................................................................................89
Referências Bibliográficas...............................................................................................89
8
INTRODUÇÃO
Como fã de Heavy Metal sempre me motivou saber sobre os costumes e
sentimentos dos fãs desse estilo musical, pois mesmo sendo um deles não entendia bem
como tudo isso funcionava. Observava que todos que seguiam esse estilo de vida
pareciam ser muito apaixonados pelos seus ídolos e suas atitudes. Sempre escutei
falarem “Uma vez que você escuta heavy metal, você escutará por toda vida.” Esta frase
se tornou verdade, ao menos para mim. Frequentadora assídua de shows de Heavy
Metal na cidade de Fortaleza e pelo Brasil, pude observar os outros, que como eu, se
vestiam de preto, conheciam as letras de todos os shows, mesmo não sabendo inglês, e
que, ocasionalmente, choravam escutando uma música favorita. Esse tipo de fã,
imaginava, coleciona quase todos os produtos de sua banda favorita, desde um Cd até
um pedaço de papel com a matéria sobre a banda em algum jornal ou revista.
Fazer o curso de Publicidade e Propaganda me ajudou a observar esse universo
com um olhar de pesquisador. Vendo as formas de persuasão para com o consumidor
ou, na disciplina de Psicologia do Consumidor, o comportamento que esse exercia sob a
influência de anúncios, propagandas ou marcas. Considerando um grupo musical como
uma marca, poderemos dizer que um consumidor fidelizado a esta, provavelmente,
comprará tudo que estiver com o logotipo ou que for apresentado pela marca. Ou seja, o
fã consome quase tudo de seu ídolo.
Com esse pensamento, vemos uma gama de produtos de bandas e cantores que
lançam não só a sua música como, também, blusas, sapatos, cartas de baralhos, cervejas,
vinhos, entre outros. O mais interessante é perceber que se o produto existe e é
9
distribuído mundialmente, deve ser porque existe um grupo consumidor. Lei da oferta e
da procura, certo?
Com o passar do tempo fui me vendo na mesma situação em que esses fãs se
encontravam. Não vestia preto todos os dias, pois a cidade de Fortaleza é muito quente,
mas sempre que tinha a oportunidade de fazê-lo, estava com minha blusa preta. Porém,
o amadurecimento intelectual me fez questionar várias coisas, como se dava toda essa
comoção pelas bandas e por seus produtos. Desse modo, eu teria que me aprofundar no
estudo para confirmar e afirmar alguma coisa sobre o consumo de produtos e o
comportamento dos fãs. Nas aulas de semiótica pude ver exatamente aquilo que mais
me interessava, tanto como fã quanto como estudante: a teoria pierciana sobre o “hiato
dos objetos semióticos”, ou seja, a distância que existia entre o ídolo, o produto e o fã.
Soube, então, que precisaria fazer um estudo aprofundado e com pesquisas para fazer
um recorte que pudesse delinear o que existia, ou ao menos uma parte, entre os objetos e
o fã.
Fiz meu pré-projeto em 2008 e esperei até 2011 para poder começar, de fato,
realizar as pesquisas que me levariam a fazer esse recorte que ora apresento em forma
de monografia.
Neste trabalho, separei por etapas as pesquisas, tanto bibliográficas quando de
campo, configuradas em três capítulos. No primeiro, denominado com o título de uma
música da banda Iron Maiden (do CD The Final Frontier): El Dourado, onde letra fala
sobre a cidade de ouro de mesmo nome. Com isso usei uma metáfora para mapear o
conteúdo do texto desta primeira parte, o consumo.
Através da literatura sobre a Sociedade do Consumo tentei entender,
primeiramente, como começou a ser caracterizado esse consumo do “desnecessário”, ou
seja, do “a mais” não necessário para viver. Desde a Revolução Industrial podemos
10
encontrar vestígios mais explícitos desse tipo de consumo. Comprar para exercer um
status mais elevado em relação ao outro.
Sendo assim, passei para o consumismo e logo para o colecionismo, pois
considero que este estão quase diretamente relacionados. Já que para existir o
colecionismo, temos que exercer o consumo, logo cheguei ao solo teórico que poderia
sustentar a pesquisa na área da Publicidade, a semiótica. Falei um pouco sobre os
objetos semióticos e compreendi toda a “paixão” existente na compra dos produtos dos
ídolos. Toda a procura para alcançar esse ser “endeusado” pelo fã.
Na segunda parte, eu optei em denominar o capítulo com o título: From Here to
Eternity (Música do CD Fear of the Dark da banda Iron Maiden), novamente usei uma
metáfora com o tema: O Heavy Metal, e sua tentativa de continuar até a eternidade.
Sendo assim, destaquei neste trabalho um pouco da história do rock´n roll, que
afinal é o “pai” de todos os estilos de rock existentes e dele surgiu o heavy metal. Numa
época de guerra e jovens aflitos, a música se tornou um meio de reivindicar a paz no
mundo, senão vejamos o movimento hippie da década de 1960. Depois de duas décadas,
os jovens ainda tinham esse mesmo pensamento, a música como forma de expressão.
Contudo, o “sonho acabou” e todo o positivismo das canções deu lugar ao pragmatismo
e notas musicais mais pesadas, fazendo surgir o heavy metal.
Em busca de compreender esse universo do Heavy Metal, elaborei uma pesquisa
com os fãs da banda Iron Maiden, a quem considerei como uma das primeiras bandas
de metal e, porque não, “os pais do metal”. De fato, não se pode negar que o grupo
ajudou a consolidar o New Wave of Britsh Metal e se tornou um fenômeno mundial,
arrastando multidões para estádios e shows. Com um mascote “demonicamente”
simpático, lançaram Lp, Cd´s, Vídeos e Dvd‟s, além de variados produtos, que logo
11
iriam compor a loja virtual oficial da banda. E os fãs, como eu, comprariam ao menos
uma coisa para ter “mais perto de si” um pouco da banda.
A partir disso, resolvi agregar ao meu trabalho uma pesquisa de campo na
tentativa de transformar em questões acadêmicas esse universo da música e, desse
modo, poder inferir hipóteses que mapeasse o perfil do consumidor da banda Iron
Maiden em Fortaleza.
Essa terceira etapa do trabalho foi denominada “Children of the Damned “
(Música do Cd The Number of the Beast da banda Iron Maiden), ou seja, “Filhos do
Condenado”, para fazer um paralelo entre os fãs seriam considerados os filhos do
“condenado” Iron Maiden.
Assim, a primeira parte da pesquisa foi um questionário fechado aplicado aos fãs
que sairiam da cidade de Fortaleza em caravanas para poder participar do show do Iron
Maiden que aconteceria na cidade de Recife. Depois disso, selecionados alguns
participantes, formei um grupo focal, agora para, de fato, discutir o assunto: Consumo
de produtos da banda e o sentimento por trás de tudo isso.
Logo após ter os resultados comecei a análise do perfil desse fã na cidade de
Fortaleza e, com o grupo focal, encontrei algumas das respostas que procurava e que
respondiam ao que eu queria inicialmente com esse trabalho:
Por que consumir “a banda”?
12
CAPÍTULO 1
EL DORADO
1.1 A sociedade de consumo e os consumidores
O tema da sociedade de consumo tem fascinado pensadores com diversidade de
teorias das ciências sociais, desde a antropologia, sociologia à publicidade. Para uns, o
marco referencial é a Revolução Industrial, na Inglaterra, no final do século XVIII, com
a consolidação do capitalismo (PIETROCOLLA, 1986). Para outros, a sociedade de
consumo se caracteriza pelo consumo não do objeto em si, mas pelo signo de tal objeto,
ou seja, commodity sign1
(BAUDRILLARD, 2007). Principalmente caracterizada pelo
consumo de massa, representada por uma alta taxa de consumo, presença da moda
(LIPOVETSKY, 1989), e da mercadoria como espetáculo (DEBORD, 1997), sociedade
de mercado substituindo a esfera da necessidade pelo desejo (BAUMANN, 2001), tem
no consumidor um de seus principais personagens sociais (BARBOSA, 2010).
O ato de consumir, na sociedade de consumo, deixou de ser somente o consumo
pelas necessidades - o valor de uso do objeto – para ser o consumo de significados desse
objeto para a sociedade e para as pessoas. A verdade do objeto contemporâneo já não
consiste em servir para alguma coisa, mas para significar. Desse modo, o objeto deixou
de ser manipulado como instrumento, sua funcionalidade, e passou a ser utilizado como
signo. Esse consumo é considerado a partir do desejo até o descarte final do objeto
adquirido (BAUDRILLARD, 2007).
1
A mercadoria como imagem, signo, veículo de comunicação, imagem que é arbitrariamente aplicada
ao produto.
13
O consumo também deve ser considerado como uma ponte entre as relações dos
consumidores da sociedade. Ele pode aproximar ou afastar, pois
O consumo é um discurso capaz de criar múltiplas mensagens a partir
de um código, permitindo, como operador de um sistema de
classificação, aproximar e diferenciar grupos de pessoas através das
coisas e vice-versa. Séries de produtos e serviços, os bens de
consumo, se articulam com séries de pessoas, grupos, estilos de vida,
gostos, perspectivas e desejos que nos envolvem a todos em um
permanente sistema de comunicação de poder e prestigio na vida
social (ROCHA; BARROS apud BACCEGA, 2008, p.189).
Lima (2010) faz uma esclarecedora leitura da obra de Miller, antropólogo inglês,
contrapondo-o à teoria da economia de Karl Marx. Segundo Lima (2010), Miller
postula que o ato de consumo define as pessoas e suas identidades, pois ao adquirir
objetos, ocorreria uma re-contextualização de acordo com os sentidos pertinentes ao seu
universo de significados. Diferente de Karl Marx, que acreditava que a produção dos
objetos (mercadoria) fragmentaria as pessoas impedindo seu desenvolvimento subjetivo.
Na sociedade moderna, é evidente um desapego com os bens de consumo. O novo
atrai mais do que o que já temos, bem como criamos sempre justificativas para poder
consumir o que nos é oferecido de novo. “Maior”, “Melhor”, “Mais funcional”, entre
outros termos, seduzem o consumidor ao ato incessante de comprar.
O consumista moderno é movido pelo desejo de artigos que
ultrapassam em muito aquilo que seria necessário para sua
manutenção biológica. Mais do que para satisfazer necessidades, os
produtos ou serviços são adquiridos em nome do conforto e do prazer.
[...] De maneira resumida, pode-se dizer que estímulos repetitivos
causam satisfação, o que não é o mesmo que o prazer. A busca pelo
prazer e pela sua renovação precisa escapar da monotonia. Assim
sendo, requer renovação (LIMA, 2010, p. 35).
Desse modo, pode-se dizer que, a sociedade de consumo movimenta os
desejos e os sonhos que precisam ser realizados, quase que imediatamente.
14
1.2 As teorias de Galbraith
Sobre as necessidades Galbraith afirma que:
Se as necessidades do indivíduo devem ser urgentes, devem ser
originárias dele próprio. Não podem ser urgentes se devem ser
elaboradas para ele. E, acima de tudo, não devem ser elaboradas pelo
processo de produção pelo qual são satisfeitas. Pois isso significa que
todas as razões para urgência da produção, baseadas na urgência das
necessidades caem por terra. Não se pode defender a produção como
sendo para satisfazer necessidades, se essa produção cria as
necessidades. (GALBRAITH ,1998, p. 143)
Para defender a teoria desenvolvida por Galbraith (1998) temos três linhas de
pensamentos encontrados nas ciências sociais que podem explicar a origem das necessidades do
consumidor. São elas: o instintivismo, o manipulacionismo e a perspectiva veblenesca.
1.2.1 Instintivismo
Ressaltamos o institinvismo como a teorização econômica acerca do consumo
resultante da própria linguagem que é empregada de modo padronizado, mais
especialmente mediante o uso dos conceitos de “necessidade latente” e “procura
latente” (CAMPBELL, 2001).
Essa teoria reconhece que todas as pessoas são seres consumidores em potencial,
tendo em vista que todo ser humano tem uma base biológica de necessidades, vitais ou
não, ou seja, o desejo de consumo “surgiria do DNA do ser humano” que já está,
teoricamente, programado para ser um ser consumidor. Toda conduta humana
intencional é teológica na forma e, consequentemente, possui a qualidade de ser uma
“manifestação” de algo “latente” (CAMPBELL, 2001).
15
Tais necessidades respondem a uma hierarquia. Desse modo, à medida que as
necessidades vitais são saciadas, as outras necessidades começam a aparecer. Markin
(apud CAMPBELL, 2001) afirma que essas necessidades respondem a uma ordem que
se encontra relacionada às carências: oxigênio, alimento, água, alívio da dor entre outras
de base fisiológica; depois, as de salvamento como segurança, proteção e rotina;
seguidas pelos “motivos do amor”, de afeição e filiação, depois por “motivos de
estima”, de amor- próprio e prestígio e, por último, o motivo de auto- satisfação e
realização pessoal.
1.2.2 Manipulismo
O manipulismo trata da teoria de que as pessoas são obsoletas, sem vontade
própria ou sem a capacidade de formular pensamentos científicos, e sem necessidades
primárias, sendo manipuladas pela propaganda. O consumidor se deixa levar pelas
mensagens que o bombardeiam com a falsa necessidade de consumo. Através de tevês,
cinema, jornais, propagandas e estratégias de marketing o consumidor é convencido de
tais necessidades. Podemos ter como exemplo o fato de querer ser atraente para o sexo
oposto, pois com esse pressuposto se pode fazer propaganda de vários tipos de objetos,
sendo assim, cria-se uma necessidade de consumo de tais objetos para poder conseguir
o objetivo que é ser atraente para o sexo oposto.
Porém, é essencial observar que
Primeiro, não é a estrutura da motivação individual que esta sendo
„manipulada‟. Ao contrário, é a esta, precisamente, que a manipulação
está sendo adaptada para levar em conta. Assim, embora se possa
sustentar que os desejos e sonhos do consumidor são „explorados‟
dessa forma, não se pode afirmar que são simplesmente construídos
pelos atos dos anunciantes. Segundo, o que os produtores de bens e
serviços realmente manipulam, através de seus agentes, não são os
16
consumidores ou suas necessidades, mas ao menos em primeiro lugar,
os significados simbólicos que se achavam vinculados aos produtos.
Eles, de fato, manipulam mensagens (CAMPBELL, 2001, p.73).
1.2.3 A perspectiva veblenesca
A perspectiva veblenesca2
consiste em afirmar que o consumidor é um ser ativo
que está ciente de suas ações e necessidades. Consome a partir de questões sociais para
a elevação do seu status, uma vez que as mercadorias assumem importância como
sinais, símbolos, e não só pela a satisfação intrínseca que elas podem trazer.
Veblen admite, por exemplo, que o motivo oculto sob muitas
atividades humanas é a emulação e que, desde que “a posse da riqueza
confere honra”, o fim perseguido pela acumulação é se colocar alto,
em comparação com o resto da comunidade, no tocante à força
pecuniária (CAMPBELL, 2001, p. 76).
Por essa perspectiva podemos dizer que as pessoas de classe social superior estão
sempre em movimento e mudança de sua “moda”, produtos de consumo. Uma vez
alcançada por uma classe inferior, essa moda presente não servirá mais como forma de
consumo pela classe considerada dominante.
Embora seja possível ver que tanto a moda moderna como o desejo de
emulação com os “superiores” sociais possam servir para encorajar o
que parecem ser modelos semelhantes de ação (na medida em que
ambos são encarados como comportamento imitativo, isso não pode
deixar de ser verdadeiro), está longe de ser óbvio como eles vieram a
interagir para produzir uma necessidade insaciável nos consumidores
(CAMPBELL, 2001, p.86).
2
Veblen (1980) desenvolve a “teoria da classe ociosa” na qual postula que as motivações para o
consumo residem, principalmente, na tentativa de demonstrar o poder pecuniário, causador de inveja, e
que as “classes ociosas” com poder pecuniário determinariam o que deverá ser consumido.
17
1.3 Os consumidores e o gosto - o ser hedonista
Em sua essência, todos nós somos consumidores. Todos que possuem dinheiro
para consumir o bem desejado são consumidores em potencial.
Seguindo esse pensamento poderíamos inferir que o ato de consumir encontra-se
na mesma proporção ao ato de construção das identificações. Uma vez que compramos
aquilo que pensamos estar relacionado a esta identidade que reconhecemos como nossa.
A definição quanto aos tipos de objetos que estaríamos mais propensos a comprar
estão relacionados à nossa vivência, educação e criação. Porém, se constante é a
vivência e a educação, outros fatores evoluem, ou chegam a mudar, ao longo da vida.
Neste aspecto, vivemos em constante mutação de nossa identidade, que é
discursivamente construída pelas narrativas do eu e elaborada, a um só tempo, na ampla
relação entre sujeitos sociais, lugares e idéias socialmente significativas e entre sujeitos
e objetos (BARBOSA, 2010).
Por outro lado, temos a teoria sobre o gosto que pretende explicar as razões pelas
quais objetos serão consumidos delimitando, desse modo, os tipos de consumidores.
Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu (2010), o gosto tornou-se um processo de
hierarquização social vivido pelo senso comum como uma medida absoluta, objetiva e
universal. Nesta perspectiva, para a pessoa possuir o que é convencionado pela
sociedade como “bom gosto”, ela deve vir de uma classe considerada dominante, a
classe alta, com boa educação, leituras e outros hábitos caros dessa classe.
Por sua vez, Campbell (2001) assinala que o desejo de consumo não é a simples
permanência de um eterno “querer mais”, de um sentimento de insatisfação, mas a
existência de uma insaciabilidade para com novos produtos. Ele classifica o consumidor
como um ser hedonista, um ser de desejos e sonhos. Lypovetsky (2005) localiza na
18
década de 1920, nos Estados Unidos, o hedonismo como manifestação da sociedade de
consumo de massa. Neste aspecto, segundo o referido filósofo, tanto a publicidade
quanto o sistema de venda à crédito são determinantes para que ocorra uma mudança no
comportamento da população, pois o crédito viabiliza o consumo, a sociedade volta-se
para o imediatismo e a população vive apenas em função do prazer imediato.
(...) sob os efeitos conjugados do modernismo e do consumismo de
massa, uma cultura centrada na realização do eu, na espontaneidade e
no desfrute: o hedonismo se torna o „princípio axial‟ da cultura
moderna (...) (LIPOVETSKY, 2005, p. 64)
Compreendemos que no hedonismo o sujeito passa a ser o “senhor” de seus
pensamentos e desejos, misturando as imagens da publicidade, e outros meios
midiáticos, com imagens de seu passado, construindo, assim, um sonho onde o assunto
principal é a realização de algum desejo.
Tudo isso altera drasticamente a natureza do hedonismo, pois não
apenas o homem moderno colhe prazer de suas fantasias, mas,
deleitando-se com elas, muda radicalmente sua concepção do lugar do
prazer na vida real. (CAMPBELL, 2001, p.115)
Porém, a realização dessa fantasia não traz o prazer desejado pelo ser hedonista. A
busca, a criação da fantasia, se torna mais prazerosa que o ato de consumir, o que
explicaria nossa determinação de sempre achar novos produtos que sirvam como
objetos de desejos a serem repostos (BARBOSA, 2010).
19
1.3.1 Status, marcas e signos no consumo
Diferentemente do que afirma Pietrocolla (1986), cujo postulado ressalta que
quanto maior for a posse de bens de um indivíduo, maior será seu prestigio social,
Baudrillard (2007) discorre uma tese onde explica que:
[...] perante as necessidades e o princípio de satisfação, todos os
homens são iguais, porque todos eles são iguais perante o valor de uso
dos objetos e dos bens (se bem que sejam desiguais e se encontrem
divididos em relação ao valor de troca). Porque a necessidade se
cataloga pelo valor de uso, obtém-se uma relação de utilidade
objectiva ou de finalidade natural, em cuja presença deixa de haver
desigualdade social ou histórica. Ao nível do bife (valor de uso), não
existe proletário nem privilegiado (BAUDRILLARD, 2007, p.48).
Podemos entender por valor de uso a utilidade que os objetos têm para as pessoas
que deles se servem sendo, portanto, subjetivo (LIMA, 2010). E, por valor de troca, o
caráter objetivo e que se manifesta nas relações sociais – na troca, na compra e na venda
dos produtos – entre aqueles que neles enxergam valor de uso. Seguindo esta linha de
pensamento, aprendemos com Lipovetsky (1989) que jamais se consome um objeto
pelo seu valor de uso, mas sim, pelo seu valor de troca.
Com isso, a publicidade e o marketing dos produtos se tornam quesitos muito
importantes para agregar significado aos objetos. São vitrines de lojas transformadas em
espetáculos, modificando, assim, o sentido da compra, verdadeira passagem de uma
atividade econômica para uma atividade social e cultural. (BOWLBY, WILSON,
RAPPAPORT in FREIRE FILHO, HERSCHMANN, 2005). Ou seja, além do
surgimento da necessidade vital, existe uma necessidade social na qual as pessoas
consomem os objetos de valores agregados, signos, para uma formação de status.
Baudrillard (2007) explica que na lógica dos signos esse objeto deixa de estar
ligado a uma função ou necessidade definida, e passa a agregar qualquer lógica
20
escolhida pelo consumidor. Essa lógica poderá provir de seu status social, de sua
educação, ou até mesmo, de desejos que o consumidor possa vir a ter.
Como já observado, a publicidade e o marketing exercem grande influência na
“criação” de necessidades. Desse modo, é possível agregar valores aos produtos e
marcas. Valores agregados com os quais o consumidor, eventualmente, irá se identificar
e, a partir de então, desejar alcançar o objeto a ser consumido.
Portanto, a marca seria um signo referente a um produto (bem e/ou
serviço) e que teria, além do próprio produto, diversos significados
associados, os quais, por sua vez, seriam interpretados ou percebidos
por um individuo ou grupo. Assim, pode-se sugerir que a força de
uma marca será tanto maior quanto mais adequadas forem as seguintes
dimensões semiológicas: as formas como o signo se manifesta
(semiótica), a forma como o signo está associado aos seus significados
(semântica) e, finalmente, o grau de sinergia entre o signo e as
expectativas dos indivíduos com quem ele se comunica (pragmática)
(LEMOS, 2007, p.143 ).
Entre esses valores, está o valor distintivo, ou seja, o valor que distingue as
classes sociais, o valor do status. Com isso, para as classes com maior poder de compra,
este é um dos valores dominantes na hora da compra. À medida que os produtos
classificados por essa classe são consumidos pela classe média, esses produtos perdem o
valor distintivo, deixando de ser um objeto de consumo da classe dominante. Diríamos
que acontece uma verdadeira busca por novos produtos que diferencie novamente a
classe dominante da classe média (BARROS FILHO; LOPES in BACCEGA, 2008).
1.4 O colecionismo e seu hiato
Como vimos anteriormente, o consumo praticado na sociedade moderna é
estudado sob vários aspectos. E o prazer que existe em adquirir novos materiais, um dos
21
motivadores de tal ato, é ressaltado por vários pesquisadores. A leitura feita por Lívia
Barbosa (2010) do trabalho de Campbell (2001) nos ensina que,
Se os consumidores desejassem realmente a posse material dos bens,
se o prazer estivesse nela contido, a tendência seria a acumulação dos
objetos, e não o descarte rápido das mercadorias e a busca por algo
novo que possa despertar os mesmos mecanismos associativos
(BARBOSA, 2010, p.53).
Seguindo essa linha de pensamento, como poderíamos explicar o ato de
colecionar? Seria o colecionador um novo tipo de consumidor? Ou o ato de colecionar
está totalmente diferenciado do ato de consumir?
Farina, Toledo, Corrêa, (2006) em uma pesquisa realizada com pessoas que se
dizem colecionadores, citam os estudos de Belk (1995), Slatter (1999) e Murphy (2000)
que pretendem explicar o fenômeno do consumismo em outros termos. E como uma
junção de objetos pode preencher o hiato que existe entre o sujeito, fã, e seu ídolo? Seria
esse hiato alguma vez preenchido?
1.2.1 O colecionismo
Ao falarmos “colecionismo”, “colecionador” ou “coleções”, a primeira imagem
que temos é a de um acúmulo de objetos, que para uns pode parecer excêntrico ou até
mesmo sem função alguma. Certamente, em uma coleção a função primária de um
objeto, nomeadamente, a funcionalidade, é extrapolada. Um disco ou uma blusa não
servem apenas para que se ouça ou para que o sujeito se vista, pois estariam exercendo
outra função. Função aquela escolhida pela pessoa que a possui, qual seja, a da
memória. Esses objetos funcionariam como uma máquina do tempo, onde o seu dono
pode vir a resgatar memórias que, se não fora pelos objetos, talvez estivessem já
22
esquecidas no tempo. Mas, voltando à função primária de um objeto, a funcionalidade,
como e quando surgiu a idéia do ser colecionador? O que seria o colecionismo?
O uso da palavra Colecionismo surgiu publicamente em um informe
da APAG (Associação Para Preservação de Antiguidades
Gráficas) em 1992, no mesmo ano em que a TELEBRAS
(Telecomunicações Brasileira S.A) lançava o Cartão de
Telefone na Eco 923
, no Rio de Janeiro. Durante a palestra de
lançamento o direto da Antiga TELERJ (Telecomunicações do
Estado do Rio de Janeiro) usou o termo Colecionamento e logo
a seguir fez uma brincadeira com a palavra que considerava feia e
pediu licença para usar COLECIONISMO termo que já estava sendo
usado pelos colecionadores. (FARINA, TOLEDO, CORRÊA,
2006, p.3)
Segundo Belk (1995, in FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006), colecionismo é o
processo de adquirir e possuir coisas de forma ativa, seletiva e apaixonada. Sendo
assim, se difere do consumista estudado por teóricos como Veblen (1980) ou Campbell
(2001). Para Slatter (1999, in FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006), entre tantos
significados, como o de doar, emprestar e até mesmo roubar, comprar é apenas mais
uma das maneiras de possuir o objeto de coleção. Sendo assim, o ato de adquirir algum
objeto para a coleção torna-se ainda mais prazeroso do que até mesmo possuí-la.
Farina, Toledo, Corrêa (2006) citam as pesquisas de Murphy (2000), cuja teoria
assinala que o ato de colecionar pode ser estimulante e compensador, mas também
poder ser patológico como o fetiche4
, a obsessão de colecionar ou juntar objetos.
3
ECO 92, ou RIO-92, Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento
realizada na cidade do Rio de Janeiro que além de promover debates também serviu de parâmetro para
estratégias e compromissos acordados entre os 179 presentes no referido evento.
4
O termo fetiche aparece na obra de Karl Marx, “O capital”, em relação à mercadoria, sobre o valor
simbólico a esta conferido, que perde sua relação com o trabalho/produção e passa a ser objeto de
verdadeira adoração pelo que simboliza sua compra e uso. Em psicopatologia, o termo é usado para
assinalar o desvio do interesse pelo ato sexual para partes do corpo ou de objetos, em geral, usados
pelo parceiro (Houaiss, 2010).
23
Mas quem seriam esses colecionadores? Como os distinguimos do consumidor do
cotidiano da sociedade moderna?
No Renascimento o sujeito era definido por suas riquezas, quem possuía mais
bens materiais, certamente seria mais prestigiado aos olhos da sociedade (OLIVEIRA,
SIEGMANN, COELHO, 2005). A partir dessa idéia, poderíamos associar o sujeito de
status ao sujeito colecionador, uma vez que o primeiro deveria possuir o máximo de
bens para conseguir o status necessário.
Essa idéia permanece nos dias de hoje, na sociedade moderna também é bem visto
aquelas pessoas que mais possuem objetos e posses (BOURDIEU, 2011). Entretanto,
ressaltamos em nosso estudo a diferença que existe entre o colecionador e o sujeito
consumidor, conforme aprendemos com Oliveira, Coelho e Siegmann, (2005). Desse
modo, entendemos a coleção como uma extensão do “ser”, difere, portanto do
capitalista, este que acumula objetos tão somente visando a ostentação do status. Nestes
termos, o colecionador é um ser guardador de memórias, guardador do passado. Este é
considerado como colecionador-artista.
O colecionador tem sua coleção como parte de si, pois considera que o esforço,
tempo e dedicação empregados faz com que sua coleção ganhe uma parte sua
(FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006). Os objetos são cuidadosamente selecionados,
estudados. Não se cria uma coleção na espontaneidade. Neste aspecto, se uma pessoa
passa a colecionar pôsteres, entrevistas, fotos e vários outros materiais de certa banda de
música, ele não pensou em sair “juntando” ao acaso tais objetos. Cada objeto adquirido
tem sua explicação e sua porção preservada na memória do colecionador. Ao visitar sua
coleção, o ser colecionador transporta-se para “outra dimensão”, ele se torna outro, o
colecionador passa a ser, ele mesmo, parte de sua memória. Uma parte do passado.
24
O objeto adquirido para fazer parte de uma coleção, além de perder sua função
primária, a funcionalidade, passa a assumir o status de algo sagrado. Um colecionador
de materiais de bandas de rock ao adquirir os cd´s, blusas, baquetas ou palhetas de uma
banda, provavelmente irá emoldurar alguns objetos ou guardá-lo em saco e lacrar para
que ninguém mais possa manusear os objetos adquiridos e tão bem guardados por ele.
Outro fator que indica o senso sagrado é o fato de o item da coleção
ter pertencido a uma pessoa famosa ou a uma pessoa importante para
o colecionador. Além disso, o que torna o item sagrado é o fato de o
mesmo não estar à venda (FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006, p.7)
1.2.2 Objetos semióticos e coleções
A compreensão do conceito de objeto semiótico requer um breve esclarecimento
sobre alguns termos. Em primeira instância, de acordo com o pensamento pierciano5
,
temos o signo, a representação. Entendemos como objeto dinâmico o que é substituído
pela representação, por exemplo, o cantor, e toda a sua complexidade, retratado em um
pôster. E, por fim, objeto imediato: É como o objeto dinâmico se apresenta no signo,
como no exemplo anterior, o cantor seria o pôster.
5
Importante salientar que, para a semiótica peirceana, o signo é qualquer coisa de qualquer
espécie (umapalavra, um livro, uma cama, um grito, uma pintura, um museu, uma pessoa, um
vídeo, uma manha de tinta, um gesto etc.) que representa uma outra coisa, chamada de objeto
do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente, efeito este que é chamado de
interpretante do signo. O objeto do signo, ou aquilo que por ele é representado, apresenta
duas facetas, chamadas de objeto imediato e objeto dinâmico. Tem-se por objeto imediato
aquilo que se encontra mais próximo do signo; algo como o modo pelo qual o objeto do signo
nele se apresenta. O objeto dinamico do signo, por sua vez, é aquilo que o signo intenta
representar em toda a sua complexidade. Por exemplo: em uma foto da banda Iron Maiden
(signo), temos como objeto imediato o modo como a banda está sendo retratada naquela foto
(a banda capturada em suas expressões questionadoras durante um show, ou a banda mais
humanizada ao ser retratada com seus familiares); ao passo que o objeto dinâmico, jamais
capturado por qualquer signo da banda devido à sua complexidade, é tudo aquilo que a banda
de fato é (um grupo de amigos com seus humores, percalços, crenças religiosas, atuações nas
relações de trabalho, familiares, com os fãs etc).
25
Sendo assim, observamos que uma das motivações do consumidor comum para
tornar-se um colecionador seria o de manter viva a imagem evocada na presença do
objeto. Uma viagem ao passado, a transfiguração do seu eu em outro, aquele que está
ainda vivo no passado. Mas não só o consumidor/fã se transfigura, mas tudo que
envolve o objeto adquirido também se transmuta. Desse modo, se o colecionador possui
uma peça de roupa ou material utilizado por seu ídolo, ficará “impresso” em tal objeto a
imagem que o consumidor/fã, tem desse ídolo. Poderíamos, então, falar que um dos
motivos da coleção possa vir a ser a aproximação do fã com seu ídolo? Ou da imagem
criada no imaginário por este colecionador?
Aprendemos com Santaella (2002), que objeto dinâmico é a pessoa existente que
está por trás da imagem, e objeto imediato é o modo particular como cada objeto exibe
o ser real, o ídolo.
Sendo assim, temos como objeto imediato os objetos da coleção, que são os
signos da banda. O ídolo, e toda sua complexidade a ser alcançado através da coleção, é
o objeto dinâmico. Embora esse objetivo nunca seja concluído, pois se encontra no
campo da impossibilidade para a semiótica.
Fotos, pôsteres, blusas, até mesmo “toalhas com suor” podem fazer parte de uma
coleção do fã. São memórias que se deixam transmutar em objetos, que, para esse
colecionador, podem ser acessadas e levá-lo de volta ao momento da aquisição. Porém,
como já dito, essas memórias e impressões deixadas nos objetos são apenas conceitos
criados pelo próprio colecionador. Existe um hiato intransponível (SANTAELLA,
2002) entre esses dois objetos, e esse é um dos aspectos que levaria ao consumo, à
formação de coleção, o desejo de transpor essa barreira que existe.
O que esse público deseja é o impossível acesso direto ao objeto
dinâmico: ver, tocar, ouvir, na ilusão de que o ver é, por si só,
26
presença, sem se dar conta de que o ver e mesmo o toque também são
mediados por um feixe de impressões perceptivas que nos põe diante,
mas ,até certo ponto, também nos afasta da pura presença, da santa e
rara presença pura do milagre inatingível da pura presença
(SANTAELLA, 2002 p. 102).
Serão fotos, revistas, set list arrancados do palco, e muitos outros signos
adquiridos que fazem parte do desejo de que esse espaço infindável possa vir a se
acabar. Porém, de modo ambivalente, a mesma vontade de acabar com o “espaço”
alimenta o desejo de que esse espaço nunca se acabe, pois assim não haveria motivos
para que o ato de colecionar terminasse, “pois, a coleção reforça o sentimento de poder,
e sua continuidade alimenta esse poder” (FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006, p. 2).
1.3 Rock como meio de consumo
Ao analisarmos a afirmação:
Quem olha aquela multidão de jovens percebe que cada um
deles procura afirmar a sua irredutível diferença, sua identidade
através do uso de uma determinada camiseta estampada com um
banda de rock, uma certa tatuagem, um piercing e outros
símbolos identitários. [...] Acontece que essas modas juvenis
não nasceram e não existem apenas na Rua 24 de Maio6
; elas
são fenômenos internacionais: há milhões de jovens no mundo
com o mesmo ornamento, que pertencem às mesmas tribos
urbanas que são internacionais. (FREDERICO, 2008, pp. 84-
85)
Observamos que o ato de consumo de objetos classificados como ornamentos para
fãs de rock é uma característica não só de jovens de determinada região, que querem se
6
Rua 24 de Maio é onde fica localizado a Galeria de Rock, onde são vendidos acessórios, cd´s, e uma
grande variante de produtos do estilo “rock”. Lá se tornou um ponto de encontro, e referencia, para
todos aqueles amantes do estilo, sendo assim, é uma das maiores galeria especializada no estilo da
America do Sul.
27
diferenciar da sociedade, ou até mesmo, se distinguir, como pessoa única em seu grupo
social. Entretanto, como o rock passou a ser considerado um transformador de
identidade (JANOTTI JR., 2003), reverenciado por todas aquelas pessoas que passaram
a utilizá-lo como meio de expressão?
1.3.1 Rock e o consumo
O rock é uma música de orientação juvenil surgida na explosão midiática do pós-
guerra nos Estados Unidos da América (JANOTTI JR., 2003). Em meados anos 1950,
entre a repressão social dos governos totalitários e as normativas mundiais da sociedade
conservadora, os jovens se sentiam reprimidos e buscavam alguma maneira de expressar
seus desejos de liberdade. Foi daí, derivado do rhythm and blues7
, que surgiu um novo
estilo musical, que expressava toda a revolta causada por uma sociedade conservadora,
o rock and roll. Ritmo que falava com a juventude considerada transviada, por suas
idéias contrárias às normas morais da sociedade da época.
O termo rock and roll já era popular na década de 1920, usado entre os cantores
de blues para se referir ao ato sexual. “O músico de blues Trixie Smith gravou em 1922,
a música “My baby rocks me (with on steady roll)”, ou “Meu amor me balança (com
um gingado firme). Contudo, o termo só ganhou notoriedade quando os músicos
brancos o difundiram no cenário pós-guerra (SHUKER apud JANOTTI JR., 2003, p.
34).
7
O termo rhythm and blues foi cunhado pela Revista Billboard, nos anos 60, para se referir aos grupos
de músicos brancos que desenvolveram um ritmo novo a partir dos estilos do blues, eletric blues, gospel
e soul music. In: Jacqueline dos Prazeres. Acesso no site
http://blackfactory2.blogspot.com.2009/04/html em 04 de junho de 2011.
28
Com o avanço tecnológico, dispositivos eletrônicos se tornaram mais acessíveis
pelos jovens. Esses que procuravam um novo meio de expressão, de libertação, com o
uso do corpo de maneira não alienada (MIDDELTON apud JANOTTI JR., 2003).
No cinema, o rock ganhou espaço com os filmes “Rock Around the Clok” (O
balanço das horas) a “Blackboard Jungle” (Sementes da Violência), filmes que
retratavam uma juventude transviada, aparte das normas da sociedade. Os filmes não
foram aceitos pelos mais conservadores causando polêmica, principalmente, quando
entre os jovens, provocou uma onda de rebeldias. Conforme a afirmação de Janotti Jr.
As jaquetas de couro, motos carros, a brilhantina; enfim, o visual do
“delinqüente” que ficou definitivamente associado ao rock and roll
era parte dos sonhos de auto-afirmação dos jovens diante das pressões
escolares (JANOTTI JR., 2003, p.30)
Com a propagação do rock e o sucesso alcançado entre o público jovem, ficou
fácil difundir tal seguimento musical em objetos de consumo, tais como revistas, álbum,
filmes, revistas em quadrinho e muitos outros meios midiáticos. Um marco na história
do rock foi o lançamento da revista Rolling Stones, especializada nesse seguimento, o
rock, que misturava movimentos musicais e políticos.
Outro fato marcante para o rock foi o surgimento do PA (Public Address), que
consistia ser um sistema de amplificadores, alto-falantes e aparelhos sonoros, utilizado
em apresentações ao vivo. Com esse aparelho a facilidade de festivais com shows ao
vivo se tornou real, assim, uma nova forma de consumo surgiria, a saber, concertos de
bandas de rock ao vivo.
Ao falarmos de rock, falamos de um universo de segmentações de música tendo o
rock and roll como a primeira delas. Sendo assim, podemos dizer que a segmentação do
rock varia entre públicos, lugares e tempo.
29
(...) Diferentes fãs parecem usar a música com diferentes propósitos e
de diferentes modos, eles possuem fronteiras diferenciadas para
definir não só o que ouvem, mas também o que é incluído dentro da
categoria de rock and roll (GROSSBERG, 1997 apud JANOTTI JR,
2003, p.17).
Ao contrário de quando começou, como uma forma de expressão da classe
trabalhadora e negra, o rock é um estilo musical, e também de moda, muito apreciado
pelos jovens. São cd´s, revistas especializadas, lojas especializadas e até desfiles de alta
costura com o tema rock.
Com a consolidação da sociedade de consumo, produtos produzidos
em série e em grande escala encontram seu público-alvo graças à
sedução da propaganda e aprimorados modelos de marketing. (...)
Além de ter capturado o público masculino, os jovens foram
trabalhados como consumidores de toda uma gama de produtos,
muitos dos quais especialmente desenvolvidos para eles (...) esse
segmento tornou-se altamente lucrativo, movimentando cifras que
nada ficam a dever aos rendimentos alcançados com os adultos
(CASTRO, 2008, p. 138).
Com os avanços tecnológicos, podemos levar o rock conosco em um Mp3 player
ou comprar Cd´s, ou músicas pela internet, como no Itunes8
, uma loja virtual onde se
pode comprar músicas e vídeo clipes. Entretanto, esses avanços tecnológicos não
surgiram apenas como propagação do estilo musical. Vários sites como o Napster9
,
programa virtual gratuito onde se pode ter o compartilhamento de músicas através de
um computador à outro computador, disponibilizava músicas grátis para download.
Porém, a pressão, por parte das grandes gravadoras, para que o Napster deixasse de ser
8
Itunes in WWW.apple.com/br/itunes
9
Criado por Shaun Fanning, o Napster foi lançado em 1999 e encerrado em 2001, após batalha jurídica
baseada no argumento de que o site atentava contra a garantia dos direitos autorais.
30
um serviço gratuito, marcou uma nova etapa na difusão musical na cultura
contemporânea (JANOTTI JR, 2003). Apesar da pressão das gravadoras, outros
programas de compartilhamento de músicas continuaram surgindo, fazendo com o que
pirataria se tornasse um grande problema para as gravadoras. “Calcula-se que o
mercado fonográfico mundial já encolheu mais de 5% nos últimos dois anos (...)”
(JANOTTI JR., 2003, p. 54).
Porém, apesar da pirataria, muitas bandas já disponibilizaram seus trabalhos
exclusivamente na internet, para acesso gratuito de seus fãs, como a banda Rage
Against the Machine, em 2000.
1.3.2 O Heavy Metal e o consumo
Como assinalamos anteriormente, o rock é um estilo de música dividido em vários
segmentos, entre os quais se encontra o Heavy Metal característico por apresentar uma
sonoridade mais agressiva e com instrumentos considerados mais pesados.
A primeira vez que o termo “Heavy Metal” foi usado em uma música foi pela
banda Steppenwolf com sua canção “Born to be Wild” (Nascido para ser Selvagem),
(1968) onde se podia ouvir a expressão: Heavy Metal Thunder. Porém, o termo só
ganhou sentido quando a banda inglesa Black Sabbath surgiu, com suas letras que
expressavam a obscuridade e insatisfação da época em que viviam, na década de 1970.
Para os mais conservadores, a banda foi desprezada e marginalizada por ser
considerada satanista, mas para os jovens da época, era apenas uma nova forma de
expressão. Com seus “sons pesados” e cabelos compridos, serviu de inspiração para
outras bandas que a sucederam, entre as quais: Judas Priest, Motorhead, Iron Maiden.
Estas encontram entre outras que, a partir de suas criações, foram seguimentando o
31
Heavy Metal. Com suas ramificações, o Heavy Metal, passou a integrar, entre uma
vasta lista, uma dos “estilos” de Metal. Sendo assim, o que antes era o termo utilizado
para caracterizar um único estilo de música, passou a ser uma parte da própria
segmentação, tendo agora como denominador do estilo o termo “Metal”.
Diferentes das músicas de rock antecessoras ao Metal, que falavam de paz e amor
e harmonia entre os povos, essa nova segmentação falava sobre tempos medievais e
histórias de outras vidas.
É melhor do que uma coisa tipo „eu estava pela rua, la la lá,sabe? Os
tempos medievais eram pesados; era morte certa para a maioria das
pessoas. É essa a pegada do metal – é uma luta. (DAN BEEHLER
apud CHRISTE, 2010, p.93).
As bandas de Metal levavam essa temática não só para seus álbuns, mas também
para os palcos de shows.
“Eu comecei a inventar esses shows para grandes palcos logo depois
de ver uma apresentação de Alice Cooper pela primeira vez”, afirma
Dio. “No primeiro show que vi ele era enforcado. No segundo,
eletrocutado, e no terceiro, sua cabeça foi arrancada. Eu fiquei muito
empolgado por estar na platéia, porque isso tudo era mais do que eu
esperava. Não era só música, mas uma espécie de Disneylândia
(RONNIE JAMES DIO apud CHRISTE, 2010, p.95 ).
Mas para trazer vida às encenações no palco, as bandas de Metal devia arcar com os
pesados custos, e somente as vendagem de seus álbum não eram o suficiente. Com isso o
surgimento de vendas de suvenir nos shows começou. Eram:
(...) programas de shows, bandanas, camisetas pretas, sempre
presentes, com datas de tournê nas costas [...]e a aura de autenticidade
dos artefatos das bandas criaram o uniforme do heavy metal.[...]A
farta produção de camisetas das bandas era uma publicidade incrível,
responsável por levar a imagem do heavy metal das lojas de discos
para as ruas (CHRISTE, 2010, p.97 ).
32
Contudo, não só as camisetas pretas faziam parte desse uniforme do metal. Cintos
com taxinhas, luvas pretas e calças de couro ajudavam a complementar o visual dos
seus fãs, os
(...) denominados Headbangers (batedores de cabeça, em referência
ao ato de chacoalhar a cabeça para frente e para trás, gestos
característicos dos fãs ao escutar as músicas do gênero), a palavra
define a pessoa que se identifica com o gênero, um sinônimo para o
fã, podendo, também, referir-se às músicas do segmento. Não se aceita
o termo “metaleiro”, surgido fora da cena metal e, inicialmente, tende
sentido pejorativo ( LEMOS, 2010, p.2)
Com isso, os headbangers teriam não somente os álbuns de suas bandas favoritas,
como também, camisetas, bandanas, munhequeiras, xícaras para café e até mesmo
cervejas. A partir de um estilo musical, muitas bandas criavam um perfil próprio, uma
“identidade”, seus mascotes e suas ideologias que são passadas aos fãs, que por sua vez,
para sentirem-se um pouco mais perto de seus ídolos, compram o que lhe for oferecido.
Entre essas bandas, que criaram um alter ego, posicionado entre as três maiores
vendagens nos Estados Unidos, o Iron Maiden leva o conceito de autenticidade das
bandas a outro patamar. Com seu logotipo desenvolvido pelo próprio baixista da banda,
Steve Harris, o Iron Maiden adere uma nova imagem, o seu alter ego, o desenho de um
morto vivo, Eddie, que virou mascote da banda e estampa quase todos os objetos de
merchandising da banda. Eddie tornou-se parte da trama decorativa, como um Mickey
Mouse morto-vivo (CHRISTE, 2010).
Podemos concluir que, a partir do consumo de objetos específicos do Metal, com
um público-alvo diferenciado por seu gosto, esses fãs estariam dispostos a adquirir tais
objetos “para se sentirem mais perto dos seus ídolos através do seu material artístico,
shows, souvinirs etc., o que se constituiria em uma verdadeira adoração” (LEMOS,
2010, p.3).
33
Segundo o comentário de Christie (2010), a música representa mais do que uma
escolha de consumo, representa um estilo de vida pelo qual recebemos um gratificante
modo de expressar nossos sentimentos e o quão intenso pode ser um modo de vida ou
prazerosa uma opção pela música.
34
CAPÍTULO 2
FROM HERE TO ETERNITY
2.1 O mundo em torno do Rock e do Heavy Metal
2.1.1 Os primeiros passos
Podemos encontrar os primeiros rastros do rock´n´roll em meados anos 50, do
século XX. Após a Grande Depressão, o “America way of life” influenciava todos os
jovens americanos a se comportarem perante uma sociedade conservadora e, apesar do
rhythm and blues já existir, este era malvisto por essa sociedade, pois era um estilo
musical não só cantado por negros, mas também, criado por eles. O rhythm and blues ao
mesmo tempo em que falava de seus sofrimentos e da discriminação racial era
combinado com uma voz quase sempre rouca e por movimentos sexuais.
Após a Segunda Guerra Mundial, os jovens começam a questionar sobre o valor
da vida e sobre as regras da sociedade. Todavia, esse fato não era suficiente para que o
“America way of life” fosse totalmente desprezado. Assinalamos um fato importante
para que a decadência desse modelo de vida, a saber, a Guerra da Coréia:
(...) a incerteza parece ter aumentado e a vibração negra, sua voz grave
e rouca, sua sexualidade transparente e seu som pesado agora
alimentado pela guitarra elétrica, tudo isso parecia bem mais atrativo a
milhões de jovens (...) que pareciam procurar seu próprio estilo de
vida (CHACON, 1982, p. 25)
Apesar do rhythm and blues ter tido uma grande influência para a criação do
rock´n´roll, este sofreu influência tanto da música pop americana quanto do country,
35
música também americana e que falava do sofrimento dos pequenos camponeses do
país. Como se fora uma fusão de estilos, esse novo ramo musical, para não ser
reconhecido como o rhythm and blues na versão branca, precisaria de um nome
diferenciado, porém com a mesma magnitude. De acordo com Janotti Jr. (2003), Shuker
(1994) e Chacon (1982), o termo rock´n´roll representaria o ato sexual, este já era
reconhecido pelos cantores de blues nos anos 20.
O termo ficou diretamente relacionado com o estilo musical depois da
apresentação de um filme chamado “Rock around the clock” no qual havia uma música
de mesmo nome do grupo “Bill Haley and his Comets”, reconhecido como o primeiro
grupo de rock´n´roll da história. Contudo, Bill Haley ainda não representava tudo aquilo
que o rock propunha, “só um símbolo sexual, devidamente municiado pelos melhores
autores e “cantando e suando como um negro” poderia transformar aquele modismo
numa verdadeira revolução. E assim surgiu Elvis, the Pelvis” (CHACON, 1982, p.27).
Com um representante de peso, o rock ganhou território e expandiu fronteiras.
Apesar do reconhecimento da América como “mãe do rock´n´roll,” vertentes do mesmo
estilo surgiam no continente europeu, na Inglaterra, onde jovens operários de classe
média baixa tentavam expressar seus pensamentos sobre a vida, a miséria, amizade,
drogas e amor10
.
Nos dois continentes, americano e europeu, o que se viu foi que o rock´n´roll
representava uma tentativa de expor ao mundo os obstáculos que os jovens enfrentavam
na vida. Para essa sociedade conservadora, entretanto, representava uma forma de
rebeldia e de auto-afirmação.
10
O questionamento pelos jovens da década de 60, sobre os valores sociais tradicionais como a
indissolubilidade do casamento, o posicionamento político, o status quo, o consumismo alienado e
alienante da economia capitalista como cultura dominante, é reconhecido como o fenômeno social de
contracultura. (Houaiss, 2010; PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é contracultura. Editora
Brasiliense S.A., São Paulo, Brasil, 1986).
36
Com o passar dos anos, o rock´n´roll sofreu várias mutações. Citamos como
exemplo o LP dos Beatles “Sg. Peppers”, o qual ao invés de baladas rápidas e
românticas, anteriormente gravadas pelo grupo, agora apresentava canções bem
estruturadas que exigiam um maior conhecimento musical de seu ouvinte. Conforme
assinala Janotti Jr. (2003)
A partir de então, a denominação rock and roll ficou ligada aos traços
das músicas produzidas na década de 1950 e início dos anos 1960, que
eram faixas curtas e letras ligadas ao mundo adolescente. Hoje, o rock
and roll é reconhecido como um gênero musical que reproduz os se
refere aos primeiros passos do rock (JANOTTI JR, 2003, p.40).
O começo da Guerra do Vietnã, no ano de 1959, e que envolveu os Estados
Unidos e o Sudeste Asiático, entretanto, faria com que o rock tomasse outro rumo assim
como os pensamentos e crenças dos jovens.
Ao tocar o Hino Nacional dos Estados Unidos em sua guitarra, Jimi Hendrix dizia
não a Guerra do Vietnã e mudava o rumo do rock, que deixava de representar uma
simples rebeldia contra a sociedade para ser uma forma de expressão de pensamentos
politizados dos jovens. Esses buscavam, depois de tantas guerras, a harmonia na
sociedade e no mundo. Acreditavam que poderiam conscientizar as pessoas sobre os
problemas do mundo, bem como mostrar um caminho de amor e alegria através da
música. Surgia a então “Era de Aquário”11
.
Lá o movimento hippie cantou para o mundo o sonho californiano (...)
e que conduziria a uma mistura cristã-budista que seria responsável
por Jesus Christ superstar e Hair, chegaria ao seu ponto máximo de
coletivismo juvenil em Woodstock, em 1967 (CHACON, 1982 p. 34).
11
A “Era de Aquarius” se configurou para muitos jovens da década de 60, como um estilo de vida hippie,
com cabelos grandes, roupas coloridas, de tecido natural, e o uso de drogas. Também, uma “filosofia”
que pregava a paz e o amor e o “não à guerra do Vietnã” (Guerra, 2010).
37
Com o surgimento do PA (Public Address), “um complexo sistema de
amplificadores, auto-falantes e aparelhos sonoros, utilizados para gerar um som mais
potente e apurado nas apresentações ao vivo” (JANOTTI JR, 2003, p. 46), foi possível a
realização de uma variedade de shows de rock ao vivo chegando até aos festivais de
música. Esses fomentavam a idéia de coletividade dos jovens e a idéia de que estes
poderiam viver de uma maneira alternativa desagregada do capitalismo que consumia a
sociedade. “Dois festivais têm lugar privilegiado na mitologia rock: Woodstock, um
mito para o imaginário roqueiro, como referencia da celebração do ideal libertário (...)”
(JANOTTI JR, 2003, p.46).
Outro festival que se tornou um marco na história do rock foi realizado cinco
meses depois de Woodstock, a saber, o “Festival de Altamont”. Entretanto, esse festival
ficou marcado não por sua ideologia ou idéia de solidariedade. Durante a apresentação
da banda Rolling Stones um fã negro foi assassinado enquanto a banda apresentava a
música “Sympathy for the Devil”, este festival ficaria conhecido pelo fim dos sonhos
juvenis de amor e harmonia entre as pessoas.
Nesse sentido, consideramos que a década de 60 foi marcada por esses fatos e
pelas grandes gravadoras que não só assinavam um contrato com os artistas, mas
também influenciavam tanto na escolha das músicas quanto no modo de apresentação
dos cantores - o que deixava os fãs um pouco céticos em relação a essas gravadoras e
aos festivais em que seus artistas participavam. “A partir de então, uma parcela
importante de „integridade‟ roqueira ficou mais associada às escolhas sonoras, aos
modos de vestir herdados dos anos 60, do que ao nome da companhia com que os
músicos assinavam contrato (...)” (JANOTTI JR., 2003, p.47).
38
Com os avanços tecnológicos que possibilitavam a melhoria nas gravações de
estúdio, duas vertentes do rock acabaram por serem criadas: o rock progressivo e o
heavy metal.
Reconhecido como o “pai do heavy metal”, para alguns autores como Chacon
(1982), teríamos Jimi Hendrix:
Na década da marginalidade e do undergournd, Hendrix era o favorito
por ser negro e canhoto, o que lhe conferia uma aura especial que
recobria o talento, e criatividade e a técnica. [...] No clima de sua
morte e da separação dos Beatles, o Rock-pesado passou a ocupar
alguns espaços e a mostrar que também podia ser comercial
(CHACON, 1982. p. 40).
2.1.3 A consolidação do Heavy Metal
O surgimento propriamente dito do heavy metal continua sendo uma controvérsia
para muitos historiadores e músicos. Uma das teorias é que o termo “heavy metal”
estaria se referindo à “artilharia pesada,” às “pessoas com grande habilidade
física/mental e de componentes tóxicos presentes na tabela periódica” (JANOTTI JR.,
2004, p. 20).
O crítico da revista “Rolling Stones”, Lester Bangs, usou o termo para definir a
banda “Led Zeppelin”, porém, o baixista da banda “Black Sabbath” diz que a banda foi
a primeira a ser denominada com o termo referindo-se a um estilo musical. O fato é que
em boa parte da literatura encontraremos o termo heavy metal ligado a uma música de
nome “Born to be Wild” da banda Steppenwolf, que foi trilha sonora do filme “Easy
Rider”, em 1969.
O heavy metal estava presente na letra de “Born to be Wild”, escrito
pelo canadense Denis Edomonton/Mars Bonfire. Na verdade, se
referia a toda experiência de, você sabe, grandes motos correndo pelas
auto-estradas (Jonh Kay, vocalista da banda Steppenwolf, In DUNN,
2008).
39
O heavy metal tem suas raízes no rock and roll, e também destacava as angústias
da vida, dos jovens operários e o desejo que seguir a livremente suas escolhas, sem as
pressões da cultura dominante, nomeadamente, a cultura capitalista. Apesar de várias
bandas, com seus riff e distorções de guitarras já serem consideradas com os primórdios
do heavy metal, o crédito de todo estilo vai para a banda “Black Sabbath”.
Jovens operários que viviam em uma cidade pequena da Inglaterra juntaram-se
para formar uma banda onde pudessem expressar suas angústias. Porém, ao contrário do
rock da década de 60, a mensagem que passavam não era a de que “tudo ficaria bem
com muita paz e amor”. Essas bandas tinham letras que retratavam guerras, vícios e
violência em suas músicas. Além de todo o pragmatismo descrito em suas letras, o
grupo agregou uma linha demoníaca para a composição de suas músicas e shows,
transformando essa linha como uma das principais características do heavy metal.
Mas, porque a música da banda era considerada demoníaca?
Janotti Jr. Explica que
Figuras medievais evocadas pela indumentária e em tatuagens
desenhadas pelo corpo, sons pesados, barulhentos, com guitarras
distorcidas e vocais rasgados, uma riqueza de imagens calcadas em
monstros, teratológicas, crânios e outros elementos ligados à idéia
de escuridão fazem com que o heavy metal seja um estilo musical
frequentemente associado a noções caóticas e anárquicas
(JANOTTI JR., apud LIMA, PEREIRA, CORDEIRO, 2010, p. 23).
O produtor musical Bob Ezrin, no documentário “Global Metal” de Sam Dunn
(2008), entretanto tem outra explicação:
Na Idade Média, se identificava o tritão como a música do diabo
porque, aparentemente, era o som de quando se invocavam às Bestas.
Há algo sexual no som do tritão. Creio que na Idade Média se
assustavam, ignorantemente, quando ouviam algo assim e sentiam as
reações em seus corpos, pensavam: Lá vem o Diabo.
40
O primeiro trabalho exclusivamente heavy metal foi lançado em uma sexta-feira
13 de 1970, era o Lp da banda “Black Sabbath” com o mesmo nome. Esse álbum ficou
por meses nos primeiros 10 lugares nas paradas inglesas e, também, ficou muito bem
posicionado na América, apesar de que sua primeira turnê nos Estados Unidos ter sido
cancelada, pois os membros da banda eram vistos como desordeiros. Não só na
Inglaterra aconteceu um grande sucesso das músicas, mas o heavy metal passou a ser
divulgado por todo o mundo:
(...) na música do Asterix, Titanic (da Noruega), Lucifer´s Friend (da
Inglaterra e Alemanha), do pesado kraut dos roqueiros do Guru Guru,
do assustador May Blitz (também do selo Vertigo), do Master´s
Apprentices ( da Austália), Capitain Beyond (formado por membros
do Deep Purple e Iron Butterfly), Bang, do relativamente delicado
Armageddon, do grupo móbido do Texas, Bloodrock, do duradouro
Bodgie e do Necromandus, prodruzida por Tony Iommi (CHRISTE,
2010, p.27)
2.2 Iron Maiden, um pouco de história
Na década de 70, uma nova forma de música estava fazendo sucesso na Inglaterra:
o punk. Esse estilo era constituído por músicos de aparência desleixada, cheios de
atitudes contra o sistema capitalismo. Três pessoas eram necessárias para pode formar
uma banda punk, e não, necessariamente, precisava saber tocar instrumentos musicais
com perfeição. O lema seguido por esse estilo musical era “do it yourself”, ou “faça
você mesmo”. Com o surgimento desse movimento, o pouco de apoio que o heavy
metal possuía das gravadoras sumiu, pois estas queriam contratar somente os grupos de
música punk, considerado lucro certo, na época. Felizmente, esse fato ajudou as banda
de heavy metal da Inglaterra a criarem aquilo, que posteriormente, seria chamado de
“New Wave of British Metal”.
41
„Novo‟ em NWOBHM geralmente queria dizer sem experiência,
ainda que houvesse pouco amadorismo em jogo com o Iron Maiden.
Eles habilmente sintetizavam as camadas góticas do Judas Priest com
o perigo iminente do punk rock – uma combinação impressionante e
letal. Vestindo camiseta preta, cinto e munhequeira cravados de tachas
prateadas, o vocalista Paul Di´Anno, um skinhead regenerado,
comandava os clubes com uma pegada Tom Jones, enrolando o cabo
do microfone na mão e estendendo o dedo mínimo com evidente
autoridade. O Iron Maiden parecia tocar dez vezes mais notas que
qualquer outra banda, e sua estonteante abordagem compositiva
elevaria a musicalidade do heavy metal por décadas (CHRISTIE,
2010, p 51).
Lugares como “The Soundhouse, Musica Machine, The Marquee e The
Bandwagon. Todos eram trampolins para o consagrado Hammersmith Odeon, a meca
das casa de shows (...)” (CRISTIE, 2010 p. 50). Com o afastamento das gravadoras, as
bandas de heavy metal passaram a fazer os seus próprios selos.
O LP lançado de modo independente chamado The Soudhouse Tapes, alcançou o
número um em pedidos nas rádios britânicas, antes mesmo do lançamento oficial. Nele
havia três músicas do Iron Maiden; “Iron Maiden”, “Invasion” e “Prowler”.
O Iron Maiden foi logo muito bem acolhido pelo país, pois o grupo cantava as
ruas de Londres e as histórias sobre a Inglaterra. Para incrementar o seu espetáculo o
grupo começou a usar alguns truques no palco, como máquinas de gelo seco e objetos
cênicos feitos em casa. Em 1980, a banda tocou ao vivo em um programa pop, “Top of
the pops”, pois já alcançavam o número um nas paradas britânicas, apesar de problemas
com os produtores do show, já que normalmente as bandas que tocavam no show
usavam playback. No mesmo ano o grupo lançou o álbum Iron Maiden.
No ano de 1983, o Iron Maiden se encaminhava para o outro lado do oceano - os
Estados Unidos. Lá, a banda lançou seus álbum “Number of the Beast” e “ Piece of
Mind” e, por lá, conquistaram o disco de ouro nas vendagens.
Primeiramente, o Iron Maiden viajou em turnê com Judas Priest em
1981 e apresentou-se para um público de 8 mil pessoas que haviam
esgotado os ingressos. Em meados de 1983, o Iron Maiden retornou
42
como banda principal com o gigantesco show Piece of Mind,
contando com projeções de cenas da Segunda Guerra e cirurgias
neurológicas de mentira feitas em um zumbi de dois metros e meios
de altura (CHRISTE, 2010, p.95).
Com o passar do tempo o público da banda aumentou e, então, suas músicas
tiveram um alcance global. A próxima turnê 1985, promovendo o álbum “Powerslave”
passando por 25 países. A superprodução dos shows de heavy metal ficava por conta da
banda e dos produtores, porém, do outro lado do palco encontravam-se os headbangers.
Fãs do estilo de metal que acompanhavam fervorosamente os seus ídolos em shows e
compravam os seus discos e para se caracterizarem como fãs do metal decidiram criar
seu próprio estilo de se vestir. Inspirados por seus ídolos, estes vestiam calças apertadas
de couro, bandanas, blusas pretas e sapatos, normalmente botas pretas. Vendo essa nova
tendência de consumo, as bandas começavam a investir em produtos com o nome do
grupo.
A farta produção de camisetas das bandas era uma publicidade
incrível, repsonsável por levar a imagem do heavy metal das lojas de
discos pára as ruas. Lider em design, o Iron Maiden já figurava entre
os três grupos que mais vendiam produtos nos Estados Unidos
(CHRISTE, 2010 p. 97).
O próprio logo da banda foi criado pelo baixista Steve Harris e posteriormente se
juntaria à banda, o Eddie, o mascote. Inspirado no movimento punk Eddie foi criado
para figurar a juventude transviada. Depois que Steve Harris conheceu tal personagem
pediu para o seu criador, Derek Riggs, pintar um pouco mais de cabelos e dar uma
atitude um pouco mais de heavy metal, e assim, adotou o monstro como mascote da
banda. “Eddie faz cerca de 12 aparições e se tornou um mascote para todos os fins, um
símbolo imortal de boa sorte para o duradouro Iron Maiden” (CHRISTIE, 2010, p. 99).
43
Esse mascote foi tido como o primeiro mascote de bandas de heavy metal, e que
serviu de inspiração para várias outras bandas adotarem “alguém” que servisse como
alter ego da banda.
Em uma de suas grandes turnês o Iron Maiden passa pela primeira vez ao Brasil,
em 1985, em um festival chamado Rock In Rio, um festival voltado para o rock e com
um dia especial para o heavy metal. Depois dessa “visita”, o Iron Maiden fez muitas
outras, as mais recentes, das turnês “Somewhere Back In Time”, em 2008 e 2009, e
“The Final Frontier”, em 2011.
2.2.1 Heavy Metal no Brasil
No Brasil, em 1970, haviam várias bandas influenciadas pelo rock estrangeiro,
entre elas, algumas exploravam a sonoridade mais pesada. Porém, foi uma banda fora
do eixo Rio-São Paulo que ganhou destaque no estilo do heavy metal. A banda “Strees”
era paraense e, em 1982, lançou o primeiro disco de heavy metal brasileiro. As letras
eram compostas em português, mas eram mal vistas para aqueles que achavam que um
bom heavy metal deveria ser cantado em inglês. Sendo assim, a aparecimento da banda
“Karisma” marcou a história da música brasileira como a primeira banda de heavy metal
a gravar em inglês. “No Rio de Janeiro a cena metálica produziu na década de 1980,
bandas como Dorsal Atlântica, Metalmorphose e Azul Limão” (JANOTTI JR, 2004,
p.38).
Em 1985, um festival ganhou notoriedade não só no Brasil, mas em todos os
países da América do Sul, o Rock In Rio. Um marco para o rock e o heavy metal na
história da música no Brasil, esse festival trouxe várias atrações internacionais e
44
dedicava um dia do festival ao estilo heavy metal. Seria a primeira vez que esse estilo
musical ganhava espaço na TV brasileira.
A primeira banda brasileira a alcançar notoriedade internacional foi a “Dorsal
Atlântica”. Contudo, a banda que se tornou referência ao metal brasileiro foi a banda
“Sepultura”. “[...] os músicos do Sepultura passaram a ser ídolos absolutos dos
headbangers nacionais. A apresentação no Rock In Rio II é um marco na história do
metal nacional” (JANOTTI JR., 2010 p. 42).
Depois do lançamento de dois álbuns e sua consolidação no mercado da música, a
banda resolve voltar a suas raízes e fazer um álbum misturando o heavy metal e
sonoridades brasileiras, chegando até a fazer uma gravação com índios xavantes. Porém,
esse álbum foi mal visto pelos fãs conservadores do metal.
Atualmente, várias outras bandas brasileiras são reconhecidas mundialmente
como: “Angra”, “Shaman”, “Krisium” etc. “Hoje, o público e o mercado de heavy metal
brasileiro são reconhecidos internacionalmente como grandes centros de consumo do
rock pesado” (JANOTTI JR., 2004 p 45).
2.2.2 Heavy Metal em Fortaleza
Na cidade de Fortaleza, em meados anos 1980, o heavy metal chegou aos poucos.
Não haviam lojas voltadas para o estilo ou casas de shows para a apresentação de
bandas. A maneira de se reunir com alguns outros fãs era ir à loja “Francinete Discos”,
uma loja onde se vendiam vinil importado, normalmente trazidos da cidade de São
Paulo. A espera era longa e, a chegada de algum disco novo era um acontecimento que
conseguia reunir quase todos os headbangers de Fortaleza.
45
Mas havia também um lugar onde esses grupos se reuniam, na Praça do Ferreira.
Era realizada uma festa na Praça, quando aconteciam apresentações de MPB, estilo que
mais se aproximava os gosto dos fãs, ou que era aceitável ouvir enquanto conversavam.
Pela discriminação e pelo próprio estilo, os fãs de Fortaleza eram em sua maioria
homens marginalizados da sociedade por usarem suas roupas pretas e calças rasgadas
mesclado com seus cabelos grandes e suas atitudes contra a sociedade de cultura
dominante. Some-se a esse dado o fato de que as roupas disponíveis para venda de
banda de heavy metal que existiam na cidade eram somente masculinas.
Tempo depois um rapaz chamado Tony, criou sua própria loja voltada ao estilo,
logo, ele se mudou para o centro, para a Galeria Pedro Jorge12
, o que depois, viria a ser
a maior concentração de lojas de rock e heavy metal da cidade de Fortaleza.
Já nos final dos anos 1990, foi criado na cidade a Associação Cearense do Rock
(ACR). A ACR é uma associação totalmente voltada para divulgação do rock na cidade,
através de shows e de ações sociais.
O evento promovido pela associação ACR mais conhecido é o FORCAOS, evento
que acontece no mesmo período do conhecido FORTAL, evento feito para a
comemoração do carnaval fora de época da cidade, visto como uma alternativa para os
fãs do rock. Além deste evento, também temos o Rock Cordel com o apoio do Banco do
Nordeste e a seletiva de bandas nacionais para tocar no WACKEN OPEN AIR, um
evento alemão que ocorre por uma semana interminável de heavy metal.
Além dos referidos festivais temos o Ponto.Ce, voltado para estilos mais
alternativos do rock; o Panela Rock, festival feito com bandas independentes locais e
nacionais; o Ceara in Rock, evento que dá oportunidade a bandas independentes locais e
12
Galeria Pedro Jorge é uma galeria onde se encontram lojas voltadas para o estilo “rock”. Essa Galeria é
a maior concentração de lojas desse estilo no Nordeste. Serve como ponto de referencia e lugar de
encontros para todos os fãs do estilo.
46
traz atrações internacionais; além de vários outros shows internacionais promovidos
por produtores de outras cidades.
No quesito imprensa, o heavy metal conta com algum espaço na cidade de
Fortaleza, apesar de existir programas voltados para esse estilo musical, estes ainda são
poucos divulgados. Temos a Tv União, Tv Diário, Tv Cidade e Tv Cultura, com
programa local, sobre heavy metal. Além da TV, temos no rádio, a Rádio Cidade e a
Rádio Mix com espaços voltados ao rock. Houve também a Rádio Kiss FM, porém esta
fechou pouco tempo depois de sua inauguração na cidade de Fortaleza. “Porém os
espaços destinados a shows abrem e fecham com velocidade igualmente rápida, de
modo sazonal” (Benevides in Damasceno 2008, p.175).
As casas de show em Fortaleza não se multiplicaram, apenas foram sendo
substituídas por outras, pois antigamente tínhamos: Clube América, Metrópole, o Canto
das Tribos, o Bar Hey Ho, a barraca de praia Biruta, Arena e o Oasis. Agora, aberto para
esse tipo de espetáculo temos: Orbita Bar, The Pub, a barraca Garota de Ipanema, Santa
Cruz, Maria Bonita e Siara Hall.
Podemos considerar os fãs de heavy metal uns aficcionados que fariam de tudo
por sua banda do coração. Uma prova disso foi a campanha iniciada em 2008, para que
banda Iron Maiden trouxesse o show para a cidade. A banda iria tocar em 6 cidades
brasileiras, sendo elas: Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasilia e
Recife.
Os fãs fizeram uma comunidade no Orkut, que de um dia para outro tinha mais
de quatro mil pessoas, divulgação por email e outras redes sociais, adesivos para carros,
pôsteres e flyers. Além de divulgarem em jornal através de entrevistas concedidas pelos
organizadores. Apesar de todos esses esforços, a banda se apresentou apenas na cidade
de Recife, Pernabuco, pois os produtores que iriam trazer o grupo acharam mais
47
conveniente realizá-lo nessa cidade. O que não desanimou os fãs que se organizaram em
caravanas e compareceram ao show.
Com o início da campanha para o Iron Maiden tocar na cidade, um fã da cidade
criou um blog chamado “Iron Maiden Brasil Notícias”, www.ironmaidenbrasil.com.br,
que é voltado especialmente para assuntos sobre a banda e seus integrantes. Após quase
quatro anos, o site já teve mais de meio milhão de acessos, já fez entrevistas com ex-
integrantes da banda, com o atual vocalista da banda no ano de 2011, e já transmitiu ao
vivo, através de internet (twitter, www.twitter.com/IMBnoticias) os shows que a banda
realizou no começo de 2011. Agora o site possui seis membros na equipe, sendo três de
Fortaleza, uma rádio, um podcast, um chat em sua página e um videocast. O site é
acessado mundialmente, com visitas da Argentina ao Japão.
48
CAPÍTULO 3
CHILDREN OF THE BEAST
3.1 Pesquisa com os fãs
A pesquisa foi realizada com jovens residentes na cidade de Fortaleza, no período
de dois meses, dividida em duas etapas: pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa.
Com a finalidade de formular um perfil do fã da banda, os diálogos travados entre o
interlocutor e entrevistados foram diretamente focadas em questões relacionadas à
banda e ao consumo de produtos do grupo musical Iron Maiden.
3.1.1 Pesquisa Quantitativa
Com o objetivo de configurar um perfil dos fãs da banda Iron Maiden que residem
na cidade de Fortaleza, foi realizado um questionário fechado que seria aplicado
diretamente a esses fãs no dia anterior ao show do grupo, que aconteceu no dia 2 de
abril de 2011, na cidade de Recife, Pernambuco.
Entre as pessoas que participaram dessa etapa da pesquisa, encontravam-se
homens e mulheres na faixa etária entre 18 anos até os 40 anos, de diferentes classes
sociais e moradores de variados bairros da cidade de Fortaleza. Todos os entrevistados
eram participantes de caravanas que saíram da cidade de Fortaleza em direção a cidade
de Recife, local do show do grupo. O grupo de participantes da pesquisa estava dividido
em quatro caravanas, a saber, a “Caravana da Galeria”, saindo da Praça do Liceu;
“Caravana do Gallery Produção” e “Caravana do Fernando”, saindo da Praça do
49
Ferreira; “Caravana da Viagem.com” com saída da Praça do Colégio Militar, em um
total de 125 questionários que deveriam ser aplicados.
Desse modo, o material usado nessa primeira parte foi o questionário com
perguntas fechadas. Este objetivava verificar o perfil dos fãs com perguntas que
incluíam os aspectos sócio-econômicos e treze variadas sobre o consumo de objetos da
banda, o show, e qual era em média o investimento no consumo desses materiais.
O grupo ao qual foi aplicado o questionário era formado por homens e mulheres
de diferentes classes sociais e moradores de variados bairros da cidade de Fortaleza. A
faixa etária dos participantes variava entre 18 a 40 anos.
O questionário foi impresso em uma folha de A4, frente e verso. No topo da folha
estava a apresentação da pessoa que aplicaria o questionário. Em seguida estariam as
perguntas do Critério de Classificação Econômica do Brasil. As duas primeiras questões
procuram investigar o tipo de objeto sobre a banda o entrevistado possui, se é um
produto original ou “pirata”13
. Seguido de quatro questões sobre shows que o
entrevistado teria ou não assistido.
Logo, duas questões sobre os fãs clubes e se o entrevistado participaria; também,
se o entrevistado já efetuou alguma compra no site oficial da banda14
e se possui alguma
tatuagem da banda, já que esta é a imagem tida do fã de heavy metal de acordo com os
estereótipos que são divulgados na mídia . As três últimas perguntas investigam sobre
qual a relação com a banda no cotidiano do fã: quanto investe por ano na compra de
materiais da banda, se presenteia alguém com produtos do grupo e sobre os lugares em
que costuma usar as blusas da banda. Por fim, foram listados alguns produtos da banda
e foi pedido para que a pessoa divulgasse a quantidade de objetos adquiridos.
13
A palavra “pirata” é usada em referência ao produto, por exemplo, livro, disco, vídeo, que é copiado ou
plagiado de uma obra, com infração à lei sobre a propriedade artística ou intelectual. Houaiss. (2010).
14
http://www.ironmaiden.com é o endereço do site oficial da banda, criado em 1998.
50
Este questionário foi aplicado no dia 2 de abril de 2011, um dia antes do show
que a banda realizaria na cidade de Recife. A aplicação foi dividida em quatro partes,
nas respectivas caravanas divididas em quatro ônibus, e teve seu início no horário de
cinco horas da tarde, ainda na cidade de Fortaleza.
A primeira aplicação do questionário foi realizada na Praça do Liceu, na
“Caravana da Galeria”, as primeiras pessoas foram muito solícitas e disseram ser um
bom “passa-tempo” responder à pesquisa enquanto esperavam pelo horário de partida
do ônibus. No andamento das aplicações, começou a chover o que interrompeu por um
breve momento a aplicação do questionário. Depois de duas horas, o número de pessoas
na praça havia triplicado o que criou certa dificuldade, pois era só uma pessoa fazendo a
aplicação do questionário. Algumas pessoas se reservaram ao direito de não responder
ao questionário na parte do critério econômico, e muitas outras pessoas disseram ser
complicada a compreensão de tal questionário, o que veio a se tornar tanto um obstáculo
no preenchimento do questionário quanto na leitura dos dados obtidos, pois algumas
perguntas deixaram de ser respondidas, conforme observado no resultado apresentado.
Terminada a aplicação do questionário na Praça do Liceu, às oito horas da noite, o
próximo local seria a Praça do Ferreira, onde se encontravam as “Caravana da “Gallery
Production” e “Caravana do Fernando”. Em média, foram coletados 30 questionários.
Ressaltamos que uma das caravanas, a saber, a “Caravana do Fernando” saiu antes do
tempo previsto, impossibilitando a aplicação do questionário em todos os membros da
caravana. Por fim, às nove horas da noite, o questionário foi aplicado aos membros da
“Caravana da Viagem.com”. Foram coletados, em média, 20 questionários. Desses
quatro grupos, apenas duas pessoas se recusam a participar da pesquisa, porém não
quiseram esclarecer o motivo, apenas não se mostraram interessadas em responder às
perguntas, outras não o fizeram por serem analfabetas.
51
Resultados
Passaremos à análise dos resultados dos dados obtidos após a realização da
aplicação dos questionários. No total de 125 questionários respondidos obtivemos o
seguinte resultado: no quesito gênero, encontramos o resultado de 100 homens, no total
de 80%, e 25 mulheres, no total de 20%.
A faixa etária é dividida entre 18 anos até 40 anos. Encontramos a maior
porcentagem concentrada entra a faixa etária de 18 a 25 anos, com a porcentagem de
53,7% e a menor porcentagem fica entre a faixa etária de 36 a 40 anos.
Frequencia Porcentagem Porcentagem Valida
Valido HOMEM 100 80,0 80,0
MULHER 25 20,0 20,0
Total 125 100,0 100,0
Tabela 2: Faixa etária
Freqüência Porcentagem Porcentagem Válida
Valido 18-25 66 52,8 53,7
26-30 39 31,2 31,7
31-35 12 9,6 9,8
36-40 6 4,8 4,9
Total 123 98,4 100,0
Não Respondeu 2 1,6
No quesito da classe social encontramos como maior porcentagem a classe
B2, com 30,9%, e de menor a classe A2, com 4,3%. Ao cruzarmos os dados de
classe social e faixa etária, encontramos o perfil de maior porcentagem que é o da
52
classe B2, faixa etária de 18 a 25 anos, com 17,4%. Conforme visualizamos na
tabela de número 3.
Tabela 3: Idade x Classe Social
CLASSE SOCIAL
TotalA2 B1 B2 C1 C2 D
IDADE 18-25 Valido 3 7 16 9 8 2 45
%
Total
3,3% 7,6% 17,4% 9,8% 8,7% 2,2% 48,9%
26-30 Valido 1 3 10 10 6 2 32
%
Total
1,1% 3,3% 10,9% 10,9% 6,5% 2,2% 34,8%
31-35 Valido 0 4 1 3 1 1 10
% Total ,0% 4,3% 1,1% 3,3% 1,1% 1,1% 10,9%
36-40 Valido 0 1 2 1 1 0 5
% Total ,0% 1,1% 2,2% 1,1% 1,1% ,0% 5,4%
OBS: Não respondeu ao quesito “classe social” o total de 31 pessoas, ou seja, 24,8%.
Dentre as pessoas entrevistadas, encontramos o total de 78,4% fãs que compram
produtos originais da banda, contra 21,6% de pessoas que não o fazem. Em relação aos
“produtos piratas”15
, podemos verificar que 58,8% compram “produtos piratas” contra
41,2% que só compram produtos originais. Entre as pessoas que compram produtos
originais, os homens se encontram entre os maiores compradores com 65,5% e as
mulheres com 12,8%. E podemos observar resultado semelhante em relação aos
“produtos piratas” sendo mais uma vez os homens como maiores compradores com
48,2% e as mulheres com 10,5%, conforme o resultado da tabela 3.
15
De acordo com o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delito contra a Propriedade Intelectual ,
a pirataria se constitui em uma violação aos direitos autorais, conforme as Leis nº 9.609 e 9.610, (19 de
fevereiro de 1998).
53
Tabela 4: Sexo x Produto Original
PRODUTO ORIGIAL
TotalSIM NÃO
SEXO HOMEM Valido 82 18 100
% Total 65,6% 14,4% 80,0%
MULHER Valido 16 9 25
% Total 12,8% 7,2% 20,0%
Tabela 5: Sexo x “Produto Pirata”
“PRODUTO PIRATA”
TotalSIM NÃO
SEXO HOMEM Valido 55 40 95
% Total 48,2% 35,1% 83,3%
MULHER Valido 12 7 19
% Total 10,5% 6,1% 16,7%
Entre as classes sociais, a classe que mais consome ambos os produtos, original e
“pirata” é a classe B2 com 23,4% e 17,6%, respectivamente. Em relação a qual tipo de
produto é mais consumido pelos fãs, temos o produto original com 78,4% contra 58,8%
de pessoas que compram “produtos piratas”. E os produtos mais consumidos entre os
originais e “piratas” são:
Cd´s originais com 61,6%, como mostrado na tabela 5.
Frequência Porcentagem Porcentagem Válida
Válida 48 38,4 38,4
CD 77 61,6 61,6
DVD´s “piratas” com 34,4%, vide tabela 6.
Frequência Porcentagem
Porcentagem
Válida
Válida 82 65,6 65,6
DVD 43 34,4 34,4
Total 125 100,0 100,0
54
Continuando com a análise de compras efetuadas pelos fãs, encontramos 4,2% de
pessoas que já efetuaram alguma compra pelo site oficial da banda, sendo a blusa o
objeto mais comprado com 2,4% do total e tendo como a classe que mais efetuou
compras a classe C1.
Tabela 7: Compras pelo Site
Frequência Porcentagem
Porcentagem
Válida
Válida SIM 5 4,0 4,2
NAO 115 92,0 95,8
Total 120 96,0 100,0
Total 125 100,0
Tabela 8: Objetos Comprados
Frequência Porcentagem
Porcentagem
Válida
Válida 122 97,6 97,6
BLUSA 3 2,4 2,4
Total 125 100,0 100,0
CLASSE SOCIAL * COMPROU NO SITE
COMPROU NO SITE
TotalSIM NÃO
C1 Válido 2 19 21
% Total 2,2% 20,9% 23,1%
Total Valido 4 87 91
% Total 4,4% 95,6% 100,0%
Com relação aos shows, 47,5% dos entrevistados já haviam ido a algum show do
grupo, tendo como o Nordeste a região mais freqüentada por esses entrevistados.
Obtivemos em relação ao público da banda o seguinte resultado: o público do sexo
masculino com maior porcentagem de presença em shows, 80,5%, e o setor mais
freqüentado por esses fãs, nomeadamente, a pista comum com 69,2% de público.
Quando perguntados sobre a faixa de preço investida para poder realizar a viagem
na caravana, do dia 3 de abril de 2011, para ir ao show do Iron Maiden na cidade de
55
Recife (PE), a média de preço ficou entre R$ 400,00 reais a R$ 600,00 reais com 45%
das respostas.
Quando perguntados se faziam parte de algum fã clube, somente 6,4%
responderam fazer parte do fã clube oficial da banda, quando 18,4% marcaram ser parte
de algum fã clube não oficial, tento o fã clube IMB16
como o mais apontado com 4,8%.
Outra questão abordada foi se os entrevistados teriam tatuagens que referissem à
banda. Desses entrevistados, 91,7% assinalou a resposta negativa. Os que assinalaram a
resposta positiva, a saber, 8,3%, disseram que possuem de 1 a 3 tatuagens e investiram
em média de R$ 100,00 reais a R$ 300,00 reais, totalizando 55,6% das respostas. O
sexo que mais possui tatuagem são as pessoas do sexo masculino com 97% das
respostas.
A temática mais abordada é a referencia a CD´s da banda, 1,6%. Perguntado sobre
se os entrevistados compravam algum tipo de produto da banda para poder presentear
alguém, 36,7% respondeu que sim. As pessoas mais presenteadas são os irmãos e
amigos com 8% das respostas em relação às outras pessoas. Verificou-se também que o
gênero masculino é o que mais presenteia com produtos da banda.
São também as pessoas do sexo masculino, 50%, da classe B2, 20,8%, as que
mais usam as roupas da banda no dia-a-dia, dos quais 61,8% encontram-se na faixa
etária de 18 a 25 anos, ou seja, 32%.
16
O fã clube IMB na realidade é um site onde são postadas notícias sobre a banda Iron Maiden,
porém conta com a participação não só dos membros da equipe de organizadores do referido site, mas
também dos fãs dessa banda que enviam matérias e sugestões para a melhoria do site. O site foi criado
em 2008, e hoje é considerado um dos maiores sites de notícias sobre o Iron Maiden do Brasil, e é
sediado na cidade de Fortaleza. O endereço é http://www.ironmaidenbrasil.com.br
56
Finalmente, foi perguntado quando se investe por ano no consumo de produtos
que possuem relação com a banda. 83,8% das pessoas que responderam ao questionário
afirmaram que investem entre R$ 200,00 a R$ 400,00 reais por ano. Entre essas pessoas
o perfil de maior porcentagem foi: Sexo masculino, classe B2 entre a faixa etária de 18
a 25 anos. No quesito objeto consumido, os que são mais constantes nas coleções dos
entrevistados são: Cd´s com 83,4%; blusas, 65,6%; DVD, 59,2%.
Discussão
No início desta pesquisa foi imaginado qual seria o perfil do fã da banda Iron
Maiden. Não só devido ao ano de criação da banda, 1975, mas também devido ao
estereótipo com o qual se pretende classificar fãs de rock e heavy metal. Seguindo essa
linha de raciocínio, imaginamos encontrar fãs do sexo masculino cuja faixa etária se
encontraria entre 25 a 35 anos e que estaria inserido na classe B1. Porém, aprendemos
com a aplicação dos questionários que o perfil desse fã é: sexo masculino, na faixa
etária de 18 a 25 anos e que encontra inserido na classe B2.
Outro quesito que mostrou resultado contrário ao pensado antes da aplicação do
questionário, seria que esse fã, em sua maioria, possuiria tatuagem que de algum modo
fosse referida à banda, porém, constatamos que a maioria dos fãs não possui tatuagem.
Esses fãs fazem coleções de quase todos os objetos referentes à banda, possuem
objetos como bonecos, chaveiros, calendário, pôster, boné, caneca e outros. Também, a
maioria possui uma coleção de cd´s, dvd´s e blusas, mas, outra vez, ao contrário do
imaginado, eles não se restringem aos objetos originais. De acordo com os dados
obtidos, a porcentagem de compra de objetos originais quase se iguala a porcentagem de
compra dos objetos piratas.
57
Quanto à freqüência aos shows, observou-se que a média é de R$ 400,00 reais a
R$ 600,00 reais. Esse valor foi desembolsado para a viagem na caravana em direção à
cidade de Recife (PE). Para os participantes que já haviam assistido a algum outro show
da banda, a região do Nordeste foi a mais assinalada. Embora alguns tenham responsido
que assistiram aos shows na região Sudeste.
O fã que participou da aplicação do questionário, em sua maioria, investe em
média R$200,00 reais ao ano com produtos da banda, tanto para suas coleções como
para presentear outras pessoas. Ressaltamos que a maioria dos fãs que residem em
Fortaleza não faz parte do fã clube oficial, a saber, Iron Maiden Official Website, ou de
qualquer outro fã clube. A alegação mais comum é a de que a mensalidade é alta ou de
que há escassez de fã clubes não oficiais na cidade de Fortaleza.
3.1.2 Pesquisa Qualitativa
A segunda parte da pesquisa, a pesquisa qualitativa, tem como objetivo
implementar as questões da primeira etapa. Trata-se de um questionário que pretende
ser mais subjetivo e que, portanto, daria a oportunidade para que esses fãs se expressem
de uma forma mais intimista. Desse modo, pretendíamos construir um desenho que nos
revelasse alguns dados para configurar o perfil do fã da banda Iron Maiden na cidade de
Fortaleza.
Novamente, a pesquisa foi realizada com os fãs do grupo Iron Maiden residentes
da cidade de Fortaleza cuja faixa etária estaria entre 18 a 30 anos, moradores de
variados bairros da cidade. Como indicativo para inclusão na pesquisa encontram-se os
fãs que assistiram ao menos uma vez ao show da referida banda e que também são
colecionadores de objetos, entre os quais, blusa, cd, DVD e pôster.
Perfil dos consumidores de produtos da banda iron maiden na cidade de fortaleza renata b. l lima
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  • 1. 1 RENATA BARBOSA LIMA DE LIMA PERFIL DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS DA BANDA IRON MAIDEN NA CIDADE DE FORTALEZA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel, sob a orientação da Professora Drª Carmem Luisa C. Cavalcante. FORTALEZA 2011
  • 2. 2 FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA ENSINANDO E APRENDENDO TERMO DE APROVAÇÃO PERFIL DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS DA BANDA IRON MAIDEN NA CIDADE DE FORTALEZA Por RENATA BARNOSA LIMA DE LIMA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em _____ de _____________ de 20_____, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em PUBLICIDADE E PROPAGANDA da Universidade de Fortaleza, tendo sido aprovada pela Banca Examinadora composta pelos professores: BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Profa. Dra. Carmen Luisa C. Cavalcante Orientadora ______________________________________________________ Profa. Ms Marília Romero Campos Examinador ______________________________________________________ Profa. Dra. Maria Auxiliadora Gadelha da Cruz Examinador FORTALEZA 2011
  • 3. 3 Em memória de Ronnie James Dio 1942 - 2010 I am everybody And everyone that I know is me Everyone that I know won't see I could have been a dreamer I could have been a shooting star I could have been a dreamer. -I could have been a dreamer- Eu sou todos E todos que eu conheço, sou eu Todo mundo que eu conheço, não verá que Eu poderia ter sido um sonhador Eu poderia ter sido uma estrela cadente Eu poderia ter sido um sonhador
  • 4. 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais, José Alves e Idenilza Lima, por nunca duvidarem do meu potencial e por me ajudarem em todas as dificuldades que tive a minha frente. Por terem me dado o bem mais precioso da vida que é a dádiva da educação. Ao meu irmão, José Alves Jr., por ser quem ele é e por correr atrás dos sonhos e por ter me dado uma sobrinha, Ana Cecília, que me faz apreciar muito mais a dádiva da vida e que sempre me passa força e alegria nos momentos de necessidade. A minha orientadora, Carmen Luisa, carinhosamente conhecida como Kalu. Obrigada por acreditar no meu projeto e, logo após, no meu trabalho, por ter acreditado na minha capacidade, e mais que tudo, por ter sido um modelo de pessoa e profissional desde o momento que lhe conheci na sala de Semiótica em 2008. Aos meus amigos que sempre estiveram ao meu lado não importando a situação. Ao Thiago Souza, por ter ficado ao meu lado e acreditando sempre em minha pessoa. A Natália Évila, por ser uma das pessoas mais dignas que tenho ao meu lado. A Luana Araujo, que apesar da distância, sempre me recebe de braços abertos e com um sorriso no rosto. A Priscila Ponte, por ter se tornado uma grande pessoa na minha vida. E a Wânyffer Araujo, por ter embarcado na vida acadêmica e na minha vida há cinco anos e por ser uma ótima amiga. A todos os fãs do Iron Maiden por me fazerem sentir acolhida não importando a geografia do mundo. Sempre compartilhando o mesmo amor pela banda e pelo Heavy Metal. Em especial a todos do blog/site IronMaidenBrasilNoticias.com.br. Ao Iron Maiden por toda a força que transmite nas músicas e shows e por ser o motivo desse trabalho. E por ser uma parte tão ativa na minha vida. E por fim, ao Carlos Drummond de Andrade e tantos outros poetas que sempre me confortaram e ajudaram através dos tempos em minha vida acadêmica. Também a Christina Aguilera por sua voz que sempre me confortou.
  • 5. 5 RESUMO Título: Perfil dos consumidores de produtos da Banda Iron Maiden na cidade de Fortaleza Autora: Renata Barbosa Lima de Lima Orient: Profª Drª Carmen Luisa C. Cavalcante RESUMO O trabalho ora apresentado tem o objetivo de explorar os hábitos de consumo dos fãs da banda Iron Maiden que residem na cidade de Fortaleza. Com essa proposta foi realizada uma pesquisa tanto bibliográfica quanto de campo, quantitativa e qualitativa. Da pesquisa bibliográfica destacamos aspectos relevantes da história sobre a sociedade de consumo e sobre o rock e o heavy metal. Através de uma pesquisa de campo, de caráter quantitativo, aplicamos questionários em quatro caravanas que saíram da cidade de Fortaleza, no dia 02 de abril de 2011, para a cidade de Recife, onde aconteceria o show da banda, no dia seguinte. Quanto à pesquisa de campo de caráter qualitativo, realizamos um grupo focal onde se encontravam pessoas de ambos os sexos, entre 14 e 30 anos, cujo critério de inclusão é possuir produtos da banda e ter assistido a pelo menos um show do Iron Maiden. Nessa perspectiva, tentamos traçar um perfil desse fã, procurando aprofundar as questões que traçassem um perfil do fã do Iron Maiden, bem como tentar explicar as motivações que o levam a consumir os produtos da banda e sua convivência quanto nicho nesse universo tão vasto que é o heavy metal. Concluímos que o orçamento influencia na quantidade e na qualidade do produto consumido, que ocorre maximização na satisfação do fã no consumo do produto, independente der ser original ou não e que só uma minoria dos fãs pesquisados têm uma tatuagem da banda, uma vez acreditando-se que este perfil de fã seria em sua maioria, tendo em vista os estereótipos que são passados pelas peças publicitárias. Tal perfil configurado, portanto, amplia questionamentos sobre estereótipos, por exemplo, e contribui para novas pesquisas sobre a juventude de Fortaleza, consumidora de produtos de bandas de rock e heavy metal. Palavras–chave: Sociedade do Consumo, hábitos de consumo, rock, heavy metal, Iron Maiden.
  • 6. 6 ABSTRACT This paper aims at exploring the consumer habits of Iron Maiden fans living in the city of Fortaleza. For this purpose, a literary research was conducted, as well as a qualitative and quantitative field study. We will highlight the relevant historical aspects concerning consumer society, rock and heavy metal resulting from the literary research. The quantitative field study consisted of applying questionnaires to the members of four groups, which left Fortaleza by car on April 2, 2011 to drive to Recife where the show of the band in question took place the following day. For the qualitative field study a focal group was formed out of persons of both genders, of between 14 and 30 years of age; the inclusion criteria was owning band products and having attended at least one Iron Maiden show. In this perspective, we tried to outline the profile of this fan by deepening the questions, which could provide us with information regarding the Iron Maiden fan profile, explain the motivations behind consuming Iron Maiden products and describe the niche existence in the vast heavy metal universe. We conclude by stating that budget influences quantity and quality of the consumed product, that fans experience satisfaction maximization by consuming the product, no matter if it’s original or not, and that only a minority of the questioned fans have a band tattoo, although stereotypes transmitted by publicity make believe that that fan profile would be the majority. The established fan profile, therefore, provokes questionings about, for instance, stereotypes, and contributes so new studies on young people in Fortaleza who consume rock and heavy metal band products. Key words: Consumer society, consumer habits, rock, heavy metal, Iron Maiden.
  • 7. 7 SUMÁRIO Introdução........................................................................................................................08 Capítulo 1 – EL DOURADO............................................................................................12 1.1 A sociedade de consumo e os consumidores..................................................12 1.2 As teorias de Galbraith....................................................................................14 1.2.1 Instintivismo.................................................................................................14 1.2.2 Manipulismo.................................................................................................15 1.2.3 A perspectiva veblenesca..............................................................................16 1.3 Os consumidores e o gosto: o ser hedonista....................................................17 1.3.1 Status, marcas e signos simbólicos...............................................................19 1.4 O colecionismo e seu hiato..............................................................................20 1.4.1 O colecionismo.............................................................................................21 1.4.2 Objetos semióticos e coleções......................................................................24 1.5 O rock como meio de consumo.......................................................................26 1.5.1 O rock e o consumo......................................................................................27 1.5.2 O Heavy Metal e o consumo........................................................................30 Capítulo 2 – FROM HERE TO ETERNITY......................................................................34 2.1 O mundo em torno do Rock e do Heavy Metal...............................................34 2.1.1 Os primeiros passos......................................................................................34 2.1.2 A consolidação do Heavy Metal...................................................................38 2.3 Iron Maiden, um pouco da história..................................................................40 2.3.1 Heavy Metal no Brasil..................................................................................43 2.3.2 Heavy Metal em Foraleza.............................................................................44 Capítulo 3 - CHILDREM OF THE BEST ......................................................................48 3. 1 Pesquisa com os fãs.......................................................................................48 3.1. 2 Pesquisa quantitativa...................................................................................57 3.1.3 Pesquisa qualitativa......................................................................................51 Conclusões.......................................................................................................................66 Apêndice..........................................................................................................................68 Anexo..............................................................................................................................73 Referências Bibliográficas...............................................................................................89 Referências Bibliográficas...............................................................................................89
  • 8. 8 INTRODUÇÃO Como fã de Heavy Metal sempre me motivou saber sobre os costumes e sentimentos dos fãs desse estilo musical, pois mesmo sendo um deles não entendia bem como tudo isso funcionava. Observava que todos que seguiam esse estilo de vida pareciam ser muito apaixonados pelos seus ídolos e suas atitudes. Sempre escutei falarem “Uma vez que você escuta heavy metal, você escutará por toda vida.” Esta frase se tornou verdade, ao menos para mim. Frequentadora assídua de shows de Heavy Metal na cidade de Fortaleza e pelo Brasil, pude observar os outros, que como eu, se vestiam de preto, conheciam as letras de todos os shows, mesmo não sabendo inglês, e que, ocasionalmente, choravam escutando uma música favorita. Esse tipo de fã, imaginava, coleciona quase todos os produtos de sua banda favorita, desde um Cd até um pedaço de papel com a matéria sobre a banda em algum jornal ou revista. Fazer o curso de Publicidade e Propaganda me ajudou a observar esse universo com um olhar de pesquisador. Vendo as formas de persuasão para com o consumidor ou, na disciplina de Psicologia do Consumidor, o comportamento que esse exercia sob a influência de anúncios, propagandas ou marcas. Considerando um grupo musical como uma marca, poderemos dizer que um consumidor fidelizado a esta, provavelmente, comprará tudo que estiver com o logotipo ou que for apresentado pela marca. Ou seja, o fã consome quase tudo de seu ídolo. Com esse pensamento, vemos uma gama de produtos de bandas e cantores que lançam não só a sua música como, também, blusas, sapatos, cartas de baralhos, cervejas, vinhos, entre outros. O mais interessante é perceber que se o produto existe e é
  • 9. 9 distribuído mundialmente, deve ser porque existe um grupo consumidor. Lei da oferta e da procura, certo? Com o passar do tempo fui me vendo na mesma situação em que esses fãs se encontravam. Não vestia preto todos os dias, pois a cidade de Fortaleza é muito quente, mas sempre que tinha a oportunidade de fazê-lo, estava com minha blusa preta. Porém, o amadurecimento intelectual me fez questionar várias coisas, como se dava toda essa comoção pelas bandas e por seus produtos. Desse modo, eu teria que me aprofundar no estudo para confirmar e afirmar alguma coisa sobre o consumo de produtos e o comportamento dos fãs. Nas aulas de semiótica pude ver exatamente aquilo que mais me interessava, tanto como fã quanto como estudante: a teoria pierciana sobre o “hiato dos objetos semióticos”, ou seja, a distância que existia entre o ídolo, o produto e o fã. Soube, então, que precisaria fazer um estudo aprofundado e com pesquisas para fazer um recorte que pudesse delinear o que existia, ou ao menos uma parte, entre os objetos e o fã. Fiz meu pré-projeto em 2008 e esperei até 2011 para poder começar, de fato, realizar as pesquisas que me levariam a fazer esse recorte que ora apresento em forma de monografia. Neste trabalho, separei por etapas as pesquisas, tanto bibliográficas quando de campo, configuradas em três capítulos. No primeiro, denominado com o título de uma música da banda Iron Maiden (do CD The Final Frontier): El Dourado, onde letra fala sobre a cidade de ouro de mesmo nome. Com isso usei uma metáfora para mapear o conteúdo do texto desta primeira parte, o consumo. Através da literatura sobre a Sociedade do Consumo tentei entender, primeiramente, como começou a ser caracterizado esse consumo do “desnecessário”, ou seja, do “a mais” não necessário para viver. Desde a Revolução Industrial podemos
  • 10. 10 encontrar vestígios mais explícitos desse tipo de consumo. Comprar para exercer um status mais elevado em relação ao outro. Sendo assim, passei para o consumismo e logo para o colecionismo, pois considero que este estão quase diretamente relacionados. Já que para existir o colecionismo, temos que exercer o consumo, logo cheguei ao solo teórico que poderia sustentar a pesquisa na área da Publicidade, a semiótica. Falei um pouco sobre os objetos semióticos e compreendi toda a “paixão” existente na compra dos produtos dos ídolos. Toda a procura para alcançar esse ser “endeusado” pelo fã. Na segunda parte, eu optei em denominar o capítulo com o título: From Here to Eternity (Música do CD Fear of the Dark da banda Iron Maiden), novamente usei uma metáfora com o tema: O Heavy Metal, e sua tentativa de continuar até a eternidade. Sendo assim, destaquei neste trabalho um pouco da história do rock´n roll, que afinal é o “pai” de todos os estilos de rock existentes e dele surgiu o heavy metal. Numa época de guerra e jovens aflitos, a música se tornou um meio de reivindicar a paz no mundo, senão vejamos o movimento hippie da década de 1960. Depois de duas décadas, os jovens ainda tinham esse mesmo pensamento, a música como forma de expressão. Contudo, o “sonho acabou” e todo o positivismo das canções deu lugar ao pragmatismo e notas musicais mais pesadas, fazendo surgir o heavy metal. Em busca de compreender esse universo do Heavy Metal, elaborei uma pesquisa com os fãs da banda Iron Maiden, a quem considerei como uma das primeiras bandas de metal e, porque não, “os pais do metal”. De fato, não se pode negar que o grupo ajudou a consolidar o New Wave of Britsh Metal e se tornou um fenômeno mundial, arrastando multidões para estádios e shows. Com um mascote “demonicamente” simpático, lançaram Lp, Cd´s, Vídeos e Dvd‟s, além de variados produtos, que logo
  • 11. 11 iriam compor a loja virtual oficial da banda. E os fãs, como eu, comprariam ao menos uma coisa para ter “mais perto de si” um pouco da banda. A partir disso, resolvi agregar ao meu trabalho uma pesquisa de campo na tentativa de transformar em questões acadêmicas esse universo da música e, desse modo, poder inferir hipóteses que mapeasse o perfil do consumidor da banda Iron Maiden em Fortaleza. Essa terceira etapa do trabalho foi denominada “Children of the Damned “ (Música do Cd The Number of the Beast da banda Iron Maiden), ou seja, “Filhos do Condenado”, para fazer um paralelo entre os fãs seriam considerados os filhos do “condenado” Iron Maiden. Assim, a primeira parte da pesquisa foi um questionário fechado aplicado aos fãs que sairiam da cidade de Fortaleza em caravanas para poder participar do show do Iron Maiden que aconteceria na cidade de Recife. Depois disso, selecionados alguns participantes, formei um grupo focal, agora para, de fato, discutir o assunto: Consumo de produtos da banda e o sentimento por trás de tudo isso. Logo após ter os resultados comecei a análise do perfil desse fã na cidade de Fortaleza e, com o grupo focal, encontrei algumas das respostas que procurava e que respondiam ao que eu queria inicialmente com esse trabalho: Por que consumir “a banda”?
  • 12. 12 CAPÍTULO 1 EL DORADO 1.1 A sociedade de consumo e os consumidores O tema da sociedade de consumo tem fascinado pensadores com diversidade de teorias das ciências sociais, desde a antropologia, sociologia à publicidade. Para uns, o marco referencial é a Revolução Industrial, na Inglaterra, no final do século XVIII, com a consolidação do capitalismo (PIETROCOLLA, 1986). Para outros, a sociedade de consumo se caracteriza pelo consumo não do objeto em si, mas pelo signo de tal objeto, ou seja, commodity sign1 (BAUDRILLARD, 2007). Principalmente caracterizada pelo consumo de massa, representada por uma alta taxa de consumo, presença da moda (LIPOVETSKY, 1989), e da mercadoria como espetáculo (DEBORD, 1997), sociedade de mercado substituindo a esfera da necessidade pelo desejo (BAUMANN, 2001), tem no consumidor um de seus principais personagens sociais (BARBOSA, 2010). O ato de consumir, na sociedade de consumo, deixou de ser somente o consumo pelas necessidades - o valor de uso do objeto – para ser o consumo de significados desse objeto para a sociedade e para as pessoas. A verdade do objeto contemporâneo já não consiste em servir para alguma coisa, mas para significar. Desse modo, o objeto deixou de ser manipulado como instrumento, sua funcionalidade, e passou a ser utilizado como signo. Esse consumo é considerado a partir do desejo até o descarte final do objeto adquirido (BAUDRILLARD, 2007). 1 A mercadoria como imagem, signo, veículo de comunicação, imagem que é arbitrariamente aplicada ao produto.
  • 13. 13 O consumo também deve ser considerado como uma ponte entre as relações dos consumidores da sociedade. Ele pode aproximar ou afastar, pois O consumo é um discurso capaz de criar múltiplas mensagens a partir de um código, permitindo, como operador de um sistema de classificação, aproximar e diferenciar grupos de pessoas através das coisas e vice-versa. Séries de produtos e serviços, os bens de consumo, se articulam com séries de pessoas, grupos, estilos de vida, gostos, perspectivas e desejos que nos envolvem a todos em um permanente sistema de comunicação de poder e prestigio na vida social (ROCHA; BARROS apud BACCEGA, 2008, p.189). Lima (2010) faz uma esclarecedora leitura da obra de Miller, antropólogo inglês, contrapondo-o à teoria da economia de Karl Marx. Segundo Lima (2010), Miller postula que o ato de consumo define as pessoas e suas identidades, pois ao adquirir objetos, ocorreria uma re-contextualização de acordo com os sentidos pertinentes ao seu universo de significados. Diferente de Karl Marx, que acreditava que a produção dos objetos (mercadoria) fragmentaria as pessoas impedindo seu desenvolvimento subjetivo. Na sociedade moderna, é evidente um desapego com os bens de consumo. O novo atrai mais do que o que já temos, bem como criamos sempre justificativas para poder consumir o que nos é oferecido de novo. “Maior”, “Melhor”, “Mais funcional”, entre outros termos, seduzem o consumidor ao ato incessante de comprar. O consumista moderno é movido pelo desejo de artigos que ultrapassam em muito aquilo que seria necessário para sua manutenção biológica. Mais do que para satisfazer necessidades, os produtos ou serviços são adquiridos em nome do conforto e do prazer. [...] De maneira resumida, pode-se dizer que estímulos repetitivos causam satisfação, o que não é o mesmo que o prazer. A busca pelo prazer e pela sua renovação precisa escapar da monotonia. Assim sendo, requer renovação (LIMA, 2010, p. 35). Desse modo, pode-se dizer que, a sociedade de consumo movimenta os desejos e os sonhos que precisam ser realizados, quase que imediatamente.
  • 14. 14 1.2 As teorias de Galbraith Sobre as necessidades Galbraith afirma que: Se as necessidades do indivíduo devem ser urgentes, devem ser originárias dele próprio. Não podem ser urgentes se devem ser elaboradas para ele. E, acima de tudo, não devem ser elaboradas pelo processo de produção pelo qual são satisfeitas. Pois isso significa que todas as razões para urgência da produção, baseadas na urgência das necessidades caem por terra. Não se pode defender a produção como sendo para satisfazer necessidades, se essa produção cria as necessidades. (GALBRAITH ,1998, p. 143) Para defender a teoria desenvolvida por Galbraith (1998) temos três linhas de pensamentos encontrados nas ciências sociais que podem explicar a origem das necessidades do consumidor. São elas: o instintivismo, o manipulacionismo e a perspectiva veblenesca. 1.2.1 Instintivismo Ressaltamos o institinvismo como a teorização econômica acerca do consumo resultante da própria linguagem que é empregada de modo padronizado, mais especialmente mediante o uso dos conceitos de “necessidade latente” e “procura latente” (CAMPBELL, 2001). Essa teoria reconhece que todas as pessoas são seres consumidores em potencial, tendo em vista que todo ser humano tem uma base biológica de necessidades, vitais ou não, ou seja, o desejo de consumo “surgiria do DNA do ser humano” que já está, teoricamente, programado para ser um ser consumidor. Toda conduta humana intencional é teológica na forma e, consequentemente, possui a qualidade de ser uma “manifestação” de algo “latente” (CAMPBELL, 2001).
  • 15. 15 Tais necessidades respondem a uma hierarquia. Desse modo, à medida que as necessidades vitais são saciadas, as outras necessidades começam a aparecer. Markin (apud CAMPBELL, 2001) afirma que essas necessidades respondem a uma ordem que se encontra relacionada às carências: oxigênio, alimento, água, alívio da dor entre outras de base fisiológica; depois, as de salvamento como segurança, proteção e rotina; seguidas pelos “motivos do amor”, de afeição e filiação, depois por “motivos de estima”, de amor- próprio e prestígio e, por último, o motivo de auto- satisfação e realização pessoal. 1.2.2 Manipulismo O manipulismo trata da teoria de que as pessoas são obsoletas, sem vontade própria ou sem a capacidade de formular pensamentos científicos, e sem necessidades primárias, sendo manipuladas pela propaganda. O consumidor se deixa levar pelas mensagens que o bombardeiam com a falsa necessidade de consumo. Através de tevês, cinema, jornais, propagandas e estratégias de marketing o consumidor é convencido de tais necessidades. Podemos ter como exemplo o fato de querer ser atraente para o sexo oposto, pois com esse pressuposto se pode fazer propaganda de vários tipos de objetos, sendo assim, cria-se uma necessidade de consumo de tais objetos para poder conseguir o objetivo que é ser atraente para o sexo oposto. Porém, é essencial observar que Primeiro, não é a estrutura da motivação individual que esta sendo „manipulada‟. Ao contrário, é a esta, precisamente, que a manipulação está sendo adaptada para levar em conta. Assim, embora se possa sustentar que os desejos e sonhos do consumidor são „explorados‟ dessa forma, não se pode afirmar que são simplesmente construídos pelos atos dos anunciantes. Segundo, o que os produtores de bens e serviços realmente manipulam, através de seus agentes, não são os
  • 16. 16 consumidores ou suas necessidades, mas ao menos em primeiro lugar, os significados simbólicos que se achavam vinculados aos produtos. Eles, de fato, manipulam mensagens (CAMPBELL, 2001, p.73). 1.2.3 A perspectiva veblenesca A perspectiva veblenesca2 consiste em afirmar que o consumidor é um ser ativo que está ciente de suas ações e necessidades. Consome a partir de questões sociais para a elevação do seu status, uma vez que as mercadorias assumem importância como sinais, símbolos, e não só pela a satisfação intrínseca que elas podem trazer. Veblen admite, por exemplo, que o motivo oculto sob muitas atividades humanas é a emulação e que, desde que “a posse da riqueza confere honra”, o fim perseguido pela acumulação é se colocar alto, em comparação com o resto da comunidade, no tocante à força pecuniária (CAMPBELL, 2001, p. 76). Por essa perspectiva podemos dizer que as pessoas de classe social superior estão sempre em movimento e mudança de sua “moda”, produtos de consumo. Uma vez alcançada por uma classe inferior, essa moda presente não servirá mais como forma de consumo pela classe considerada dominante. Embora seja possível ver que tanto a moda moderna como o desejo de emulação com os “superiores” sociais possam servir para encorajar o que parecem ser modelos semelhantes de ação (na medida em que ambos são encarados como comportamento imitativo, isso não pode deixar de ser verdadeiro), está longe de ser óbvio como eles vieram a interagir para produzir uma necessidade insaciável nos consumidores (CAMPBELL, 2001, p.86). 2 Veblen (1980) desenvolve a “teoria da classe ociosa” na qual postula que as motivações para o consumo residem, principalmente, na tentativa de demonstrar o poder pecuniário, causador de inveja, e que as “classes ociosas” com poder pecuniário determinariam o que deverá ser consumido.
  • 17. 17 1.3 Os consumidores e o gosto - o ser hedonista Em sua essência, todos nós somos consumidores. Todos que possuem dinheiro para consumir o bem desejado são consumidores em potencial. Seguindo esse pensamento poderíamos inferir que o ato de consumir encontra-se na mesma proporção ao ato de construção das identificações. Uma vez que compramos aquilo que pensamos estar relacionado a esta identidade que reconhecemos como nossa. A definição quanto aos tipos de objetos que estaríamos mais propensos a comprar estão relacionados à nossa vivência, educação e criação. Porém, se constante é a vivência e a educação, outros fatores evoluem, ou chegam a mudar, ao longo da vida. Neste aspecto, vivemos em constante mutação de nossa identidade, que é discursivamente construída pelas narrativas do eu e elaborada, a um só tempo, na ampla relação entre sujeitos sociais, lugares e idéias socialmente significativas e entre sujeitos e objetos (BARBOSA, 2010). Por outro lado, temos a teoria sobre o gosto que pretende explicar as razões pelas quais objetos serão consumidos delimitando, desse modo, os tipos de consumidores. Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu (2010), o gosto tornou-se um processo de hierarquização social vivido pelo senso comum como uma medida absoluta, objetiva e universal. Nesta perspectiva, para a pessoa possuir o que é convencionado pela sociedade como “bom gosto”, ela deve vir de uma classe considerada dominante, a classe alta, com boa educação, leituras e outros hábitos caros dessa classe. Por sua vez, Campbell (2001) assinala que o desejo de consumo não é a simples permanência de um eterno “querer mais”, de um sentimento de insatisfação, mas a existência de uma insaciabilidade para com novos produtos. Ele classifica o consumidor como um ser hedonista, um ser de desejos e sonhos. Lypovetsky (2005) localiza na
  • 18. 18 década de 1920, nos Estados Unidos, o hedonismo como manifestação da sociedade de consumo de massa. Neste aspecto, segundo o referido filósofo, tanto a publicidade quanto o sistema de venda à crédito são determinantes para que ocorra uma mudança no comportamento da população, pois o crédito viabiliza o consumo, a sociedade volta-se para o imediatismo e a população vive apenas em função do prazer imediato. (...) sob os efeitos conjugados do modernismo e do consumismo de massa, uma cultura centrada na realização do eu, na espontaneidade e no desfrute: o hedonismo se torna o „princípio axial‟ da cultura moderna (...) (LIPOVETSKY, 2005, p. 64) Compreendemos que no hedonismo o sujeito passa a ser o “senhor” de seus pensamentos e desejos, misturando as imagens da publicidade, e outros meios midiáticos, com imagens de seu passado, construindo, assim, um sonho onde o assunto principal é a realização de algum desejo. Tudo isso altera drasticamente a natureza do hedonismo, pois não apenas o homem moderno colhe prazer de suas fantasias, mas, deleitando-se com elas, muda radicalmente sua concepção do lugar do prazer na vida real. (CAMPBELL, 2001, p.115) Porém, a realização dessa fantasia não traz o prazer desejado pelo ser hedonista. A busca, a criação da fantasia, se torna mais prazerosa que o ato de consumir, o que explicaria nossa determinação de sempre achar novos produtos que sirvam como objetos de desejos a serem repostos (BARBOSA, 2010).
  • 19. 19 1.3.1 Status, marcas e signos no consumo Diferentemente do que afirma Pietrocolla (1986), cujo postulado ressalta que quanto maior for a posse de bens de um indivíduo, maior será seu prestigio social, Baudrillard (2007) discorre uma tese onde explica que: [...] perante as necessidades e o princípio de satisfação, todos os homens são iguais, porque todos eles são iguais perante o valor de uso dos objetos e dos bens (se bem que sejam desiguais e se encontrem divididos em relação ao valor de troca). Porque a necessidade se cataloga pelo valor de uso, obtém-se uma relação de utilidade objectiva ou de finalidade natural, em cuja presença deixa de haver desigualdade social ou histórica. Ao nível do bife (valor de uso), não existe proletário nem privilegiado (BAUDRILLARD, 2007, p.48). Podemos entender por valor de uso a utilidade que os objetos têm para as pessoas que deles se servem sendo, portanto, subjetivo (LIMA, 2010). E, por valor de troca, o caráter objetivo e que se manifesta nas relações sociais – na troca, na compra e na venda dos produtos – entre aqueles que neles enxergam valor de uso. Seguindo esta linha de pensamento, aprendemos com Lipovetsky (1989) que jamais se consome um objeto pelo seu valor de uso, mas sim, pelo seu valor de troca. Com isso, a publicidade e o marketing dos produtos se tornam quesitos muito importantes para agregar significado aos objetos. São vitrines de lojas transformadas em espetáculos, modificando, assim, o sentido da compra, verdadeira passagem de uma atividade econômica para uma atividade social e cultural. (BOWLBY, WILSON, RAPPAPORT in FREIRE FILHO, HERSCHMANN, 2005). Ou seja, além do surgimento da necessidade vital, existe uma necessidade social na qual as pessoas consomem os objetos de valores agregados, signos, para uma formação de status. Baudrillard (2007) explica que na lógica dos signos esse objeto deixa de estar ligado a uma função ou necessidade definida, e passa a agregar qualquer lógica
  • 20. 20 escolhida pelo consumidor. Essa lógica poderá provir de seu status social, de sua educação, ou até mesmo, de desejos que o consumidor possa vir a ter. Como já observado, a publicidade e o marketing exercem grande influência na “criação” de necessidades. Desse modo, é possível agregar valores aos produtos e marcas. Valores agregados com os quais o consumidor, eventualmente, irá se identificar e, a partir de então, desejar alcançar o objeto a ser consumido. Portanto, a marca seria um signo referente a um produto (bem e/ou serviço) e que teria, além do próprio produto, diversos significados associados, os quais, por sua vez, seriam interpretados ou percebidos por um individuo ou grupo. Assim, pode-se sugerir que a força de uma marca será tanto maior quanto mais adequadas forem as seguintes dimensões semiológicas: as formas como o signo se manifesta (semiótica), a forma como o signo está associado aos seus significados (semântica) e, finalmente, o grau de sinergia entre o signo e as expectativas dos indivíduos com quem ele se comunica (pragmática) (LEMOS, 2007, p.143 ). Entre esses valores, está o valor distintivo, ou seja, o valor que distingue as classes sociais, o valor do status. Com isso, para as classes com maior poder de compra, este é um dos valores dominantes na hora da compra. À medida que os produtos classificados por essa classe são consumidos pela classe média, esses produtos perdem o valor distintivo, deixando de ser um objeto de consumo da classe dominante. Diríamos que acontece uma verdadeira busca por novos produtos que diferencie novamente a classe dominante da classe média (BARROS FILHO; LOPES in BACCEGA, 2008). 1.4 O colecionismo e seu hiato Como vimos anteriormente, o consumo praticado na sociedade moderna é estudado sob vários aspectos. E o prazer que existe em adquirir novos materiais, um dos
  • 21. 21 motivadores de tal ato, é ressaltado por vários pesquisadores. A leitura feita por Lívia Barbosa (2010) do trabalho de Campbell (2001) nos ensina que, Se os consumidores desejassem realmente a posse material dos bens, se o prazer estivesse nela contido, a tendência seria a acumulação dos objetos, e não o descarte rápido das mercadorias e a busca por algo novo que possa despertar os mesmos mecanismos associativos (BARBOSA, 2010, p.53). Seguindo essa linha de pensamento, como poderíamos explicar o ato de colecionar? Seria o colecionador um novo tipo de consumidor? Ou o ato de colecionar está totalmente diferenciado do ato de consumir? Farina, Toledo, Corrêa, (2006) em uma pesquisa realizada com pessoas que se dizem colecionadores, citam os estudos de Belk (1995), Slatter (1999) e Murphy (2000) que pretendem explicar o fenômeno do consumismo em outros termos. E como uma junção de objetos pode preencher o hiato que existe entre o sujeito, fã, e seu ídolo? Seria esse hiato alguma vez preenchido? 1.2.1 O colecionismo Ao falarmos “colecionismo”, “colecionador” ou “coleções”, a primeira imagem que temos é a de um acúmulo de objetos, que para uns pode parecer excêntrico ou até mesmo sem função alguma. Certamente, em uma coleção a função primária de um objeto, nomeadamente, a funcionalidade, é extrapolada. Um disco ou uma blusa não servem apenas para que se ouça ou para que o sujeito se vista, pois estariam exercendo outra função. Função aquela escolhida pela pessoa que a possui, qual seja, a da memória. Esses objetos funcionariam como uma máquina do tempo, onde o seu dono pode vir a resgatar memórias que, se não fora pelos objetos, talvez estivessem já
  • 22. 22 esquecidas no tempo. Mas, voltando à função primária de um objeto, a funcionalidade, como e quando surgiu a idéia do ser colecionador? O que seria o colecionismo? O uso da palavra Colecionismo surgiu publicamente em um informe da APAG (Associação Para Preservação de Antiguidades Gráficas) em 1992, no mesmo ano em que a TELEBRAS (Telecomunicações Brasileira S.A) lançava o Cartão de Telefone na Eco 923 , no Rio de Janeiro. Durante a palestra de lançamento o direto da Antiga TELERJ (Telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro) usou o termo Colecionamento e logo a seguir fez uma brincadeira com a palavra que considerava feia e pediu licença para usar COLECIONISMO termo que já estava sendo usado pelos colecionadores. (FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006, p.3) Segundo Belk (1995, in FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006), colecionismo é o processo de adquirir e possuir coisas de forma ativa, seletiva e apaixonada. Sendo assim, se difere do consumista estudado por teóricos como Veblen (1980) ou Campbell (2001). Para Slatter (1999, in FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006), entre tantos significados, como o de doar, emprestar e até mesmo roubar, comprar é apenas mais uma das maneiras de possuir o objeto de coleção. Sendo assim, o ato de adquirir algum objeto para a coleção torna-se ainda mais prazeroso do que até mesmo possuí-la. Farina, Toledo, Corrêa (2006) citam as pesquisas de Murphy (2000), cuja teoria assinala que o ato de colecionar pode ser estimulante e compensador, mas também poder ser patológico como o fetiche4 , a obsessão de colecionar ou juntar objetos. 3 ECO 92, ou RIO-92, Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento realizada na cidade do Rio de Janeiro que além de promover debates também serviu de parâmetro para estratégias e compromissos acordados entre os 179 presentes no referido evento. 4 O termo fetiche aparece na obra de Karl Marx, “O capital”, em relação à mercadoria, sobre o valor simbólico a esta conferido, que perde sua relação com o trabalho/produção e passa a ser objeto de verdadeira adoração pelo que simboliza sua compra e uso. Em psicopatologia, o termo é usado para assinalar o desvio do interesse pelo ato sexual para partes do corpo ou de objetos, em geral, usados pelo parceiro (Houaiss, 2010).
  • 23. 23 Mas quem seriam esses colecionadores? Como os distinguimos do consumidor do cotidiano da sociedade moderna? No Renascimento o sujeito era definido por suas riquezas, quem possuía mais bens materiais, certamente seria mais prestigiado aos olhos da sociedade (OLIVEIRA, SIEGMANN, COELHO, 2005). A partir dessa idéia, poderíamos associar o sujeito de status ao sujeito colecionador, uma vez que o primeiro deveria possuir o máximo de bens para conseguir o status necessário. Essa idéia permanece nos dias de hoje, na sociedade moderna também é bem visto aquelas pessoas que mais possuem objetos e posses (BOURDIEU, 2011). Entretanto, ressaltamos em nosso estudo a diferença que existe entre o colecionador e o sujeito consumidor, conforme aprendemos com Oliveira, Coelho e Siegmann, (2005). Desse modo, entendemos a coleção como uma extensão do “ser”, difere, portanto do capitalista, este que acumula objetos tão somente visando a ostentação do status. Nestes termos, o colecionador é um ser guardador de memórias, guardador do passado. Este é considerado como colecionador-artista. O colecionador tem sua coleção como parte de si, pois considera que o esforço, tempo e dedicação empregados faz com que sua coleção ganhe uma parte sua (FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006). Os objetos são cuidadosamente selecionados, estudados. Não se cria uma coleção na espontaneidade. Neste aspecto, se uma pessoa passa a colecionar pôsteres, entrevistas, fotos e vários outros materiais de certa banda de música, ele não pensou em sair “juntando” ao acaso tais objetos. Cada objeto adquirido tem sua explicação e sua porção preservada na memória do colecionador. Ao visitar sua coleção, o ser colecionador transporta-se para “outra dimensão”, ele se torna outro, o colecionador passa a ser, ele mesmo, parte de sua memória. Uma parte do passado.
  • 24. 24 O objeto adquirido para fazer parte de uma coleção, além de perder sua função primária, a funcionalidade, passa a assumir o status de algo sagrado. Um colecionador de materiais de bandas de rock ao adquirir os cd´s, blusas, baquetas ou palhetas de uma banda, provavelmente irá emoldurar alguns objetos ou guardá-lo em saco e lacrar para que ninguém mais possa manusear os objetos adquiridos e tão bem guardados por ele. Outro fator que indica o senso sagrado é o fato de o item da coleção ter pertencido a uma pessoa famosa ou a uma pessoa importante para o colecionador. Além disso, o que torna o item sagrado é o fato de o mesmo não estar à venda (FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006, p.7) 1.2.2 Objetos semióticos e coleções A compreensão do conceito de objeto semiótico requer um breve esclarecimento sobre alguns termos. Em primeira instância, de acordo com o pensamento pierciano5 , temos o signo, a representação. Entendemos como objeto dinâmico o que é substituído pela representação, por exemplo, o cantor, e toda a sua complexidade, retratado em um pôster. E, por fim, objeto imediato: É como o objeto dinâmico se apresenta no signo, como no exemplo anterior, o cantor seria o pôster. 5 Importante salientar que, para a semiótica peirceana, o signo é qualquer coisa de qualquer espécie (umapalavra, um livro, uma cama, um grito, uma pintura, um museu, uma pessoa, um vídeo, uma manha de tinta, um gesto etc.) que representa uma outra coisa, chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente, efeito este que é chamado de interpretante do signo. O objeto do signo, ou aquilo que por ele é representado, apresenta duas facetas, chamadas de objeto imediato e objeto dinâmico. Tem-se por objeto imediato aquilo que se encontra mais próximo do signo; algo como o modo pelo qual o objeto do signo nele se apresenta. O objeto dinamico do signo, por sua vez, é aquilo que o signo intenta representar em toda a sua complexidade. Por exemplo: em uma foto da banda Iron Maiden (signo), temos como objeto imediato o modo como a banda está sendo retratada naquela foto (a banda capturada em suas expressões questionadoras durante um show, ou a banda mais humanizada ao ser retratada com seus familiares); ao passo que o objeto dinâmico, jamais capturado por qualquer signo da banda devido à sua complexidade, é tudo aquilo que a banda de fato é (um grupo de amigos com seus humores, percalços, crenças religiosas, atuações nas relações de trabalho, familiares, com os fãs etc).
  • 25. 25 Sendo assim, observamos que uma das motivações do consumidor comum para tornar-se um colecionador seria o de manter viva a imagem evocada na presença do objeto. Uma viagem ao passado, a transfiguração do seu eu em outro, aquele que está ainda vivo no passado. Mas não só o consumidor/fã se transfigura, mas tudo que envolve o objeto adquirido também se transmuta. Desse modo, se o colecionador possui uma peça de roupa ou material utilizado por seu ídolo, ficará “impresso” em tal objeto a imagem que o consumidor/fã, tem desse ídolo. Poderíamos, então, falar que um dos motivos da coleção possa vir a ser a aproximação do fã com seu ídolo? Ou da imagem criada no imaginário por este colecionador? Aprendemos com Santaella (2002), que objeto dinâmico é a pessoa existente que está por trás da imagem, e objeto imediato é o modo particular como cada objeto exibe o ser real, o ídolo. Sendo assim, temos como objeto imediato os objetos da coleção, que são os signos da banda. O ídolo, e toda sua complexidade a ser alcançado através da coleção, é o objeto dinâmico. Embora esse objetivo nunca seja concluído, pois se encontra no campo da impossibilidade para a semiótica. Fotos, pôsteres, blusas, até mesmo “toalhas com suor” podem fazer parte de uma coleção do fã. São memórias que se deixam transmutar em objetos, que, para esse colecionador, podem ser acessadas e levá-lo de volta ao momento da aquisição. Porém, como já dito, essas memórias e impressões deixadas nos objetos são apenas conceitos criados pelo próprio colecionador. Existe um hiato intransponível (SANTAELLA, 2002) entre esses dois objetos, e esse é um dos aspectos que levaria ao consumo, à formação de coleção, o desejo de transpor essa barreira que existe. O que esse público deseja é o impossível acesso direto ao objeto dinâmico: ver, tocar, ouvir, na ilusão de que o ver é, por si só,
  • 26. 26 presença, sem se dar conta de que o ver e mesmo o toque também são mediados por um feixe de impressões perceptivas que nos põe diante, mas ,até certo ponto, também nos afasta da pura presença, da santa e rara presença pura do milagre inatingível da pura presença (SANTAELLA, 2002 p. 102). Serão fotos, revistas, set list arrancados do palco, e muitos outros signos adquiridos que fazem parte do desejo de que esse espaço infindável possa vir a se acabar. Porém, de modo ambivalente, a mesma vontade de acabar com o “espaço” alimenta o desejo de que esse espaço nunca se acabe, pois assim não haveria motivos para que o ato de colecionar terminasse, “pois, a coleção reforça o sentimento de poder, e sua continuidade alimenta esse poder” (FARINA, TOLEDO, CORRÊA, 2006, p. 2). 1.3 Rock como meio de consumo Ao analisarmos a afirmação: Quem olha aquela multidão de jovens percebe que cada um deles procura afirmar a sua irredutível diferença, sua identidade através do uso de uma determinada camiseta estampada com um banda de rock, uma certa tatuagem, um piercing e outros símbolos identitários. [...] Acontece que essas modas juvenis não nasceram e não existem apenas na Rua 24 de Maio6 ; elas são fenômenos internacionais: há milhões de jovens no mundo com o mesmo ornamento, que pertencem às mesmas tribos urbanas que são internacionais. (FREDERICO, 2008, pp. 84- 85) Observamos que o ato de consumo de objetos classificados como ornamentos para fãs de rock é uma característica não só de jovens de determinada região, que querem se 6 Rua 24 de Maio é onde fica localizado a Galeria de Rock, onde são vendidos acessórios, cd´s, e uma grande variante de produtos do estilo “rock”. Lá se tornou um ponto de encontro, e referencia, para todos aqueles amantes do estilo, sendo assim, é uma das maiores galeria especializada no estilo da America do Sul.
  • 27. 27 diferenciar da sociedade, ou até mesmo, se distinguir, como pessoa única em seu grupo social. Entretanto, como o rock passou a ser considerado um transformador de identidade (JANOTTI JR., 2003), reverenciado por todas aquelas pessoas que passaram a utilizá-lo como meio de expressão? 1.3.1 Rock e o consumo O rock é uma música de orientação juvenil surgida na explosão midiática do pós- guerra nos Estados Unidos da América (JANOTTI JR., 2003). Em meados anos 1950, entre a repressão social dos governos totalitários e as normativas mundiais da sociedade conservadora, os jovens se sentiam reprimidos e buscavam alguma maneira de expressar seus desejos de liberdade. Foi daí, derivado do rhythm and blues7 , que surgiu um novo estilo musical, que expressava toda a revolta causada por uma sociedade conservadora, o rock and roll. Ritmo que falava com a juventude considerada transviada, por suas idéias contrárias às normas morais da sociedade da época. O termo rock and roll já era popular na década de 1920, usado entre os cantores de blues para se referir ao ato sexual. “O músico de blues Trixie Smith gravou em 1922, a música “My baby rocks me (with on steady roll)”, ou “Meu amor me balança (com um gingado firme). Contudo, o termo só ganhou notoriedade quando os músicos brancos o difundiram no cenário pós-guerra (SHUKER apud JANOTTI JR., 2003, p. 34). 7 O termo rhythm and blues foi cunhado pela Revista Billboard, nos anos 60, para se referir aos grupos de músicos brancos que desenvolveram um ritmo novo a partir dos estilos do blues, eletric blues, gospel e soul music. In: Jacqueline dos Prazeres. Acesso no site http://blackfactory2.blogspot.com.2009/04/html em 04 de junho de 2011.
  • 28. 28 Com o avanço tecnológico, dispositivos eletrônicos se tornaram mais acessíveis pelos jovens. Esses que procuravam um novo meio de expressão, de libertação, com o uso do corpo de maneira não alienada (MIDDELTON apud JANOTTI JR., 2003). No cinema, o rock ganhou espaço com os filmes “Rock Around the Clok” (O balanço das horas) a “Blackboard Jungle” (Sementes da Violência), filmes que retratavam uma juventude transviada, aparte das normas da sociedade. Os filmes não foram aceitos pelos mais conservadores causando polêmica, principalmente, quando entre os jovens, provocou uma onda de rebeldias. Conforme a afirmação de Janotti Jr. As jaquetas de couro, motos carros, a brilhantina; enfim, o visual do “delinqüente” que ficou definitivamente associado ao rock and roll era parte dos sonhos de auto-afirmação dos jovens diante das pressões escolares (JANOTTI JR., 2003, p.30) Com a propagação do rock e o sucesso alcançado entre o público jovem, ficou fácil difundir tal seguimento musical em objetos de consumo, tais como revistas, álbum, filmes, revistas em quadrinho e muitos outros meios midiáticos. Um marco na história do rock foi o lançamento da revista Rolling Stones, especializada nesse seguimento, o rock, que misturava movimentos musicais e políticos. Outro fato marcante para o rock foi o surgimento do PA (Public Address), que consistia ser um sistema de amplificadores, alto-falantes e aparelhos sonoros, utilizado em apresentações ao vivo. Com esse aparelho a facilidade de festivais com shows ao vivo se tornou real, assim, uma nova forma de consumo surgiria, a saber, concertos de bandas de rock ao vivo. Ao falarmos de rock, falamos de um universo de segmentações de música tendo o rock and roll como a primeira delas. Sendo assim, podemos dizer que a segmentação do rock varia entre públicos, lugares e tempo.
  • 29. 29 (...) Diferentes fãs parecem usar a música com diferentes propósitos e de diferentes modos, eles possuem fronteiras diferenciadas para definir não só o que ouvem, mas também o que é incluído dentro da categoria de rock and roll (GROSSBERG, 1997 apud JANOTTI JR, 2003, p.17). Ao contrário de quando começou, como uma forma de expressão da classe trabalhadora e negra, o rock é um estilo musical, e também de moda, muito apreciado pelos jovens. São cd´s, revistas especializadas, lojas especializadas e até desfiles de alta costura com o tema rock. Com a consolidação da sociedade de consumo, produtos produzidos em série e em grande escala encontram seu público-alvo graças à sedução da propaganda e aprimorados modelos de marketing. (...) Além de ter capturado o público masculino, os jovens foram trabalhados como consumidores de toda uma gama de produtos, muitos dos quais especialmente desenvolvidos para eles (...) esse segmento tornou-se altamente lucrativo, movimentando cifras que nada ficam a dever aos rendimentos alcançados com os adultos (CASTRO, 2008, p. 138). Com os avanços tecnológicos, podemos levar o rock conosco em um Mp3 player ou comprar Cd´s, ou músicas pela internet, como no Itunes8 , uma loja virtual onde se pode comprar músicas e vídeo clipes. Entretanto, esses avanços tecnológicos não surgiram apenas como propagação do estilo musical. Vários sites como o Napster9 , programa virtual gratuito onde se pode ter o compartilhamento de músicas através de um computador à outro computador, disponibilizava músicas grátis para download. Porém, a pressão, por parte das grandes gravadoras, para que o Napster deixasse de ser 8 Itunes in WWW.apple.com/br/itunes 9 Criado por Shaun Fanning, o Napster foi lançado em 1999 e encerrado em 2001, após batalha jurídica baseada no argumento de que o site atentava contra a garantia dos direitos autorais.
  • 30. 30 um serviço gratuito, marcou uma nova etapa na difusão musical na cultura contemporânea (JANOTTI JR, 2003). Apesar da pressão das gravadoras, outros programas de compartilhamento de músicas continuaram surgindo, fazendo com o que pirataria se tornasse um grande problema para as gravadoras. “Calcula-se que o mercado fonográfico mundial já encolheu mais de 5% nos últimos dois anos (...)” (JANOTTI JR., 2003, p. 54). Porém, apesar da pirataria, muitas bandas já disponibilizaram seus trabalhos exclusivamente na internet, para acesso gratuito de seus fãs, como a banda Rage Against the Machine, em 2000. 1.3.2 O Heavy Metal e o consumo Como assinalamos anteriormente, o rock é um estilo de música dividido em vários segmentos, entre os quais se encontra o Heavy Metal característico por apresentar uma sonoridade mais agressiva e com instrumentos considerados mais pesados. A primeira vez que o termo “Heavy Metal” foi usado em uma música foi pela banda Steppenwolf com sua canção “Born to be Wild” (Nascido para ser Selvagem), (1968) onde se podia ouvir a expressão: Heavy Metal Thunder. Porém, o termo só ganhou sentido quando a banda inglesa Black Sabbath surgiu, com suas letras que expressavam a obscuridade e insatisfação da época em que viviam, na década de 1970. Para os mais conservadores, a banda foi desprezada e marginalizada por ser considerada satanista, mas para os jovens da época, era apenas uma nova forma de expressão. Com seus “sons pesados” e cabelos compridos, serviu de inspiração para outras bandas que a sucederam, entre as quais: Judas Priest, Motorhead, Iron Maiden. Estas encontram entre outras que, a partir de suas criações, foram seguimentando o
  • 31. 31 Heavy Metal. Com suas ramificações, o Heavy Metal, passou a integrar, entre uma vasta lista, uma dos “estilos” de Metal. Sendo assim, o que antes era o termo utilizado para caracterizar um único estilo de música, passou a ser uma parte da própria segmentação, tendo agora como denominador do estilo o termo “Metal”. Diferentes das músicas de rock antecessoras ao Metal, que falavam de paz e amor e harmonia entre os povos, essa nova segmentação falava sobre tempos medievais e histórias de outras vidas. É melhor do que uma coisa tipo „eu estava pela rua, la la lá,sabe? Os tempos medievais eram pesados; era morte certa para a maioria das pessoas. É essa a pegada do metal – é uma luta. (DAN BEEHLER apud CHRISTE, 2010, p.93). As bandas de Metal levavam essa temática não só para seus álbuns, mas também para os palcos de shows. “Eu comecei a inventar esses shows para grandes palcos logo depois de ver uma apresentação de Alice Cooper pela primeira vez”, afirma Dio. “No primeiro show que vi ele era enforcado. No segundo, eletrocutado, e no terceiro, sua cabeça foi arrancada. Eu fiquei muito empolgado por estar na platéia, porque isso tudo era mais do que eu esperava. Não era só música, mas uma espécie de Disneylândia (RONNIE JAMES DIO apud CHRISTE, 2010, p.95 ). Mas para trazer vida às encenações no palco, as bandas de Metal devia arcar com os pesados custos, e somente as vendagem de seus álbum não eram o suficiente. Com isso o surgimento de vendas de suvenir nos shows começou. Eram: (...) programas de shows, bandanas, camisetas pretas, sempre presentes, com datas de tournê nas costas [...]e a aura de autenticidade dos artefatos das bandas criaram o uniforme do heavy metal.[...]A farta produção de camisetas das bandas era uma publicidade incrível, responsável por levar a imagem do heavy metal das lojas de discos para as ruas (CHRISTE, 2010, p.97 ).
  • 32. 32 Contudo, não só as camisetas pretas faziam parte desse uniforme do metal. Cintos com taxinhas, luvas pretas e calças de couro ajudavam a complementar o visual dos seus fãs, os (...) denominados Headbangers (batedores de cabeça, em referência ao ato de chacoalhar a cabeça para frente e para trás, gestos característicos dos fãs ao escutar as músicas do gênero), a palavra define a pessoa que se identifica com o gênero, um sinônimo para o fã, podendo, também, referir-se às músicas do segmento. Não se aceita o termo “metaleiro”, surgido fora da cena metal e, inicialmente, tende sentido pejorativo ( LEMOS, 2010, p.2) Com isso, os headbangers teriam não somente os álbuns de suas bandas favoritas, como também, camisetas, bandanas, munhequeiras, xícaras para café e até mesmo cervejas. A partir de um estilo musical, muitas bandas criavam um perfil próprio, uma “identidade”, seus mascotes e suas ideologias que são passadas aos fãs, que por sua vez, para sentirem-se um pouco mais perto de seus ídolos, compram o que lhe for oferecido. Entre essas bandas, que criaram um alter ego, posicionado entre as três maiores vendagens nos Estados Unidos, o Iron Maiden leva o conceito de autenticidade das bandas a outro patamar. Com seu logotipo desenvolvido pelo próprio baixista da banda, Steve Harris, o Iron Maiden adere uma nova imagem, o seu alter ego, o desenho de um morto vivo, Eddie, que virou mascote da banda e estampa quase todos os objetos de merchandising da banda. Eddie tornou-se parte da trama decorativa, como um Mickey Mouse morto-vivo (CHRISTE, 2010). Podemos concluir que, a partir do consumo de objetos específicos do Metal, com um público-alvo diferenciado por seu gosto, esses fãs estariam dispostos a adquirir tais objetos “para se sentirem mais perto dos seus ídolos através do seu material artístico, shows, souvinirs etc., o que se constituiria em uma verdadeira adoração” (LEMOS, 2010, p.3).
  • 33. 33 Segundo o comentário de Christie (2010), a música representa mais do que uma escolha de consumo, representa um estilo de vida pelo qual recebemos um gratificante modo de expressar nossos sentimentos e o quão intenso pode ser um modo de vida ou prazerosa uma opção pela música.
  • 34. 34 CAPÍTULO 2 FROM HERE TO ETERNITY 2.1 O mundo em torno do Rock e do Heavy Metal 2.1.1 Os primeiros passos Podemos encontrar os primeiros rastros do rock´n´roll em meados anos 50, do século XX. Após a Grande Depressão, o “America way of life” influenciava todos os jovens americanos a se comportarem perante uma sociedade conservadora e, apesar do rhythm and blues já existir, este era malvisto por essa sociedade, pois era um estilo musical não só cantado por negros, mas também, criado por eles. O rhythm and blues ao mesmo tempo em que falava de seus sofrimentos e da discriminação racial era combinado com uma voz quase sempre rouca e por movimentos sexuais. Após a Segunda Guerra Mundial, os jovens começam a questionar sobre o valor da vida e sobre as regras da sociedade. Todavia, esse fato não era suficiente para que o “America way of life” fosse totalmente desprezado. Assinalamos um fato importante para que a decadência desse modelo de vida, a saber, a Guerra da Coréia: (...) a incerteza parece ter aumentado e a vibração negra, sua voz grave e rouca, sua sexualidade transparente e seu som pesado agora alimentado pela guitarra elétrica, tudo isso parecia bem mais atrativo a milhões de jovens (...) que pareciam procurar seu próprio estilo de vida (CHACON, 1982, p. 25) Apesar do rhythm and blues ter tido uma grande influência para a criação do rock´n´roll, este sofreu influência tanto da música pop americana quanto do country,
  • 35. 35 música também americana e que falava do sofrimento dos pequenos camponeses do país. Como se fora uma fusão de estilos, esse novo ramo musical, para não ser reconhecido como o rhythm and blues na versão branca, precisaria de um nome diferenciado, porém com a mesma magnitude. De acordo com Janotti Jr. (2003), Shuker (1994) e Chacon (1982), o termo rock´n´roll representaria o ato sexual, este já era reconhecido pelos cantores de blues nos anos 20. O termo ficou diretamente relacionado com o estilo musical depois da apresentação de um filme chamado “Rock around the clock” no qual havia uma música de mesmo nome do grupo “Bill Haley and his Comets”, reconhecido como o primeiro grupo de rock´n´roll da história. Contudo, Bill Haley ainda não representava tudo aquilo que o rock propunha, “só um símbolo sexual, devidamente municiado pelos melhores autores e “cantando e suando como um negro” poderia transformar aquele modismo numa verdadeira revolução. E assim surgiu Elvis, the Pelvis” (CHACON, 1982, p.27). Com um representante de peso, o rock ganhou território e expandiu fronteiras. Apesar do reconhecimento da América como “mãe do rock´n´roll,” vertentes do mesmo estilo surgiam no continente europeu, na Inglaterra, onde jovens operários de classe média baixa tentavam expressar seus pensamentos sobre a vida, a miséria, amizade, drogas e amor10 . Nos dois continentes, americano e europeu, o que se viu foi que o rock´n´roll representava uma tentativa de expor ao mundo os obstáculos que os jovens enfrentavam na vida. Para essa sociedade conservadora, entretanto, representava uma forma de rebeldia e de auto-afirmação. 10 O questionamento pelos jovens da década de 60, sobre os valores sociais tradicionais como a indissolubilidade do casamento, o posicionamento político, o status quo, o consumismo alienado e alienante da economia capitalista como cultura dominante, é reconhecido como o fenômeno social de contracultura. (Houaiss, 2010; PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é contracultura. Editora Brasiliense S.A., São Paulo, Brasil, 1986).
  • 36. 36 Com o passar dos anos, o rock´n´roll sofreu várias mutações. Citamos como exemplo o LP dos Beatles “Sg. Peppers”, o qual ao invés de baladas rápidas e românticas, anteriormente gravadas pelo grupo, agora apresentava canções bem estruturadas que exigiam um maior conhecimento musical de seu ouvinte. Conforme assinala Janotti Jr. (2003) A partir de então, a denominação rock and roll ficou ligada aos traços das músicas produzidas na década de 1950 e início dos anos 1960, que eram faixas curtas e letras ligadas ao mundo adolescente. Hoje, o rock and roll é reconhecido como um gênero musical que reproduz os se refere aos primeiros passos do rock (JANOTTI JR, 2003, p.40). O começo da Guerra do Vietnã, no ano de 1959, e que envolveu os Estados Unidos e o Sudeste Asiático, entretanto, faria com que o rock tomasse outro rumo assim como os pensamentos e crenças dos jovens. Ao tocar o Hino Nacional dos Estados Unidos em sua guitarra, Jimi Hendrix dizia não a Guerra do Vietnã e mudava o rumo do rock, que deixava de representar uma simples rebeldia contra a sociedade para ser uma forma de expressão de pensamentos politizados dos jovens. Esses buscavam, depois de tantas guerras, a harmonia na sociedade e no mundo. Acreditavam que poderiam conscientizar as pessoas sobre os problemas do mundo, bem como mostrar um caminho de amor e alegria através da música. Surgia a então “Era de Aquário”11 . Lá o movimento hippie cantou para o mundo o sonho californiano (...) e que conduziria a uma mistura cristã-budista que seria responsável por Jesus Christ superstar e Hair, chegaria ao seu ponto máximo de coletivismo juvenil em Woodstock, em 1967 (CHACON, 1982 p. 34). 11 A “Era de Aquarius” se configurou para muitos jovens da década de 60, como um estilo de vida hippie, com cabelos grandes, roupas coloridas, de tecido natural, e o uso de drogas. Também, uma “filosofia” que pregava a paz e o amor e o “não à guerra do Vietnã” (Guerra, 2010).
  • 37. 37 Com o surgimento do PA (Public Address), “um complexo sistema de amplificadores, auto-falantes e aparelhos sonoros, utilizados para gerar um som mais potente e apurado nas apresentações ao vivo” (JANOTTI JR, 2003, p. 46), foi possível a realização de uma variedade de shows de rock ao vivo chegando até aos festivais de música. Esses fomentavam a idéia de coletividade dos jovens e a idéia de que estes poderiam viver de uma maneira alternativa desagregada do capitalismo que consumia a sociedade. “Dois festivais têm lugar privilegiado na mitologia rock: Woodstock, um mito para o imaginário roqueiro, como referencia da celebração do ideal libertário (...)” (JANOTTI JR, 2003, p.46). Outro festival que se tornou um marco na história do rock foi realizado cinco meses depois de Woodstock, a saber, o “Festival de Altamont”. Entretanto, esse festival ficou marcado não por sua ideologia ou idéia de solidariedade. Durante a apresentação da banda Rolling Stones um fã negro foi assassinado enquanto a banda apresentava a música “Sympathy for the Devil”, este festival ficaria conhecido pelo fim dos sonhos juvenis de amor e harmonia entre as pessoas. Nesse sentido, consideramos que a década de 60 foi marcada por esses fatos e pelas grandes gravadoras que não só assinavam um contrato com os artistas, mas também influenciavam tanto na escolha das músicas quanto no modo de apresentação dos cantores - o que deixava os fãs um pouco céticos em relação a essas gravadoras e aos festivais em que seus artistas participavam. “A partir de então, uma parcela importante de „integridade‟ roqueira ficou mais associada às escolhas sonoras, aos modos de vestir herdados dos anos 60, do que ao nome da companhia com que os músicos assinavam contrato (...)” (JANOTTI JR., 2003, p.47).
  • 38. 38 Com os avanços tecnológicos que possibilitavam a melhoria nas gravações de estúdio, duas vertentes do rock acabaram por serem criadas: o rock progressivo e o heavy metal. Reconhecido como o “pai do heavy metal”, para alguns autores como Chacon (1982), teríamos Jimi Hendrix: Na década da marginalidade e do undergournd, Hendrix era o favorito por ser negro e canhoto, o que lhe conferia uma aura especial que recobria o talento, e criatividade e a técnica. [...] No clima de sua morte e da separação dos Beatles, o Rock-pesado passou a ocupar alguns espaços e a mostrar que também podia ser comercial (CHACON, 1982. p. 40). 2.1.3 A consolidação do Heavy Metal O surgimento propriamente dito do heavy metal continua sendo uma controvérsia para muitos historiadores e músicos. Uma das teorias é que o termo “heavy metal” estaria se referindo à “artilharia pesada,” às “pessoas com grande habilidade física/mental e de componentes tóxicos presentes na tabela periódica” (JANOTTI JR., 2004, p. 20). O crítico da revista “Rolling Stones”, Lester Bangs, usou o termo para definir a banda “Led Zeppelin”, porém, o baixista da banda “Black Sabbath” diz que a banda foi a primeira a ser denominada com o termo referindo-se a um estilo musical. O fato é que em boa parte da literatura encontraremos o termo heavy metal ligado a uma música de nome “Born to be Wild” da banda Steppenwolf, que foi trilha sonora do filme “Easy Rider”, em 1969. O heavy metal estava presente na letra de “Born to be Wild”, escrito pelo canadense Denis Edomonton/Mars Bonfire. Na verdade, se referia a toda experiência de, você sabe, grandes motos correndo pelas auto-estradas (Jonh Kay, vocalista da banda Steppenwolf, In DUNN, 2008).
  • 39. 39 O heavy metal tem suas raízes no rock and roll, e também destacava as angústias da vida, dos jovens operários e o desejo que seguir a livremente suas escolhas, sem as pressões da cultura dominante, nomeadamente, a cultura capitalista. Apesar de várias bandas, com seus riff e distorções de guitarras já serem consideradas com os primórdios do heavy metal, o crédito de todo estilo vai para a banda “Black Sabbath”. Jovens operários que viviam em uma cidade pequena da Inglaterra juntaram-se para formar uma banda onde pudessem expressar suas angústias. Porém, ao contrário do rock da década de 60, a mensagem que passavam não era a de que “tudo ficaria bem com muita paz e amor”. Essas bandas tinham letras que retratavam guerras, vícios e violência em suas músicas. Além de todo o pragmatismo descrito em suas letras, o grupo agregou uma linha demoníaca para a composição de suas músicas e shows, transformando essa linha como uma das principais características do heavy metal. Mas, porque a música da banda era considerada demoníaca? Janotti Jr. Explica que Figuras medievais evocadas pela indumentária e em tatuagens desenhadas pelo corpo, sons pesados, barulhentos, com guitarras distorcidas e vocais rasgados, uma riqueza de imagens calcadas em monstros, teratológicas, crânios e outros elementos ligados à idéia de escuridão fazem com que o heavy metal seja um estilo musical frequentemente associado a noções caóticas e anárquicas (JANOTTI JR., apud LIMA, PEREIRA, CORDEIRO, 2010, p. 23). O produtor musical Bob Ezrin, no documentário “Global Metal” de Sam Dunn (2008), entretanto tem outra explicação: Na Idade Média, se identificava o tritão como a música do diabo porque, aparentemente, era o som de quando se invocavam às Bestas. Há algo sexual no som do tritão. Creio que na Idade Média se assustavam, ignorantemente, quando ouviam algo assim e sentiam as reações em seus corpos, pensavam: Lá vem o Diabo.
  • 40. 40 O primeiro trabalho exclusivamente heavy metal foi lançado em uma sexta-feira 13 de 1970, era o Lp da banda “Black Sabbath” com o mesmo nome. Esse álbum ficou por meses nos primeiros 10 lugares nas paradas inglesas e, também, ficou muito bem posicionado na América, apesar de que sua primeira turnê nos Estados Unidos ter sido cancelada, pois os membros da banda eram vistos como desordeiros. Não só na Inglaterra aconteceu um grande sucesso das músicas, mas o heavy metal passou a ser divulgado por todo o mundo: (...) na música do Asterix, Titanic (da Noruega), Lucifer´s Friend (da Inglaterra e Alemanha), do pesado kraut dos roqueiros do Guru Guru, do assustador May Blitz (também do selo Vertigo), do Master´s Apprentices ( da Austália), Capitain Beyond (formado por membros do Deep Purple e Iron Butterfly), Bang, do relativamente delicado Armageddon, do grupo móbido do Texas, Bloodrock, do duradouro Bodgie e do Necromandus, prodruzida por Tony Iommi (CHRISTE, 2010, p.27) 2.2 Iron Maiden, um pouco de história Na década de 70, uma nova forma de música estava fazendo sucesso na Inglaterra: o punk. Esse estilo era constituído por músicos de aparência desleixada, cheios de atitudes contra o sistema capitalismo. Três pessoas eram necessárias para pode formar uma banda punk, e não, necessariamente, precisava saber tocar instrumentos musicais com perfeição. O lema seguido por esse estilo musical era “do it yourself”, ou “faça você mesmo”. Com o surgimento desse movimento, o pouco de apoio que o heavy metal possuía das gravadoras sumiu, pois estas queriam contratar somente os grupos de música punk, considerado lucro certo, na época. Felizmente, esse fato ajudou as banda de heavy metal da Inglaterra a criarem aquilo, que posteriormente, seria chamado de “New Wave of British Metal”.
  • 41. 41 „Novo‟ em NWOBHM geralmente queria dizer sem experiência, ainda que houvesse pouco amadorismo em jogo com o Iron Maiden. Eles habilmente sintetizavam as camadas góticas do Judas Priest com o perigo iminente do punk rock – uma combinação impressionante e letal. Vestindo camiseta preta, cinto e munhequeira cravados de tachas prateadas, o vocalista Paul Di´Anno, um skinhead regenerado, comandava os clubes com uma pegada Tom Jones, enrolando o cabo do microfone na mão e estendendo o dedo mínimo com evidente autoridade. O Iron Maiden parecia tocar dez vezes mais notas que qualquer outra banda, e sua estonteante abordagem compositiva elevaria a musicalidade do heavy metal por décadas (CHRISTIE, 2010, p 51). Lugares como “The Soundhouse, Musica Machine, The Marquee e The Bandwagon. Todos eram trampolins para o consagrado Hammersmith Odeon, a meca das casa de shows (...)” (CRISTIE, 2010 p. 50). Com o afastamento das gravadoras, as bandas de heavy metal passaram a fazer os seus próprios selos. O LP lançado de modo independente chamado The Soudhouse Tapes, alcançou o número um em pedidos nas rádios britânicas, antes mesmo do lançamento oficial. Nele havia três músicas do Iron Maiden; “Iron Maiden”, “Invasion” e “Prowler”. O Iron Maiden foi logo muito bem acolhido pelo país, pois o grupo cantava as ruas de Londres e as histórias sobre a Inglaterra. Para incrementar o seu espetáculo o grupo começou a usar alguns truques no palco, como máquinas de gelo seco e objetos cênicos feitos em casa. Em 1980, a banda tocou ao vivo em um programa pop, “Top of the pops”, pois já alcançavam o número um nas paradas britânicas, apesar de problemas com os produtores do show, já que normalmente as bandas que tocavam no show usavam playback. No mesmo ano o grupo lançou o álbum Iron Maiden. No ano de 1983, o Iron Maiden se encaminhava para o outro lado do oceano - os Estados Unidos. Lá, a banda lançou seus álbum “Number of the Beast” e “ Piece of Mind” e, por lá, conquistaram o disco de ouro nas vendagens. Primeiramente, o Iron Maiden viajou em turnê com Judas Priest em 1981 e apresentou-se para um público de 8 mil pessoas que haviam esgotado os ingressos. Em meados de 1983, o Iron Maiden retornou
  • 42. 42 como banda principal com o gigantesco show Piece of Mind, contando com projeções de cenas da Segunda Guerra e cirurgias neurológicas de mentira feitas em um zumbi de dois metros e meios de altura (CHRISTE, 2010, p.95). Com o passar do tempo o público da banda aumentou e, então, suas músicas tiveram um alcance global. A próxima turnê 1985, promovendo o álbum “Powerslave” passando por 25 países. A superprodução dos shows de heavy metal ficava por conta da banda e dos produtores, porém, do outro lado do palco encontravam-se os headbangers. Fãs do estilo de metal que acompanhavam fervorosamente os seus ídolos em shows e compravam os seus discos e para se caracterizarem como fãs do metal decidiram criar seu próprio estilo de se vestir. Inspirados por seus ídolos, estes vestiam calças apertadas de couro, bandanas, blusas pretas e sapatos, normalmente botas pretas. Vendo essa nova tendência de consumo, as bandas começavam a investir em produtos com o nome do grupo. A farta produção de camisetas das bandas era uma publicidade incrível, repsonsável por levar a imagem do heavy metal das lojas de discos pára as ruas. Lider em design, o Iron Maiden já figurava entre os três grupos que mais vendiam produtos nos Estados Unidos (CHRISTE, 2010 p. 97). O próprio logo da banda foi criado pelo baixista Steve Harris e posteriormente se juntaria à banda, o Eddie, o mascote. Inspirado no movimento punk Eddie foi criado para figurar a juventude transviada. Depois que Steve Harris conheceu tal personagem pediu para o seu criador, Derek Riggs, pintar um pouco mais de cabelos e dar uma atitude um pouco mais de heavy metal, e assim, adotou o monstro como mascote da banda. “Eddie faz cerca de 12 aparições e se tornou um mascote para todos os fins, um símbolo imortal de boa sorte para o duradouro Iron Maiden” (CHRISTIE, 2010, p. 99).
  • 43. 43 Esse mascote foi tido como o primeiro mascote de bandas de heavy metal, e que serviu de inspiração para várias outras bandas adotarem “alguém” que servisse como alter ego da banda. Em uma de suas grandes turnês o Iron Maiden passa pela primeira vez ao Brasil, em 1985, em um festival chamado Rock In Rio, um festival voltado para o rock e com um dia especial para o heavy metal. Depois dessa “visita”, o Iron Maiden fez muitas outras, as mais recentes, das turnês “Somewhere Back In Time”, em 2008 e 2009, e “The Final Frontier”, em 2011. 2.2.1 Heavy Metal no Brasil No Brasil, em 1970, haviam várias bandas influenciadas pelo rock estrangeiro, entre elas, algumas exploravam a sonoridade mais pesada. Porém, foi uma banda fora do eixo Rio-São Paulo que ganhou destaque no estilo do heavy metal. A banda “Strees” era paraense e, em 1982, lançou o primeiro disco de heavy metal brasileiro. As letras eram compostas em português, mas eram mal vistas para aqueles que achavam que um bom heavy metal deveria ser cantado em inglês. Sendo assim, a aparecimento da banda “Karisma” marcou a história da música brasileira como a primeira banda de heavy metal a gravar em inglês. “No Rio de Janeiro a cena metálica produziu na década de 1980, bandas como Dorsal Atlântica, Metalmorphose e Azul Limão” (JANOTTI JR, 2004, p.38). Em 1985, um festival ganhou notoriedade não só no Brasil, mas em todos os países da América do Sul, o Rock In Rio. Um marco para o rock e o heavy metal na história da música no Brasil, esse festival trouxe várias atrações internacionais e
  • 44. 44 dedicava um dia do festival ao estilo heavy metal. Seria a primeira vez que esse estilo musical ganhava espaço na TV brasileira. A primeira banda brasileira a alcançar notoriedade internacional foi a “Dorsal Atlântica”. Contudo, a banda que se tornou referência ao metal brasileiro foi a banda “Sepultura”. “[...] os músicos do Sepultura passaram a ser ídolos absolutos dos headbangers nacionais. A apresentação no Rock In Rio II é um marco na história do metal nacional” (JANOTTI JR., 2010 p. 42). Depois do lançamento de dois álbuns e sua consolidação no mercado da música, a banda resolve voltar a suas raízes e fazer um álbum misturando o heavy metal e sonoridades brasileiras, chegando até a fazer uma gravação com índios xavantes. Porém, esse álbum foi mal visto pelos fãs conservadores do metal. Atualmente, várias outras bandas brasileiras são reconhecidas mundialmente como: “Angra”, “Shaman”, “Krisium” etc. “Hoje, o público e o mercado de heavy metal brasileiro são reconhecidos internacionalmente como grandes centros de consumo do rock pesado” (JANOTTI JR., 2004 p 45). 2.2.2 Heavy Metal em Fortaleza Na cidade de Fortaleza, em meados anos 1980, o heavy metal chegou aos poucos. Não haviam lojas voltadas para o estilo ou casas de shows para a apresentação de bandas. A maneira de se reunir com alguns outros fãs era ir à loja “Francinete Discos”, uma loja onde se vendiam vinil importado, normalmente trazidos da cidade de São Paulo. A espera era longa e, a chegada de algum disco novo era um acontecimento que conseguia reunir quase todos os headbangers de Fortaleza.
  • 45. 45 Mas havia também um lugar onde esses grupos se reuniam, na Praça do Ferreira. Era realizada uma festa na Praça, quando aconteciam apresentações de MPB, estilo que mais se aproximava os gosto dos fãs, ou que era aceitável ouvir enquanto conversavam. Pela discriminação e pelo próprio estilo, os fãs de Fortaleza eram em sua maioria homens marginalizados da sociedade por usarem suas roupas pretas e calças rasgadas mesclado com seus cabelos grandes e suas atitudes contra a sociedade de cultura dominante. Some-se a esse dado o fato de que as roupas disponíveis para venda de banda de heavy metal que existiam na cidade eram somente masculinas. Tempo depois um rapaz chamado Tony, criou sua própria loja voltada ao estilo, logo, ele se mudou para o centro, para a Galeria Pedro Jorge12 , o que depois, viria a ser a maior concentração de lojas de rock e heavy metal da cidade de Fortaleza. Já nos final dos anos 1990, foi criado na cidade a Associação Cearense do Rock (ACR). A ACR é uma associação totalmente voltada para divulgação do rock na cidade, através de shows e de ações sociais. O evento promovido pela associação ACR mais conhecido é o FORCAOS, evento que acontece no mesmo período do conhecido FORTAL, evento feito para a comemoração do carnaval fora de época da cidade, visto como uma alternativa para os fãs do rock. Além deste evento, também temos o Rock Cordel com o apoio do Banco do Nordeste e a seletiva de bandas nacionais para tocar no WACKEN OPEN AIR, um evento alemão que ocorre por uma semana interminável de heavy metal. Além dos referidos festivais temos o Ponto.Ce, voltado para estilos mais alternativos do rock; o Panela Rock, festival feito com bandas independentes locais e nacionais; o Ceara in Rock, evento que dá oportunidade a bandas independentes locais e 12 Galeria Pedro Jorge é uma galeria onde se encontram lojas voltadas para o estilo “rock”. Essa Galeria é a maior concentração de lojas desse estilo no Nordeste. Serve como ponto de referencia e lugar de encontros para todos os fãs do estilo.
  • 46. 46 traz atrações internacionais; além de vários outros shows internacionais promovidos por produtores de outras cidades. No quesito imprensa, o heavy metal conta com algum espaço na cidade de Fortaleza, apesar de existir programas voltados para esse estilo musical, estes ainda são poucos divulgados. Temos a Tv União, Tv Diário, Tv Cidade e Tv Cultura, com programa local, sobre heavy metal. Além da TV, temos no rádio, a Rádio Cidade e a Rádio Mix com espaços voltados ao rock. Houve também a Rádio Kiss FM, porém esta fechou pouco tempo depois de sua inauguração na cidade de Fortaleza. “Porém os espaços destinados a shows abrem e fecham com velocidade igualmente rápida, de modo sazonal” (Benevides in Damasceno 2008, p.175). As casas de show em Fortaleza não se multiplicaram, apenas foram sendo substituídas por outras, pois antigamente tínhamos: Clube América, Metrópole, o Canto das Tribos, o Bar Hey Ho, a barraca de praia Biruta, Arena e o Oasis. Agora, aberto para esse tipo de espetáculo temos: Orbita Bar, The Pub, a barraca Garota de Ipanema, Santa Cruz, Maria Bonita e Siara Hall. Podemos considerar os fãs de heavy metal uns aficcionados que fariam de tudo por sua banda do coração. Uma prova disso foi a campanha iniciada em 2008, para que banda Iron Maiden trouxesse o show para a cidade. A banda iria tocar em 6 cidades brasileiras, sendo elas: Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasilia e Recife. Os fãs fizeram uma comunidade no Orkut, que de um dia para outro tinha mais de quatro mil pessoas, divulgação por email e outras redes sociais, adesivos para carros, pôsteres e flyers. Além de divulgarem em jornal através de entrevistas concedidas pelos organizadores. Apesar de todos esses esforços, a banda se apresentou apenas na cidade de Recife, Pernabuco, pois os produtores que iriam trazer o grupo acharam mais
  • 47. 47 conveniente realizá-lo nessa cidade. O que não desanimou os fãs que se organizaram em caravanas e compareceram ao show. Com o início da campanha para o Iron Maiden tocar na cidade, um fã da cidade criou um blog chamado “Iron Maiden Brasil Notícias”, www.ironmaidenbrasil.com.br, que é voltado especialmente para assuntos sobre a banda e seus integrantes. Após quase quatro anos, o site já teve mais de meio milhão de acessos, já fez entrevistas com ex- integrantes da banda, com o atual vocalista da banda no ano de 2011, e já transmitiu ao vivo, através de internet (twitter, www.twitter.com/IMBnoticias) os shows que a banda realizou no começo de 2011. Agora o site possui seis membros na equipe, sendo três de Fortaleza, uma rádio, um podcast, um chat em sua página e um videocast. O site é acessado mundialmente, com visitas da Argentina ao Japão.
  • 48. 48 CAPÍTULO 3 CHILDREN OF THE BEAST 3.1 Pesquisa com os fãs A pesquisa foi realizada com jovens residentes na cidade de Fortaleza, no período de dois meses, dividida em duas etapas: pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa. Com a finalidade de formular um perfil do fã da banda, os diálogos travados entre o interlocutor e entrevistados foram diretamente focadas em questões relacionadas à banda e ao consumo de produtos do grupo musical Iron Maiden. 3.1.1 Pesquisa Quantitativa Com o objetivo de configurar um perfil dos fãs da banda Iron Maiden que residem na cidade de Fortaleza, foi realizado um questionário fechado que seria aplicado diretamente a esses fãs no dia anterior ao show do grupo, que aconteceu no dia 2 de abril de 2011, na cidade de Recife, Pernambuco. Entre as pessoas que participaram dessa etapa da pesquisa, encontravam-se homens e mulheres na faixa etária entre 18 anos até os 40 anos, de diferentes classes sociais e moradores de variados bairros da cidade de Fortaleza. Todos os entrevistados eram participantes de caravanas que saíram da cidade de Fortaleza em direção a cidade de Recife, local do show do grupo. O grupo de participantes da pesquisa estava dividido em quatro caravanas, a saber, a “Caravana da Galeria”, saindo da Praça do Liceu; “Caravana do Gallery Produção” e “Caravana do Fernando”, saindo da Praça do
  • 49. 49 Ferreira; “Caravana da Viagem.com” com saída da Praça do Colégio Militar, em um total de 125 questionários que deveriam ser aplicados. Desse modo, o material usado nessa primeira parte foi o questionário com perguntas fechadas. Este objetivava verificar o perfil dos fãs com perguntas que incluíam os aspectos sócio-econômicos e treze variadas sobre o consumo de objetos da banda, o show, e qual era em média o investimento no consumo desses materiais. O grupo ao qual foi aplicado o questionário era formado por homens e mulheres de diferentes classes sociais e moradores de variados bairros da cidade de Fortaleza. A faixa etária dos participantes variava entre 18 a 40 anos. O questionário foi impresso em uma folha de A4, frente e verso. No topo da folha estava a apresentação da pessoa que aplicaria o questionário. Em seguida estariam as perguntas do Critério de Classificação Econômica do Brasil. As duas primeiras questões procuram investigar o tipo de objeto sobre a banda o entrevistado possui, se é um produto original ou “pirata”13 . Seguido de quatro questões sobre shows que o entrevistado teria ou não assistido. Logo, duas questões sobre os fãs clubes e se o entrevistado participaria; também, se o entrevistado já efetuou alguma compra no site oficial da banda14 e se possui alguma tatuagem da banda, já que esta é a imagem tida do fã de heavy metal de acordo com os estereótipos que são divulgados na mídia . As três últimas perguntas investigam sobre qual a relação com a banda no cotidiano do fã: quanto investe por ano na compra de materiais da banda, se presenteia alguém com produtos do grupo e sobre os lugares em que costuma usar as blusas da banda. Por fim, foram listados alguns produtos da banda e foi pedido para que a pessoa divulgasse a quantidade de objetos adquiridos. 13 A palavra “pirata” é usada em referência ao produto, por exemplo, livro, disco, vídeo, que é copiado ou plagiado de uma obra, com infração à lei sobre a propriedade artística ou intelectual. Houaiss. (2010). 14 http://www.ironmaiden.com é o endereço do site oficial da banda, criado em 1998.
  • 50. 50 Este questionário foi aplicado no dia 2 de abril de 2011, um dia antes do show que a banda realizaria na cidade de Recife. A aplicação foi dividida em quatro partes, nas respectivas caravanas divididas em quatro ônibus, e teve seu início no horário de cinco horas da tarde, ainda na cidade de Fortaleza. A primeira aplicação do questionário foi realizada na Praça do Liceu, na “Caravana da Galeria”, as primeiras pessoas foram muito solícitas e disseram ser um bom “passa-tempo” responder à pesquisa enquanto esperavam pelo horário de partida do ônibus. No andamento das aplicações, começou a chover o que interrompeu por um breve momento a aplicação do questionário. Depois de duas horas, o número de pessoas na praça havia triplicado o que criou certa dificuldade, pois era só uma pessoa fazendo a aplicação do questionário. Algumas pessoas se reservaram ao direito de não responder ao questionário na parte do critério econômico, e muitas outras pessoas disseram ser complicada a compreensão de tal questionário, o que veio a se tornar tanto um obstáculo no preenchimento do questionário quanto na leitura dos dados obtidos, pois algumas perguntas deixaram de ser respondidas, conforme observado no resultado apresentado. Terminada a aplicação do questionário na Praça do Liceu, às oito horas da noite, o próximo local seria a Praça do Ferreira, onde se encontravam as “Caravana da “Gallery Production” e “Caravana do Fernando”. Em média, foram coletados 30 questionários. Ressaltamos que uma das caravanas, a saber, a “Caravana do Fernando” saiu antes do tempo previsto, impossibilitando a aplicação do questionário em todos os membros da caravana. Por fim, às nove horas da noite, o questionário foi aplicado aos membros da “Caravana da Viagem.com”. Foram coletados, em média, 20 questionários. Desses quatro grupos, apenas duas pessoas se recusam a participar da pesquisa, porém não quiseram esclarecer o motivo, apenas não se mostraram interessadas em responder às perguntas, outras não o fizeram por serem analfabetas.
  • 51. 51 Resultados Passaremos à análise dos resultados dos dados obtidos após a realização da aplicação dos questionários. No total de 125 questionários respondidos obtivemos o seguinte resultado: no quesito gênero, encontramos o resultado de 100 homens, no total de 80%, e 25 mulheres, no total de 20%. A faixa etária é dividida entre 18 anos até 40 anos. Encontramos a maior porcentagem concentrada entra a faixa etária de 18 a 25 anos, com a porcentagem de 53,7% e a menor porcentagem fica entre a faixa etária de 36 a 40 anos. Frequencia Porcentagem Porcentagem Valida Valido HOMEM 100 80,0 80,0 MULHER 25 20,0 20,0 Total 125 100,0 100,0 Tabela 2: Faixa etária Freqüência Porcentagem Porcentagem Válida Valido 18-25 66 52,8 53,7 26-30 39 31,2 31,7 31-35 12 9,6 9,8 36-40 6 4,8 4,9 Total 123 98,4 100,0 Não Respondeu 2 1,6 No quesito da classe social encontramos como maior porcentagem a classe B2, com 30,9%, e de menor a classe A2, com 4,3%. Ao cruzarmos os dados de classe social e faixa etária, encontramos o perfil de maior porcentagem que é o da
  • 52. 52 classe B2, faixa etária de 18 a 25 anos, com 17,4%. Conforme visualizamos na tabela de número 3. Tabela 3: Idade x Classe Social CLASSE SOCIAL TotalA2 B1 B2 C1 C2 D IDADE 18-25 Valido 3 7 16 9 8 2 45 % Total 3,3% 7,6% 17,4% 9,8% 8,7% 2,2% 48,9% 26-30 Valido 1 3 10 10 6 2 32 % Total 1,1% 3,3% 10,9% 10,9% 6,5% 2,2% 34,8% 31-35 Valido 0 4 1 3 1 1 10 % Total ,0% 4,3% 1,1% 3,3% 1,1% 1,1% 10,9% 36-40 Valido 0 1 2 1 1 0 5 % Total ,0% 1,1% 2,2% 1,1% 1,1% ,0% 5,4% OBS: Não respondeu ao quesito “classe social” o total de 31 pessoas, ou seja, 24,8%. Dentre as pessoas entrevistadas, encontramos o total de 78,4% fãs que compram produtos originais da banda, contra 21,6% de pessoas que não o fazem. Em relação aos “produtos piratas”15 , podemos verificar que 58,8% compram “produtos piratas” contra 41,2% que só compram produtos originais. Entre as pessoas que compram produtos originais, os homens se encontram entre os maiores compradores com 65,5% e as mulheres com 12,8%. E podemos observar resultado semelhante em relação aos “produtos piratas” sendo mais uma vez os homens como maiores compradores com 48,2% e as mulheres com 10,5%, conforme o resultado da tabela 3. 15 De acordo com o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delito contra a Propriedade Intelectual , a pirataria se constitui em uma violação aos direitos autorais, conforme as Leis nº 9.609 e 9.610, (19 de fevereiro de 1998).
  • 53. 53 Tabela 4: Sexo x Produto Original PRODUTO ORIGIAL TotalSIM NÃO SEXO HOMEM Valido 82 18 100 % Total 65,6% 14,4% 80,0% MULHER Valido 16 9 25 % Total 12,8% 7,2% 20,0% Tabela 5: Sexo x “Produto Pirata” “PRODUTO PIRATA” TotalSIM NÃO SEXO HOMEM Valido 55 40 95 % Total 48,2% 35,1% 83,3% MULHER Valido 12 7 19 % Total 10,5% 6,1% 16,7% Entre as classes sociais, a classe que mais consome ambos os produtos, original e “pirata” é a classe B2 com 23,4% e 17,6%, respectivamente. Em relação a qual tipo de produto é mais consumido pelos fãs, temos o produto original com 78,4% contra 58,8% de pessoas que compram “produtos piratas”. E os produtos mais consumidos entre os originais e “piratas” são: Cd´s originais com 61,6%, como mostrado na tabela 5. Frequência Porcentagem Porcentagem Válida Válida 48 38,4 38,4 CD 77 61,6 61,6 DVD´s “piratas” com 34,4%, vide tabela 6. Frequência Porcentagem Porcentagem Válida Válida 82 65,6 65,6 DVD 43 34,4 34,4 Total 125 100,0 100,0
  • 54. 54 Continuando com a análise de compras efetuadas pelos fãs, encontramos 4,2% de pessoas que já efetuaram alguma compra pelo site oficial da banda, sendo a blusa o objeto mais comprado com 2,4% do total e tendo como a classe que mais efetuou compras a classe C1. Tabela 7: Compras pelo Site Frequência Porcentagem Porcentagem Válida Válida SIM 5 4,0 4,2 NAO 115 92,0 95,8 Total 120 96,0 100,0 Total 125 100,0 Tabela 8: Objetos Comprados Frequência Porcentagem Porcentagem Válida Válida 122 97,6 97,6 BLUSA 3 2,4 2,4 Total 125 100,0 100,0 CLASSE SOCIAL * COMPROU NO SITE COMPROU NO SITE TotalSIM NÃO C1 Válido 2 19 21 % Total 2,2% 20,9% 23,1% Total Valido 4 87 91 % Total 4,4% 95,6% 100,0% Com relação aos shows, 47,5% dos entrevistados já haviam ido a algum show do grupo, tendo como o Nordeste a região mais freqüentada por esses entrevistados. Obtivemos em relação ao público da banda o seguinte resultado: o público do sexo masculino com maior porcentagem de presença em shows, 80,5%, e o setor mais freqüentado por esses fãs, nomeadamente, a pista comum com 69,2% de público. Quando perguntados sobre a faixa de preço investida para poder realizar a viagem na caravana, do dia 3 de abril de 2011, para ir ao show do Iron Maiden na cidade de
  • 55. 55 Recife (PE), a média de preço ficou entre R$ 400,00 reais a R$ 600,00 reais com 45% das respostas. Quando perguntados se faziam parte de algum fã clube, somente 6,4% responderam fazer parte do fã clube oficial da banda, quando 18,4% marcaram ser parte de algum fã clube não oficial, tento o fã clube IMB16 como o mais apontado com 4,8%. Outra questão abordada foi se os entrevistados teriam tatuagens que referissem à banda. Desses entrevistados, 91,7% assinalou a resposta negativa. Os que assinalaram a resposta positiva, a saber, 8,3%, disseram que possuem de 1 a 3 tatuagens e investiram em média de R$ 100,00 reais a R$ 300,00 reais, totalizando 55,6% das respostas. O sexo que mais possui tatuagem são as pessoas do sexo masculino com 97% das respostas. A temática mais abordada é a referencia a CD´s da banda, 1,6%. Perguntado sobre se os entrevistados compravam algum tipo de produto da banda para poder presentear alguém, 36,7% respondeu que sim. As pessoas mais presenteadas são os irmãos e amigos com 8% das respostas em relação às outras pessoas. Verificou-se também que o gênero masculino é o que mais presenteia com produtos da banda. São também as pessoas do sexo masculino, 50%, da classe B2, 20,8%, as que mais usam as roupas da banda no dia-a-dia, dos quais 61,8% encontram-se na faixa etária de 18 a 25 anos, ou seja, 32%. 16 O fã clube IMB na realidade é um site onde são postadas notícias sobre a banda Iron Maiden, porém conta com a participação não só dos membros da equipe de organizadores do referido site, mas também dos fãs dessa banda que enviam matérias e sugestões para a melhoria do site. O site foi criado em 2008, e hoje é considerado um dos maiores sites de notícias sobre o Iron Maiden do Brasil, e é sediado na cidade de Fortaleza. O endereço é http://www.ironmaidenbrasil.com.br
  • 56. 56 Finalmente, foi perguntado quando se investe por ano no consumo de produtos que possuem relação com a banda. 83,8% das pessoas que responderam ao questionário afirmaram que investem entre R$ 200,00 a R$ 400,00 reais por ano. Entre essas pessoas o perfil de maior porcentagem foi: Sexo masculino, classe B2 entre a faixa etária de 18 a 25 anos. No quesito objeto consumido, os que são mais constantes nas coleções dos entrevistados são: Cd´s com 83,4%; blusas, 65,6%; DVD, 59,2%. Discussão No início desta pesquisa foi imaginado qual seria o perfil do fã da banda Iron Maiden. Não só devido ao ano de criação da banda, 1975, mas também devido ao estereótipo com o qual se pretende classificar fãs de rock e heavy metal. Seguindo essa linha de raciocínio, imaginamos encontrar fãs do sexo masculino cuja faixa etária se encontraria entre 25 a 35 anos e que estaria inserido na classe B1. Porém, aprendemos com a aplicação dos questionários que o perfil desse fã é: sexo masculino, na faixa etária de 18 a 25 anos e que encontra inserido na classe B2. Outro quesito que mostrou resultado contrário ao pensado antes da aplicação do questionário, seria que esse fã, em sua maioria, possuiria tatuagem que de algum modo fosse referida à banda, porém, constatamos que a maioria dos fãs não possui tatuagem. Esses fãs fazem coleções de quase todos os objetos referentes à banda, possuem objetos como bonecos, chaveiros, calendário, pôster, boné, caneca e outros. Também, a maioria possui uma coleção de cd´s, dvd´s e blusas, mas, outra vez, ao contrário do imaginado, eles não se restringem aos objetos originais. De acordo com os dados obtidos, a porcentagem de compra de objetos originais quase se iguala a porcentagem de compra dos objetos piratas.
  • 57. 57 Quanto à freqüência aos shows, observou-se que a média é de R$ 400,00 reais a R$ 600,00 reais. Esse valor foi desembolsado para a viagem na caravana em direção à cidade de Recife (PE). Para os participantes que já haviam assistido a algum outro show da banda, a região do Nordeste foi a mais assinalada. Embora alguns tenham responsido que assistiram aos shows na região Sudeste. O fã que participou da aplicação do questionário, em sua maioria, investe em média R$200,00 reais ao ano com produtos da banda, tanto para suas coleções como para presentear outras pessoas. Ressaltamos que a maioria dos fãs que residem em Fortaleza não faz parte do fã clube oficial, a saber, Iron Maiden Official Website, ou de qualquer outro fã clube. A alegação mais comum é a de que a mensalidade é alta ou de que há escassez de fã clubes não oficiais na cidade de Fortaleza. 3.1.2 Pesquisa Qualitativa A segunda parte da pesquisa, a pesquisa qualitativa, tem como objetivo implementar as questões da primeira etapa. Trata-se de um questionário que pretende ser mais subjetivo e que, portanto, daria a oportunidade para que esses fãs se expressem de uma forma mais intimista. Desse modo, pretendíamos construir um desenho que nos revelasse alguns dados para configurar o perfil do fã da banda Iron Maiden na cidade de Fortaleza. Novamente, a pesquisa foi realizada com os fãs do grupo Iron Maiden residentes da cidade de Fortaleza cuja faixa etária estaria entre 18 a 30 anos, moradores de variados bairros da cidade. Como indicativo para inclusão na pesquisa encontram-se os fãs que assistiram ao menos uma vez ao show da referida banda e que também são colecionadores de objetos, entre os quais, blusa, cd, DVD e pôster.