O poema descreve a noite numa cidade portuguesa através dos olhos de um observador melancólico. O poema evoca as prisões, igrejas, quartéis e a tristeza dos mais desfavorecidos. O observador sente-se comovido e revoltado perante as desigualdades e a dor que testemunha na cidade.
2. Toca-se às grades, nas cadeias. Som Que mortifica e deixa umas loucuras mansas! O Aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças, Bem raramente encerra uma mulher de «dom»! E eu desconfio, até, de um aneurisma Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes; À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes, Chora-me o coração que se enche e que se abisma. A espaços, iluminam-se os andares, E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos; Alastram em lençol os seus reflexos brancos; E a Lua lembra o circo e os jogos malabares. Duas igrejas, num saudoso largo, Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero: Nelas esfumo um ermo inquisidor severo, Assim que pela História eu me aventuro e alargo. Na parte que abateu no terramoto, Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas, E os sinos dum tanger monástico e devoto. Mas, num recinto público e vulgar, Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras, Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras, Um épico doutrora ascende, num pilar! E eu sonho o Cólera, imagino a Febre, Nesta acumulação de corpos enfezados; Sombrios e espectrais recolhem os soldados; Inflama-se um palácio em face de um casebre. Partem patrulhas de cavalaria Dos arcos dos quartéis que foram já conventos; Idade Média! A pé, outras, a passos lentos, Derramam-se por toda a capital, que esfria. Triste cidade! Eu temo que me avives Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes, Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes, Curvadas a sorrir às montras dos ourives. E mais: as costureiras, as floristas Descem dos magasins, causam-me sobressaltos; Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos E muitas delas são comparsas ou coristas. E eu, de luneta de uma lente só, Eu acho sempre assunto a quadros revoltados: Entro na brasserie; às mesas de emigrados, Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.
4. 1ª Quadra Espaço: As cadeias, onde se toca às grades (pede-se comida, é hora de ir dormir). O Aljube, onde se recolhem velhinhas e crianças. Personagens: Velhinhas e crianças. A mulher de “dom” com bens. Personagens inferidas: os presos e os guardas. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta sente-se mortificado e com loucuras, ao ouvir tocar às grandes nas cadeias. O poeta faz um comentário de que, no aljube, raramente se encontra uma mulher de “dom”. O poeta lamenta que velhinhas e crianças tenham de se recolher no Aljube.
5. 2ª Quadra Tempo: Ao acender das luzes. Espaço: As prisões, velha Sé, as cruzes. Personagens: Infere-se as pessoas desprotegidas que estão nas prisões, entram na Velha Sé e passam pelas cruzes. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta desconfia que sofre de um aneurisma, de tão mórbido que fica com o que vê. O coração do poeta é sensível ao deparar com as prisões, a velha Sé e as cruzes. O poeta sente que o coração está a chorar.
6. 3ª Quadra Tempo: A hora de acender as luzes. Espaço: Os andares que se iluminam. As tascas, os cafés, as tendas, os estancos acendem as luzes com reflexos brancos. A Lua lembra o circo e os jogos malabares. Personagens: Infere-se as pessoas que chegam a casa e acendem as luzes.
7. 4ª Quadra Espaço: Duas igrejas que se encontram num antigo largo. Espaço de evasão (negativo); espaço da cidade onde tiveram lugar práticas repressivas da igreja (Inquisição). Personagens: Padres que abandonaram as igrejas. As vitimas da repressão da igreja. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta revela pouca simpatia por igrejas e clero. O poeta, perante a vista das duas igrejas recria as antigas práticas repressivas da igreja (Inquisição). O poeta quer compensar a realidade negativa com incursões através da História.
8. 5ª Quadra Espaço: Construções rectas, iguais, crescidas, resultantes das reedificações após o terramoto. Íngremes subidas. Toque dos sinos. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta sente-se murado, emparedado, ao visitar a parte reconstruída da cidade após o terramoto. Sente-se afrontado com o ambiente religioso suscitado pelo toque dos sinos.
9. 6ª Quadra Espaço: O largo onde foi levantada a estatua de Camões, recinto público e vulgar com bancos de namoro e exíguas pimenteiras. A estatua de Camões feita de bronze, monumental e de proporções guerreiras. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta destaca a importância da figura de Camões ao mesmo tempo que pretende homenageá-lo.
10. 7ª Quadra Espaço: da rua. Quartel militar. Um palácio diante um casebre. Personagens: A Cólera, a Febre (personificados). Pessoas de corpos enfezados, que se acumulam nas ruas. Os soldados sombrios e espectrais, que recolhem ao quartel. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta revela-se sensível ao sofrimento das pessoas, que, pelos corpos enfezados, ele supõe sofrerem de cólera e febre. Mostra pouca simpatia pelos soldados devido a sua função de preservação da realidade instituída. Revela-se sensível às contradições sociais.
11. 8ª Quadra Tempo: A temperatura baixa. Espaço: Os quartéis (de cavalaria), ocupando o espaço de antigos conventos. Espaço de evasão: a Idade Média, suscitada pelos conventos transformados em quartel. A cidade, com cada vez menos gente. Personagens: Os patrulhas saem a pé e a cavalo dos quartéis, espalhando-se (“derramam-se”) por toda a capital. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta revela nostalgia pela Idade Média, enquanto espaço e tempo de evasão
12. 9ª Quadra Espaço: A triste cidade. Os lampiões distantes. As montras dos ourives. Personagens: Uma paixão defunta do poeta. As elegante, curvadas a sorrir diante das montras dos ourives. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta comisera-se com a tristeza da cidade. O poeta receai que a cidade lhe avive uma paixão defunta. O poeta sente-se triste ao deparar com os desfavorecidos da vida (as elegantes, diante das montras dos ourives).
13. 10ª Quadra Espaço: Os magasins. Personagens: Costureiras e floristas descem dos magasins, onde trabalham. Custa-lhes a elevar os pescoços altos. Muitas delas são comparsas ou coristas, trabalham no teatro. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta é tomado de sobressaltos, perante costureiras e coristas de vida dupla. O poeta denuncia as influencias estrangeiras na moda, as designar as lojas por magasins.
14. 11ª Quadra Espaço: A brasserie, onde, às mesas de emigrados, ao riso e a crua luz joga-se o dominó Personagens: Emigrados. Estado de espírito do sujeito poético: O poeta apresenta-se de luneta de uma lente só, declarando-se assim, atento. O poeta declara ter sempre assunto perante o “quadros revoltados”, que abundam na cidade.
15. " A mim o que me preocupa é o que me rodeia " Cesário Verde
16. Bibliografia ● COELHO, Jacinto do Prado (1976). Cesário Verde, Poeta do espaço e da memória. in Ao contrário de Penélope. Lisboa: Bertrand, pp. 195-198 ● LAIDLAR, Jonh (1993). A interpretação de Cesário Verde. In Helena Carvalhão Buescu (org.). Cesário Verde – comemoração do centenário da morte do Peta. Lisboa: Gulbenkian, pp.91-101 ● SERRÃO, Joel (1986). Cesário Verde – Vida e morte de Cesário Verde. Jornal Diário do Minho, de 27.07.2005, pp.24-25 ● VERDE, Cesário (2001). Poesia Completa, 1855-1856. Lisboa: Dom Quixote, pp.123-132
17. Agrupamento Vertical de Escolas do Búzio Disciplina: Português 2008/2009 Trabalho realizado por: Ana Raquel Ana Sofia Paula Rute 11ºF