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Comece a fazer sentido
Nas semanas e meses seguintes à publicação de A Lógica do Con‑
sumo, fui convidado várias vezes para participar do programa matinal
de maior audiência dos Estados Unidos, o Today Show. Foram vários
os assuntos tratados: compradores compulsivos, sexo na propaganda,
propaganda subliminar, e assim por diante. Em uma participação re-
cente, liderei um grupo focal com um grupo de pré­‑adolescentes com
idade entre 8 e 12. Meu objetivo? Medir o grau em que o branding
sensorial – ou seja, o uso de fragrâncias, sons e até mesmo texturas
para realçar o apelo dos produtos – afetava essas crianças. Foi como
apresentar um novo e estranho jogo chamado “Nomeie o Sentido”.
Primeiro, toquei várias canções bem conhecidas associadas com
várias empresas e programas de TV. A maioria das crianças identificou­
‑as imediatamente, dentre elas Disney, Apple Computer e a música
tema do Bob Esponja e da NBC. Então, chegou a hora do teste do
olfato. A primeira fragrância no ar foi (e sempre será) um dos aromas
mais evocativos do mundo.
–	 Ah, eu conheço esse cheiro – disse um.
–	 Toda criança conhece esse cheiro – interrompeu outro.
–	 Certo – disse eu. – Quando contar até três, me digam que
marca é essa. Preparados? Um... dois... três!
Todos acertaram: a massinha de modelar Play­‑Doh! As duas fra-
grâncias seguintes? Giz de cera Crayola e talco de bebê Johnson. As
crianças identificaram essas também. Depois, seguimos para um “qua-
dro de colagem” de marcas, no qual se podiam ver apenas partes ou
fragmentos dos logos ou símbolos das empresas. Ainda assim, o gru-
po conseguiu identificar a maioria das marcas, senão todas: Kellog’s,
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2 Brand Sense
Pepsi­‑Cola, MTV, Nike. Algumas crianças, para minha surpresa, reco-
nheceram até mesmo as logos da Gucci e da Tiffany’s.
Após examinar várias logos, eu trouxe um monte de produtos de
designers de grife, de lojas de departamento populares e até algumas
peças de roupas genéricas que comprei de vendedores de rua.
O jeans azul é um item conhecido da maioria dos alunos de en-
sino médio, obcecados por moda e marcas. Uma das meninas, Olívia,
embalava um par de jeans no colo.
–	 Estes são da Abercrombie! – anunciou com felicidade.
Da forma mais casual possível, perguntei:
–	 Então, como você sabe que esses jeans são realmente dessa
loja, e não falsos?
–	 Por causa do cheiro – Olívia respondeu. Ela então passou a
inalar a fragrância doce (alguns diriam enjoativa) dos jeans
Abercrombie & Fitch que estava segurando.
O que Olívia segurava parecia com qualquer outro par de jeans
azul. Poderiam ser da Target. Poderiam ser da Macy’s. Poderiam ser
de qualquer loja dos Estados Unidos. Mas essa estudante de ensino
médio identificou os jeans sem pestanejar por uma única razão: seu
aroma inconfundível.
Tão estranha e intrigante quanto a preferência de Olívia por
marcas possa parecer, minha ida ao Today Show me lembrou do pri-
meiro projeto de pesquisa sobre branding sensorial que realizei em
2005. Foi uma missão de cinco anos que envolveu centenas de pes-
quisadores e milhares de consumidores em quatro continentes. Nosso
objetivo era entender a lógica por trás de comportamentos como o de
Olívia, e providenciar um roteiro para os consumidores compreen-
derem porque eram atraídos por um produto, fosse ele um iPod, um
vidro de Nescafé ou até mesmo um simples cereal matinal.
Olívia, afinal de contas, era um exemplo vivo do que os profis-
sionais de marketing desejam quando criam uma marca. Eu há muito
me perguntava: o que faz uma criança (ou um adulto) cair de joe-
lhos por uma marca como a Apple ou a Kellog’s? Que componentes
da marca formam essa conexão tão mágica, magnética e duradoura?
Será que a crença obsessiva em uma marca pode se transformar em
desapontamento ou mesmo tédio?
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Comece a fazer sentido 3
É por isso que, no Projeto Brand Sense de 2005, minha equipe
e eu fizemos muitas perguntas para pessoas que tinham grande afi-
nidade com várias marcas – em alguns casos, você pode até chamar
de casos de amor. Voluntária e generosamente, elas compartilharam
suas paixões e impressões, informações inestimáveis que me levaram
a concluir que, se os produtos e a propaganda quiserem sobreviver
por mais de um século, terão que mudar inteiramente de direção.
Mais um cartaz pregado em um outdoor na Times Square não dará
resultado. Será necessária uma visão inteiramente nova (e sensorial),
algo que apele às nossas emoções.
Eu percebi então, como faço agora, que uma marca tem de se
transformar em uma experiência sensorial que vai muito além do que
vemos. Também percebi que, mais do que qualquer pessoa no plane-
ta, as crianças parecem se vincular com maior profundidade a marcas
sensoriais de verdade, que envolvam som, toque, cheiro e sensação.
Isso pode não surpreender tanto quando se pensa que os sentidos de
uma criança são aproximadamente 200% mais potentes do que os de
um adulto. Na verdade, quando uma mãe balança pela primeira vez
uma criança, ela provavelmente não tem ideia de que o senso olfativo
de um recém­‑nascido é mais de 300% maior do que o dela. Chamem
isso de jeito engenhoso da natureza de assegurar um permanente vín-
culo entre mãe e filho.
Outro exemplo surpreendente do poder do branding sensorial
é o Royal Mail, serviço postal do Reino Unido. Como muitos sabem,
os correios do mundo inteiro estão sofrendo queda em suas receitas.
Poucas pessoas usam o correio atualmente – para envio de pacotes
sim, mas não mais para despachar aquelas coisas brancas conheci-
das como envelopes com algo chamado selo colado no canto superior
direito. Quando foi a última vez que você recebeu uma carta escrita
à mão pelo correio? O mundo prefere a conveniência do e­‑mail, do
Facebook e do Twitter.
Para revigorar os números em queda do correio convencional, o
Royal Mail lançou uma campanha conhecida como “Touching Brands”
(Tocando Marcas). A empresa tinha duas metas: reconectar­‑se aos
consumidores que se afastaram do que foi chamado agora, um pou-
co pejorativamente, de “correio lesma”, e demonstrar o papel funda-
mental do correio na era digital como parceiro natural para as novas
mídias. A britânica Brand Sense Agency foi contatada para ajudá­‑los a
analisar como é possível usar os cinco sentidos para realçar as afinida-
des com uma marca – nesse caso, o Royal Mail. O novo experimento
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4 Brand Sense
foi apelidado de Correio Sensacional. Os resultados foram sensacio-
nais.
O primeiro tipo de Correio Sensacional do Royal Mail foi uma
carta personalizada inscrita em uma placa de chocolate – você leu
certo. Quem pode resistir a chocolate? O toque macio, o cheiro que
nos faz salivar, o som trincado quando você quebra a barra em dois e,
por fim, aquele sabor irresistível?
Aplaudida por ser inovadora e chamativa, a resposta ao nosso
envio de chocolate pelo Royal Mail superou todas as expectativas.
Três quartos dos destinatários sentiram que isso demonstrava como o
correio convencional pode cativar os cinco sentidos. Mas eles também
tomaram uma atitude como resultado de nossa experiência de envio,
atitude essa que, devo enfatizar, foi muito além de comer a carta de
chocolate. As pessoas simplesmente começaram a mandar cartas de
novo!
Mas queríamos confirmar nossas constatações cientificamente
também para os profissionais da mídia e para os publicitários. Usando
neurociência e a mais avançada técnica de varredura cerebral dispo-
nível hoje (a ressonância magnética), o instituto de pesquisa Millward
Brown estudou o cérebro de 20 homens e mulheres no Reino Uni-
do para determinar se o “experimento Royal Mail” havia criado um
verdadeiro compromisso emocional, ou seja, uma resposta emocional
potente nos consumidores. Seu objetivo era descobrir se havia alguma
diferença na forma como o cérebro dos voluntários respondia ao ma-
terial enviado por correio, em comparação às informações apresenta-
das na tela de um computador. Para qualquer marca, propaganda ou
solicitação funcionar (e manter­‑se na memória), é preciso abrir espa-
ço de alguma forma dentro do sobrecarregado cérebro humano, que,
como você deve imaginar, gosta de filtrar e descartar as informações
irrelevantes. A emoção chama nossa atenção por meio dos sentidos,
que então influenciam nosso processo decisório. As marcas que criam
uma conexão emocional com os consumidores são muito mais fortes
do que aquelas que não o fazem – é simples (e complicado) assim.
A pesquisa científica da Millward Brown confirmou que o correio
convencional – no caso, aquelas “súplicas” feitas de chocolate – foram
muito mais “reais” para o cérebro, e tiveram um “local” definitivo nas
percepções dos consumidores. Além disso, o correio convencional foi
mais fácil para o cérebro dos voluntários processar e mais provável de
gerar emoção, e conseguiu promover o processo decisório de forma
mais fluente. Em suma, o experimento do Royal Mail provou que o
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Comece a fazer sentido 5
correio convencional conseguiu penetrar no armário superlotado que
é nosso espaço de trabalho mental – uma façanha espetacular, con-
siderando que a maioria das pessoas vive em um ambiente cada vez
mais digital.
Outro aspecto do novo branding que juntei as minhas experiên-
cias com Olivia e o Royal Mail é que a marca deve tentar criar algo
parecido com a adoração obsessiva que um aficionado por esportes
sente ou, até mesmo, em alguns aspectos, com a fé de uma congrega-
ção religiosa.
Sem me aprofundar muito nas comparações com a religião,
podemos ver a relevância da espiritualidade para certos aspectos do
branding sensorial. As mais memoráveis e saboreadas marcas do fu-
turo serão aquelas que não apenas se ancoram na tradição, mas tam-
bém adotam características religiosas à medida que simultaneamente
fazem uso completo e integrado do branding sensorial. Ponto. Cada
marca completamente integrada vai vangloriar sua própria identida-
de, expressando­‑a em cada mensagem, forma, símbolo, ritual e tradi-
ção, assim como fazem os times e as religiões.
Evocar algo similar ao zelo religioso, contudo, é apenas um dos
objetivos da próxima geração de produtos e propaganda. Se quiserem
sobreviver, as marcas terão de incorporar uma “plataforma” de mar-
ca (significando um conjunto de associações que um consumidor faz
com um produto ou empresa) que una os cinco sentidos por comple-
to. Vejam a Abercrombie! Vivemos em uma paisagem em que os con-
sumidores precisam desesperadamente de algo em que acreditar. Tão
irônico quanto possa soar, enquanto as religiões lutam para encontrar
novos fiéis, os consumidores estão procurando desesperadamente ou-
tra coisa. Tristemente (alguns diriam), mais do que nunca essa “outra
coisa” é, bem, as marcas: um fenômeno que você adoraria ainda mais
se visitasse a China, onde o poder da “religião de marca” com fre­
quência parece mais forte do que suas contrapartes de mil anos de
idade baseadas na fé.
A base deste livro é resultado direto de um extenso projeto de
pesquisa que buscou investigar o papel que cada um de nossos cinco
sentidos desempenha em criar um caso de amor entre um consumidor
e uma marca. Nosso estudo também buscou determinar até que ponto
o fator religioso (fé, crença, pertencimento e comunidade) pode servir
para orientar o futuro do branding. À primeira vista, religião e marcas
podem parecer distantes, quase a ponto do insulto. Mas serão mes-
mo? Visite qualquer igreja e, mesmo antes de entrar, a primeira coisa
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6 Brand Sense
que você vai ver será um ataque sensorial de corpo inteiro: sejam
os sinos do meio­‑dia atravessando Zurique, na Suíça, ou os sons das
orações atravessando Istambul. Dentro de uma igreja, seus sentidos
vão continuar sendo estimulados e acordados, seja pelas fragrâncias
inconfundíveis do incenso no ar, seja pelo aroma mofado dos bancos
da igreja. Não importa onde você vive ou qual fé pratica: a religião
envia uma série de sinais claros e inconfundíveis por meio de nossos
sentidos – mesmo que você nunca tenha vislumbrado uma cruz, um
altar, um vitral ou um kipá. As religiões mais antigas estão por aí há
cerca de 3.500 anos. E as marcas mais antigas? Cento e cinquenta
anos. É por isso que acredito que está na hora de as marcas pegarem
emprestada essa percepção, respeitosamente, das religiões – e apren-
derem algumas lições cruciais sobre crença e lealdade.
Além disso, decidimos que nossa pesquisa Brand Sense teria re-
levância apenas se abrangesse todo o planeta. Nossa equipe multicul-
tural de pesquisa envolveu pessoas de 24 países, falantes de 18 idio-
mas. No entanto, nosso estudo global teve outro objetivo. Queríamos
identificar tendências em expansão e analisar a evolução das marcas
locais para nos ajudar a criar uma base sólida para implementar nossa
teoria de marca completamente integrada, com o intuito de adaptá­‑la
a qualquer mercado independentemente das diferenças e preferências
culturais.
Decidi juntar­‑me com a Millward Brown, cujo extenso conheci-
mento de marca a transformou em uma parceira óbvia para um pro-
jeto desse calibre. A ideia – que chamamos de “Brand Sense” – tomou
forma em 1999 e acabou se transformando em uma pesquisa de mar-
ca que envolveu cerca de 600 pesquisadores em todo o mundo.
Serei franco: ninguém jamais havia conduzido uma pesquisa
sobre percepção sensorial e comparações religiosas com o branding
antes, e fizemos o melhor possível para permanecer sensíveis às suas
diferenças de caráter, profundidade e verdade irrevogável. Meu editor
estava seriamente preocupado, e não sem razão, quando comecei este
livro. Fui longe a ponto de conduzir uma série de sessões ao redor dos
Estados Unidos para testar minhas teorias ao vivo. Recordo­‑me de um
evento em Washington, D.C., no qual mostrei uma fotografia do papa
em um lado da tela, e Ronald McDonald no outro. Sendo natural da
Dinamarca, onde quase não existe a fé tradicional, aprendi rapida-
mente (muito rapidamente) que muitas pessoas de outros lugares são
altamente sensíveis no que tange à religião. Uma clássica experiência
do tipo “vivendo e aprendendo”.
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Comece a fazer sentido 7
O Projeto Brand Sense é, portanto, (ouso dizer?) um estudo
pioneiro. Conduzimos grupos focais em 13 países, selecionando cada
país com base no tamanho do seu mercado, na representação de suas
marcas, nas inovações gerais dos produtos, na representação religiosa
e na maturidade das marcas, sem falar na história sensorial do país.
Rapidamente nos demos conta de que, apesar de uma marca ser su-
postamente global, o modo como as culturas locais a percebem pode
ser extremamente variado.
A pesquisa Brand Sense, portanto, é uma combinação de mer-
cados diferentes e típicos. Por exemplo, selecionamos Japão, Índia e
Tailândia, porque os três países têm um longo e duradouro histórico
de integração dos cinco sentidos no interior de suas culturas e tradi-
ções. Algumas das marcas mais inovadoras do Japão, com frequên-
cia, fazem uso dos cinco sentidos. Agora, se você estiver com pressa,
não espere uma experiência do tipo “pegue e leve” quando estiver
visitando uma loja de varejo no Japão. Entretanto, há um fantástico
lado positivo. Talvez você demore um pouco para levar seu produ-
to, mas testemunhará um ritual de empacotamento surpreendente,
algumas vezes de meia hora de duração, e sua compra terminará
parecendo um requintado trabalho artístico feito com laços. O Ja-
pão, no final das contas, é o país em que marcas como a Marlboro
descobriram que incluir uma pequena linha pontilhada no plástico
que cobre os tradicionais maços de cigarro transformou as vendas
de algo vagaroso para impressionante. Por quê? Porque os japoneses
odeiam a sensação de desembrulhar um maço de cigarros em que o
plástico se rasga por toda a caixa. Ao instalar um minúsculo toque,
como uma simples linha pontilhada, os consumidores conseguem fa-
cilmente abrir o maço sem danificar as imagens da embalagem. Esse
simples ajuste transformou positivamente as vendas da Marlboro em
questão de semanas.
A rica herança do design dos países escandinavos tornou a iden-
tidade visual essencial para sua comunicação. É uma região do mun-
do em que a mão de um designer é evidente em todos os lugares – de
camisinhas para mulheres aos abridores de vidros de comprimidos.
Os Estados Unidos e a Grã­‑Bretanha, com seu imenso tamanho de
mercado e sua incrível diversidade de mídias, apresentam o maior
desafio em construção e manutenção de marcas. Também incluímos
países como Chile, México, Polônia e Espanha por suas fortes tradi-
ções religiosas e devocionais, ou seu longo histórico com música e
comida.
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8 Brand Sense
Mas não importa onde você viva, pense nisto: nossos valores,
sentimentos, emoções, memórias estão armazenados no cérebro.
Compare esse sistema humano de arquivamento com um antiquado
gravador de vídeo, que grava em duas faixas separadas, uma de ima-
gem, outra de som. Os seres humanos têm pelo menos cinco faixas
– imagem, som, cheiro, gosto e toque. Essas faixas contêm mais in-
formações do que se imagina e elas têm existência direta e imediata
em nossas emoções. Podem avançar ou retroceder à vontade, e até
demorar em um determinado ponto. Quanto maior for o número de
faixas em que gravamos uma experiência, melhor será a lembrança
que teremos dela.
Por essa razão, acredito que, ao longo da próxima década, tes-
temunharemos mudanças sísmicas no modo como nós, como consu-
midores, percebemos as marcas. Uma comparação que vem à mente
é a transição das televisões preto e branco para as coloridas com som
mono, e depois para os home theaters de alta definição, de 52 polega-
das, cheios de firulas.
Então, aperte o cinto! Você está prestes a embarcar em uma jor-
nada sensorial, que, espero, garantirá que jamais vai ver (ou cheirar)
uma marca da mesma forma outra vez.
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Como os sentidos moldam as marcas

  • 1. 1 Comece a fazer sentido Nas semanas e meses seguintes à publicação de A Lógica do Con‑ sumo, fui convidado várias vezes para participar do programa matinal de maior audiência dos Estados Unidos, o Today Show. Foram vários os assuntos tratados: compradores compulsivos, sexo na propaganda, propaganda subliminar, e assim por diante. Em uma participação re- cente, liderei um grupo focal com um grupo de pré­‑adolescentes com idade entre 8 e 12. Meu objetivo? Medir o grau em que o branding sensorial – ou seja, o uso de fragrâncias, sons e até mesmo texturas para realçar o apelo dos produtos – afetava essas crianças. Foi como apresentar um novo e estranho jogo chamado “Nomeie o Sentido”. Primeiro, toquei várias canções bem conhecidas associadas com várias empresas e programas de TV. A maioria das crianças identificou­ ‑as imediatamente, dentre elas Disney, Apple Computer e a música tema do Bob Esponja e da NBC. Então, chegou a hora do teste do olfato. A primeira fragrância no ar foi (e sempre será) um dos aromas mais evocativos do mundo. – Ah, eu conheço esse cheiro – disse um. – Toda criança conhece esse cheiro – interrompeu outro. – Certo – disse eu. – Quando contar até três, me digam que marca é essa. Preparados? Um... dois... três! Todos acertaram: a massinha de modelar Play­‑Doh! As duas fra- grâncias seguintes? Giz de cera Crayola e talco de bebê Johnson. As crianças identificaram essas também. Depois, seguimos para um “qua- dro de colagem” de marcas, no qual se podiam ver apenas partes ou fragmentos dos logos ou símbolos das empresas. Ainda assim, o gru- po conseguiu identificar a maioria das marcas, senão todas: Kellog’s, lindstrom 14x21.indd 1 21/7/2011 10:37:04
  • 2. 2 Brand Sense Pepsi­‑Cola, MTV, Nike. Algumas crianças, para minha surpresa, reco- nheceram até mesmo as logos da Gucci e da Tiffany’s. Após examinar várias logos, eu trouxe um monte de produtos de designers de grife, de lojas de departamento populares e até algumas peças de roupas genéricas que comprei de vendedores de rua. O jeans azul é um item conhecido da maioria dos alunos de en- sino médio, obcecados por moda e marcas. Uma das meninas, Olívia, embalava um par de jeans no colo. – Estes são da Abercrombie! – anunciou com felicidade. Da forma mais casual possível, perguntei: – Então, como você sabe que esses jeans são realmente dessa loja, e não falsos? – Por causa do cheiro – Olívia respondeu. Ela então passou a inalar a fragrância doce (alguns diriam enjoativa) dos jeans Abercrombie & Fitch que estava segurando. O que Olívia segurava parecia com qualquer outro par de jeans azul. Poderiam ser da Target. Poderiam ser da Macy’s. Poderiam ser de qualquer loja dos Estados Unidos. Mas essa estudante de ensino médio identificou os jeans sem pestanejar por uma única razão: seu aroma inconfundível. Tão estranha e intrigante quanto a preferência de Olívia por marcas possa parecer, minha ida ao Today Show me lembrou do pri- meiro projeto de pesquisa sobre branding sensorial que realizei em 2005. Foi uma missão de cinco anos que envolveu centenas de pes- quisadores e milhares de consumidores em quatro continentes. Nosso objetivo era entender a lógica por trás de comportamentos como o de Olívia, e providenciar um roteiro para os consumidores compreen- derem porque eram atraídos por um produto, fosse ele um iPod, um vidro de Nescafé ou até mesmo um simples cereal matinal. Olívia, afinal de contas, era um exemplo vivo do que os profis- sionais de marketing desejam quando criam uma marca. Eu há muito me perguntava: o que faz uma criança (ou um adulto) cair de joe- lhos por uma marca como a Apple ou a Kellog’s? Que componentes da marca formam essa conexão tão mágica, magnética e duradoura? Será que a crença obsessiva em uma marca pode se transformar em desapontamento ou mesmo tédio? lindstrom 14x21.indd 2 21/7/2011 10:37:04
  • 3. Comece a fazer sentido 3 É por isso que, no Projeto Brand Sense de 2005, minha equipe e eu fizemos muitas perguntas para pessoas que tinham grande afi- nidade com várias marcas – em alguns casos, você pode até chamar de casos de amor. Voluntária e generosamente, elas compartilharam suas paixões e impressões, informações inestimáveis que me levaram a concluir que, se os produtos e a propaganda quiserem sobreviver por mais de um século, terão que mudar inteiramente de direção. Mais um cartaz pregado em um outdoor na Times Square não dará resultado. Será necessária uma visão inteiramente nova (e sensorial), algo que apele às nossas emoções. Eu percebi então, como faço agora, que uma marca tem de se transformar em uma experiência sensorial que vai muito além do que vemos. Também percebi que, mais do que qualquer pessoa no plane- ta, as crianças parecem se vincular com maior profundidade a marcas sensoriais de verdade, que envolvam som, toque, cheiro e sensação. Isso pode não surpreender tanto quando se pensa que os sentidos de uma criança são aproximadamente 200% mais potentes do que os de um adulto. Na verdade, quando uma mãe balança pela primeira vez uma criança, ela provavelmente não tem ideia de que o senso olfativo de um recém­‑nascido é mais de 300% maior do que o dela. Chamem isso de jeito engenhoso da natureza de assegurar um permanente vín- culo entre mãe e filho. Outro exemplo surpreendente do poder do branding sensorial é o Royal Mail, serviço postal do Reino Unido. Como muitos sabem, os correios do mundo inteiro estão sofrendo queda em suas receitas. Poucas pessoas usam o correio atualmente – para envio de pacotes sim, mas não mais para despachar aquelas coisas brancas conheci- das como envelopes com algo chamado selo colado no canto superior direito. Quando foi a última vez que você recebeu uma carta escrita à mão pelo correio? O mundo prefere a conveniência do e­‑mail, do Facebook e do Twitter. Para revigorar os números em queda do correio convencional, o Royal Mail lançou uma campanha conhecida como “Touching Brands” (Tocando Marcas). A empresa tinha duas metas: reconectar­‑se aos consumidores que se afastaram do que foi chamado agora, um pou- co pejorativamente, de “correio lesma”, e demonstrar o papel funda- mental do correio na era digital como parceiro natural para as novas mídias. A britânica Brand Sense Agency foi contatada para ajudá­‑los a analisar como é possível usar os cinco sentidos para realçar as afinida- des com uma marca – nesse caso, o Royal Mail. O novo experimento lindstrom 14x21.indd 3 21/7/2011 10:37:04
  • 4. 4 Brand Sense foi apelidado de Correio Sensacional. Os resultados foram sensacio- nais. O primeiro tipo de Correio Sensacional do Royal Mail foi uma carta personalizada inscrita em uma placa de chocolate – você leu certo. Quem pode resistir a chocolate? O toque macio, o cheiro que nos faz salivar, o som trincado quando você quebra a barra em dois e, por fim, aquele sabor irresistível? Aplaudida por ser inovadora e chamativa, a resposta ao nosso envio de chocolate pelo Royal Mail superou todas as expectativas. Três quartos dos destinatários sentiram que isso demonstrava como o correio convencional pode cativar os cinco sentidos. Mas eles também tomaram uma atitude como resultado de nossa experiência de envio, atitude essa que, devo enfatizar, foi muito além de comer a carta de chocolate. As pessoas simplesmente começaram a mandar cartas de novo! Mas queríamos confirmar nossas constatações cientificamente também para os profissionais da mídia e para os publicitários. Usando neurociência e a mais avançada técnica de varredura cerebral dispo- nível hoje (a ressonância magnética), o instituto de pesquisa Millward Brown estudou o cérebro de 20 homens e mulheres no Reino Uni- do para determinar se o “experimento Royal Mail” havia criado um verdadeiro compromisso emocional, ou seja, uma resposta emocional potente nos consumidores. Seu objetivo era descobrir se havia alguma diferença na forma como o cérebro dos voluntários respondia ao ma- terial enviado por correio, em comparação às informações apresenta- das na tela de um computador. Para qualquer marca, propaganda ou solicitação funcionar (e manter­‑se na memória), é preciso abrir espa- ço de alguma forma dentro do sobrecarregado cérebro humano, que, como você deve imaginar, gosta de filtrar e descartar as informações irrelevantes. A emoção chama nossa atenção por meio dos sentidos, que então influenciam nosso processo decisório. As marcas que criam uma conexão emocional com os consumidores são muito mais fortes do que aquelas que não o fazem – é simples (e complicado) assim. A pesquisa científica da Millward Brown confirmou que o correio convencional – no caso, aquelas “súplicas” feitas de chocolate – foram muito mais “reais” para o cérebro, e tiveram um “local” definitivo nas percepções dos consumidores. Além disso, o correio convencional foi mais fácil para o cérebro dos voluntários processar e mais provável de gerar emoção, e conseguiu promover o processo decisório de forma mais fluente. Em suma, o experimento do Royal Mail provou que o lindstrom 14x21.indd 4 21/7/2011 10:37:04
  • 5. Comece a fazer sentido 5 correio convencional conseguiu penetrar no armário superlotado que é nosso espaço de trabalho mental – uma façanha espetacular, con- siderando que a maioria das pessoas vive em um ambiente cada vez mais digital. Outro aspecto do novo branding que juntei as minhas experiên- cias com Olivia e o Royal Mail é que a marca deve tentar criar algo parecido com a adoração obsessiva que um aficionado por esportes sente ou, até mesmo, em alguns aspectos, com a fé de uma congrega- ção religiosa. Sem me aprofundar muito nas comparações com a religião, podemos ver a relevância da espiritualidade para certos aspectos do branding sensorial. As mais memoráveis e saboreadas marcas do fu- turo serão aquelas que não apenas se ancoram na tradição, mas tam- bém adotam características religiosas à medida que simultaneamente fazem uso completo e integrado do branding sensorial. Ponto. Cada marca completamente integrada vai vangloriar sua própria identida- de, expressando­‑a em cada mensagem, forma, símbolo, ritual e tradi- ção, assim como fazem os times e as religiões. Evocar algo similar ao zelo religioso, contudo, é apenas um dos objetivos da próxima geração de produtos e propaganda. Se quiserem sobreviver, as marcas terão de incorporar uma “plataforma” de mar- ca (significando um conjunto de associações que um consumidor faz com um produto ou empresa) que una os cinco sentidos por comple- to. Vejam a Abercrombie! Vivemos em uma paisagem em que os con- sumidores precisam desesperadamente de algo em que acreditar. Tão irônico quanto possa soar, enquanto as religiões lutam para encontrar novos fiéis, os consumidores estão procurando desesperadamente ou- tra coisa. Tristemente (alguns diriam), mais do que nunca essa “outra coisa” é, bem, as marcas: um fenômeno que você adoraria ainda mais se visitasse a China, onde o poder da “religião de marca” com fre­ quência parece mais forte do que suas contrapartes de mil anos de idade baseadas na fé. A base deste livro é resultado direto de um extenso projeto de pesquisa que buscou investigar o papel que cada um de nossos cinco sentidos desempenha em criar um caso de amor entre um consumidor e uma marca. Nosso estudo também buscou determinar até que ponto o fator religioso (fé, crença, pertencimento e comunidade) pode servir para orientar o futuro do branding. À primeira vista, religião e marcas podem parecer distantes, quase a ponto do insulto. Mas serão mes- mo? Visite qualquer igreja e, mesmo antes de entrar, a primeira coisa lindstrom 14x21.indd 5 21/7/2011 10:37:05
  • 6. 6 Brand Sense que você vai ver será um ataque sensorial de corpo inteiro: sejam os sinos do meio­‑dia atravessando Zurique, na Suíça, ou os sons das orações atravessando Istambul. Dentro de uma igreja, seus sentidos vão continuar sendo estimulados e acordados, seja pelas fragrâncias inconfundíveis do incenso no ar, seja pelo aroma mofado dos bancos da igreja. Não importa onde você vive ou qual fé pratica: a religião envia uma série de sinais claros e inconfundíveis por meio de nossos sentidos – mesmo que você nunca tenha vislumbrado uma cruz, um altar, um vitral ou um kipá. As religiões mais antigas estão por aí há cerca de 3.500 anos. E as marcas mais antigas? Cento e cinquenta anos. É por isso que acredito que está na hora de as marcas pegarem emprestada essa percepção, respeitosamente, das religiões – e apren- derem algumas lições cruciais sobre crença e lealdade. Além disso, decidimos que nossa pesquisa Brand Sense teria re- levância apenas se abrangesse todo o planeta. Nossa equipe multicul- tural de pesquisa envolveu pessoas de 24 países, falantes de 18 idio- mas. No entanto, nosso estudo global teve outro objetivo. Queríamos identificar tendências em expansão e analisar a evolução das marcas locais para nos ajudar a criar uma base sólida para implementar nossa teoria de marca completamente integrada, com o intuito de adaptá­‑la a qualquer mercado independentemente das diferenças e preferências culturais. Decidi juntar­‑me com a Millward Brown, cujo extenso conheci- mento de marca a transformou em uma parceira óbvia para um pro- jeto desse calibre. A ideia – que chamamos de “Brand Sense” – tomou forma em 1999 e acabou se transformando em uma pesquisa de mar- ca que envolveu cerca de 600 pesquisadores em todo o mundo. Serei franco: ninguém jamais havia conduzido uma pesquisa sobre percepção sensorial e comparações religiosas com o branding antes, e fizemos o melhor possível para permanecer sensíveis às suas diferenças de caráter, profundidade e verdade irrevogável. Meu editor estava seriamente preocupado, e não sem razão, quando comecei este livro. Fui longe a ponto de conduzir uma série de sessões ao redor dos Estados Unidos para testar minhas teorias ao vivo. Recordo­‑me de um evento em Washington, D.C., no qual mostrei uma fotografia do papa em um lado da tela, e Ronald McDonald no outro. Sendo natural da Dinamarca, onde quase não existe a fé tradicional, aprendi rapida- mente (muito rapidamente) que muitas pessoas de outros lugares são altamente sensíveis no que tange à religião. Uma clássica experiência do tipo “vivendo e aprendendo”. lindstrom 14x21.indd 6 21/7/2011 10:37:05
  • 7. Comece a fazer sentido 7 O Projeto Brand Sense é, portanto, (ouso dizer?) um estudo pioneiro. Conduzimos grupos focais em 13 países, selecionando cada país com base no tamanho do seu mercado, na representação de suas marcas, nas inovações gerais dos produtos, na representação religiosa e na maturidade das marcas, sem falar na história sensorial do país. Rapidamente nos demos conta de que, apesar de uma marca ser su- postamente global, o modo como as culturas locais a percebem pode ser extremamente variado. A pesquisa Brand Sense, portanto, é uma combinação de mer- cados diferentes e típicos. Por exemplo, selecionamos Japão, Índia e Tailândia, porque os três países têm um longo e duradouro histórico de integração dos cinco sentidos no interior de suas culturas e tradi- ções. Algumas das marcas mais inovadoras do Japão, com frequên- cia, fazem uso dos cinco sentidos. Agora, se você estiver com pressa, não espere uma experiência do tipo “pegue e leve” quando estiver visitando uma loja de varejo no Japão. Entretanto, há um fantástico lado positivo. Talvez você demore um pouco para levar seu produ- to, mas testemunhará um ritual de empacotamento surpreendente, algumas vezes de meia hora de duração, e sua compra terminará parecendo um requintado trabalho artístico feito com laços. O Ja- pão, no final das contas, é o país em que marcas como a Marlboro descobriram que incluir uma pequena linha pontilhada no plástico que cobre os tradicionais maços de cigarro transformou as vendas de algo vagaroso para impressionante. Por quê? Porque os japoneses odeiam a sensação de desembrulhar um maço de cigarros em que o plástico se rasga por toda a caixa. Ao instalar um minúsculo toque, como uma simples linha pontilhada, os consumidores conseguem fa- cilmente abrir o maço sem danificar as imagens da embalagem. Esse simples ajuste transformou positivamente as vendas da Marlboro em questão de semanas. A rica herança do design dos países escandinavos tornou a iden- tidade visual essencial para sua comunicação. É uma região do mun- do em que a mão de um designer é evidente em todos os lugares – de camisinhas para mulheres aos abridores de vidros de comprimidos. Os Estados Unidos e a Grã­‑Bretanha, com seu imenso tamanho de mercado e sua incrível diversidade de mídias, apresentam o maior desafio em construção e manutenção de marcas. Também incluímos países como Chile, México, Polônia e Espanha por suas fortes tradi- ções religiosas e devocionais, ou seu longo histórico com música e comida. lindstrom 14x21.indd 7 21/7/2011 10:37:05
  • 8. 8 Brand Sense Mas não importa onde você viva, pense nisto: nossos valores, sentimentos, emoções, memórias estão armazenados no cérebro. Compare esse sistema humano de arquivamento com um antiquado gravador de vídeo, que grava em duas faixas separadas, uma de ima- gem, outra de som. Os seres humanos têm pelo menos cinco faixas – imagem, som, cheiro, gosto e toque. Essas faixas contêm mais in- formações do que se imagina e elas têm existência direta e imediata em nossas emoções. Podem avançar ou retroceder à vontade, e até demorar em um determinado ponto. Quanto maior for o número de faixas em que gravamos uma experiência, melhor será a lembrança que teremos dela. Por essa razão, acredito que, ao longo da próxima década, tes- temunharemos mudanças sísmicas no modo como nós, como consu- midores, percebemos as marcas. Uma comparação que vem à mente é a transição das televisões preto e branco para as coloridas com som mono, e depois para os home theaters de alta definição, de 52 polega- das, cheios de firulas. Então, aperte o cinto! Você está prestes a embarcar em uma jor- nada sensorial, que, espero, garantirá que jamais vai ver (ou cheirar) uma marca da mesma forma outra vez. lindstrom 14x21.indd 8 21/7/2011 10:37:05