1. Se existe classe que mereça uma
vigilância esclarecida,
benévola e ativa é a dos doidos.
Sigaud, 1835
História da Psiquiatria
Profª. Esp. Shirley Kellen
Ferreira
2. Um pouco de história...
• Casos de perturbações mentais estão registrados por toda a
História e são, desde as épocas mais remotas, citados por
historiadores, poetas, pintores, escultores e médicos.
• Algumas figuras históricas conhecidas:
- Os Imperadores Romanos Calígula e Nero, os reis franceses
Clóvis II e Carlos VI, este último chamado de Carlos, o
Louco, o qual acreditava ser feito de vidro e que inseria
pequenas hastes de ferro em suas roupas a fim de prevenir
que se partisse em pedaços. Eduard Einsten, filho do
renomado físico Albert Einstein, o lendário bailarino
ucraniano Vaslav Nijinsky, e o prêmio Nobel de Economia
Jonh Forbes Nash Jr., sofriam de Esquizofrenia.
3. Um pouco de história...
- O famoso pintor Vincent Van Gogh (1853-1890),
sofria de crises de instabilidade de seu humor.
Diversos historiadores afirmam que Van Gogh sofria
"ataques epilépticos" o que para alguns seria o resultado
do uso frequente de bebidas contendo absinto (Artemisia absinthium),
substância que era utilizada para modificar a atividade cerebral e assim
"estimular" atividades artísticas.
- Houve diversas tentativas de estabelecer um diagnóstico para a doença
de Van Gogh. Atualmente, o mais aceito é o Transtorno do Humor
Bipolar, levando-se em consideração os estados depressivos, alternados
de episódios eufóricos (ou maníacos) que lhe faziam mergulhar em um
estado de humor de grande energia e paixão. Van Gogh cometeu suicídio
aos 37 anos de idade.
4. Diversas Denominações...
- Possuídos por espíritos.
- Mania ou furor insano. (Século V. AC- Euclides, Sófocles)
- Sofrimento da alma. Perda das Faculdades Mentais.
- Louco, lunático, lelé, maniático, tança, vesano, demente.
- Alienado, insano (Pinel, Esquirol. Atendimento asilar).
- No Brasil colonial e durante parte do Império, a ordem
jurídica era determinada pelas Ordenações do Reino e nelas a
loucura possuía várias denominações: "desassisados",
"sandeus", "mentecaptos" ou "furiosos"; eram ali contemplados
ainda os "desmemoriados" e os "pródigos"
5. O que é loucura?
• Designa-se por louco aquele
indivíduo cuja maneira de ser é
“diferente” em comparação com uma
outra maneira de ser considerada
pela sociedade como “normal”.
• Porém com as diferenças: culturais,
sociais, éticas, filosóficas, religiosas
existentes, como se poderia definir o
que é um indivíduo normal?
6. • Nem sempre a loucura foi vista como uma
doença ou um problema de integração social.
• Assim como a conceituação de loucura, os
cuidados dedicados as pessoas com
transtorno de comportamento variaram no
decorrer dos tempos, sempre influenciados
por crenças, costumes, religião.
7. A doença mental na Pré-
História
• O homem primitivo atribuía todas as
doenças à ação de forças externas, forças
sobrenaturais, maus espíritos, bruxos,
demônios, deuses.
• Acredita-se que nessa época as pessoas
com distúrbios de comportamento eram
atendidas em rituais tribais, para corrigir
tal distúrbio. E em casos de insucesso, o
indivíduo era abandonado à própria sorte.
8. Antiguidade
• Na Grécia e Roma antigas não existiam
procedimentos ou espaços sociais destinados
aos “loucos”.
• Os ricos permaneciam em suas residências e os
pobres circulavam pelas ruas, onde recebiam
caridade pública ou realizavam pequenos
serviços.
• A sociedade atribuía as crises de agitação a
forças sobrenaturais, decorrentes de
possessões demoníacas.
• O indivíduo louco era visto como um problema
familiar e não social.
9. Antiguidade (cont.)
• Na Grécia de 860 a.C. os sacerdotes
recomendavam que os loucos fossem tratados
com bondade e que lhes fossem proporcionadas
atividade físicas.
• Nessa mesma época, médicos, estudiosos
tinham grande consideração pelos doentes,
estes podiam desfrutar de ar fresco, água pura,
luz solar. Mestres, alunos e doentes faziam
caminhadas, encenações teatrais para melhorar
o “humor”.
• No entanto os paciente que não reagiam ao
tratamento eram submetidos à inanição e a
flagelação.
10. Idade Média
• Nessa época a loucura era vista com grande
tolerância. Acreditava-se que o mundo era todo
organizado de acordo com os desígnios de
Deus.
• Os loucos e os miseráveis eram considerados
parte da sociedade e alvo de caridade.
• Os doente mentais eram chamados de lunáticos
(do latim luna=lua), pois acreditava-se que a
mente das pessoas era influenciada pelas fase
da lua. Eram também considerados pecadores.
11. Idade Média (cont.)
• Desfrutavam de relativa liberdade de ir e
vir.
• Doente mentais mais graves ou
agressivos eram acorrentados,
escorraçados, submetidos a jejuns
prolongados sob a alegação de estarem
possuídos pelo “demônio”.
12. Idade Média (cont.)
• Muitas vezes eram submetidos a rituais
religiosos de exorcismo.
13. Idade Moderna
• Retomada de princípios racionalistas na
observação e descrição das doenças
mentais, em oposição ao misticismo
religioso.
• Nessa fase com o início do mercantilismo,
formação de cidades e concentração da
população, começaram a surgir os
problemas sociais e sanitários, ocorrendo
aumento do número de mendigos.
14. Idade Moderna (cont.)
• Pobres e loucos eram vistos como
desocupados, como não trabalhavam, não
produziam riquezas, eram considerados
marginais , improdutivos.
• Os mendigos eram expulso das cidades, os
doente mentais e mendigos sem família eram
condenados ao isolamento.
• Nessa época surgem os Hospitais Gerais
(instalados nos antigos leprosários), onde eram
internados não só os loucos, mas toda
população marginalizada na época.
15. Idade Contemporânea
• Final do século XVIII, denúncias contra as
internações de doentes mentais junto aos
marginais e contra as torturas a que eram
submetidos.
• Abordagem mais humanística ao doente mental.
• Construção de asilos, porém permaneciam sob
formas de violência, com ameaças e privações.
• A loucura passa a ser considerada uma doença,
que exigia condições e tratamentos específicos.
16. Idade Contemporânea (cont.)
• Em 1793, o médico francês Philippe Pinel
quebrou as correntes que prendiam os
alienados ou insanos.
• Nessa época avança a descrição das doenças
mentais.
• Século XX, postura mais humanista no
tratamento dos doente s mentais, os asilos onde
os doentes eram aprisionados foram
substituídos pelos Hospitais Psiquiátricos.
17. Idade Contemporânea (cont.)
• Século XX: Freud revela a concepção
do homem como um todo mente-
corpo e o papel da história pessoal no
desenvolvimento dos transtornos
emocionais.
- Compreender a loucura não
- como defeito biológico.
18. 1952: sintetizada em laboratório o primeiro
neuroléptico do mundo, a clorpromazina.
Progressos:
- Atitude positiva em relação à doença mental
- Doentes crônicos melhoram
- O tratamento em casa tornou-se possível
- Expandem-se tratamentos psicoterápicos
- Hildegard Peplau – teoria do relacionamento
terapêutico enfermeiro-paciente.
- Enfoque da assistência física (higiene, limpeza)
para centrar-se nas relações interpessoais
(ambiente terapêutico).
19. A Psiquiatria no Brasil
• No Brasil, o primeiro manicômio foi
fundado por D. Pedro II em 1852, no Rio
de Janeiro.
20. Primeiros hospícios públicos para
alienados no Brasil
Província/Estado Ano Estabelecimento (município)
Rio de Janeiro 1852 Hospício de Pedro II (Rio de Janeiro)
1878 Enfermaria de Alienados anexa ao Hospital São João Batista (Niterói)
1890 Colônias de São Bento e Conde de Mesquita (Ilha do Governador)
São Paulo 1852 Hospício Provisório de Alienados de São Paulo (Rua São João)
1864 Hospício de Alienados de São Paulo (Chácara da Tabatingüera)
1895 Hospício-colônia provisório de Sorocaba
1898 Hospício-colônia de Juqueri (atual Franco da Rocha)
Pernambuco 1864 Hospício de Alienados de Recife-Olinda (da Visitação de Santa Isabel)
1883 Hospício da Tamarineira (Recife)
Pará 1873 Hospício Provisório de Alienados (Belém, próximo ao Hospício dos Lázaros).
1892 Hospício do Marco da Légua (Belém)
Bahia 1874 Asilo de Alienados São João de Deus (Salvador)
Rio Grande do Sul 1884 Hospício de Alienados São Pedro (Porto Alegre)
Ceará 1886 Asilo de Alienados São Vicente de Paula (Fortaleza)
Alagoas 1891 Asilo de Santa Leopoldina (Maceió)
Paraíba 1890 Asilo de Alienados do Hospital Santa Ana (João Pessoa)
Amazonas 1894 Hospício Eduardo Ribeiro (Manaus)
Minas Gerais 1903 Hospício de Barbacena
Paraná 1903 Hospício Nossa Senhora da Luz (Curitiba)
Maranhão 1905 Hospício de Alienados (São Luis do Maranhão)
21. A Psiquiatria no Brasil
• Local de confinamento da população
crescente de desocupados e loucos que
vagavam pelas velhas e grandes
fazendas e recentes cidades.
• À partir desse momento vários outros
hospícios foram sendo fundados
( grandes centros).
22. A Psiquiatria no Brasil
• -Nas cidades interioranas, os manicômios
só surgiram quando o desenvolvimento e
a urbanização lá chegaram.
• - Manicômios eram construídos em locais
afastados.
• - Características dos manicômios
brasileiros – freqüentados em sua maioria
pela população mais pobre.
23. A Psiquiatria no Brasil
• No Brasil, o atendimento aos loucos era
tarefa da Irmandade da Misericórdia e
esteve nas mãos da Santa Casa até a
proclamação da República em 1889.
A partir de 1890, o Hospício Pedro II
passa a ser chamado de Hospício
Nacional dos Alienados
24. Diversas Denominações...
A partir de 1890, o Hospício Pedro II passa a ser chamado de Hospício
Nacional dos Alienados. No século XX, surgem novos nomes:
Hospício passa a ser chamado de Hospital.
Alienado agora é doente mental, depois será psicopata.
O asilado passa a ser interno.
Nos ambulatórios ele é egresso, quando oriundo da hospitalização. Torna-
se paciente do ambulatório.
No consultório ele é paciente, cliente, analisando ou está em terapia.
Na perícia é o caso ou o periciando.
No serviço público ele é usuário. O mesmo vale para os planos de saúde.
Para alguns, ele passa a ser visto como consumidor.
Assim, a loucura recebe os nomes de alienação mental, insanidade, depois
doença mental, transtorno mental e ultimamente, sofrimento psíquico.
25. A Psiquiatria no Brasil
• ERA DO TEMOR
1950-1970:
- Falta de leitos nos hospícios
- Expansão de leitos privados
- Estado patrocinando a loucura
26. A Psiquiatria no Brasil
• - Os hospitais de luxo “cinco estrelas”, são
em sua essência iguais aos hospitais para
pobres, porque têm a função de excluir ou
invalidar os doentes, afastando-os da
sociedade.
• - Infra-estrutura – péssimas
• - Higiene – banhos coletivos
• - Medicação – distribuída sem critério
• - ECT - castigo
27. A Psiquiatria no Brasil
• Tudo é organizado pensando não no
doente, mas na manutenção da ordem
interna e na obtenção de lucro (hospitais
privados).
• Internações – superior ao número de
leitos.
• Ociosidade dos internos.
28. A Psiquiatria no Brasil
• À partir de 1964, o governo começou a
contratar incisivamente os hospitais
psiquiátricos particulares para atender aos
hospitais públicos.
• Como o governo pagava pouco pelas
diárias, os hospitais reduziram seus
custos e pioraram definitivamente as
condições de hospedagem e cuidados.
29. A História da Psiquiatria
1960: Franco Basaglia (Itália) questiona a
existência dos hospitais psiquiátricos.
1978: Aprovado lei proibindo a criação de
novos hospícios e sua substituição por pensões
protegidas, lares abrigados, hospital-dia, leitos
psiquiátricos em hospital geral.
1987: Primeiro CAPS no Brasil em SP e NAPS
em Santos (24 hs).
30. A Psiquiatria no Brasil
1990: Reforma Psiquiátrica Brasileira
- Movimentos dos profissionais e famílias
- Impasses, tensões, conflitos e desafios
- Lei proibindo a criação de novos hospitais
psiquiátricos e enfatizando o tratamento
ambulatorial e a reinserção social do doente junto
da família e comunidade e sua reabilitação social,
profissional e cívica.
DESINTITUCIONALIZAÇÃO
31. A Psiquiatria no Brasil
1992: Movimentos sociais aprovam em vários estados
brasileiros as primeiras leis que determinam a
substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma
rede integrada de atenção à saúde mental.
2001: Lei 10.216 que redireciona a assistência em
saúde mental, privilegiando o oferecimento de
tratamento em serviços de base comunitária.
- Proteção e direitos dos doentes mentais
- Rede de atenção diária (CAPS)
- Financiamento do MS para serviços abertos e
substitutivos dos hospícios.
32. DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
Deslocar o centro da atenção da instituição para a
comunidade, distrito e território.
Desinstitucionalização = Desosopitalização
Oferecer espaço para que os doente sejam atendidos
fora do hospital
Incentivo à desinstitucionalização
Ampliação de serviços ambulatoriais
Incorporação da saúde mental na ESF
Redução de leitos psiquiátricos
CAPS
Residências Terapêuticas
33. DOENÇA MENTAL
• É o estado que surge quando as
pessoas não conseguem desenvolver
ou manter-se em funcionamento
harmônico para viver com seu grupo
cultural ou em sociedade, não
conseguindo transformar suas
possibilidades em realidade.
34. SAÚDE MENTAL
• É o estado de funcionamento
harmônico que as pessoas
desenvolvem e mantêm, para viver em
sociedade, em constante interação com
seus semelhantes e meio ambiente.
35. Critérios definidores de saúde
mental
• Atitudes positivas em relação a si
próprio
• Crescimento, desenvolvimento e auto-
realização
• Integração e resposta emocional
• Autonomia e autodeterminação
• Percepção da realidade
• Domínio ambiental e competência
social
38. Balada do Louco
Dizem que sou louco por pensar
assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor Eu juro que é melhor
Não ser o normal Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz
40. Referência Bibliográfica
• FOUCAULT, M. História da Loucura. São
Paulo: Perspectiva, 1978.
• FUREGATO, A.R.F. Relações interpessoais
terapêuticas na enfermagem. Ribeirão
Preto, Scala, 1999.
• KUPSTAS, M. (org.) Saúde em Debate.
(Coleção Debate na Escola) 1ª ed. São Paulo:
Moderno, 1997.
• http://www.polbr.med.br/ano06/wal0306.php