2. Como já sabemos anteriomente que a intensificação do comércio e da produção artesanal resultou no desenvolvimento das cidades, no surgimento de uma nova classe social a burguesia e na posterior formação das monarquias nacionais. Estas transformações vieram acompanhadas de uma nova visão de mundo, que se manifestou na arte e na cultura de maneira de geral. * A cultura medieval se caracterizava pela religiosidade. A Igreja Católica, como vimos, controlava as manifestações culturais e dava uma interpretação religiosa para os fenômenos da natureza, da sociedade e da economia. A esta cultura deu-se o nome de teocêntrica (Deus no centro). A miséria, as tempestades, as pragas, as enchentes, as doenças e as más colheitas eram vistas como castigos de Deus. Assim como a riqueza, a saúde, as boas colheitas, o tempo bom, a fortuna eram bênçãos divinas. A própria posição que Co indivíduo ocupava na sociedade (nobre, clérigo ou servo) tinha uma explicação religiosa.
3. Essa visão de mundo não combinava com a experiência burguesa. Essa nova classe devia a sua posição social e econômica ao seu próprio esforço e não à vontade divina, como o nobre. O sucesso nos negócios dependia da observação, do raciocínio e do cálculo. Características que se opunham às explicações sobrenaturais, próprias da mentalidade medieval. Por outro lado, era uma classe social em ascensão, portanto otimista. * Sua concepção de mundo era mais materialista. Queria usufruir na terra o resultado de seus esforços. E também claro que o comerciante burguês era essencialmente individualista. Quase sempre, o seu lucro implicava que outros tivessem prejuízo. A visão de mundo da burguesia estará sintonizada com a renovação cultural ocorrida nos fins da Idade Média e no começo da Idade Moderna. A essa renovação denominamos Renascimento.
4. O Renascimento trouxe um interesse permanente pela investigação e observação da natureza. Foi o momento da afirmação da ciência como verdadeira promotora do desenvolvimento humano. Os descobrimentos científicos determinaram uma mudança radical na concepção da terra e do universo. Pela primeira vez, a razão e o método experimental evidenciavam sua superioridade sobre a tradição, entrando em choque com as teses, oficiais da Igreja. * Os sábios da época perceberam a infinita variedade e diversidade das coisas desse mundo; criaram jardins botânicos e zoológicos, catalogaram plantas, animais e minerais; dissecaram cadáveres humanos e de animais e mediram os movimentos dos astros. Na Medicina, sobressaíram-se os estudos de William. Harvey, Miguel Servet e Miguel Pare sobre as artérias e a circulação do sangue e os do belga André Vesálio sobre anatomia ("A Organização do Corpo Humano").
5. A Astrologia desenvolveu-se muito e os astros eram consultados tanto por magos, quanto por chefes de Estado, membros da Igreja pessoas comuns. Os venezianos, a partir do século XV, só enviavam seus navios ao mar em datas pré-estabelecidas como favoráveis para trazer sorte nos negócios. Os papas Júlio II, Leão X e Paulo III examinaram a posição dos planetas antes de marearem a data de sua coroação e antes de iniciarem um consistório. 0 matemático Cardano aumentou sua fé no Cristianismo devido aos astros; segundo ele "Os cristãos estão sob a conjunção de Júpiter e do Sol, cujo dia é o do Senhor. Ora, o Sol significa justiça e verdade, e a lei cristã é aquela que mais verdade encerra e que mais capaz é de fazer os homens melhores."