2. Tarcízio Silva
• Sócio-Diretor do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise
de Dados
• Mestre em Comunicação pela UFBA
• Doutorando em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC
• Co-organizador de
• “Estudando Cultura e Comunicação com Mídias Sociais”
(Editora IBPAD, 2018)
• “Monitoramento e Pesquisa em Mídias Sociais: metodologias,
aplicações e inovações” (Uva Limão, 2016)
• “Para Entender o Monitoramento de Mídias Sociais (Bookess,
2012)
• “Mídias Sociais e Eleições 2010” (Bookess, 2011)
• “#MídiasSociais: Perspectivas, Tendências e Reflexões”
(Bookess, 2010) http://bit.ly/eccms
tarciziosilva.com.br
3. Da liberação do pólo emissor ao tecnoliberalismo
Livro -> bit.ly/eccms
“As diversas manifestações socioculturais
contemporâneas mostram que o que está em
jogo como o excesso de informação nada mais é
do que a emergência de vozes e discursos
anteriormente reprimidos pela edição da
informação pelos mass media. A liberação do
pólo da emissão está presente nas novas formas
de relacionamento social, de disponibilização da
informação e na opinião e movimentação social
da rede. Assim chats, weblogs, sites, listas, novas
modalidades midiáticas, e-mails, comunidade
virtuais, entre outras formas sociais, podem ser
compreendidas por essa segunda lei [da
cibercultura]”. (LEMOS, 2003, p.9)
4. Da liberação do pólo emissor ao tecnoliberalismo
Livro -> bit.ly/eccms
“As diversas manifestações socioculturais
contemporâneas mostram que o que está em
jogo como o excesso de informação nada mais é
do que a emergência de vozes e discursos
anteriormente reprimidos pela edição da
informação pelos mass media. A liberação do
pólo da emissão está presente nas novas formas
de relacionamento social, de disponibilização da
informação e na opinião e movimentação social
da rede. Assim chats, weblogs, sites, listas, novas
modalidades midiáticas, e-mails, comunidade
virtuais, entre outras formas sociais, podem ser
compreendidas por essa segunda lei [da
cibercultura]”. (LEMOS, 2003, p.9)
“os meios tradicionais de comunicação
passaram a perder espaço para essa
nova modalidade intercomunicativa,
operacionalizada não mais por
proprietários de veículos de
comunicação, mas por cidadãos
comuns” (MAZZUOLI, 2015)
5. Monitoramento, “big data” e plataformas
A coleta contínua de dados sociais tornou-se
um padrão festejado ou criticado de forma
cada vez mais intensa nos últimos 10 anos.
As “mídias sociais” foram o epítome público da
tendência de coleta de informações e seu
impacto nos negócios e sociedade.
Livro -> bit.ly/eccms
7. Capitalismo de Plataforma
• Novos termos como “share
economy” ganham tração no
marketing e jornalismo
normalizando precarização e
oligopolização
• O capitalismo de plataforma
emprega a gestão da visibilidade
concentrada e otimização
algorítmica para disruptar mercados
Livro -> bit.ly/eccms
8. Plataformização da Web
• “Web being enclosed and overwritten
by social media” (Helmond, 2015)
• “network effects [...] leads to platforms
having a natural tendency towards
monipolisation” (SRNICEK, 2016)
• “the web has evolved into an engine of
inequity and division; swayed by
powerful forces who use it for their
own agendas” (Berners-Lee, 2018)
https://qz.com/333313/milliions-of-facebook-users-have-no-idea-theyre-
using-the-internet
9. Plataformização da Web: paradoxos discursos e práticas
“The platform ecosystem, as we will argue, is
moored in paradoxes: it looks egalitarian yet
is hierarchical; it is almost entirely corporate,
but it appears to serve public value; it seems
neutral and agnostic, but its architecture
carries a particular set of ideological values;
its effects appear local, whilte its scope and
impact are global; it appears to replace “top-
down” “big government” with “bottom-up”
“customer empowerment, yet it is doing so by
means of a highly centralized structure which
remains opaque to its users” (DIJCK, POELL &
DE WALL, 2018)
“Paradoxos”
egualitário x hierárquico
corporações x valor público
neutro x valores ideológicos
local x global
top-down x bottom-up
abertura x opacidade
11. Big four / big five
“Both Facebook and Google stated, earlier in the
decade, that they would not share information
across silos (Facebook to Instagram, Google to Gmail
to YouTube to DoubleClick). However, both lied and
have quietly changed their privacy policies,
requiring a specific request to opt out if you don’t
want them to cross-reference your movements and
activity against location and searches. There is no
evidence of any intent beyond the data being used
for better targeting. Creepy and relevance are
strongly correlated in the world of digital marketing.
To date, consumers and advertisers have voted with
their actions and expressed that creepy is a price
worth paying for the relevance.”
17. Capitalismo de Plataforma
Plataformas de
Publicidade
Plataformas de
Nuvem
Plataformas de
Produto e
“Lean”
Plataformas
Self/Afetivas
Plataformas
Industriais
22. Plataformas de Publicidade
“o enquadramento de plataformas de
mídias sociais e curadores de conteúdo
digital puramente como empresas de
tecnologia marginaliza as cada vez mais
proeminentes dimensões políticas e
culturais de suas operações, que
crescem mais pronunciadamente na
medida em que estas plataformas se
tornam gatekeepers centrais de notícias
e informação no ecossistema
contemporâneo de mídia” (NAPOLI &
CAPLAN, 2017)
28. Plataformas e a redistribuição de métodos
Quem consegue interpretar e estabelecer
interpretações sobre a sociedade?
Mercado
Estado e
Academia
Sociedade
Civil
30. Plataformas e a redistribuição de métodos
https://www.nature.com/articles/nature11421
Facebook gerou 340 mil votos
a mais nas eleições de 2012
apenas com um pequeno
ajuste de interface
bit.ly/10coisasfb
31. Plataformas e a redistribuição de métodos
Em experimento de 2013, o Facebook
realizou experimento de contágio social
com 689 mil usuários
Provou que é possível, com pequenos
ajustes na entrega de conteúdo,
influenciar Positividade e Negatividade
emocional
bit.ly/10coisasfb
32. Plataformas e a redistribuição de métodos
“devemos examiner o que a digitalização
significa para a distribuição de papéis na
pesquisa social entre vários atores dentro
e for a da universidade. Especialmente
importante sobre a digitalização, deste
ponto de vista, é que pode gerar divisões
do trabalho desconcertantes na pesquisa
social” (MARRES, 2012)
“Mercado” –
concentrado em
ecossistemas de
plataformas
Estado e
Academia
Sociedade
Civil
33. Contra-narrativas, defesas e remediações
E o que é possível fazer?
• Literacia midiática: tecnologia, trabalho e democracia digital
• Sistemas abertos, open source, midialivrismo
• Trabalho de pressão nos legislativos e instituições
• Interrogar/auditar plataformas e algoritmos
39. Sistemas abertos, open source, midialivrismo
”But for all the good we've
achieved, the web has evolved
into an engine of inequity and
division; swayed by powerful
forces who use it for their own
agendas“ – Tim Berners-Lee
41. Instituições e legislativo
“Where the use of machine
learning systems can
potentially have a significant
impact on human rights,
companies should seek
independent auditing of
algorithms based on agreed-
upon industry standards and
the human rights framework.
Businesses using ML should
have ongoing human-in-the-
loop checks to identify and
amend any bias in the
system”.
42. Desafio: gap no conhecimento sobre AI
Papers propondo
novos modelos
!
Paper estudando
modelos existentes
!
(Epstein, 2018)
43. Interrogando algoritmos e plataformas digitais
• Auditoria de Usuário Não-Invasiva
• Auditoria Crowdsourced
• Sock-Puppet Audit
• Auditoria de Código
• Auditoria de Raspagem
(SANDVIG et al, 2014)
44. Auditoria de Código
Análise dos aspectos efetivamente técnicos dos
sistemas, a Auditoria de Código, através da qual
efetivamente os códigos que incorporam cadeias
de decisões, escolhas metodológicas, datasets,
pacotes e módulos de programação costuma ser a
mais recomenda.
Apesar de ser a abordagem que mais se aproxima
do cerne material da questão, também é a mais
difícil de ser aplicada por questões institucionais (a
maior parte das plataformas possui código
fechado por questões comerciais e competitivas)
e técnicas (capacidades multidisciplinares;
complexidade do machine learning).
(SANDVIG et al, 2014)
Plataforma Usuários
Algoritmo
Aberto
Pesquisador/a
45. Auditoria de Código
(BOULAMWINI & GEBRU, 2018)
Buolamwini e Gebru selecionaram IBM Watson,
Microsoft Cognitive Services e o Face++ para avaliar a
precisão de identificação de gênero no dataset
construído. Os resultados variaram de forma
impressionante:
• Todos classificadores foram mais precisos em faces de
homens (8,1% – 20,6% diferença de taxa de erro)
• Todos classificadores performaram melhor em faces mais
claras do que faces mais escuras (11,8% contra 19,2% de erro)
• Todos classificadores performaram pior em faces mais
escuras de mulheres (20,8% comparado a 34,7%)
• Os classificadores da Microsoft e IBM performaram melhor
em rotos de homens de pele clara (taxas de erro de 0,0% e
0,3%)
• Os classificadores do Face++ performaram melhor em rostos
masculinos de pele escura (0,7% de taxa de erro)
• A diferença máxima de taxa de erro entre dois grupos foi de
34,4%
49. Auditoria de Código
“We are deeply sorry for this
unquestionably serious issue,” he
told The Independent. “It is an
unfortunate side-effect of the
underlying neural network caused by
the training set bias, not intended
behaviour.
50. Auditoria de Usuário Não-Invasiva
Adaptação de métodos clássicos da ciência
social como entrevistas em profundidade,
surveys ou observação não-participante para
investigar os modos, dinâmicas e percepções
dos usuários quanto aos sistemas estudados.
(SANDVIG et al, 2014)
Plataforma Usuários
Instrumento /
Pesquisador
51. Auditoria Colaborativa
Envolver a construção de sistemas crowdsourced
ou colaborativos para avaliar alguns pontos do
sistema através do uso, relato ou codificação
distribuída.
(SANDVIG et al, 2014)
Plataforma Usuários
Pesquisadores
Colaboradores
Plataforma de Colaboração /
Crowdsourcing
52. (ESLAMI, Motahhare et al., 2015)
Estudo sobre “consciência algorítmica” construiu sistema chamado FeedVis e demonstrou que usuários
não sabem ou entendem mal o impacto dos algoritmos
53. (ESLAMI, Motahhare et al., 2015)
“Our participants used the
News Feed to make
inferences about their
relationships, wrongly
attributing the algorithm’s
actions to be the intent of
their own friends and
family. Users incorrectly
concluded that they held
unpopular views or were
being given the cold
shoulder.”
54. Sock-Puppet Audit
Sock-puppet (fantoche) audit envolve a
simulação de usuários ou conteúdo com
variáveis controladas pelo desenho da
pesquisa ou mesmo sistemas bots.
(SANDVIG et al, 2014)
Plataforma Usuários
Simulações do
Pesquisador
55. Sock-Puppet Audit
(MAGRIGAL, 2014)
Extração de micro-gêneros do Netflix com a simulação de
usuário bot:
Emotional Independent Sports Movies
Spy Action & Adventure from the 1930s
Cult Evil Kid Horror Movies
Sentimental set in Europe Dramas from the 1970s
Visually-striking Foreign Nostalgic Dramas
Japanese Sports Movies
Gritty Discovery Channel Reality TV
Romantic Chinese Crime Movies
Mind-bending Cult Horror Movies from the 1980s
Dark Suspenseful Sci-Fi Horror Movies
Gritty Suspenseful Revenge Westerns
Violent Suspenseful Action & Adventure from the 1980s
Time Travel Movies starring William Hartnell
Romantic Indian Crime Dramas
Evil Kid Horror Movies
Visually-striking Goofy Action & Adventure
British set in Europe Sci-Fi & Fantasy from the 1960s
Dark Suspenseful Gangster Dramas
Critically-acclaimed Emotional Underdog Movies
57. Auditoria de Raspagem
Engloba a coleta de dados nos sistemas, incluindo
técnicas de raspagem de dados, acesso através de APIs,
captura de tela e afins.
Quando tratamos de sistemas focados em comunicação
(como plataformas de mídias sociais e buscadores) ou
com interfaces de autogestão do usuário (tais como
formulários de seleção, ferramentas de escore de
crédito e afins) esta abordagem é usada com frequência
por permitir avaliar os resultados e requisições
oferecidas aos usuários.
(SANDVIG et al, 2014)
Plataforma Usuários
Scripts/Toolkits
do Pesquisador
59. Auditoria de Raspagem
“Cases like the ‘warporn’ videos in
the [syria] query and the overall
presence of often (far) right
leaning YouTube personalities
show that the video platform
arranges search ranking in a
way that allows highly active
‘niche entrepreneurs’ to gain
exceptional levels of visibility.
Feeding on controversy and loyal
audiences, these channels
consistently appear in top
positions, even if their videos most
often receive fewer views than
more mainstream or conciliatory
voices.”
62. E por que importa?
A governança algorítmica tende a ser
cada vez mais presente – comunicadores
e cientistas sociais devem mergulhar na
temática para agir junto a
desenvolvedores e legisladores pra
analisar:
• Danos individuais
• Discriminação ilegal e práticas injustas
• Perda de oportunidades
• Perdas econômicas
• Estigmatização social
63. Referências
BUOLAMWINI, Joy; GEBRU, Timnit. Gender shades: Intersectional accuracy disparities in commercial gender classification. In: Conference on Fairness,
Accountability and Transparency. 2018. p. 77-91.
CARTER, Daniel. Hustle and brand: The sociotechnical shaping of influence. Social Media+ Society, v. 2, n. 3, p. 2056305116666305, 2016.
EPSTEIN, Ziv et al. Closing the AI Knowledge Gap. arXiv preprint arXiv:1803.07233, 2018.
ESLAMI, Motahhare et al. I always assumed that I wasn't really that close to [her]: Reasoning about Invisible Algorithms in News Feeds. In: Proceedings of the
33rd annual ACM conference on human factors in computing systems. ACM, 2015. p. 153-162.
NAPOLI, Philip; CAPLAN, Robyn. Why media companies insist they're not media companies, why they're wrong, and why it matters. First Monday, v. 22, n. 5,
2017.
RIEDER, Bernhard; MATAMOROS-FERNÁNDEZ, Ariadna; COROMINA, Òscar. From ranking algorithms to ‘ranking cultures’ Investigating the modulation of
visibility in YouTube search results. Convergence, v. 24, n. 1, p. 50-68, 2018.
ROGERS, Richard. Social Media Research After the Fake News Debacle. Partecipazione e Conflitto, v. 11, n. 2, p. 557-570, 2018.
SANDVIG, Christian et al. Auditing algorithms: Research methods for detecting discrimination on internet platforms. Data and discrimination: converting critical
concerns into productive inquiry, p. 1-23, 2014.
SCHOLZ, Trebor. Platform cooperativism. Challenging the corporate sharing economy. 2016.
SCHOLZ, Trebor. Platform cooperativism vs. the sharing economy. Big Data & Civic Engagement, v. 47, 2014.
SRNICEK, Nick. Platform capitalism. John Wiley & Sons, 2017.
Obrigado!