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CIÊNCIA COM
CONSCIÊNCIA
 EDGAR MORIN

               SETE AVENIDAS
Para a ciência
• Correlativamente, é evidente que o conhecimento
  científico      determinou     progressos     técnicos
  inéditos, tais como a domesticação da energia nuclear
  e os princípios da engenharia genética.
• Para conceber e compreender esse problema, há que
  acabar com a tola alternativa da ciência "boa", que só
  traz benefícios, ou da ciência "má", que só traz
  prejuízos. Pelo contrário, há que, desde a
  partida, dispor de pensamento capaz de conceber e
  de compreender a ambivalência, isto é, a
  complexidade intrínseca que se encontra no cerne da
  ciência
Fragmentos.
• De certo modo, os cientistas produzem um poder sobre o
  qual não têm poder, mas que enfatiza instâncias já todo-
  poderosas, capazes de utilizar completamente as
  possibilidades de manipulação e de destruição
  provenientes do próprio desenvolvimento da ciência
• Assim, há:
— progresso inédito dos conhecimentos científicos, paralelo
  ao progresso múltiplo da ignorância;
— progresso dos aspectos benéficos da ciência, paralelo ao
  progresso de seus aspectos nocivos ou mortíferos;
— progresso ampliado dos poderes da ciência, paralelo à
  impotência ampliada dos cientistas a respeito desses
  mesmos poderes.
• a consciência dessa situação chega partida ao espírito
  do investigador científico que, ao mesmo
  tempo, reconhece essa situação e dela se protege, sob
  olhar tríptico em que ficam afastadas as três noções:

1) ciência (pura, nobre, desinteressada);
2) técnica (língua de Esopo que serve para o melhor e
   para o pior);
3) política (má e nociva, pervertora do uso da ciência).
   Ora, o "lado mau" da ciência não poderia ser pura e
   simplesmente despejado sobre os
• A ciência não é somente uma acumulação de
  verdades verdadeiras. Digamos
  mais, continuando Popper: é um campo
  sempre aberto onde se combatem não só as
  teorias mas também os princípios da
  explicação, isto é, também as visões de
  mundo e os postulados metafísicos. (p. 20)
• A atividade científica era sociologicamente marginal, periférica. Hoje, a
  ciência tornou-se poderosa e maciça instituição no centro da
  sociedade, subvencionada, alimentada, controlada pelos poderes
  econômicos e estatais. Assim, estamos num processo inter-retroativo.
          ciência técnica -* sociedade -»Estado,
              t        1        1          I
• A técnica produzida pelas ciências transforma a sociedade, mas
  também, retroativamente, a sociedade tecnologizada trans-forma a
  própria ciência Os interesses econômicos, capitalistas, o interesse do
  Estado desempenham seu papel ativo nesse circuito de acordo com suas
  finalidades, seus programas, suas subvenções.
• A instituição científica suporta as coações tecno-burocráticas próprias dos
  grandes aparelhos econômicos ou estatais, mas nem o Estado, nem a
  indústria, nem o capital são guiados pelo espírito científico: utilizam os
  poderes que a investigação científica lhes dá.
• O pensamento de Adorno e de Habermas recorda-nos
  incessantemente que a enorme massa do saber
  quantificável e tecnicamente utilizável não passa de
  veneno se for privado da força libertadora da reflexão.
• ...
• De fato, o conflito das ideologias, dos pressupostos
  metafísicos (conscientes ou não) é condição sine qua non
  da vitalidade da ciência. Aqui se opera uma necessária
  desmistificação: o cientista não é um homem superior, ou
  desinteressado em relação aos seus concidadãos; tem a
  mesma pequenez e a mesma propensão para o erro. O jogo
  a que se dedica, entretanto, o jogo científico da verdade e
  do erro, esse, sim, é superior num universo
  ideológico, religioso, político, onde esse jogo é bloqueado
  ou falseado.
Vivemos uma revolução científica?
• Mas as ciências físicas, procurando o elemento
  simples e a lei simples do universo, descobriram a
  inaudita complexidade de um tecido microfísico e
  começam a entrever a fabulosa complexidade do
  cosmo.
• Elucidando a base molecular do código
  genético, a biologia começa a descobrir o
  problema teórico complexo da auto-organização
  viva, cujos princípios diferem dos das nossas
  máquinas artificiais mais aperfeiçoadas.
Fragmentos...
• o problema de uma política da investigação não se pode
  reduzir ao crescimento dos meios postos à disposição das
  ciências.
• Trata-se também — e sublinho o também para indicar que
  proponho não uma alternativa, mas um complemento —
  de que a política da investigação possa ajudar as ciências a
  realizarem as transformações-metamorfoses na estrutura
  de pensamento que seu próprio desenvolvimento
  demanda.
• Um pensamento capaz de enfrentar a complexidade do
  real, permitindo ao mesmo tempo à ciência refletir sobre
  ela mesma.
Fragmentos...
• convém definir e reconhecer as seguintes orientações
   complementares:
1) que os caracteres institucionais (tecnoburocráticos) da
   ciência não sufoquem, mas estofem os seus caracteres
   aventurosos;
2) que os cientistas sejam capazes de auto-interrogação, isto
   é, que a ciência seja capaz de auto-análise;
3) que sejam ajudados ou estimulados os processos que
   permitiriam à revolução científica em curso realizar a
   transformação das estruturas de pensamento.

No original, jogo de palavras: étovffer (sufocar); étojfer
 (estofar).(N. T.)
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Ciência com consciência

  • 1. CIÊNCIA COM CONSCIÊNCIA EDGAR MORIN SETE AVENIDAS
  • 2. Para a ciência • Correlativamente, é evidente que o conhecimento científico determinou progressos técnicos inéditos, tais como a domesticação da energia nuclear e os princípios da engenharia genética. • Para conceber e compreender esse problema, há que acabar com a tola alternativa da ciência "boa", que só traz benefícios, ou da ciência "má", que só traz prejuízos. Pelo contrário, há que, desde a partida, dispor de pensamento capaz de conceber e de compreender a ambivalência, isto é, a complexidade intrínseca que se encontra no cerne da ciência
  • 3. Fragmentos. • De certo modo, os cientistas produzem um poder sobre o qual não têm poder, mas que enfatiza instâncias já todo- poderosas, capazes de utilizar completamente as possibilidades de manipulação e de destruição provenientes do próprio desenvolvimento da ciência • Assim, há: — progresso inédito dos conhecimentos científicos, paralelo ao progresso múltiplo da ignorância; — progresso dos aspectos benéficos da ciência, paralelo ao progresso de seus aspectos nocivos ou mortíferos; — progresso ampliado dos poderes da ciência, paralelo à impotência ampliada dos cientistas a respeito desses mesmos poderes.
  • 4. • a consciência dessa situação chega partida ao espírito do investigador científico que, ao mesmo tempo, reconhece essa situação e dela se protege, sob olhar tríptico em que ficam afastadas as três noções: 1) ciência (pura, nobre, desinteressada); 2) técnica (língua de Esopo que serve para o melhor e para o pior); 3) política (má e nociva, pervertora do uso da ciência). Ora, o "lado mau" da ciência não poderia ser pura e simplesmente despejado sobre os
  • 5. • A ciência não é somente uma acumulação de verdades verdadeiras. Digamos mais, continuando Popper: é um campo sempre aberto onde se combatem não só as teorias mas também os princípios da explicação, isto é, também as visões de mundo e os postulados metafísicos. (p. 20)
  • 6. • A atividade científica era sociologicamente marginal, periférica. Hoje, a ciência tornou-se poderosa e maciça instituição no centro da sociedade, subvencionada, alimentada, controlada pelos poderes econômicos e estatais. Assim, estamos num processo inter-retroativo. ciência técnica -* sociedade -»Estado, t 1 1 I • A técnica produzida pelas ciências transforma a sociedade, mas também, retroativamente, a sociedade tecnologizada trans-forma a própria ciência Os interesses econômicos, capitalistas, o interesse do Estado desempenham seu papel ativo nesse circuito de acordo com suas finalidades, seus programas, suas subvenções. • A instituição científica suporta as coações tecno-burocráticas próprias dos grandes aparelhos econômicos ou estatais, mas nem o Estado, nem a indústria, nem o capital são guiados pelo espírito científico: utilizam os poderes que a investigação científica lhes dá.
  • 7. • O pensamento de Adorno e de Habermas recorda-nos incessantemente que a enorme massa do saber quantificável e tecnicamente utilizável não passa de veneno se for privado da força libertadora da reflexão. • ... • De fato, o conflito das ideologias, dos pressupostos metafísicos (conscientes ou não) é condição sine qua non da vitalidade da ciência. Aqui se opera uma necessária desmistificação: o cientista não é um homem superior, ou desinteressado em relação aos seus concidadãos; tem a mesma pequenez e a mesma propensão para o erro. O jogo a que se dedica, entretanto, o jogo científico da verdade e do erro, esse, sim, é superior num universo ideológico, religioso, político, onde esse jogo é bloqueado ou falseado.
  • 8. Vivemos uma revolução científica? • Mas as ciências físicas, procurando o elemento simples e a lei simples do universo, descobriram a inaudita complexidade de um tecido microfísico e começam a entrever a fabulosa complexidade do cosmo. • Elucidando a base molecular do código genético, a biologia começa a descobrir o problema teórico complexo da auto-organização viva, cujos princípios diferem dos das nossas máquinas artificiais mais aperfeiçoadas.
  • 9. Fragmentos... • o problema de uma política da investigação não se pode reduzir ao crescimento dos meios postos à disposição das ciências. • Trata-se também — e sublinho o também para indicar que proponho não uma alternativa, mas um complemento — de que a política da investigação possa ajudar as ciências a realizarem as transformações-metamorfoses na estrutura de pensamento que seu próprio desenvolvimento demanda. • Um pensamento capaz de enfrentar a complexidade do real, permitindo ao mesmo tempo à ciência refletir sobre ela mesma.
  • 10. Fragmentos... • convém definir e reconhecer as seguintes orientações complementares: 1) que os caracteres institucionais (tecnoburocráticos) da ciência não sufoquem, mas estofem os seus caracteres aventurosos; 2) que os cientistas sejam capazes de auto-interrogação, isto é, que a ciência seja capaz de auto-análise; 3) que sejam ajudados ou estimulados os processos que permitiriam à revolução científica em curso realizar a transformação das estruturas de pensamento. No original, jogo de palavras: étovffer (sufocar); étojfer (estofar).(N. T.)