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Bezerra de Menezes - O Médico dos Pobres
Bezerra de Menezes - O Médico dos Pobres
Pesquisa, compilação e formatação: sejafeliz



O Apostalado no Medicina    O MÉDICO DOS POBRES




Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de
escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito
lhe bate à porta.
Ou que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e se
achar fatigado,Ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, por
ficar longe ou no morro;
o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a
receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro.
Esse não é médico, é negociante de medicina.
Que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura.
Esse é um desgraçado que manda para outro o anjo da caridade que
lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar
a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos
vais e vens da vida.

Bezerra de Menezes


11 de abril de 1900. Desencarne do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes – O Médico dos Pobres

Cognominado de o Allan Kardec Brasileiro




REUNIÃO CÓSMICA
Conta-nos o Espírito Humberto de Campos, Irmão X, através da psicografia de
Chico                                                               Xavier:
    "Há mais de um século, brilhante assembléia
de Espíritos se reuniu no Espaço, sob a direção do
Anjo Ismael. Foi então exposta a missão futura
do Brasil na divulgação do Evangelho, que seria
iluminado por uma nova Revelação. Em dado
instante, o Mensageiro do Senhor se aproxima de
um de seus discípulos e fala-lhe mais ou menos
assim:
    — Descerás às lutas terrestres, com o objetivo
de concentrar as nossas energias no País do
Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos
nossos esforços. Arregimentarás todos os
elementos dispersos, com as dedicações do teu
Espírito, a fim de que possamos criar o nosso
núcleo de atividades espirituais, dentro dos
elevados propósitos de reforma e regeneração. —
E     Ismael,     ao     finalizar,   acrescentou:
    — Se a luta vai ser grande, considera que não
será menor a compreensão do Senhor, que é o
caminho,       a     verdade        e   a    vida.
    — E o discípulo escolhido, imóvel e reverente
diante de Ismael, não pôde articular palavra
alguma: a emoção dominava-o inteiramente.
     Mas, as lágrimas que rolaram copiosamente
de seus olhos diziam, com grande eloqüência,
que ele tudo faria para bem cumprir a missão que
lhe fora confiada."


Bezerra de Menezes – O Médico dos Pobres.


Nascido na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje
Solonópole, no Ceará, aos 29 dias do mês de agosto de 1831,
e desencarnado no Rio de Janeiro, a 11 de abril de 1900.

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, no ano de 1838,
entrou para a escola pública da Vila do Frade, onde em dez
meses apenas, preparou- se suficientemente até onde dava o
saber do mestre que lhe dirigia a primeira fase de educação.
Bem cedo revelou sua fulgurante inteligência, pois, aos onze
anos de idade, iniciava o curso de Humanidades e, aos treze
anos, conhecia tão bem o latim que ministrava, a seus
companheiros, aulas dessa matéria, substituindo o professor
da classe em seus impedimentos.

Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente- coronel da
Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Menezes, homem
severo, de honestidade a toda prova e de ilibado caráter,
tinha bens de fortuna em fazendas de criação. Com a política,
e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar abonos de
favor a parentes e amigos, que o procuravam para explorar-
lhe os sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna.
Percebendo, porém, que seus débitos igualavam seus
haveres, procurou os credores e lhes propôs entregar tudo o
que possuía, o que era suficiente para integralizar a dívida. Os
credores, todos seus amigos, recusaram a proposta, dizendo-
lhe que pagasse como e quando quisesse.

O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu demover os
credores sobre essa resolução, por isso deliberou tornar- se
mero administrador do que fora sua fortuna, não retirando
dela senão o que fosse estritamente necessário para a
manutenção da sua família, que assim passou da abastança
às privações.

Animado do firme propósito de orientar- se pelo caráter
íntegro de seu pai, Bezerra de Menezes, com minguada
quantia que seus parentes lhe deram, e animado do propósito
de sobrepujar todos os óbices, partiu para o Rio de Janeiro a
fim de seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: a
Medicina.

Em novembro de 1852, ingressou como praticante interno no
Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Doutorou- se em 1856
pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a
tese "Diagnóstico do Cancro". Nessa altura abandonou o
último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra
de Menezes. A 27 de abril de 1857, candidatou-se ao quadro
de membros titulares da Academia Imperial de Medicina, com
a memória "Algumas Considerações sobre o Cancro encarado
pelo lado do Tratamento". O parecer foi lido pelo relator
designado, Acadêmico José Pereira Rego, a 11 de maio de
1857, tendo a eleição se efetuado a 18 de maio do mesmo ano
e a posse a 1.o. de junho. Em 1858 candidatou- se a uma vaga
de lente substituto da Secção de Cirurgia da Faculdade de
Medicina. Por intercessão do mestre Manoel Feliciano Pereira
de Carvalho, então Cirurgião- Mor do Exército, Bezerra de
Menezes foi nomeado seu assistente, no posto de Cirurgião-
Tenente.

Eleito vereador municipal pelo Partido Liberal, em 1861, teve
sua eleição impugnada pelo chefe conservador, Haddock
Lobo, sob a alegação de ser médico militar. Objetivando servir
o seu Partido, que necessitava dele a fim de obter maioria na
Câmara, resolveu Bezerra de Menezes afastar- se do Exército.
Em 1867 foi eleito Deputado Geral, tendo ainda figurado em
lista tríplice para uma cadeira no Senado.

Quando político, levantou- se contra ele, a exemplo do que
ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de
injúrias que cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a
prova da pureza da sua alma deu- se quando, abandonando a
vida pública, foi viver para os pobres, repartindo com os
necessitados o pouco que possuía.

Corria sempre ao tugúrio do pobre, onde houvesse um mal a
combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de
bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua
bolsa minguada e generosa.
Desviado interinamente da atividade política e dedicando- se
a empreendimentos empresariais, criou a Companhia de
Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então província do Rio
de Janeiro. Depois, empenhou- se na construção da via férrea
de S. Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não
concretizado, de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores
da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o
"Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel,
cujo topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em
1875, era presidente da Companhia Carril de S. Cristóvão.

Retornando à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo
o mandato até 1880. Foi ainda presidente da Câmara e
Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro, no ano de
1880.

O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira
tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a
versão portuguesa de

"O Livro dos Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo
levou um exemplar ao deputado Bezerra de Menezes,
entregando- o com dedicatória. O episódio foi descrito do
seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: "Deu- mo na
cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de
bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração
para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir
para o inferno por ler isto... Depois, é ridículo confessar- me
ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as
escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi- me
a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava
nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo
aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o
que se achava no "O Livro dos Espíritos". Preocupei- me
seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia:
parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se
diz vulgarmente, de nascença".

No dia 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de duas
mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de honra da
Guarda Velha, na rua da Guarda Velha, atual Avenida 13 de
Maio, no Rio de Janeiro, para ouvir em silêncio, emocionado,
atônito, a palavra sábia do eminente político, do eminente
médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr.
Bezerra de Menezes, que proclamava a sua decidida
conversão ao Espiritismo.

Bezerra era um religioso no mais elevado sentido. Sua pena,
por isso, desde o primeiro artigo assinado, em janeiro de
1887, foi posta a serviço do aspecto religioso do Espiritismo.
Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico e
religioso, quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários,
a Comissão de Propaganda da União Espírita do Brasil,
incumbiu- o de escrever, aos domingos, no "O Paiz"
tradicional órgão da imprensa brasileira, a série de "Estudos
Filosóficos", sob o título "O Espiritismo". O Senador Quintino
Bocaiúva, diretor daquele jornal de grande penetração e
circulação, "o mais lido do Brasil", tornou-se mesmo
simpatizante da Doutrina Espírita.

Os artigos de Max, pseudônimo de Bezerra de Menezes,
marcaram a época de ouro da propaganda espírita no Brasil.
De novembro de 1886 a dezembro de 1893, escreveu
ininterruptamente, ardentemente.

Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após a sua
conversão do Espiritismo, constam os seguintes trabalhos: "A
Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para
extingui-la sem dano para a Nação", "Breves considerações
sobre as secas do Norte", "A Casa Assombrada", "A Loucura
sob Novo Prisma", "A Doutrina Espírita como Filosofia
Teogônica", "Casamento e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro
-- o Leproso", "História de um Sonho", "Evangelho do
Futuro". Escreveu ainda várias biografias de homens célebres,
como o Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalas, etc. Foi
um dos redatores de "A Reforma", órgão liberal da Corte, e
redator do jornal "Sentinela da Liberdade".

Bezerra de Menezes tinha a função de médico no mais elevado
conceito, por isso, dizia ele:



"Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem
de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer
lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por
ter trabalhado muito e achar- se fatigado, ou por ser alta hora
da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro,
o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que
pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure
outro -- esse não é médico, é negociante de medicina, que
trabalha para recolher capital e juros dos gastos de
formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o
anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a
única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu
Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivens da vida."

Em 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no
seio do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os núcleos
espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma
união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se
tornasse mais indestrutível.
Os Centros, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de
forma autônoma. Cada um deles exercia a sua atividade em
um determinado setor, sem conhecimento das atividades dos
demais. Esse sentimento levou- os à fundação da Federação
Espírita Brasileira.

Nessa época já existiam muitas sociedades espíritas, porém,
as únicas que mantinham a hegemonia de mando eram
quatro: a "Acadêmica", a "Fraternidade", a "União Espírita do
Brasil" e a "Federação Espírita Brasileira", entretanto, logo
surgiram entre elas vivas discórdias.

Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando
prescrições das importantes "Instruções" recebidas do plano
espiritual pelo médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso
"Centro Espírita", o que, entretanto, não impediu que Bezerra
desse a sua colaboração a todas as outras instituições. O
entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro
se viu desamparado dos seus companheiros, chegando a ser o
único freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os
chamados "místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que
aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o
aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico.

Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da
Armada, ocasionou o fechamento de todas as sociedades
espíritas ou não. No Natal do mesmo ano Bezerra encerrou a
série de "Estudos Filosóficos" que vinha publicando no "O
Paiz".

Em 1894, o ambiente mostrou tendências para melhora e o
nome de Bezerra de Menezes foi lembrado como o único
capaz de unificar o movimento espírita. O infatigável
batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência da
Federação Espírita Brasileira, cargo que ocupou até a sua
desencarnação.    Iniciava- se o ano de 1900, e Bezerra de
Menezes foi acometido de violento ataque de congestão
cerebral, que o prostrou no leito, de onde não mais se
levantaria.

Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o
rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o que nada possuía.

Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a
família do grande apóstolo do Espiritismo. Todos conheciam
suas dificuldades financeiras, mas ninguém teria a coragem
de oferecer fosse o que fosse, de forma direta. Por isso, os
visitantes depositavam suas espórtulas, delicadamente,
debaixo do seu travesseiro. No dia seguinte, a pessoa que lhe
foi mudar as fronhas, surpreendeu- se por ver ali desde o
tostão do pobre até a nota de duzentos mil reis do
abastado!...

Ocorrida a sua desencarnação, verdadeira peregrinação
demandou sua residência a fim de prestar- lhe a última visita.

No dia 17 de abril, promovido por Leopoldo Cirne, reuniram-
se alguns amigos de Bezerra, a fim de chegarem a um acordo
sobre a melhor maneira de amparar a sua família, tendo
então sido formada uma comissão que funcionou sob a
presidência de Quintino Bocaiúva, senador da República, para
se promover espetáculos e concertos, em benefício da família
daquele que mereceu o cognome de "Kardec Brasileiro".

Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de
Menezes, quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava
em sérias dificuldades financeiras, precisando da quantia de
cinqüenta mil réis (antiga moeda brasileira), para pagamento
das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis
em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer
contemplação, ameaçava despejá-lo.

Desesperado -- uma das raras vezes em que Bezerra se
desesperou na vida -- e como não fosse incrédulo, ergueu os
olhos ao Alto e apelou a Deus.    Poucos dias após bateram-
lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que
pretendia tratar algumas aulas de Matemática.

Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que
mais detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim,
lembrando- se de sua situação desesperadora, resolveu
aceitar.

  O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada
recebida do pai, pediu licença para efetuar o pagamento de
todas as aulas adiantadamente. Após alguma relutância,
convencido, acedeu. O moço entregou- lhe então a quantia de
cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das
aulas, o visitante despediu- se, deixando Bezerra muito feliz,
pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da
Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública para se
preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu.

No ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do
Espiritismo brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr.
Bittencourt Sampaio, resolveram convidar Bezerra a fim de
assumir a presidência da Federação Espírita Brasileira. Em
vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso
encargo, travou- se a seguinte conversação:    -- Querem que
eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha
sociedade está sem presidente e desorientada. Em vez de
trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho,
vive a discutir teses bizantinas e a alimentar o espírito de
hegemonia.

 -- O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sampaio, é
sempre amparado. A Federação pode estar errada na sua
propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos
Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as
simpatias dos servos do Senhor.       -- De acordo. Mas a
Assistência aos Necessitados está adotando exclusivamente a
Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica que eu
adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e
recomendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico
homeopata. Isto aliás me tem criado sérias dificuldades,
tornando- me um médico inútil e deslocado que não crê na
medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não tendo assim
o direito de exercer a profissão.         -- E por que não te
tornas médico homeopata? disse Bittencourt.

-- Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos
e não a dos médicos.      Nessa altura, o médium Frederico
Júnior, incorporando o Espírito de S. Agostinho, deu um
aparte:      -- Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior
facilidade no tratamento dos nossos irmãos.         -- Como,
bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo? --
Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente
o fruto do teu saber humano, para isso estudando
Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro
Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo- te,
quando precisares, novos discípulos de Matemática...




 Adesão ao Espiritismo do Dr. Bezerra de
Menezes:

"Conferência. Ante um auditório de cerca de duas mil
pessoas, no salão da Guarda Velha, ocupou a tribuna
de conferências espiríticas, na noite de 16 do mês
último, o nosso distinto confrade, ilustrado e provecto
médico, o Sr. Dr. A. Bezerra de Menezes. Seu grandioso
trabalho, exposição minuciosa de profundo estudo que
tem feito da matéria, e das lutas que se empenharam
no seu íntimo, quando, à luz da razão esclarecida, se
entregou ao estudo dos dogmas e preceitos da religião
romana, em que foi educado, esteve acima de todo
elogio, e impressionou profundamente o ânimo de seus
ouvintes

(...)”.(Reformador, 1 de Setembro de 1886)


Mensagem de Allan Kardec ao Brasil em 1889


"Paz e amor sejam convosco.


Que possamos ainda uma vez, unidos pelos laços de fraternidade,
estudar essa doutrina de paz e amor, de justiça e esperanças, graças à
qual encontraremos a estreita porta da salvação futura - gozo
indefinido e imorredouro para as nossas almas humildes.


Antes de ferir os pontos que fazem o objetivo da minha manifestação,
devo pedir a todos vós que me ouvis - a todos vós espíritas a quem
falo neste momento - que me perdoem se porventura, na externação
dos meus pensamentos, encontrardes alguma coisa que vos magoe,
algum espinho que vos vá ferir a sensibilidade do coração (...)”


Decreto Que Proíbe o Espiritismo (Código Penal -
1890)


Art. 157 - Praticar o Espiritismo, a magia e seus
sortilégios, usar de talismãs e cartomancias para
despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura
de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para
fascinar e subjugar a credulidade pública: Penas - de
prisão celular por um a seis meses e multa de 100$ a
500$000.


Os textos acima fazem parte do livro “Papel Velhos e Histórias de Luz”,
Editora CELD.



Após a Morte de Bezerra de Menezes
A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA

Essa história foi psicografada pela médium Yvonne A.Pereira,
e a que ele deu o título em epígrafe.

"Perante o enorme ajuntamento de sofredores desencarnados, no
Plano Espiritual, o Dr. Bezerra de Menezes, apóstolo da Doutrina
Espírita no Brasil, rematava a preleção.

Falara,    com     muito     brilho,   acerca     dos    desregramentos   morais.
Destacara os males da alma e os desastres do espírito.

Dispunha-se à retirada, quando fino ironista o investiu:

"Escute, doutor. O senhor disse que a calúnia é um braseiro no
caluniador. Eu caluniei e nada senti. O senhor
disse que o destruidor de lares terrestres carrega a lâmina do
arrependimento a retalhar-lhe o coração. Destruí
diversos lares e nada senti. O senhor disse que o criminoso tem a
nuvem do remorso a sufocá-lo. Eu matei e nada
senti...

"Meu filho - disse o pregador -, que sente um cadáver quando alguém
lhe incendeia o braço inerte?"

"Nada - disse, rindo, o opositor sarcástico -, pois cadáver não reage."

E a conversação prosseguiu:

"Que sente um cadáver se o mergulham num lago de piche?"
- "Absolutamente nada, ora essa! O cadáver é a imagem da morte."

Doutor Bezerra fitou o triste interlocutor e, meneando paternalmente a
cabeça, concluiu.

"Pois olhe, meu filho, quando alguém não sente o mal que pratica, em
verdade      carrega       consigo     a     consciência      morta.
É um morto - vivo."




                       NÃO PERDOAR
                                                           Hilário Silva

Bezerra de Menezes, já devotado à Doutrina Espírita, almoçava, certa
feita, em casa de Quintino Bocaiúva, o grande republicano, e o
assunto era o Espiritismo, pelo qual o distinto jornalista passara a
interessar-se.

Em meio da conversa, aproxima-se um serviçal e comunica ao dono
da casa:

- Doutor, o rapaz do acidente está aí com um policial.

Quintino, que fora surpreendido no gabinete de trabalho com um tiro
de raspão, que, por pouco, não lhe atingiu a cabeça, estava indignado
com o servidor que inadvertidamente fizera o disparo.

- Manda-o entrar – ordenou o político.

- Doutor – roga o moço preso, em lágrimas -, perdoe o meu erro! Sou
pai de dois filhos...

Compadeça-se! Não tinha qualquer má intenção...

Se o senhor me processar, que será de mim? Sua desculpa me
livrará! Prometo não mais brincar com armas de fogo! Mudarei de
bairro, não incomodarei o senhor...

O notável político, cioso da própria tranqüilidade, respondeu:
- De modo algum. Mesmo que o seu ato tenha sido de mera
imprudência, não ficará sem punição.

Percebendo que Bezerra se sentia mal, vendo-o assim encolerizado,
considerou, à guisa de resposta indireta:

- Bezerra, eu não perdôo, definitivamente não perdôo...

Chamado nominalmente à questão, o amigo exclamou desapontado:

- Ah! você não perdoa!
Sentindo-se intimamente desaprovado, Quintino falou, irritado:

- Não perdôo erro. E você acha que estou fora do meu direito?

O Dr. Bezerra cruzou os braços com humildade e respondeu:

- Meu amigo, você tem plenamente o direito de não perdoar, contanto
que você não erre.......

A observação penetrou Quintino como um raio.

O grande político tomou um lenço, enxugou o suor que lhe caía em
bagas, tornou à cor natural, e, após refletir alguns momentos, disse
ao policial:

- Solte o homem. O caso está liquidado.

E para o moço que mostrava profundo agradecimento:

- Volte ao serviço hoje mesmo, e ajude na copa.

Em seguida, lançou inteligente olhar para Bezerra, e continuou a
conversação no ponto em que haviam ficado.

   Livro: “Almas em Desfile” Psicografia: Francisco C. Xavier e Waldo
                                          Vieira Espírito: Hilário Silva




OS PRIMEIROS PASSOS DE BEZERRA DE
MENEZES NA VIDA ESPIRITUAL


“Conta-se que Bezerra de Menezes, o denodado
apóstolo do Espiritismo no Brasil, após alguns anos de
desencarnação,     achava-se   em     praia    deserta,
meditando tristemente acerca da maioria dos
petitórios que lhe eram endereçados do mundo.

“Em grande número de reuniões consagradas à prece,
solicitavam-lhe providências de natureza material.

“Numerosos admiradores e amigos rogavam-lhe
empregos rendosos, negócios lucrativos, alojamentos,
proteção para documentários diversos, propriedades e
promoções.

“Em verdade, sentia-se feliz, quando chamado a servir
um doente ou quando trazido à consolação dos
infortunados; contudo, fora na Terra um médico
espírita e um homem de bem, à distância de maiores
experiências     em        atividades     comerciais.

“Por que motivo a convocação indébita de seu nome
em processos inconfessáveis? não era também ele um
discípulo do Evangelho, interessado em ascender à
maior comunhão com o Senhor? não procurava
aprender igualmente a lutar e renunciar?
“Monologava, entre inquieto e abatido, quando viu
junto dele o grande Antônio, desencarnado em Pádua,
no ano de 1281.


“O admirável herói da Igreja Católica, nimbado de
intensa  luz, ouvira-lhe   o  solilóquio  amargo.

“Abraçou-o, com bondade, e convidou-o a segui-Io.


“A breves minutos, ei-los ambos no perfumado recinto
de grande templo.


“O santuário, dedicado ao popular taumaturgo
regurgitava de fiéis que se prosternavam, reverentes,
diante da primorosa estátua que o representava
sustentando a imagem de Jesus menino.


“O santo impeliu Bezerra a escutar os requerimentos
da assembléia e o seareiro espírita conseguiu anotar
as mais estranhas e inoportunas requisições.


“Suplicava-se a Antônio casa e comida, dinheiro fácil e
saliência política, matrimônio e prazeres. Não faltava
quem lhe implorasse contra outrem perseguições e
vingança, hostilidade e desprezo, inclusive crimes
ocultos.

“O amigo benfeitor esboçou um gesto expressivo e
falou, bem-humorado, ao evangelizador brasileiro :

– “Observaste atentamente? as petições são quase
sempre as mesmas nos variados campos da fé.
Sequioso de burilamento íntimo, troquei na Igreja o
hábito de cônego pelo burel dos frades... Ensinei a
palavra do Mestre Divino, sufocando os espinhos de
minhas próprias imperfeições. Fosse nas seduções da
vida secular ou na austeridade do convento, caminhava
mantendo     pavorosas    batalhas   comigo   mesmo,
ansiando entesourar a virtude, em cujo encalço
permaneço até hoje; entretanto, procuram-me através
da oração, para ser meirinho comum ou advogado
casamenteiro...

“E porque Bezerra sorrisse, reconfortado, aduziu ;

– “Nosso problema, contudo, é o de instruir sem
desanimar. Jesus, no monte, sentindo extrema
compaixão pela turba desvairada, alimentou-lhe o
corpo e clareou-lhe a alma obscura...
“Nesse justo momento, surge        alguém à cata de
Bezerra. Num círculo de oração,   organizado na Terra,
pediam-lhe indicações para que    fosse descoberto um
enorme tesouro de aventureiros    antigos, desde muito
enterrado.

“Antônio afagou-lhe os ombros e disse benevolente:

– “Vai, meu amigo, e não desdenhes auxiliar. Decerto,
não te preocuparás com o ouro escondido, mas
ensinarás aos nossos irmãos o trato precioso do solo
para a riqueza do pão de todos e, descerrando-lhes o
filão   do  progresso,   plantarás  entre    eles   o
entendimento e a bondade do Excelso Amigo.


“Bezerra despediu-se, contente, e tornou corajoso à
luta, compreendendo, por fim, que não bastaria
lastimar a atitude dos companheiros invigilantes, mas
ajudá-los com todo o amor, consciente de que o Cristo
é o Mestre da Humanidade e de que o Evangelho,
acima de tudo, é obra de educação.”

Fonte:


Do livro VIDA E OBRA DE BEZERRA
OS ÚLTIMOS MOMENTOS DE BEZERRA DE MENEZES
11 de abril de 1900 - 11 de abril de 2005




Seus últimos                momentos        dão-nos   lições   comovedoras   e
instrutivas.

Revelam-nos sua confiança no Divino Mestre, na Missão
cumprida, no Dever realizado.

A anasarca lhe transformara o corpo.

Complicara-se sua enfermidade.

A hemiplegia, paralisia de parte do corpo, impossibilitava-lhe
os movimentos.

Sua voz era pastosa e lenta.

Apenas o olhar era vivo e sereno, como sempre, bom e puro.

A casa, pela varanda, nos quartos, no quintal, estava sempre
cheia de irmãos e amigos agradecidos e sinceros, alguns
esperando anda pela esmola de uma receita, de uma palavra
de afago e de bom ânimo.

A folhinha marcava 11 de abril de 1900! Bezerra de Menezes,
o Apóstolo brasileiro, o Médico dos Pobres, o Estuário de
todas as súplicas, de problemas variados e dolorosos, de
irmãos sofredores e pobres, agonizava ...

Os olhos brilhantes, bem abertos, transmitiam aos familiares
e aos irmãos e amigos presentes a confiança de sua Fé, o
Amor pelo seu e nosso Mestre e a sua preocupação pelos seus
doentes.
E balbuciava, de quando em quando, com dificuldade e
sentidamente: - Coitados, são tantos à minha espera!

A Mãe do Céu há de atendê-los! Sentindo que se aproximava
a hora do seu decesso, pediu que o ajudassem a levantar-se
um pouco e, com a cabeça erguida, olhos voltados para o Alto,
assim orou, baixinho e entre lágrimas, deixando-nos suas
últimas palavras como a Lição permanente de sua grandeza
Espiritual, de seu Espírito totalmente libertado dos vícios e
ligado à Causa de Nosso Senhor Jesus Cristo:

Virgem Santíssima, Rainha do Céu, Advogada de nossas
súplicas junto ao Divino Mestre e a Deus todo Poderoso, eu Te
peço não que deixe de sofrer mas para que meu pobre
espírito aproveite bem todo o sofrimento e, por fim, Mãe
querida, eu Te peço pelos meus irmãos que ficam, por esses
pobres amigos, doentes do corpo e da alma, que aqui vieram
buscar no Teu humilde servo uma migalha de conforto e de
amor.

Assiste-os, por Caridade, dá-lhes, Senhora, a Tua Paz, a Paz
do Cordeiro de Deus que tira os pecados do Mundo,

Nosso Senhor Jesus Cristo!

Louvado seja Teu Nome!

Louvado seja o Nome de Jesus!

Louvado seja Deus!

E desencarnou!

Apagara-se na Terra uma grande Luz e apontara no Céu mais
um foco de claridade.
Transcrito do Livro "LINDOS     CASOS   DE   BEZERRA   DE
MENEZES", de Ramiro Gama.

Enviado por Luz do Evangelho - Luzdoevangelho@aol.com




A Felicidade de Bezerra de
Menezes



Um dia, perguntei ao Dr. Bezerra de Menezes, qual foi a sua
maior felicidade quando chegou ao plano espiritual. Ele
respondeu-me:

- A minha maior felicidade, meu filho, foi quando Celina, a
mensageira de Maria Santíssima, se aproximou do leito em
que eu ainda estava dormindo, e, tocando-me, falou,
suavemente:

- Bezerra, acorde, Bezerra!
Abri os olhos e vi-a, bela e radiosa.


- Minha filha, é você, Celina?!

- Sim, sou eu, meu amigo. A Mãe de Jesus pediu-me que lhe
dissesse que você já se encontra na Vida Maior, havendo
atravessado a porta da imortalidade. Agora, Bezerra, desperte
feliz.

Chegaram os meus familiares, os companheiros queridos das
hostes espíritas que me vinham saudar. Mas, eu ouvia um
murmúrio, que me parecia vir de fora. Então, Celina, me disse:

- Venha ver, Bezerra.

Ajudando-me a erguer-me do leito, amparou-me até uma
sacada, e eu vi, meu filho, uma multidão que me acenava,
com       ternura     e       lágrimas     nos     olhos.

- Quem são, Celina? - perguntei-lhe - não conheço a ninguém.
Quem são?


- São aqueles a quem você consolou, sem nunca perguntar-
lhes o nome. São aqueles Espíritos atormentados, que
chegaram às sessões mediúnicas e a sua palavra caiu sobre
eles como um bálsamo numa ferida em chaga viva; são os
esquecidos da terra, os destroçados do mundo, a quem você
estimulou e guiou. São eles, que o vêm saudar no pórtico da
eternidade...
E o Dr. Bezerra concluiu:

- A felicidade sem lindes existe, meu filho, como decorrência
do bem que fazemos, das lágrimas que enxugamos, das
palavras que semeamos no caminho, para atapetar a senda
que um dia percorreremos.



Do livro "O Semeador de Estrelas"

De: Suely Caldas Schubert



 Um abraço, em nome da Virgem, faz maravilhas!

Bezerra de Menezes acabava de presidir a uma das
sessões publicas da casa de Ismael, na avenida
Passos.

Era uma noite de terça feira do mês de junho de 1896.
Sua palavra esclarecida e carinhosa, á moda de uma
chuva fina e criadeira, no dizer de M.Quintão,
penetrava ás almas de quantos, encarnados e
desencarnados, lhe ouviam a evangélica dissertação
sobre uma Lição do Livro da Vida!

Os olhos marejados de lagrimas, tanto de ouvintes
como os do próprio Orador. Acabada a sessão, descera
Bezerra com passos tardos, ainda emocionado, as
escadas da Federação Espírita Brasileira. E ia,
humildemente, indagando dos mais íntimos, se ferira
alguém com sua palavra, que lhe perdoassem o
descuido, e ia descendo e afagando a todos que o
esperavam ávidos dos seus conselhos, dos seus
sorrisos, do seu olhar manso e bom.
No sucedâneo da escada, localizou um irmão, de seus
45 anos, cabelos em desalinho, com a roupa suja e
amarrotada. Os dois se olharam. Bezerra compreendeu
logo que ali estava um Caso, todo particular, para ele
resolver.
Oh! Bendito os que têm olhos no coração! E Bezerra os
tinha e os tem! E levou o desconhecido para um canto
e lhe ouviu, com atenção, o desabafo, o pedido: - Dr.
Bezerra estou sem emprego, com a mulher e dois
filhos doentes e famintos. E eu mesmo, como vê, estou
sem alimento e febril! Bezerra, apiedado, verificou se
ainda tinha algum dinheiro. Nada encontrou nos
bolsos. Apenas a passagem do bonde. Tornou-se mais
apiedado e apreensivo.
Levantou os olhos já molhados de pranto para o alto e,
numa prece muda, pediu inspiração a Maria
Santíssima, seu Anjo Tutelar e solucionador de seus
problemas. Depois, virando-se para o irmão: - Meu
filho, você tem fé em Nossa Senhora? A Mãe do Divino
Mestre, a nossa Mãe Querida? - Tenho e muita, Dr.
Bezerra!

- Pois então, em Seu Santíssimo Nome, receba este
abraço. E abraçou o desesperado irmão, envolvente de
demoradamente. E despedindo-se: - Vá, meu filho, na
Paz de Jesus e sob a proteção do Anjo da Humanidade.
Em seu lar, faça o mesmo com todos os seus
familiares, abraçando-os, afagando-os. E confie Nela,
no Amor da Rainha do Céu, que seu caso há de ser
resolvido. Bezerra partira.

A caminho do lar, meditava: teria cumprido seu dever,
será que possibilitara ajuda ao irmão em prova,
faminto e doente? E arrependia-se por não lhe haver
dado senão um abraço. Não possuía nenhum dinheiro.
O próprio anel de grau já não estava nos seus dedos.
Tudo havia dado. Não tenho dinheiro, dera algo de si
mesmo, vibrações, bom ânimo, moeda da alma, ao
irmão sofredor e não tinha certeza de que isso lhe
bastara...
E, nesse estado de espírito, preocupado pela sorte de
um seu semelhante, chegou ao lar...
Uma semana passara-se. Bezerra não se recordava
mais do sucedido. Muitos eram os problemas alheios.

Após a sessão de outra terça-feira, descia as escadas
da Federação. Alguém, no mesmo lugar da escada,
trazendo   na   fisionomia    toda    a    emoção  do
agradecimento, toca-lhe o braço e lhe diz:

- Venho agradecer-lhe, Dr. Bezerra, o abraço milagroso
que me deu na semana passada, neste local e nesta
mesma hora. Daqui saí logo me sentindo melhor. Em
casa, cumpri seu pedido e abracei minha mulher e
meus filhos.

Na linguagem do coração, oramos todos á Mãe do Céu.
Na água que bebemos e demos aos familiares, parece,
continha alimento. Pois dormimos todos bem. No dia
seguinte, estávamos     sem febre e     como que
alimentados...

E veio-me uma inspiração, guiando-me a uma porta,
que se abriu e alguém por ela saiu, ouviu meu
problema, condoeu-se de mim e me deu um emprego,
no qual estou até hoje. E venho lhe agradecer a grande
dádiva que o senhor me deu, arrancada de si mesmo,
maior e melhor do que dinheiro! O ambiente era
tocante!
Lagrimas caíam tanto dos olhos de Bezerra como do
irmão beneficiado e desconhecido.
E uma prece muda, de dois corações unidos, numa
mesma força gratulatória, subiu aos Céus, louvando
aquela que é, em verdade, a porta de nossas
Esperanças, a Mãe Sublime de todas as Mães, a
Advogada querida de todas as Nossas Causas! Louvado
seja o Nome de Maria Santíssima! E abençoado seja o
nome de quem, em Seu Nome, num Abraço, fez
maravilhas, a verdadeira Caridade Desconhecida!
Livro: Lindos Casos de Bezerra de Menezes – Autor:
Ramiro Gama



Materialismo e Espiritismo
  Conta-se que o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, orientava,
no Rio, uma reunião de estudos espíritas, com a palavra livre
para todos os circunstantes, quando, após comentários
diversos, perguntou se mais alguém desejava expressar-se
nos temas da noite.



  Foi então que renomado materialista, seu amigo pessoal,
lhe dirigiu veemente provocação:



  -Bezerra, continuo ateu e, não somente por meus colegas
mas também por mim, venho convidá-lo a debate público, a
fim de provarmos a inexpugnabilidade do Materialismo a você
que o Materialismo já levantou extensa lista de médiuns
fraudulentos; de chamados sensitivos que reconheceram os
seus próprios enganos e desertaram das fileiras espíritas; dos
que largaram em tempo o suposto desenvolvimento das
forças psíquicas e fizeram declarações, quando às mentiras
piedosas de que se viram envoltos ; dos ilusionistas que
operam em nome de poderes imaginários da mente; e, com
essa relação, apresentaremos outro rol de nomes que o
Materialismo já reuniu, os nomes dos experimentadores que
demonstraram a inexistência da comunicação com os mortos;
dos sábios que não puderam verificar as factícias ocorrências
da mediunidade; dos observadores desencantados de
qualquer testemunho da sobrevivência; e dos estudiosos
ludibriados por vasta súcia de espertalhões... Esperamos que
você e os espíritas aceitem o repto.



  Bezerra concentrou-se em prece, alguns instantes, e, em
seguida, respondeu, aliando energia e brandura:



  -Aceitamos o desafio, mas tragam também ao debate
aqueles que o Materialismo tenha soerguido moralmente do
mundo; os malfeitores que ele tenha regenerado para a
dignidade humana; os infelizes aos quais haja devolvido o
ânimo de viver; os doentes da alma que tenha arrebatado às
fronteiras da loucura; as vítimas de tentações escabrosas que
haja restituído a paz do coração; as mulheres infortunadas
que terá arrancado ao desequilíbrio os irmãos desditosos de
quem a morte roubou os entes mais caros, a cujo sentimento
enregelado na dor terá estendido o calor das esperanças, as
viúvas e os órfãos, cujas energias terá escorado para não
desfalecerem de saudade, ante as cinzas do túmulo; os
caluniados aos quais terá ensinado o perdão das afrontas; os
que foram prejudicados por atos de selvageria social
mascarados de legalidade, a quem haverá proporcionado
sustentação para que olvidem os ultrajes recebidos; os
acusados injustamente, de cujo espírito rebelado terá
subtraído o fel da revolta, substituindo-o pelo bálsamo da
tolerância; os companheiros da Humanidade que vieram do
berço cegos ou mutilados, enfermos ou paralíticos, aos quais
terá tranqüilizado com princípios de justiça, para que aceitem
pacificamente o quinhão de lágrimas que o mundo lhes
reservou; os pais incompreendidos a quem deu força e
compreensão para abençoarem os filhos ingratos e os filhos
abandonados - por aqueles mesmos que lhes deram a
existência, aos quais auxiliou para continuarem honrando e
amando os pais insensíveis que os atiraram em desprezo e
desvalimento; os tristes que haja imunizado contra o suicídio;
os que foram perseguidos sem causa aparente, cujo pranto
terá enxugado nas longas noites de solidão e vigília,
afastando-os da vingança e da criminalidade; os caídos de
todas as procedências, a cujo martírio tenha ofertado apoio
para que se levantem...



  Neste ponto da resposta, o velho lidador fêz uma pausa,
limpou as lágrimas que lhe deslizavam no rosto e terminou:
Ah! Meu amigo, meu amigo!... Se vocês puderem trazer um só
dos desventurados do mundo, a quem o Materialismo terá
dado socorro moral para que se liberte do cipoal do
sofrimento, nós, os espíritas, aceitaremos o repto.

  Profundo silêncio caiu na pequena assembléia, e, porque o
autor da proposição baixasse a cabeça, Bezerra, em prece
comovente, agradeceu a Deus as bênçãos da fé e encerrou a
sessão.

  (Transcrito do livro Estante da       Vida   -   Irmão   X -
psicografado                                                por
Francisco Cândido Xavier, Edição FEB)
Cem Anos de Abnegação e
Renúncia
Vida e Obra de Bezerra de Menezes




  Contam-se as tradições do mundo espiritual
que, na madrugada do dia 1º de janeiro do ano
1800, ao se apagarem as luzes do século XVIII,
foi reunida na psicosfera próxima da Terra uma
imensa assembléia, para traçar os destinos da
humanidade.


   Aquela reunião havia sido programada desde há mais de
trezentos anos e deveria definir os roteiros dos séculos XIX e
XX, inaugurando uma era nova para a humanidade.



   Os narradores desse evento asseveram que, naquele
momento especial, faziam-se presentes delegações de
espíritos que habitavam as mais diferentes nações da Terra.
Desde as entidades venerandas que precederam a história
dos tempos contemporâneos, como Krisna, Confúcio, Hermes
até aqueles que vieram da área Ocidental, preparando o
campo     do   pensamento    filosófico:  Sócrates,  Platão,
Aristóteles, e outras personalidades que se encarregaram de
examinar a realidade da matéria, como Lucrécio e Demócrito;
e a seguir, entidades que precederam o momento grandioso
da chegada de Jesus: Salústio, Mecenas, Otávio, Ovídio; e a
posteriori, aqueles que participaram da revolução do
pensamento cristão, entre os séculos segundo e quarto:
Agostinho, Tertuliano, Orígenes, Próclos, que constituíram a
ideologia do Cristianismo à luz do platonismo; e a seguir,
entidades venerandas que espocaram as luzes da fé em plena
noite medieval; até o momento em que se alargam os
horizontes do planeta com as conquistas náuticas, com as
conquistas da cultura, com as conquistas da arte:
Michelângelo, Cabral, Colombo, Henrique de Sagres; e aqueles
que estabeleceram as bases de uma revolução ideológica
através da renascença, da poesia, da música, como Dante e
outros; até os grandes pensadores do século XVIII: Voltaire,
Diderot, Montesquie, todos eles ali estavam representando a
cultura, a beleza, a arte, a sabedoria.

   Quando a noite esplendorosa, coruscante de estrelas
parecem sentir, entidades respeitosas descem na direção da
assembléia acompanhada por um coral de vozes que exaltam
a Era Nova.

  Está à frente a personalidade de Júlio Cesar, o
conquistador da África, aquele que reduziu o mundo a um
departamento do império romano.

   O semblante de César, no entanto, esta alterado. Ele agora
traz a mente velada por um certo torpor. Ostenta a coroa de
mirtos sobre a cabeça e o manto de púrpura, que foi usado
por Carlos Magno, quando recebeu das mãos do papa a coroa
de governador da Europa.

  Logo depois dele, a figura luminífera de Yoshani Russ, o
semblante iluminado pelas perspectivas de uma grande
conquista.
Descem ao cenáculo abençoado e, diante de um silêncio
espectral, ouve-se uma voz que vem de uma região ignota e
que diz, suave e grandiosamente:

   - César, deleguei-te a tarefa de preparar a Terra para a
tarefa do critianismo. Convidei-te a abrir os horizontes de
Roma para minha chegada. Estabeleci diretrizes dos grandes
conquistadores, para que um só idioma se espalhasse pelo
mundo. Desde a hora de Alexandre Magno, quando preparou o
Mediterrâneo, através da língua grega, e tu preparaste os
horizontes da Terra através do latim, mas malograste
dolorosamente, mergulhaste no prazer sanguissedento da
destruição, e o punhal de Brutus arrebatou-te o corpo em um
momento em que te dirigias ao Senado para rogares mais
prepotência e mais poder.        Hoje eu te coloquei na
indumentária de Napoleão Bonaparte para que reúnas os
estados Europeus sob o estandarte da paz, a fim de que o
meu mensageiro leve à Terra a mensagem que eu tenho
embutida nos corações dos homens e que os sentimentos vis
entorpeceram, erigindo as manifestações da teocracia, do
absolutismo, do abuso. Sei que o mergulho na carne envolve
a mente em sombras, mas a ti competi a tarefa de preparar a
Terra para ele; o enviado do paracleto, o missionário da
terceira revelação.

  Nesse momento, João Russ, que fora queimado no século
XVI, acerca-se de César, na personalidade de Napoleão
Bonaparte, e curva-se reverente, e a voz transcendental
continua a dizer:

   - Ele levará o símbolo da fraternidade. Abrirá os caminhos
por onde percorrerão as naves da ciência, e nos seus passos
estarão as artes e as literaturas. Mas ele será o embaixador
da religião do amor que tem por base a caridade. E se fará
igualitar por outros mensageiros de minha confiança para
preparar na Terra o advento do reino dos céus.

  João Russ levanta-se e, dominado pelas lágrimas,
contempla o infinito, de onde vem a vóz que ressoa naquele
cenáculo abençoado.

  As observações penetram nas acústicas das almas e, a
pouco e pouco, acercam-se de Napoleão e do Grande João
Russ, seres angelicais que terão a tarefa de preparar o
advento da Era Nova no planeta terrestre.

   À medida que eles sobem ao imenso palanque das
exortações, a multidão se levanta, e pétalas chovem,
inimaginária de uma região ignota sobre a assembléia
transcendental.

   No dia 3 de outubro de l804, dois meses depois que
Napoleão Bonaparte se consagrou imperador dos franceses,
em Notredame, nasce na Terra Hippolyte León Denizard
Rivail, que a humanidade passará a conhecer a partir de 1857,
sob o pseudônimo de Allan Kardec, que era João Russ
reencarnado, para trazer a Doutrina Espírita às almas,
inaugurando verdadeiramente um momento grandioso do
cristianismo nos corações.

   Mas antes que este evento se tornasse realidade, no dia 29
de agosto de 1831, em um lugarejo perdido nas terras áridas
do Ceará, chamado Riacho de Sangue, reencarna-se um
venerando cristão do século II, que, por amor a Jesus,
erguera nas Gáleas um lar para crianças órfãs a fim de atrair
a figura cruel do seu filho Taciano, que necessitava de ter
dulcificado o coração. E ali, então, numa personagem
amorosa, ele prepara o advento de salvação para o filho e de
doação absoluta à causa de Jesus. Reencarna-se, 1600 anos
depois, na pessoa de Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcante,
que deve ser uma das estrelas a perpetuar a mensagem de
Allan Kardec na Terra e a fazer que o amor seja realmente a
base de todas as afirmações dessa revelação grandiosa que
vem confirmar a lei antiga e vem tornar caridosa a mensagem
amorosa de Jesus.

   Dali de Riacho de Sangue, de uma família modesta, ele
demanda Fortaleza, a capital da sua província para fazer os
cursos elementares e ginasial. Mas trazia na alma a fatalidade
da conquista dos continentes desconhecidos da alma, e vem
agora à capital do Império, à cidade do Rio de Janeiro, onde
pretende desenvolver as aptidões do sacerdócio de curar.
Jovem pobre, sonhador e pulcro, chega à corte sem os
recursos adequados para poder enfrentar as dificuldades de
uma região hostil. Aqueles alienígenas que aportam
diariamente na grande metrópole. E através de sacrifícios
ingentes, de renúncias incomuns, de lágrima acerbas, o jovem
Adolfo Bezerra de Menezes vai colocando marcos de
conquistas, passo a passo, da sua escalada gloriosa no rumo
da plenitude.

   Momentos chegam em que as dificuldades se lhe fazem tão
acerbas e dolorosas, que o lume é escasso e o pão alimentar
é quase impossível de conquistá-lo. Narra ele, e um de seus
melhores biógrafos retrata, que certa feita as dificuldades
eram tão graves e a importância a aplicar no seu curso de
medicina era tão elevada, que ele estava a ponto de desistir,
quando lhe apareceu, mandado pela providência, um jovem
que se candidatava a receber aulas particulares de
matemática em que ele era um exímio concepcionista, nesta
doutrina de abstrações. Ele tinha a certeza que fora a
divindade que encaminhara o jovem e negociou naturalmente
as aulas que ia ministrar, tendo a agradável surpresa de dar-
se conta que o jovem estava preparado para pagá-las por
antecipação, e, ao fazê-lo, a importância que lhe colocava em
mãos viria a preencher exatamente a lacuna da necessidade,
que o teria impedido de levar adiante a sua carreira, que o
celebrizaria como médico dos pobres. Posteriormente o jovem
nunca mais voltou, e durante toda sua vida isso lhe constituiu
um ponto de interrogação, fazendo crer que aquele dinheiro
lhe não pertencia, o que o levou a distribui-lo muitas vezes
com os necessitados, como sendo a maneira de devolvê-lo as
mãos anônimas e quiçás espirituais que lhe vieram bater à
porta no momento da ajuda. Adolfo Bezerra de Menezes
celebrizou-se na faculdade de medicina pela inteligência
lúcida, pelo raciocínio hábil, mas pela bondade dos
sentimentos e do coração.

   Consorciou-se com uma dona gentil com quem viria a
tornar-se pai repetidas vezes.

   E para levar adiante os ideais que incutiu na sua alma,
adotou a postura política, representando vários bairros do Rio
de janeiro na constituição então vigente; mas sentia que sua
alma não estava preparada para as circunstâncias amargas do
relacionamento político, para as paixões partidárias, para o
jogo arbitrário dos interesses humanos.

   Exatamente nessa hora, a partir de 1870, quando se dá a
combustão intelectual da Europa, chegam ao Brasil as idéias
eloqüentes dos grandes materialistas: o pensamento de
Augusto Conte, as idéias de Hegel, as propostas do lirismo, e
ele, intelectual, não se podia curvar diante das exigências da
doutrina dominante, torna-se livre pensador amando a Deus,
mas não se vinculando a nenhuma das doutrinas então em
vigência. Espírito aberto, ele tem a oportunidade de ser
levado à casa de um jovem médium, que, através da
homeopatia, que havia sido lançada algo recentemente por
uma personalidade extraordinária que estivera presente na
noite memorável, naquele 1º de janeiro de 1800. Ele percebe
que em estado de transe o sensitivo pode realizar o
diagnóstico da problemática orgânica e fazer a anamnese do
paciente e receitar com absoluta precisão. Ele mesmo
submete-se à experiência e os resultados são fascinantes.

   Alguém lhe houvera dado oportunamente O Livro dos
Espíritos, e certo dia, enquanto viajava no bonde atrelado à
burros, dirigindo-se do Centro da cidade ao Bairro da Tijuca,
ele abriu eventualmente a obra e começou a lê-la; qual não foi
sua surpresa, aquela obra lhe não trazia nenhuma novidade.
Ele conhecia aquele conteúdo, era como se diria na linguagem
popular espírita sem o saber. Aderiu à certeza da imortalidade
da alma, da comunicabilidade do espírito, da reencarnação,
da pluralidade dos mundos habitados, e Jesus fascina-lhe a
alma, arrebatando-lhe os sentimentos mais nobres, que ele
soube entesourar na arca generosa do coração amigo. A partir
daquele momento, o Doutor Adolfo Bezerra de Menezes
apaixona-se pela revelação Kardequiana.

   O movimento espírita     das    terras   brasileiras   estava
gravemente tumultuado.

   Ele era um homem de ciência, mas era também um homem
de amor.

   Jesus estóico fascina-lhe a alma, qual ocorreria mais tarde
a Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, a Pasteur e a outros.
Jesus redulcifica a alma e ele adere ao grupo das místicas.

  As criaturas se comprazem em lutar em impor o seu ego de
forma apaixonada, esquecendo que aquele que pretende
convencer aos outros, psicologicamente diz a psicanálise, é
um inseguro. Quem tem segurança não pretende mudar a
ninguém. Dá a liberdade de cada um ser o que deseja, mas a
si exige-se, ser a cada hora melhor do que o era minutos
atrás. Bezerra tem essa certeza e procura ser o conciliador. É
convidado a dirigir a Federação Espírita Brasileira,
recentemente criada na casa de Elias da Silva, por um grupo
de estóicos. As dificuldades reinantes são várias e ele dá o
melhor da sua alma de esteta.

   A comunicação com Ismael comove-o, através de Frederico
Junior, que foi a época o melhor médium do Brasil.
(psicofônico, psicográfico, sonambúlico, de efeitos físicos,
portador de uma clarividência excepcional) Esse homem
amigo é o instrumento das vozes que luarizam a alma de
Bezerra de Menezes.

   Ele resolve tirar o Espiritismo das paredes sombrias das
Casas Espíritas, e vai escrever no jornal "O País", da cidade
do Rio de Janeiro sob o pseudônimo de "Max"

  A verdade é que ele libera-se do encargo da Federação
Espírita Brasileira, mas as lutas humanas fazem-se intestinas:
as divisões, as agressões, e Bezerra tornou-se o alvo do
campo de batalha de ambas as partes litigantes.

   Porém, em um momento de grande dificuldade, Ismael diz:
- Batam às portas de Bezerra de Menezes e tragam ele de
volta às atividades da F.E.B. Uma comissão é destacada, e vai
à Bezerra de Menezes e pede-lhe para que volte ao trabalho
de Ismael, e ele teria respondido:

  - Sou um homem pacífico. Os meus sentimentos são de
amor. Mas para dirigir a Casa de Ismael eu somente aceitarei
se me concederem poderes discricionários, se minha palavra
não for contestada, no momento da primeira contestação, eu
oferecerei o meu cargo e os encargos ao meu contestador.
Porque não estou aqui para exercer posição de relevo, mas
para servir, e para servir não necessito de cargo já tenho os
encargos. E o farei, este serviço, em qualquer lugar. Assim
volta Bezerra de Menezes à F.E.B em 1895, como o
pacificador.

   Já era um homem venerando, apesar de uma idade
relativamente madura, mas ainda não envelhecido. A sua
postura, o seu amor, a sua abnegação e a sua caridade ímpar
àqueles favelados da época, dos morros da cidade do Rio de
Janeiro, a sua misericórdia, já o haviam elegido "O médico
dos Pobres".

   Quantas vezes a dor lhe bate à porta de maneira rude; a
esposa desencarna e ele fica à sós com uma prole a atender a
sustentar, a amar. Uma cunhada devotada que percebe-lhe a
dificuldade de administrar a casa e de ganhar o pão, na sua
profissão de médico que dava tudo e recebia quase nada, foi
residir com ele para ajudá-lo. Meses depois na sua figura
notável de homem de bem ele disse:

   - Não me parece justo que você, sendo uma jovem solteira
e bela, venha a ficar na residência de um viúvo. Já que você
pode ser a mãe espiritual de meus filhos, (seus sobrinhos) eu
a convido para ser minha esposa, e no dia que você me amar
poderemos passar a ter uma vida nupcial como recomendam
as leis de Deus, e o amor na Terra prescreve. Ela aceita a mão
do cunhado, ele consorcia-se pela segunda vez, torna-se pai,
as dificuldades cada vez mais dolorosas,e certo dia, para
culminá-las: atendia ele na modesta sala, onde receitava a
terapia   homeopática,   quando     contemplou   uma   mãe
angustiada, ela trazia nos braços um filho macérrimo,
trêmula, esfaimada, coloca o filho sobre a mesa de exames e
diz:

  - Está morrendo, Dr. Bezerra! Salve meu filho.

  Dr. Bezerra examina a criança e percebe que a doença é
uma seqüela da fome. Receita imediatamente e diz:

  - Desça à farmácia, adquira o produto de imediato e se
você seguir a prescrição, seu filho se salvará.

  - Então, Doutor, ele vai morrer, porque o nosso problema é
comida. Eu irei mendigar com a receita na mão.

   Bezerra examina os bolsos, a última moeda ele havia dado
ao cliente anterior. Põe as mãos na cabeça e as lágrimas
correm-lhe pelos olhos azuis transparentes. A mão esquerda
está espalmada sobre a mesa, e naquele momento de grande
angústia e expectativa, ele vê a mão, e nota o anel de
formatura. Ele era agora tomado de alegria, arranca o anel e
diz-lhe:

  -Não seja por isso, minha filha, vá à farmácia, entregue o
anel ao farmacêutico, compre os remédios e peça-lhe que lhe
devolva aquilo que exceder ao preço do medicamento e
compre alimentos para seu filhinho e para você.

  Ela sai cantando hosanas.

   Ele toma do chapéu, desce as escadarias do consultório do
primeiro andar e, quando vai pegar o bonde, ele dá-se conta
que não tem a moeda mais miserável e mínima para pegar a
condução, e para não criar problema no transporte urbano,
ele sai da rua sete e vai a pé até a Tijuca, chegando lá
avançadas horas da noite exausto, esfaimado, com os filhos e
a esposa também padecendo necessidades.

   Isso bastaria para definir a grandeza de um homem que
deveria estar nos anais do prêmio Nobel da Paz, como aquele
que doou tanto que, já não tendo o que doar, doou-se a si
mesmo.

   Mas no fim do ano de 1899, uma enfermidade pertinaz
prostra o grande médico. Ele afasta-se da direção da F.E.B.

   No dia 11 de abril de 1900, ele desencarna, deixando na
Terra um vazio, que ainda não pode ser preenchido de
maneira física, tal a grandeza deste ser espiritual que a Terra
recebe periodicamente no mundo para preparar nos corações
o entronizamento da figura ímpar de Jesus.

  Desencarna Bezerra, o Brasil chora, mas ele não se aparta
da alma brasileira; continua a atender este povo a quem ele
amou com tanto desvelo.

   No ano de 1950, naquele mesmo recinto a que nos
reportamos, há uma reunião especial. Aproximadamente
cinco mil espíritos, entre encarnados, e desencarnados estão
convidados a participar de uma homenagem especial a um
apóstolo de Jesus que trabalha nas sombras da Terra.

   A reunião é grandiosa. Aquele público imenso que repleta o
anfiteatro, que tem a forma greco-romana do passado, está
ansioso, quando um coral de duzentas vozes infantis começa
a entoar o "Aleluia" de Hendel.

  E adentra-se, acompanhado de um sectro de entidades
venerandas, Dr.Bezerra de Menezes, em espírito.
A figura ímpar de Dr. Bezerra, acolitado por aqueles seres
espirituais iluminados, destaca-se em uma indumentária
modesta, que faz recordar o linho Belga usado na Terra. A
indumentária de tonalidade pérola, a mão direita apoiada à
gola do paletó, a cabeça que se move negativamente como a
dizer: - Mas eu não mereço.

  O grupo adentra-se e vem à mesa central.

  Dr. Bezerra senta-se ao lado do diretor dos trabalhos.

  Começa a reunião que homenageia Bezerra pelos 50 anos
de atividades nas terras brasileiras como colaborador de
Ismael, representante da bondade de Jesus.

   Léon Denis, o apóstolo do espiritismo Francês, o grande
colaborador e desdobrador da obra de Allan Kardec, é
convidado a saudá-lo em nome dos Espíritos Espíritas
Internacionais. E o verbo eloqüente do extraordinário
autodidata poeta ressoa na multidão como bátegas de luz
caindo suavemente numa sinfonia. As palavras de Leon Denis
traz a gratidão dos Espíritas do mundo ao apóstolo do
Cruzeiro do Sul.

  Bezerra chora, dominado de uma grande emoção.

   Terminada a exortação de Denis, é convidado Manoel
Vianna de Carvalho para falar em nome da comunidade
espírita brasileira. Vianna de Carvalho agiganta-se na tribuna
e fala em nome da gratidão da pátria brasileira a este ser que
tanto estava fazendo pelo pensamento no país.

  Logo depois que Vianna de Carvalho encerra, abre-se
aquele horizonte infinito do espaço e um jato de luz tomba
sobre a multidão.
Aparece o ser espiritual superior jovem, Celina, a
mensageira de Maria, a mãe de Jesus, que abre um livro
imenso de luzes e lê para todos, emocionados:

   - Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, a mãe de Jesus manda
convidar-te para que saias das sombras do planeta terrestre.
Ela te oferece no Sistema Solar qualquer um dos astros onde
queiras reencarnar. Ela concedeu do Filho a permissão para
franquear-te noutra esfera, se necessário fora do Sistema
Solar, a oportunidade de crescer de maneira com a
misericórdia de Deus, nos rumos do insondável na busca da
perfeição.

  - Tenho eu a tarefa de apresentar-te a proposta da
Senhora, e levar- Lhe o resultado, depois de ouvir-te.

   Bezerra de Menezes levanta-se, a multidão está impactada,
ele abaixa a cabeça e, com a voz embargada ao erguer a
fronte diz:

   - Celina, minha filha, eu não mereço nada disso! Se eu
merecesse alguma coisa, se alguma coisa me fosse lícito
pedir; se houvesse em mim qualquer atributo que justificasse
uma solicitação, eu te pediria levares à Senhora o meu
requerimento     pedindo    misericórdia    para   as   minhas
imperfeições; e se me fosse lícito pedir algo mais, eu pediria à
Maria, a Santíssima, que me facultasse a honra de continuar
nas sombras do país verde e amarelo do Cruzeiro do Sul,
atendendo aos infelizes, e que, ela não me permitir a graça
nunca de sorrir enquanto na terra brasileira alguém estiver
chorando; que eu não tenha o direito de ser feliz enquanto os
meus irmão do Brasil estejam angustiados. Então intercede
tu, minha filha, junto à nossa Mãe para que ela me permita a
caridade de permanecer nas terras do cruzeiro até o momento
em que o país saia das sombras.

  Celina retorna, as vozes infantis erguem-se, as músicas
sucedem-se e, de repente, no céu coruscante de estrelas,
uma mão empunhando uma pluma antiga escreve:

   - Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, o teu requerimento
dirigido à Senhora foi deferido. Ficarás nas terras verde-
amarelas do Brasil, nas sombras do planeta, atendendo a dor
até o ano 2000, quando terás brindado cem anos de
abnegação, de renúncia, de doação total.

  A reunião foi encerrada, e Bezerra de Menezes voltou às
sombras do país tropical para erguer as almas combalidas,
para encaminhá-las à Jesus. Para ensinar que somente o
amor dirime quaisquer problemas e dificuldades....

   Este é o espírito amoroso que reencarnou em Riacho de
Sangue no Ceará, que agora é amado e conhecido
mundialmente, e quando ele se comunica, através daqueles
que sintonizam na sua faixa de evolução, as lágrimas aljofram
nos olhos dos que o ouvem porque a psicosfera ambiental se
transforma.

   ...Adolfo Bezerra de Menezes, 168 anos depois que
mergulhou nas terras sofredoras do Brasil, em nome daquela
reunião programada por Jesus a 1º de janeiro de 1800,
continua sendo o apóstolo da brasilidade, o anjo bom das
nossas vidas, ensinando-nos a fazer com o nosso próximo
conforme lhe pedimos que faça conosco. Sugerindo-nos amar
àqueles que nos não amam, quanto ele tem amado àqueles
que o fizeram chorar.

  Ele tem sido a luz que brilha na grande noite, apontando o
rumo na direção de Jesus através de Allan Kardec.
E hoje quando a Terra está abatida pelo vendaval e os
furacões da discórdia, da inimizade.

   Quando a violência estruge a chibata do desequilíbrio,
destruindo corpos e arrebatando as vidas físicas, urge que
peçamos a Bezerra de Menezes para que interceda junto à
Maria, a fim de que ela peça a Jesus piedade para a Terra;
piedade para os homens e as mulheres do mundo; para que
Ele, o Mestre de Nazaré, diga ao Pai:

  - Perdoa-lhes meu Pai, pois ele não sabem o que fazem.

   Nesta hora de tantos problemas, sejamos nós aqueles que
juntamos, não aqueles que espalham. Sejamos pessoas
pontes que ligam abismos e não pessoas paredes que
dificultam o passo. Sejamos aqueles que se doam e não
aqueles que tomam.

   Amemos as pessoas e usemos as coisas, para não amarmos
as coisas e usarmos as pessoas.

  Consideremos as criaturas, sem as ter na condição de
descartáveis para não produzirmos danos nas almas, lesões
nas almas.

   Divulguemos o Espiritismo ao mundo. Ensinemo-lo
corretamente. Quem o aplique indevidamente é problema de
sua consciência.

   Que tenhamos a consciência de fazer melhor, de realizar o
mais corretamente o conteúdo, mas que haja por base a
recomendação do espírito de verdade:

  - Espíritas, amai, este é o primeiro mandamento; e instruí-
vos para que a Terra de amanhã seja em verdade a Jerusalém
libertada.

   Para que possamos tomando as mãos dizer:

   -Senhor, nós queremos bendizer-Te o nome, agradecer-Te
a alegria e a honra de amar-Te!

   - Senhor, esperamos que chegue o dia em que o sol da
nova era esteja esplendoroso, e as rosas estejam fitando os
lares, voltadas para dentro de casa. E a natureza, enriquecida
de festa, seja um poema de ternura. E a dor, a tristeza, a
amargura, saiam dos anais da humanidade em nome da Tua
lição de liberdade.

   - Senhor, neste momento, pois, vem ter conosco e permite
que o teu apóstolo Bezerra, tomando das nossas mãos, possa
dizer:

  - Venha comigo, Jesus está chamando, e nos Teus braços,
amigo, possamos repousar.

   Muita paz!




PARECER DE BEZERRA DE MENEZES
     A transcendência do trabalho foge ao vosso alcance, pois, às vezes,
não desejais vislumbrar mais longe, ou vos acomodais na condição de
simples espectadores dos fatos.
     Atraídos para tal realização da seara espiritualista, estão ao vosso lado
centenas de núcleos espirituais, orientados diretamente por Ismael,
preposto de Jesus no Brasil.
      É imprescindível, pois, que em cada um de vós haja a dedicação
devida, para que possamos desenvolver paulatinamente este serviço,
dando-lhe uma maior amplitude, que trará, por certo, conseqüências
benéficas para vós e principalmente para o campo espiritual, onde as
vibrações serão aproveitadas ao máximo.
      Este trabalho de vibrações realiza-se no espaço, da seguinte forma:
      Os necessitados são divididos em quatro grupos distintos, a saber:
      Primeiro Grupo – doentes que sofrem de enfermidades graves:
      Segundo Grupo – doentes cujos estados não apresentam gravidade,
mas requerer alívio imediato;
      Terceiro Grupo – doentes afligidos por males psíquicos;
      Quarto Grupo – lares que demandam pacificação e ajustamentos.
      Para esses grupos são destacados quatro companheiros que exercem
função de orientadores e que têm a seu cargo, conforme as exigências do
momento, dois, três ou quatro mil colaboradores.
       Cada um desses orientadores recebe a lista dos irmãos a serem
beneficiados    e   respectivos   endereços,    os   quais   são    atendidos
individualmente. Temos, então, como vemos, um amigo espiritual para cada
necessitado.
      Às dezoito horas, esses milhares de servidores espirituais já estão a
postos neste recinto, impregnando a própria atmosfera de elementos sutis e
bênçãos curadoras.
      Após as dezenove horas, inicia-se o ingresso dos irmãos encarnados e
à porta de entrada é destacada para cada um deles, um entidade espiritual
que o acompanha até o seu lugar.
      Ao se ouvir a prece cantada é que consideramos o trabalho iniciado e,
no momento em que vossas almas se elevam junto à melodia, caem sobre
vós, em abundância, elementos curadores e confortadores que o irmão
encarnado retém em maior ou menor quantidade, conforme a sua
receptividade.
       Iniciam-se, então, as vibrações que possuem, como já sabeis, cor,
perfume e densidade e que são recolhidas em receptáculos distribuídos pelo
salão.
       O amigo espiritual que vos acompanha, estabelece convosco uma
corrente, mantendo-a em contato mútuo e constante até os receptáculos,
que vão se enchendo e se iluminando rapidamente, ou não, consoante a
capacidade vibratória de cada um.
      Em seguida, entram em ação os trabalhadores dos quatro grupos já
citados; exercendo o seu mister de conformidade com a necessidade,
retiram do receptáculo a quantidade de elemento que precisam para suas
tarefas, segundo o grupo a que pertencem.
      A seguir, afastam-se para o cumprimento de suas obrigações.
       Entram, após, grandes grupos, formados de seiscentos a oitocentos
amigos espirituais, para as vibrações, durante as quais vibram também
convosco os irmãos desencarnados que vos acompanham desde o início.
      O que vemos, então é um espetáculo grandioso: todo o ambiente se
reveste de intensa luz e, ao vibrarem, os vossos pequeninos corações fazem
o papel de um refletor e, então, iluminando e riscando o espaço, vemos
luzes das mais variadas tonalidades e intensidades e esses grupos de
irmãos, com os braços estendidos para vós, recebem o presente carinhoso
do vosso coração par ser levado aos mais distantes setores da Terra,
enquanto que ao serem enumeradas as Fraternidades, já então de regresso
de suas tarefas, perfilam-se os espíritos à vossa frente, envolvendo-vos na
carícia do Amor Fraternal.
       Por fim, quando o espírito destacado para a exortação evangélica
encerra o trabalho, de esferas mais altas jorram sobre vós as bênçãos do
Amor do Pai e ao vos retirardes, apesar de muito terem dado os vossos
organismos físicos, retornais ao lar saturados de elementos revitalizadores
em muito maior quantidade do que aquela despendida por vós.
BEZERRA DE MENEZES, 1950. Fonte revista "A Centelha" Fevereiro 1945




Nada pode deter a marcha
Mensagem do Dr. Bezerra de Menezes aos membros do
Conselho Federativo Nacional exortando-os a avançar
unidos, pois ‘‘o ideal de unificação vem do mundo
espiritual para a Terra Lutas


Meus Filhos


Permaneça conosco a paz do Senhor!
Recrudescem as lutas. Os anunciados tempos de
transição chegam e fragorosas batalhas são travadas.


É indispensável a aferição de valores que devem
caracterizar os combatentes. Dificuldades e desafios
apresentam-se no planeta em todas as áreas do
conhecimento e do comportamento.


As estruturas mal construídas do passado esboroam-se
ante o fragor das demolições incessantes. A árvore que
não foi plantada pelo Bem é derrubada, e as casas
edificadas   sobre   as    areias   movediças    ruem
desastrosamente.


Mas a obra do bem permanece suportando             os
vendavais, enfrentando todos os desafios.


Não nos preocupemos com esses momentos que nos
chegam,     estabelecendo   entre   as   criaturas   o
desequilíbrio e estimulando à debandada. Os discípulos
da verdade devem permanecer fiéis aos postulados
que abraçam, vivenciando-os.
Não seja, pois, de estranhar, que a incompreensão sitie
os nossos passos e obstáculos imprevistos apareçam
pela senda que percorremos. Devemos contar com a
consciência ilibada e nunca aguardar o aplauso da
insensatez.


Nosso modelo é Jesus, para Quem não houve lugar no
mundo.


O Codificador igualmente seguiu-Lhe as pegadas e
soube arrostar as consequências do messianato a que
se entregou, incorruptível e tranquilo.


Lamentamos que as maiores dificuldades sejam
intestinas em nosso Movimento, mas compreendemos
que as criaturas se demoram em diferentes patamares
de consciências, possuindo a ótica própria para
observação dos fatos e interpretação da mensagem. Já
que não nos é lícito impor a proposta espírita
libertadora, não nos preocupemos com as imposições
que nos chegam.


Todos estamos informados dos fins dos tempos e o
egrégio Codificador da Doutrina asseverou-nos que o
mundo de provas e de expiações cederia lugar ao
mundo de regeneração.


Através dos tempos se tem informado que essa
modificação se dará por meio de fenómenos sísmicos
dolorosos; através de lutas cruentas, em guerras
intermináveis; mediante os conflitos humanos. No
entanto, se observarmos a História, encontraremos
todos esses acontecimentos assinalando períodos de
transição.


A grande luta deste momento se travará no país da
consciência de cada discípulo de Jesus. As convulsões
serão de natureza interna. A batalha mais difícil será a
da superação das más inclinações, administrando-as e
direcionando-as para o Bem.


Por mais difíceis se nos apresentem as acusações, e
por mais terrível seja a morbidez direcionada para
impossibilitar-nos   o   avanço,  mantenhamos     a
serenidade.


Que receio nos podem proporcionar         aqueles   que
apenas falam contra nós?!
Atuando no bem e sabendo confiar no tempo,
levaremos a mensagem de libertação da Doutrina
Espírita às diferentes Nações da Terra, pulcra,
conforme no-la legaram os Espíritos por intermédio de
Allan Kardec e dos seus discípulos mais dedicados.


O movimento expande-se; nada pode deter a marcha
da Doutrina Espírita, nem mesmo aqueles que,
dizendo-se adeptos da palavra do Codificador, erguem-
se para zurzir-nos com as expressões destrutivas,
utilizando-se das armas da impiedade disfarçada de
dedicação à Causa.


O servidor da verdade permanece-lhe fiel, não
divulgando o mal, mas apresentando o bem; mesmo do
erro tirando a melhor parte, aquela que serve de lição
para não se voltar ao engano ou não se estabelecerem
novos compromissos negativos.


Confiai, filhos dedicados!


Vossos passos na Terra devem deixar sinais que
possam servir de roteiro para os que vierem depois.
O nosso compromisso é com Jesus, o Amor, e com
Allan Kardec, a razão, para que a religião cósmica da
verdade domine os corações humanos, restaurando no
planeta a era da legítima fraternidade.


O Espiritismo vem desempenhando o papel para o qual
foi codificado.


Não nos detenhamos na análise dos impedimentos, dos
erros, mas examinemos a extensão dos benefícios que
hoje conduzem milhões de vidas que se norteiam para
o Bem.


Não guardemos qualquer ressentimento, nem nos
deixemos entristecer ou entibiar, quando as forças
parecerem diminuídas.


Não nos permitamos desanimar, porquanto o nosso é
um trabalho pioneiro, a nossa é uma tarefa
caracterizada pelo estoicismo.


Nossa jornada deve estar assinalada pelo amor, e é
natural que ainda não haja lugar para ele entre muitos
Espíritos que se encontram em níveis de evolução
diferentes.


Avancemos unidos. O ideal de unificação vem do
mundo espiritual para a Terra.


Se não formos capazes de discutir as nossas
dificuldades  idealistas   em    clima  de  paz,  de
fraternidade, de respeito mútuo, de dignificação dos
indivíduos e das instituições, que mensagem podemos
oferecer ao mundo e às criaturas estúrdias deste
momento?!


Tem-se a medida do valor moral do homem pelas
resistências que vive nas lutas que trava.


Os ideais tomam-se grandiosos pelo que provocam nos
inimigos gratuitos do progresso.


A Doutrina Espírita, repitamos, é Jesus, meus filhos,
em nova linguagem perfeitamente compatível com os
arroubos da Ciência e os fatos demonstrados pela
experimentação de laboratório, assim com pelas
conquistas tecnológicas. Mas, a criatura humana, que é
o laboratório da própria evolução, no seu encontro com
Jesus através da fé racional, clara e nobre, é o campo
onde o bem se instalará em definitivo, como célula do
organismo social.


E dessa criatura transformada teremos a sociedade
melhor que o Espiritismo deve construir.


Fiquem, no passado, todos os problemas-desafios.


Fiquem, no silêncio das nossas palavras e no verbo das
nossas ações edificantes, os nossos propósitos de
servir, confiando que a casa construída na rocha
sobreviverá aos fatores externos que, aparentemente,
a ameaçam, e o ideal sobrepairará conduzindo todos
ao imenso fanal da plenitude.


Senhor de nossas vidas, prossegue conduzindo-nos!


Ovelhas tresmalhadas que somos do Teu rebanho,
apieda-Te da nossa tibieza de caráter, da nossa
fragilidade moral e conduze-nos com Tua paciência de
Pastor multimilenário, que nos guarda pelas trilhas da
evolução.


Despede-nos, Excelente Filho de Deus, enriquecidos de
paz e de entusiasmo, na certeza de que nunca nos
deixará a sós, mesmo quando, por qualquer
circunstância, nos resolvamos afastar de Ti; concede-
nos então uma outra oportunidade, permanecendo
conosco por todo o tempo.


Que assim seja!


Muita paz, meus filhos.


Que o Senhor permaneça conosco, são os votos do
servidor humílimo e fraternal de sempre.

Autor:          Bezerra            de           Menezes
Psicografia de Divaldo Franco



DECLARAÇÕES DO Dr. BEZERRA DE MENEZES, FEITAS
EM 15 DE OUTUBRO DE 1892 PUBLICADAS NA REVISTA
REFORMADOR
 Nasci e criei-me, até aos 18 anos, no seio de uma família
tradicionalmente católica, que levava a sua crença até à
aceitação de um absurdo, por mais repugnante que fosse,
imposto à fé passiva dos crentes, pela Igreja Romana.

 Aprendi aquela doutrina e acostumei-me às suas práticas,
mas empiricamente, serra procurar a razão da minha crença.

  Dois pontos, entretanto, me apareciam luminosos no meio
daquela névoa; eram: a existência da alma, responsável por
suas obras, e a de Deus, criador da alma e de tudo o que
existe.

  Ao demais, eu considerava sagrado tudo o que meus pais
me ensinavam a crer e a praticar; a religião católica,
apostólica, romana.

  Aos 19 anos, e naquela disposição de espírito, deixei a casa
paterna, para vir fazer meus estudos na capital do Império,
onde vivi, mesmo no tempo de estudante, sobre mim, sem ter
a quem prestar obediência.

  Continuei na crença e práticas religiosas que eu trouxe, do
berço, mas, na convivência com os moços, meus colegas, em
sua   maior   parte livres    pensadores,    ateus,  comecei
batendo-me com eles - e acabei concorde com eles,
parecendo-me excelso não ter a gente que prestar conta de
seus atos.

  Não foi difícil esta mudança, pela razão de não ser firmada
em fé raciocinada a minha crença católica; mas, apesar disto,
a mudança não foi radical, porque nunca pude banir de todo a
crença em Deus e na alma.

  Houve em mim uma perturbação, de que nasceu a dúvida.
Fiquei mais céptico do que cristão - e cristão somente por
aqueles dois pontos

  Em todo o caso deixei de ser católico - e via os meus dois
pontos luminosos por entre as nuvens.

  Casei-me com uma moça católica, a quem amava de
coração - e sempre respeitei suas crenças, guardando nos
seios de minha alma a descrença.

   No fim de quatro anos, fui subitamente batido pelo tufão da
maior adversidade que me podia sobrevir: minha mulher me
foi roubada pela morte, em 20 horas, deixando-me dois
filhinhos, um de 3 anos e outro de 1

  Aquele fato produziu-me um abalo físico e moral, de
prostrar-me.

  As glórias mundanas, que havia conquistado mais por ela
que por mim, tornaram-se-me aborrecidas, senão odiosas, e,
como delas, coisas da terra, eu não via nada, nada encontrei
que me fosse de lenitivo a tamanha dor.

  Sempre gostei de escrever, mas inutilmente tentava
fazê-lo, porque, no fim de poucas linhas, tédio mortal se
apoderava de mim.

  A leitura foi sempre a minha distração predileta, mas
dava-se a este respeito o mesmo que a respeito de escrever:
abria um, outro, outro livro sobre ciência, sobre literatura,
sobre o que quer que fosse, mas não tolerava a leitura de uma
página sequer.

  Um dia, meu companheiro de consultório trouxe da rua um
exemplar da Bíblia, tradução do padre Pereira de Figueiredo,
entressachado de estampas finíssimas.
Tomei o livro, não para ler, que já não tentava semelhante
exercício, mas para ver as estampas, com verdadeira
curiosidade infantil.

  Passei todas em revista, mas, no fim, senti desejo de ler
aquele livro que encerrava minhas perdidas crenças, e
também porque eia vergonha para um homem de letras dizer
que nunca o lera.

  Comecei, pois, e esqueci-me a ler o belo livro, até perder a
condução para minha casa; e, depois que cheguei à
residência, sentia prazer em pensar que voltaria a lé-lo!

  Eu mesmo fiquei surpreendido do que se passava em mim!

  Li toda a Bíblia e, quanto mais lia, mais vontade tinha de
continuar, fruindo doce consolação com aquela leitura.

  Quando acabei, eu sentia a necessidade de crer, não nessa
crença imposta à fé, mas numa crença firmada na razão e na
consciência.

  Onde lhe descobrir a fonte?

  Atirei-me à leitura dos livros sagrados, com ardor, com
sede; mas sempre uma falha ao que meu espírito reclamava.

  Começaram a aparecer as primeiras notas espíritas no Rio
de Janeiro; mas eu repelia semelhante doutrina, sem
conhecê-la nem de leve! Somente porque temia que ela
perturbasse a tal ou qual paz que me trouxera ao espírito a
minha volta à religião de meus maiores, embora com
restrições.

  Um colega (Dr. Joaquim Carlos Travassos), porém, tendo
traduzido O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, fez-me
presente de um exemplar, que aceitei, por cortesia.

  Deu-mo na cidade, e eu morava na Tijuca, a uma hora de
viagem de bonde.

  Embarquei com o livro, e, não tendo distração para a longa
e fastidiosa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir
para o inferno por ler isto; e, depois, é ridículo confessar-me
ignorante de uma filosofia, quando tenho estudado todas as
escolas filosóficas.

  Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como
acontecera com a Bíblia.

  Lia, mas não encontrava nada que fosse novo para o meu
espírito, e entretanto tudo aquilo era novo para mim!

  Dava-se em mim o que acontece muitas vezes a quem
muito lê, e que um dia encontra uma obra onde se lhe
deparam idéias, que já leu, mas que não sabe em que autor.

  Eu já tinha lido e ouvido tudo o que se acha em O Livro dos
Espíritos, mas eu tinha a certeza de nunca haver lido obra
alguma espírita, e, portanto, me era impossível descobrir
onde e quando me fora dado o conhecimento de semelhantes
idéias!

  Preocupei-me seriamente com este fato que me era
maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita
inconsciente, ou, como se diz vulgarmente, de nascença, e
que todas essa vacilações que meu espírito sentia eram
marchas e contramarchas que ele fazia, por descobrir o que
lhe era conhecido e, porventura, obrigado a isto.

  Eis o que fui e em que crença vivi, até que me tornei
espírita

   Apesar de convencido da verdade do Espiritismo, eu nunca
tinha assistido, nem tentado assistir a qualquer trabalho
experimental, confirmativo sequer da comunicação dos
Espíritos

  Tendo sido atacado de dispepsia, que me reduziu a um
estado desesperador, sem que me tivesse proporcionado o
menor alívio a medicina oficial, apesar de ter eu recorrido aos
mais notáveis médicos desta capital, resolvi, depois de um
sofrimento de cinco anos, recorrer a um médium receitista,
em quem muito se falava, o Sr. João Gonçalves do
Nascimento.

  Eu não acreditava nem deixava de acreditar na medicina
medianímica, e confesso que propendia mais para a crença
de que o tal médium era um especulador.

  Em desespero de causa, porém, eu recorreria a ele, mesmo
que soubesse ser um curandeiro.

  Tentava um recurso desesperado, e fazia uma experiência
sobre a mediunidade receitista

  Era preciso, porém, visto que se tratava de urna
experiência, que eu tomasse todas as cautelas, para que ela
me pudesse dar uma convicção fundada.

  Combinei com o Dr. Maia de Lacerda, completamente
desconhecido    de tal médium,      ser ele que fizesse
pessoalmente a consulta, recomendando-lhe que assistisse ao
trabalho do médium, enquanto este escrevesse, e pedisse-lhe
o papel, logo que acabasse de escrever; porque bem podia ter
ele um médico hábil, por detrás do reposteiro, que lhe
arranjasse aquelas peças.

  É verdade que um médico, não sabendo de quem se tratava,
visto que só dava ao médium o nome de batismo e a idade dos
consulentes, não podia adivinhar-lhe os sofrimentos, mas, em
todo o caso, eu queria ter a certeza de que era
exclusivamente do médium, homem completamente ignorante
de medicina.

  O Dr. Lacerda fez como lhe recomendei, e trouxe-me o que,
a meu respeito, escreveu o médium, que não podia
reconhecer-me por meu nome próprio, "Adolfo", não só
porque há muitas pessoas com este nome, como porque sou
conhecido geralmente por Bezerra de Menezes, e bem poucos
dos que não entretêm relações íntimas comigo sabem que me
chamo Adolfo.

  Tomei o papel, que dizia:

  "O teu órgão, meu amigo (era o Espírito que falava ao
médium), não é suficiente para satisfazer este consulente, em
vista das circunstâncias de sua elevada posição social (eu era
membro da Câmara dos Deputados) e principalmente de sua
proficiência médica.

  "Entretanto, como não dispomos de outro, faremos com ele
o mais que pudermos.

   "Vejo do organismo do consultante . . ."; seguia-se uma
descrição minuciosa de meus sofrimentos e suas causas
determinantes, tão exatos aqueles, quanto perfeitamente
fisiológicas estas.

  Não posso descrever o abalo que me produziu este fato
estupendo!
Segui o tratamento espírita, e o que os mestres da Ciência
não conseguiram em cinco anos, Nascimento obteve em três
meses.

  Em três meses, eu estava completamente curado; estava
forte, comia e dormia perfeitamente bem, era um homem
válido, em vez de um valetudinário.

  Logo após este fato, deu-se o de ser minha segunda mulher
condenada como tuberculosa em segundo para terceiro grau,
por importantes médicos, e disse Nascimento, a quem
consultei, com as precisas cautelas para ele não saber de
quem se tratava:

  "Enganam-se os médicos que diagnosticaram tuberculose
(quem lhe disse que os médicos haviam feito tal diagnóstico?)

  "Esta doente não tem tubérculo algum. Seu sofrimento é
puramente uterino, e, se for convenientemente tratada, será
curada.

  "Se os médicos soubessem a relação que existe entre o
útero, o coração e o pulmão esquerdo, não cometeriam erros
como este."

  Sujeitei a minha doente, já que tinha febres, suores e todos
os sinais da tisica em grau avançado, ao tratamento espírita,
e em poucos meses tudo aquilo desapareceu, e já são
decorridos dez anos, durante os quais ela tem tido e criado
quatro filhos, sem mais sentir nenhum incomodo nos
pulmões.

  Como resistir à evidência de fatos tais?

  Depois deles comecei as investigações experimentais sobre
os vários pontos da doutrina, e posso afirmar, daqui, que
tenho verificado, quanto é permitido ao homem alcançar em
certeza, a perfeita exatidão de todos os princípios
fundamentais do Espiritismo.

  Não cabe num trabalho desta ordem referir o resultado
experimental alcançado sobre cada um, e por isto me limito a
dizer:

  O espiritismo é para mim uma ciência, cujos postulados são
demonstrados tão perfeitamente como se demonstra o peso
de um corpo.

  Nada me impressionou mais do que ver um homem, sem
conhecimentos médicos até sem instrução regular, discorrer
sobre moléstias, com proficiência anatómica e fisiológica, sem
claudicar, como bem poucos médicos o podem fazer.

  Mais do que isto, porém, é, para impressionar, ver dizer um
indivíduo, que não se conhece, que não se examina, de quem
não se colhem sequer informações, e não se sabe senão a
idade -dizer, em tais condições, que sofre de tais moléstias,
com tais e tais complicações, por tais e tais causas, e
confirmar o diagnóstico pelo resultado eficaz do tratamento
aplicado naquele sentido.

 'Tive, porém, de minha experiência pessoal, outro fato que
muito me impressionou.

  Eu estava em tratamento com o médium receitista
Gonçalves Nascimento, e este costumava mandar-me os
vidros, logo que eu acabava uma prescrição, por um primo
meu, estudante de preparatórios, que morava em minha casa,
na Tijuca, a uma hora de viagem da cidade.
Meu primo costumava, sempre que me trazia os remédios
(homeopáticos) da casa do Nascimento, entregar-me os
vidros em mão, e nunca, durante três meses que já durava
meu tratamento, me trouxe do médium recado por escrito,
senão simplesmente os vidros de remédios, tendo no rótulo a
indicação do modo pelo qual devia ser tomado.

  Um dia, deixei de ir à Câmara dos Deputados, de que fazia
parte, e, pelas duas horas da tarde, passeava, na varanda,
lendo uma obra que me tinha chegado às mãos, quando me
apareceu um vizinho, Sr. Andrade Pinheiro, filho do
Presidente da Relação de Lisboa, e moço de inteligência bem
cultivada.

  O Sr. Pinheiro não conhecia o Espiritismo, senão de
conversa, e como eu fazia experiência em mim, ele
aproveitava a minha experiência, para fazer juízo sobre a
verdade ou falsidade da nova Doutrina.

  Depois dos primeiros cumprimentos, perguntou-me como ia
eu com o tratamento espírita.

  Respondi-lhe com estas palavras: "Estou bom; sinto apenas
uma dorzinha nos quadris e uma fraqueza nas coxas, como
quem está cansado de andar muito."

  Conversamos sobre o fato de minha cura em três meses,
quando nada alcancei com a medicina oficial, em cinco anos, e
passamos a outros assuntos, até que, uma hora pouco mais
ou menos depois, entrou meu primo com os vidros de
remédios e com um bilhete, escrito a lápis, que me mandava
Nascimento, e que dizia:

  "Não, meu amigo, não estás bom como pensas.
"Esta dor nos quadris, que acusas, esta fraqueza das coxas,
são a prova de que á moléstia não está de todo debelada.

  "'Es médico e sabes que muitas vezes elas parecem
combatidas, mas fazer erupções, porventura perigosas.

  "Tua vida é necessária; continua teu tratamento."

  É fácil compreender a surpresa, a admiração, o abalo
profundo que produziu na minha alma um fato tão fora de
tudo o que tinha visto em minha vida.

  Repetiram-se, da cidade, textualmente, as minhas palavras,
como só poderia fazer quem estivesse ao alcance de ouvi-Ias!

  Efetivamente, calculado o tempo que leva o bonde da casa
do Nascimento à minha, reconhecemos, eu e Pinheiro, que
aquela resposta me fora dada, na cidade, precisamente à hora
em que eu respondia, na Tijuca, à interpelação de meu
visitante.

  Pode haver fatos mais importantes no domínio do
Espiritismo; eu porém, não tive ainda nenhum que me
impressionasse como este, e, atendendo-se ao tempo em que
ele se deu (quando eu estava sujeitando à prova experimental
a nova doutrina), compreende-se que impressão poderia
causar-me.

  Creio que se eu fosse ainda um incrédulo, desses que
fecham os olhos para não ver, ainda assim não poderia
resistir à impressão que me causou semelhante fato.

  Saulo não teve, mais do eu teria, razão para fazer-se Paulo.

  Influência física, nenhuma senti; porém, moralmente sou
outro homem.
Minha alma encontrou finalmente onde pousar, tendo
deixado os espaços agitados pelo vendaval da descrença, da
dúvida, do cepticismo, que devasta, que esteriliza, que
calcina, se assim me posso exprimir, recordando as torturas
de quem sente a necessidade de crer, mas não encontra onde
assentar sua crença.

  E não encontrava onde assentar minha crença, porque o
ensino de Jesus - que uma força intrínseca e uma disposição
psíquica me levaram a procurar, como o nauta perdido na
vastidão dos mares procura o Norte - me era oferecido sob
um aspecto impossível de acomodar-se com um sentimento
íntimo, instrutivo, exato, que me desse a razão e a
consciência de ali estar a verdade; mas a verdade não é
aquilo.

  Ah! a Igreja Romana! a Igreja Romana!

 O Cristianismo nunca terá tão formidável           inimigo!   O
materialismo nunca terá aliado tão prestimoso!

  Eu já disse como, antes de aceitar o Espiritismo, vivi a fugir
de toda a crença religiosa, por não poder aceitar uma que
impõe à fé, por decreto de seus ministros, e a ser arrastado
para essa mesma crença, que não podia aceitar, como se mão
amiga me arrastasse para o cascalho, dentro do qual estava
incrustado o brilhante.

  Eu já disse como me abracei com o cascalho para não rolar
no abismo da descrença, e como aquela mão me impeliu para
ele, quebrou-o a meus olhos, e me fez patente o brilhante
nele contido.

  Minha alma encontrou finalmente onde pousar!
Posso dizer o meu "credo" espírita, com aplauso de minha
consciência, e não por

  força de uma autoridade que se arroga o direito de impor a
fé!                                     '"

  Nestas condições, tendo encontrado a linfa que me saciou a
sede de crer, posso ser mais o que era antes?

  A moral cristã, iluminada pelos inefáveis princípios do
Espiritismo, não pode deixar de modificar, para melhor, a
quem cultiva não somente por dever, mas também e
principalmente por nela ter encontrado a paz do espírito!

  Não sou, por minha fraqueza, o que ela deve fazer do
coração humano; não posso julgar, sem incorrer em orgulho
ou falsa modéstia; mas posso assegurar que já compreendo
os meus deveres para com Deus, para com os meus
semelhantes, de um modo diverso, acentuadamente mais
elevado, que antes de ser espírita.

  Julgo, pois, que me é lícito dizer que as novas opiniões
acarretaram para mim sensível modificação moral.

  E, para confirmá-lo, basta consignar este fato:

  Antes de ser espírita, só pensar em perder um filho,
fazia-me mentalmente blasfemar, punha-me louco.

  Depois de espírita, tenho perdido quatro filhos adorados, e
depois de criados, louvando e agradecendo ao Pai de amor ter
provado, por aquele modo, minha obediência a seus
sacrossantos decretos.

  ***
Esta declaração de princípios, cuja leitura é imprescindível
para o conhecimento da firmeza de caráter e amplitude da fé
nos desígnios superiores do DR. BEZERRA DE Menzes, que
tanta bondade e amor dispensa aos seus filhos amados , foi
tirado do livro "VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES",
escrito por Sylvio Brito Soares, editado, em sucessivas
edições, pela FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA, obra que
poderá ser encontrada nas boas livrarias e cuja leitura
recomendamos a todos àqueles que quiserem conhecer um
pouco mais da sua vida, composta de muitas lutas e muitas
glórias, principalmente no que tange ao Mundo Espiritual.

  Neste mês de abril, o movimento espírita brasileiro presta a
este importante vulto do Cristianismo Revivido, que nos
proporciona a verdade através da fé raciocinada, uma
homenagem singela e comovente. Erguem-se nossas preces,
ao alto, para agradecer a Deus, Pai Amantíssimo, permitir
permaneça Dr. Bezerra de Menezes, em espírito, no nosso
meio, amparando-nos e aliviando-nos em todas                as
necessidades, físicas ou espirituais, quando, mercê a sua
elevação, poderia ascender a planos mais elevados. '

  No dia 11 de abril de 1900, às onze horas e trinta minutos,
retomava o seu espírito à Pátria Eterna. O seu desenlace foi
acompanhado com muita tristeza, mas nenhum desespero,
por um grande número de seus "filhos amados". Cem anos -
1° Centenário.

  Fonte: LUZ DO EVANGELHO 176 - ABRIL DE 2000
ATITUDE DE AMOR

Um Novo Tempo para a Doutrina Espírita
Pois, se amardes os que vos amam, que galardão
havereis?
Não fazem os publicanos também o mesmo?

Jesus em Mateus. 5:46




A Conferência de Bezerra de Menezes
Na primeira noite após o memorável Congresso Espírita
Brasileiro (1), fomos convocados para ouvir a palavra
sóbria e cândida do paladino da unificação, Bezerra de
Menezes, em ativo núcleo de nosso plano destinado aos
empreendimentos voltados para o Consolador.

Ainda invadidos pelos sentimentos sublimes despertados
pelo inesquecível conclave ora encerrado na cidade de
Goiânia, trazíamos nossa mente imersa em profundas
meditações acerca do quanto a ser feito ante as
perspectivas descerradas.

No momento azado, dirigimo-nos para o salão onde se
daria o conclave. Chegamos minutos antes no intuito de
rever companheiros queridos que labutavam em plagas
distantes e que, a convite de Bezerra, mantiveram-se ali
após o congresso     exclusivamente   para   ouvir-lhe   a
palestra.

A lotação era para cinco mil participantes e não havia
lugares desocupados. Eram os trabalhadores do evento
ora realizado, militantes da Seara em outros continentes,
poetas, educadores, seareiros dos primeiros tempos,
personagens da história brasileira, enfim, grupo imenso;
todos comprometidos com os destinos do Espiritismo.
Representações de caravaneiros de todos os estados
brasileiros e dos países participantes do magno evento
também estavam presentes, além dos servidores
anônimos que se prestaram aos mais variados serviços de
amparo e defesa pelo bem da tarefa concluída no plano
físico.

Seria impossível relacionar todos, mas com intuitos que
atendem a nossas ponderações do momento destacamos
a presença de Robert Owen (o filho), César Lombroso,
Humberto Mariotti, Milton O'Relley, Anita Garibaldi,
Helena Antipoff, Edgard Armond, Torteroli, Jean Baptiste
Roustaing, Benedita Fernandes, Deolindo Amorim,
Herculano Pires, Carlos Imbassahy, Freitas Nobre,
Toulosse Lautrec, Tarsila do Amaral, Frederico Fígner,
Cassimiro de Abreu, Olavo Bilac, Castro Alves, Antônio
Wantuil de Freitas, Alziro Zarur, Rui Barbosa, Antônio
Luiz Sayão, Antônio Olímpio Telles de Menezes, Cairbar
Schutel.

Fomos chamados para o instante aguardado. Uma
pequena e singela mesa com um belíssimo ornamento de
flores embelezava o palco ao lado de potente aparelho
sonoro dirigido ao grande público presente. Tudo
guardando extrema simplicidade. Sem cerimônias e
delongas, após oração comovida por parte de nosso
condutor é passada a oportunidade ao imbatível “médico
dos pobres”(2):

Um Novo Tempo para o Movimento Espírita.

Irmãos, Jesus seja nossa inspiração e Kardec a luz de
nossos raciocínios.

O cinqüentenário do acordo de unificação, o Pacto Áureo,
ainda agora enaltecido pela comunidade espírita mundial,
é vitória de incomensurável quilate espiritual para a
glória do Espiritismo. Os esforços não foram em vão.

Passado o conclave nosso olhar se volta, mais que nunca,
para o futuro.

Sem demérito de qualquer espécie a corações que têm
feito o melhor que podem, os que aqui se encontram
presentes   conhecem    de   perto   a  extensão das
necessidades com as quais estamos lidando.

E ainda agora, enquanto muitos se encontram inebriados
com a nobre comemoração face às conquistas logradas
em meio século de serviço austero, atentemos para o
quanto nos falta caminhar, a fim de merecermos com
justiça o título de Cristãos da nova era.

Evolução Cronológica das Idéias Espíritas.

Desde as primeiras idéias para a formação das bases
organizativas do movimento, são passados quase cem
anos. O progresso é evidente.

Entretanto, não será demais e insano afirmar que, a
despeito das conquistas, encontramo-nos na infância de
Bezerra de Menezes - O Médico dos Pobres
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Bezerra de Menezes - O Médico dos Pobres

  • 3. Pesquisa, compilação e formatação: sejafeliz O Apostalado no Medicina O MÉDICO DOS POBRES Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito lhe bate à porta. Ou que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e se achar fatigado,Ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, por ficar longe ou no morro; o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro. Esse não é médico, é negociante de medicina. Que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos
  • 4. vais e vens da vida. Bezerra de Menezes 11 de abril de 1900. Desencarne do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes – O Médico dos Pobres Cognominado de o Allan Kardec Brasileiro REUNIÃO CÓSMICA Conta-nos o Espírito Humberto de Campos, Irmão X, através da psicografia de Chico Xavier: "Há mais de um século, brilhante assembléia de Espíritos se reuniu no Espaço, sob a direção do Anjo Ismael. Foi então exposta a missão futura do Brasil na divulgação do Evangelho, que seria iluminado por uma nova Revelação. Em dado instante, o Mensageiro do Senhor se aproxima de um de seus discípulos e fala-lhe mais ou menos assim: — Descerás às lutas terrestres, com o objetivo de concentrar as nossas energias no País do Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços. Arregimentarás todos os elementos dispersos, com as dedicações do teu
  • 5. Espírito, a fim de que possamos criar o nosso núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração. — E Ismael, ao finalizar, acrescentou: — Se a luta vai ser grande, considera que não será menor a compreensão do Senhor, que é o caminho, a verdade e a vida. — E o discípulo escolhido, imóvel e reverente diante de Ismael, não pôde articular palavra alguma: a emoção dominava-o inteiramente. Mas, as lágrimas que rolaram copiosamente de seus olhos diziam, com grande eloqüência, que ele tudo faria para bem cumprir a missão que lhe fora confiada." Bezerra de Menezes – O Médico dos Pobres. Nascido na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje Solonópole, no Ceará, aos 29 dias do mês de agosto de 1831, e desencarnado no Rio de Janeiro, a 11 de abril de 1900. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, no ano de 1838, entrou para a escola pública da Vila do Frade, onde em dez meses apenas, preparou- se suficientemente até onde dava o saber do mestre que lhe dirigia a primeira fase de educação. Bem cedo revelou sua fulgurante inteligência, pois, aos onze anos de idade, iniciava o curso de Humanidades e, aos treze
  • 6. anos, conhecia tão bem o latim que ministrava, a seus companheiros, aulas dessa matéria, substituindo o professor da classe em seus impedimentos. Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente- coronel da Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Menezes, homem severo, de honestidade a toda prova e de ilibado caráter, tinha bens de fortuna em fazendas de criação. Com a política, e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar abonos de favor a parentes e amigos, que o procuravam para explorar- lhe os sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna. Percebendo, porém, que seus débitos igualavam seus haveres, procurou os credores e lhes propôs entregar tudo o que possuía, o que era suficiente para integralizar a dívida. Os credores, todos seus amigos, recusaram a proposta, dizendo- lhe que pagasse como e quando quisesse. O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu demover os credores sobre essa resolução, por isso deliberou tornar- se mero administrador do que fora sua fortuna, não retirando dela senão o que fosse estritamente necessário para a manutenção da sua família, que assim passou da abastança às privações. Animado do firme propósito de orientar- se pelo caráter íntegro de seu pai, Bezerra de Menezes, com minguada quantia que seus parentes lhe deram, e animado do propósito de sobrepujar todos os óbices, partiu para o Rio de Janeiro a fim de seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: a Medicina. Em novembro de 1852, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Doutorou- se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a
  • 7. tese "Diagnóstico do Cancro". Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra de Menezes. A 27 de abril de 1857, candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina, com a memória "Algumas Considerações sobre o Cancro encarado pelo lado do Tratamento". O parecer foi lido pelo relator designado, Acadêmico José Pereira Rego, a 11 de maio de 1857, tendo a eleição se efetuado a 18 de maio do mesmo ano e a posse a 1.o. de junho. Em 1858 candidatou- se a uma vaga de lente substituto da Secção de Cirurgia da Faculdade de Medicina. Por intercessão do mestre Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, então Cirurgião- Mor do Exército, Bezerra de Menezes foi nomeado seu assistente, no posto de Cirurgião- Tenente. Eleito vereador municipal pelo Partido Liberal, em 1861, teve sua eleição impugnada pelo chefe conservador, Haddock Lobo, sob a alegação de ser médico militar. Objetivando servir o seu Partido, que necessitava dele a fim de obter maioria na Câmara, resolveu Bezerra de Menezes afastar- se do Exército. Em 1867 foi eleito Deputado Geral, tendo ainda figurado em lista tríplice para uma cadeira no Senado. Quando político, levantou- se contra ele, a exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias que cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma deu- se quando, abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, repartindo com os necessitados o pouco que possuía. Corria sempre ao tugúrio do pobre, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa minguada e generosa.
  • 8. Desviado interinamente da atividade política e dedicando- se a empreendimentos empresariais, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então província do Rio de Janeiro. Depois, empenhou- se na construção da via férrea de S. Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não concretizado, de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o "Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel, cujo topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em 1875, era presidente da Companhia Carril de S. Cristóvão. Retornando à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo o mandato até 1880. Foi ainda presidente da Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro, no ano de 1880. O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao deputado Bezerra de Menezes, entregando- o com dedicatória. O episódio foi descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: "Deu- mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... Depois, é ridículo confessar- me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi- me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no "O Livro dos Espíritos". Preocupei- me
  • 9. seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença". No dia 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de honra da Guarda Velha, na rua da Guarda Velha, atual Avenida 13 de Maio, no Rio de Janeiro, para ouvir em silêncio, emocionado, atônito, a palavra sábia do eminente político, do eminente médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr. Bezerra de Menezes, que proclamava a sua decidida conversão ao Espiritismo. Bezerra era um religioso no mais elevado sentido. Sua pena, por isso, desde o primeiro artigo assinado, em janeiro de 1887, foi posta a serviço do aspecto religioso do Espiritismo. Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico e religioso, quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão de Propaganda da União Espírita do Brasil, incumbiu- o de escrever, aos domingos, no "O Paiz" tradicional órgão da imprensa brasileira, a série de "Estudos Filosóficos", sob o título "O Espiritismo". O Senador Quintino Bocaiúva, diretor daquele jornal de grande penetração e circulação, "o mais lido do Brasil", tornou-se mesmo simpatizante da Doutrina Espírita. Os artigos de Max, pseudônimo de Bezerra de Menezes, marcaram a época de ouro da propaganda espírita no Brasil. De novembro de 1886 a dezembro de 1893, escreveu ininterruptamente, ardentemente. Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após a sua conversão do Espiritismo, constam os seguintes trabalhos: "A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para
  • 10. extingui-la sem dano para a Nação", "Breves considerações sobre as secas do Norte", "A Casa Assombrada", "A Loucura sob Novo Prisma", "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica", "Casamento e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro -- o Leproso", "História de um Sonho", "Evangelho do Futuro". Escreveu ainda várias biografias de homens célebres, como o Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalas, etc. Foi um dos redatores de "A Reforma", órgão liberal da Corte, e redator do jornal "Sentinela da Liberdade". Bezerra de Menezes tinha a função de médico no mais elevado conceito, por isso, dizia ele: "Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar- se fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro, o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro -- esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivens da vida." Em 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se tornasse mais indestrutível.
  • 11. Os Centros, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma autônoma. Cada um deles exercia a sua atividade em um determinado setor, sem conhecimento das atividades dos demais. Esse sentimento levou- os à fundação da Federação Espírita Brasileira. Nessa época já existiam muitas sociedades espíritas, porém, as únicas que mantinham a hegemonia de mando eram quatro: a "Acadêmica", a "Fraternidade", a "União Espírita do Brasil" e a "Federação Espírita Brasileira", entretanto, logo surgiram entre elas vivas discórdias. Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando prescrições das importantes "Instruções" recebidas do plano espiritual pelo médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso "Centro Espírita", o que, entretanto, não impediu que Bezerra desse a sua colaboração a todas as outras instituições. O entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro se viu desamparado dos seus companheiros, chegando a ser o único freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os chamados "místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico. Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada, ocasionou o fechamento de todas as sociedades espíritas ou não. No Natal do mesmo ano Bezerra encerrou a série de "Estudos Filosóficos" que vinha publicando no "O Paiz". Em 1894, o ambiente mostrou tendências para melhora e o nome de Bezerra de Menezes foi lembrado como o único capaz de unificar o movimento espírita. O infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência da
  • 12. Federação Espírita Brasileira, cargo que ocupou até a sua desencarnação. Iniciava- se o ano de 1900, e Bezerra de Menezes foi acometido de violento ataque de congestão cerebral, que o prostrou no leito, de onde não mais se levantaria. Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o que nada possuía. Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a família do grande apóstolo do Espiritismo. Todos conheciam suas dificuldades financeiras, mas ninguém teria a coragem de oferecer fosse o que fosse, de forma direta. Por isso, os visitantes depositavam suas espórtulas, delicadamente, debaixo do seu travesseiro. No dia seguinte, a pessoa que lhe foi mudar as fronhas, surpreendeu- se por ver ali desde o tostão do pobre até a nota de duzentos mil reis do abastado!... Ocorrida a sua desencarnação, verdadeira peregrinação demandou sua residência a fim de prestar- lhe a última visita. No dia 17 de abril, promovido por Leopoldo Cirne, reuniram- se alguns amigos de Bezerra, a fim de chegarem a um acordo sobre a melhor maneira de amparar a sua família, tendo então sido formada uma comissão que funcionou sob a presidência de Quintino Bocaiúva, senador da República, para se promover espetáculos e concertos, em benefício da família daquele que mereceu o cognome de "Kardec Brasileiro". Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava em sérias dificuldades financeiras, precisando da quantia de cinqüenta mil réis (antiga moeda brasileira), para pagamento
  • 13. das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer contemplação, ameaçava despejá-lo. Desesperado -- uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na vida -- e como não fosse incrédulo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus. Poucos dias após bateram- lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que pretendia tratar algumas aulas de Matemática. Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando- se de sua situação desesperadora, resolveu aceitar. O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o pagamento de todas as aulas adiantadamente. Após alguma relutância, convencido, acedeu. O moço entregou- lhe então a quantia de cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o visitante despediu- se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu. No ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do Espiritismo brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr. Bittencourt Sampaio, resolveram convidar Bezerra a fim de assumir a presidência da Federação Espírita Brasileira. Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou- se a seguinte conversação: -- Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha sociedade está sem presidente e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho,
  • 14. vive a discutir teses bizantinas e a alimentar o espírito de hegemonia. -- O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sampaio, é sempre amparado. A Federação pode estar errada na sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as simpatias dos servos do Senhor. -- De acordo. Mas a Assistência aos Necessitados está adotando exclusivamente a Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e recomendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata. Isto aliás me tem criado sérias dificuldades, tornando- me um médico inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não tendo assim o direito de exercer a profissão. -- E por que não te tornas médico homeopata? disse Bittencourt. -- Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos. Nessa altura, o médium Frederico Júnior, incorporando o Espírito de S. Agostinho, deu um aparte: -- Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos nossos irmãos. -- Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo? -- Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo- te, quando precisares, novos discípulos de Matemática... Adesão ao Espiritismo do Dr. Bezerra de
  • 15. Menezes: "Conferência. Ante um auditório de cerca de duas mil pessoas, no salão da Guarda Velha, ocupou a tribuna de conferências espiríticas, na noite de 16 do mês último, o nosso distinto confrade, ilustrado e provecto médico, o Sr. Dr. A. Bezerra de Menezes. Seu grandioso trabalho, exposição minuciosa de profundo estudo que tem feito da matéria, e das lutas que se empenharam no seu íntimo, quando, à luz da razão esclarecida, se entregou ao estudo dos dogmas e preceitos da religião romana, em que foi educado, esteve acima de todo elogio, e impressionou profundamente o ânimo de seus ouvintes (...)”.(Reformador, 1 de Setembro de 1886) Mensagem de Allan Kardec ao Brasil em 1889 "Paz e amor sejam convosco. Que possamos ainda uma vez, unidos pelos laços de fraternidade, estudar essa doutrina de paz e amor, de justiça e esperanças, graças à qual encontraremos a estreita porta da salvação futura - gozo indefinido e imorredouro para as nossas almas humildes. Antes de ferir os pontos que fazem o objetivo da minha manifestação,
  • 16. devo pedir a todos vós que me ouvis - a todos vós espíritas a quem falo neste momento - que me perdoem se porventura, na externação dos meus pensamentos, encontrardes alguma coisa que vos magoe, algum espinho que vos vá ferir a sensibilidade do coração (...)” Decreto Que Proíbe o Espiritismo (Código Penal - 1890) Art. 157 - Praticar o Espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade pública: Penas - de prisão celular por um a seis meses e multa de 100$ a 500$000. Os textos acima fazem parte do livro “Papel Velhos e Histórias de Luz”, Editora CELD. Após a Morte de Bezerra de Menezes A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA Essa história foi psicografada pela médium Yvonne A.Pereira, e a que ele deu o título em epígrafe. "Perante o enorme ajuntamento de sofredores desencarnados, no Plano Espiritual, o Dr. Bezerra de Menezes, apóstolo da Doutrina Espírita no Brasil, rematava a preleção. Falara, com muito brilho, acerca dos desregramentos morais.
  • 17. Destacara os males da alma e os desastres do espírito. Dispunha-se à retirada, quando fino ironista o investiu: "Escute, doutor. O senhor disse que a calúnia é um braseiro no caluniador. Eu caluniei e nada senti. O senhor disse que o destruidor de lares terrestres carrega a lâmina do arrependimento a retalhar-lhe o coração. Destruí diversos lares e nada senti. O senhor disse que o criminoso tem a nuvem do remorso a sufocá-lo. Eu matei e nada senti... "Meu filho - disse o pregador -, que sente um cadáver quando alguém lhe incendeia o braço inerte?" "Nada - disse, rindo, o opositor sarcástico -, pois cadáver não reage." E a conversação prosseguiu: "Que sente um cadáver se o mergulham num lago de piche?" - "Absolutamente nada, ora essa! O cadáver é a imagem da morte." Doutor Bezerra fitou o triste interlocutor e, meneando paternalmente a cabeça, concluiu. "Pois olhe, meu filho, quando alguém não sente o mal que pratica, em verdade carrega consigo a consciência morta. É um morto - vivo." NÃO PERDOAR Hilário Silva Bezerra de Menezes, já devotado à Doutrina Espírita, almoçava, certa
  • 18. feita, em casa de Quintino Bocaiúva, o grande republicano, e o assunto era o Espiritismo, pelo qual o distinto jornalista passara a interessar-se. Em meio da conversa, aproxima-se um serviçal e comunica ao dono da casa: - Doutor, o rapaz do acidente está aí com um policial. Quintino, que fora surpreendido no gabinete de trabalho com um tiro de raspão, que, por pouco, não lhe atingiu a cabeça, estava indignado com o servidor que inadvertidamente fizera o disparo. - Manda-o entrar – ordenou o político. - Doutor – roga o moço preso, em lágrimas -, perdoe o meu erro! Sou pai de dois filhos... Compadeça-se! Não tinha qualquer má intenção... Se o senhor me processar, que será de mim? Sua desculpa me livrará! Prometo não mais brincar com armas de fogo! Mudarei de bairro, não incomodarei o senhor... O notável político, cioso da própria tranqüilidade, respondeu: - De modo algum. Mesmo que o seu ato tenha sido de mera imprudência, não ficará sem punição. Percebendo que Bezerra se sentia mal, vendo-o assim encolerizado, considerou, à guisa de resposta indireta: - Bezerra, eu não perdôo, definitivamente não perdôo... Chamado nominalmente à questão, o amigo exclamou desapontado: - Ah! você não perdoa!
  • 19. Sentindo-se intimamente desaprovado, Quintino falou, irritado: - Não perdôo erro. E você acha que estou fora do meu direito? O Dr. Bezerra cruzou os braços com humildade e respondeu: - Meu amigo, você tem plenamente o direito de não perdoar, contanto que você não erre....... A observação penetrou Quintino como um raio. O grande político tomou um lenço, enxugou o suor que lhe caía em bagas, tornou à cor natural, e, após refletir alguns momentos, disse ao policial: - Solte o homem. O caso está liquidado. E para o moço que mostrava profundo agradecimento: - Volte ao serviço hoje mesmo, e ajude na copa. Em seguida, lançou inteligente olhar para Bezerra, e continuou a conversação no ponto em que haviam ficado. Livro: “Almas em Desfile” Psicografia: Francisco C. Xavier e Waldo Vieira Espírito: Hilário Silva OS PRIMEIROS PASSOS DE BEZERRA DE
  • 20. MENEZES NA VIDA ESPIRITUAL “Conta-se que Bezerra de Menezes, o denodado apóstolo do Espiritismo no Brasil, após alguns anos de desencarnação, achava-se em praia deserta, meditando tristemente acerca da maioria dos petitórios que lhe eram endereçados do mundo. “Em grande número de reuniões consagradas à prece, solicitavam-lhe providências de natureza material. “Numerosos admiradores e amigos rogavam-lhe empregos rendosos, negócios lucrativos, alojamentos, proteção para documentários diversos, propriedades e promoções. “Em verdade, sentia-se feliz, quando chamado a servir um doente ou quando trazido à consolação dos infortunados; contudo, fora na Terra um médico espírita e um homem de bem, à distância de maiores experiências em atividades comerciais. “Por que motivo a convocação indébita de seu nome em processos inconfessáveis? não era também ele um discípulo do Evangelho, interessado em ascender à maior comunhão com o Senhor? não procurava aprender igualmente a lutar e renunciar?
  • 21. “Monologava, entre inquieto e abatido, quando viu junto dele o grande Antônio, desencarnado em Pádua, no ano de 1281. “O admirável herói da Igreja Católica, nimbado de intensa luz, ouvira-lhe o solilóquio amargo. “Abraçou-o, com bondade, e convidou-o a segui-Io. “A breves minutos, ei-los ambos no perfumado recinto de grande templo. “O santuário, dedicado ao popular taumaturgo regurgitava de fiéis que se prosternavam, reverentes, diante da primorosa estátua que o representava sustentando a imagem de Jesus menino. “O santo impeliu Bezerra a escutar os requerimentos da assembléia e o seareiro espírita conseguiu anotar as mais estranhas e inoportunas requisições. “Suplicava-se a Antônio casa e comida, dinheiro fácil e
  • 22. saliência política, matrimônio e prazeres. Não faltava quem lhe implorasse contra outrem perseguições e vingança, hostilidade e desprezo, inclusive crimes ocultos. “O amigo benfeitor esboçou um gesto expressivo e falou, bem-humorado, ao evangelizador brasileiro : – “Observaste atentamente? as petições são quase sempre as mesmas nos variados campos da fé. Sequioso de burilamento íntimo, troquei na Igreja o hábito de cônego pelo burel dos frades... Ensinei a palavra do Mestre Divino, sufocando os espinhos de minhas próprias imperfeições. Fosse nas seduções da vida secular ou na austeridade do convento, caminhava mantendo pavorosas batalhas comigo mesmo, ansiando entesourar a virtude, em cujo encalço permaneço até hoje; entretanto, procuram-me através da oração, para ser meirinho comum ou advogado casamenteiro... “E porque Bezerra sorrisse, reconfortado, aduziu ; – “Nosso problema, contudo, é o de instruir sem desanimar. Jesus, no monte, sentindo extrema compaixão pela turba desvairada, alimentou-lhe o corpo e clareou-lhe a alma obscura...
  • 23. “Nesse justo momento, surge alguém à cata de Bezerra. Num círculo de oração, organizado na Terra, pediam-lhe indicações para que fosse descoberto um enorme tesouro de aventureiros antigos, desde muito enterrado. “Antônio afagou-lhe os ombros e disse benevolente: – “Vai, meu amigo, e não desdenhes auxiliar. Decerto, não te preocuparás com o ouro escondido, mas ensinarás aos nossos irmãos o trato precioso do solo para a riqueza do pão de todos e, descerrando-lhes o filão do progresso, plantarás entre eles o entendimento e a bondade do Excelso Amigo. “Bezerra despediu-se, contente, e tornou corajoso à luta, compreendendo, por fim, que não bastaria lastimar a atitude dos companheiros invigilantes, mas ajudá-los com todo o amor, consciente de que o Cristo é o Mestre da Humanidade e de que o Evangelho, acima de tudo, é obra de educação.” Fonte: Do livro VIDA E OBRA DE BEZERRA
  • 24. OS ÚLTIMOS MOMENTOS DE BEZERRA DE MENEZES 11 de abril de 1900 - 11 de abril de 2005 Seus últimos momentos dão-nos lições comovedoras e instrutivas. Revelam-nos sua confiança no Divino Mestre, na Missão cumprida, no Dever realizado. A anasarca lhe transformara o corpo. Complicara-se sua enfermidade. A hemiplegia, paralisia de parte do corpo, impossibilitava-lhe os movimentos. Sua voz era pastosa e lenta. Apenas o olhar era vivo e sereno, como sempre, bom e puro. A casa, pela varanda, nos quartos, no quintal, estava sempre cheia de irmãos e amigos agradecidos e sinceros, alguns esperando anda pela esmola de uma receita, de uma palavra de afago e de bom ânimo. A folhinha marcava 11 de abril de 1900! Bezerra de Menezes, o Apóstolo brasileiro, o Médico dos Pobres, o Estuário de todas as súplicas, de problemas variados e dolorosos, de irmãos sofredores e pobres, agonizava ... Os olhos brilhantes, bem abertos, transmitiam aos familiares e aos irmãos e amigos presentes a confiança de sua Fé, o Amor pelo seu e nosso Mestre e a sua preocupação pelos seus doentes.
  • 25. E balbuciava, de quando em quando, com dificuldade e sentidamente: - Coitados, são tantos à minha espera! A Mãe do Céu há de atendê-los! Sentindo que se aproximava a hora do seu decesso, pediu que o ajudassem a levantar-se um pouco e, com a cabeça erguida, olhos voltados para o Alto, assim orou, baixinho e entre lágrimas, deixando-nos suas últimas palavras como a Lição permanente de sua grandeza Espiritual, de seu Espírito totalmente libertado dos vícios e ligado à Causa de Nosso Senhor Jesus Cristo: Virgem Santíssima, Rainha do Céu, Advogada de nossas súplicas junto ao Divino Mestre e a Deus todo Poderoso, eu Te peço não que deixe de sofrer mas para que meu pobre espírito aproveite bem todo o sofrimento e, por fim, Mãe querida, eu Te peço pelos meus irmãos que ficam, por esses pobres amigos, doentes do corpo e da alma, que aqui vieram buscar no Teu humilde servo uma migalha de conforto e de amor. Assiste-os, por Caridade, dá-lhes, Senhora, a Tua Paz, a Paz do Cordeiro de Deus que tira os pecados do Mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo! Louvado seja Teu Nome! Louvado seja o Nome de Jesus! Louvado seja Deus! E desencarnou! Apagara-se na Terra uma grande Luz e apontara no Céu mais um foco de claridade.
  • 26. Transcrito do Livro "LINDOS CASOS DE BEZERRA DE MENEZES", de Ramiro Gama. Enviado por Luz do Evangelho - Luzdoevangelho@aol.com A Felicidade de Bezerra de Menezes Um dia, perguntei ao Dr. Bezerra de Menezes, qual foi a sua maior felicidade quando chegou ao plano espiritual. Ele respondeu-me: - A minha maior felicidade, meu filho, foi quando Celina, a mensageira de Maria Santíssima, se aproximou do leito em que eu ainda estava dormindo, e, tocando-me, falou, suavemente: - Bezerra, acorde, Bezerra!
  • 27. Abri os olhos e vi-a, bela e radiosa. - Minha filha, é você, Celina?! - Sim, sou eu, meu amigo. A Mãe de Jesus pediu-me que lhe dissesse que você já se encontra na Vida Maior, havendo atravessado a porta da imortalidade. Agora, Bezerra, desperte feliz. Chegaram os meus familiares, os companheiros queridos das hostes espíritas que me vinham saudar. Mas, eu ouvia um murmúrio, que me parecia vir de fora. Então, Celina, me disse: - Venha ver, Bezerra. Ajudando-me a erguer-me do leito, amparou-me até uma sacada, e eu vi, meu filho, uma multidão que me acenava, com ternura e lágrimas nos olhos. - Quem são, Celina? - perguntei-lhe - não conheço a ninguém. Quem são? - São aqueles a quem você consolou, sem nunca perguntar- lhes o nome. São aqueles Espíritos atormentados, que chegaram às sessões mediúnicas e a sua palavra caiu sobre eles como um bálsamo numa ferida em chaga viva; são os esquecidos da terra, os destroçados do mundo, a quem você estimulou e guiou. São eles, que o vêm saudar no pórtico da eternidade...
  • 28. E o Dr. Bezerra concluiu: - A felicidade sem lindes existe, meu filho, como decorrência do bem que fazemos, das lágrimas que enxugamos, das palavras que semeamos no caminho, para atapetar a senda que um dia percorreremos. Do livro "O Semeador de Estrelas" De: Suely Caldas Schubert Um abraço, em nome da Virgem, faz maravilhas! Bezerra de Menezes acabava de presidir a uma das sessões publicas da casa de Ismael, na avenida Passos. Era uma noite de terça feira do mês de junho de 1896. Sua palavra esclarecida e carinhosa, á moda de uma chuva fina e criadeira, no dizer de M.Quintão, penetrava ás almas de quantos, encarnados e desencarnados, lhe ouviam a evangélica dissertação sobre uma Lição do Livro da Vida! Os olhos marejados de lagrimas, tanto de ouvintes como os do próprio Orador. Acabada a sessão, descera Bezerra com passos tardos, ainda emocionado, as escadas da Federação Espírita Brasileira. E ia, humildemente, indagando dos mais íntimos, se ferira alguém com sua palavra, que lhe perdoassem o
  • 29. descuido, e ia descendo e afagando a todos que o esperavam ávidos dos seus conselhos, dos seus sorrisos, do seu olhar manso e bom. No sucedâneo da escada, localizou um irmão, de seus 45 anos, cabelos em desalinho, com a roupa suja e amarrotada. Os dois se olharam. Bezerra compreendeu logo que ali estava um Caso, todo particular, para ele resolver. Oh! Bendito os que têm olhos no coração! E Bezerra os tinha e os tem! E levou o desconhecido para um canto e lhe ouviu, com atenção, o desabafo, o pedido: - Dr. Bezerra estou sem emprego, com a mulher e dois filhos doentes e famintos. E eu mesmo, como vê, estou sem alimento e febril! Bezerra, apiedado, verificou se ainda tinha algum dinheiro. Nada encontrou nos bolsos. Apenas a passagem do bonde. Tornou-se mais apiedado e apreensivo. Levantou os olhos já molhados de pranto para o alto e, numa prece muda, pediu inspiração a Maria Santíssima, seu Anjo Tutelar e solucionador de seus problemas. Depois, virando-se para o irmão: - Meu filho, você tem fé em Nossa Senhora? A Mãe do Divino Mestre, a nossa Mãe Querida? - Tenho e muita, Dr. Bezerra! - Pois então, em Seu Santíssimo Nome, receba este abraço. E abraçou o desesperado irmão, envolvente de demoradamente. E despedindo-se: - Vá, meu filho, na
  • 30. Paz de Jesus e sob a proteção do Anjo da Humanidade. Em seu lar, faça o mesmo com todos os seus familiares, abraçando-os, afagando-os. E confie Nela, no Amor da Rainha do Céu, que seu caso há de ser resolvido. Bezerra partira. A caminho do lar, meditava: teria cumprido seu dever, será que possibilitara ajuda ao irmão em prova, faminto e doente? E arrependia-se por não lhe haver dado senão um abraço. Não possuía nenhum dinheiro. O próprio anel de grau já não estava nos seus dedos. Tudo havia dado. Não tenho dinheiro, dera algo de si mesmo, vibrações, bom ânimo, moeda da alma, ao irmão sofredor e não tinha certeza de que isso lhe bastara... E, nesse estado de espírito, preocupado pela sorte de um seu semelhante, chegou ao lar... Uma semana passara-se. Bezerra não se recordava mais do sucedido. Muitos eram os problemas alheios. Após a sessão de outra terça-feira, descia as escadas da Federação. Alguém, no mesmo lugar da escada, trazendo na fisionomia toda a emoção do agradecimento, toca-lhe o braço e lhe diz: - Venho agradecer-lhe, Dr. Bezerra, o abraço milagroso que me deu na semana passada, neste local e nesta mesma hora. Daqui saí logo me sentindo melhor. Em
  • 31. casa, cumpri seu pedido e abracei minha mulher e meus filhos. Na linguagem do coração, oramos todos á Mãe do Céu. Na água que bebemos e demos aos familiares, parece, continha alimento. Pois dormimos todos bem. No dia seguinte, estávamos sem febre e como que alimentados... E veio-me uma inspiração, guiando-me a uma porta, que se abriu e alguém por ela saiu, ouviu meu problema, condoeu-se de mim e me deu um emprego, no qual estou até hoje. E venho lhe agradecer a grande dádiva que o senhor me deu, arrancada de si mesmo, maior e melhor do que dinheiro! O ambiente era tocante! Lagrimas caíam tanto dos olhos de Bezerra como do irmão beneficiado e desconhecido. E uma prece muda, de dois corações unidos, numa mesma força gratulatória, subiu aos Céus, louvando aquela que é, em verdade, a porta de nossas Esperanças, a Mãe Sublime de todas as Mães, a Advogada querida de todas as Nossas Causas! Louvado seja o Nome de Maria Santíssima! E abençoado seja o nome de quem, em Seu Nome, num Abraço, fez maravilhas, a verdadeira Caridade Desconhecida!
  • 32. Livro: Lindos Casos de Bezerra de Menezes – Autor: Ramiro Gama Materialismo e Espiritismo Conta-se que o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, orientava, no Rio, uma reunião de estudos espíritas, com a palavra livre para todos os circunstantes, quando, após comentários diversos, perguntou se mais alguém desejava expressar-se nos temas da noite. Foi então que renomado materialista, seu amigo pessoal, lhe dirigiu veemente provocação: -Bezerra, continuo ateu e, não somente por meus colegas mas também por mim, venho convidá-lo a debate público, a fim de provarmos a inexpugnabilidade do Materialismo a você que o Materialismo já levantou extensa lista de médiuns fraudulentos; de chamados sensitivos que reconheceram os seus próprios enganos e desertaram das fileiras espíritas; dos que largaram em tempo o suposto desenvolvimento das forças psíquicas e fizeram declarações, quando às mentiras piedosas de que se viram envoltos ; dos ilusionistas que operam em nome de poderes imaginários da mente; e, com essa relação, apresentaremos outro rol de nomes que o Materialismo já reuniu, os nomes dos experimentadores que demonstraram a inexistência da comunicação com os mortos; dos sábios que não puderam verificar as factícias ocorrências
  • 33. da mediunidade; dos observadores desencantados de qualquer testemunho da sobrevivência; e dos estudiosos ludibriados por vasta súcia de espertalhões... Esperamos que você e os espíritas aceitem o repto. Bezerra concentrou-se em prece, alguns instantes, e, em seguida, respondeu, aliando energia e brandura: -Aceitamos o desafio, mas tragam também ao debate aqueles que o Materialismo tenha soerguido moralmente do mundo; os malfeitores que ele tenha regenerado para a dignidade humana; os infelizes aos quais haja devolvido o ânimo de viver; os doentes da alma que tenha arrebatado às fronteiras da loucura; as vítimas de tentações escabrosas que haja restituído a paz do coração; as mulheres infortunadas que terá arrancado ao desequilíbrio os irmãos desditosos de quem a morte roubou os entes mais caros, a cujo sentimento enregelado na dor terá estendido o calor das esperanças, as viúvas e os órfãos, cujas energias terá escorado para não desfalecerem de saudade, ante as cinzas do túmulo; os caluniados aos quais terá ensinado o perdão das afrontas; os que foram prejudicados por atos de selvageria social mascarados de legalidade, a quem haverá proporcionado sustentação para que olvidem os ultrajes recebidos; os acusados injustamente, de cujo espírito rebelado terá subtraído o fel da revolta, substituindo-o pelo bálsamo da tolerância; os companheiros da Humanidade que vieram do berço cegos ou mutilados, enfermos ou paralíticos, aos quais terá tranqüilizado com princípios de justiça, para que aceitem pacificamente o quinhão de lágrimas que o mundo lhes
  • 34. reservou; os pais incompreendidos a quem deu força e compreensão para abençoarem os filhos ingratos e os filhos abandonados - por aqueles mesmos que lhes deram a existência, aos quais auxiliou para continuarem honrando e amando os pais insensíveis que os atiraram em desprezo e desvalimento; os tristes que haja imunizado contra o suicídio; os que foram perseguidos sem causa aparente, cujo pranto terá enxugado nas longas noites de solidão e vigília, afastando-os da vingança e da criminalidade; os caídos de todas as procedências, a cujo martírio tenha ofertado apoio para que se levantem... Neste ponto da resposta, o velho lidador fêz uma pausa, limpou as lágrimas que lhe deslizavam no rosto e terminou: Ah! Meu amigo, meu amigo!... Se vocês puderem trazer um só dos desventurados do mundo, a quem o Materialismo terá dado socorro moral para que se liberte do cipoal do sofrimento, nós, os espíritas, aceitaremos o repto. Profundo silêncio caiu na pequena assembléia, e, porque o autor da proposição baixasse a cabeça, Bezerra, em prece comovente, agradeceu a Deus as bênçãos da fé e encerrou a sessão. (Transcrito do livro Estante da Vida - Irmão X - psicografado por Francisco Cândido Xavier, Edição FEB)
  • 35. Cem Anos de Abnegação e Renúncia Vida e Obra de Bezerra de Menezes Contam-se as tradições do mundo espiritual que, na madrugada do dia 1º de janeiro do ano 1800, ao se apagarem as luzes do século XVIII, foi reunida na psicosfera próxima da Terra uma imensa assembléia, para traçar os destinos da humanidade. Aquela reunião havia sido programada desde há mais de trezentos anos e deveria definir os roteiros dos séculos XIX e XX, inaugurando uma era nova para a humanidade. Os narradores desse evento asseveram que, naquele momento especial, faziam-se presentes delegações de espíritos que habitavam as mais diferentes nações da Terra. Desde as entidades venerandas que precederam a história dos tempos contemporâneos, como Krisna, Confúcio, Hermes até aqueles que vieram da área Ocidental, preparando o campo do pensamento filosófico: Sócrates, Platão, Aristóteles, e outras personalidades que se encarregaram de examinar a realidade da matéria, como Lucrécio e Demócrito; e a seguir, entidades que precederam o momento grandioso
  • 36. da chegada de Jesus: Salústio, Mecenas, Otávio, Ovídio; e a posteriori, aqueles que participaram da revolução do pensamento cristão, entre os séculos segundo e quarto: Agostinho, Tertuliano, Orígenes, Próclos, que constituíram a ideologia do Cristianismo à luz do platonismo; e a seguir, entidades venerandas que espocaram as luzes da fé em plena noite medieval; até o momento em que se alargam os horizontes do planeta com as conquistas náuticas, com as conquistas da cultura, com as conquistas da arte: Michelângelo, Cabral, Colombo, Henrique de Sagres; e aqueles que estabeleceram as bases de uma revolução ideológica através da renascença, da poesia, da música, como Dante e outros; até os grandes pensadores do século XVIII: Voltaire, Diderot, Montesquie, todos eles ali estavam representando a cultura, a beleza, a arte, a sabedoria. Quando a noite esplendorosa, coruscante de estrelas parecem sentir, entidades respeitosas descem na direção da assembléia acompanhada por um coral de vozes que exaltam a Era Nova. Está à frente a personalidade de Júlio Cesar, o conquistador da África, aquele que reduziu o mundo a um departamento do império romano. O semblante de César, no entanto, esta alterado. Ele agora traz a mente velada por um certo torpor. Ostenta a coroa de mirtos sobre a cabeça e o manto de púrpura, que foi usado por Carlos Magno, quando recebeu das mãos do papa a coroa de governador da Europa. Logo depois dele, a figura luminífera de Yoshani Russ, o semblante iluminado pelas perspectivas de uma grande conquista.
  • 37. Descem ao cenáculo abençoado e, diante de um silêncio espectral, ouve-se uma voz que vem de uma região ignota e que diz, suave e grandiosamente: - César, deleguei-te a tarefa de preparar a Terra para a tarefa do critianismo. Convidei-te a abrir os horizontes de Roma para minha chegada. Estabeleci diretrizes dos grandes conquistadores, para que um só idioma se espalhasse pelo mundo. Desde a hora de Alexandre Magno, quando preparou o Mediterrâneo, através da língua grega, e tu preparaste os horizontes da Terra através do latim, mas malograste dolorosamente, mergulhaste no prazer sanguissedento da destruição, e o punhal de Brutus arrebatou-te o corpo em um momento em que te dirigias ao Senado para rogares mais prepotência e mais poder. Hoje eu te coloquei na indumentária de Napoleão Bonaparte para que reúnas os estados Europeus sob o estandarte da paz, a fim de que o meu mensageiro leve à Terra a mensagem que eu tenho embutida nos corações dos homens e que os sentimentos vis entorpeceram, erigindo as manifestações da teocracia, do absolutismo, do abuso. Sei que o mergulho na carne envolve a mente em sombras, mas a ti competi a tarefa de preparar a Terra para ele; o enviado do paracleto, o missionário da terceira revelação. Nesse momento, João Russ, que fora queimado no século XVI, acerca-se de César, na personalidade de Napoleão Bonaparte, e curva-se reverente, e a voz transcendental continua a dizer: - Ele levará o símbolo da fraternidade. Abrirá os caminhos por onde percorrerão as naves da ciência, e nos seus passos estarão as artes e as literaturas. Mas ele será o embaixador da religião do amor que tem por base a caridade. E se fará
  • 38. igualitar por outros mensageiros de minha confiança para preparar na Terra o advento do reino dos céus. João Russ levanta-se e, dominado pelas lágrimas, contempla o infinito, de onde vem a vóz que ressoa naquele cenáculo abençoado. As observações penetram nas acústicas das almas e, a pouco e pouco, acercam-se de Napoleão e do Grande João Russ, seres angelicais que terão a tarefa de preparar o advento da Era Nova no planeta terrestre. À medida que eles sobem ao imenso palanque das exortações, a multidão se levanta, e pétalas chovem, inimaginária de uma região ignota sobre a assembléia transcendental. No dia 3 de outubro de l804, dois meses depois que Napoleão Bonaparte se consagrou imperador dos franceses, em Notredame, nasce na Terra Hippolyte León Denizard Rivail, que a humanidade passará a conhecer a partir de 1857, sob o pseudônimo de Allan Kardec, que era João Russ reencarnado, para trazer a Doutrina Espírita às almas, inaugurando verdadeiramente um momento grandioso do cristianismo nos corações. Mas antes que este evento se tornasse realidade, no dia 29 de agosto de 1831, em um lugarejo perdido nas terras áridas do Ceará, chamado Riacho de Sangue, reencarna-se um venerando cristão do século II, que, por amor a Jesus, erguera nas Gáleas um lar para crianças órfãs a fim de atrair a figura cruel do seu filho Taciano, que necessitava de ter dulcificado o coração. E ali, então, numa personagem amorosa, ele prepara o advento de salvação para o filho e de
  • 39. doação absoluta à causa de Jesus. Reencarna-se, 1600 anos depois, na pessoa de Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcante, que deve ser uma das estrelas a perpetuar a mensagem de Allan Kardec na Terra e a fazer que o amor seja realmente a base de todas as afirmações dessa revelação grandiosa que vem confirmar a lei antiga e vem tornar caridosa a mensagem amorosa de Jesus. Dali de Riacho de Sangue, de uma família modesta, ele demanda Fortaleza, a capital da sua província para fazer os cursos elementares e ginasial. Mas trazia na alma a fatalidade da conquista dos continentes desconhecidos da alma, e vem agora à capital do Império, à cidade do Rio de Janeiro, onde pretende desenvolver as aptidões do sacerdócio de curar. Jovem pobre, sonhador e pulcro, chega à corte sem os recursos adequados para poder enfrentar as dificuldades de uma região hostil. Aqueles alienígenas que aportam diariamente na grande metrópole. E através de sacrifícios ingentes, de renúncias incomuns, de lágrima acerbas, o jovem Adolfo Bezerra de Menezes vai colocando marcos de conquistas, passo a passo, da sua escalada gloriosa no rumo da plenitude. Momentos chegam em que as dificuldades se lhe fazem tão acerbas e dolorosas, que o lume é escasso e o pão alimentar é quase impossível de conquistá-lo. Narra ele, e um de seus melhores biógrafos retrata, que certa feita as dificuldades eram tão graves e a importância a aplicar no seu curso de medicina era tão elevada, que ele estava a ponto de desistir, quando lhe apareceu, mandado pela providência, um jovem que se candidatava a receber aulas particulares de matemática em que ele era um exímio concepcionista, nesta doutrina de abstrações. Ele tinha a certeza que fora a divindade que encaminhara o jovem e negociou naturalmente
  • 40. as aulas que ia ministrar, tendo a agradável surpresa de dar- se conta que o jovem estava preparado para pagá-las por antecipação, e, ao fazê-lo, a importância que lhe colocava em mãos viria a preencher exatamente a lacuna da necessidade, que o teria impedido de levar adiante a sua carreira, que o celebrizaria como médico dos pobres. Posteriormente o jovem nunca mais voltou, e durante toda sua vida isso lhe constituiu um ponto de interrogação, fazendo crer que aquele dinheiro lhe não pertencia, o que o levou a distribui-lo muitas vezes com os necessitados, como sendo a maneira de devolvê-lo as mãos anônimas e quiçás espirituais que lhe vieram bater à porta no momento da ajuda. Adolfo Bezerra de Menezes celebrizou-se na faculdade de medicina pela inteligência lúcida, pelo raciocínio hábil, mas pela bondade dos sentimentos e do coração. Consorciou-se com uma dona gentil com quem viria a tornar-se pai repetidas vezes. E para levar adiante os ideais que incutiu na sua alma, adotou a postura política, representando vários bairros do Rio de janeiro na constituição então vigente; mas sentia que sua alma não estava preparada para as circunstâncias amargas do relacionamento político, para as paixões partidárias, para o jogo arbitrário dos interesses humanos. Exatamente nessa hora, a partir de 1870, quando se dá a combustão intelectual da Europa, chegam ao Brasil as idéias eloqüentes dos grandes materialistas: o pensamento de Augusto Conte, as idéias de Hegel, as propostas do lirismo, e ele, intelectual, não se podia curvar diante das exigências da doutrina dominante, torna-se livre pensador amando a Deus, mas não se vinculando a nenhuma das doutrinas então em vigência. Espírito aberto, ele tem a oportunidade de ser
  • 41. levado à casa de um jovem médium, que, através da homeopatia, que havia sido lançada algo recentemente por uma personalidade extraordinária que estivera presente na noite memorável, naquele 1º de janeiro de 1800. Ele percebe que em estado de transe o sensitivo pode realizar o diagnóstico da problemática orgânica e fazer a anamnese do paciente e receitar com absoluta precisão. Ele mesmo submete-se à experiência e os resultados são fascinantes. Alguém lhe houvera dado oportunamente O Livro dos Espíritos, e certo dia, enquanto viajava no bonde atrelado à burros, dirigindo-se do Centro da cidade ao Bairro da Tijuca, ele abriu eventualmente a obra e começou a lê-la; qual não foi sua surpresa, aquela obra lhe não trazia nenhuma novidade. Ele conhecia aquele conteúdo, era como se diria na linguagem popular espírita sem o saber. Aderiu à certeza da imortalidade da alma, da comunicabilidade do espírito, da reencarnação, da pluralidade dos mundos habitados, e Jesus fascina-lhe a alma, arrebatando-lhe os sentimentos mais nobres, que ele soube entesourar na arca generosa do coração amigo. A partir daquele momento, o Doutor Adolfo Bezerra de Menezes apaixona-se pela revelação Kardequiana. O movimento espírita das terras brasileiras estava gravemente tumultuado. Ele era um homem de ciência, mas era também um homem de amor. Jesus estóico fascina-lhe a alma, qual ocorreria mais tarde a Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, a Pasteur e a outros. Jesus redulcifica a alma e ele adere ao grupo das místicas. As criaturas se comprazem em lutar em impor o seu ego de
  • 42. forma apaixonada, esquecendo que aquele que pretende convencer aos outros, psicologicamente diz a psicanálise, é um inseguro. Quem tem segurança não pretende mudar a ninguém. Dá a liberdade de cada um ser o que deseja, mas a si exige-se, ser a cada hora melhor do que o era minutos atrás. Bezerra tem essa certeza e procura ser o conciliador. É convidado a dirigir a Federação Espírita Brasileira, recentemente criada na casa de Elias da Silva, por um grupo de estóicos. As dificuldades reinantes são várias e ele dá o melhor da sua alma de esteta. A comunicação com Ismael comove-o, através de Frederico Junior, que foi a época o melhor médium do Brasil. (psicofônico, psicográfico, sonambúlico, de efeitos físicos, portador de uma clarividência excepcional) Esse homem amigo é o instrumento das vozes que luarizam a alma de Bezerra de Menezes. Ele resolve tirar o Espiritismo das paredes sombrias das Casas Espíritas, e vai escrever no jornal "O País", da cidade do Rio de Janeiro sob o pseudônimo de "Max" A verdade é que ele libera-se do encargo da Federação Espírita Brasileira, mas as lutas humanas fazem-se intestinas: as divisões, as agressões, e Bezerra tornou-se o alvo do campo de batalha de ambas as partes litigantes. Porém, em um momento de grande dificuldade, Ismael diz: - Batam às portas de Bezerra de Menezes e tragam ele de volta às atividades da F.E.B. Uma comissão é destacada, e vai à Bezerra de Menezes e pede-lhe para que volte ao trabalho de Ismael, e ele teria respondido: - Sou um homem pacífico. Os meus sentimentos são de
  • 43. amor. Mas para dirigir a Casa de Ismael eu somente aceitarei se me concederem poderes discricionários, se minha palavra não for contestada, no momento da primeira contestação, eu oferecerei o meu cargo e os encargos ao meu contestador. Porque não estou aqui para exercer posição de relevo, mas para servir, e para servir não necessito de cargo já tenho os encargos. E o farei, este serviço, em qualquer lugar. Assim volta Bezerra de Menezes à F.E.B em 1895, como o pacificador. Já era um homem venerando, apesar de uma idade relativamente madura, mas ainda não envelhecido. A sua postura, o seu amor, a sua abnegação e a sua caridade ímpar àqueles favelados da época, dos morros da cidade do Rio de Janeiro, a sua misericórdia, já o haviam elegido "O médico dos Pobres". Quantas vezes a dor lhe bate à porta de maneira rude; a esposa desencarna e ele fica à sós com uma prole a atender a sustentar, a amar. Uma cunhada devotada que percebe-lhe a dificuldade de administrar a casa e de ganhar o pão, na sua profissão de médico que dava tudo e recebia quase nada, foi residir com ele para ajudá-lo. Meses depois na sua figura notável de homem de bem ele disse: - Não me parece justo que você, sendo uma jovem solteira e bela, venha a ficar na residência de um viúvo. Já que você pode ser a mãe espiritual de meus filhos, (seus sobrinhos) eu a convido para ser minha esposa, e no dia que você me amar poderemos passar a ter uma vida nupcial como recomendam as leis de Deus, e o amor na Terra prescreve. Ela aceita a mão do cunhado, ele consorcia-se pela segunda vez, torna-se pai, as dificuldades cada vez mais dolorosas,e certo dia, para culminá-las: atendia ele na modesta sala, onde receitava a
  • 44. terapia homeopática, quando contemplou uma mãe angustiada, ela trazia nos braços um filho macérrimo, trêmula, esfaimada, coloca o filho sobre a mesa de exames e diz: - Está morrendo, Dr. Bezerra! Salve meu filho. Dr. Bezerra examina a criança e percebe que a doença é uma seqüela da fome. Receita imediatamente e diz: - Desça à farmácia, adquira o produto de imediato e se você seguir a prescrição, seu filho se salvará. - Então, Doutor, ele vai morrer, porque o nosso problema é comida. Eu irei mendigar com a receita na mão. Bezerra examina os bolsos, a última moeda ele havia dado ao cliente anterior. Põe as mãos na cabeça e as lágrimas correm-lhe pelos olhos azuis transparentes. A mão esquerda está espalmada sobre a mesa, e naquele momento de grande angústia e expectativa, ele vê a mão, e nota o anel de formatura. Ele era agora tomado de alegria, arranca o anel e diz-lhe: -Não seja por isso, minha filha, vá à farmácia, entregue o anel ao farmacêutico, compre os remédios e peça-lhe que lhe devolva aquilo que exceder ao preço do medicamento e compre alimentos para seu filhinho e para você. Ela sai cantando hosanas. Ele toma do chapéu, desce as escadarias do consultório do primeiro andar e, quando vai pegar o bonde, ele dá-se conta que não tem a moeda mais miserável e mínima para pegar a condução, e para não criar problema no transporte urbano,
  • 45. ele sai da rua sete e vai a pé até a Tijuca, chegando lá avançadas horas da noite exausto, esfaimado, com os filhos e a esposa também padecendo necessidades. Isso bastaria para definir a grandeza de um homem que deveria estar nos anais do prêmio Nobel da Paz, como aquele que doou tanto que, já não tendo o que doar, doou-se a si mesmo. Mas no fim do ano de 1899, uma enfermidade pertinaz prostra o grande médico. Ele afasta-se da direção da F.E.B. No dia 11 de abril de 1900, ele desencarna, deixando na Terra um vazio, que ainda não pode ser preenchido de maneira física, tal a grandeza deste ser espiritual que a Terra recebe periodicamente no mundo para preparar nos corações o entronizamento da figura ímpar de Jesus. Desencarna Bezerra, o Brasil chora, mas ele não se aparta da alma brasileira; continua a atender este povo a quem ele amou com tanto desvelo. No ano de 1950, naquele mesmo recinto a que nos reportamos, há uma reunião especial. Aproximadamente cinco mil espíritos, entre encarnados, e desencarnados estão convidados a participar de uma homenagem especial a um apóstolo de Jesus que trabalha nas sombras da Terra. A reunião é grandiosa. Aquele público imenso que repleta o anfiteatro, que tem a forma greco-romana do passado, está ansioso, quando um coral de duzentas vozes infantis começa a entoar o "Aleluia" de Hendel. E adentra-se, acompanhado de um sectro de entidades venerandas, Dr.Bezerra de Menezes, em espírito.
  • 46. A figura ímpar de Dr. Bezerra, acolitado por aqueles seres espirituais iluminados, destaca-se em uma indumentária modesta, que faz recordar o linho Belga usado na Terra. A indumentária de tonalidade pérola, a mão direita apoiada à gola do paletó, a cabeça que se move negativamente como a dizer: - Mas eu não mereço. O grupo adentra-se e vem à mesa central. Dr. Bezerra senta-se ao lado do diretor dos trabalhos. Começa a reunião que homenageia Bezerra pelos 50 anos de atividades nas terras brasileiras como colaborador de Ismael, representante da bondade de Jesus. Léon Denis, o apóstolo do espiritismo Francês, o grande colaborador e desdobrador da obra de Allan Kardec, é convidado a saudá-lo em nome dos Espíritos Espíritas Internacionais. E o verbo eloqüente do extraordinário autodidata poeta ressoa na multidão como bátegas de luz caindo suavemente numa sinfonia. As palavras de Leon Denis traz a gratidão dos Espíritas do mundo ao apóstolo do Cruzeiro do Sul. Bezerra chora, dominado de uma grande emoção. Terminada a exortação de Denis, é convidado Manoel Vianna de Carvalho para falar em nome da comunidade espírita brasileira. Vianna de Carvalho agiganta-se na tribuna e fala em nome da gratidão da pátria brasileira a este ser que tanto estava fazendo pelo pensamento no país. Logo depois que Vianna de Carvalho encerra, abre-se aquele horizonte infinito do espaço e um jato de luz tomba sobre a multidão.
  • 47. Aparece o ser espiritual superior jovem, Celina, a mensageira de Maria, a mãe de Jesus, que abre um livro imenso de luzes e lê para todos, emocionados: - Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, a mãe de Jesus manda convidar-te para que saias das sombras do planeta terrestre. Ela te oferece no Sistema Solar qualquer um dos astros onde queiras reencarnar. Ela concedeu do Filho a permissão para franquear-te noutra esfera, se necessário fora do Sistema Solar, a oportunidade de crescer de maneira com a misericórdia de Deus, nos rumos do insondável na busca da perfeição. - Tenho eu a tarefa de apresentar-te a proposta da Senhora, e levar- Lhe o resultado, depois de ouvir-te. Bezerra de Menezes levanta-se, a multidão está impactada, ele abaixa a cabeça e, com a voz embargada ao erguer a fronte diz: - Celina, minha filha, eu não mereço nada disso! Se eu merecesse alguma coisa, se alguma coisa me fosse lícito pedir; se houvesse em mim qualquer atributo que justificasse uma solicitação, eu te pediria levares à Senhora o meu requerimento pedindo misericórdia para as minhas imperfeições; e se me fosse lícito pedir algo mais, eu pediria à Maria, a Santíssima, que me facultasse a honra de continuar nas sombras do país verde e amarelo do Cruzeiro do Sul, atendendo aos infelizes, e que, ela não me permitir a graça nunca de sorrir enquanto na terra brasileira alguém estiver chorando; que eu não tenha o direito de ser feliz enquanto os meus irmão do Brasil estejam angustiados. Então intercede tu, minha filha, junto à nossa Mãe para que ela me permita a caridade de permanecer nas terras do cruzeiro até o momento
  • 48. em que o país saia das sombras. Celina retorna, as vozes infantis erguem-se, as músicas sucedem-se e, de repente, no céu coruscante de estrelas, uma mão empunhando uma pluma antiga escreve: - Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, o teu requerimento dirigido à Senhora foi deferido. Ficarás nas terras verde- amarelas do Brasil, nas sombras do planeta, atendendo a dor até o ano 2000, quando terás brindado cem anos de abnegação, de renúncia, de doação total. A reunião foi encerrada, e Bezerra de Menezes voltou às sombras do país tropical para erguer as almas combalidas, para encaminhá-las à Jesus. Para ensinar que somente o amor dirime quaisquer problemas e dificuldades.... Este é o espírito amoroso que reencarnou em Riacho de Sangue no Ceará, que agora é amado e conhecido mundialmente, e quando ele se comunica, através daqueles que sintonizam na sua faixa de evolução, as lágrimas aljofram nos olhos dos que o ouvem porque a psicosfera ambiental se transforma. ...Adolfo Bezerra de Menezes, 168 anos depois que mergulhou nas terras sofredoras do Brasil, em nome daquela reunião programada por Jesus a 1º de janeiro de 1800, continua sendo o apóstolo da brasilidade, o anjo bom das nossas vidas, ensinando-nos a fazer com o nosso próximo conforme lhe pedimos que faça conosco. Sugerindo-nos amar àqueles que nos não amam, quanto ele tem amado àqueles que o fizeram chorar. Ele tem sido a luz que brilha na grande noite, apontando o rumo na direção de Jesus através de Allan Kardec.
  • 49. E hoje quando a Terra está abatida pelo vendaval e os furacões da discórdia, da inimizade. Quando a violência estruge a chibata do desequilíbrio, destruindo corpos e arrebatando as vidas físicas, urge que peçamos a Bezerra de Menezes para que interceda junto à Maria, a fim de que ela peça a Jesus piedade para a Terra; piedade para os homens e as mulheres do mundo; para que Ele, o Mestre de Nazaré, diga ao Pai: - Perdoa-lhes meu Pai, pois ele não sabem o que fazem. Nesta hora de tantos problemas, sejamos nós aqueles que juntamos, não aqueles que espalham. Sejamos pessoas pontes que ligam abismos e não pessoas paredes que dificultam o passo. Sejamos aqueles que se doam e não aqueles que tomam. Amemos as pessoas e usemos as coisas, para não amarmos as coisas e usarmos as pessoas. Consideremos as criaturas, sem as ter na condição de descartáveis para não produzirmos danos nas almas, lesões nas almas. Divulguemos o Espiritismo ao mundo. Ensinemo-lo corretamente. Quem o aplique indevidamente é problema de sua consciência. Que tenhamos a consciência de fazer melhor, de realizar o mais corretamente o conteúdo, mas que haja por base a recomendação do espírito de verdade: - Espíritas, amai, este é o primeiro mandamento; e instruí- vos para que a Terra de amanhã seja em verdade a Jerusalém
  • 50. libertada. Para que possamos tomando as mãos dizer: -Senhor, nós queremos bendizer-Te o nome, agradecer-Te a alegria e a honra de amar-Te! - Senhor, esperamos que chegue o dia em que o sol da nova era esteja esplendoroso, e as rosas estejam fitando os lares, voltadas para dentro de casa. E a natureza, enriquecida de festa, seja um poema de ternura. E a dor, a tristeza, a amargura, saiam dos anais da humanidade em nome da Tua lição de liberdade. - Senhor, neste momento, pois, vem ter conosco e permite que o teu apóstolo Bezerra, tomando das nossas mãos, possa dizer: - Venha comigo, Jesus está chamando, e nos Teus braços, amigo, possamos repousar. Muita paz! PARECER DE BEZERRA DE MENEZES A transcendência do trabalho foge ao vosso alcance, pois, às vezes, não desejais vislumbrar mais longe, ou vos acomodais na condição de simples espectadores dos fatos. Atraídos para tal realização da seara espiritualista, estão ao vosso lado centenas de núcleos espirituais, orientados diretamente por Ismael, preposto de Jesus no Brasil. É imprescindível, pois, que em cada um de vós haja a dedicação devida, para que possamos desenvolver paulatinamente este serviço,
  • 51. dando-lhe uma maior amplitude, que trará, por certo, conseqüências benéficas para vós e principalmente para o campo espiritual, onde as vibrações serão aproveitadas ao máximo. Este trabalho de vibrações realiza-se no espaço, da seguinte forma: Os necessitados são divididos em quatro grupos distintos, a saber: Primeiro Grupo – doentes que sofrem de enfermidades graves: Segundo Grupo – doentes cujos estados não apresentam gravidade, mas requerer alívio imediato; Terceiro Grupo – doentes afligidos por males psíquicos; Quarto Grupo – lares que demandam pacificação e ajustamentos. Para esses grupos são destacados quatro companheiros que exercem função de orientadores e que têm a seu cargo, conforme as exigências do momento, dois, três ou quatro mil colaboradores. Cada um desses orientadores recebe a lista dos irmãos a serem beneficiados e respectivos endereços, os quais são atendidos individualmente. Temos, então, como vemos, um amigo espiritual para cada necessitado. Às dezoito horas, esses milhares de servidores espirituais já estão a postos neste recinto, impregnando a própria atmosfera de elementos sutis e bênçãos curadoras. Após as dezenove horas, inicia-se o ingresso dos irmãos encarnados e à porta de entrada é destacada para cada um deles, um entidade espiritual que o acompanha até o seu lugar. Ao se ouvir a prece cantada é que consideramos o trabalho iniciado e, no momento em que vossas almas se elevam junto à melodia, caem sobre vós, em abundância, elementos curadores e confortadores que o irmão encarnado retém em maior ou menor quantidade, conforme a sua receptividade. Iniciam-se, então, as vibrações que possuem, como já sabeis, cor, perfume e densidade e que são recolhidas em receptáculos distribuídos pelo salão. O amigo espiritual que vos acompanha, estabelece convosco uma corrente, mantendo-a em contato mútuo e constante até os receptáculos, que vão se enchendo e se iluminando rapidamente, ou não, consoante a capacidade vibratória de cada um. Em seguida, entram em ação os trabalhadores dos quatro grupos já citados; exercendo o seu mister de conformidade com a necessidade, retiram do receptáculo a quantidade de elemento que precisam para suas tarefas, segundo o grupo a que pertencem. A seguir, afastam-se para o cumprimento de suas obrigações. Entram, após, grandes grupos, formados de seiscentos a oitocentos
  • 52. amigos espirituais, para as vibrações, durante as quais vibram também convosco os irmãos desencarnados que vos acompanham desde o início. O que vemos, então é um espetáculo grandioso: todo o ambiente se reveste de intensa luz e, ao vibrarem, os vossos pequeninos corações fazem o papel de um refletor e, então, iluminando e riscando o espaço, vemos luzes das mais variadas tonalidades e intensidades e esses grupos de irmãos, com os braços estendidos para vós, recebem o presente carinhoso do vosso coração par ser levado aos mais distantes setores da Terra, enquanto que ao serem enumeradas as Fraternidades, já então de regresso de suas tarefas, perfilam-se os espíritos à vossa frente, envolvendo-vos na carícia do Amor Fraternal. Por fim, quando o espírito destacado para a exortação evangélica encerra o trabalho, de esferas mais altas jorram sobre vós as bênçãos do Amor do Pai e ao vos retirardes, apesar de muito terem dado os vossos organismos físicos, retornais ao lar saturados de elementos revitalizadores em muito maior quantidade do que aquela despendida por vós. BEZERRA DE MENEZES, 1950. Fonte revista "A Centelha" Fevereiro 1945 Nada pode deter a marcha Mensagem do Dr. Bezerra de Menezes aos membros do Conselho Federativo Nacional exortando-os a avançar unidos, pois ‘‘o ideal de unificação vem do mundo espiritual para a Terra Lutas Meus Filhos Permaneça conosco a paz do Senhor!
  • 53. Recrudescem as lutas. Os anunciados tempos de transição chegam e fragorosas batalhas são travadas. É indispensável a aferição de valores que devem caracterizar os combatentes. Dificuldades e desafios apresentam-se no planeta em todas as áreas do conhecimento e do comportamento. As estruturas mal construídas do passado esboroam-se ante o fragor das demolições incessantes. A árvore que não foi plantada pelo Bem é derrubada, e as casas edificadas sobre as areias movediças ruem desastrosamente. Mas a obra do bem permanece suportando os vendavais, enfrentando todos os desafios. Não nos preocupemos com esses momentos que nos chegam, estabelecendo entre as criaturas o desequilíbrio e estimulando à debandada. Os discípulos da verdade devem permanecer fiéis aos postulados que abraçam, vivenciando-os.
  • 54. Não seja, pois, de estranhar, que a incompreensão sitie os nossos passos e obstáculos imprevistos apareçam pela senda que percorremos. Devemos contar com a consciência ilibada e nunca aguardar o aplauso da insensatez. Nosso modelo é Jesus, para Quem não houve lugar no mundo. O Codificador igualmente seguiu-Lhe as pegadas e soube arrostar as consequências do messianato a que se entregou, incorruptível e tranquilo. Lamentamos que as maiores dificuldades sejam intestinas em nosso Movimento, mas compreendemos que as criaturas se demoram em diferentes patamares de consciências, possuindo a ótica própria para observação dos fatos e interpretação da mensagem. Já que não nos é lícito impor a proposta espírita libertadora, não nos preocupemos com as imposições que nos chegam. Todos estamos informados dos fins dos tempos e o
  • 55. egrégio Codificador da Doutrina asseverou-nos que o mundo de provas e de expiações cederia lugar ao mundo de regeneração. Através dos tempos se tem informado que essa modificação se dará por meio de fenómenos sísmicos dolorosos; através de lutas cruentas, em guerras intermináveis; mediante os conflitos humanos. No entanto, se observarmos a História, encontraremos todos esses acontecimentos assinalando períodos de transição. A grande luta deste momento se travará no país da consciência de cada discípulo de Jesus. As convulsões serão de natureza interna. A batalha mais difícil será a da superação das más inclinações, administrando-as e direcionando-as para o Bem. Por mais difíceis se nos apresentem as acusações, e por mais terrível seja a morbidez direcionada para impossibilitar-nos o avanço, mantenhamos a serenidade. Que receio nos podem proporcionar aqueles que apenas falam contra nós?!
  • 56. Atuando no bem e sabendo confiar no tempo, levaremos a mensagem de libertação da Doutrina Espírita às diferentes Nações da Terra, pulcra, conforme no-la legaram os Espíritos por intermédio de Allan Kardec e dos seus discípulos mais dedicados. O movimento expande-se; nada pode deter a marcha da Doutrina Espírita, nem mesmo aqueles que, dizendo-se adeptos da palavra do Codificador, erguem- se para zurzir-nos com as expressões destrutivas, utilizando-se das armas da impiedade disfarçada de dedicação à Causa. O servidor da verdade permanece-lhe fiel, não divulgando o mal, mas apresentando o bem; mesmo do erro tirando a melhor parte, aquela que serve de lição para não se voltar ao engano ou não se estabelecerem novos compromissos negativos. Confiai, filhos dedicados! Vossos passos na Terra devem deixar sinais que possam servir de roteiro para os que vierem depois.
  • 57. O nosso compromisso é com Jesus, o Amor, e com Allan Kardec, a razão, para que a religião cósmica da verdade domine os corações humanos, restaurando no planeta a era da legítima fraternidade. O Espiritismo vem desempenhando o papel para o qual foi codificado. Não nos detenhamos na análise dos impedimentos, dos erros, mas examinemos a extensão dos benefícios que hoje conduzem milhões de vidas que se norteiam para o Bem. Não guardemos qualquer ressentimento, nem nos deixemos entristecer ou entibiar, quando as forças parecerem diminuídas. Não nos permitamos desanimar, porquanto o nosso é um trabalho pioneiro, a nossa é uma tarefa caracterizada pelo estoicismo. Nossa jornada deve estar assinalada pelo amor, e é
  • 58. natural que ainda não haja lugar para ele entre muitos Espíritos que se encontram em níveis de evolução diferentes. Avancemos unidos. O ideal de unificação vem do mundo espiritual para a Terra. Se não formos capazes de discutir as nossas dificuldades idealistas em clima de paz, de fraternidade, de respeito mútuo, de dignificação dos indivíduos e das instituições, que mensagem podemos oferecer ao mundo e às criaturas estúrdias deste momento?! Tem-se a medida do valor moral do homem pelas resistências que vive nas lutas que trava. Os ideais tomam-se grandiosos pelo que provocam nos inimigos gratuitos do progresso. A Doutrina Espírita, repitamos, é Jesus, meus filhos, em nova linguagem perfeitamente compatível com os arroubos da Ciência e os fatos demonstrados pela experimentação de laboratório, assim com pelas
  • 59. conquistas tecnológicas. Mas, a criatura humana, que é o laboratório da própria evolução, no seu encontro com Jesus através da fé racional, clara e nobre, é o campo onde o bem se instalará em definitivo, como célula do organismo social. E dessa criatura transformada teremos a sociedade melhor que o Espiritismo deve construir. Fiquem, no passado, todos os problemas-desafios. Fiquem, no silêncio das nossas palavras e no verbo das nossas ações edificantes, os nossos propósitos de servir, confiando que a casa construída na rocha sobreviverá aos fatores externos que, aparentemente, a ameaçam, e o ideal sobrepairará conduzindo todos ao imenso fanal da plenitude. Senhor de nossas vidas, prossegue conduzindo-nos! Ovelhas tresmalhadas que somos do Teu rebanho, apieda-Te da nossa tibieza de caráter, da nossa fragilidade moral e conduze-nos com Tua paciência de Pastor multimilenário, que nos guarda pelas trilhas da
  • 60. evolução. Despede-nos, Excelente Filho de Deus, enriquecidos de paz e de entusiasmo, na certeza de que nunca nos deixará a sós, mesmo quando, por qualquer circunstância, nos resolvamos afastar de Ti; concede- nos então uma outra oportunidade, permanecendo conosco por todo o tempo. Que assim seja! Muita paz, meus filhos. Que o Senhor permaneça conosco, são os votos do servidor humílimo e fraternal de sempre. Autor: Bezerra de Menezes Psicografia de Divaldo Franco DECLARAÇÕES DO Dr. BEZERRA DE MENEZES, FEITAS EM 15 DE OUTUBRO DE 1892 PUBLICADAS NA REVISTA REFORMADOR Nasci e criei-me, até aos 18 anos, no seio de uma família
  • 61. tradicionalmente católica, que levava a sua crença até à aceitação de um absurdo, por mais repugnante que fosse, imposto à fé passiva dos crentes, pela Igreja Romana. Aprendi aquela doutrina e acostumei-me às suas práticas, mas empiricamente, serra procurar a razão da minha crença. Dois pontos, entretanto, me apareciam luminosos no meio daquela névoa; eram: a existência da alma, responsável por suas obras, e a de Deus, criador da alma e de tudo o que existe. Ao demais, eu considerava sagrado tudo o que meus pais me ensinavam a crer e a praticar; a religião católica, apostólica, romana. Aos 19 anos, e naquela disposição de espírito, deixei a casa paterna, para vir fazer meus estudos na capital do Império, onde vivi, mesmo no tempo de estudante, sobre mim, sem ter a quem prestar obediência. Continuei na crença e práticas religiosas que eu trouxe, do berço, mas, na convivência com os moços, meus colegas, em sua maior parte livres pensadores, ateus, comecei batendo-me com eles - e acabei concorde com eles, parecendo-me excelso não ter a gente que prestar conta de seus atos. Não foi difícil esta mudança, pela razão de não ser firmada em fé raciocinada a minha crença católica; mas, apesar disto, a mudança não foi radical, porque nunca pude banir de todo a crença em Deus e na alma. Houve em mim uma perturbação, de que nasceu a dúvida. Fiquei mais céptico do que cristão - e cristão somente por
  • 62. aqueles dois pontos Em todo o caso deixei de ser católico - e via os meus dois pontos luminosos por entre as nuvens. Casei-me com uma moça católica, a quem amava de coração - e sempre respeitei suas crenças, guardando nos seios de minha alma a descrença. No fim de quatro anos, fui subitamente batido pelo tufão da maior adversidade que me podia sobrevir: minha mulher me foi roubada pela morte, em 20 horas, deixando-me dois filhinhos, um de 3 anos e outro de 1 Aquele fato produziu-me um abalo físico e moral, de prostrar-me. As glórias mundanas, que havia conquistado mais por ela que por mim, tornaram-se-me aborrecidas, senão odiosas, e, como delas, coisas da terra, eu não via nada, nada encontrei que me fosse de lenitivo a tamanha dor. Sempre gostei de escrever, mas inutilmente tentava fazê-lo, porque, no fim de poucas linhas, tédio mortal se apoderava de mim. A leitura foi sempre a minha distração predileta, mas dava-se a este respeito o mesmo que a respeito de escrever: abria um, outro, outro livro sobre ciência, sobre literatura, sobre o que quer que fosse, mas não tolerava a leitura de uma página sequer. Um dia, meu companheiro de consultório trouxe da rua um exemplar da Bíblia, tradução do padre Pereira de Figueiredo, entressachado de estampas finíssimas.
  • 63. Tomei o livro, não para ler, que já não tentava semelhante exercício, mas para ver as estampas, com verdadeira curiosidade infantil. Passei todas em revista, mas, no fim, senti desejo de ler aquele livro que encerrava minhas perdidas crenças, e também porque eia vergonha para um homem de letras dizer que nunca o lera. Comecei, pois, e esqueci-me a ler o belo livro, até perder a condução para minha casa; e, depois que cheguei à residência, sentia prazer em pensar que voltaria a lé-lo! Eu mesmo fiquei surpreendido do que se passava em mim! Li toda a Bíblia e, quanto mais lia, mais vontade tinha de continuar, fruindo doce consolação com aquela leitura. Quando acabei, eu sentia a necessidade de crer, não nessa crença imposta à fé, mas numa crença firmada na razão e na consciência. Onde lhe descobrir a fonte? Atirei-me à leitura dos livros sagrados, com ardor, com sede; mas sempre uma falha ao que meu espírito reclamava. Começaram a aparecer as primeiras notas espíritas no Rio de Janeiro; mas eu repelia semelhante doutrina, sem conhecê-la nem de leve! Somente porque temia que ela perturbasse a tal ou qual paz que me trouxera ao espírito a minha volta à religião de meus maiores, embora com restrições. Um colega (Dr. Joaquim Carlos Travassos), porém, tendo traduzido O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, fez-me
  • 64. presente de um exemplar, que aceitei, por cortesia. Deu-mo na cidade, e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro, e, não tendo distração para a longa e fastidiosa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto; e, depois, é ridículo confessar-me ignorante de uma filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia, mas não encontrava nada que fosse novo para o meu espírito, e entretanto tudo aquilo era novo para mim! Dava-se em mim o que acontece muitas vezes a quem muito lê, e que um dia encontra uma obra onde se lhe deparam idéias, que já leu, mas que não sabe em que autor. Eu já tinha lido e ouvido tudo o que se acha em O Livro dos Espíritos, mas eu tinha a certeza de nunca haver lido obra alguma espírita, e, portanto, me era impossível descobrir onde e quando me fora dado o conhecimento de semelhantes idéias! Preocupei-me seriamente com este fato que me era maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, como se diz vulgarmente, de nascença, e que todas essa vacilações que meu espírito sentia eram marchas e contramarchas que ele fazia, por descobrir o que lhe era conhecido e, porventura, obrigado a isto. Eis o que fui e em que crença vivi, até que me tornei
  • 65. espírita Apesar de convencido da verdade do Espiritismo, eu nunca tinha assistido, nem tentado assistir a qualquer trabalho experimental, confirmativo sequer da comunicação dos Espíritos Tendo sido atacado de dispepsia, que me reduziu a um estado desesperador, sem que me tivesse proporcionado o menor alívio a medicina oficial, apesar de ter eu recorrido aos mais notáveis médicos desta capital, resolvi, depois de um sofrimento de cinco anos, recorrer a um médium receitista, em quem muito se falava, o Sr. João Gonçalves do Nascimento. Eu não acreditava nem deixava de acreditar na medicina medianímica, e confesso que propendia mais para a crença de que o tal médium era um especulador. Em desespero de causa, porém, eu recorreria a ele, mesmo que soubesse ser um curandeiro. Tentava um recurso desesperado, e fazia uma experiência sobre a mediunidade receitista Era preciso, porém, visto que se tratava de urna experiência, que eu tomasse todas as cautelas, para que ela me pudesse dar uma convicção fundada. Combinei com o Dr. Maia de Lacerda, completamente desconhecido de tal médium, ser ele que fizesse pessoalmente a consulta, recomendando-lhe que assistisse ao trabalho do médium, enquanto este escrevesse, e pedisse-lhe o papel, logo que acabasse de escrever; porque bem podia ter ele um médico hábil, por detrás do reposteiro, que lhe
  • 66. arranjasse aquelas peças. É verdade que um médico, não sabendo de quem se tratava, visto que só dava ao médium o nome de batismo e a idade dos consulentes, não podia adivinhar-lhe os sofrimentos, mas, em todo o caso, eu queria ter a certeza de que era exclusivamente do médium, homem completamente ignorante de medicina. O Dr. Lacerda fez como lhe recomendei, e trouxe-me o que, a meu respeito, escreveu o médium, que não podia reconhecer-me por meu nome próprio, "Adolfo", não só porque há muitas pessoas com este nome, como porque sou conhecido geralmente por Bezerra de Menezes, e bem poucos dos que não entretêm relações íntimas comigo sabem que me chamo Adolfo. Tomei o papel, que dizia: "O teu órgão, meu amigo (era o Espírito que falava ao médium), não é suficiente para satisfazer este consulente, em vista das circunstâncias de sua elevada posição social (eu era membro da Câmara dos Deputados) e principalmente de sua proficiência médica. "Entretanto, como não dispomos de outro, faremos com ele o mais que pudermos. "Vejo do organismo do consultante . . ."; seguia-se uma descrição minuciosa de meus sofrimentos e suas causas determinantes, tão exatos aqueles, quanto perfeitamente fisiológicas estas. Não posso descrever o abalo que me produziu este fato estupendo!
  • 67. Segui o tratamento espírita, e o que os mestres da Ciência não conseguiram em cinco anos, Nascimento obteve em três meses. Em três meses, eu estava completamente curado; estava forte, comia e dormia perfeitamente bem, era um homem válido, em vez de um valetudinário. Logo após este fato, deu-se o de ser minha segunda mulher condenada como tuberculosa em segundo para terceiro grau, por importantes médicos, e disse Nascimento, a quem consultei, com as precisas cautelas para ele não saber de quem se tratava: "Enganam-se os médicos que diagnosticaram tuberculose (quem lhe disse que os médicos haviam feito tal diagnóstico?) "Esta doente não tem tubérculo algum. Seu sofrimento é puramente uterino, e, se for convenientemente tratada, será curada. "Se os médicos soubessem a relação que existe entre o útero, o coração e o pulmão esquerdo, não cometeriam erros como este." Sujeitei a minha doente, já que tinha febres, suores e todos os sinais da tisica em grau avançado, ao tratamento espírita, e em poucos meses tudo aquilo desapareceu, e já são decorridos dez anos, durante os quais ela tem tido e criado quatro filhos, sem mais sentir nenhum incomodo nos pulmões. Como resistir à evidência de fatos tais? Depois deles comecei as investigações experimentais sobre
  • 68. os vários pontos da doutrina, e posso afirmar, daqui, que tenho verificado, quanto é permitido ao homem alcançar em certeza, a perfeita exatidão de todos os princípios fundamentais do Espiritismo. Não cabe num trabalho desta ordem referir o resultado experimental alcançado sobre cada um, e por isto me limito a dizer: O espiritismo é para mim uma ciência, cujos postulados são demonstrados tão perfeitamente como se demonstra o peso de um corpo. Nada me impressionou mais do que ver um homem, sem conhecimentos médicos até sem instrução regular, discorrer sobre moléstias, com proficiência anatómica e fisiológica, sem claudicar, como bem poucos médicos o podem fazer. Mais do que isto, porém, é, para impressionar, ver dizer um indivíduo, que não se conhece, que não se examina, de quem não se colhem sequer informações, e não se sabe senão a idade -dizer, em tais condições, que sofre de tais moléstias, com tais e tais complicações, por tais e tais causas, e confirmar o diagnóstico pelo resultado eficaz do tratamento aplicado naquele sentido. 'Tive, porém, de minha experiência pessoal, outro fato que muito me impressionou. Eu estava em tratamento com o médium receitista Gonçalves Nascimento, e este costumava mandar-me os vidros, logo que eu acabava uma prescrição, por um primo meu, estudante de preparatórios, que morava em minha casa, na Tijuca, a uma hora de viagem da cidade.
  • 69. Meu primo costumava, sempre que me trazia os remédios (homeopáticos) da casa do Nascimento, entregar-me os vidros em mão, e nunca, durante três meses que já durava meu tratamento, me trouxe do médium recado por escrito, senão simplesmente os vidros de remédios, tendo no rótulo a indicação do modo pelo qual devia ser tomado. Um dia, deixei de ir à Câmara dos Deputados, de que fazia parte, e, pelas duas horas da tarde, passeava, na varanda, lendo uma obra que me tinha chegado às mãos, quando me apareceu um vizinho, Sr. Andrade Pinheiro, filho do Presidente da Relação de Lisboa, e moço de inteligência bem cultivada. O Sr. Pinheiro não conhecia o Espiritismo, senão de conversa, e como eu fazia experiência em mim, ele aproveitava a minha experiência, para fazer juízo sobre a verdade ou falsidade da nova Doutrina. Depois dos primeiros cumprimentos, perguntou-me como ia eu com o tratamento espírita. Respondi-lhe com estas palavras: "Estou bom; sinto apenas uma dorzinha nos quadris e uma fraqueza nas coxas, como quem está cansado de andar muito." Conversamos sobre o fato de minha cura em três meses, quando nada alcancei com a medicina oficial, em cinco anos, e passamos a outros assuntos, até que, uma hora pouco mais ou menos depois, entrou meu primo com os vidros de remédios e com um bilhete, escrito a lápis, que me mandava Nascimento, e que dizia: "Não, meu amigo, não estás bom como pensas.
  • 70. "Esta dor nos quadris, que acusas, esta fraqueza das coxas, são a prova de que á moléstia não está de todo debelada. "'Es médico e sabes que muitas vezes elas parecem combatidas, mas fazer erupções, porventura perigosas. "Tua vida é necessária; continua teu tratamento." É fácil compreender a surpresa, a admiração, o abalo profundo que produziu na minha alma um fato tão fora de tudo o que tinha visto em minha vida. Repetiram-se, da cidade, textualmente, as minhas palavras, como só poderia fazer quem estivesse ao alcance de ouvi-Ias! Efetivamente, calculado o tempo que leva o bonde da casa do Nascimento à minha, reconhecemos, eu e Pinheiro, que aquela resposta me fora dada, na cidade, precisamente à hora em que eu respondia, na Tijuca, à interpelação de meu visitante. Pode haver fatos mais importantes no domínio do Espiritismo; eu porém, não tive ainda nenhum que me impressionasse como este, e, atendendo-se ao tempo em que ele se deu (quando eu estava sujeitando à prova experimental a nova doutrina), compreende-se que impressão poderia causar-me. Creio que se eu fosse ainda um incrédulo, desses que fecham os olhos para não ver, ainda assim não poderia resistir à impressão que me causou semelhante fato. Saulo não teve, mais do eu teria, razão para fazer-se Paulo. Influência física, nenhuma senti; porém, moralmente sou outro homem.
  • 71. Minha alma encontrou finalmente onde pousar, tendo deixado os espaços agitados pelo vendaval da descrença, da dúvida, do cepticismo, que devasta, que esteriliza, que calcina, se assim me posso exprimir, recordando as torturas de quem sente a necessidade de crer, mas não encontra onde assentar sua crença. E não encontrava onde assentar minha crença, porque o ensino de Jesus - que uma força intrínseca e uma disposição psíquica me levaram a procurar, como o nauta perdido na vastidão dos mares procura o Norte - me era oferecido sob um aspecto impossível de acomodar-se com um sentimento íntimo, instrutivo, exato, que me desse a razão e a consciência de ali estar a verdade; mas a verdade não é aquilo. Ah! a Igreja Romana! a Igreja Romana! O Cristianismo nunca terá tão formidável inimigo! O materialismo nunca terá aliado tão prestimoso! Eu já disse como, antes de aceitar o Espiritismo, vivi a fugir de toda a crença religiosa, por não poder aceitar uma que impõe à fé, por decreto de seus ministros, e a ser arrastado para essa mesma crença, que não podia aceitar, como se mão amiga me arrastasse para o cascalho, dentro do qual estava incrustado o brilhante. Eu já disse como me abracei com o cascalho para não rolar no abismo da descrença, e como aquela mão me impeliu para ele, quebrou-o a meus olhos, e me fez patente o brilhante nele contido. Minha alma encontrou finalmente onde pousar!
  • 72. Posso dizer o meu "credo" espírita, com aplauso de minha consciência, e não por força de uma autoridade que se arroga o direito de impor a fé! '" Nestas condições, tendo encontrado a linfa que me saciou a sede de crer, posso ser mais o que era antes? A moral cristã, iluminada pelos inefáveis princípios do Espiritismo, não pode deixar de modificar, para melhor, a quem cultiva não somente por dever, mas também e principalmente por nela ter encontrado a paz do espírito! Não sou, por minha fraqueza, o que ela deve fazer do coração humano; não posso julgar, sem incorrer em orgulho ou falsa modéstia; mas posso assegurar que já compreendo os meus deveres para com Deus, para com os meus semelhantes, de um modo diverso, acentuadamente mais elevado, que antes de ser espírita. Julgo, pois, que me é lícito dizer que as novas opiniões acarretaram para mim sensível modificação moral. E, para confirmá-lo, basta consignar este fato: Antes de ser espírita, só pensar em perder um filho, fazia-me mentalmente blasfemar, punha-me louco. Depois de espírita, tenho perdido quatro filhos adorados, e depois de criados, louvando e agradecendo ao Pai de amor ter provado, por aquele modo, minha obediência a seus sacrossantos decretos. ***
  • 73. Esta declaração de princípios, cuja leitura é imprescindível para o conhecimento da firmeza de caráter e amplitude da fé nos desígnios superiores do DR. BEZERRA DE Menzes, que tanta bondade e amor dispensa aos seus filhos amados , foi tirado do livro "VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES", escrito por Sylvio Brito Soares, editado, em sucessivas edições, pela FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA, obra que poderá ser encontrada nas boas livrarias e cuja leitura recomendamos a todos àqueles que quiserem conhecer um pouco mais da sua vida, composta de muitas lutas e muitas glórias, principalmente no que tange ao Mundo Espiritual. Neste mês de abril, o movimento espírita brasileiro presta a este importante vulto do Cristianismo Revivido, que nos proporciona a verdade através da fé raciocinada, uma homenagem singela e comovente. Erguem-se nossas preces, ao alto, para agradecer a Deus, Pai Amantíssimo, permitir permaneça Dr. Bezerra de Menezes, em espírito, no nosso meio, amparando-nos e aliviando-nos em todas as necessidades, físicas ou espirituais, quando, mercê a sua elevação, poderia ascender a planos mais elevados. ' No dia 11 de abril de 1900, às onze horas e trinta minutos, retomava o seu espírito à Pátria Eterna. O seu desenlace foi acompanhado com muita tristeza, mas nenhum desespero, por um grande número de seus "filhos amados". Cem anos - 1° Centenário. Fonte: LUZ DO EVANGELHO 176 - ABRIL DE 2000
  • 74. ATITUDE DE AMOR Um Novo Tempo para a Doutrina Espírita Pois, se amardes os que vos amam, que galardão havereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? Jesus em Mateus. 5:46 A Conferência de Bezerra de Menezes Na primeira noite após o memorável Congresso Espírita Brasileiro (1), fomos convocados para ouvir a palavra sóbria e cândida do paladino da unificação, Bezerra de Menezes, em ativo núcleo de nosso plano destinado aos empreendimentos voltados para o Consolador. Ainda invadidos pelos sentimentos sublimes despertados pelo inesquecível conclave ora encerrado na cidade de Goiânia, trazíamos nossa mente imersa em profundas meditações acerca do quanto a ser feito ante as perspectivas descerradas. No momento azado, dirigimo-nos para o salão onde se daria o conclave. Chegamos minutos antes no intuito de rever companheiros queridos que labutavam em plagas distantes e que, a convite de Bezerra, mantiveram-se ali
  • 75. após o congresso exclusivamente para ouvir-lhe a palestra. A lotação era para cinco mil participantes e não havia lugares desocupados. Eram os trabalhadores do evento ora realizado, militantes da Seara em outros continentes, poetas, educadores, seareiros dos primeiros tempos, personagens da história brasileira, enfim, grupo imenso; todos comprometidos com os destinos do Espiritismo. Representações de caravaneiros de todos os estados brasileiros e dos países participantes do magno evento também estavam presentes, além dos servidores anônimos que se prestaram aos mais variados serviços de amparo e defesa pelo bem da tarefa concluída no plano físico. Seria impossível relacionar todos, mas com intuitos que atendem a nossas ponderações do momento destacamos a presença de Robert Owen (o filho), César Lombroso, Humberto Mariotti, Milton O'Relley, Anita Garibaldi, Helena Antipoff, Edgard Armond, Torteroli, Jean Baptiste Roustaing, Benedita Fernandes, Deolindo Amorim, Herculano Pires, Carlos Imbassahy, Freitas Nobre, Toulosse Lautrec, Tarsila do Amaral, Frederico Fígner, Cassimiro de Abreu, Olavo Bilac, Castro Alves, Antônio Wantuil de Freitas, Alziro Zarur, Rui Barbosa, Antônio Luiz Sayão, Antônio Olímpio Telles de Menezes, Cairbar Schutel. Fomos chamados para o instante aguardado. Uma pequena e singela mesa com um belíssimo ornamento de flores embelezava o palco ao lado de potente aparelho sonoro dirigido ao grande público presente. Tudo guardando extrema simplicidade. Sem cerimônias e
  • 76. delongas, após oração comovida por parte de nosso condutor é passada a oportunidade ao imbatível “médico dos pobres”(2): Um Novo Tempo para o Movimento Espírita. Irmãos, Jesus seja nossa inspiração e Kardec a luz de nossos raciocínios. O cinqüentenário do acordo de unificação, o Pacto Áureo, ainda agora enaltecido pela comunidade espírita mundial, é vitória de incomensurável quilate espiritual para a glória do Espiritismo. Os esforços não foram em vão. Passado o conclave nosso olhar se volta, mais que nunca, para o futuro. Sem demérito de qualquer espécie a corações que têm feito o melhor que podem, os que aqui se encontram presentes conhecem de perto a extensão das necessidades com as quais estamos lidando. E ainda agora, enquanto muitos se encontram inebriados com a nobre comemoração face às conquistas logradas em meio século de serviço austero, atentemos para o quanto nos falta caminhar, a fim de merecermos com justiça o título de Cristãos da nova era. Evolução Cronológica das Idéias Espíritas. Desde as primeiras idéias para a formação das bases organizativas do movimento, são passados quase cem anos. O progresso é evidente. Entretanto, não será demais e insano afirmar que, a despeito das conquistas, encontramo-nos na infância de