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DISCLAIMER
Este documento é um extrato(páginas 6 à 16) do relatório final individual e diferenciado
para cada bolsista/colaborador O Consumo De Música Através Das Redes Sociais Na
Internetda pesquisa A Co-Evolução Das Formas E Preferências Estéticas: Uma
Investigação Sobre Mudanças De Linguagem E De Gosto Na Cultura Midiática do
Programa Institucional De Bolsas De Iniciação Científica – Pibic Cnpq/Ufal/Fapeal
2010/2011 de orientação do professor doutor Ronaldo Bispo Dos Santos e autoria de Tiago
Alves Nogueira de Souza apresentado em 2011 durante o VIII Congresso Acadêmico da
Universidade Federal de Alagoas.


    Ao fazer citações deste documento, favor utilizar esta referência bibliográfica:

SANTOS, Ronaldo; NOGUEIRA, Tiago. O Consumo De Música Através Das Redes
Sociais Na Internet. In: VIII Congresso Acadêmico da Universidade Federal de Alagoas,
2011, Maceió. Anais, 2011.

               Observar também que o documento começa na página 6.
RESULTADOS E DISCUSSÃO


        O primeiro semestre foi essencialmente teórico, embora algumas pesquisas práticas
tenham sido conduzidas durante este período, a saber: um estudo sobre o uso das mídias
sociais nas escolas públicas e privadas de Maceió; uma análise do vlog de PC Siqueira,
comparando-o como crônica contemporânea em formato de vídeo e; um estudo sobre o
consumo de músicas através da plataforma de vídeo online YouTube.
        Foram lidos e discutidos vários livros, artigos e referênciais teóricos, como: Os
meios de comunicação como extensões do homem (1995), de Marshall McLuhan; A
inteligência coletiva (1998), Cibercultura (2000) e o que é o virtual? (1999), de Pierre
Lévy; O Culto do Amador (2009), de Andrew Keen; Rumos da Cultura da Música (2010),
organizado por Simone Pereira de Sá; alguns artigos produzidos por Adriana Amaral (2003,
2010); Click (2009), de Bill Tancer; Redes Sociais na Internet (2008), de Raquel Recuero;
YouTube e a revolução digital (2009), de Jean Burgess e Joshua Green; A cultura da Mídia
(2001), de Douglas Kellner; Free (2009) e A cauda Longa (2006), de Chris Anderson;
Evolutionary Aesthetics, organizado por Eckart Voland; A Cultura da Convergência, de
Henry Jenkins (2008); A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, de Walter
Benjamin; Culturas e artes do pós-humano (2003) e Cultura das Mídias, de Lúcia Santaella;
@rte e mídia (2005), de Priscila Arantes; além de vários outros artigos.
        No segundo semestre, a maior parte da pesquisa se deu de forma empírica e de
observação. Fixamos o trabalho no estudo das redes sociais Blip.fm e Facebook, onde a
primeira resultou em um artigo apresentado durante o Congresso Regional Sudeste da
Intercom edição 2011.
        O artigo se propôs a analisar as novas práticas de consumo musical online com foco
na plataforma BLIP.fm, refletindo sobre questões fomentadas a partir da colaboração, da
construção de identidades online através da música como capital simbólico fundamental
para afirmação individual e das relações travadas entre os usuários, analisando as
reconfigurações do consumo a partir das transformações de distribuição.
        No estudo do Facebook, procuramos entender como a rede social influenciava direta
e indiretamente no gosto musical de seus usuários, independentemente de que estilo eles
escutassem (rock, pagode, axé, etc.). Foi preparado um formulário online com respostas de
todo o país que compilamos neste relatório.
        Entretanto devemos também lembrar que no primeiro semestre, foi realizado um
estudo sobre o como as pessoas consumiam música na mídia social YouTube.
        Quando o YouTube surgiu em 2005, ninguém poderia prever a grandeza que ele
atingiria e a pluralidade de possibilidades de uso dessa rede social de compartilhamento de
vídeos. O Youtube utiliza o formato Adobe Flash para disponibilizar o conteúdo que pode
ser enviado por qualquer usuário devidamente cadastrado. Embora atualmente seu slogan
seja “Broadcast yourself” (algo como “Transmita-se”), nos primeiros momentos de sua
existência ele trazia os seguintes dizeres: “your digital video repository” (seu repositório de
vídeos digitais). Pode-se dizer que ele é, na verdade, um pouco dos dois.


                                                                                             6
As pessoas tanto usam o youtube para se transmitir como para armazenar seus
vídeos favoritos. Nesse meio, além de vídeos de família, gravações caseiras e vídeos
amadores, também encontramos covers de bandas e artistas desconhecidos, bootlegs e
gravações de shows, além de clips musicais – legais e ilegais. O potencial do Youtube para
armazenar a cultura da era contemporânea é muito grande. Velhos vídeos que jamais
seriam vistos novamente, ganham vida no Youtube. Jean Burgess e Joshua Green (2009)
comentam:

               (...) se o YouTube persistir tempo suficiente, o resultado será não apenas um
               repositório de conteúdo de vídeos antigos, mas algo até mais significativo: um
               registro de conteúdo popular contemporâneo global (incluindo a cultura venacular e
               cotidiana) na forma de vídeo, produzida e avaliada de acordo com a lógica do valor
               cultural que emerge das escolhas coletivas da compartilhada comunidade de
               usuários do YouTube. (BURGESS E GREEN, 2009: pg. 120)

        O homem está colocando cada vez mais sua cultura no ciberespaço. As pessoas
nunca foram tão virtuais como atualmente. Outro ponto fundamental que norteou o artigo
foi o consumo musical na contemporaneidade. Mp3 players, computadores portáteis,
smartphones, dentre outros aparelhos modificaram a forma como consumimos música. As
pessoas nunca consumiram tanta música como no século atual.
        Acredito que exista um misto desses elementos no site YouTube. Apesar de
existirem várias redes sociais de compartilhamento de músicas, 32% das pessoas que
acessam ao YouTube nos Estados Unidos o utilizam para ver vídeos relacionados à música,
segundo o Pew Institute of research (A atividade mais comum no Youtube é assistir vídeos
de humor) Recentemente tivemos também o caso dos cantores pop Lady Gaga e Justin
Bieber que atingiram marcas histórias no YouTube: seus canais 1 no foram assistidos mais
de 1 bilhão de vezes. Mesmo sendo um site cujo principal motor seja o compatilhamento de
vídeos, muitas pessoas acessam o YouTube com o intuito único de escutar música, como
comprovaremos mais adiante em nossa pesquisa.
        Portanto, o principal objetivo deste trabalho foi analisar como os usuários do
YouTube consomem música através deste site, uma. Para tanto, foi aplicado um
questionário, entre os dias 18 e 24 de Novembro de 2010, obtendo 209 respostas acerca de
assuntos relacionados à esse consumo. Foram escutadas pessoas de várias faixas etárias,
sendo que a predominante foi a dos 18 aos 24 anos, compondo 64,11% da amostra. A
pesquisa também dividiu os usuários entre gênero, sendo que 75,60% deles eram do sexo
masculino. Apesar dessas divisões, os resultados mostraram-se praticamente os mesmos,
indepentemente da idade ou do sexo do usuário.
        O youtube é muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É também uma
rede musical viva e ativa que recebe diáriamente milhões de acessos de pessoas em busca


1
 http://www.youtube.com/user/LadyGagaVEVO e http://www.youtube.com/user/JustinBieberVEVO,
respectivamente

                                                                                               7
de música, não de vídeos. Entretanto é importante observar que o vídeo não deve ser
excluído do processo, pois os consumidores musicais entram no site em dois momentos
distintos como pudemos observar.
        Existe, de fato, aquele consumidor que deseja realmente assistir ao vídeo. E aí a
qualidade gráfica do mesmo torna-se extremamente relevante e casos de sucesso no
youtube como a Lady Gaga são a prova disso. Por outro lado o mesmo consumidor pode
entrar no site com o intuito de meramente escutar uma música. Aí a qualidade do vídeo não
é tão significativa o que responde a questão do porquê de vídeos feitos apenas com imagens
e fotografias serem tão populares.
        Num outro momento neste trabalho observei a questão da cauda longa presente nas
buscas por vídeos musicais. Os clips, entrevistas, show, etc. oficiais são muito poucos,
embora gerem isoladamente um número alto de acessos. Os outros vídeos relacionados
(covers, músicos amadores, bootlegs, vídeos com imagens colocadas por fãs, etc.)
representam uma quantidade muito maior de vídeos, mas que não são tão assistidos como
os oficiais. Entretanto, a soma total desses vídeos supera o número de exibições dos clips
isolados.
        Finalmente, observei o uso do YouTube como um player online de músicas. Os
consumidores criam listas de reprodução de vídeos no intuito de escutar músicas, não de
visualizar os vídeos. Essa característica pode ser afirmada ao observar sites como o blip.fm,
onde os usuários colocam músicas à partir do youtube para seus seguidores.
        O YouTube é, então, muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É uma
plataforma multimídia completa. Os usuários de fato o utilizam como um player de músicas
e a música é tão presente no youtube que em 2010 o YouTube “premiou” três categorias de
vídeos: os mais assistidos do ano, os termos de busca que cresceram mais rapidamente e
os vídeos de música mais assistidos. Entretanto, na categoria de vídeos de música mais
assistidos não visualizamos nenhum vídeo amador. Talvez a criação dessa categoria seja
uma forma de melhorar a imagem da empresa junto às gravadoras. Por outro lado o
YouTube se mantém forte como divulgador de cultura vernacular ao ter muitos vídeos
amadores na lista dos vídeos mais assistidos do ano.
        No artigo sobre o Blip.fm observamos que as pessoas são o combustível natural de
qualquer estilo musical enquanto fenômeno cultural e audível, pois a música que não
possui ouvintes tende a desaparecer:

              A teoria [ecológica da preferência musical] argumenta que as pessoas são um
              recurso para os tipos de música; formas musicais competem pelo tempo, energia e
              preferências dos indivíduos. Tipos musicais formam nichos em diferentes
              segmentos sociodemográficos da sociedade. Segundo a teoria, o padrão de nicho se
              desenvolve porque as preferências musicais são transmitidas através laços
              homófilos de redes sociais; pessoas semelhantes interagem umas com as outras e
              desenvolvem gostos musicais semelhantes. (MARK, 1998: p. 1)

       O consumo de música vai, portanto, muito além da audibilidade. Afinal, podemos
caracterizar como consumo musical um bate papo entre duas pessoas sobre uma banda ou

                                                                                            8
show? Os fãs vestindo-se como os componentes da banda? Ou o fato de um usuário
modificar seu avatar na rede social com a capa de algum álbum? Acreditamos que sim,
sustentados pela ideia de cultura como produção sígnica e simbólica de Lúcia Santaella:

              Nos anos 70, a ênfase da antropologia no caráter simbólico da cultura encontrou
              forte complementaridade na semiótica da cultura. Como afirma Nöth (2000: 513),
              se a cultura é um sistema “simbólico de forma”, conforme definição de Cassirer,
              então a semiótica é uma ciência da cultura par excellence, pois ela é a ciência
              universal dos signos e dos símbolos. Por isso mesmo, pode-se afirmar que muitos
              dos temas da antropologia cultural são, por natureza, temas semióticos.
              (SANTAELLA, 2003, p. 47)

        Redes sociais online como Blip.fm facilitam o consumo de música, pois estimulam
a conexão entre pessoas de gostos similares, num esforço que garante um aumento da meia-
vida de qualquer estilo musical. Esse é um ponto fundamental que a internet proporcionou.
A conexão entre pessoas com gostos em comum, porém distantes geograficamente. A
evolução de novos estilos pode ser construída, portanto, sem a necessidade do local, do
imediato. A construção de amizades por afinidade garante a continuação de estilos que, de
outra forma, desapareceriam.
        As redes sociais propiciam um ambiente mais cômodo para a troca de capitais
sociais onde o consumo de outras propriedades pode ser feito mais facilmente. No sentido
do consumo cultural, não somente as redes sociais, mas a própria internet e as mídias
digitais favoreceram um consumo mais veloz, prático e imediato. Para McLuhan (1995, p.
35), o computador, por exemplo, seria uma “extensão do nosso sistema nervoso central”,
introduzindo um novo ambiente humano – o informacional – e, assim, era responsável pela
configuração de novos âmbitos de sociabilidade a partir deste novo ambiente:

              As novas formas de consumo musical estão alterando a cultura contemporânea. As
              comunidades virtuais favorecem a continuação dos mais diversos estilos musicais,
              uma vez que todos estão devidamente conectados. Os produtores musicais dispõem
              de várias possibilidades para divulgar seu conteúdo graças à internet. Se por um
              lado existe a questão do download ilegal, por outro existe a possibilidade de atingir
              um nível em escala global muito mais elevado e com um custo muito inferior ao do
              século passado. (BISPO, DIAS e NOGUEIRA, 2011, p. 11)

        Para a conclusão da pesquisa, aplicamos ainda um questionário, procurando
identificar como os usuários da rede social Facebook utilizam suas conexões virtuais para o
consumo musical. Acreditamos que as redes sociais do tipo “gerais” (também conhecidas
como rede sociais de amizades, ou rede sociais de relacionamento) jogam um papel
importante na modificação de estilos musicais, uma vez que a comunidade musical pode ser
vista também como uma consequência de uma coesão social.
        Buscamos, portanto, compreender fundamentalmente os fatores extra-estéticos das
redes sociais na internet:

                                                                                                 9
Por aspecto extra-estético entendemos tudo aquilo que pode ajudar a explicar
                 a emergência de um produto midiático e que não está especificamente
                 relacionado à tradição ou ao acervo artístico-cultural já realizado. Entram
                 aqui portanto uma miríade de aspectos, influências, contextos que podem ter
                 determinado a formatação de uma nova manifestação estética. (BISPO,
                 2009, p. 10)


        As modificações nos estilos pessoais, isto é, na forma como um conjunto de pessoas
se compreende como parte de um grupo, é altamente influenciado pela música. Isso não
significa dizer que a música é responsável pela criação de novos estilos. Ao contrário,
música, vestimenta, gírias, devem ser vistas como uma unidade única. Mas é a música o
principal responsável pela proliferação de novos estilos.

                 A música tem um papel importante no desenvolvimento deste novo estilo, ela serve
                 para criar e expressar a coesão social (Noah 1998, Hagen, 2002). Ela une as pessoas
                 ao ficar sinalizando uma identidade de grupo e promovendo a interação social.
                 Durante estes encontros de música, as pessoas veem como os outros se vestem e
                 falam. Em outras palavras, a música provê o local onde as pessoas podem ser
                 influenciadas por outras. (ESPINOZA, s / d; p. 3)2

        Embora na prática qualquer movimento social seja de grande importância para a
modificação das novas maneiras de consumir do ator em potencial, podemos afirmar que a
plataforma de rede socialFacebook afeta ao menos metade de seus participantes, conforme
as respostas vistas no questionário.
        Ao todo, foram entrevistadas 55 usuários de diversas partes do país. O questionário
foi aplicado online e divulgado através de blogs, Twitter e Facebook. Para adquirir uma
parte do perfil econômico dos usuários, perguntamos sobre a velocidade da internet
contratada, se possuem smartphones com acesso à internet 3G e a idade em anos.
        O formulário teve dois objetivos principais: descobrir se os usuários precisam ser,
de fato, fãs da banda para curtirem suas páginas e; segundo, descobrir o quanto o Facebook
influencia na aquisição de novos gostos musicais.
        O primeiro dado que percebemos é que, em média, os usuários curtem 81 páginas
no Facebook, das quais 22 são de assuntos relacionados à música. Isso significa que
27,16% das páginas curtidas pelos usuários são de bandas, músicos, gravadores e afins.
Esse é um número interessante para observarmos o quanto podemos dizer que a música
influencia no estilo e gosto dos usuários. Numa pesquisa com proporções maiores, existe a



2
 Traduçãonossapara “Music has an important role in the development of this new style; it serves to create and
express social cohesion (Noah 1998, Hagen 2002). It brings people together by signaling a group identity and
promoting social interaction. During these music gatherings, people see how others dress and speak. In other
words, music provides the place where people can be influenced by others.”

                                                                                                           10
possibilidade de analisar um percentual mais correto sobre o quanto a música esta presente
em redes sociais gerais.
        Em seguida, perguntamos “Em média, quantas músicas você precisa gostar para
curtir a página de uma banda/artista no Facebook?”. Entre respostas do tipo “Quase todas”,
“um álbum inteiro” e “apenas uma música”, chegamos à média de 7 músicas para curtir
uma página. Para curtir uma fan page, portanto, não é necessário ser fã de uma banda.
        A próxima pergunta foi “Já ocorreu de você curtir a página de uma banda/música
que você não goste ou se sinta indiferente?”. Nesta pergunta, 80% dos entrevistados
afirmaram que não curtem páginas nessas condições. Pedimos aos usuários que
responderam “sim” a esta pergunta para explicarem o motivo de curtirem a página. Um
usuário respondeu que “[...] não sei se é o caso de não gostar, e sim de não ser realmente
„fã‟, por assim dizer. No Facebook o termo fã ficou meio banalizado. Muitos likes são para
coisas que você acha legal, não necessariamente ama de coração. Para música isso é mais
comum ainda, eu gosto de diversos artistas até por ser músico, não é ser indiferente, mas
não é ser fanático também.”. Outros usuários responderam que curtiram outras bandas por
indicação de amigos e para ajuda-las (bandas iniciantes).
        Em fenômeno observado pelas comunidades do Orkut, constatamos que 80% dos
usuários curtem páginas de bandas/músicos no Facebook apenas para demonstrar
publicamente seu gosto musical. Esse fato reduz drasticamente a interação entre artistas e
fãs na rede social e explica o porquê do número de pessoas que de fato interage com
páginas ser tão baixo.
        Depois, perguntamos para os usuários: “O que leva você a curtir páginas de
bandas/músicos no Facebook?”. Os dados foram compilados na tabela abaixo:
            Tabela 1: razões dos usuários curtirem uma página de banda/músico no Facebook
                                                                              Percentual de usuários
                                Razão
                                                                                 que concordam
Notícias relacionadas à banda/artista                                                         73,21%
Ficar por dentro de novas músicas                                                            73,21%
Ver a agenda da banda/artista                                                                53,57%
Por diversão ou entretenimento                                                               51,79%
Para conhecer melhor a banda/artista                                                         50,00%
Para trocar ideias, interagir, dar feedback, criticar, etc.                                  48,21%
Download de músicas                                                                          42,86%
Promoções/sorteios                                                                           42,86%
Para ter acesso à conteúdo exclusivo da banda dentro do Facebook                             41,07%
Para escutar músicas da banda/artista                                                        35,71%
Ganhar brindes (camisetas, palhetas, adesivos, pôsters, etc.)                                30,36%
Compra de Ingressos para shows                                                               26,79%
Escutar samples (trechos de músicas)                                                         21,43%
Porque alguém me recomendou                                                                  12,50%


       Percebemos então que a maior parte dos usuários buscam informações recentes
sobre a banda. Notícias, últimas músicas, agenda do artista. Por outro lado, temos os que

                                                                                                   11
afirmaram curtir a página para se divertir, e, logo em seguida, para conhecer melhor a
banda. As páginas de Facebook podem, de fato, ajudar os fãs à conhecerem melhor sua
história ou estilo? Em consonância com os dados anteriores, observamos que apenas
12,50% dos usuários disseram curtir a página por recomendação de amigos. Isso significa
que se a banda tem pouco a ver com o perfil de seu amigo na rede social, as chances dele
simplesmente rejeitar o convite são altas.
        Embora a interação com as páginas não seja tão elevada, a interação dentro da
própria rede social com a música é alta. 85% dos usuários afirmaram postar trechos de
músicas ou links com músicas dentro do Facebook.
        Por último, perguntamos se o usuário já acabou conhecendo alguma banda nova
através do Facebook. 56,36% dos usuários responderam que sim. Uma pergunta semelhante
foi feita no estudo do consumo musical no YouTube, apresentado durante o primeiro
COMUSICA. Na ocasião, foi perguntado aos pesquisados “Ao fazer essa busca (referente à
questão anterior) você acabou se deparando com algum material diferente do que buscava e
acabou gostando?” 77,34% responderam que “sim. Portanto, apesar do Facebook ter um
papel importante na aquisição de novos gostos, redes mais específicas como o Youtube, o
blip.fm e o last.fm afetam mais o estilo dos usuários.
        Também analisamos como os artistas estão se apropriando do Facebook para
construir uma comunidade virtual mais forte entre os seus fãs, chegando em quatro
maneiras:
        1. Através das páginas oficiais: Os artistas utilizam as páginas disponibilizadas pelo
Facebook para entrar em contato direto com seus fãs. Os usuários, por sua vez, podem
curtir a página e receber diretamente do seu monitor de Feeds as atualizações dos artistas
(interação mútua) como também podem adicionar fotos e vídeos (quando permitido) e
comentar sobre as novas ações do artista (interação reativa). Alex Primo (2003) define
como os tipos de interação mediadas por computador funcionam através das redes sociais:

                       (...) interação mútua é aquela caracterizada por relações
                       interdependentes e processos de negociação, em que cada interagente
                       participa da construção inventiva e cooperada da relação, afetando-se
                       mutuamente; já a interação reativa é limitada por relações
                       determinísticas de estímulo e resposta (Primo, 2003. p. 61)

        2. Através de perfis oficiais: A maioria dos pequenos artistas não utilizam o formato
recomendado pelo Facebook para interação com os fãs. Eles acabam criando perfis pessoais
para o grupo teatral, para a banda, para o escritor, para o ator, etc. Nestes casos, a interação
se torna mais próxima, por um lado; mas por outro cria problemas de comunicação que
impedem uma comunicação mais fluída na rede social. Os perfis, por exemplo, só podem
ser visualizados por completo se o usuário for membro do Facebook. Do contrário, ele verá
apenas um pequeno resumo do perfil.
        Apesar de ter como foco o uso do Twitter, o trabalho da Paula Falcão e do Fábio
Malini sobre os pop stars (Artistas diretamente vinculados com gravadoras, editoras, etc.) e

                                                                                             12
os nano stars (artistas independentes) evidencia as principais diferenças dos usos das redes
sociais pelos artistas. Os principais usos da rede social são os mesmos tanto para os pop
stars como para os nano stars: divulgar agenda de shows, resultado de shows, aparições na
mídia, notícias sobre trabalhos e atividades dos artistas, interagir com fãs, etc. Mas a
diferença mesmo está em como eles utilizam a rede social para estes fins:

              A análise dos perfis leva a uma evidência: pop divulga pop e nano divulga nano. E
              o hábito de divulgar trabalhos alheios é muito mais comum nos nano. Os tweets dos
              pop são circulares: funcionam como vitrines para eles próprios. Já os dos nano
              formam uma rede de divulgação mútua: são vitrines para muitos artistas. A autoria
              dos tweets dos nano é de responsabilidade dos próprios artistas. Já nos pop, além
              dos artistas postarem, produtores também atualizam. Tanto nanos quanto pops
              interagem com os fãs por meio de perguntas, respostas e RTs. Porém, o ato de pedir
              opiniões ao público por meio de perguntas é característica dos nanos. Enquanto os
              links dos pop direcionam para sites oficiais, os dos nanos direcionam para redes
              sociais, como facebook, myspace e blog. Enquanto nanos divulgam links para
              download de discos, pops divulgam lojas online. A divulgação de links que
              direcionam para a grande mídia é muito mais recorrente nos perfis pop. Nanos e
              pops divulgam vídeos no youtube e fotos de shows, bastidores e cotidiano.
              (FALCÃO E MALINI, 2010)

       3. Através dos perfis dos usuários: os próprios usuários (fãs) constroem uma
comunidade virtual através de suas atualizações envolvendo os artistas. São comentários
feitos entre os amigos, fotos e gravações publicadas de shows e eventos, além da
recomendação do artista para outras pessoas:

              As comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da Rede [Internet],
              quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas
              durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar
              redes de relações pessoais no ciberespaço. (Rheingold apud Recuero, 2009: p. 137)

        4. Através da criação de eventos públicos no Facebook: a rede social disponibiliza
uma opção de divulgação de eventos. Shows, peças de teatro, lançamentos de livros... são
diversas as opções onde os usuários podem se socializar antes mesmo do início do evento.
O Facebook também funciona como um promotor de eventos, nesse sentido, permitindo
que um número maior de pessoas sejam “convidadas”, expondo o evento para pessoas que
não o veriam de outra forma. Os convites só são possíveis através de indicações de amigos,
fortalecendo os laços entre as pessoas envolvidas.




                                                                                             13
CONCLUSÃO


       Este projeto individual e diferenciado buscou essencialmente responder as questões
extra-estéticas que influenciam as mudanças de forma, linguagem, conteúdo e sentido de
alguns gêneros de produções artísticas contemporâneas. Embora as novas tecnologias
tenham um papel importante na evolução dos estilos musicais (aqui evolução como
adaptação, não necessariamente uma melhoria), é mais correto afirmar que as novas
tecnologias são condicionantes, e não determinantes no surgimento de novos estilos:
                       “Dizer que a técnica condiciona significa dizer que abre algumas
                       possibilidades, que algumas opções culturais ou sociais não poderiam
                       ser pensadas a sério sem sua presença. Mas muitas possibilidades são
                       abertas, e nem todas são aproveitadas [...] A prensa de Gutenberg não
                       determinou a crise da Reforma, nem o desenvolvimento da moderna
                       ciência europeia, tampouco o crescimento dos ideais iluministas e a
                       força crescente da opinião pública no século XVIII – apenas
                       condicionou-as. Contentou-se em fornecer uma parte indispensável
                       do ambiente global no qual essas formas culturais surgiram.” (Lévy,
                       2000, p. 26-27)

        Talvez o fator mais importante na influência e modificação do gosto esteja no
próprio fator social das novas tecnologias de comunicação na internet.
        Outras novas tecnologias online, entretanto, têm permitido uma liberdade maior
para os artistas nas mais variáveis possibilidades. Seja no meio de produção, graças aos
computadores e aos meios digitais; seja na distribuição, graças à Rede (Internet) ou; seja na
divulgação, graças às redes sociais. E com essa nova liberdade, vivenciamos também o fim
da era dos Hits, como diria Chris Anderson (2006). Redes Sociais como o Facebook,
aliados aos sites de compartilhamento, permitem com que vários produtos de nicho possam
percorrer livremente através de uma imensidão de usuários, que garantem a sobrevivência
de diversos estilos musicais. É o efeito da cauda longa (ANDERSON, 2006).
        É também a possibilidade da experimentação. Como não custa nada baixar ou
escutar músicas na internet, os usuários podem experimentar um número muito maior de
músicas. Os sistemas de indicação servem ainda como uma forma de ampliar ainda mais o
leque de possibilidades dentro da rede.
        As novas formas de consumo cultural online estão alterando não somente a
produção, distribuição e divulgação contemporânea, mas também fazendo com que novos
estilos e gêneros venham à tona. As comunidades virtuais favorecem a continuação dos
gêneros de nicho, uma vez que agora todos os atores envolvidos estão devidamente
conectados, graças às redes sociais. Os produtores culturais dispõem de várias
possibilidades para divulgar seu conteúdo graças à internet. Agora atingir um nível em
escala global e com um custo baixíssimo se comparado ao do século passado não é mais
impossível.


                                                                                          14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



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AMARAL, Adriana. Rock imaginário e tecnológico – as relações imagético-sonoras na
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apresentado no GP - Mídia, Cultura e Tecnologias Digitais na América Latina, IX Encontro
dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII
Congresso    Brasileiro    de    Ciências      da   Comunicação.   2009.   Disponível   em:
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/R4-2264-1.pdf, Acessado em
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BISPO, Ronaldo; DIAS, Morena Melo; NOGUEIRA, Tiago.                BLIP.fm e as Novas
Formas de Consumo Musical Online. Trabalho apresentado no IJ 5 – Comunicação
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12       a        14        de          maio        de     2011.       Disponível       em:
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                                                                                         15
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                                                                                     16

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O consumo de música através das redes sociais na internet

  • 1. DISCLAIMER Este documento é um extrato(páginas 6 à 16) do relatório final individual e diferenciado para cada bolsista/colaborador O Consumo De Música Através Das Redes Sociais Na Internetda pesquisa A Co-Evolução Das Formas E Preferências Estéticas: Uma Investigação Sobre Mudanças De Linguagem E De Gosto Na Cultura Midiática do Programa Institucional De Bolsas De Iniciação Científica – Pibic Cnpq/Ufal/Fapeal 2010/2011 de orientação do professor doutor Ronaldo Bispo Dos Santos e autoria de Tiago Alves Nogueira de Souza apresentado em 2011 durante o VIII Congresso Acadêmico da Universidade Federal de Alagoas. Ao fazer citações deste documento, favor utilizar esta referência bibliográfica: SANTOS, Ronaldo; NOGUEIRA, Tiago. O Consumo De Música Através Das Redes Sociais Na Internet. In: VIII Congresso Acadêmico da Universidade Federal de Alagoas, 2011, Maceió. Anais, 2011. Observar também que o documento começa na página 6.
  • 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO O primeiro semestre foi essencialmente teórico, embora algumas pesquisas práticas tenham sido conduzidas durante este período, a saber: um estudo sobre o uso das mídias sociais nas escolas públicas e privadas de Maceió; uma análise do vlog de PC Siqueira, comparando-o como crônica contemporânea em formato de vídeo e; um estudo sobre o consumo de músicas através da plataforma de vídeo online YouTube. Foram lidos e discutidos vários livros, artigos e referênciais teóricos, como: Os meios de comunicação como extensões do homem (1995), de Marshall McLuhan; A inteligência coletiva (1998), Cibercultura (2000) e o que é o virtual? (1999), de Pierre Lévy; O Culto do Amador (2009), de Andrew Keen; Rumos da Cultura da Música (2010), organizado por Simone Pereira de Sá; alguns artigos produzidos por Adriana Amaral (2003, 2010); Click (2009), de Bill Tancer; Redes Sociais na Internet (2008), de Raquel Recuero; YouTube e a revolução digital (2009), de Jean Burgess e Joshua Green; A cultura da Mídia (2001), de Douglas Kellner; Free (2009) e A cauda Longa (2006), de Chris Anderson; Evolutionary Aesthetics, organizado por Eckart Voland; A Cultura da Convergência, de Henry Jenkins (2008); A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, de Walter Benjamin; Culturas e artes do pós-humano (2003) e Cultura das Mídias, de Lúcia Santaella; @rte e mídia (2005), de Priscila Arantes; além de vários outros artigos. No segundo semestre, a maior parte da pesquisa se deu de forma empírica e de observação. Fixamos o trabalho no estudo das redes sociais Blip.fm e Facebook, onde a primeira resultou em um artigo apresentado durante o Congresso Regional Sudeste da Intercom edição 2011. O artigo se propôs a analisar as novas práticas de consumo musical online com foco na plataforma BLIP.fm, refletindo sobre questões fomentadas a partir da colaboração, da construção de identidades online através da música como capital simbólico fundamental para afirmação individual e das relações travadas entre os usuários, analisando as reconfigurações do consumo a partir das transformações de distribuição. No estudo do Facebook, procuramos entender como a rede social influenciava direta e indiretamente no gosto musical de seus usuários, independentemente de que estilo eles escutassem (rock, pagode, axé, etc.). Foi preparado um formulário online com respostas de todo o país que compilamos neste relatório. Entretanto devemos também lembrar que no primeiro semestre, foi realizado um estudo sobre o como as pessoas consumiam música na mídia social YouTube. Quando o YouTube surgiu em 2005, ninguém poderia prever a grandeza que ele atingiria e a pluralidade de possibilidades de uso dessa rede social de compartilhamento de vídeos. O Youtube utiliza o formato Adobe Flash para disponibilizar o conteúdo que pode ser enviado por qualquer usuário devidamente cadastrado. Embora atualmente seu slogan seja “Broadcast yourself” (algo como “Transmita-se”), nos primeiros momentos de sua existência ele trazia os seguintes dizeres: “your digital video repository” (seu repositório de vídeos digitais). Pode-se dizer que ele é, na verdade, um pouco dos dois. 6
  • 3. As pessoas tanto usam o youtube para se transmitir como para armazenar seus vídeos favoritos. Nesse meio, além de vídeos de família, gravações caseiras e vídeos amadores, também encontramos covers de bandas e artistas desconhecidos, bootlegs e gravações de shows, além de clips musicais – legais e ilegais. O potencial do Youtube para armazenar a cultura da era contemporânea é muito grande. Velhos vídeos que jamais seriam vistos novamente, ganham vida no Youtube. Jean Burgess e Joshua Green (2009) comentam: (...) se o YouTube persistir tempo suficiente, o resultado será não apenas um repositório de conteúdo de vídeos antigos, mas algo até mais significativo: um registro de conteúdo popular contemporâneo global (incluindo a cultura venacular e cotidiana) na forma de vídeo, produzida e avaliada de acordo com a lógica do valor cultural que emerge das escolhas coletivas da compartilhada comunidade de usuários do YouTube. (BURGESS E GREEN, 2009: pg. 120) O homem está colocando cada vez mais sua cultura no ciberespaço. As pessoas nunca foram tão virtuais como atualmente. Outro ponto fundamental que norteou o artigo foi o consumo musical na contemporaneidade. Mp3 players, computadores portáteis, smartphones, dentre outros aparelhos modificaram a forma como consumimos música. As pessoas nunca consumiram tanta música como no século atual. Acredito que exista um misto desses elementos no site YouTube. Apesar de existirem várias redes sociais de compartilhamento de músicas, 32% das pessoas que acessam ao YouTube nos Estados Unidos o utilizam para ver vídeos relacionados à música, segundo o Pew Institute of research (A atividade mais comum no Youtube é assistir vídeos de humor) Recentemente tivemos também o caso dos cantores pop Lady Gaga e Justin Bieber que atingiram marcas histórias no YouTube: seus canais 1 no foram assistidos mais de 1 bilhão de vezes. Mesmo sendo um site cujo principal motor seja o compatilhamento de vídeos, muitas pessoas acessam o YouTube com o intuito único de escutar música, como comprovaremos mais adiante em nossa pesquisa. Portanto, o principal objetivo deste trabalho foi analisar como os usuários do YouTube consomem música através deste site, uma. Para tanto, foi aplicado um questionário, entre os dias 18 e 24 de Novembro de 2010, obtendo 209 respostas acerca de assuntos relacionados à esse consumo. Foram escutadas pessoas de várias faixas etárias, sendo que a predominante foi a dos 18 aos 24 anos, compondo 64,11% da amostra. A pesquisa também dividiu os usuários entre gênero, sendo que 75,60% deles eram do sexo masculino. Apesar dessas divisões, os resultados mostraram-se praticamente os mesmos, indepentemente da idade ou do sexo do usuário. O youtube é muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É também uma rede musical viva e ativa que recebe diáriamente milhões de acessos de pessoas em busca 1 http://www.youtube.com/user/LadyGagaVEVO e http://www.youtube.com/user/JustinBieberVEVO, respectivamente 7
  • 4. de música, não de vídeos. Entretanto é importante observar que o vídeo não deve ser excluído do processo, pois os consumidores musicais entram no site em dois momentos distintos como pudemos observar. Existe, de fato, aquele consumidor que deseja realmente assistir ao vídeo. E aí a qualidade gráfica do mesmo torna-se extremamente relevante e casos de sucesso no youtube como a Lady Gaga são a prova disso. Por outro lado o mesmo consumidor pode entrar no site com o intuito de meramente escutar uma música. Aí a qualidade do vídeo não é tão significativa o que responde a questão do porquê de vídeos feitos apenas com imagens e fotografias serem tão populares. Num outro momento neste trabalho observei a questão da cauda longa presente nas buscas por vídeos musicais. Os clips, entrevistas, show, etc. oficiais são muito poucos, embora gerem isoladamente um número alto de acessos. Os outros vídeos relacionados (covers, músicos amadores, bootlegs, vídeos com imagens colocadas por fãs, etc.) representam uma quantidade muito maior de vídeos, mas que não são tão assistidos como os oficiais. Entretanto, a soma total desses vídeos supera o número de exibições dos clips isolados. Finalmente, observei o uso do YouTube como um player online de músicas. Os consumidores criam listas de reprodução de vídeos no intuito de escutar músicas, não de visualizar os vídeos. Essa característica pode ser afirmada ao observar sites como o blip.fm, onde os usuários colocam músicas à partir do youtube para seus seguidores. O YouTube é, então, muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É uma plataforma multimídia completa. Os usuários de fato o utilizam como um player de músicas e a música é tão presente no youtube que em 2010 o YouTube “premiou” três categorias de vídeos: os mais assistidos do ano, os termos de busca que cresceram mais rapidamente e os vídeos de música mais assistidos. Entretanto, na categoria de vídeos de música mais assistidos não visualizamos nenhum vídeo amador. Talvez a criação dessa categoria seja uma forma de melhorar a imagem da empresa junto às gravadoras. Por outro lado o YouTube se mantém forte como divulgador de cultura vernacular ao ter muitos vídeos amadores na lista dos vídeos mais assistidos do ano. No artigo sobre o Blip.fm observamos que as pessoas são o combustível natural de qualquer estilo musical enquanto fenômeno cultural e audível, pois a música que não possui ouvintes tende a desaparecer: A teoria [ecológica da preferência musical] argumenta que as pessoas são um recurso para os tipos de música; formas musicais competem pelo tempo, energia e preferências dos indivíduos. Tipos musicais formam nichos em diferentes segmentos sociodemográficos da sociedade. Segundo a teoria, o padrão de nicho se desenvolve porque as preferências musicais são transmitidas através laços homófilos de redes sociais; pessoas semelhantes interagem umas com as outras e desenvolvem gostos musicais semelhantes. (MARK, 1998: p. 1) O consumo de música vai, portanto, muito além da audibilidade. Afinal, podemos caracterizar como consumo musical um bate papo entre duas pessoas sobre uma banda ou 8
  • 5. show? Os fãs vestindo-se como os componentes da banda? Ou o fato de um usuário modificar seu avatar na rede social com a capa de algum álbum? Acreditamos que sim, sustentados pela ideia de cultura como produção sígnica e simbólica de Lúcia Santaella: Nos anos 70, a ênfase da antropologia no caráter simbólico da cultura encontrou forte complementaridade na semiótica da cultura. Como afirma Nöth (2000: 513), se a cultura é um sistema “simbólico de forma”, conforme definição de Cassirer, então a semiótica é uma ciência da cultura par excellence, pois ela é a ciência universal dos signos e dos símbolos. Por isso mesmo, pode-se afirmar que muitos dos temas da antropologia cultural são, por natureza, temas semióticos. (SANTAELLA, 2003, p. 47) Redes sociais online como Blip.fm facilitam o consumo de música, pois estimulam a conexão entre pessoas de gostos similares, num esforço que garante um aumento da meia- vida de qualquer estilo musical. Esse é um ponto fundamental que a internet proporcionou. A conexão entre pessoas com gostos em comum, porém distantes geograficamente. A evolução de novos estilos pode ser construída, portanto, sem a necessidade do local, do imediato. A construção de amizades por afinidade garante a continuação de estilos que, de outra forma, desapareceriam. As redes sociais propiciam um ambiente mais cômodo para a troca de capitais sociais onde o consumo de outras propriedades pode ser feito mais facilmente. No sentido do consumo cultural, não somente as redes sociais, mas a própria internet e as mídias digitais favoreceram um consumo mais veloz, prático e imediato. Para McLuhan (1995, p. 35), o computador, por exemplo, seria uma “extensão do nosso sistema nervoso central”, introduzindo um novo ambiente humano – o informacional – e, assim, era responsável pela configuração de novos âmbitos de sociabilidade a partir deste novo ambiente: As novas formas de consumo musical estão alterando a cultura contemporânea. As comunidades virtuais favorecem a continuação dos mais diversos estilos musicais, uma vez que todos estão devidamente conectados. Os produtores musicais dispõem de várias possibilidades para divulgar seu conteúdo graças à internet. Se por um lado existe a questão do download ilegal, por outro existe a possibilidade de atingir um nível em escala global muito mais elevado e com um custo muito inferior ao do século passado. (BISPO, DIAS e NOGUEIRA, 2011, p. 11) Para a conclusão da pesquisa, aplicamos ainda um questionário, procurando identificar como os usuários da rede social Facebook utilizam suas conexões virtuais para o consumo musical. Acreditamos que as redes sociais do tipo “gerais” (também conhecidas como rede sociais de amizades, ou rede sociais de relacionamento) jogam um papel importante na modificação de estilos musicais, uma vez que a comunidade musical pode ser vista também como uma consequência de uma coesão social. Buscamos, portanto, compreender fundamentalmente os fatores extra-estéticos das redes sociais na internet: 9
  • 6. Por aspecto extra-estético entendemos tudo aquilo que pode ajudar a explicar a emergência de um produto midiático e que não está especificamente relacionado à tradição ou ao acervo artístico-cultural já realizado. Entram aqui portanto uma miríade de aspectos, influências, contextos que podem ter determinado a formatação de uma nova manifestação estética. (BISPO, 2009, p. 10) As modificações nos estilos pessoais, isto é, na forma como um conjunto de pessoas se compreende como parte de um grupo, é altamente influenciado pela música. Isso não significa dizer que a música é responsável pela criação de novos estilos. Ao contrário, música, vestimenta, gírias, devem ser vistas como uma unidade única. Mas é a música o principal responsável pela proliferação de novos estilos. A música tem um papel importante no desenvolvimento deste novo estilo, ela serve para criar e expressar a coesão social (Noah 1998, Hagen, 2002). Ela une as pessoas ao ficar sinalizando uma identidade de grupo e promovendo a interação social. Durante estes encontros de música, as pessoas veem como os outros se vestem e falam. Em outras palavras, a música provê o local onde as pessoas podem ser influenciadas por outras. (ESPINOZA, s / d; p. 3)2 Embora na prática qualquer movimento social seja de grande importância para a modificação das novas maneiras de consumir do ator em potencial, podemos afirmar que a plataforma de rede socialFacebook afeta ao menos metade de seus participantes, conforme as respostas vistas no questionário. Ao todo, foram entrevistadas 55 usuários de diversas partes do país. O questionário foi aplicado online e divulgado através de blogs, Twitter e Facebook. Para adquirir uma parte do perfil econômico dos usuários, perguntamos sobre a velocidade da internet contratada, se possuem smartphones com acesso à internet 3G e a idade em anos. O formulário teve dois objetivos principais: descobrir se os usuários precisam ser, de fato, fãs da banda para curtirem suas páginas e; segundo, descobrir o quanto o Facebook influencia na aquisição de novos gostos musicais. O primeiro dado que percebemos é que, em média, os usuários curtem 81 páginas no Facebook, das quais 22 são de assuntos relacionados à música. Isso significa que 27,16% das páginas curtidas pelos usuários são de bandas, músicos, gravadores e afins. Esse é um número interessante para observarmos o quanto podemos dizer que a música influencia no estilo e gosto dos usuários. Numa pesquisa com proporções maiores, existe a 2 Traduçãonossapara “Music has an important role in the development of this new style; it serves to create and express social cohesion (Noah 1998, Hagen 2002). It brings people together by signaling a group identity and promoting social interaction. During these music gatherings, people see how others dress and speak. In other words, music provides the place where people can be influenced by others.” 10
  • 7. possibilidade de analisar um percentual mais correto sobre o quanto a música esta presente em redes sociais gerais. Em seguida, perguntamos “Em média, quantas músicas você precisa gostar para curtir a página de uma banda/artista no Facebook?”. Entre respostas do tipo “Quase todas”, “um álbum inteiro” e “apenas uma música”, chegamos à média de 7 músicas para curtir uma página. Para curtir uma fan page, portanto, não é necessário ser fã de uma banda. A próxima pergunta foi “Já ocorreu de você curtir a página de uma banda/música que você não goste ou se sinta indiferente?”. Nesta pergunta, 80% dos entrevistados afirmaram que não curtem páginas nessas condições. Pedimos aos usuários que responderam “sim” a esta pergunta para explicarem o motivo de curtirem a página. Um usuário respondeu que “[...] não sei se é o caso de não gostar, e sim de não ser realmente „fã‟, por assim dizer. No Facebook o termo fã ficou meio banalizado. Muitos likes são para coisas que você acha legal, não necessariamente ama de coração. Para música isso é mais comum ainda, eu gosto de diversos artistas até por ser músico, não é ser indiferente, mas não é ser fanático também.”. Outros usuários responderam que curtiram outras bandas por indicação de amigos e para ajuda-las (bandas iniciantes). Em fenômeno observado pelas comunidades do Orkut, constatamos que 80% dos usuários curtem páginas de bandas/músicos no Facebook apenas para demonstrar publicamente seu gosto musical. Esse fato reduz drasticamente a interação entre artistas e fãs na rede social e explica o porquê do número de pessoas que de fato interage com páginas ser tão baixo. Depois, perguntamos para os usuários: “O que leva você a curtir páginas de bandas/músicos no Facebook?”. Os dados foram compilados na tabela abaixo: Tabela 1: razões dos usuários curtirem uma página de banda/músico no Facebook Percentual de usuários Razão que concordam Notícias relacionadas à banda/artista 73,21% Ficar por dentro de novas músicas 73,21% Ver a agenda da banda/artista 53,57% Por diversão ou entretenimento 51,79% Para conhecer melhor a banda/artista 50,00% Para trocar ideias, interagir, dar feedback, criticar, etc. 48,21% Download de músicas 42,86% Promoções/sorteios 42,86% Para ter acesso à conteúdo exclusivo da banda dentro do Facebook 41,07% Para escutar músicas da banda/artista 35,71% Ganhar brindes (camisetas, palhetas, adesivos, pôsters, etc.) 30,36% Compra de Ingressos para shows 26,79% Escutar samples (trechos de músicas) 21,43% Porque alguém me recomendou 12,50% Percebemos então que a maior parte dos usuários buscam informações recentes sobre a banda. Notícias, últimas músicas, agenda do artista. Por outro lado, temos os que 11
  • 8. afirmaram curtir a página para se divertir, e, logo em seguida, para conhecer melhor a banda. As páginas de Facebook podem, de fato, ajudar os fãs à conhecerem melhor sua história ou estilo? Em consonância com os dados anteriores, observamos que apenas 12,50% dos usuários disseram curtir a página por recomendação de amigos. Isso significa que se a banda tem pouco a ver com o perfil de seu amigo na rede social, as chances dele simplesmente rejeitar o convite são altas. Embora a interação com as páginas não seja tão elevada, a interação dentro da própria rede social com a música é alta. 85% dos usuários afirmaram postar trechos de músicas ou links com músicas dentro do Facebook. Por último, perguntamos se o usuário já acabou conhecendo alguma banda nova através do Facebook. 56,36% dos usuários responderam que sim. Uma pergunta semelhante foi feita no estudo do consumo musical no YouTube, apresentado durante o primeiro COMUSICA. Na ocasião, foi perguntado aos pesquisados “Ao fazer essa busca (referente à questão anterior) você acabou se deparando com algum material diferente do que buscava e acabou gostando?” 77,34% responderam que “sim. Portanto, apesar do Facebook ter um papel importante na aquisição de novos gostos, redes mais específicas como o Youtube, o blip.fm e o last.fm afetam mais o estilo dos usuários. Também analisamos como os artistas estão se apropriando do Facebook para construir uma comunidade virtual mais forte entre os seus fãs, chegando em quatro maneiras: 1. Através das páginas oficiais: Os artistas utilizam as páginas disponibilizadas pelo Facebook para entrar em contato direto com seus fãs. Os usuários, por sua vez, podem curtir a página e receber diretamente do seu monitor de Feeds as atualizações dos artistas (interação mútua) como também podem adicionar fotos e vídeos (quando permitido) e comentar sobre as novas ações do artista (interação reativa). Alex Primo (2003) define como os tipos de interação mediadas por computador funcionam através das redes sociais: (...) interação mútua é aquela caracterizada por relações interdependentes e processos de negociação, em que cada interagente participa da construção inventiva e cooperada da relação, afetando-se mutuamente; já a interação reativa é limitada por relações determinísticas de estímulo e resposta (Primo, 2003. p. 61) 2. Através de perfis oficiais: A maioria dos pequenos artistas não utilizam o formato recomendado pelo Facebook para interação com os fãs. Eles acabam criando perfis pessoais para o grupo teatral, para a banda, para o escritor, para o ator, etc. Nestes casos, a interação se torna mais próxima, por um lado; mas por outro cria problemas de comunicação que impedem uma comunicação mais fluída na rede social. Os perfis, por exemplo, só podem ser visualizados por completo se o usuário for membro do Facebook. Do contrário, ele verá apenas um pequeno resumo do perfil. Apesar de ter como foco o uso do Twitter, o trabalho da Paula Falcão e do Fábio Malini sobre os pop stars (Artistas diretamente vinculados com gravadoras, editoras, etc.) e 12
  • 9. os nano stars (artistas independentes) evidencia as principais diferenças dos usos das redes sociais pelos artistas. Os principais usos da rede social são os mesmos tanto para os pop stars como para os nano stars: divulgar agenda de shows, resultado de shows, aparições na mídia, notícias sobre trabalhos e atividades dos artistas, interagir com fãs, etc. Mas a diferença mesmo está em como eles utilizam a rede social para estes fins: A análise dos perfis leva a uma evidência: pop divulga pop e nano divulga nano. E o hábito de divulgar trabalhos alheios é muito mais comum nos nano. Os tweets dos pop são circulares: funcionam como vitrines para eles próprios. Já os dos nano formam uma rede de divulgação mútua: são vitrines para muitos artistas. A autoria dos tweets dos nano é de responsabilidade dos próprios artistas. Já nos pop, além dos artistas postarem, produtores também atualizam. Tanto nanos quanto pops interagem com os fãs por meio de perguntas, respostas e RTs. Porém, o ato de pedir opiniões ao público por meio de perguntas é característica dos nanos. Enquanto os links dos pop direcionam para sites oficiais, os dos nanos direcionam para redes sociais, como facebook, myspace e blog. Enquanto nanos divulgam links para download de discos, pops divulgam lojas online. A divulgação de links que direcionam para a grande mídia é muito mais recorrente nos perfis pop. Nanos e pops divulgam vídeos no youtube e fotos de shows, bastidores e cotidiano. (FALCÃO E MALINI, 2010) 3. Através dos perfis dos usuários: os próprios usuários (fãs) constroem uma comunidade virtual através de suas atualizações envolvendo os artistas. São comentários feitos entre os amigos, fotos e gravações publicadas de shows e eventos, além da recomendação do artista para outras pessoas: As comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da Rede [Internet], quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço. (Rheingold apud Recuero, 2009: p. 137) 4. Através da criação de eventos públicos no Facebook: a rede social disponibiliza uma opção de divulgação de eventos. Shows, peças de teatro, lançamentos de livros... são diversas as opções onde os usuários podem se socializar antes mesmo do início do evento. O Facebook também funciona como um promotor de eventos, nesse sentido, permitindo que um número maior de pessoas sejam “convidadas”, expondo o evento para pessoas que não o veriam de outra forma. Os convites só são possíveis através de indicações de amigos, fortalecendo os laços entre as pessoas envolvidas. 13
  • 10. CONCLUSÃO Este projeto individual e diferenciado buscou essencialmente responder as questões extra-estéticas que influenciam as mudanças de forma, linguagem, conteúdo e sentido de alguns gêneros de produções artísticas contemporâneas. Embora as novas tecnologias tenham um papel importante na evolução dos estilos musicais (aqui evolução como adaptação, não necessariamente uma melhoria), é mais correto afirmar que as novas tecnologias são condicionantes, e não determinantes no surgimento de novos estilos: “Dizer que a técnica condiciona significa dizer que abre algumas possibilidades, que algumas opções culturais ou sociais não poderiam ser pensadas a sério sem sua presença. Mas muitas possibilidades são abertas, e nem todas são aproveitadas [...] A prensa de Gutenberg não determinou a crise da Reforma, nem o desenvolvimento da moderna ciência europeia, tampouco o crescimento dos ideais iluministas e a força crescente da opinião pública no século XVIII – apenas condicionou-as. Contentou-se em fornecer uma parte indispensável do ambiente global no qual essas formas culturais surgiram.” (Lévy, 2000, p. 26-27) Talvez o fator mais importante na influência e modificação do gosto esteja no próprio fator social das novas tecnologias de comunicação na internet. Outras novas tecnologias online, entretanto, têm permitido uma liberdade maior para os artistas nas mais variáveis possibilidades. Seja no meio de produção, graças aos computadores e aos meios digitais; seja na distribuição, graças à Rede (Internet) ou; seja na divulgação, graças às redes sociais. E com essa nova liberdade, vivenciamos também o fim da era dos Hits, como diria Chris Anderson (2006). Redes Sociais como o Facebook, aliados aos sites de compartilhamento, permitem com que vários produtos de nicho possam percorrer livremente através de uma imensidão de usuários, que garantem a sobrevivência de diversos estilos musicais. É o efeito da cauda longa (ANDERSON, 2006). É também a possibilidade da experimentação. Como não custa nada baixar ou escutar músicas na internet, os usuários podem experimentar um número muito maior de músicas. Os sistemas de indicação servem ainda como uma forma de ampliar ainda mais o leque de possibilidades dentro da rede. As novas formas de consumo cultural online estão alterando não somente a produção, distribuição e divulgação contemporânea, mas também fazendo com que novos estilos e gêneros venham à tona. As comunidades virtuais favorecem a continuação dos gêneros de nicho, uma vez que agora todos os atores envolvidos estão devidamente conectados, graças às redes sociais. Os produtores culturais dispõem de várias possibilidades para divulgar seu conteúdo graças à internet. Agora atingir um nível em escala global e com um custo baixíssimo se comparado ao do século passado não é mais impossível. 14
  • 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, Chris. A Cauda Longa.Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. __________. Free. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. AMARAL, Adriana. Rock imaginário e tecnológico – as relações imagético-sonoras na contemporaneidade. 2003. Disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/amaral-adriana- rock-imaginario.pdf, Acessado em 23 de novembro de 2010. ________. Práticas de Fansourcing: estratégias de mobilização e curadoria musical nas plataformas musicais. In: Rumos da Cultura da Música. Organização: Simone Pereira de Sá. Porto Alegre: editora SULINA, 2010. ARANTES, Priscila. @rte e mídia. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2005. BISPO, Ronaldo. A Co-Evolução das Formas e Preferências Estéticas: uma investigação sobre mudanças de linguagem e de gosto na cultura midiática. Trabalho apresentado no GP - Mídia, Cultura e Tecnologias Digitais na América Latina, IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2009. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/R4-2264-1.pdf, Acessado em 23 de Julho de 2011. BISPO, Ronaldo; DIAS, Morena Melo; NOGUEIRA, Tiago. BLIP.fm e as Novas Formas de Consumo Musical Online. Trabalho apresentado no IJ 5 – Comunicação Multimídia do XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste realizado de 12 a 14 de maio de 2011. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2011/resumos/R24-0969-1.pdf, Acessado em 28 de Junho de 2011. BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. Youtube e a revolução digital: como o maior fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade. São Paulo: editora ALEPH, 2009. Dias, Cris. Capital Social / Whuffie. In: Para Entender a Internet, Organizado por: Juliano Spyer. Brasil: S.e., 1ª Edição, 2009. FALCÃO, Paula; MALINI, Fabio. Compartilhamento de músicas na rede, crise da indústria fonográfica e conflitos entre nanos e pops stars. 2010. Disponível em: 15
  • 12. http://www.sbpcnet.org.br/livro/62ra/resumos/resumos/4734.htm, Acessado 18 de Junho de 2011. JENKINS, Henry. A cultura da convergência. São Paulo: editora ALEPH, 2008. KEEN, Andrew. O culto do amadoar. Rio de Janeiro: editora ZAHAR, 2009. KELLNER, Douglas. A cultura da mídia: Estudos Culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: editora EDUSC, 2001. Lévy, Pierre.A Inteligência Coletiva. São Paulo: Editora Loyola, 5ª Edição, 1998. Lévy, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2ª Edição, 2000. Lévy, Pierre. O que é o Virtual? São Paulo: Editora 34, 1999. NIELSEN Wire. “Social Networks/Blogs Now Account for One in Every Four and a Half Minutes Online”.Nielsen Wire. Acessado em 15 de Junho de 2010. http://blog.nielsen.com/nielsenwire/online_mobile/social-media-accounts-for-22- percent-of-time-online NEVES, Janete dos Santos Bessa. Estudo semântico-enunciativo da modalidade em artigos de opinião. Tese de doutorado defendida por Janete dos Santos Bessa Neves; Orientador: Eneida do Rego Monteiro Bomfim. Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Letras, 2006. MARK, Noah (1998). Birds of a Feather Sing Together. Social Forces, 453-485. MARQUES DE MELO, José. Jornalismo opinativo: gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003. MCLUHAN, Marshall. (1995), Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo: Editora Cultrix, 10ª Edição. RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 1ª reimpressão, 2008. SANTAELLA, Lúcia. Culturas e artes do pós-humano. São Paulo: editora Paulus, 2003. ___________. Cultura das Mídias. STANYEK, Jason; PIEKUT, Benjamin. Mortitude: tecnologias do intermundano. In: Rumos da Cultura da Música. Organização: Simone Pereira de Sá. Porto Alegre: editora SULINA, 2010. STERNE, Jonathan. O mp3 como um artefato cultural. In: Rumos da Cultura da Música. Organização: Simone Pereira de Sá. Porto Alegre: editora SULINA, 2010. TANCER, Bill. Click. São Paulo: Editora Globo, 2009. 16