1. 1.ª Conferência Online de Urbanismo Táctico
Retórica da arte na cidade
Mário Caeiro
LIDA / Portugal
2. Ponto de partida
Obra
Arte
na
Cidade
–
História
Contemporânea
(Temas
e
Debates
/
Círculo
de
Leitores,
2014)
Experiência
de
curadoria
de
arte
contemporânea
no
espaço
público
3. Mote
Arte
Pública
na
perspectiva
de
uma
retórica
total
do
espaço
urbano,
da
esfera
pública
e
do
horizonte
cultural
4.
5.
6. Premissas
Ideias-‐chave
recolhidas
na
leitura
a)
da
cidade
(em
si)
–
numa
vertente
contemporânea
das
derivas
dos
flâneurs
baudelaireano
e
situacionistas.
A
ideia
central
é
a
de
que
a
cidade
é
um
texto
que
se
sente,
lê
e
vive.
7.
8. b)
dos
autores
que
se
dedicam
à
cidade
–
na
prática,
da
teoria
crítica
que
se
interessa
pela
cidade
Hoje
já
uma
paisagem
conceptual
propriamente
definida
pelas
ideias
sobre
a
cidade
de
Benjamin
a
Jacobs,
Argan,
Latour,
Rancière,
Agamben,
Miles,
Rendell,
Nawratek…
cada
autor-‐cidadão
tem
a
responsabilidade
de
escolher
o
seu
‘mar’
e
nele
navegar
‘a
gosto’
–
escolher
a
sua
‘onda’
–
em
função
da
oportunidade
dos
mais
diversos
mecanismos
conceptuais.
9. c)
dos
autores
que
a
partir
de
outros
campos
do
conhecimento
podemos
convocar
para
a
reflexão
sobre
a
condição
urbana
–
da
filosofia
ao
marketing
ou
ao
placebranding,
passando
pela
teoria
dos
sistemas…
de
Sloterdijk
a
Agamben,
de
Foucault
a
Capra…
10.
Esta
atitude
genealógica
dá
sentido
à
investigação
táctica.
Ela
informa
as
nossas
tácticas
individuais
e
colectivas
face
aos
desafios
da
comunicação
e
da
mediação
urbanas.
11.
12.
13. Uma gramática [generativa] de experiências artísticas
Arte
Pública.
Arte
Urbana.
Arte
pela
cidade
afora…
É
a
partir
destas
‘imagens’
do
urbano,
que
tenho
vindo
a
estudar
enquanto
acções
retóricas,
que
reflicto
sobre
como
os
experimentos
de
uma
certa
arte
da
cidade
são
fundamentais
para
conferirmos
às
urgências
do
urbanismo
táctico
um
sentido
cultural-‐
e
socialmente
mais
profundo.
Será
que
algumas
imagens
dessas
intervenções
urbanas
falam
por
si?
14.
15.
16.
17.
18. Ideias para um urbanismo táctico
Estas
obras
mostram
que
estamos
num
tempo
da
acção.
É
a
responsabilidade
de
cada
geração.
E
as
desta
geração
são
monumentais.
Estamos
a
sair
da
filosofia
e
a
entrar
na
retórica.
Uma
retórica
necessariamente
total
e
naturalmente
comunitária
–
ou,
se
quisermos,
desenvolvida
em
torno
dos
valores
da
comunidade.
Isto
não
significa
abdicar
de
quem,
no
plano
da
teoria,
cria
laços
analíticos
e
reflexivos
com
o
real,
ou
de
quem
faz
acontecer
na
dimensão
‘estritamente’
política,
mas
implica
valorizar
as
acções
comunicativas
humanas
a
partir
de
noções
como
a
de
cidade
enquanto
sistema
cultural.
Tal
criatividade
situada
–
a
arte
como
comunicação
social
–
tem
de
entrar
nas
equações
que
avaliam
a
nossa
performática
colectiva.
19.
20.
21. Parto
do
princípio
de
que
a
cidade
‘fala
uma
fala’
–
e
o
fascinante
nas
cidades
é
a
forma
como
são
naturalmente
resilientes
à
própria
globalização
que
no
entanto,
por
sua
vez,
também
elas
promovem,
num
movimento
de
certa
forma
paradoxal.
Para
manter
o
debate
ao
nível
retórico
–
isto
é,
do
falarmos
uns
com
os
outros
sobre
o
que
vale
a
pena
discutir
–,
proponho
que
olhemos
para
as
intervenções
urbanas
mais
criativas
e
inovadoras
do
ponto
de
vista
de
uma
análise
do
que
significam,
ou
melhor,
do
seu
sentido.
22.
23. Lugar da arte
Proponho
que
olhemos
a
cidade
–
o
meio
urbano
–
como
um
lugar
onde
somos
convocados
para
deliberar
–
também
sobre
a
forma
de
acções
estéticas
e
artísticas,
que
co-‐enunciamos
–
sobre
o
passado,
o
presente
e
o
futuro
comuns.
A
noção
da
vida
urbana
como
uma
‘obra
de
arte
total’
–
uma
ideia
patente
em
Richard
Wagner
–
surge
assim
portanto
estranhamente
actual.
Mas
tal
ideia
não
pode
ser
apropriada
do
ponto
de
vista
de
desenharmos
à
exaustão
o
meio
(mesmo
que
em
contraponto
crítico
de
fenómenos
como
a
design
urbano
gentrificador)
mas
de
algo
mais
básico
e
atómico:
apreciarmos
a
cidade
como
essa
‘primeira
natureza’
de
que
fazemos
inevitavelmente
parte.
Participarmos
na
criação
urbana
a
vários
níveis
e
nas
várias
dimensões
do
quotidiano.
24.
25. A questão de que arte
Aí,
a
cultura
urbana
não
pode
abdicar
de
repensar
as
acções
de
comunicação
urbana
propriamente
ditas.
Defendo
então
que
as
de
uma
‘arte
da
cidade’
são
particularmente
retóricas,
mas
não
reifico
essa
arte
da
cidade
em
absoluto,
pois
a
qualquer
momento
uma
qualquer
inovação
tecnológica
ou
social
pode
‘virar
por
completo
a
mesa’,
e
colocar-‐nos
problemas
específicos
para
os
quais
não
tenhamos
ferramentas
úteis.
Na
prática,
isto
significa
ler
em
contínuo
os
sinais
da
cidade
a
partir
dos
sinais
da
sua
ocupação.
A
tradição
do
Espaço
Público
levantou
com
toda
a
pertinência
questões
de
como
ocupar
o
espaço
mais
comummente,
mas
numa
era
em
que
muito
do
que
é
decidido
é
obscuro
e
porventura
incontornável,
como
agir
em
ponto
crítico?
26.
27. Uma
atitude
possível
é
neste
momento
fazer
da
táctica
urbanística
uma
lição
ética,
isto
é,
apelar
à
racionalidade
e
à
emotividade
que
restam
em
cada
cidadão
para
‘tocar
um
nervo’
social
que,
a
morrer
definitivamente,
nos
conduziria
para
um
plano
de
alienação
inédito.
Aí,
todas
as
formas
de
estarmos
juntos,
de
pensarmos
juntos,
mas
também
todas
as
dromologias
pessoais
que
pudermos
promover,
são
úteis
para
problematizarmos
intuitivamente
a
pseud-‐
urbanidade
que
está
a
caracterizar
o
sistema
urbano
a
nível
global.
28.
29. Quanto
à
questão
específica
dos
media,
a
arte
pública
crítica
é
ainda
um
reduto
de
resistência,
pois
uma
boa
imagem
artística
–
mesmo
quando
contravisual,
isto
é,
funcionando
como
um
conceito
resiliente
à
lógica
do
espectáculo
–
vale
mais
do
que
mil
palavras.
30.
31. Aforismos urbanos
Pelas
‘imagens’
que
vou
apresentando
–
obras
de
arte
que
implicam
processos
exemplares
–
percebemos
que
questão
da
táctica
–
lembremo-‐nos
de
Lefebvre
–
é
portanto
um
‘pau
de
dois
bicos’.
Por
um
lado,
sim,
permite
que
ao
criarmos
aforismos
urbanos,
ponhamos
as
pessoas
a
pensar,
por
outro
pode
funcionar
apenas
como
uma
cirurgia
de
urgência
que
não
‘salva’
o
paciente.
Aí
a
táctica
tem
de
ter
uma
relação
dialéctica
profunda
com
a
estratégia,
que
quanto
a
mim
se
joga
no
plano
de
um
investimento
afectivo
nas
ideias
e
nas
imagens
de
futuro.
Neste
quadro,
proponho
a
metáfora
do
horizonte.
32.
33. Horizonte cultural
A
táctica
tem
portanto
de
desenvolver
um
relação
oblíqua
–
não
óbvia
nem
directa
–
com
o
que
a
religião
ou
a
política
nos
legaram,
bem
como
com
o
que
a
ideologia
–
algumas…
–
ainda
prometem.
Podemos
vivar
sem
promessas
de
futuro?
A
própria
diversidade
dos
backgrounds
contextuais
de
cada
experiência
vai
criando
a
possibilidade
de
as
experiências
da
arte
urbana
–
venham
elas
dos
campos
do
activismo
ou
da
gentrificação,
ou
de
outro
qualquer!
–
poderem
assegurar
uma
importante
componente
de
experiência
de
um
discurso
total
do
meio
urbano.
O
mesmo
pode
aspirar
ao
‘acto
único’
ou
à
longa
duração;
preferir
provocar
ou
actuar
cirúrgica-‐
e
urgentemente…
todos
os
mecanismos
funcionam
como
produção
de
cidade
e
prática
da
vida
urbana.
37. Criar um público
Na
forma
urbana
que
é
conquistada
como
coisa
comum.
38.
39.
40.
41. Urbanismo táctico
Um
urbanismo
táctico
é
portanto
o
fazer-‐se
cidade
pragmaticamente
–
afirmando
paradoxalmente
a
cidade
que
existe
em
nome
daquela
que
aí
vem.
Jogando
entre
os
planos
do
símbolo
e
do
dispositivo.
Mas
temos
de
estrar
prontos,
continuamente
para
mudar
de
linguagem,
de
meios,
de
lugares,
recorrendo
ao
‘melhor
computador
que
temos
–
o
cérebro
–
para
‘fintar’
o
destino
tecno-‐científico
(Stiegler)
em
que
parecemos
mergulhados.
Há
uma
economia
do
desejo
–
ainda
Stiegler
–
por
cumprir.
42.
43. Cidadania
Cada
vez
mais,
a
cidadania
seria
isto
–
começar
por
ler
na
cidade
os
autores,
e
ler
a
cidade
nos
autores
e
avançar
para
a
celebração
da
Festa
Urbana.
Peço
desculpa
pelo
aparente
entusiasmo,
mas
cada
um
tem
o
seu
horizonte
motivador
e
o
meu
é
o
da
Graça
do
Social.
Não
vejo
aqui
nenhum
recuo
lírico
no
sentido
de
que
a
poesia
salvará
a
humanidade…
apenas
vejo
que
ao
nível
da
táctica
de
certos
artistas
e
sobretudo
de
certos
processos
colectivos
de
conquista
dos
territórios
–
e
não
apenas
físicos
–,
esses
são
actos
poéticos
por
excelência,
porque
viram
a
cidade
existente
contra
os
seus
fantasmas.
O
passado,
a
memória,
a
comunidade,
o
futuro…
44.
45. Para além da vida quotidiana
Há
portanto
eventos
–
acontecimentos
–
que
elevam
o
quotidiano
e
que
por
aí
o
tornam
em
algo
sobre
o
qual
vale
a
pena
falar.
Em
conclusão,
o
engajamento
activista,
colectivismos
vários,
críticas
pela
direita
ou
pela
esquerda
às
ilusões
do
modernismo,
a
cidadania
artística,
tudo
é
bem
vindo
à
festa
da
cidade.
Agora,
ou
se
traduzem
em
mecanicidades
partilháveis
–
como
a
desta
Conferência
–
ou
perdemo-‐nos
num
mar
de
possibilidades
a
que,
não
sendo
conferida
nenhuma
monumentalidade,
faltará
poder
de
síntese.
46.
47.
A
alguma
arte
da
vida
urbana,
ou
funciona
como
dispositivo,
isto
é,
interface
social,
ou
a
cidade
se
pode
transformar
em
mero
museu
de
reacções
epidérmicas
ou
‘monos’
estéticos.
E/ou
epifenómenos.
48.
49.
50. Conclusão
Há
uma
genealogia
da
arte
pública
crítica
que
vai
de
Beuys
a
Christo,
Wodiczko
ou
Francis
Alys.
Sempre
foi
caracterizada
pela
pulsão
de
associar
a
táctica
à
estratégia
(a
da
afirmação
de
si
própria).
Hoje,
é
altura
de
procurar
honrar
esse
legado
através
da
sugestão
de
novas
nuances
do/no
dispositivo
urbano.
No
plano
da
cidade
vivida,
o
táctico
está
a
conseguir
mudar
a
nossa
própria
capacidade
de
pensar
as
estratégias.
A
questão
do
clima
seria
um
exemplo,
assim
como
a
da
Alimentação.
Alguma
arte
é
especialmente
retórica
–
e
persuasiva
–
na
enunciação
das
questões
e,
ao
mesmo
tempo,
no
elencar
e
activar
de
soluções
de
vida.
51.
52.
Precisamos
de
uma
arte
pública
eficaz
e
simultaneamente,
subtil.
Radical
e
motivadora
na
afirmação
do
seu
potencial
de
sentido.
53.
54. Resta
saber
com
que
capacidade
afectiva
usamos
e
criamos
dispositivos
de
participação,
e
em
que
medida
a
cultura
tem
um
papel
radicalmente
fundador
na
problematização
dos
dispositivos
que
nos
cercam.
Mas
lá
está:
é
na
loucura
que
a
criação
aporta
à
cidade
que
se
encontra
um
reduto
de
energia
comunicacional
que
jamais
um
qualquer
manifesto,
ou
programa,
conseguirão
capturar
ou
superar.
55.
56.
57.
Porque
a
arte
fala
no
seu
momento
próprio
–
enquanto
apropriação
plástica
do
contexto,
com
cada
um
de
nós
que
ali
está
para
vê-‐la,
percebê-‐la
e
por
vezes
senti-‐la.
É
uma
batalha
em
que,
nas
palavras
de
Joseph
Beuys,
o
‘autor’
da
escultura
social,
todos
somos
artistas.
58.
59.
60. Em
suma,
começamos
uma
conferência
sobre
urbanismo
táctico
a
falar
de
arte.
Que
é
que
isso
significa?
E
que
podemos
fazer
para
que
o
sentido
da
arte
seja
aquele
que
tacticamente
nos
interessa?
61. Artistas-autores das obras apresentadas
Joachim
Slugocki&Katarzyna
Malejka
Rachel
Whiteread
Cartsne
Höller
Erwin
Wurm
Anónimo
(Arles)
Vhils
Miguel
Faro
Jaume
Plensa
Nele
Azevedo
Claire
Fontaine
Mel
Jordan
&
Andt
Hewitt
Guerrilla
Lighting
Moov+Miguel
Faro
Camila
Cañeque
José
Maçãs
de
Carvalho
Royale
de
Luxe
Gabriele
Seifert
Maurizio
Cattelan
Alexandre
A.
R.
Costa
Santiago
Reyes
Anish
Kapoor
62. Les
Sapprophytres
Joana
Vasconcelos
Daniela
Brasil
Paul
Notzold
Stefan
Kornacki
Hetpakt
Nuno
Maya
&
Carole
Purnelle
Dominik
Lejman
Frida
Escobedo
Jana
Matejkova
Hermenilde
Hergenhahn
(2)
Rui
Chafes
Hugo
Soares
e
João
Gigante
63. Obrigado.
Escola
Superior
de
Artes
e
Design
de
Caldas
da
Rainha
/
Instituto
Politécnico
de
Leiria
LIDA
–
Laboratório
de
Investigação
em
Design
e
Artes
04.12.2015