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Estética da Interação e
Opressão Mediada pelo
Computador
Frederick van Amstel @usabilidoido
DADIN - UTFPR
www.usabilidoido.com.br
Design de Interação herdou a preocupação com a estética
visual do Design de Produto e Gráfico.
"A forma do botão numa interface não é
determinada apenas por sua relação com
outros elementos da interface, mas por um
gênero, cuja história abrange as mudanças no
modo de operar e construir máquinas, de
habitar e organizar o lar e de conhecer e
relacionar-se com amigos."
Van Amstel, F. M. (2008). Das interfaces às interações: design participativo do portal broffice. org (Doctoral
dissertation, Thesis (Master in Technology). Federal University of Parana, Curitiba, Brazil).
Gêneros interativos produzem uma estética da interação.
Essa estética já foi explorada por várias artes: Teatro
Fotografia, Cinema, Animação e outras.
Essa estética não é percebida pela propriedades dos artefatos,
mas pelas qualidades da experiência.
Lim, Y. K., Stolterman, E., Jung, H., & Donaldson, J. (2007, August). Interaction gestalt and the design
of aesthetic interactions. In Proceedings of the 2007 conference on Designing pleasurable products and
interfaces (pp. 239-254).
Exemplo: a experiência de usar o aplicativo Whatsapp depende
mais dos grupos e das pessoas com quem você conversa do que
da disposição dos ícones e botões na interface.
Projetos de interação ingênuos
costumam tentar controlar as
qualidades da experiência.
Designers criam roteiros com interações prováveis e outras
impossíveis.
Porém, nem sempre as pessoas seguem os roteiros durante
a sua performance de uso.
A estética da interação é mais diversa do que qualquer
projeto possa antecipar.
Nova, N., Miyake, K., Chiu, W., & Kwon, N. (2012). Curious rituals: Gestural interaction in the digital everyday.
Google Material You (2021) quer explorar essa diversidade
com recursos de customização de interfaces.
O problema é que usuários também têm a intenção de
controlar as qualidades da experiência dos outros.
Por traz de toda estética, há
uma ética implícita, ou seja, um
modo de viver em sociedade.
Animojis permitem expressar emoções para outras pessoas
sem mostrar o rosto.
Esse tipo de interação já existia há séculos, por exemplo, no
carnaval de Veneza.
O gosto por certas interações
reflete a moral do grupo social.
Identidade de gênero e racial está correlacionada com o uso
de certos emojis.
Barbieri, F., & Camacho-Collados, J. (2018, June). How gender and skin tone modifiers affect emoji semantics in
Twitter. In Proceedings of the Seventh Joint Conference on Lexical and Computational Semantics (pp. 101-106).
A moral escondida atrás do
gosto faz a ética parecer uma
questão meramente individual.
Escolhas individualizadas geram exclusões coletivas de
pessoas negras, asiáticas, bissexuais e outros grupos.
A estética da interação pode
esconder, reafirmar e manter
opressões entre grupos sociais.
OPRESSORES
grupo social
historicamente
privilegiado
OPRIMIDOS
grupo social
historicamente
desprivilegiado
Relação de opressão
interações
estéticas
Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 42.ª edição
Boal, A. (2014). Teatro do Oprimido: e outras poéticas políticas. Editora Cosac Naify.
Pinto, Á. V. (2005). O Conceito de Tecnologia. Contraponto Editora.
Quando o oprimido interage com o opressor, é levado a
sentir que interage de maneira feia.
A estética do opressor faz os oprimidos se sentirem culpados
pela interação feia.
A estética do opressor persuade o oprimido a fazer o que ele
não quer fazer através de dark patterns.
USUÁRIOS
pessoas que não
entendem como os
sistemas funcionam, mas
precisam usá-los assim
mesmo
Sistema opressor
COMPUTADORES
sistemas tão complexos que
nem os seus próprios
desenvolvedores entendem
e podem controlar
interações
estéticas
INTERFACE
OPRESSORES
grupo social
historicamente
privilegiado que usa o
computador para
oprimir
OPRIMIDOS
grupo social
historicamente
desprivilegiado que usa o
computador para se
libertar
Opressão mediada pelo computador
interações
estéticas
COMPUTADOR
Gonzatto, R. F., & van Amstel, F. M. (2017, October). Designing oppressive and libertarian interactions with the
conscious body. In Proceedings of the XVI Brazilian Symposium on Human Factors in Computing Systems.
van Amstel, F. M., & Gonzatto, R. F. (2020). The anthropophagic studio: towards a critical pedagogy for interaction
design. Digital Creativity, 31(4), 259-283.
A estética do opressor esconde os opressores e coloca a
culpa na tecnologia (O Dilema das Redes, 2020).
A estética do opressor faz o oprimido querer ser rastreado,
vigiado e eventualmente punido (Coded Bias, 2020).
A estética do opressor faz o julgamento sobre a morte
parecer uma questão técnica e não moral.
É possível uma estética da
interação que liberte ao invés
de oprimir? Ou o computador
será sempre dominado pelos
opressores?
Grupos
historicamente
privilegiados
Grupos
historicamente
desprivilegiados
Práticas de design
que reproduzem a
opressão e
ignoram a
libertação
Epistemologias de Design
do Norte
Metodologias de Design
do Norte
Design practice that
fights oppression
and seeks liberation
Epistemologias de Design
do Sul
Metodologias de Design
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Descolonização
Hibridação
Interações
estéticas
Programa de pesquisa Projetando para a Libertação
2010-presente
O computador pode ser tratado como um espaço para representar
ações humanas, tal como um palco teatral.
Experiência do usuário
Registro mais antigo do uso do termo "experiência do
usuário" da maneira como utilizamos hoje:
[…] in seeking design principles for good interfaces, we
must, it seems to me, concern ourselves with the best
case, and ask, not what the users are willing to endure,
but what the ideal user experience might be, and what
sort of interface might provide it"
Laurel, B. (1986). Interface as mimesis in DA Norman, S Draper (eds) User Centered System Design, p.72.
É um erro comum e típico do machismo que ainda
impera em IHC atribuir o crédito deste termo a Donald
Norman. Norman utilizou pela primeira vez esse termo
em uma nota na CHI em 1995.
OPRESSORES
grupo social
historicamente
privilegiado que usa o
computador para
oprimir
OPRIMIDOS
grupo social
historicamente
desprivilegiado que usa o
computador para se
libertar
Libertação mediada pelo computador
interações
estéticas
COMPUTADOR
Gonzatto, R. F., & van Amstel, F. M. (2017, October). Designing oppressive and libertarian interactions with the
conscious body. In Proceedings of the XVI Brazilian Symposium on Human Factors in Computing Systems.
van Amstel, F. M., & Gonzatto, R. F. (2020). The anthropophagic studio: towards a critical pedagogy for interaction
design. Digital Creativity, 31(4), 259-283.
O computador também pode ser tratado como teatro do oprimido.
Gonzatto, R. F., & van Amstel, F. M. (2017, October). Designing oppressive and libertarian interactions with the
conscious body. In Proceedings of the XVI Brazilian Symposium on Human Factors in Computing Systems (pp. 1-10).
A estética da interação também pode expressar os valores e
a cultura dos oprimidos.
"O corpo humano é a fonte, e as
linguagens estéticas são os meios de um
pensamento simultâneo ao Pensamento
Simbólico das palavras e dos gestos
convencionados."
Boal, A. (2009). A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, p.91
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van Amstel, F. M., & Gonzatto, R. F. (2020). The anthropophagic studio: towards a critical pedagogy for interaction
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Frederick van Amstel @usabilidoido
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Estética da Interação e Opressão Mediada pelo Computador

  • 1. Estética da Interação e Opressão Mediada pelo Computador Frederick van Amstel @usabilidoido DADIN - UTFPR www.usabilidoido.com.br
  • 2. Design de Interação herdou a preocupação com a estética visual do Design de Produto e Gráfico.
  • 3. "A forma do botão numa interface não é determinada apenas por sua relação com outros elementos da interface, mas por um gênero, cuja história abrange as mudanças no modo de operar e construir máquinas, de habitar e organizar o lar e de conhecer e relacionar-se com amigos." Van Amstel, F. M. (2008). Das interfaces às interações: design participativo do portal broffice. org (Doctoral dissertation, Thesis (Master in Technology). Federal University of Parana, Curitiba, Brazil).
  • 4. Gêneros interativos produzem uma estética da interação.
  • 5. Essa estética já foi explorada por várias artes: Teatro Fotografia, Cinema, Animação e outras.
  • 6. Essa estética não é percebida pela propriedades dos artefatos, mas pelas qualidades da experiência. Lim, Y. K., Stolterman, E., Jung, H., & Donaldson, J. (2007, August). Interaction gestalt and the design of aesthetic interactions. In Proceedings of the 2007 conference on Designing pleasurable products and interfaces (pp. 239-254).
  • 7. Exemplo: a experiência de usar o aplicativo Whatsapp depende mais dos grupos e das pessoas com quem você conversa do que da disposição dos ícones e botões na interface.
  • 8. Projetos de interação ingênuos costumam tentar controlar as qualidades da experiência.
  • 9. Designers criam roteiros com interações prováveis e outras impossíveis.
  • 10. Porém, nem sempre as pessoas seguem os roteiros durante a sua performance de uso.
  • 11. A estética da interação é mais diversa do que qualquer projeto possa antecipar. Nova, N., Miyake, K., Chiu, W., & Kwon, N. (2012). Curious rituals: Gestural interaction in the digital everyday.
  • 12. Google Material You (2021) quer explorar essa diversidade com recursos de customização de interfaces.
  • 13. O problema é que usuários também têm a intenção de controlar as qualidades da experiência dos outros.
  • 14. Por traz de toda estética, há uma ética implícita, ou seja, um modo de viver em sociedade.
  • 15. Animojis permitem expressar emoções para outras pessoas sem mostrar o rosto.
  • 16. Esse tipo de interação já existia há séculos, por exemplo, no carnaval de Veneza.
  • 17. O gosto por certas interações reflete a moral do grupo social.
  • 18. Identidade de gênero e racial está correlacionada com o uso de certos emojis. Barbieri, F., & Camacho-Collados, J. (2018, June). How gender and skin tone modifiers affect emoji semantics in Twitter. In Proceedings of the Seventh Joint Conference on Lexical and Computational Semantics (pp. 101-106).
  • 19. A moral escondida atrás do gosto faz a ética parecer uma questão meramente individual.
  • 20. Escolhas individualizadas geram exclusões coletivas de pessoas negras, asiáticas, bissexuais e outros grupos.
  • 21. A estética da interação pode esconder, reafirmar e manter opressões entre grupos sociais.
  • 22. OPRESSORES grupo social historicamente privilegiado OPRIMIDOS grupo social historicamente desprivilegiado Relação de opressão interações estéticas Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 42.ª edição Boal, A. (2014). Teatro do Oprimido: e outras poéticas políticas. Editora Cosac Naify. Pinto, Á. V. (2005). O Conceito de Tecnologia. Contraponto Editora.
  • 23. Quando o oprimido interage com o opressor, é levado a sentir que interage de maneira feia.
  • 24. A estética do opressor faz os oprimidos se sentirem culpados pela interação feia.
  • 25. A estética do opressor persuade o oprimido a fazer o que ele não quer fazer através de dark patterns.
  • 26. USUÁRIOS pessoas que não entendem como os sistemas funcionam, mas precisam usá-los assim mesmo Sistema opressor COMPUTADORES sistemas tão complexos que nem os seus próprios desenvolvedores entendem e podem controlar interações estéticas INTERFACE
  • 27. OPRESSORES grupo social historicamente privilegiado que usa o computador para oprimir OPRIMIDOS grupo social historicamente desprivilegiado que usa o computador para se libertar Opressão mediada pelo computador interações estéticas COMPUTADOR Gonzatto, R. F., & van Amstel, F. M. (2017, October). Designing oppressive and libertarian interactions with the conscious body. In Proceedings of the XVI Brazilian Symposium on Human Factors in Computing Systems. van Amstel, F. M., & Gonzatto, R. F. (2020). The anthropophagic studio: towards a critical pedagogy for interaction design. Digital Creativity, 31(4), 259-283.
  • 28. A estética do opressor esconde os opressores e coloca a culpa na tecnologia (O Dilema das Redes, 2020).
  • 29. A estética do opressor faz o oprimido querer ser rastreado, vigiado e eventualmente punido (Coded Bias, 2020).
  • 30. A estética do opressor faz o julgamento sobre a morte parecer uma questão técnica e não moral.
  • 31. É possível uma estética da interação que liberte ao invés de oprimir? Ou o computador será sempre dominado pelos opressores?
  • 32. Grupos historicamente privilegiados Grupos historicamente desprivilegiados Práticas de design que reproduzem a opressão e ignoram a libertação Epistemologias de Design do Norte Metodologias de Design do Norte Design practice that fights oppression and seeks liberation Epistemologias de Design do Sul Metodologias de Design do Sul Descolonização Hibridação Interações estéticas Programa de pesquisa Projetando para a Libertação 2010-presente
  • 33. O computador pode ser tratado como um espaço para representar ações humanas, tal como um palco teatral.
  • 34. Experiência do usuário Registro mais antigo do uso do termo "experiência do usuário" da maneira como utilizamos hoje: […] in seeking design principles for good interfaces, we must, it seems to me, concern ourselves with the best case, and ask, not what the users are willing to endure, but what the ideal user experience might be, and what sort of interface might provide it" Laurel, B. (1986). Interface as mimesis in DA Norman, S Draper (eds) User Centered System Design, p.72. É um erro comum e típico do machismo que ainda impera em IHC atribuir o crédito deste termo a Donald Norman. Norman utilizou pela primeira vez esse termo em uma nota na CHI em 1995.
  • 35. OPRESSORES grupo social historicamente privilegiado que usa o computador para oprimir OPRIMIDOS grupo social historicamente desprivilegiado que usa o computador para se libertar Libertação mediada pelo computador interações estéticas COMPUTADOR Gonzatto, R. F., & van Amstel, F. M. (2017, October). Designing oppressive and libertarian interactions with the conscious body. In Proceedings of the XVI Brazilian Symposium on Human Factors in Computing Systems. van Amstel, F. M., & Gonzatto, R. F. (2020). The anthropophagic studio: towards a critical pedagogy for interaction design. Digital Creativity, 31(4), 259-283.
  • 36. O computador também pode ser tratado como teatro do oprimido. Gonzatto, R. F., & van Amstel, F. M. (2017, October). Designing oppressive and libertarian interactions with the conscious body. In Proceedings of the XVI Brazilian Symposium on Human Factors in Computing Systems (pp. 1-10).
  • 37. A estética da interação também pode expressar os valores e a cultura dos oprimidos.
  • 38. "O corpo humano é a fonte, e as linguagens estéticas são os meios de um pensamento simultâneo ao Pensamento Simbólico das palavras e dos gestos convencionados." Boal, A. (2009). A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, p.91
  • 39. Questionando a polarização política provocada pelo algoritmo do Facebook. van Amstel, F. M., & Gonzatto, R. F. (2020). The anthropophagic studio: towards a critical pedagogy for interaction design. Digital Creativity, 31(4), 259-283.
  • 40. Design especulativo sobre inteligências artificiais imperialistas que interferem na política brasileira. Van Amstel, Frederick M.C. and Gonzatto, Rodrigo F.(in press) Existential time and historicity interaction design. Human-Computer Interaction.
  • 41. Estética da interação afrofuturista em vídeoclipes. Nave, Xênia França Duas de Cinco + Cóccix-ência, Criolo Silva, R. L. P. da, Santos, M. R. dos, & Amstel, F. V. (2020). Quando o negro se movimenta, toda a possibilidade de futuro com ele se move. Albuquerque: Journal of History, 11(21), 132-150.
  • 42. Discutindo saúde mental em redes sociais na ação de extensão Teatro do Oprimido Tecnológico (UTFPR, 2019).
  • 43. Questionando a estética da interação entre motoristas e passageiros no Uber Comfort. van Amstel, F. M. (2019, October). Teatro do Oprimido na Educação em Design de Interação. In Anais Estendidos do XVIII Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (pp. 11-12). SBC.
  • 44. Como produzir estéticas do oprimido à distância?
  • 45. Visualização do entrelaçamento de infraestruturas da informação pelo perspectivismo ameríndio. Pelanda, M. F. L., & van Amstel, F. M. C. (2021). A fumaça digital: inversão infraestrutural do COVID-19 pela perspectiva Yanomami. International Journal of Engineering, Social Justice, and Peace, 8(1), 69-85.
  • 46. Integração artística (Suchman, 1994) de infraestruturas para transformar o computador em teatro do oprimido. Laboratório Camarim Platéia Palco Suchman, L. (1994). Supporting articulation work: Aspects of a feminist practice of technology production. IFIP Transactions A: Computer Science and Technology, (A-57), 7-21.
  • 47. Teatro Fórum sobre precarização do trabalho de design na Semana de Design do GFAUD-USP (2020). Inteligência Artificial que atende clientes e distribui trabalhos na plataforma digital Designer precarizado que trabalha para uma plataforma digital Designer precarizado que se vê como empreendedor
  • 48. Aprendendo de maneira assíncrona a produzir livros para os oprimidos dizerem a sua palavra (UTFPR, 2021). Chorei de Rir, Vivian Tanaka (2021)
  • 49. Experimentos com Teatro do Oprimido na rede Design & Opressão. Aberto a participação www.designeopressao.org
  • 50. Obrigado! Frederick van Amstel @usabilidoido DADIN - UTFPR www.usabilidoido.com.br