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EBI de Mourão
                                             Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola”
                                                                Professora Vanda Barreto


       Ao longo desta ficha, encontrarás diversas atividades que te ajudarão a
compreender esta novela. Contudo, não as deves fazer sem primeiro leres com
atenção todos os textos que escrevi para ti e que têm por objetivo ajudar-te a analisá-
la. No final, compreenderás que esta obra é muito mais do que a história de uma
pobre família de pescadores mexicanos.


   A. O Autor. John Steinbeck

       Nasceu em Salinas, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, em
1902. De uma família de classe baixa, embora não pobre, Steinbeck
presenciava a vida dos trabalhadores da cidade de Salinas e do fértil Vale de
Salinas, centros agrícolas a cerca de 20 quilômetros do oceano Pacífico (tanto
o vale quanto a costa marítima californiana seriam pano de fundo de grande
parte da sua ficção).
       Em 1919, ingressou na Universidade de Stanford, onde assistiu a aulas
de vários cursos, entre eles Inglês e Literatura, até abandonar a universidade,
em 1925, antes da obtenção de um diploma. Resolveu, então, lançar-se em
uma carreira de escritor free-lancer em Nova Iorque. Neste período inicial da
sua carreira, trabalhou em uma série de bicos, como zelador de uma
propriedade no lago Tahoe, técnico de laboratório, pedreiro na construção de
Madison Square Garden e repórter diário de um periódico nova-iorquino.
Durante a estadia em Nova Iorque, escreveu seu primeiro romance, Cup of
gold (publicado no Brasil como Tempos passados), de 1929.
       Voltou à Califórnia no final da década de 1930, continuando sempre a
escrever. Casou-se com Carol Henning, mudou-se para a cidade de Pacific
Grove, na área de Monterey, onde a família Steinbeck possuía uma
propriedade, depois para Los Angeles e novamente para a área de Monterey.
No início da conturbada década de 30, publicou ainda dois trabalhos de ficção
passados na Califórnia, The pastures of heaven (Pastagens do céu), de 1932,
e To a god unknown (Ao deus desconhecido), de 1933, além de trabalhar nos
contos mais tarde recolhidos no volume The long valley (O vale sem fim), de
1938. Os seus três primeiros romances foram publicados por três editores
diferentes, e não se beneficiaram nem um pouco da depressão económica

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EBI de Mourão
                                          Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola”
                                                             Professora Vanda Barreto


disparada nos Estados Unidos pelo crash da Bolsa de Nova York, que
aconteceu apenas dois meses depois da publicação de Cup of gold. Os três
editores faliram e Steinbeck viu-se sem editor.
      O sucesso e a segurança financeira vieram apenas em 1935, com a
publicação do romance Tortilla Flat (Boêmios errantes), publicado pela firma
Covici-Friede. As histórias bem-humoradas sobre a vida de paisanos
(descendentes de espanhóis misturados, muitas vezes, com mexicanos, índios
e caucasianos) que viviam na chamada Planície Tortilla de Monterey, próximo
à fronteira mexicana, mostraram-se um alento para os americanos oprimidos
pela crise. Durante a depressão, literatura e cinema serviam de escape para
muitos. Escape da pobreza, da preocupação sobre como pagar a renda, da
procura de emprego ou mesmo da preocupação sobre onde conseguir dinheiro
para pagar a conta da mercearia.
      Experimentador incansável, Steinbeck mudou os rumos da sua literatura
várias vezes. Entretanto, já nessas suas primeiras obras via-se o fio condutor
que permearia toda a sua literatura: observação social, de cunho realista, das
camadas de trabalhadores de classe baixa, às vezes miseráveis, mantidos no
limbo do sistema económico. Mas, se a preocupação literária de Steinbeck
voltava-se especificamente para grupos de trabalhadores de algumas regiões
norte-americanas, faz-se necessário dizer que seus personagens recebiam
tratamento tal que, mais do que as agruras de um tipo de homem localizado
especificamente no tempo e no espaço, Steinbeck fazia tais personagens
exemplares dos mais universais sentimentos humanos: a luta pela dignidade
humana, a dificuldade das relações de afeto frente à crueldade do mundo e da
vida, e a solidão, na sua aceção mais ampla e passível de ser compartilhada
por todos os homens.
      Ainda na década de 30, sendo Steinbeck já um autor famoso, seguiram-
se outros livros, que confirmaram a promessa literária (assim foi ele encarado
quando da publicação de Tortilla Flat): In dubious battle (Luta incerta),
publicado em 1936, sobre colhedores de frutas na Califórnia, Of mice and men,
publicado em 1937, e aquele que é considerado seu melhor romance, The
grapes of wrath (As vinhas da ira), de 1939, sobre agricultores do estado


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EBI de Mourão
                                         Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola”
                                                            Professora Vanda Barreto


americano de Oklahoma que, por não conseguirem sobreviver da terra,
mudam-se para a Califórnia, onde passam a trabalhar sazonalmente em
fazendas alheias. O romance foi premiado com o importante Prêmio Pulitzer de
Literatura.
       Na década de 1940, Steinbeck, como tantos outros autores americanos
de sucesso, fez uma incursão por Hollywood, com o roteiro The forgotten
village (1941). Publicou, ainda, Sea of Cortez (1941), Bombs away (1942),
sobre a guerra, a controversa peça The 3ornal3 down (1942), os romances
Cannery row (A rua das ilusões perdidas), de 1945, The wayward bus (1947) e
The pearl (A pérola), de 1947, o relato de viagem A russian 3ornal (Um diário
russo), de 1948, e mais uma peça, Burning bright (1950). No início da década
de 50, Steinbeck apresentou ao público o monumental romance East of Eden
(1952) – traduzido no Brasil como Vidas amargas –, uma saga sobre uma
família do Vale de Salinas com toques autobiográficos.
       As últimas décadas da sua vida foram passadas em Nova Iorque e Sag
Harbour com a sua terceira esposa, com quem viajou muito. Outros livros seus
são: Sweet thursday (1954), The short reign of Pippin IV: a fabrication (O breve
reinado de Pepino IV), de 1957, Once there was a war (1958), The winter of our
discontent (O inverno da nossa desesperança), de 1961,e Travels with Charley
in search of America (Viajando com Charley), de 1962 – este último sobre uma
viagem que Steinbeck fez pelos Estados Unidos –, America and americans (A
América e os americanos), de 1966, e os póstumos Journal of a novel: The
East of Eden letters (1969), Viva Zapata! (1975), The acts of King Arthur and
his noble knights (1976) e Working days: the journals of The grapes of wrath
(1989). Ele recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1962, com a seguinte
declaração da Academia de Letras sueca: “[Steinbeck] não era talhado para
fazer meramente entretenimento. Ao contrário, os assuntos por ele escolhidos
são sérios e denunciativos, como as experiências amargas nas plantações de
frutas e algodão da Califórnia.”
       Vários dos seus livros foram levados às telas de cinema, como As
vinhas da Ira, em produção de 1940, de John Houston, e Ratos e homens,
filmado em 1939 por Lewis Milestone e em 1992 por Gary Sinise.


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                                             Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola”
                                                                  Professora Vanda Barreto


       A preocupação social de Steinbeck ia além da escolha dos assuntos de
suas ficções: ele registou literariamente, nos diálogos dos seus personagens,
também a peculiaridade da linguagem dos diversos grupos de trabalhadores
por ele retratados. Faleceu no dia 20 de dezembro de 1968 em Nova Iorque.


                                          Fonte: biografia do autor inserida em Ratos e homens


       1.Faz o levantamento dos lugares onde Steinbeck viveu.
       2.Quais são os temas centrais da obra de Steinbeck?
       3. Faz uma pesquisa sobre “A Grande Depressão Americana” e
relaciona-a com os temas subjacentes à obra de Steinbeck.
       4. Elabora uma lista cronológica das obras de Steinbeck.




   B. A Pérola
       Quando lemos um livro, podemos fazê-lo de várias maneiras e sob diferentes
perspetivas. A Pérola permite-nos isso mesmo, uma vez que nos possibilita várias
abordagens.
       Em primeiro lugar, a característica mais marcante desta obra é a sua
autenticidade. Steinbeck escrevia sobre aquilo que conhecia e, assim, esta novela
transmite-nos “uma sensação da própria essência da vida primitiva com todas as suas
dificuldades e compensações”.
       Em segundo lugar, há quem veja a obra como um “tratado em defesa da
ecologia”. De facto, imediatamente antes de a escrever, Steinbeck explorou a costa
marítima do Golfo da Baixa Califórnia, no âmbito de um estudo sobre as funções
ecológicas dos vários organismos ali existentes. Este interesse de Steinbeck pela
ecologia levou vários críticos literários a considerar a novela como uma declaração
sobre a necessidade da ecologia ser perturbada o menos possível. “Quando o homem
retira uma grande pérola do seu ambiente natural, está a destruir uma parte da ordem
natural das coisas, o que pode originar um desastre de algum tipo.”
       Em terceiro lugar, a obra pode ser lida sob uma perspetiva sociológica. Ao
longo da novela, assistimos a um conflito entre os pescadores de pérolas, simples e


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ingénuos, e os compradores de pérolas, que utilizam a sua posição para explorarem
os indígenas indefesos; observamos ainda os comportamentos do médico e do padre.
O primeiro, no início recusa-se a tratar Coyotito porque Kino não tinha dinheiro para
lhe pagar; o segundo que utiliza a autoridade da Igreja para ensinar aos indígenas que
devem estar satisfeitos com a sua posição social, embora comece a pensar nas
reparações à igreja que poderiam ser feitas com o dinheiro da pérola de Kino.
        Em quarto lugar, podemos fazer uma interpretação alegórica1 ou simbólica da
obra. A pérola é um objeto de grande valor e representa a vaidade dos desejos
humanos. Desde a Idade Média, a pérola tem sido utilizada para representar a pureza
e a castidade espiritual. Deste modo, possuir uma pérola de grandes dimensões
simboliza bondade. Contudo, Steinbeck inverte este símbolo, uma vez que a sua
pérola simboliza o mal e, apenas, quando a deita fora, recupera a sensação de bem-
estar espiritual.
        Por último, podemos analisar esta obra sob um ponto de vista filosófico. A
novela trata da vida e da morte e do significado de ambas. No decorrer da ação, uma
família simples tem um trágico destino, sem que lhe possamos atribuir qualquer culpa.
A pérola que encontraram devia servir para tirar o filho das trevas e levá-lo para a luz
(o conhecimento): aprenderia a ler e a escrever e poderia ajudar todos os indígenas.
Porém, a pérola é a responsável pela morte da criança.


    C. As Personagens

1. KINO
    Kino é um jovem pescador de pérolas índio que vive em estreita harmonia com o
mundo natural. Não é influenciado pela hipocrisia, nem pelo artificialismo do “mundo
civilizado”.


                Comprova esta afirmação com exemplos do quotidiano de Kino.


    A profissão de Kino obriga-o a manter um contacto estreito com a natureza e é
profundamente afetado por ela. Por exemplo, Kino não pode trabalhar quando o mar
está agitado.

1
 ALEGORIA - Sucessão de metáforas e/ou comparações através das quais realidades abstractas são
concretizadas. Por meio desta figura, uma realidade abstracta, e por isso de mais difícil apreensão, é
substituída por, ou comparada com, uma realidade mais concreta e, portanto, mais compreensível.
Por esse motivo, a alegoria é uma figura de estilo com uma dimensão textual invulgarmente extensa;
por vezes abrange a totalidade de uma obra literária: é o que acontece, por exemplo, no Auto da Barca
do Inferno, de Gil Vicente.

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EBI de Mourão
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                                                               Professora Vanda Barreto


    Embora pertencendo à classe mais baixa da sociedade, Kino tem um profundo
sentido de dignidade humana; tem plena consciência do quanto o seu povo é
explorado e desprezado pela gente da cidade.

              Comenta a atitude das pessoas da cidade face aos indígenas.


    A relação de Kino com a mulher, com o filho e com o irmão denota também a
harmonia existente na vida do jovem pescador: o amor ao filho, a preocupação pela
segurança da mulher, a relação fraternal com o irmão e o respeito pelas tradições da
aldeia, são exemplos disso.


    Encontra no capítulo VI um exemplo que ilustre a preocupação de Kino com a
segurança da sua família.


    Coyotito é a razão de ser de Kino e o “motor” de toda a sua vida. Assim, deveria
ser com todos os pais do mundo! Não te parece?
     Infelizmente, a construção de toda a sua vida à volta do filho é também parte da
sua tragédia. De facto, Kino não anseia nada para ele. A espingarda que sonha
comprar só lhe possibilitará sustentar melhor a sua família. Com a descoberta da
pérola, ele pensa imediatamente em todas as coisas boas que irá proporcionar ao
filho.
    A sua relação com o irmão, João Tomás, é também harmoniosa. Não há disputas
entre eles.


                  Que faz João Tomás quando a cabana de Kino arde?


    Por outro lado, Kino nutre um profundo respeito pelas tradições da aldeia,
homenageando, assim, os seus antepassados. Quando a sua canoa é destruída, ele
não pensa levar a canoa de outra pessoa; para ele, a canoa faz parte da herança de
uma família e, como tal, é sagrada. A destruição da sua canoa só poderia ter sido
levada a cabo por alguém que não era membro da aldeia.
    O respeito pelos antepassados está também patente na forma como Kino expressa
as suas emoções. Incapaz de as verbalizar, ele “ouve” diversas canções, compostas e
criadas pelos seus antepassados, que exprimem as emoções possíveis e adequadas
a todas as ocasiões.


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   Que canções ouve Kino e que simboliza cada uma delas?

   No final da obra, ficamos com a sensação de termos experimentado, através de
Kino, todas as emoções que são comuns à humanidade: a felicidade que vem da
família, a alegria de ter descoberto um tesouro, a esperança numa vida melhor, o
medo quando a vida de um membro da família está em perigo, a ansiedade de ser
perseguido e a tragédia de perder um ente querido.


2. JOANA
          Joana é o protótipo da mulher indígena primitiva: forte, leal, obediente e, ao
mesmo tempo, independente e corajosa quando a situação lho exige.
          Como membro de uma raça primitiva, a principal função de Joana é ser mulher
de Kino: ela ocupa-se da casa e toma conta do filho de ambos. Aparenta ser
subserviente, sem vida própria. Contudo, se o seu mundo é ameaçado, ela torna-se
determinada, segura e feroz. Por exemplo, quando um lacrau pica Coyotito, uma nova
Joana surge: prática e eficiente, ela chupa o veneno e exige um médico. Quando lhe
dizem que o médico não virá à aldeia, ela decide ir à cidade. Mais tarde, revolta-se
contra a autoridade do marido e tenta deitar fora a pérola, porque percebe que aquele
objeto é mau e atrai a desgraça ao seio familiar.
          Por outro lado, em Joana podemos apreciar uma mulher produto de duas
culturas: ela reza aos seus deuses, mas também ao Deus cristão; ela aplica uma
cataplasma de algas na picada de Coyotito – o que efetivamente o cura – e exige que
ele seja visto por um médico; nela podemos verificar a existência de um lado prático e
real e, ao mesmo tempo, diversas superstições: quando Kino apanha a pérola, ela
evita demonstrar grandes alegrias, pois acredita que essas emoções lhe podem trazes
azar; sente um medo instintivo de muitas coisas como a escuridão e a pérola, entre
outros.
          Depois da morte do filho, Joana caminha ao lado do marido. Esta situação
significa que ela adquiriu um estatuto de igualdade face ao marido. Esta igualdade foi-
lhe conferida pelo sofrimento por que passou.


          Procura na obra exemplos: da Joana subserviente, da Joana feroz, da Joana
prática e decidida e da Joana supersticiosa.


3. COYOTITO

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       Coyotito é o filho pequeno de Kino e de Joana; é picado por um lacrau e
recupera miraculosamente, sendo mais tarde morto por uma bala destinada ao
pai, Kino.


4. JOÃO TOMÁS
     Irmão conselheiro de Kino e seu único protetor quando Kino é
perseguido por assassínio.
5. APOLÓNIA
     Mulher gorda de João. Tem pouco significado na história.
6. O MÉDICO e O PADRE
     Personagens que ao longo da novela são tratadas com pouca simpatia e
que funcionam apenas ao nível simbólico. O médico representa outro tipo de
vida, ligada aos compradores de pérolas e àquilo que é estrangeiro. Não possui
qualquer tipo de qualidades. Os seus atos demonstram que é o individuo mais
vil e desprezível que se pode encontrar. A mera referência ao seu nome cria,
entre os aldeões, um clima de medo e intimidação. Ele nunca foi à aldeia, por
isso, quando vai visitar Coyotito, Kino recebe-o com muita desconfiança.
       Conhecemos o médico num ambiente decadente, que contrasta com a
autenticidade e o realismo cruel da vida da aldeia. O médico está deitado,
vestido com um roupão de seda, a tomar chocolate num serviço de prata, no
meio de flores luxuriantes e a sonhar com uma mulher com quem tinha vivido
em Paris. Tudo sugere que é uma pessoa que comete excessos e não se
preocupa com o bem-estar dos outros.


       Compara o pequeno-almoço do médico, com o de Kino.


       Embora não seja explicitamente afirmado, na novela sugere-se que o
médico dá algo a Coyotito, quando o visita, que o faz ficar muito doente, para
que possa voltar mais tarde e parecer que o curara. Para esta conclusão,
contribui o facto de sabermos que Joana tinha já curado o filho com a
cataplasma de algas. Esta atitude do médico contraria totalmente a ética da
sua profissão e, juntamente com a tentativa de tentar que Kino lhe dê a pérola
– para ele a guardar -, revela toda a sua maldade e ganância e representa

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todas as forças do mal que estão contra Kino. Conhecemo-lo também através
das falas dos mendigos.


      O que é que pensam os mendigos do médico?


      O padre, embora não tão mau quanto o médico, é apresentado como
alguém a quem o bem-estar dos seus paroquianos não interessa demasiado.
Pelo contrário, ele é um representante dos ricos e dos seus interesses e não da
igreja. No sermão que todos os anos prega, diz que aqueles que tentam
melhorar de vida estão a pecar contra Deus, porque se recusam a aceitar a
posição que o mesmo Deus lhes destinou.
      Quando ouve falar na pérola, o padre nem sabe se casou Kino e Joana
e pensa imediatamente em todas as reparações que pode fazer com o dinheiro
desta família. As suas visitas à aldeia são tão raras que todos sabem porque é
que ele vem visitar Kino.
      Dadas as características do padre, é irónico que Kino queira casar-se
com Joana na igreja e ali batizar Coyotito.


7. OS COMPRADORES DE PÉROLAS
     Não têm nome e, como grupo, representam a exploração e a hipocrisia a
que os índios estão sujeitos.




   D. A fonte de “A Pérola” e a “Lenda da Pérola do Mundo”




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      Steinbeck baseou os enredos e as histórias que conta nas suas obras a
diversas fontes. “A Pérola” teve por base uma história que ouviu na Península
da Baixa Califórnia e que lhe foi contada como uma história verdadeira ocorrida
em La Paz. Esta história foi contada por Steinbeck numa outra obra, “The Sea
of Cortez”.
      Lenda da Pérola do Mundo
      Um rapaz índio encontrou, por acidente, uma pérola muito grande, uma
pérola inacreditável. Ele sabia que ela era tão valiosa que ele não precisaria de
voltar a trabalhar. Com esta única pérola, ele poderia embriagar-se tanto
quanto quisesse, casar com qualquer uma das raparigas e fazer felizes muitas
mais. Nesta pérola residia a salvação, porque ele poderia encomendar missas
suficientes para o fazer saltar do Purgatório para o Paraíso, além de poder,
também, encaminhar muitos dos seus familiares mortos para lá.
      Contudo, depois de inúmeras tentativas para vender a pérola, percebeu
que todos os compradores lhe ofereciam pouco dinheiro e recusou vendê-la,
escondendo-a de baixo de uma pedra. Durante duas noites seguidas, o jovem
foi atacado e espancado; na terceira noite, foi vítima de uma emboscada e
torturado. Porém, nunca revelou o local onde tinha escondido a pérola.
      Por fim, depois de fazer cuidadosos planos, esquivou-se para a praia,
desenterrou a pérola e lançou-a de novo ao Golfo.


      Após uma leitura cuidadosa da lenda, preenche a tabela da página
seguinte.




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Características do                             Sonhos do jovem                    Personagens da      Personagens d’A
                     Características de Kino                     Sonhos de Kino                                            personagens comuns
 jovem da lenda                                     índio                             lenda               Pérola
                                                                                                                             aos dois textos




                                                                  Página
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EBI de Mourão
                                          Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola”
                                                              Professora Vanda Barreto


      A personagem Kino está baseada num missionário do século XVII,
considerado um grande homem.
      Eusébio Francisco Kino (10 de agosto de 1645 - 15 de Março de 1711)
foi um padre jesuíta oriundo de uma cidade do norte da Itália. Durante os
últimos 24 anos da sua vida, trabalhou na região então conhecida como a Alta
Pimeria , atualmente Sonora, no México. Explorou a região, trabalhando com a
população indígena e provou que a Baixa Califórnia não é uma ilha, instalando
ali uma expedição por terra. Quando morreu, tinha estabelecido 24 missões.
      Kino    opôs-se    à escravidão e    ao   trabalho      duro    e   obrigatório
nas minas de prata, trabalho que os espanhóis forçavam os povos nativos a
realizar, chegando a ter problemas com outros missioneiros que agiam de
acordo com as leis impostas por Espanha.
      Kino escreveu também livros sobre religião, astronomia e cartografia. As
suas missões estenderam-se desde a região mexicana de Sonora, até à
atual Arizona. Kino construiu ainda 19 “rancherias” (aldeias), que forneciam
gado para novos assentamentos.
      Como cartógrafo desenhou os primeiros mapas precisos da região de
Pimeria Alta, do Golfo da Califórnia e da Baixa Califórnia.


      Que te parece haver em comum entre o padre Kino e o Kino d’A Pérola?




   E. Questionário

      Responde às seguintes questões de forma completa e bem estruturada:



                                    Página
                                    12
EBI de Mourão
                                    Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola”
                                                       Professora Vanda Barreto


1) Descreve em pormenor a vida simples de Kino e Joana antes e depois
   da descoberta da pérola.
2) Como é que o padre funciona como adulteração da religião?
3) Porque é que a “gente malvada” e os perseguidores de Kino nunca são
   identificados?
4) Um símbolo pode alterar o seu significado ao longo de uma novela. De
   que forma é que a pérola altera o seu significado?
5) Kino acredita que é preferível matar uma pessoa a destruir uma canoa.
   Que tipo de valores motiva esta posição?
6) Kino e joana funcionam a um nível bastante primitivo. Porém, desejam
   um casamento na igreja e o batismo de Coyotito. Como explicas esta
   aparente contradição?
7) Qual a função das muitas canções que Kino ouve ao longo da obra?



F. Bibliografia



   Fitwater, Eva, John Steinbeck, A Pérola, Europa-América




                               Página
                               13

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A história de uma família de pescadores mexicanos

  • 1. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto Ao longo desta ficha, encontrarás diversas atividades que te ajudarão a compreender esta novela. Contudo, não as deves fazer sem primeiro leres com atenção todos os textos que escrevi para ti e que têm por objetivo ajudar-te a analisá- la. No final, compreenderás que esta obra é muito mais do que a história de uma pobre família de pescadores mexicanos. A. O Autor. John Steinbeck Nasceu em Salinas, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, em 1902. De uma família de classe baixa, embora não pobre, Steinbeck presenciava a vida dos trabalhadores da cidade de Salinas e do fértil Vale de Salinas, centros agrícolas a cerca de 20 quilômetros do oceano Pacífico (tanto o vale quanto a costa marítima californiana seriam pano de fundo de grande parte da sua ficção). Em 1919, ingressou na Universidade de Stanford, onde assistiu a aulas de vários cursos, entre eles Inglês e Literatura, até abandonar a universidade, em 1925, antes da obtenção de um diploma. Resolveu, então, lançar-se em uma carreira de escritor free-lancer em Nova Iorque. Neste período inicial da sua carreira, trabalhou em uma série de bicos, como zelador de uma propriedade no lago Tahoe, técnico de laboratório, pedreiro na construção de Madison Square Garden e repórter diário de um periódico nova-iorquino. Durante a estadia em Nova Iorque, escreveu seu primeiro romance, Cup of gold (publicado no Brasil como Tempos passados), de 1929. Voltou à Califórnia no final da década de 1930, continuando sempre a escrever. Casou-se com Carol Henning, mudou-se para a cidade de Pacific Grove, na área de Monterey, onde a família Steinbeck possuía uma propriedade, depois para Los Angeles e novamente para a área de Monterey. No início da conturbada década de 30, publicou ainda dois trabalhos de ficção passados na Califórnia, The pastures of heaven (Pastagens do céu), de 1932, e To a god unknown (Ao deus desconhecido), de 1933, além de trabalhar nos contos mais tarde recolhidos no volume The long valley (O vale sem fim), de 1938. Os seus três primeiros romances foram publicados por três editores diferentes, e não se beneficiaram nem um pouco da depressão económica Página 1
  • 2. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto disparada nos Estados Unidos pelo crash da Bolsa de Nova York, que aconteceu apenas dois meses depois da publicação de Cup of gold. Os três editores faliram e Steinbeck viu-se sem editor. O sucesso e a segurança financeira vieram apenas em 1935, com a publicação do romance Tortilla Flat (Boêmios errantes), publicado pela firma Covici-Friede. As histórias bem-humoradas sobre a vida de paisanos (descendentes de espanhóis misturados, muitas vezes, com mexicanos, índios e caucasianos) que viviam na chamada Planície Tortilla de Monterey, próximo à fronteira mexicana, mostraram-se um alento para os americanos oprimidos pela crise. Durante a depressão, literatura e cinema serviam de escape para muitos. Escape da pobreza, da preocupação sobre como pagar a renda, da procura de emprego ou mesmo da preocupação sobre onde conseguir dinheiro para pagar a conta da mercearia. Experimentador incansável, Steinbeck mudou os rumos da sua literatura várias vezes. Entretanto, já nessas suas primeiras obras via-se o fio condutor que permearia toda a sua literatura: observação social, de cunho realista, das camadas de trabalhadores de classe baixa, às vezes miseráveis, mantidos no limbo do sistema económico. Mas, se a preocupação literária de Steinbeck voltava-se especificamente para grupos de trabalhadores de algumas regiões norte-americanas, faz-se necessário dizer que seus personagens recebiam tratamento tal que, mais do que as agruras de um tipo de homem localizado especificamente no tempo e no espaço, Steinbeck fazia tais personagens exemplares dos mais universais sentimentos humanos: a luta pela dignidade humana, a dificuldade das relações de afeto frente à crueldade do mundo e da vida, e a solidão, na sua aceção mais ampla e passível de ser compartilhada por todos os homens. Ainda na década de 30, sendo Steinbeck já um autor famoso, seguiram- se outros livros, que confirmaram a promessa literária (assim foi ele encarado quando da publicação de Tortilla Flat): In dubious battle (Luta incerta), publicado em 1936, sobre colhedores de frutas na Califórnia, Of mice and men, publicado em 1937, e aquele que é considerado seu melhor romance, The grapes of wrath (As vinhas da ira), de 1939, sobre agricultores do estado Página 2
  • 3. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto americano de Oklahoma que, por não conseguirem sobreviver da terra, mudam-se para a Califórnia, onde passam a trabalhar sazonalmente em fazendas alheias. O romance foi premiado com o importante Prêmio Pulitzer de Literatura. Na década de 1940, Steinbeck, como tantos outros autores americanos de sucesso, fez uma incursão por Hollywood, com o roteiro The forgotten village (1941). Publicou, ainda, Sea of Cortez (1941), Bombs away (1942), sobre a guerra, a controversa peça The 3ornal3 down (1942), os romances Cannery row (A rua das ilusões perdidas), de 1945, The wayward bus (1947) e The pearl (A pérola), de 1947, o relato de viagem A russian 3ornal (Um diário russo), de 1948, e mais uma peça, Burning bright (1950). No início da década de 50, Steinbeck apresentou ao público o monumental romance East of Eden (1952) – traduzido no Brasil como Vidas amargas –, uma saga sobre uma família do Vale de Salinas com toques autobiográficos. As últimas décadas da sua vida foram passadas em Nova Iorque e Sag Harbour com a sua terceira esposa, com quem viajou muito. Outros livros seus são: Sweet thursday (1954), The short reign of Pippin IV: a fabrication (O breve reinado de Pepino IV), de 1957, Once there was a war (1958), The winter of our discontent (O inverno da nossa desesperança), de 1961,e Travels with Charley in search of America (Viajando com Charley), de 1962 – este último sobre uma viagem que Steinbeck fez pelos Estados Unidos –, America and americans (A América e os americanos), de 1966, e os póstumos Journal of a novel: The East of Eden letters (1969), Viva Zapata! (1975), The acts of King Arthur and his noble knights (1976) e Working days: the journals of The grapes of wrath (1989). Ele recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1962, com a seguinte declaração da Academia de Letras sueca: “[Steinbeck] não era talhado para fazer meramente entretenimento. Ao contrário, os assuntos por ele escolhidos são sérios e denunciativos, como as experiências amargas nas plantações de frutas e algodão da Califórnia.” Vários dos seus livros foram levados às telas de cinema, como As vinhas da Ira, em produção de 1940, de John Houston, e Ratos e homens, filmado em 1939 por Lewis Milestone e em 1992 por Gary Sinise. Página 3
  • 4. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto A preocupação social de Steinbeck ia além da escolha dos assuntos de suas ficções: ele registou literariamente, nos diálogos dos seus personagens, também a peculiaridade da linguagem dos diversos grupos de trabalhadores por ele retratados. Faleceu no dia 20 de dezembro de 1968 em Nova Iorque. Fonte: biografia do autor inserida em Ratos e homens 1.Faz o levantamento dos lugares onde Steinbeck viveu. 2.Quais são os temas centrais da obra de Steinbeck? 3. Faz uma pesquisa sobre “A Grande Depressão Americana” e relaciona-a com os temas subjacentes à obra de Steinbeck. 4. Elabora uma lista cronológica das obras de Steinbeck. B. A Pérola Quando lemos um livro, podemos fazê-lo de várias maneiras e sob diferentes perspetivas. A Pérola permite-nos isso mesmo, uma vez que nos possibilita várias abordagens. Em primeiro lugar, a característica mais marcante desta obra é a sua autenticidade. Steinbeck escrevia sobre aquilo que conhecia e, assim, esta novela transmite-nos “uma sensação da própria essência da vida primitiva com todas as suas dificuldades e compensações”. Em segundo lugar, há quem veja a obra como um “tratado em defesa da ecologia”. De facto, imediatamente antes de a escrever, Steinbeck explorou a costa marítima do Golfo da Baixa Califórnia, no âmbito de um estudo sobre as funções ecológicas dos vários organismos ali existentes. Este interesse de Steinbeck pela ecologia levou vários críticos literários a considerar a novela como uma declaração sobre a necessidade da ecologia ser perturbada o menos possível. “Quando o homem retira uma grande pérola do seu ambiente natural, está a destruir uma parte da ordem natural das coisas, o que pode originar um desastre de algum tipo.” Em terceiro lugar, a obra pode ser lida sob uma perspetiva sociológica. Ao longo da novela, assistimos a um conflito entre os pescadores de pérolas, simples e Página 4
  • 5. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto ingénuos, e os compradores de pérolas, que utilizam a sua posição para explorarem os indígenas indefesos; observamos ainda os comportamentos do médico e do padre. O primeiro, no início recusa-se a tratar Coyotito porque Kino não tinha dinheiro para lhe pagar; o segundo que utiliza a autoridade da Igreja para ensinar aos indígenas que devem estar satisfeitos com a sua posição social, embora comece a pensar nas reparações à igreja que poderiam ser feitas com o dinheiro da pérola de Kino. Em quarto lugar, podemos fazer uma interpretação alegórica1 ou simbólica da obra. A pérola é um objeto de grande valor e representa a vaidade dos desejos humanos. Desde a Idade Média, a pérola tem sido utilizada para representar a pureza e a castidade espiritual. Deste modo, possuir uma pérola de grandes dimensões simboliza bondade. Contudo, Steinbeck inverte este símbolo, uma vez que a sua pérola simboliza o mal e, apenas, quando a deita fora, recupera a sensação de bem- estar espiritual. Por último, podemos analisar esta obra sob um ponto de vista filosófico. A novela trata da vida e da morte e do significado de ambas. No decorrer da ação, uma família simples tem um trágico destino, sem que lhe possamos atribuir qualquer culpa. A pérola que encontraram devia servir para tirar o filho das trevas e levá-lo para a luz (o conhecimento): aprenderia a ler e a escrever e poderia ajudar todos os indígenas. Porém, a pérola é a responsável pela morte da criança. C. As Personagens 1. KINO Kino é um jovem pescador de pérolas índio que vive em estreita harmonia com o mundo natural. Não é influenciado pela hipocrisia, nem pelo artificialismo do “mundo civilizado”. Comprova esta afirmação com exemplos do quotidiano de Kino. A profissão de Kino obriga-o a manter um contacto estreito com a natureza e é profundamente afetado por ela. Por exemplo, Kino não pode trabalhar quando o mar está agitado. 1 ALEGORIA - Sucessão de metáforas e/ou comparações através das quais realidades abstractas são concretizadas. Por meio desta figura, uma realidade abstracta, e por isso de mais difícil apreensão, é substituída por, ou comparada com, uma realidade mais concreta e, portanto, mais compreensível. Por esse motivo, a alegoria é uma figura de estilo com uma dimensão textual invulgarmente extensa; por vezes abrange a totalidade de uma obra literária: é o que acontece, por exemplo, no Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. Página 5
  • 6. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto Embora pertencendo à classe mais baixa da sociedade, Kino tem um profundo sentido de dignidade humana; tem plena consciência do quanto o seu povo é explorado e desprezado pela gente da cidade. Comenta a atitude das pessoas da cidade face aos indígenas. A relação de Kino com a mulher, com o filho e com o irmão denota também a harmonia existente na vida do jovem pescador: o amor ao filho, a preocupação pela segurança da mulher, a relação fraternal com o irmão e o respeito pelas tradições da aldeia, são exemplos disso. Encontra no capítulo VI um exemplo que ilustre a preocupação de Kino com a segurança da sua família. Coyotito é a razão de ser de Kino e o “motor” de toda a sua vida. Assim, deveria ser com todos os pais do mundo! Não te parece? Infelizmente, a construção de toda a sua vida à volta do filho é também parte da sua tragédia. De facto, Kino não anseia nada para ele. A espingarda que sonha comprar só lhe possibilitará sustentar melhor a sua família. Com a descoberta da pérola, ele pensa imediatamente em todas as coisas boas que irá proporcionar ao filho. A sua relação com o irmão, João Tomás, é também harmoniosa. Não há disputas entre eles. Que faz João Tomás quando a cabana de Kino arde? Por outro lado, Kino nutre um profundo respeito pelas tradições da aldeia, homenageando, assim, os seus antepassados. Quando a sua canoa é destruída, ele não pensa levar a canoa de outra pessoa; para ele, a canoa faz parte da herança de uma família e, como tal, é sagrada. A destruição da sua canoa só poderia ter sido levada a cabo por alguém que não era membro da aldeia. O respeito pelos antepassados está também patente na forma como Kino expressa as suas emoções. Incapaz de as verbalizar, ele “ouve” diversas canções, compostas e criadas pelos seus antepassados, que exprimem as emoções possíveis e adequadas a todas as ocasiões. Página 6
  • 7. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto Que canções ouve Kino e que simboliza cada uma delas? No final da obra, ficamos com a sensação de termos experimentado, através de Kino, todas as emoções que são comuns à humanidade: a felicidade que vem da família, a alegria de ter descoberto um tesouro, a esperança numa vida melhor, o medo quando a vida de um membro da família está em perigo, a ansiedade de ser perseguido e a tragédia de perder um ente querido. 2. JOANA Joana é o protótipo da mulher indígena primitiva: forte, leal, obediente e, ao mesmo tempo, independente e corajosa quando a situação lho exige. Como membro de uma raça primitiva, a principal função de Joana é ser mulher de Kino: ela ocupa-se da casa e toma conta do filho de ambos. Aparenta ser subserviente, sem vida própria. Contudo, se o seu mundo é ameaçado, ela torna-se determinada, segura e feroz. Por exemplo, quando um lacrau pica Coyotito, uma nova Joana surge: prática e eficiente, ela chupa o veneno e exige um médico. Quando lhe dizem que o médico não virá à aldeia, ela decide ir à cidade. Mais tarde, revolta-se contra a autoridade do marido e tenta deitar fora a pérola, porque percebe que aquele objeto é mau e atrai a desgraça ao seio familiar. Por outro lado, em Joana podemos apreciar uma mulher produto de duas culturas: ela reza aos seus deuses, mas também ao Deus cristão; ela aplica uma cataplasma de algas na picada de Coyotito – o que efetivamente o cura – e exige que ele seja visto por um médico; nela podemos verificar a existência de um lado prático e real e, ao mesmo tempo, diversas superstições: quando Kino apanha a pérola, ela evita demonstrar grandes alegrias, pois acredita que essas emoções lhe podem trazes azar; sente um medo instintivo de muitas coisas como a escuridão e a pérola, entre outros. Depois da morte do filho, Joana caminha ao lado do marido. Esta situação significa que ela adquiriu um estatuto de igualdade face ao marido. Esta igualdade foi- lhe conferida pelo sofrimento por que passou. Procura na obra exemplos: da Joana subserviente, da Joana feroz, da Joana prática e decidida e da Joana supersticiosa. 3. COYOTITO Página 7
  • 8. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto Coyotito é o filho pequeno de Kino e de Joana; é picado por um lacrau e recupera miraculosamente, sendo mais tarde morto por uma bala destinada ao pai, Kino. 4. JOÃO TOMÁS Irmão conselheiro de Kino e seu único protetor quando Kino é perseguido por assassínio. 5. APOLÓNIA Mulher gorda de João. Tem pouco significado na história. 6. O MÉDICO e O PADRE Personagens que ao longo da novela são tratadas com pouca simpatia e que funcionam apenas ao nível simbólico. O médico representa outro tipo de vida, ligada aos compradores de pérolas e àquilo que é estrangeiro. Não possui qualquer tipo de qualidades. Os seus atos demonstram que é o individuo mais vil e desprezível que se pode encontrar. A mera referência ao seu nome cria, entre os aldeões, um clima de medo e intimidação. Ele nunca foi à aldeia, por isso, quando vai visitar Coyotito, Kino recebe-o com muita desconfiança. Conhecemos o médico num ambiente decadente, que contrasta com a autenticidade e o realismo cruel da vida da aldeia. O médico está deitado, vestido com um roupão de seda, a tomar chocolate num serviço de prata, no meio de flores luxuriantes e a sonhar com uma mulher com quem tinha vivido em Paris. Tudo sugere que é uma pessoa que comete excessos e não se preocupa com o bem-estar dos outros. Compara o pequeno-almoço do médico, com o de Kino. Embora não seja explicitamente afirmado, na novela sugere-se que o médico dá algo a Coyotito, quando o visita, que o faz ficar muito doente, para que possa voltar mais tarde e parecer que o curara. Para esta conclusão, contribui o facto de sabermos que Joana tinha já curado o filho com a cataplasma de algas. Esta atitude do médico contraria totalmente a ética da sua profissão e, juntamente com a tentativa de tentar que Kino lhe dê a pérola – para ele a guardar -, revela toda a sua maldade e ganância e representa Página 8
  • 9. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto todas as forças do mal que estão contra Kino. Conhecemo-lo também através das falas dos mendigos. O que é que pensam os mendigos do médico? O padre, embora não tão mau quanto o médico, é apresentado como alguém a quem o bem-estar dos seus paroquianos não interessa demasiado. Pelo contrário, ele é um representante dos ricos e dos seus interesses e não da igreja. No sermão que todos os anos prega, diz que aqueles que tentam melhorar de vida estão a pecar contra Deus, porque se recusam a aceitar a posição que o mesmo Deus lhes destinou. Quando ouve falar na pérola, o padre nem sabe se casou Kino e Joana e pensa imediatamente em todas as reparações que pode fazer com o dinheiro desta família. As suas visitas à aldeia são tão raras que todos sabem porque é que ele vem visitar Kino. Dadas as características do padre, é irónico que Kino queira casar-se com Joana na igreja e ali batizar Coyotito. 7. OS COMPRADORES DE PÉROLAS Não têm nome e, como grupo, representam a exploração e a hipocrisia a que os índios estão sujeitos. D. A fonte de “A Pérola” e a “Lenda da Pérola do Mundo” Página 9
  • 10. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto Steinbeck baseou os enredos e as histórias que conta nas suas obras a diversas fontes. “A Pérola” teve por base uma história que ouviu na Península da Baixa Califórnia e que lhe foi contada como uma história verdadeira ocorrida em La Paz. Esta história foi contada por Steinbeck numa outra obra, “The Sea of Cortez”. Lenda da Pérola do Mundo Um rapaz índio encontrou, por acidente, uma pérola muito grande, uma pérola inacreditável. Ele sabia que ela era tão valiosa que ele não precisaria de voltar a trabalhar. Com esta única pérola, ele poderia embriagar-se tanto quanto quisesse, casar com qualquer uma das raparigas e fazer felizes muitas mais. Nesta pérola residia a salvação, porque ele poderia encomendar missas suficientes para o fazer saltar do Purgatório para o Paraíso, além de poder, também, encaminhar muitos dos seus familiares mortos para lá. Contudo, depois de inúmeras tentativas para vender a pérola, percebeu que todos os compradores lhe ofereciam pouco dinheiro e recusou vendê-la, escondendo-a de baixo de uma pedra. Durante duas noites seguidas, o jovem foi atacado e espancado; na terceira noite, foi vítima de uma emboscada e torturado. Porém, nunca revelou o local onde tinha escondido a pérola. Por fim, depois de fazer cuidadosos planos, esquivou-se para a praia, desenterrou a pérola e lançou-a de novo ao Golfo. Após uma leitura cuidadosa da lenda, preenche a tabela da página seguinte. Página 10
  • 11. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto Grupo de Características do Sonhos do jovem Personagens da Personagens d’A Características de Kino Sonhos de Kino personagens comuns jovem da lenda índio lenda Pérola aos dois textos Página 11
  • 12. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto A personagem Kino está baseada num missionário do século XVII, considerado um grande homem. Eusébio Francisco Kino (10 de agosto de 1645 - 15 de Março de 1711) foi um padre jesuíta oriundo de uma cidade do norte da Itália. Durante os últimos 24 anos da sua vida, trabalhou na região então conhecida como a Alta Pimeria , atualmente Sonora, no México. Explorou a região, trabalhando com a população indígena e provou que a Baixa Califórnia não é uma ilha, instalando ali uma expedição por terra. Quando morreu, tinha estabelecido 24 missões. Kino opôs-se à escravidão e ao trabalho duro e obrigatório nas minas de prata, trabalho que os espanhóis forçavam os povos nativos a realizar, chegando a ter problemas com outros missioneiros que agiam de acordo com as leis impostas por Espanha. Kino escreveu também livros sobre religião, astronomia e cartografia. As suas missões estenderam-se desde a região mexicana de Sonora, até à atual Arizona. Kino construiu ainda 19 “rancherias” (aldeias), que forneciam gado para novos assentamentos. Como cartógrafo desenhou os primeiros mapas precisos da região de Pimeria Alta, do Golfo da Califórnia e da Baixa Califórnia. Que te parece haver em comum entre o padre Kino e o Kino d’A Pérola? E. Questionário Responde às seguintes questões de forma completa e bem estruturada: Página 12
  • 13. EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto 1) Descreve em pormenor a vida simples de Kino e Joana antes e depois da descoberta da pérola. 2) Como é que o padre funciona como adulteração da religião? 3) Porque é que a “gente malvada” e os perseguidores de Kino nunca são identificados? 4) Um símbolo pode alterar o seu significado ao longo de uma novela. De que forma é que a pérola altera o seu significado? 5) Kino acredita que é preferível matar uma pessoa a destruir uma canoa. Que tipo de valores motiva esta posição? 6) Kino e joana funcionam a um nível bastante primitivo. Porém, desejam um casamento na igreja e o batismo de Coyotito. Como explicas esta aparente contradição? 7) Qual a função das muitas canções que Kino ouve ao longo da obra? F. Bibliografia Fitwater, Eva, John Steinbeck, A Pérola, Europa-América Página 13